Desde 2008, 782 sindicatos foram reconhecidos pelo Ministério do Trabalho e passaram a receber uma fatia do bolo do imposto sindical, que cresce mais depressa do que a produção, por causa da crescente formalização do trabalho observada nos últimos anos. A média de quatro novos sindicatos por semana poderia sugerir um revigoramento do legítimo movimento de defesa dos interesses dos trabalhadores, como parte da estrutura que busca o equilíbrio das relações entre capital e trabalho no País. Mas, por trás dessa proliferação de sindicatos, há muito pouco de interesse dos trabalhadores em geral e muito mais de interesse exclusivo de um grupo de novos sindicalistas de olho apenas no dinheiro que o governo retira do bolso de cada brasileiro empregado com carteira assinada e distribui automaticamente para essas entidades.
O bolo dobrou de tamanho em quatro anos. No ano passado, a arrecadação do imposto sindical totalizou R$ 1,51 bilhão. Nos nove primeiros meses de 2011, alcançou R$ 1,7 bilhão. Esse valor, como mostrou o jornal O Globo, do Rio (3/11), equivale ao dinheiro repassado pelo governo para os 5.565 municípios brasileiros e para o Estado do Amapá no mesmo período. Com o recolhimento dos atrasados, até o fim do ano a arrecadação pode alcançar R$ 2 bilhões.
Tanto dinheiro e a relativa facilidade para se obter o registro - na Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, cujo titular é nomeado de acordo com critérios políticos - necessário para o recebimento da parcela do imposto explicam a proliferação de entidades sindicais. No início de 2008, eram 9.077 sindicatos no País; hoje, são 9.859.
Entre as novas entidades pode haver algumas criadas para defender interesses de categorias profissionais não representadas ou sub-representadas. No entanto, como a estrutura sindical já é ampla e cobre praticamente toda a diversidade do mercado de trabalho, é muito provável que a grande maioria dos novos sindicatos tenha sido criada apenas para que seus dirigentes possam administrar a seu modo o dinheiro do imposto sindical.
O imposto sindical é cobrado uma vez por ano de todos os trabalhadores com registro em carteira, no valor correspondente a um dia de trabalho. Ele é cobrado também sobre o capital social da empresa. Do total arrecadado, os sindicatos têm direito a 60%; as federações, a 15%; as confederações, a 5%; as centrais sindicais, a 10%; e o governo, a 10%. O valor a que cada entidade tem direito depende do número de trabalhadores que formalmente representa.
Como é automática, a distribuição desses recursos desobriga os sindicatos de exercer sua verdadeira função, isto é, a de representar os trabalhadores de sua base. Ou seja, estimula a criação de entidades praticamente fantasmas, sem qualquer preocupação com os problemas de sua base, e que só existem para ter uma diretoria legalmente constituída que administra com inteira liberdade o dinheiro do imposto sindical. O sindicato nem precisa se preocupar com o destino que der ao dinheiro do trabalhador, pois praticamente não existe fiscalização do Ministério do Trabalho para isso.
Não há exigência legal de prestação de contas pelos sindicatos, que, embora recebam dinheiro do governo, são considerados instituições de direito privado. Cabe ao conselho fiscal dos próprios sindicatos exercer esse papel - mas o conselho fiscal é formado por membros do mesmo grupo que compõe a diretoria executiva do sindicato.
Em agosto, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou ao Ministério do Trabalho que exija das entidades sindicais a demonstração comprovada do uso do dinheiro do imposto sindical que recebem, segregando a contabilidade desses recursos do registro contábil das demais receitas (se houver, é claro). Há dúvidas sobre a competência do TCU para fazer isso e, sobretudo, sobre a disposição do governo de aceitar esse controle. O Congresso incluiu medida semelhante no projeto que autorizou o repasse de parte do imposto sindical para as centrais sindicais, mas, na época, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou a obrigatoriedade de prestação de contas ao TCU.
A Infraero calcula que, se a final da Copa de 2014 for entre Brasil e Alemanha, 1.000 aviões, entre jatinhos particulares e jatões de carreira, voarão para o Rio, acredite, no dia do jogo.
No mínimo. Estacionamento... O grande problema, segundo a Infraero, mais do que o tráfego aéreo, seria onde estacionar tantos aviões. Não haverá espaço suficiente no Galeão ou no Santos Dumont.
As aeronaves terão de desembarcar os passageiros e seguir para estacionar em outros aeroportos, como os de Macaé, Cabo Frio etc.
Por que Alemanha?... O cálculo se baseia nos deslocamentos de torcedores das duas seleções nas Copas da África do Sul, em 2010, e da própria Alemanha, em 2006.
‘Vietnã go home’ Veja as voltas que o mundo dá. Nos anos 1970 e 1980, o Vietnã era símbolo da luta contra o “imperialismo americano”.
Agora que virou uma economia de mercado, o país asiático tenta comprar terras em Serra Leoa para produzir arroz. Daqui a pouco, vai ter africano gritando: “Vietnã go home!”
Lá vão os noivos Jane Di Castro, o transformista, deu entrada na papelada para se casar com o companheiro Otávio Bonfim, em maio de 2012, no Rio.
— Eu sonhava em me casar toda de branco desde o tempo em que brincava de pique-esconde em Oswaldo Cruz...
Que sejam felizes.
Bolsa-deputado A partir deste mês, a ex-atriz de cinema pornô Cicciolina receberá pensão mensal de 3 mil euros do governo italiano, por ter sido deputada de 1987 a 1992.
Deve ser terrível viver num pais onde há políticos que vivem a mamar nas tetas do governo.
TV Globo/Matheus Cabral O DOMINGO É de Camila Pitanga, 34 anos, a atriz que reúne numa só existência toda a beleza mestiça da mulher brasileira. A formosa estará na série “A grande família”, da TV Globo, quinta agora. Será Kelly, estagiária de curvas generosas que vai enlouquecer a repartição e maltratar o coração do chefe, Mendonça (Tonico Pereira). Mas Kelly, na verdade, é uma interesseira. Usa a beleza para subir na vida. Caberá a Lineu (Marco Nanini) desmascarar a vilã e não deixar que engane Mendonça. Engana eu
Rei do gado Roberto Carlos, que outro dia, como saiu aqui, comprou um gado da raça nelore, não é novo, digamos, no pasto.
O Rei e seu empresário, Dody Sirena, investem pesado na pecuária há quase cinco anos.
Muuuuuuuu... Roberto e Dody começaram com a vaca Lady Sisca, da raça simental, comprada por R$1,8 milhão, e com o touro King, que custou R$800 mil.
Os dois bichos já renderam muitos lucros ao Rei.
O petróleo é nosso I Quinta, dia 10, das 13h às 15h, no sentido Centro, e das 20h às 22h, no retorno para casa, o carioca não vai pagar passagem de trem, barca e metrô.
As concessionárias decidiram não cobrar. Aderiram à passeata da Candelária à Av. Rio Branco contra a tunga dos royalties do petróleo do Rio.
O petróleo é nosso II Sérgio Cabral e Eduardo Paes vão decretar ponto facultativo a partir das 14h.
Light e Cedae também aderiram. A previsão do governador e do prefeito é que mais de 150 mil pessoas participem do ato.
Deus fashion Surgiu na Rua Carolina Machado, em Cascadura, no Rio, a loja Marileide Moda Evangélica, cujo slogan é “a roupa que veste o povo de Deus”.
Calma, moço Há testemunhas. O estresse venceu um motorista da linha 427 (Vila dos Teles-Praça XV), da Viação Regina, dias atrás.
Na Avenida Brasil, na altura do Caju, sentido Centro, acredite, o moço parou o ônibus, desceu e... foi embora a pé.
‘Não fui eu, amor’ Veja como pardal de trânsito pode ser dedo-duro.
A desembargadora Helda Meireles, da 15ª Câmara Cível do Rio, negou a indenização que um motociclista pedia ao estado por ter recebido em casa a foto de uma infração em que aparecia com... uma popozuda na garupa. Ele alegava que a foto prejudicara seu casamento, e garantia não ser ele na imagem, mas... o antigo dono da moto. Ah, bom!
O Kremlin censurou FH Perto do 20º aniversário do colapso do regime soviético (oficialmente, a URSS deixou de existir em 31 de dezembro de 1991), a coleguinha Vivian Oswald lança o livro “Com vista para o Kremlin”, um mergulho de 20 mil léguas submarinas na vida e na alma do povo russo, fruto de muito garimpo nos dois anos em que viveu em Moscou, como correspondente do GLOBO.
