ZERO HORA - 12/02
Para se estressar, hoje, não é preciso muito. Basta que a pessoa se hospede numa pousada que não tenha wi-fi, ou que haja uma queda de energia que deixe seu computador paralisado: que desespero ficar sem o Instagram, o Face, o Twitter, o YouTube, o Google.
É chato, eu sei. Mas há uma conexão muito mais séria que está sendo perdida sem que ninguém se importe: a conexão entre causa e consequência, que exige apenas o bom funcionamento dos fios que interligam os neurônios.
Quem viu as imagens do rojão que atingiu o cinegrafista Santiago Andrade durante um protesto no Rio reparou que ele não estava cercado por muita gente, havia um clarão ao seu redor, o que resultou num comentário paralelo à comoção geral: alguns consideraram a tragédia um azarão. Não era para acertar ninguém, foi uma fatalidade.
Que azar, o quê. Não foi azar de quem soltou o artefato, nem azar de quem estava no caminho. Não houve azar ou sorte. Houve, mais uma vez, a falta absoluta de conexão entre causa e consequência, uma relação lógica que entrou em desuso.
Quem lida com material explosivo no meio da rua (ou dentro de um estádio, como aconteceu no ano passado num jogo do Corinthians, na Bolívia) tem que estar ciente de que pode ferir e até matar outros. Quem dirige feito um insano na estrada tem que ter noção de que pode provocar um acidente fatal. Quem depreda um ônibus tem que lembrar que aquele é o mesmo ônibus que o levaria ao emprego no dia seguinte.
Quem se descontrola com gastos estapafúrdios tem que responder pela falta de verba para o essencial. Quem pensa que está fazendo economia ao usar material de baixa qualidade em obras de infraestrutura tem que considerar que poderá haver danos, atrasos e acidentes de trabalho. Quem se envolve com corrupção tem que saber que é um ladrão como qualquer outro, não importa se usa gravata e tem curso superior.
Quem não atende com eficiência vê sumir a freguesia. Quem solta boatos obstrui a comunicação. Quem mente perde a credibilidade. Quem não investe não avança. Quem só cultiva aliados em vez de amigos fica sozinho. Quem não lê não pensa direito. Quem não pergunta tateia na ignorância. Quem mima em vez de educar lega ao mundo seres prepotentes. Quem não entendeu que gentileza gera gentileza acabará sentindo na pele que grosseria gera grosseria.
Mas, em vez de manter conectada essa corrente óbvia entre causa e consequência, o que vemos são políticos governando o hoje como se não houvesse amanhã, manifestantes confundindo consciência com delinquência, motoristas desrespeitando as leis para chegar antes, homens e mulheres procurando resolver seus problemas com imediatismo, sem levar em conta as necessidades e sentimentos dos outros.
quarta-feira, fevereiro 12, 2014
Não podemos ser uma nau sem rumo - LYA LUFT
REVISTA VEJA
Um amigo me telefonou para elogiar um artigo desta coluna porque era "um tom mais otimista do que o habitual". Agradeci, mas na verdade esta não é uma coluna simpática, boazinha: é o meu depoimento sobre o que vejo e sinto no país ou nesta humanidade que somos. Sou sujeita a erros, enganos, cegueiras momentâneas, porque afinal somos todos apenas humanos. Minha preocupação com o que acontece por aqui é intensa, e me esforço para que não sombreie minha vida e meu convívio com as pessoas. Não sou pessimista: tento ser realista. E faço aqui, num jogo não muito bom de palavras, uma breve "lista" de acontecimentos e atitudes que me assustam.
Por toda parte pipocam manifestações, e não me digam que resultam da felicidade do povo com melhorias de vida, que agora quer mais benefícios... não é permitido neste momento grave tapar o sol com nenhuma peneira, nem mesmo dourada. Descobrimos que podemos nos manifestar, e nos manifestamos, o que é ótimo, é democrático (nem sempre pacífico...).
Protestar é questão de respeito próprio. Muitos desses protestos terminam em violência, e não é meia dúzia de vândalos: boa parte deles participa desde o começo, abertamente mascarada e bem preparada para o que virá. Vidraças de lojas, bancos, invasão de hotel, farmácias, nada escapa à destruição. Temos reais punições para isso? Ingenuidade, inocência ou desviar os olhos neste momento é ruim. Os protestos se multiplicam, junto com tantas greves, que parece que tudo vai parar. Diálogos não funcionam, exigências são incorretas ou excessivas, autoridades ignoradas ou atônitas, ordens judiciais descumpridas.
A democracia, nosso fundamento, é difícil. Vivemos num estado de anarquia, pronunciou-se uma desembargadora. E queimam-se ônibus a torto e a direito: porque falta luz, água; porque as inundações são rotina e novamente perdemos tudo; porque esperamos horas com filho febril no colo e não somos atendidos; porque a condução é péssima; porque alguém foi morto; porque alguém foi preso; ou simplesmente porque perdemos a paciência. Fica a indagação: por que destruímos tantos ônibus, prejudicando o já tão maltratado povo? O que haverá por trás disso?
Um bando de torcedores de um clube de futebol invade a sede, os jogadores conseguem se esconder, um deles quase é surrado mas ainda escapa para junto dos colegas. Os bandidos, pois são bandidos, rendem um funcionário, quebram, roubam. Reação do clube? Apenas, que eu visse, no primeiro momento, o treinador explicando: "Os jogadores se esforçaram muito..." Claro que no jogo seguinte o time perdeu. Imagine-se a condição psicológica dos atletas, que até em casa recebem telefonemas ameaçadores. Se não tomarmos cuidado, se não houver punição rápida, e concreta, vira mais uma moda e perdeu-se o sentido do esporte.
Destruir bens públicos ou privados ou machucar pessoas raramente dá punição: os criminosos são logo soltos, ou tratados como vítimas (menores quase são pegos no colo, e policiais crucificados). Quadrilhas de bandidos comandam as cidades, a população está desamparada. Por que ninguém se interessa? Não! Porque as leis são anacrônicas ou descumpridas, na leniên-cia geral, e a Justiça acaba favorecendo o criminoso.
Mensaleiros condenados, se presos, continuam em redes sociais, atuam, aparecem na mídia, quase heróis.
Na saúde, de situação surreal, trazer médicos estrangeiros é ficção: o que falta são condições mínimas para um médico sério trabalhar. Muitas vezes não há leito, água, uma aspirina para dar aos pacientes. Na economia, nem me atrevo a falar. Vejam os dados reais.
Na educação estamos entre os piores do mundo: creio obstinadamente que investir em educação (que é sempre a médio prazo) é essencial para sair desse atoleiro. Mas precisamos melhorar logo, sem comissões inúteis, sem projetos impossíveis — a fim de que o país não lembre uma grande estrutura desconjuntada, com passageiros inertes ou alegrinhos, apavorados, aproveitadores ou descrentes, numa nau sem rumo sobre um mar de naufrágio.
Por toda parte pipocam manifestações, e não me digam que resultam da felicidade do povo com melhorias de vida, que agora quer mais benefícios... não é permitido neste momento grave tapar o sol com nenhuma peneira, nem mesmo dourada. Descobrimos que podemos nos manifestar, e nos manifestamos, o que é ótimo, é democrático (nem sempre pacífico...).
Protestar é questão de respeito próprio. Muitos desses protestos terminam em violência, e não é meia dúzia de vândalos: boa parte deles participa desde o começo, abertamente mascarada e bem preparada para o que virá. Vidraças de lojas, bancos, invasão de hotel, farmácias, nada escapa à destruição. Temos reais punições para isso? Ingenuidade, inocência ou desviar os olhos neste momento é ruim. Os protestos se multiplicam, junto com tantas greves, que parece que tudo vai parar. Diálogos não funcionam, exigências são incorretas ou excessivas, autoridades ignoradas ou atônitas, ordens judiciais descumpridas.