Um dos capítulos é sobre a vetusta Biblioteca Lenin, uma das mais importantes do planeta (aliás, uma lei do tempo de Lenin garantia a todo cidadão acesso a uma biblioteca a uma distância de, no máximo, 15 minutos de casa). Ali, Vivian visitou o Arquivo Especial, antiga seção secreta, onde ficavam os livros censurados pelos comunistas.
A lista de autores brasileiros censurados é um samba do bolchevique doido. No “index” soviético, livros de Fernando Henrique Cardoso, Agildo Barata, Moniz Bandeira, Celso Furtado, Carlos Lacerda, Afonso Arinos de Melo Franco, Gilberto Freyre, Graciliano Ramos, Erico Verissimo, Golbery do Couto e Silva e até um do... comunista Jorge Amado (“Bahia de todos os santos”).
Vivian, que morou no mesmo prédio onde residiu o lendário Luís Carlos Prestes, descobriu que “salada russa” é coisa de brasileiro. Não existe por lá. Como também o que chamamos de montanha-russa, lá, o nativo conhece como “montanha-americana”. Já “strogonov”, tudo bem. É russo mesmo, receita de 300 anos de uma família do mesmo nome — mas sem creme de leite, e também só de carne bovina. Estrogonofe de galinha ou de camarão deve ter sido inventado por algum cozinheiro cearense, povo mais criativo na cozinha que a coluna conhece e aprecia.
Vivian entrevistou Helène Ludinghausen, última descendente da família Strogonov, e descobriu, veja só, que ela viveu no Rio dos 5 aos 15 anos.
Aliás, sobrevive uma lenda de que dois navios russos aportaram em Recife, em 1804, e que os tripulantes fizeram apresentações de suas danças nativas. Isto teria levado os anfitriões a imitarem os passos e os saltos dos visitantes, dando origem, no caso, ao frevo. Mas aí é outra história.
Em Nova York, menos de dois meses antes da reunião do G-20, a presidente Dilma Rousseff, ministros e diplomatas brasileiros eram unânimes em afirmar que de crise econômica nós, brasileiros, entendemos. Afinal, praticamente perdemos a década de 1980 buscando saídas para nossa economia. Foi Plano Cruzado, Plano Bresser, Plano Collor, plano isso, plano aquilo. Seguimos assim até que, em 1993, o sociólogo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, reuniu um grupo de economistas e teve a audácia de propor um plano mirabolante que incluía uma tal de URV — unidade de valor de referência —, o corte dos zeros. Isso resultaria numa nova moeda, o Real, e… Deu certo.
FHC, na época foi claro: precisava dizer não para aumentos de salário e de gastos. E citava esse “dizer não” como uma situação transitória para, no futuro, poder dizer sim. O PT, Lula como candidato a presidente, ficou tão boquiaberto na época quanto os tucanos ficaram na eleição de 2010, quando o petista bombava nos palanques apresentando Dilma aos brasileiros. Foi contra. Os petistas tinham a clara sensação de que, se desse certo, quem ganharia com o plano era o PSDB, como de fato ocorreu por oito anos. Se desse errado, eles queriam estar debaixo da cesta para pegar a bola e não na nau dos que tentaram fazer alguma coisa.
Guardadas as devidas proporções, se compararmos o comportamento político de muitos líderes mundiais com o passado, veremos que não temos, no plano internacional, um FHC, ou seja, alguém capaz de ousar como fizeram o então ministro da Fazenda do Brasil e o presidente Itamar Franco — que, diga-se não era candidato à reeleição nem havia essa possibilidade no Brasil. Hoje, estão todos de olho mais nos seus projetos eleitorais — a França, por exemplo, passa por eleições no ano que vem — do que propriamente na busca de uma solução ousada que tente tirar a Europa da crise.
Na Faculdade de relações internacionais do Ibmec — Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais — os professores têm sido unânimes em afirmar que o mundo está carente de grandes líderes. E os que estão com a faca e o queijo na mão também não querem abrir espaço de liderança para os emergentes. Sair do G-7, onde tudo era decidido sem ouvir mais ninguém, para o G-20 foi o máximo que eles aceitaram até agora no quesito “inclusão política”. Mas, ainda assim, resistem a aceitar receitas alheias ou palpites para suas crises. Afinal, ninguém quer perder o poder de comando na governança global.
Na passagem por Nova York, há um mês e meio, Dilma Rousseff bem que tentou se fazer ouvir no que se refere a receitas para o crise. Abriu a conferência da ONU com algumas propostas, bateu na tecla de reforma na chamada governança global, e na entrevista que concedeu, foi direta ao dizer que a receita da Europa para a Grécia não era das melhores.
Em Cannes, entretanto, a sensação foi a de que Dilma deu um freio na sua tentativa de se fazer ouvir. No fim do encontro na França, disse que o G-20 deu um passo importante em seu documento. Ela usou inclusive a teoria do copo com água pela metade, em que os otimistas veem “meio cheio” e os pessimistas “meio vazio”. Falou em “sucesso relativo” e na necessidade de detalhar as propostas — uma forma elegante de dizer que aguarda com afinco que os europeus façam o dever de casa. Afinal, no documento em que o G-20 fala de forma genérica do que deve ser feito, o grupo cita que, desde o encontro de Seul, em novembro de 2010, a recuperação global se enfraqueceu, deixando o desemprego em “níveis inaceitáveis” e falam ainda “em sinais claros de desaquecimento do crescimento nos mercados emergentes”.
Na avaliação de bastidores do governo brasileiro, a carta de intenções no documento final do G-20 é boa, mas as soluções para a crise na Europa, consideradas urgentes para evitar a contaminação de outras economias, foram adiadas. Faltou o quê? Talvez coragem. Em seu discurso de posse, a presidente Dilma, citando Guimarães Rosa, lembrou que “a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Talvez os líderes mundiais, com todo respeito, precisem ler Guimarães Rosa.
Que fatores são determinantes para abrir ou fechar portas no mercado de trabalho? Um estudo inédito dos economistas Fernando de Holanda Barbosa Filho e Samuel de Abreu Pessôa, do Ibre/FGV, reforça que, apesar dos avanços incontestáveis no caminho do pleno emprego, o Brasil tem muito trabalho pela frente para corrigir as desigualdades marcantes nessa área. E a receita não é trivial.
Para entender a dinâmica do mercado de trabalho nas grandes regiões metropolitanas do país, os economistas se debruçaram sobre os dados da Pnad de 2009, comparando a situação de Porto Alegre, a capital com a menor taxa de desemprego do país, com as regiões onde este é mais alto.
Gênero, raça, escolaridade, faixa etária e experiência profissionalforamanalisados.Ea cor da pele é o fator que mais pesou. Ou seja, se os negros e pardos têm mais dificuldade para ingresso no mercado em qualquer região do país, naquelas onde a maioria da população apta ao trabalho é negra ou parda, a taxa média de desemprego é maior.
Isso acontece em Recife e Salvador, regiões metropolitanas com as maiores taxas de desemprego do país em 2009 e ainda hoje. Em Recife, onde o desemprego chegava a 15,9% em 2009, a soma de negros e pardos alcançava 63,9% da população apta ao trabalho. Em Salvador, o desemprego estava em 14,2%, enquanto a população negra e parda chegava a 82,8%.
Barbosa Filho explica que as altas taxas de desocupação em Salvador e Recife têm a influência de dois fatores. Os negros e pardos, grupos que apresentam as taxas mais altas de desemprego quando o critério da análise é a raça, são a maioria da população apta ao trabalho nessas regiões. Assim, o pe so desses grupos na média geral é maior na comparação com outras regiões.
Ao comparar o mercado de trabalho de Porto Alegre com o Rio, o estudo mostra um aspecto interessante. No Rio, 44,9% da população apta ao trabalho era formada por negros e pardos em 2009, enquanto na capital gaúcha esse percentual chegava a 18,4%. Por outro lado, o Rio apresentava um nível de qualificação profissional mais elevado em relação a Porto Alegre, o que, a princípio, favorece o acesso ao mercado de trabalho. Mas os números da pesquisa mostram que o peso da cor prevalece sobre a escolaridade e a qualificação profissional. Assim, enquanto em Porto Alegre, onde 81% da população apta ao trabalho era de brancos, o desemprego chegava a 7,6%, no Rio, onde os brancos somam 54,6%, o desemprego era de 9,4%.
O economista evita a palavra preconceito, mas destaca que a escolaridade maior não é capaz de neutralizar a diferença das taxas de desemprego relacionadas a raça e cor, o que justificaria a adoção de políticas para atenuar essa disparidade.
Outro aspecto destacado é que o mercado de trabalho de Porto Alegre é o que melhor funciona em relação às demais regiões do país, embora os economistas não saibam exatamente que fatores determinam esse desempenho.
Orfãos Estudo elaborado por consultores do Orçamento mostra como quase cinco mil municípios com população abaixo de 50 mil habitantes estão apartados do rateio das verbas federais. Em 2010, foram repassados às pequenas cidades apenas R$ 189 milhões por meio de emendas individuais. Dividida pelo número de habitantes, a verba não chega a R$ 3 percapita. As contas estão sendo usadas para sensibilizar os parlamentares que resistem à proposta do relator Arlindo Chinaglia (PT-SP) de destinar R$ 2,2 bilhões aos municípios menores, por meio das chamadas emendas de iniciativa popular. Mas a parada está dura. No Congresso, já tem até gente propondo transferir esses recursos para o reajuste do Judiciário.
Muito barulho O governo mobilizou sua tropa de choque no Congresso para aprovar a emenda que prorroga mais uma vez a DRU, mecanismo que permite remanejar 20% das verbas do Orçamento conforme o interesse da equipe econômica, sem levar em conta as vinculações constitucionais. Mas um estudo do núcleo de assuntos econômico-fiscais da Consultoria de Orçamento da Câmara minimiza os prejuízos que o governo teria se a DRU acabasse. A perda de receita para estados e municípios é estimada em R$ 570 milhões. Saúde e educação nada perderiam. E o superávit primário não depende da desvinculação dos recursos. No passado, a DRU teve muito mais peso na administração do Orçamento, mas com tantas prorrogações acabou desidratada.
LEI DO SILÊNCIO: Em Cannes, a presidente Dilma Rousseff mais uma vez decretou a lei do silêncio, proibindo assessores e até ministros de falar com a imprensa. A lei ganhou fama na Esplanada, principalmente após ser usada contra a incontinência verbal do ministro da Fazenda, Guido Mantega.
Já existe uma versão funerária do bem-casado, embalada em negro. O nome? ‘Bem-velado’.
Agora é cinza, anunciou o samba de Bide e Marçal em 1934, num tempo em que ainda não se usava por aqui cremar os mortos. Incineração, só nos casos em que “o nosso amor foi uma chama”. Quanto ao balanço do incêndio, ou seja, ao trecho da letra que fala em “tudo acabado, e nada mais”,fatos novos recomendam cautela: como tudo acabado, se já se pode converter em diamante as nossas cinzas mortuárias? Nada a ver com aquele filme, Cinzas e Diamantes, do Andrzej Wajda, mas com uma reportagem que li no Dia de Finados.
Passemos por cima da piada fácil que acaba de lhe ocorrer, a do amante que vira diamante; fiquemos com os fatos: associado a uma empresa americana (só podia ser),um grupo funerário nacional põe à disposição do brasileiro, por fosco que seja, a possibilidade de, postumamente, se tornar brilhante. Até o momento, ninguém se habilitou. Uma pena, pois num país como o nosso, a que não faltam famílias numerosas, quantas não poderiam gerar, além de diamantes avulsos, todo um colar de gemas preciosas? Poucos se deram conta de que a palavra “solitário” pode designar ao mesmo tempo o viúvo e a pedra que ele engastar no anel, produzida a partir das cinzas da falecida.
Peço que você me leve a sério e me acompanhe na enumeração das perspectivas abertas pela tecnologia. Já não causará espécie, por exemplo, alguém dizer que o finado ente querido é joia, ainda que em vida não tenha chegado a bijuteria.Gente tosca poderá ganhar lapidação post- mortem.E gente bruta poderá, se assim quiserem os familiares, conservar essa característica, assumindo a forma de diamante também bruto.
Não repare na crueza da observação, mas haverá gente valendo mais do que valia em vida.E as famílias têm mais um ponto com que se preocupar quando, o cadáver ainda quente, se pensar na herança: de quantos quilates será o diamante feito com as cinzas do patriarca? Quanto a isso, seráque faz diferença ele ter sido gordo ou magro? Existe o risco de alguém, depois de avaliado, em vez de brilhante, resultar em quartzo? Indagações, como se vê, não faltam, e muito resta a ser respondido.O importante é ter-se aberto a possibilidade de reciclagem cadavérica; nossa conversão em diamantes pode ser apenas o começo.
E não param por aí as novidades do setor, informa a reportagem. Funerárias de ponta já disponibilizam velório online, para que parentes distantes,em qualquer acepção do termo, possam acompanhar – ao vivo – a cerimônia. A qual, pelo menos em São Paulo, já pode se desenrolar em ambiente menos deprimente que as capelas anexas a cemitérios. Não é novidade. Mas talvez nem todos saibam que está ao nosso alcance, entre duas lágrimas, degustar iguarias como a tal versão funerária do bem casado, embalada em papel convenientemente negro e batizada, não estou brincando, “bem-velado”. (Em nome do bom gosto, por favor, vamos silenciar em torno de veladas referências, que ouço aqui e ali,a presuntos e quejandos.) Se a moda pega, pode ser que um dia nos vejamos a saborear um cajuzinho no velório do cemitério carioca do Caju.
A tendência é dar um tratamento natural à morte e aos trâmites que a ela se seguem. “Tratamos a morte como mais um evento social, nesse caso o último da pessoa e o mais importante”, declarou o diretor de uma empresa funerária que, pelo visto, não põe fé na ressurreição dos mortos. Há hoje no País 5.500 empresas no ramo, e não me parece que estejam enterrando dinheiro: juntas,movimentam R$ 1,5 bilhão por ano. É uma nota preta.
A modernização começou, nos anos 60, com o progressivo abandono dos mausoléus, em favor de simples lápides nos cemitérios-parques. Quando surgiu em São Paulo o primeiro deles, pôde-se ler num jornal um título mais ou menos assim: “Flores. Pássaros na relva. Música suave. E você morto!” A bizarria há muito foi assimilada,e novos avanços estão em marcha. Num cemitério em Mauá,na Grande São Paulo,já se celebrou, aparentemente sem ironia,um casamento. Não se informou se era de cravos de defunto o buquê jogado pela noiva. Não haveria, nessas bodas em cenário macabro, um desejo de cremar etapas?
Um lance dado por investidores norte-americanos na bolsa eletrônica Nasdaq dá a volta do mundo em 2,5 segundos. Esse é apenas um exemplo da rapidez das comunicações no mundo atual.
Centenas de milhões de pessoas têm sido testemunhas oculares de eventos históricos como a queda das torres gêmeas de Nova York, as Olimpíadas, a Copa do Mundo de futebol, a entrega do Oscar em Hollywood, a crise do euro, ou as reuniões do G-20.
Mas nem sempre foi assim. As informações circulavam lentamente na Antiguidade. Todos conhecem o caso do atleta grego Fidípedes que, segundo a lenda, correu 42 quilômetros, para dar a notícia da vitória da Grécia, na batalha de Maratona, em 490 a.C., na primeira guerra contra os persas. Ao chegar a Atenas, exaurido pelo esforço, ele só teve forças para dizer: "Alegrai-vos, atenienses, nós vencemos." E caiu morto.
Outro caso emblemático é o da carta-reportagem de Pero Vaz de Caminha, levada por uma das caravelas destacadas por Cabral para a missão de dar a D. Manuel I a notícia da descoberta do Brasil. Ela só chega às mãos do rei quase dois meses depois.
No século 19, a notícia da morte de Abraham Lincoln, em 1865, só chegou a Londres 12 dias depois do assassinato, pelos jornais americanos transportados pelo primeiro navio que deixou o porto de Baltimore em direção à Inglaterra.
No ano seguinte, 1866, com a inauguração do primeiro cabo submarino telegráfico transatlântico, as notícias dos Estados Unidos podem fazer o mesmo percurso em poucos segundos. Mas a comunicação ainda é ponto a ponto.
O salto da web. Tomemos o caso da internet em nossos tempos. A primeira interligação entre dois computadores ocorreu no dia 21 de novembro de 1961. Uma das máquinas estava na Universidade da Califórnia em Los Angeles. A outra, na Universidade de Stanford, em Palo Alto. Nenhum jornal registrou o fato histórico.