A democracia, nosso fundamento, é difícil. Vivemos num estado de anarquia, pronunciou-se uma desembargadora. E queimam-se ônibus a torto e a direito: porque falta luz, água; porque as inundações são rotina e novamente perdemos tudo; porque esperamos horas com filho febril no colo e não somos atendidos; porque a condução é péssima; porque alguém foi morto; porque alguém foi preso; ou simplesmente porque perdemos a paciência. Fica a indagação: por que destruímos tantos ônibus, prejudicando o já tão maltratado povo? O que haverá por trás disso?
Um bando de torcedores de um clube de futebol invade a sede, os jogadores conseguem se esconder, um deles quase é surrado mas ainda escapa para junto dos colegas. Os bandidos, pois são bandidos, rendem um funcionário, quebram, roubam. Reação do clube? Apenas, que eu visse, no primeiro momento, o treinador explicando: "Os jogadores se esforçaram muito..." Claro que no jogo seguinte o time perdeu. Imagine-se a condição psicológica dos atletas, que até em casa recebem telefonemas ameaçadores. Se não tomarmos cuidado, se não houver punição rápida, e concreta, vira mais uma moda e perdeu-se o sentido do esporte.
Destruir bens públicos ou privados ou machucar pessoas raramente dá punição: os criminosos são logo soltos, ou tratados como vítimas (menores quase são pegos no colo, e policiais crucificados). Quadrilhas de bandidos comandam as cidades, a população está desamparada. Por que ninguém se interessa? Não! Porque as leis são anacrônicas ou descumpridas, na leniên-cia geral, e a Justiça acaba favorecendo o criminoso.
Mensaleiros condenados, se presos, continuam em redes sociais, atuam, aparecem na mídia, quase heróis.
Na saúde, de situação surreal, trazer médicos estrangeiros é ficção: o que falta são condições mínimas para um médico sério trabalhar. Muitas vezes não há leito, água, uma aspirina para dar aos pacientes. Na economia, nem me atrevo a falar. Vejam os dados reais.
Na educação estamos entre os piores do mundo: creio obstinadamente que investir em educação (que é sempre a médio prazo) é essencial para sair desse atoleiro. Mas precisamos melhorar logo, sem comissões inúteis, sem projetos impossíveis — a fim de que o país não lembre uma grande estrutura desconjuntada, com passageiros inertes ou alegrinhos, apavorados, aproveitadores ou descrentes, numa nau sem rumo sobre um mar de naufrágio.
Trevas dos brasileiros - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 12/02
RIO DE JANEIRO - Nelson Rodrigues, numa crônica dos anos 60, falou de um inglês de passagem pelo Rio. Ao lhe perguntarem que característica identificava no brasileiro, o visitante espiou em volta e declarou: a cordialidade. Referia-se às pessoas que, nas ruas, se dirigiam umas às outras como se se conhecessem, fossem íntimas e se estimassem, embora nunca se tivessem visto.
Nelson fez disso um artigo, mas talvez não partilhasse da ideia do inglês --ou não de todo. Porque, em outra crônica, pouco depois, escreveu: "O brasileiro tem suas trevas interiores. Convém não provocá-las. Ninguém sabe o que existe lá dentro".
Mas se não sabíamos como era o brasileiro por dentro, não é por falta de exemplos que estamos deixando de saber. Nosso passado recente inclui prisioneiros metralhados às centenas numa cadeia, homens fritando seus semelhantes em "micro-ondas" nas favelas ou abatendo helicópteros com fuzis. Chacinas são vistas como faxinas. Outros degolam companheiros de cela, chutam cabeças de adversários caídos nas arquibancadas, agridem moradores de rua e gays e vão às ruas para destruir, queimar, matar.
Conheci Santiago Andrade, o cinegrafista morto pelos "black blocs". Durante anos, veio semanalmente a meu apartamento, com o produtor João Paulo Duarte, para gravar uma coluna diária que eu fazia na TV Band News. Era grande profissional e pessoa. Insistia no melhor enquadramento, melhor som, melhor luz. Se, por minha culpa, tivéssemos de refazer cada coluna duas ou três vezes, era com ele mesmo.
Santiago foi vítima desses brasileiros que estão pondo suas trevas para fora. Há algo de monstruoso em quem dispara um rojão em meio a uma multidão, indiferente ao que pode acontecer. Alguém fracassou na formação desses indivíduos. Não somos cordiais, somos cruéis, e é bom que o mundo se cuide a nosso respeito.
RIO DE JANEIRO - Nelson Rodrigues, numa crônica dos anos 60, falou de um inglês de passagem pelo Rio. Ao lhe perguntarem que característica identificava no brasileiro, o visitante espiou em volta e declarou: a cordialidade. Referia-se às pessoas que, nas ruas, se dirigiam umas às outras como se se conhecessem, fossem íntimas e se estimassem, embora nunca se tivessem visto.
Nelson fez disso um artigo, mas talvez não partilhasse da ideia do inglês --ou não de todo. Porque, em outra crônica, pouco depois, escreveu: "O brasileiro tem suas trevas interiores. Convém não provocá-las. Ninguém sabe o que existe lá dentro".
Mas se não sabíamos como era o brasileiro por dentro, não é por falta de exemplos que estamos deixando de saber. Nosso passado recente inclui prisioneiros metralhados às centenas numa cadeia, homens fritando seus semelhantes em "micro-ondas" nas favelas ou abatendo helicópteros com fuzis. Chacinas são vistas como faxinas. Outros degolam companheiros de cela, chutam cabeças de adversários caídos nas arquibancadas, agridem moradores de rua e gays e vão às ruas para destruir, queimar, matar.
Conheci Santiago Andrade, o cinegrafista morto pelos "black blocs". Durante anos, veio semanalmente a meu apartamento, com o produtor João Paulo Duarte, para gravar uma coluna diária que eu fazia na TV Band News. Era grande profissional e pessoa. Insistia no melhor enquadramento, melhor som, melhor luz. Se, por minha culpa, tivéssemos de refazer cada coluna duas ou três vezes, era com ele mesmo.
Santiago foi vítima desses brasileiros que estão pondo suas trevas para fora. Há algo de monstruoso em quem dispara um rojão em meio a uma multidão, indiferente ao que pode acontecer. Alguém fracassou na formação desses indivíduos. Não somos cordiais, somos cruéis, e é bom que o mundo se cuide a nosso respeito.
A resposta de sempre - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP -12/02
SÃO PAULO - O que fazer quando você não sabe o que fazer? Se você é parlamentar, a resposta é simples: dê a impressão de que age, criando uma lei. Nem é necessário produzir uma peça nova. É sempre possível recorrer a projeto já em tramitação ou que repouse nos escaninhos do Congresso. O estoque é inesgotável.
Desta vez, não foi diferente. Políticos aproveitam a justa indignação em torno da morte do cinegrafista Santiago Andrade, vítima de um artefato explosivo lançado por "black blocs", para tentar acelerar a aprovação do projeto de lei que tipifica o crime de terrorismo. Pouco importa que essa proposta já estivesse na pauta do Senado antes do homicídio e que ela seja, ao mesmo tempo, inoportuna e indesejável.
Para começar, o Brasil --felizmente, frise-se-- não tem um problema de terrorismo, se o compreendermos em sua acepção clássica, que é a violência política que se vale de homens-bomba, sequestros etc., exercida por organizações clandestinas razoavelmente bem estruturadas.
A ação dos "black blocs" é mais bem descrita como uma combinação de vandalismo com estupidez. O Código Penal já traz ampla coleção de artigos que podem ser usados para reprimi-los. Ela inclui homicídio, perigo comum, dano à propriedade, formação de quadrilha, entre outros.
Não é por falta de tipos penais que manifestantes violentos não estão presos, mas porque a polícia é na maioria das vezes incapaz de identificá-los e reunir as provas que poderiam condená-los. Passar a chamá-los de terroristas e agravar as penas certamente não vai mudar isso.