Anos depois, com o nascimento da Arpanet, a rede antecessora da internet, em 1969, o mundo da comunicação dá uma espécie de salto quântico.
Nos anos seguintes, duas inovações extraordinárias: o protocolo IP, criado pelos engenheiros americanos Vinton Cerf e Robert Kahn em 1973, e a teia mundial (world wide web ou WWW), concebida pelo físico inglês, Tim Berners-Lee, em 1990.
Vejam o que ocorreu a partir de 1991, ano em que não havia mais do que alguns milhares de usuários da web no mundo, a maioria dos quais era de acadêmicos e militares. A barreira do primeiro bilhão de usuários é quebrada em 2004. O segundo bilhão é ultrapassado em 2010.
O crescimento futuro dessa rede mundial deve ser ainda mais surpreendente. Segundo as previsões da União Internacional de Telecomunicações (UIT), quando a Copa do Mundo estiver sendo inaugurada no Brasil, em 2014, o número de internautas no planeta estará superando os 3 bilhões. E, em 2025, a internet deverá estar sendo usada por mais de 80% dos habitantes da Terra.
O celular. No mundo das comunicações, o recorde mais impressionante, entretanto, tem sido o do celular. Lançado comercialmente no início da década de 1980, ele alcançou o primeiro bilhão em 2001. O segundo bilhão, em 2004. O terceiro, em 2006. O quarto, em 2008. O quinto, em 2010. E, no final deste ano, serão 6 bilhões. Em 2018, o mundo deverá ter mais celulares do que habitantes.
Nenhum bem durável está mais difundido no mundo do que o telefone móvel. Seu número supera o de televisores, de rádios, de computadores, de automóveis, de fogões e refrigeradores.
É triste lembrar, contudo, que 1 bilhão de usuários do celular ainda não usam escova de dentes, segundo as Nações Unidas.
Pessoalmente, tenho testemunhado a impressionante aceleração da velocidade de circulação das notícias ao longo dos 44 anos de minha vida jornalística. Nunca me esquecerei das imagens cheias de chuvisco, às 23 horas e 56 minutos (hora de Brasília) de 20 de julho de 1969, quando mais de 600 milhões de pessoas puderam testemunhar pela televisão o momento em que um ser humano, o astronauta Neil Armstrong, pisou pela primeira vez o solo da Lua. E pronunciou a frase histórica: "Um pequeno passo para o homem; um grande salto para a humanidade".
Nosso trabalho. No mesmo ano, entretanto, nossas coberturas internacionais enfrentavam a precariedade dos serviços de telecomunicações. Numa reportagem feita em Paris, eu tinha que sair correndo às três horas da tarde para uma agência estatal de telex e digitar minha própria matéria, em fita perfurada, para transmiti-la lentamente para o jornal. Em seguida, corria para o aeroporto de Orly e implorava a um piloto da velha Varig que me levasse as cópias do texto e os filmes preto e branco para São Paulo. A reportagem só seria publicada 36 horas depois.
Na metade dos anos 1990, tive uma experiência surpreendente, ao transmitir pela internet, em alguns segundos, de Tóquio para a redação do Estadão, uma longa matéria ilustrada com fotos digitalizadas. Era a primeira vez que sentia o prazer de uma transmissão tão rápida via web. Cético, apanhei o telefone e liguei para o jornal para me certificar se o material havia chegado bem. Hoje tudo isso é coisa rotineira.
E no futuro nossas reportagens terão imagens holográficas, em cores, tridimensionais e odoríferas. Não duvidem.
A globalização funciona de maneira inusitada. A família Gracie que o diga. A defesa pessoal tem raízes em todas as culturas. Mas levou uma família paraense, de ascendência escocesa, a reinventar uma luta milenar japonesa, transformando-a em esporte internacional, atiçando igualmente os desejos de marmanjos e magnatas.
No mundo de negócios, há poucas historias de sucesso como a das artes marciais mistas, o MMA, na sigla em inglês. O campeonato de luta, disputado no Rio de Janeiro em agosto passado, foi um estouro de público, bilheteria e patrocínio. Quinze mil pessoas se espremeram no HSBC Arena para ver o campeão mundial de pesos médios Anderson Silva derrotar o ídolo japonês Yushin Okami.
Pela procura de ingressos, poderiam ter lotado Maracanã. Os brasileiros dispensam apresentações, pois foi aqui, precisamente no Rio de Janeiro, onde tudo começou.
De fato, se existe uma marca brasileira global, é o jiu-jítsu brasileiro. Ou, melhor, o GJJ - Gracie Jiu-jítsu.
A saga faz parte do folclore nacional. Os irmãos Carlos e Hélio Gracie, nascidos em Belém, aprenderam jiu-jítsu com o imigrante japonês Mitsuyo Maeda e o levaram ao Rio, onde fundaram uma academia.
Mestres de um esporte com poucos aficionados, logo trataram de crescer e, misturando valentia com o instinto empreendedor, desafiaram brigões de todos os estilos. Com raríssimas exceções, prevalecia o jiu-jítsu. Franzino e leve, Hélio Gracie, de apenas 62 quilos, batia rivais maiores, alguns gigantes.
Nada a ver com força nem velocidade. "Dê-me uma alavanca e levanto o mundo", dizia, repetindo a citação de Arquimedes.
Nasceu o Vale Tudo, talvez o campeonato de lutas mais ecumênico do mundo. E foi esse modelo que os filhos de Hélio e Carlos exportaram para os Estados Unidos, rebatizando-o de Ultimate Fighting Championship (UFC) ou Cage Fighting, pela gaiola que cercava o tatame octogonal de lutas.
Com a feijoada de estilos, as regras implodiram. Não havia rounds, cronômetro, ou luvas. Só não valia mordida ou dedo no olho.
A luta terminava quando um dos rivais se rendia ou desmaiava. Era o shoot fighter contra o boxeador. Judoca contra o faixa preta de caratê. E todos contra o jiu-jítsu brasileiro.
No confronto de estilos internacionais, a alavanca dos Gracie novamente triunfou. Teve início, então, a corrida internacional para aprender a arte brasileira, pois ninguém vencia sem dominar o jiu-jítsu.
Os lutadores gostaram, as autoridades americanas, nem tanto. O senador republicano pelo Arizona John McCain o chamou de "rinha humana".
A UFC era proibida em diversos Estados do país. Transmissão pela televisão, só pelos canais a cabo.
Polêmico e marginalizado, o esporte perecia quando o Rorion Gracie vendeu a marca UFC para a empresa de entretenimento SEG (negócio de US$ 1 milhão), que alguns anos depois a repassou aos irmãos Frank e Lorenzo Fertitta, empresários de cassino, e Dana White.
O clube de lutas ganhou regras, luvas, rounds de cinco minutos e envergadura. O público cresceu. Os patrocinadores brigaram pelas cotas. Neste ano, a Fox e, há poucos dias, a TV Globo, compraram polpudos direitos de transmissão.
Mas a globalização é curiosa. Ao se evangelizar, a luta também se transformou. Hoje todos os competidores da UFC são atletas profissionais.
Treinam Jiu-jítsu à brasileira, mas também muay thai, kick boxing, pugilismo e wrestling. A arte brasileira que conquistou o mundo ainda é valorizada, mas parece não ser mais o diferencial no combate.
Os novos astros do octógono são os "strikers", golpistas, que desferem chutes e socos, com precisão mortal.
Na UFC Rio, quase todas as lutas terminaram em minutos, com uma saraivada de golpes, entre elas o embate que coroou o brasileiro Anderson Silva o novo ídolo da luta. Uma luta que Hélio Gracie alavancou, que deu a volta ao mundo e voltou ao país globalizado, quase irreconhecível.
Quando o Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu o mercado financeiro ao iniciar o ciclo de redução da Selic, várias análises questionaram se o governo tinha abandonado o regime de metas de inflação, passando a perseguir meta de crescimento econômico. Não vejo incompatibilidade de perseguir ambas as metas, como faz o FED (banco central americano).
O regime de meta de inflação nasceu após período de turbulência na passagem do câmbio fixo para o flutuante, em meio a uma crise fiscal e cambial aguda, tendo o governo de bater na porta do FMI solicitando um empréstimo de US$ 41 bilhões para não ter de dar o calote na dívida externa. O regime foi implantado por Arminio Fraga, que presidiu o Banco Central (BC) a partir de março de 1999. Naquele mês, a Selic atingiu o recorde de 45%, marcando o início desse regime. Ela já era alta desde a primeira reunião do Copom, em julho de 1996. De lá até 1999 ficou na média de 24%, ou seja, mais do dobro da atual, e só foi ficar abaixo de 15% em julho de 2006.
O que caracterizou esse regime foi a utilização exclusiva da Selic para o controle da inflação. Assim, inaugurou-se nova justificativa para a continuidade do uso de taxas de juros elevadas para controlar a inflação. A utilização da Selic elevada, durante todos esses anos, foi o que deu sustentação ao Plano Real, mantendo o real apreciado para atrair os especuladores externos com ganhos seguros em cima dos títulos do governo. O ingresso desses dólares barateia as importações, servindo como barreira ao reajuste de preços internos. É a política conhecida como âncora cambial.
Uma consequência dessa política foi agravar o rombo das contas externas, que ocorreu durante 1995 a 2002, com uma perda acumulada de US$ 168 bilhões. Nesse período, a Selic média foi 21,5%. A partir de 2008, novos rombos passaram a ocorrer, tendo atingido US$ 100 bilhões até 2010 e com previsão de atingir este ano US$ 55 bilhões!
Outra consequência danosa ocorreu nas contas públicas. O déficit registrado de 1995 a 2002 foi de 7,0% do PIB, por conta de um superávit primário de 1,6% do PIB insuficiente para pagar a conta de juros, que atingiu 8,6% do PIB! A dívida líquida do setor público saltou de 29% do PIB em 1995 para 60% em 2002. Com maior crescimento econômico e superávit primário, aliados à Selic menor a partir de 2007, foi reduzida para 37,2% ao final de setembro.
Face aos danos causados, não dá mais para continuar a Selic no nível atual, que é o triplo do segundo colocado no ranking mundial.
Utilizando dados dos balancetes de janeiro/2000 a outubro/2009 de bancos com carteira de crédito ativa, estudo do BC de maio último constatou que não foram encontradas relações relevantes entre o spread e Selic, ou seja, a Selic não influi na taxa de juros ao mercado, contrariando a tese que influi sobre a demanda.
Excluído o caminho danoso da artificialização do câmbio, a Selic não serve para controlar a inflação, pois não segura a demanda, nem serve para formar as expectativas de preços, que são influenciadas pela inflação passada, e não pela sua previsão sujeita a erro. Assim, carece de qualquer sentido a determinação da Selic pelo Copom. Se esse sistema não serve para atuar sobre a inflação, qual poderia ser?
Controle da inflação. Um sistema alternativo consiste em definir a meta de inflação para os próximos doze meses (e não para o ano calendário) e sua banda de tolerância de mais ou menos dois pontos dimensionada para absorver os choques de oferta. Para um ataque eficaz, a gestão da inflação deve atuar não só sobre a demanda, como sempre foi, mas também sobre a oferta. Para regular a demanda, o principal é a gestão do consumo, responsável por 60% dela. E isso se faz via medidas macroprudenciais que regulam o crédito, como as que foram usadas no final de 2010.
Naquela ocasião, foi diagnosticado que estava ocorrendo uma inadimplência crescente com o prazo de financiamento dos automóveis. Assim, foram feitas exigências aos bancos e consumidores para reduzir e encarecer as operações de crédito com prazos superiores a 24 meses. Os resultados atingiram os objetivos traçados pelo BC.
Quanto à oferta interna, deve-se estimulá-la via: a) desonerações tributárias em bens de consumo popular e; b) crédito para as empresas a taxas de juros mais reduzidas, especialmente através das instituições oficiais. Isso reduz os custos tributários e financeiros e alivia o capital de giro, especialmente para as micro, pequenas e médias empresas.
Empresas que têm poder de fixar preços, como a Vale, devem ser controladas para não contaminar a cadeia de custos das empresas e majorar preços aos consumidores. O mesmo vale para os preços administrados, que devem ter um acompanhamento mais rigoroso e transparente do que vem ocorrendo.
Escapa ao controle o componente externo da inflação (commodities, alimentos e demais bens). Mas as perspectivas são favoráveis por causa da crise internacional, que vem atenuando o consumo nos países desenvolvidos, com reflexo também nos países emergentes.
Além do controle proposto, creio que o maior antídoto contra a inflação, infelizmente, é a própria inflação, por reduzir diariamente o poder aquisitivo da maior parte da população, que só é recuperado parcialmente mais à frente por ocasião dos reajustes salariais e, assim mesmo sem atingir a maior parte dos trabalhadores, que não pertencem às categorias mais organizadas e nem têm poder de negociação salarial. Em consequência, contrariando previsões alarmistas de elevação inflacionária devido às categorias organizadas, a renda já caiu 1,8% em setembro na comparação com agosto.
Resumindo: ao invés do controle tipo samba de uma nota só, da Selic, deve-se atuar sobre a inflação por um conjunto de ações que interferem na oferta e demanda da economia. O BC deixa de ser o único responsável pela inflação, passando-a para a equipe econômica (Fazenda, Planejamento e BC), órgãos que compõem o Conselho Monetário Nacional (CMN), que é quem define a meta de inflação.
O mais importante com a redução da Selic é a economia que o País terá com as despesas com juros, que pode alcançar R$ 120 bilhões ou 3% do PIB! Como faltam recursos para atender a demanda social e a infraestrutura, a redução dessas despesas irá proporcionar uma saída que não tem sido possível obter com a redução de outras despesas, tensionadas por deficiências de gestão, pressões do Judiciário e por fatores políticos advindos do Congresso.
O regime de metas da inflação é necessário para sinalizar o compromisso do governo com o controle da inflação. O que está errado no atual regime é o de usar a Selic como o instrumento para o controle inflacionário. A questão inflacionária merece um combate amplo, para ser eficaz, e, para isso, várias frentes de atuação são necessárias. É preciso que o governo avance nessa direção, se quiser fortalecer os fundamentos macroeconômicos e garantir um desenvolvimento econômico e social sustentável.
Li outro dia um fato real narrado pelo escritor moçambicano Mia Couto. Ele disse que certa vez chegou em casa no fim do dia, já havia anoitecido, quando um garoto humilde de 16 anos o esperava sentado no muro. O garoto estava com um dos braços para trás, o que perturbou o escritor, que imaginou que pudesse ser assaltado.
Mas logo o menino mostrou o que tinha em mãos: um livro do próprio Mia Couto. Esse livro é seu? perguntou o menino. Sim, respondeu o escritor. Vim devolver. O garoto explicou que horas antes estava na rua quando viu uma moça com aquele livro nas mãos, cuja capa trazia a foto do autor.
O garoto reconheceu Mia Couto pelas fotos que já havia visto em jornais. Então perguntou para a moça: Esse livro é do Mia Couto?. Ela respondeu: É. E o garoto mais que ligeiro tirou o livro das mãos dela e correu para a casa do escritor para fazer a boa ação de devolver a obra ao verdadeiro dono.
Uma história assim pode acontecer em qualquer país habitado por pessoas que ainda não estejam familiarizadas com os livros – aqui no Brasil, inclusive. De quem é o livro? A resposta não é a mesma de quando se pergunta: “Quem escreveu o livro?”.
O autor é quem escreve, mas o livro é de quem lê, e isso de uma forma muito mais abrangente do que o conceito de propriedade privada – comprei, é meu. O livro é de quem lê mesmo quando foi retirado de uma biblioteca, mesmo que seja emprestado, mesmo que tenha sido encontrado num banco de praça.
O livro é de quem tem acesso às suas páginas e através delas consegue imaginar os personagens, os cenários, a voz e o jeito com que se movimentam. São do leitor as sensações provocadas, a tristeza, a euforia, o medo, o espanto, tudo o que é transmitido pelo autor, mas que reflete em quem lê de uma forma muito pessoal. É do leitor o prazer. É do leitor a identificação. É do leitor o aprendizado. É do leitor o livro.
Dias atrás gravei um comercial de rádio em prol do Instituto Estadual do Livro em que falo aos leitores exatamente isso: os meus livros são os seus livros. E são, de fato. Não existe livro sem leitor. Não existe. É um objeto fantasma que não serve pra nada.
Aquele garoto de Moçambique não vê assim. Para ele, o livro é de quem traz o nome estampado na capa, como se isso sinalizasse o direito de posse. Não tem ideia de como se dá o processo todo, possivelmente nunca entrou numa livraria, nem sabe o que é tiragem.