Por fim, mas não menos importante, o projeto é ruim. Ele lança uma definição vaga e imprecisa de terrorismo e estabelece sanções duríssimas. Um sujeito que provoque pânico incendiando um carro, mesmo que não fira ninguém, pegaria de 20 a 40 anos de cadeia. A título de comparação, a pena reservada para o homicídio qualificado é de 12 a 30 anos.
SÃO PAULO - O que fazer quando você não sabe o que fazer? Se você é parlamentar, a resposta é simples: dê a impressão de que age, criando uma lei. Nem é necessário produzir uma peça nova. É sempre possível recorrer a projeto já em tramitação ou que repouse nos escaninhos do Congresso. O estoque é inesgotável.
Desta vez, não foi diferente. Políticos aproveitam a justa indignação em torno da morte do cinegrafista Santiago Andrade, vítima de um artefato explosivo lançado por "black blocs", para tentar acelerar a aprovação do projeto de lei que tipifica o crime de terrorismo. Pouco importa que essa proposta já estivesse na pauta do Senado antes do homicídio e que ela seja, ao mesmo tempo, inoportuna e indesejável.
Para começar, o Brasil --felizmente, frise-se-- não tem um problema de terrorismo, se o compreendermos em sua acepção clássica, que é a violência política que se vale de homens-bomba, sequestros etc., exercida por organizações clandestinas razoavelmente bem estruturadas.
A ação dos "black blocs" é mais bem descrita como uma combinação de vandalismo com estupidez. O Código Penal já traz ampla coleção de artigos que podem ser usados para reprimi-los. Ela inclui homicídio, perigo comum, dano à propriedade, formação de quadrilha, entre outros.
Não é por falta de tipos penais que manifestantes violentos não estão presos, mas porque a polícia é na maioria das vezes incapaz de identificá-los e reunir as provas que poderiam condená-los. Passar a chamá-los de terroristas e agravar as penas certamente não vai mudar isso.
Por fim, mas não menos importante, o projeto é ruim. Ele lança uma definição vaga e imprecisa de terrorismo e estabelece sanções duríssimas. Um sujeito que provoque pânico incendiando um carro, mesmo que não fira ninguém, pegaria de 20 a 40 anos de cadeia. A título de comparação, a pena reservada para o homicídio qualificado é de 12 a 30 anos.
Duplicidades, ou gatos por lebres... - ROBERTO DAMATTA
O Estado de S.Paulo - 12/02
Tive irmãos gêmeos idênticos e ouvi à exaustão que seus destinos eram parecidos. E o pior é que isso acontecia porque eles foram criados como uma só pessoa. Para nós, os adultos salientavam a diferença, mas os gêmeos estavam subordinados à lógica que os tomava como um paradoxo, pois, na hierarquia da casa, os dois ocupavam um só lugar.
Eles chamavam atenção pela semelhança e usavam isso para algumas malandragens, que só os que gozam da duplicidade recebida ou planejada podem realizar. Cansaram de enganar professores e namoradas, deleitando-se quando a vitima exigia saber quem era quem.
Era deles o uso de dois pesos e medidas tão trivializado neste nosso Brasil de mensalões, hiperpublicidade e ética dupla. Quando se diz uma coisa, mas se faz outra. Vivemos também na época do gato por lebre. Do bandido condenado que passa por herói e julga o tribunal. Temos hoje uma clara duplicidade entre um público interno e um outro, externo; exatamente como ocorria na ditadura militar.
*
Voltemos aos gêmeos. Um dia, um deles brigou com um garoto no colégio e prometeu "pegá-lo na rua". A ameaça de apanhar depois da aula, no espaço anônimo da rua, era aterrorizante. E foi com os olhos esbugalhados de medo que o menino apanhou de um dos gêmeos somente para dois quarteirões adiante, encontrar o mesmo menino que o havia surrado o esperando para repetir a dose! Era o irmão duplicando o outro. Recriando no plano da "inocência infantil" - desmascarada por Freud - uma fabulosa ubiquidade. Essa ubiquidade a que a propaganda governamental nos sujeita e surra diariamente.
*
A duplicidade faz parte da nossa estrutura dotada de um lado consciente e capaz de entender as consequências do que fazemos; e de um lado inconsciente que tem outros projetos e desejos.
Todo desvio inventa uma máscara. Todos os super-heróis americanos sofrem da síndrome da dupla personalidade. No Brasil, o Batman e o Super-homem seriam processados por falsidade ideológica. No Brasil, onde não existem super-heróis, mas abundam as celebridades, todos pagamos um alto preço por usar uma única máscara, pois existem muitas a serem usadas.
As ditaduras e os fundamentalismos induzem a duplicidade. Para o crente, haverá sempre uma verdade oculta ou essencial que o outro não vê.
*
Um pai não pode ser amante de um filho ou de uma filha. A menos que crie um duplo. Raposas não podem vigiar o galinheiro e é justamente essa confusão que jaz na base do incesto, da pedofilia e, nas democracias liberais, da corrupção oficial, realizada por governantes eleitos, logo escolhidos. Numa brilhante entrevista à revista Playboy, Salvador Dalí fala de um irmão que morreu e como ele se confundia com o falecido e a ele atribuía seus erros.
As utopias fundamentalistas (que não podem ser confundidas com ideais de vida difíceis de implementar, mas sujeitos a crítica) facilitam a confusão entre meios e fins. "Essa será a guerra que vai acabar com todas as guerra!", dizem. O duplo aparece sempre relacionado a uma luta final que vai consertar o mundo ou arrumar uma vida. Não é fácil viver com frustrações e admitir que o mundo jamais vai ser perfeito, pois, se assim ficar, a humanidade seria dispensável. Lutar pela igualdade é um dever, mas ela não justifica a violência nem a desonestidade rasteira e planificada.
*
A duplicidade serve tanto às utopias quanto para racionalizar o crime planificado e o golpe político, como infelizmente é comum e decepcionante no Brasil.
Temos, agora, o descaramento do sr. Pizzolato (anos se preparando para o golpe claramente planejado e a fuga realizada por meio de um irmão morto!); de quebra, tivemos o caso patológico do José Dirceu. Em seguida, descobrimos a farsa do desaparecimento de Rubens Paiva, montada pela ditadura militar. A duplicidade recorre onde não existe uma ética de sinceridade.
Há uma óbvia relação entre a duplicidade e os projetos políticos autoritários, avessos a oposição. A duplicidade inventa o que Merval Pereira bem identificou como a dupla personalidade de alguns meliantes da política.
Mas resta discutir, como fiz no meu trabalho, a segmentação esquizoide entre a casa e a rua a bloquear a sinceridade e a transparência no Brasil. A democracia é incompatível com as duplicidades patológicas da vida pública.
*
O duplo diabólico (o que é, afinal, o Diabo senão um duplo negativo de Deus?) é recorrente na reflexão ocidental. Ele foi elaborado na Inglaterra moderna por Robert Louis Stevenson, em 1886, no livro O Estranho Caso do Dr. Jekyll e de Mr. Hyde e por Oscar Wilde, em 1890, no romance O Retrato de Dorian Gray. No Brasil, em 1899, Machado de Assis escreveu Esboço de Uma Nova Teoria da Alma Humana, um conto que fala de almas duplas, mas foi Freud que, ao elaborar uma teoria do inconsciente como o grande oceano a ligar tudo com tudo, colocou em xeque o voluntarismo e a crença individualista do controle consciente.
Não vou falar em Cervantes ou em Fernando Pessoa. Ambos demandariam muito espaço. Basta lembrar que Pessoa inventou três poetas os quais, além de si mesmo, tiveram uma obra e uma vida ao lado da sua!
Numa sociedade em que os amigos têm tudo e os inimigos ficam com a lei, penso que é muito complicado aceitar um mínimo de coerência entre esses duplos que surgem ferozes e impacientes a cada dia e em cada ciclo que tentamos desvendar.
Tive irmãos gêmeos idênticos e ouvi à exaustão que seus destinos eram parecidos. E o pior é que isso acontecia porque eles foram criados como uma só pessoa. Para nós, os adultos salientavam a diferença, mas os gêmeos estavam subordinados à lógica que os tomava como um paradoxo, pois, na hierarquia da casa, os dois ocupavam um só lugar.
Eles chamavam atenção pela semelhança e usavam isso para algumas malandragens, que só os que gozam da duplicidade recebida ou planejada podem realizar. Cansaram de enganar professores e namoradas, deleitando-se quando a vitima exigia saber quem era quem.
Era deles o uso de dois pesos e medidas tão trivializado neste nosso Brasil de mensalões, hiperpublicidade e ética dupla. Quando se diz uma coisa, mas se faz outra. Vivemos também na época do gato por lebre. Do bandido condenado que passa por herói e julga o tribunal. Temos hoje uma clara duplicidade entre um público interno e um outro, externo; exatamente como ocorria na ditadura militar.
*
Voltemos aos gêmeos. Um dia, um deles brigou com um garoto no colégio e prometeu "pegá-lo na rua". A ameaça de apanhar depois da aula, no espaço anônimo da rua, era aterrorizante. E foi com os olhos esbugalhados de medo que o menino apanhou de um dos gêmeos somente para dois quarteirões adiante, encontrar o mesmo menino que o havia surrado o esperando para repetir a dose! Era o irmão duplicando o outro. Recriando no plano da "inocência infantil" - desmascarada por Freud - uma fabulosa ubiquidade. Essa ubiquidade a que a propaganda governamental nos sujeita e surra diariamente.
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A duplicidade faz parte da nossa estrutura dotada de um lado consciente e capaz de entender as consequências do que fazemos; e de um lado inconsciente que tem outros projetos e desejos.
Todo desvio inventa uma máscara. Todos os super-heróis americanos sofrem da síndrome da dupla personalidade. No Brasil, o Batman e o Super-homem seriam processados por falsidade ideológica. No Brasil, onde não existem super-heróis, mas abundam as celebridades, todos pagamos um alto preço por usar uma única máscara, pois existem muitas a serem usadas.
As ditaduras e os fundamentalismos induzem a duplicidade. Para o crente, haverá sempre uma verdade oculta ou essencial que o outro não vê.
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Um pai não pode ser amante de um filho ou de uma filha. A menos que crie um duplo. Raposas não podem vigiar o galinheiro e é justamente essa confusão que jaz na base do incesto, da pedofilia e, nas democracias liberais, da corrupção oficial, realizada por governantes eleitos, logo escolhidos. Numa brilhante entrevista à revista Playboy, Salvador Dalí fala de um irmão que morreu e como ele se confundia com o falecido e a ele atribuía seus erros.
As utopias fundamentalistas (que não podem ser confundidas com ideais de vida difíceis de implementar, mas sujeitos a crítica) facilitam a confusão entre meios e fins. "Essa será a guerra que vai acabar com todas as guerra!", dizem. O duplo aparece sempre relacionado a uma luta final que vai consertar o mundo ou arrumar uma vida. Não é fácil viver com frustrações e admitir que o mundo jamais vai ser perfeito, pois, se assim ficar, a humanidade seria dispensável. Lutar pela igualdade é um dever, mas ela não justifica a violência nem a desonestidade rasteira e planificada.
*
A duplicidade serve tanto às utopias quanto para racionalizar o crime planificado e o golpe político, como infelizmente é comum e decepcionante no Brasil.
Temos, agora, o descaramento do sr. Pizzolato (anos se preparando para o golpe claramente planejado e a fuga realizada por meio de um irmão morto!); de quebra, tivemos o caso patológico do José Dirceu. Em seguida, descobrimos a farsa do desaparecimento de Rubens Paiva, montada pela ditadura militar. A duplicidade recorre onde não existe uma ética de sinceridade.
Há uma óbvia relação entre a duplicidade e os projetos políticos autoritários, avessos a oposição. A duplicidade inventa o que Merval Pereira bem identificou como a dupla personalidade de alguns meliantes da política.
Mas resta discutir, como fiz no meu trabalho, a segmentação esquizoide entre a casa e a rua a bloquear a sinceridade e a transparência no Brasil. A democracia é incompatível com as duplicidades patológicas da vida pública.
*
O duplo diabólico (o que é, afinal, o Diabo senão um duplo negativo de Deus?) é recorrente na reflexão ocidental. Ele foi elaborado na Inglaterra moderna por Robert Louis Stevenson, em 1886, no livro O Estranho Caso do Dr. Jekyll e de Mr. Hyde e por Oscar Wilde, em 1890, no romance O Retrato de Dorian Gray. No Brasil, em 1899, Machado de Assis escreveu Esboço de Uma Nova Teoria da Alma Humana, um conto que fala de almas duplas, mas foi Freud que, ao elaborar uma teoria do inconsciente como o grande oceano a ligar tudo com tudo, colocou em xeque o voluntarismo e a crença individualista do controle consciente.
Não vou falar em Cervantes ou em Fernando Pessoa. Ambos demandariam muito espaço. Basta lembrar que Pessoa inventou três poetas os quais, além de si mesmo, tiveram uma obra e uma vida ao lado da sua!
Numa sociedade em que os amigos têm tudo e os inimigos ficam com a lei, penso que é muito complicado aceitar um mínimo de coerência entre esses duplos que surgem ferozes e impacientes a cada dia e em cada ciclo que tentamos desvendar.
Ueba! Depois do Apagão, o Sujão! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 12/02
Sabe quem inventou o chuveiro? Merry Delabost. Então devia ter inventado a privada, e não o chuveiro!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Bebedouro adota racionamento de água". Rarará. Depois do Apagão, vem o Sujão!
Primeira dica para economizar água: não pode lavar a calcinha no chuveiro!
Segunda dica pra economizar água: você não entra no chuveiro, você PASSA pelo chuveiro.
Por isso que aquela minha amiga já botou a placa no box: "Favor só lavar o que for usar hoje".
E aquela pilha de roupa pra lavar? Manda pra casa do Alckmin! Rarará!
E como diz um amigo meu: "Com esse racionamento, não dá nem pra bater uma no chuveiro". Rarará!
Aliás, sabe quem inventou o chuveiro? Um francês chamado Merry Delabost. Então devia ter inventado a privada, e não o chuveiro! E francês inventar o chuveiro já é uma piada pronta! Rarará!
E o site Piauí Herald revela que Alckmin acusa São Pedro de formação de cartel: "Alstom, Climatempo e São Pedro se uniram pra sabotar o nosso governo".
E o Padilha, do PT: "Quando eu for eleito, importarei uma frente fria de Cuba". Rarará!
E quem economizar água ganha desconto! Então espreme a família inteira embaixo do chuveiro. Lava a jato!
Família que lava a jato junta, permanece junta! Rarará!
E o Pizzolato virou Prezolato e o Azeredo virou Azarado! E o mensalão mineiro vou chamar de POLVILHÃO!
E sabe como se chama a empresa do Marcos Valério? SMPB.
Então SMPB quer dizer: Surgiu em Minas e Pegou o Brasil! Rarará! PT e PSDB, não tem virgem na zona.
E como diz o chargista Elvis: "Sensação térmica: ovo frito". O Brasil virou um ovo frito! Rarará.
E hoje cedo recebi o e-mail de um amigo: "Ônibus delicioso, quentinho, cheio de gente". Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
Os Predestinados! Mais três para a minha série Os Predestinados! Aqui em São Paulo tem uma cirurgiã plástica chamada: Deusa Pires! Chama a Rosana: "Como uma deeeeusa". Rarará.
E direto de Belém do Pará, o neurologista: Heraldo CABEÇA!