Mas, em seu desengano, teve a gentileza de tentar colocar as coisas em seu devido lugar, mesmo que para isso tenha roubado o livro de uma garota sem perceber.
Ela era a dona do livro. E deve ter ficado estupefata. Um fã do Mia Couto afanou seu exemplar. Não levou o celular, a carteira, só quis o livro. Um danado de um amante da literatura, deve ter pensado ela. Assim são as histórias escritas também pela vida, interpretadas a seu modo por cada dono.
O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) está ocupando um lugar de destaque na articulação política do governo. Nas crises, que resultaram na troca de cinco ministros, coube a ele negociar a queda de cada um deles com seus respectivos partidos. A sua habilidade tem evitado o pior, o rompimento político, que seria inevitável no caso de uma demissão a seco. Cabe a Gilberto convencer os envolvidos a pedir para sair.
Um serviço para Lula Depois de encaminhar uma solução para o problema de São Paulo, o ex-presidente Lula pode ter que intervir em pelo menos outras sete capitais para arbitrar disputas entre o PT e aliados. Em Belo Horizonte, o vice-prefeito Roberto Carvalho (PT) insiste em ser candidato, em vez de apoiar a reeleição de Marcio Lacerda (PSB). Em Porto Alegre, o PT quer lançar candidato em vez de apoiar a reeleição de José Fortunatti (PDT) ou a deputada Manuela D´Ávila (PCdoB). No Recife, a movimentação do ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional) para ser candidato ameaça a aliança entre PT e PSB. Há ainda problemas em Vitória, Rio Branco, Fortaleza e São Luís.
CANIBALISMO!?!? A revista italiana "Oggi" publicou matéria sobre países onde há canibalismo, e, embora o Brasil não seja citado, o país aparece em um mapa que ilustra o texto: "Onde as férias podem se transformar em tragédia". Indignado, o presidente da Embratur, Flávio Dino, está tomando providências junto ao Itamaraty para pedir espaço de retratação à revista. "É uma piada, não há mais casos de canibalismo no Brasil", diz Dino.
Segurança A presidente Dilma bateu o martelo com o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). Vem aí um programa para a construção de novos presídios e de ampliação das vagas nos existentes. Será repassado R$ 1,1 bilhão para os estados.
Elas por elas A bancada do Rio ameaça votar contra a prorrogação da Zona Franca de Manaus por causa da redistribuição dos royalties do petróleo. Alega que o pacto federativo tem que valer para todos e que a Zona Franca gera perdas para o Rio.
50 mil em defesa do Rio O governador Sérgio Cabral espera reunir pelo menos 50 mil pessoas, na quinta-feira, na Cinelândia, em defesa do Rio, cujos interesses estão ameaçados pela nova lei de redistribuição dos royalties, em debate na Câmara. O texto aprovado no Senado congela a receita de royalties do Rio ao valor recebido em 2010. Amanhã, no Palácio da Guanabara, o governador reúne políticos, autoridades dos três poderes, prefeitos e representantes da sociedade para dar a largada na mobilização.
Em baixa O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, perdeu prestígio em seu partido. O presidente do PSB, governador Eduardo Campos (PE), não gostou de ele ter viajado para Cuba na campanha para eleger a deputada Ana Arraes para o TCU.
Ops!! Um membro do PSD falava mal do PCdoB, na festa do novo partido, por causa do escândalo do Esporte, quando foi alertado de que o ex-comunista Edson Pimenta (BA) migrou para a sigla. "Esse é exceção", disse, provocando risos.
PERSONAL CENTRAL. O PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, já tem sua central sindical, a UGT, presidida por Ricardo Patah.
A BRIGA entre os deputados para integrar a Comissão Especial dos Royalties é feroz. Os representantes dos estados produtores serão minoria.
O TRÁFICO DE PESSOAS será tema de debate internacional esta semana em Recife. O Ministério da Justiça traz ao país a coordenação internacional da Global Alliance Against Traffic in Women (GAATW) e a Central de Fronteiras e de Estrangeiros (Portugal).
A produção Industrial brasileira de setembro mostrou forte contração. Mesmo ocorrendo alguma recuperação em outubro, o crescimento do PIB em 2010 está comprometido, devendo situar-se próximo de 3%. Parte dessa desaceleração vem de fora, e as perspectivas para os próximos trimestres não são boas.
A economia dos Estados Unidos mostrou um desempenho melhor no terceiro trimestre, crescendo à taxa anualizada de 2,5%, e isto deverá prosseguir por mais um trimestre. Entretanto, as famílias continuam excessivamente endividadas, com a necessária desalavancagem inibindo o crescimento do consumo.
O estoque de casas continua alto; a demanda por casas não reage; e a taxa de inadimplência de hipotecas é cinco vezes maior do que em anos normais, mesmo com as taxas de juros mantidas baixas pelo Federal Reserve. Politicamente, o governo Obama não tem mais a capacidade de utilizar o instrumento fiscal, e ainda que o Federal Reserve adote uma nova rodada de expansão quantitativa, sua eficácia na elevação da demanda deverá ser pequena, como é atestado pelos fracos resultados da expansão quantitativa recentemente encerrada.
O quadro na Europa é bem mais grave.Mesmo com a redução de 50% de sua dívida pública, a Grécia tem à frente um caminho árduo. O custo do ajuste imposto à sociedade é enorme, levando à queda do produto e do emprego, e reduzindo o apoio político ao governo. O desemprego nos países da periferia do euro é muito mais alto do que na Alemanha e na França, mas são exatamente os países da periferia que terão de executar uma forte austeridade fiscal.Esse ajuste os empurra para a recessão e para a deflação, da qual não podem escapar, nem mesmo diante da queda da taxa de juros promovida pelo BCE, porque não podem elevar a competitividade depreciando amoeda, dado que não têm uma moeda própria.
Cresce, assim, o distanciamento entre: a Alemanha, que é o grande beneficiário do euro, que é uma moeda mais fraca do que era o Deutsche Mark, elevando sua competitividade; e os demais países, para os quais o euro é mais forte do que suas moedas originais, inibindo o aumento de exportações. Por isso, a Alemanha tem superávits nas contas correntes contra déficits nos países da periferia, e sua produção industrial está entre as que mais cresceram após a crise de 2008/2009, enquanto que a produção da Espanha, por exemplo, não mostrou qualquer recuperação.
A perspectiva é de que a Europa terá de amargar, por um longo período, um crescimento pior do que o dos Estados Unidos. Vários países na Europa mostrarão recessões; e é grande a probabilidade de que, no próximo ano, o continente europeu mostre uma queda do produto.
Transmissão. Embora não saibamos precisamente quais são os canais de transmissão, a desaceleração do crescimento brasileiro é parcialmente gerada por este quadro internacional. Ela é mais forte na indústria do que no setor de serviços, sugerindo que, em parte, o efeito negativo vem da combinação da valorização do real com a estabilidade dos preços em dólares de produtos importados, que competem com a produção doméstica.
Porém, somente o comércio internacional não consegue explicar a desaceleração doméstica, que é um fenômeno difuso que, no entanto, é identificável observando os indicadores financeiros.
Convido a quem se dispuser a realizar o exercício que compute os ciclos do Ibovespa em torno de sua linha de tendência, comparando-os com os ciclos da produção industrial brasileira em torno da sua respectiva linha de tendência.
É surpreendente a elevada correlação positiva entre os dois indicadores.
Porquê? A piora das condições de demanda, que ocorre simultaneamente em todos os países, é percebida com antecipação por parte dos empresários, o que derruba os preços das ações antes que ocorra a queda na produção. Os ciclos nos preços das ações são um indicador antecedente dos ciclos na produção, e seu comportamento indica que ainda assistiremos novas desacelerações no crescimento brasileiro em resposta à desaceleração internacional atualmente em marcha.
O que se delineia é um período de baixo crescimento no Brasil, que poderá ser amortecido, mas não totalmente evitado. A melhor reação de política econômica, nesta circunstância, é baixar a taxa de juros ao lado da manutenção de elevados superávits primários.
O estímulo vai para o setor privado, que, quando erra, é punido pelo mercado, evitando desperdícios que levem à queda de produtividade, em vez de ir para o governo, que apenas colhe um aumento de popularidade sem qualquer beneficio para a produtividade.
A possibilidade de baixar a taxa de juros vem do fato de que, ao transmitir se para o Brasil a desaceleração internacional, reduz a taxa neutra real de juros - a que equilibra oferta e demanda.