E em Portugal tem uma médica chamada Sara Rola! Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Sabe quem inventou o chuveiro? Merry Delabost. Então devia ter inventado a privada, e não o chuveiro!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Bebedouro adota racionamento de água". Rarará. Depois do Apagão, vem o Sujão!
Primeira dica para economizar água: não pode lavar a calcinha no chuveiro!
Segunda dica pra economizar água: você não entra no chuveiro, você PASSA pelo chuveiro.
Por isso que aquela minha amiga já botou a placa no box: "Favor só lavar o que for usar hoje".
E aquela pilha de roupa pra lavar? Manda pra casa do Alckmin! Rarará!
E como diz um amigo meu: "Com esse racionamento, não dá nem pra bater uma no chuveiro". Rarará!
Aliás, sabe quem inventou o chuveiro? Um francês chamado Merry Delabost. Então devia ter inventado a privada, e não o chuveiro! E francês inventar o chuveiro já é uma piada pronta! Rarará!
E o site Piauí Herald revela que Alckmin acusa São Pedro de formação de cartel: "Alstom, Climatempo e São Pedro se uniram pra sabotar o nosso governo".
E o Padilha, do PT: "Quando eu for eleito, importarei uma frente fria de Cuba". Rarará!
E quem economizar água ganha desconto! Então espreme a família inteira embaixo do chuveiro. Lava a jato!
Família que lava a jato junta, permanece junta! Rarará!
E o Pizzolato virou Prezolato e o Azeredo virou Azarado! E o mensalão mineiro vou chamar de POLVILHÃO!
E sabe como se chama a empresa do Marcos Valério? SMPB.
Então SMPB quer dizer: Surgiu em Minas e Pegou o Brasil! Rarará! PT e PSDB, não tem virgem na zona.
E como diz o chargista Elvis: "Sensação térmica: ovo frito". O Brasil virou um ovo frito! Rarará.
E hoje cedo recebi o e-mail de um amigo: "Ônibus delicioso, quentinho, cheio de gente". Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
Os Predestinados! Mais três para a minha série Os Predestinados! Aqui em São Paulo tem uma cirurgiã plástica chamada: Deusa Pires! Chama a Rosana: "Como uma deeeeusa". Rarará.
E direto de Belém do Pará, o neurologista: Heraldo CABEÇA!
E em Portugal tem uma médica chamada Sara Rola! Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
'Olhei e gostei' - TOSTÃO
FOLHA DE SP - 12/02
Estão indefinidos o terceiro goleiro, o quarto zagueiro e o reserva de Fred na seleção; prefiro Fábio, Miranda e Jô
Rafinha e Fernandinho foram as novidades na última convocação, antes da lista final. Rafinha foi a única surpresa. Foi chamado, segundo Parreira, porque Felipão precisa ter um terceiro lateral-direito, no caso de uma eventualidade. Daniel Alves e Maicon devem ser os laterais na Copa.
Fernandinho vai disputar uma posição na lista final com Lucas Leiva, contundido, ou mesmo com Hernanes. Jefferson vai ser o segundo goleiro, e Maxwell, o segundo lateral-esquerdo. Ainda estão indefinidos o terceiro goleiro, o quarto zagueiro e o reserva de Fred. Prefiro Fábio, Miranda e Jô.
Felipão disse que Neymar pode ser opção de centroavante. Com Neymar, Hulk e Oscar, três jogadores que entram muito na área e fazem gols, não há necessidade de se ter um típico centroavante artilheiro, caso o titular Fred não esteja bem. Assim como existem zagueiros, laterais, volantes e meias de estilos diferentes, centroavante não é só o que joga estático, de pivô, esperando a bola para finalizar.
Felipão não convoca apenas pelas qualidades técnicas. É também pela confiança que tem nos atletas. Ele constrói essa confiança baseado em critérios objetivos, com a ajuda de uma psicóloga profissional, e também subjetivos, na intuição, no estalo, pelo jeitão, tipo "olhei e gostei".
ATLETA FRAGMENTADO
Arnaldo Ribeiro, comentarista da ESPN Brasil, que tem sempre uma opinião interessante, fora do lugar-comum e do pensamento operatório, disse que o São Paulo não trata bem, não aproveita bem, o potencial de seus atletas, o que concordo.
Lúcio, Rhodolfo, Casemiro, Jadson e outros foram descartados pelo São Paulo. Lúcio, apesar de decadente em relação ao grande zagueiro que foi, e Rhodolfo, bom jogador do Grêmio, formam uma zaga muito melhor que a atual. O São Paulo não soube lidar com os dois, em um momento ruim.
Casemiro, uma promessa, foi rotulado de mascarado, lento e de não marcar. Hoje, fala-se o mesmo de Maicon, outro bom volante. Casemiro deveria sair do Real Madrid para um clube que não tenha tantos craques em sua posição. Jadson, excelente meia, foi desvalorizado, após a caríssima contratação de Ganso, para a mesma posição. Um atrapalhou o outro. O São Paulo atrapalhou os dois.
Pato nem foi apresentado e já foi vaiado. Isso diminui suas possibilidades. Nestes dias, pensei sobre as palavras ditas por Juca Kfouri, de que Pato não entende o jogo. É isso. Existe uma dissociação entre a técnica e a habilidade do jogador e sua posição e movimentação. Pato é um atleta fragmentado, dividido em partes, que não se juntam.
Muricy, que já tem a difícil missão de fazer com que Ganso jogue o que muitos acham que ele pode jogar, tem outra dura tarefa, a de juntar o conteúdo, as partes de Pato, para formar um todo, dar a seu futebol uma forma.
Estão indefinidos o terceiro goleiro, o quarto zagueiro e o reserva de Fred na seleção; prefiro Fábio, Miranda e Jô
Rafinha e Fernandinho foram as novidades na última convocação, antes da lista final. Rafinha foi a única surpresa. Foi chamado, segundo Parreira, porque Felipão precisa ter um terceiro lateral-direito, no caso de uma eventualidade. Daniel Alves e Maicon devem ser os laterais na Copa.
Fernandinho vai disputar uma posição na lista final com Lucas Leiva, contundido, ou mesmo com Hernanes. Jefferson vai ser o segundo goleiro, e Maxwell, o segundo lateral-esquerdo. Ainda estão indefinidos o terceiro goleiro, o quarto zagueiro e o reserva de Fred. Prefiro Fábio, Miranda e Jô.
Felipão disse que Neymar pode ser opção de centroavante. Com Neymar, Hulk e Oscar, três jogadores que entram muito na área e fazem gols, não há necessidade de se ter um típico centroavante artilheiro, caso o titular Fred não esteja bem. Assim como existem zagueiros, laterais, volantes e meias de estilos diferentes, centroavante não é só o que joga estático, de pivô, esperando a bola para finalizar.
Felipão não convoca apenas pelas qualidades técnicas. É também pela confiança que tem nos atletas. Ele constrói essa confiança baseado em critérios objetivos, com a ajuda de uma psicóloga profissional, e também subjetivos, na intuição, no estalo, pelo jeitão, tipo "olhei e gostei".
ATLETA FRAGMENTADO
Arnaldo Ribeiro, comentarista da ESPN Brasil, que tem sempre uma opinião interessante, fora do lugar-comum e do pensamento operatório, disse que o São Paulo não trata bem, não aproveita bem, o potencial de seus atletas, o que concordo.
Lúcio, Rhodolfo, Casemiro, Jadson e outros foram descartados pelo São Paulo. Lúcio, apesar de decadente em relação ao grande zagueiro que foi, e Rhodolfo, bom jogador do Grêmio, formam uma zaga muito melhor que a atual. O São Paulo não soube lidar com os dois, em um momento ruim.
Casemiro, uma promessa, foi rotulado de mascarado, lento e de não marcar. Hoje, fala-se o mesmo de Maicon, outro bom volante. Casemiro deveria sair do Real Madrid para um clube que não tenha tantos craques em sua posição. Jadson, excelente meia, foi desvalorizado, após a caríssima contratação de Ganso, para a mesma posição. Um atrapalhou o outro. O São Paulo atrapalhou os dois.