Comisso, a taxa real de juros de mercado pode cair sem elevar a inflação. Mas ainda que a queda da taxa real de juros seja aplaudida por empresários brasileiros e por governantes de países desenvolvidos, que querem ver o Brasil (e os demais países emergentes) assumindo a mesma posição de "consumidor de última instância" detida pelos EUA nos anos de juros baixos que construíram a presente crise, teremos taxas baixas de crescimento econômico.
Queda transitória. Contudo, é preciso cuidado para não jogar fora o bebê junto com a água da banheira. Essa redução da taxa real neutra de juros não é permanente, nem autoriza que se busque uma trajetória pré-fixada de queda quando a inflação persiste acima da meta.
É, apenas, uma queda transitória, que se encerrará como fim da desaceleração mundial. Para reduzi-la de forma permanente teremos de: elevar a poupança doméstica por meio da redução dos gastos correntes do governo; diminuir expressivamente a dívida pública; e reduzir o crédito subsidiado, como o do BNDES. Teremos, ainda, de promover o aumento da eficiência produtiva, fazendo as reformas necessárias, como a da previdência e a tributária, acreditando menos no "poder do governo", e mais no "poder do mercado".
O outro risco vem da que da do suporte político ao regime de metas de inflação.
Atualmente, é consenso no mundo que os banqueiros centrais não devem olhar apenas para as metas de inflação, mas também para a saúde do sistema financeiro. Por isso, recomenda - se que medidas prudenciais sejam adicionadas à caixa de ferramentas dos bancos centrais, e usadas quando as economias se aquecerem, elevando o risco de bolhas como a que gerou a crise de 2008/2009.
Porém, uma vez aberta a "caixa de pandora", teremos de arcar com as consequências.Uma delas é a tentativa de dar ao Banco Central a tarefa explícita de perseguir metas para o crescimento econômico. Há indicações de que o governo deseja que o Banco Central se movimente nessa direção, e aforma confusa como este vem comunicando as suas decisões não ajuda em nada a eliminar a dúvida.
Há, por outro lado, uma proposição aprovada por unanimidade em uma comissão do Senado que visa dar ao Banco Central também o mandato de promover o crescimento, e que, segundo o seu autor, "reflete o desejo expresso da presidente da República".
Todos reconhecem que a política monetária bem executada escolhe a trajetória de taxa de juros que ao mesmo tempo: leve a inflação para a meta em um horizonte razoável; e minimize os custos em termos de perda do produto. Mas isso é muito diferente de impor ao Banco Central atarefa de perseguir metas quantitativas para o crescimento econômico, o que é incompatível com o controle da inflação.
Nos próximos trimestres, as taxas reais de juros no Brasil cairão, e ainda assim o crescimento econômico será medíocre. Por isso, surgirão pressões para que se busquem metas de crescimento, expondo-nos ao risco de manter a inflação permanentemente acima da meta, o que será um passo atrás relativamente aos progressos realizados nos últimos anos.
A esta altura, Dilma terá de se comportar de modo a não comprometer o projeto de poder traçado pelo chefe
Não vejo razão para atribuir à presidente Dilma Rousseff o propósito deliberado de eliminar do governo os corruptos em nome do respeito à ética e ao interesse público.
Se é verdade que cinco de seus ministros deixaram o governo por essa razão, isso se deveu às denúncias trazidas a público pela imprensa (que os lulistas desejam calar), deixando a presidente numa saia justa: ou os demitia, ou se mostraria conivente com a corrupção.
Ainda assim, nenhuma medida tomou para puni-los e obrigá-los a devolver aos cofres públicos o dinheiro roubado.
Não o fez e não o faria em nenhuma hipótese, uma vez que isso só manteria esses escândalos no noticiário dos jornais e da televisão, ainda com o perigo de arrastar consigo muita gente mais, tanto do PT quanto dos partidos aliados.
E, pior ainda, deixaria cada vez mais evidente a responsabilidade do ex-presidente Lula, que nomeou aqueles ministros e os impôs à sua sucessora, fingindo ignorar o que cada partido fazia no ministério que recebera de presente.
Isso não quer dizer que a presidente Dilma aceite os "malfeitos". Estou certo de que não. De fato, não tem escolha, a menos que se disponha a romper com o esquema político montado por Lula, do qual ela é peça fundamental.
A esta altura, independentemente do que considere certo ou errado, terá de se comportar de modo a não comprometer o projeto de poder traçado pelo chefe. Quando um jornalista perguntou a ele se pretendia voltar à Presidência da República, em 2014, Lula respondeu: "Eles é que não podem voltar de jeito nenhum".
O desvio do dinheiro público para o cofre dos partidos ou para comprar o silêncio dos envolvidos na falcatrua havia se tornado norma no governo de Lula, que aparentava não saber de nada, mesmo porque esse era o novo meio de suborná-los, após o desastre do mensalão.
O caso recente do Ministério do Esporte deixou isso bem claro: o policial João Dias Ferreira, então membro do PC do B, ao mesmo tempo em que ajudava no desvio do dinheiro do ministério para o cofre do partido, valia-se disso para, por meio de ONGs, encher o seu próprio bolso. Impossível acreditar que o ex-ministro Orlando Silva -que foi secretário-executivo do ministro anterior- não soubesse dos "malfeitos" que beneficiavam seu próprio partido.
Mas isso não foi exclusividade do Ministério do Esporte, pois, como se sabe, com algumas variações, o mesmo esquema de corrupção funcionava nos ministérios dos Transportes, da Agricultura e do Turismo, de que resultaram escândalos semelhantes, com a demissão dos respectivos ministros. Escândalos esses dos quais já quase ninguém fala e que não terão, ao que tudo indica, nenhuma consequência para quem os praticou.
Não resta dúvida, portanto, de que não se trata de coincidências lamentáveis, e sim de um procedimento generalizado que consiste em usar a máquina do Estado para manter o projeto de poder implantado por Lula e que ele pretende prolongar indefinidamente.
Essa é sua pretensão, sem nenhuma dúvida. Se vai conseguir consumá-la, já é outra conversa, uma vez que esse projeto de hegemonia contraria o interesse de partidos que são, no momento, seus aliados. Os dois maiores adversários do lulismo e, portanto, desse projeto, o PSDB e o DEM, perderam força, o que favorece as pretensões de Lula.
Desse modo, os obstáculos possíveis, que ele teria de enfrentar no futuro, viriam de uma eventual oposição do PMDB, do PSB e do recém-criado PSD.
Ainda que não possamos apontar indícios claros dessa hipotética reação, a verdade é que chegar ao poder é o objetivo de todo partido político e, caso Lula retorne à Presidência ou reeleja Dilma, os dirigentes atuais daqueles partidos terão, talvez definitivamente, perdido a vez.
A isso se soma o temor decorrente do que ocorre em alguns países vizinhos, onde o populismo pseudoesquerdista, para perpetuar-se no poder, não hesita em atentar contra a democracia.
Essa minha hipótese ganhará viabilidade se os escândalos continuarem, levando de um lado à desmistificação do lulismo e, de outro, à fragmentação de sua base de apoio. O inesperado câncer surgido na laringe de Lula introduz, no processo político, um fator imprevisível.
Pensar em coisas ruins faz com que se troque de pensamento, já que não há como mudar o que foi feito
DESDE QUE a doença de Lula foi conhecida, ficou tudo esquisito; o ex-presidente é uma figura pública, mais pública que um cantor de sucesso ou um ator de novela, e paira no ar um baixo astral parecido com aquele do tempo do Tancredo. Só que os boletins do Tancredo mentiam, e esses de agora dizem a verdade, a verdade nua e crua. Os petistas estão mal e os não petistas, como eu, também estamos.
Para um homem como Lula, ativo, falante, que não conseguia ficar quieto, não deve estar sendo fácil. Com a recomendação de falar o menos possível, Lula vai ter muito tempo para pensar, coisa que não parece fazer parte dos seus hábitos; e para ele, que era levado sobretudo pelo instinto, pensar muito pode ser perigoso.
Pensar nos leva sempre a fazer um balanço da vida, lembrar do que fizemos, dos erros e acertos, e não há quem não se arrependa de algumas das coisas que fez. Isso é bom ou ruim?
Quando se pensa nas boas coisas é bom, mas pensar nas menos boas faz com que se troque de pensamento, já que não há como mudar o que foi feito; aí se abre a geladeira, se pega um jornal, se telefona para um amigo, se deixa pra lá.