Pato nem foi apresentado e já foi vaiado. Isso diminui suas possibilidades. Nestes dias, pensei sobre as palavras ditas por Juca Kfouri, de que Pato não entende o jogo. É isso. Existe uma dissociação entre a técnica e a habilidade do jogador e sua posição e movimentação. Pato é um atleta fragmentado, dividido em partes, que não se juntam.
Muricy, que já tem a difícil missão de fazer com que Ganso jogue o que muitos acham que ele pode jogar, tem outra dura tarefa, a de juntar o conteúdo, as partes de Pato, para formar um todo, dar a seu futebol uma forma.
W.O. presidencial - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 12/02
A Presidência da República tirou da agenda a visita de Dilma Rousseff à inauguração da arena Amazônia, em Manaus, nesta sexta-feira, devido ao risco de protestos. Dilma vai à capital do Amazonas, mas não participará da abertura do estádio. A preocupação com as manifestações também levou a presidente a marcar para depois do Carnaval uma reunião com os 12 governadores dos Estados que receberão os jogos da Copa do Mundo para discutir medidas de segurança nas sedes.
Antibomba Já na segunda-feira, o Ministério da Justiça orientou senadores do PT a congelar o andamento do projeto que tipifica o crime de terrorismo. A pasta ficou preocupada com a defesa da ideia por parlamentares da sigla após a morte do cinegrafista Santiago Andrade.
Tamo junto Ricardo Lewandowski recebeu telefonemas de solidariedade de alguns ministros ontem depois de Joaquim Barbosa revogar decisão dele atendendo a pedido da defesa de José Dirceu, que cumpre pena de prisão no mensalão.
Fala sério Outros integrantes da corte afirmam que a decisão de Barbosa é normal e só teve repercussão por se tratar de um caso "rumoroso" envolvendo Dirceu.
Recordar... Um interlocutor do Judiciário lembra de episódio em 2000, quando Marco Aurélio Mello, na vice-presidênca, concedeu habeas corpus a Salvatore Cacciola, ex-dono do banco Marka.
...é viver Quando reassumiu, Carlos Velloso reformou a decisão e restabeleceu a ordem de prisão. "Só que era tarde e Cacciola já estava fora do país'', lembra o ministro.
Como está Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Michel Temer conversaram por telefone ontem sobre reforma ministerial, mas, segundo interlocutores, nada foi decidido.
Sem crise Temer nega que esteja ressentido, como relataram aliados, por não tratar diretamente com Dilma sobre a reforma. Ele diz que a negociação com Mercadante transcorre em "harmonia".
Infarto De um peemedebista sobre a relação entre a sigla e a presidente: "Nós temos canal de contato, mas o canal está sempre entupido".
A política... Gilberto Kassab resolveu atender a pedido feito pela Abert, associação das emissoras de TV aberta, e antecipar em dois dias o programa eleitoral do PSD, que coincidiria com a abertura oficial da Copa.
... de chuteiras Kassab achou que seria "antipático" aparecer na TV falando de política quando todos estarão interessados só no Mundial. Assim, a propaganda vai ao ar em 10 de junho.
Integral O presidente do PT, Rui Falcão, anunciou a correligionários que não será candidato. Ele quer se concentrar na direção da sigla e na coordenação da campanha de Dilma. Hoje na Assembleia, Falcão podia concorrer a deputado federal.
Fator SP Aloysio Nunes Ferreira (SP) pode ser o coordenador-geral da campanha de Aécio Neves (PSDB). O antigo favorito para a função, Tasso Jereissati, deve disputar o Senado pelo Ceará.
Do começo Tucanos que esboçam a estratégia de Aécio na capital paulista defendem que, antes de tentar penetrar na periferia petista, o senador tem de recuperar o eleitorado tucano que abandonou José Serra em 2012.
Sonho meu O marineiro Walter Feldman (PSB) tem mantido encontros com PPS e PV para articular a "terceira via" em São Paulo. Hoje, as três siglas são da base de Geraldo Alckmin (PSDB). A próxima reunião é amanhã.
tiroteio
"Cara de pau é abandonar completamente a população do país e transformar a Esplanada dos Ministérios em 39 comitês eleitorais."
DO DEPUTADO FEDERAL RUBENS BUENO (PR), líder do PPS na Câmara, sobre críticas de Dilma Rousseff a Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB).
contraponto
Vem pra cá
O vereador paulistano Andrea Matarazzo (PSDB) discursava no plenário da Câmara, fustigando a administração do petista Fernando Haddad, com duras críticas à atuação da secretária Leda Paulani, de Planejamento:
-Precisamos pedir para a secretária, que se diz protossocialista, parar com isso.
Diante da surpresa dos governistas, continuou:
-Ela, sozinha, faz mais oposição à prefeitura do que a bancada do PSDB inteira. Está tirando a nossa função, fazendo oposição!
No fim, prometeu convidar Leda a entrar no PSDB.
A Presidência da República tirou da agenda a visita de Dilma Rousseff à inauguração da arena Amazônia, em Manaus, nesta sexta-feira, devido ao risco de protestos. Dilma vai à capital do Amazonas, mas não participará da abertura do estádio. A preocupação com as manifestações também levou a presidente a marcar para depois do Carnaval uma reunião com os 12 governadores dos Estados que receberão os jogos da Copa do Mundo para discutir medidas de segurança nas sedes.
Antibomba Já na segunda-feira, o Ministério da Justiça orientou senadores do PT a congelar o andamento do projeto que tipifica o crime de terrorismo. A pasta ficou preocupada com a defesa da ideia por parlamentares da sigla após a morte do cinegrafista Santiago Andrade.
Tamo junto Ricardo Lewandowski recebeu telefonemas de solidariedade de alguns ministros ontem depois de Joaquim Barbosa revogar decisão dele atendendo a pedido da defesa de José Dirceu, que cumpre pena de prisão no mensalão.
Fala sério Outros integrantes da corte afirmam que a decisão de Barbosa é normal e só teve repercussão por se tratar de um caso "rumoroso" envolvendo Dirceu.
Recordar... Um interlocutor do Judiciário lembra de episódio em 2000, quando Marco Aurélio Mello, na vice-presidênca, concedeu habeas corpus a Salvatore Cacciola, ex-dono do banco Marka.
...é viver Quando reassumiu, Carlos Velloso reformou a decisão e restabeleceu a ordem de prisão. "Só que era tarde e Cacciola já estava fora do país'', lembra o ministro.
Como está Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Michel Temer conversaram por telefone ontem sobre reforma ministerial, mas, segundo interlocutores, nada foi decidido.
Sem crise Temer nega que esteja ressentido, como relataram aliados, por não tratar diretamente com Dilma sobre a reforma. Ele diz que a negociação com Mercadante transcorre em "harmonia".
Infarto De um peemedebista sobre a relação entre a sigla e a presidente: "Nós temos canal de contato, mas o canal está sempre entupido".
A política... Gilberto Kassab resolveu atender a pedido feito pela Abert, associação das emissoras de TV aberta, e antecipar em dois dias o programa eleitoral do PSD, que coincidiria com a abertura oficial da Copa.
... de chuteiras Kassab achou que seria "antipático" aparecer na TV falando de política quando todos estarão interessados só no Mundial. Assim, a propaganda vai ao ar em 10 de junho.
Integral O presidente do PT, Rui Falcão, anunciou a correligionários que não será candidato. Ele quer se concentrar na direção da sigla e na coordenação da campanha de Dilma. Hoje na Assembleia, Falcão podia concorrer a deputado federal.
Fator SP Aloysio Nunes Ferreira (SP) pode ser o coordenador-geral da campanha de Aécio Neves (PSDB). O antigo favorito para a função, Tasso Jereissati, deve disputar o Senado pelo Ceará.