Mas quando não se pode falar, e por um bom tempo -o que parece que vai acontecer com Lula-, é difícil. Ele não parece ter o hábito de ler, e só ver televisão, para um homem habituado a uma atividade intensa, é pouco.
Steve Jobs não teve tempo de inventar uma maquininha que transformasse os pensamentos em sons -e sob um certo aspecto, ainda bem. Se os efeitos da químio permitirem, seria o caso de Lula tomar umas aulas de digitação, e com alguma ajuda, que certamente não faltaria, escrever o livro de sua vida.
Sua história é conhecida, mas ninguém conhece a história inteira de ninguém, e essa poderia ser uma maneira de ter um interesse, enquanto recupera a saúde. Não posso deixar de pensar, com tristeza, na vida desse homem nos próximos três, quatro meses, sem poder fazer o que mais gosta e melhor sabe fazer, que é falar.
Foi falando que ele chegou onde chegou, foi falando que convenceu metade do país a votar em Dilma, foi falando que foi chamado de "o cara". Será que religião nessa hora ajuda? Será Lula religioso? Não parece.
A doença colocou o ex-presidente de novo no centro dos holofotes, e por seu desejo pessoal, boletins médicos falarão, várias vezes por dia, sobre a evolução da doença. Isso é aplaudido por alguns, mas no que me diz respeito, vou procurar saber como vai sua saúde só uma vez por dia. Em não sendo uma pessoa próxima, não quero ficar viciada -como fiquei na época de Tancredo-, o dia inteiro diante da TV, para saber se o tumor tem dois ou três centímetros, se Lula está sendo tratado por químio ou radio, se fará cirurgia, ou o que.
Vou continuar ligada, vou continuar desejando que Lula saia dessa, vou torcer pelo Corinthians até que ele fique bom, pois isso vai lhe dar alegrias, mas vou também pensar em outras coisas.
A vida continua, como dizem. Mas se fosse comigo -e espero que isso não me aconteça-, preferiria não ter a minha saúde contada em detalhes, pela televisão, e sendo assunto de conversas, mesmo que fossem todas a meu favor.
Agnelo Queiroz deixou o DF desprovido de sistema de segurança; não é pouco para justificar até impeachment
DENUNCIADOR FREQUENTE e respeitável, no passado, de irregularidades governamentais, o hoje governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, é um exemplo tanto de improbidade quanto da insuficiência da legislação para interromper a permanência no governo, ao menos durante as investigações, de um governante em tal situação.
Assim como reduz as manobras administrativas e políticas contrárias às investigações, a sempre difícil abreviação da permanência evita muitos efeitos nocivos das crises que se espicham à toa no tempo.
No caso do governo de Brasília e seu entorno, a crise já vem de longe, trazida pelas imagens do então governador José Roberto Arruda e vários de seus aliados políticos recebendo, todos, maços e massas de dinheiro ilegal.
O afastamento de Agnelo Queiroz não precisaria de mais do que o já divulgado sobre seu comprometimento com o desvio de verbas públicas, por intermédio de ONGs podres ligadas ao ou próximas do PC do B. O próprio Agnelo, no entanto, acrescentou uma comprovação direta da sua falta de condições, antes morais e agora também emocionais, para governar a capital do país.
A exoneração simultânea de seis dezenas de delegados da polícia do DF não é apenas ato de descontrole. Sua única explicação plausível é a de que Agnelo identificou a origem, em determinado setor da polícia, da gravação que atesta seu negado elo com um praticante (e agora denunciador) dos desvios.
Quis vingar-se do delegado responsável pelo setor, mas atingir só a ele seria imprudente. Preferiu imprudência ainda maior: o subterfúgio da exoneração coletiva.
O efeito prático da medida foi a desarticulação do sistema policial do DF. Os delegados que aguardam substituição já não comandam, de fato, o seu setor; e os futuros substitutos precisarão de tempo para montar suas equipes e dominar a nova função.
Ou seja, na prática, o governador Agnelo Queiroz deixou a capital desprovida do seu sistema de segurança policial, uma vez desmontada a funcionalidade da estrutura. Não é pouco para justificar até o impeachment, senão mesmo a intervenção federal.
Impeachment, o ativo senador Demóstenes Torres está pronto para pedi-lo, em nome do DEM, à Câmara Distrital, versão local das assembleias estaduais. Mas nem o único deputado distrital do DEM é voto certo pelo impeachment, como reza a regra das relações entre os deputados distritais, quaisquer que sejam, e o governador do DF, qualquer que seja.
Para não faltar, nesse caso, o toque da brasilidade carnavalesca, é o PC do B, em sua fantasia programática de combatente pelos desvalidos, o polo da apropriação indébita de verbas originalmente destinadas a programas em benefício de desvalidos.
BRASÍLIA - O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) foi obrigado a deixar o Brasil depois de presidir a CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, que incriminou mais de 200 pessoas, entre elas policiais e ex-policiais que se organizam à margem da lei e da civilidade para, sob o pretexto de "combater o crime", cometer as maiores atrocidades.
Ele recebeu sete ameaças de morte no último mês, jogou a toalha e saiu do país por pressão da família, sugestão da Anistia Internacional e temor do precedente da juíza Patrícia Acioli, assassinada por criminosos fardados, pagos com dinheiro público justamente para defender a lei, a ordem e a vida dos cidadãos.
A decisão de Freixo de buscar segurança no exterior nos deixa duas lições. A primeira é que as milícias estão mais perigosas do que os próprios criminosos. E estão ganhando a guerra. Devem ter soltado rojões depois da morte da juíza e do anúncio do autoexílio do deputado.
A segunda é que há, sim, políticos honestos, bem-intencionados, que disputam eleições diretas e assumem funções públicas para transformar suas cidades, seus Estados e seu país em lugares melhores para todos.
Há tipos como Freixo em Câmaras Municipais, Assembleias e no Congresso, apesar de o foco recair nos outros que não são tão honestos nem tão bem-intencionados e que só disputam eleições e assumem funções públicas para tirar proveito próprio.
O problema é quem fica e quem sai. Dos cinco ministros que caíram sob suspeitas, por exemplo, dois voltaram tranquilamente para seus gabinetes no Congresso, e os demais, às suas atividades profissionais ou empresariais, enquanto Freixo tem de se esconder e fugir para sobreviver.
Ok. Os políticos não são todos iguais, mas há algo de estranho num reino em que os maus se dão bem e os bons é que têm medo e precisam sair correndo. A fuga de Marcelo Freixo é uma vergonha nacional.
RIO DE JANEIRO - Não sei se o sinal é bom ou mau. Em princípio, acho que é bom, mas não tenho certeza. Outro dia, citei aquela frase de Machado de Assis "no meu tempo já existiam velhos, mas poucos".
Parafraseando o mestre, eu diria que "no meu tempo, já havia suicidas, mas muitos". Hoje são poucos. A vida melhorou, o mundo tornou-se mais suportável, as mulheres traem menos e os homens ganham mais? Não sei.
O certo é que no passado, ali pelos anos 30 e 40, era raro o dia em que os jornais não noticiavam o suicídio de alguém, geralmente por motivos de amor ou de cama. Era impressionante o número de homens que tomavam formicida com guaraná. As mulheres, tendendo ao mais dramático, ateavam fogo às vestes.
Para citar um exemplo pessoal. Na infância, passávamos as férias de verão em Paquetá. Eu tinha nove ou dez anos e frequentava a praia dos Tamoios. Naquele ano, um sujeito de terno completo, gravata e chapéu, sentou-se num dos bancos, olhou o mundo, o mar, o céu, os coqueiros, tirou uma arma do bolso e deu um tiro nos miolos.
No mesmo verão, um senhor idoso fez o mesmo na praia de São Roque. Dois ou três dias depois, um jovem se atirou da barca na hora da atracação, foi esmagado pela quilha da veterana Quinta, barca famosa que naufragava regularmente todos os anos -viajar na Quinta equivalia a meio suicídio.
Nelson Rodrigues reclamava que no tempo dele já havia poucos suicídios. Matava-se muito por amor ou traição, mas geralmente eram assassinatos que os jornais chamavam de "passionais". A vida deve ter melhorado ou a humanidade deve ter piorado. Raul Pompeia suicidou-se por um agravo: "para provar a um jornal que não era um canalha".
Hoje, os agravos são muitos e recíprocos. E todo mundo continua numa boa.