Do começo Tucanos que esboçam a estratégia de Aécio na capital paulista defendem que, antes de tentar penetrar na periferia petista, o senador tem de recuperar o eleitorado tucano que abandonou José Serra em 2012.
Sonho meu O marineiro Walter Feldman (PSB) tem mantido encontros com PPS e PV para articular a "terceira via" em São Paulo. Hoje, as três siglas são da base de Geraldo Alckmin (PSDB). A próxima reunião é amanhã.
tiroteio
"Cara de pau é abandonar completamente a população do país e transformar a Esplanada dos Ministérios em 39 comitês eleitorais."
DO DEPUTADO FEDERAL RUBENS BUENO (PR), líder do PPS na Câmara, sobre críticas de Dilma Rousseff a Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB).
contraponto
Vem pra cá
O vereador paulistano Andrea Matarazzo (PSDB) discursava no plenário da Câmara, fustigando a administração do petista Fernando Haddad, com duras críticas à atuação da secretária Leda Paulani, de Planejamento:
-Precisamos pedir para a secretária, que se diz protossocialista, parar com isso.
Diante da surpresa dos governistas, continuou:
-Ela, sozinha, faz mais oposição à prefeitura do que a bancada do PSDB inteira. Está tirando a nossa função, fazendo oposição!
No fim, prometeu convidar Leda a entrar no PSDB.
Ele tem a força - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 12/02
O PMDB diz que deixou a presidente Dilma à vontade para promover a reforma ministerial. Mas ontem, dirigentes do partido iniciaram operação para convencer o líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (CE), a indicar o senador Vital do Rego (PB) para a relatoria da Comissão de Orçamento. Eunício quer o apoio do PT à sua candidatura ao governo e Vital foi preterido para um ministério do governo Dilma.
Deslanchar é preciso
Favorável à candidatura própria dos socialistas ao governo de São Paulo, o candidato do partido ao Planalto, Eduardo Campos, não sabe como ficar contra dois aliados pesos-pesados: os deputados Márcio França (PSB) e Roberto Freire (PPS). Eles querem apoiar a reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Os seguidores de Marina Silva (Rede) relatam que Campos teme que França cruze os braços, e que Freire retire o apoio do PPS. Por isso, para impor uma candidatura socialista, os marineiros consideram que Campos precisa urgentemente de um crescimento robusto nas pesquisas eleitorais. Para os verdes, ter candidato em São Paulo é mais relevante que no Rio.
“Os jovens que investiram na linguagem da violência têm um cadáver a sepultar e um caminho a rever. São cópias do inimigo que combatiam”
Luiz Eduardo Soares
Ex-secretário nacional de Segurança Pública, em texto que publicou em seu blog
Mudando de lado
O ministro petista José Eduardo Cardozo (Justiça) aproveitou a formatura de agentes da Polícia Federal para fazer um discurso apelando que se mantenham afastados dos sindicatos. Ele afirmou que essas entidades "não querem o bem de vocês”.
O isolamento
O governador Renato Casagrande (PSB-ES) está perdendo terreno. O PMDB decidiu enfrentá-lo e avalia lançar o senador Ricardo Ferraço para o governo e o ex-governador Paulo Hartung para o Senado. Mas também pode, como prefere o PT, ir de Hartung para o governo. Nesse caso, o petista João Coser, ex-prefeito de Vitória, iria para o Senado.
Volta Lula
Na reunião no Jaburu, na noite de segunda-feira, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), tirou do bolso uma lista de cargos ocupados pelo partido nos governos Lula e Dilma. A primeira lista era superior em quantidade e qualidade.
Os alvos
Ao aprovar resolução que retira a autonomia dos estados, o presidente tucano Aécio Neves mirou no Mato Grosso do Sul e no Piauí. O PSDB quer apoiar para o governo o petista Delcídio Amaral (MS). E quer deixá-lo sem palanque, aliando-se para o governo com Marcelo Castro (PMDB-PI).
O conselho
O prefeito ACM Neto (Salvador), em conversa recente, disse ao presidenciável Aécio Neves que o candidato do DEM ao governo, Cesar Maia, é seu melhor palanque no Rio. “Ele sai de 10%”, afirmou. Anteontem, Aécio procurou Cesar.
Trabalhadores unidos
A CUT diz que também luta pela correção do FGTS pela inflação. O tema não é destaque em sua página na internet, mas garante que as entidades filiadas à Central foram orientadas a entrar com ações coletivas. E cita a dos Metalúrgicos do ABC.
REMENDO. O deputado Nelson Marchezan Jr. diz que o PSDB gaúcho não analisa candidatura própria ao governo, pois busca compor uma aliança.
O PMDB diz que deixou a presidente Dilma à vontade para promover a reforma ministerial. Mas ontem, dirigentes do partido iniciaram operação para convencer o líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (CE), a indicar o senador Vital do Rego (PB) para a relatoria da Comissão de Orçamento. Eunício quer o apoio do PT à sua candidatura ao governo e Vital foi preterido para um ministério do governo Dilma.
Deslanchar é preciso
Favorável à candidatura própria dos socialistas ao governo de São Paulo, o candidato do partido ao Planalto, Eduardo Campos, não sabe como ficar contra dois aliados pesos-pesados: os deputados Márcio França (PSB) e Roberto Freire (PPS). Eles querem apoiar a reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Os seguidores de Marina Silva (Rede) relatam que Campos teme que França cruze os braços, e que Freire retire o apoio do PPS. Por isso, para impor uma candidatura socialista, os marineiros consideram que Campos precisa urgentemente de um crescimento robusto nas pesquisas eleitorais. Para os verdes, ter candidato em São Paulo é mais relevante que no Rio.
“Os jovens que investiram na linguagem da violência têm um cadáver a sepultar e um caminho a rever. São cópias do inimigo que combatiam”
Luiz Eduardo Soares
Ex-secretário nacional de Segurança Pública, em texto que publicou em seu blog
Mudando de lado
O ministro petista José Eduardo Cardozo (Justiça) aproveitou a formatura de agentes da Polícia Federal para fazer um discurso apelando que se mantenham afastados dos sindicatos. Ele afirmou que essas entidades "não querem o bem de vocês”.
O isolamento
O governador Renato Casagrande (PSB-ES) está perdendo terreno. O PMDB decidiu enfrentá-lo e avalia lançar o senador Ricardo Ferraço para o governo e o ex-governador Paulo Hartung para o Senado. Mas também pode, como prefere o PT, ir de Hartung para o governo. Nesse caso, o petista João Coser, ex-prefeito de Vitória, iria para o Senado.
Volta Lula
Na reunião no Jaburu, na noite de segunda-feira, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), tirou do bolso uma lista de cargos ocupados pelo partido nos governos Lula e Dilma. A primeira lista era superior em quantidade e qualidade.
Os alvos
Ao aprovar resolução que retira a autonomia dos estados, o presidente tucano Aécio Neves mirou no Mato Grosso do Sul e no Piauí. O PSDB quer apoiar para o governo o petista Delcídio Amaral (MS). E quer deixá-lo sem palanque, aliando-se para o governo com Marcelo Castro (PMDB-PI).
O conselho
O prefeito ACM Neto (Salvador), em conversa recente, disse ao presidenciável Aécio Neves que o candidato do DEM ao governo, Cesar Maia, é seu melhor palanque no Rio. “Ele sai de 10%”, afirmou. Anteontem, Aécio procurou Cesar.
Trabalhadores unidos
A CUT diz que também luta pela correção do FGTS pela inflação. O tema não é destaque em sua página na internet, mas garante que as entidades filiadas à Central foram orientadas a entrar com ações coletivas. E cita a dos Metalúrgicos do ABC.
REMENDO. O deputado Nelson Marchezan Jr. diz que o PSDB gaúcho não analisa candidatura própria ao governo, pois busca compor uma aliança.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 12/02
Empresa do setor imobiliário investe em shoppings no Norte e no Nordeste
A Partage, empresa de investimentos imobiliários acionista do laboratório Aché, investirá neste ano cerca de R$ 360 milhões em centros de compras no Norte e no Nordeste do país.
Serão aportados R$ 270 milhões na expansão de shopping centers em Natal (RN) e Campina Grande (PB), e na reforma de um empreendimento em Mossoró (RN).
Um dos principais investimentos será no Boulevard Campina Grande, que terá sua área dobrada, com 80 novas lojas e sete andares de estacionamento para 1.500 vagas.
A obra vai custar R$ 120 milhões e a expectativa é que o fluxo de visitantes cresça 35%.
O grupo também passa a ter controle acionário de 88% do Unique Shopping Parauapebas, no município homônimo, no Estado do Pará --o primeiro da Partage na região Norte do país.
"É uma cidade influente para seu entorno, que está crescendo muito devido à mina de Carajás, mas que não tem grandes empreendimentos como esse", afirma Ricardo Baptista, sócio do grupo.
Localizado na avenida principal de Parauapebas, o shopping possui 14.500 m² de área bruta locável (ABL), distribuídos em quatro lojas âncoras, três mega lojas, 126 pontos comerciais e quatro salas de cinema.
"Acreditamos tanto no potencial da cidade que compramos o terreno vizinho, pensando na expansão."
Com o terreno adquirido, há possibilidade de crescer mais 54 mil m². As aquisições movimentaram R$ 90 milhões em investimentos.
ENERGIA SEM DESPERDÍCIO
A Bolt, que trabalha com geração e venda de energia, vai investir R$ 45 milhões neste ano na área de eficiência energética, setor em que a empresa passou a atuar desde o final de 2013.
Os aportes serão feitos em projetos para redução de consumo de eletricidade e de água. Os alvos do grupo são grandes empresas e edifícios comerciais, como hotéis e shopping centers.
"Não descartamos a entrada em outros segmentos, como no agronegócio", diz Erico Evaristo, presidente da Bolt Comercializadora.
Nesse modelo de negócio, a companhia fica responsável por todo o investimento no projeto, como em equipamentos e na execução.
"Nós fazemos o aporte necessário e o cliente nos paga com a economia que terá."
A empresa conclui neste mês o primeiro trabalho na área, feito no sistema de refrigeração do hotel Transamérica, em São Paulo.
"Fizemos um investimento de R$ 3,5 milhões e firmamos um contrato em que ele [hotel] vai nos pagar durante cinco anos. A economia de energia proporcionada será de 40%", afirma.
R$ 962,5 milhões
é o faturamento projetado pela companhia para 2014
R$ 875 milhões
foi o faturamento do grupo no ano passado
SUBIDA RÁPIDA
A Melco do Brasil, empresa de elevadores da Mitsubishi Electric, investirá R$ 20,3 milhões no primeiro semestre deste ano em sua planta, em Guaíba (RS).
O aporte será destinado ao processo de transferência da tecnologia necessária para a produção de elevadores de alta velocidade --item ainda não fabricado pela companhia no país.
Para o próximo ano, a empresa planeja a ampliação da planta industrial --dos atuais 7.000 metros quadrados para 10 mil m2.
Não foi divulgado o valor que será injetado nas obras nem a futura capacidade de produção da fábrica. Hoje, a Melco produz entre 80 e 100 unidades por mês.
A companhia foi formada no país em setembro de 2013, quando a Mitsubishi Electric comprou, por R$ 52,7 milhões, mais de 80% da empresa gaúcha LGTECH.
A aquisição será formalizada em cerimônia hoje em Porto Alegre, na qual Kazuhiko Kojima assumirá o cargo de CEO.
13
são as plantas da Mitsubishi Electric em todo o mundo, incluindo a unidade brasileira
120 mil
é o número de funcionários da multinacional
Cresce chance de contratação em pequenas e microindústrias
O número de micro e pequenas indústrias que pretendem contratar funcionários subiu 14 pontos percentuais: passou de 13% em dezembro de 2013 para 27% no mês passado.
Esse é o maior patamar registrado desde março de 2013, mês em que a pesquisa começou a ser feita pelo Datafolha a pedido do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo).
"A única explicação possível é o aumento do dólar, que pode dar mais competitividade para as empresas e fazer com que elas ampliem seus quadros de funcionários", afirma Joseph Couri, presidente da entidade.
A expectativa em relação à situação da empresa também alcançou seu índice mais alto: 58% acreditam que suas condições irão melhorar no próximo mês. Menos de 10% dizem que deverá piorar e 28% afirmam que permanecerá como está.
Em dezembro do ano passado, 44% apostavam em uma situação melhor para a empresa, ainda segundo o levantamento.
Ao todo, foram entrevistados 307 industriais, sendo 64% deles de micro empresas (até nove funcionários).
CRÉDITO PARA ESTUDANTES
A Ideal Invest, responsável pelo Pravaler, programa de crédito universitário privado do país, acaba de captar R$ 84 milhões por meio de um Fidc (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios).
Foi o maior volume de recursos levantados por meio desse instrumento pela companhia que concede e gerencia crédito educativo.
As emissões tiveram uma demanda de R$ 131 milhões, cerca de 30% maior do que a oferta, segundo a empresa.
O IFC (braço financeiro do Banco Mundial) e o Banco Itaú Unibanco estão entre os acionistas da empresa.
Compras... O governo de Minas Gerais receberá hoje uma delegação de dirigentes de Afeganistão, Paquistão, Nepal, Butão e Maldivas. O grupo conhecerá o sistema de compras adotado pela administração mineira.
...em Minas A visita técnica também terá a participação do Banco Mundial.
Prateleira britânica A Vinícola Salton fechou uma parceria com o grupo inglês de varejo Marks & Spencer, que opera em 50 países, para comercialização de seus produtos. O primeiro lote enviado à rede terá 35 mil garrafas.
Ficamos mais ricos. E agora? - DANIEL WEIGERT CAVAGNARI
GAZETA DO POVO - 12/02
O sistema de estratificação social mudou em virtude do aumento da renda da população e da ascensão da chamada “nova classe média”, refletindo, desta forma, no perfil socioeconômico da população brasileira atual.
O novo modelo, muito mais refinado e que começou a ser utilizado neste ano, foi desenvolvido pelos professores Wagner Kamakura (Rice University) e José Afonso Mazzon (FEA-USP), cujo conceito foi apresentado no livro Estratificação Socioeconômica e Consumo no Brasil. O livro considera 35 variáveis que vão desde a natureza geográfica, demográfica e cultural, além da aquisição de bens, itens e acesso a serviços essenciais de conforto doméstico e da rede pública.
Feito em colaboração com a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), este novo critério adota uma base de dados nacional – a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, de 2009 –, o que mostra certos aspectos com mais nitidez. Para desenvolver o novo modelo de estratificação, os autores utilizaram o conceito teórico da renda permanente, que indica a capacidade do domicílio de ter e manter certo padrão de vida. Esse conceito, de acordo com os estudiosos, é mais válido que o de renda corrente, que é flutuante, principalmente em termos práticos, porque “os consumidores tentam manter o seu padrão de vida ao longo do tempo, mesmo quando sua renda corrente sofre mudanças dramáticas, utilizando para isso a poupança, o investimento ou o crédito”. Mas como manter essa ascensão da classe média?
Por diversas medições oficiais e extraoficiais, percebemos um aumento significativo na distribuição de renda nos últimos 30 anos no Brasil. Mas o que mais mudou na economia, principalmente nesses últimos cinco anos, foi o consumo. Mais famílias passaram a ter mais poder de compra. Mais pessoas querendo comprar, maior a necessidade de produção, hoje suprida principalmente pela importação de bens de consumo, mais precisamente itens de tecnologia.
Por um lado, isso é bom, pois vai gerar muitos empregos diretos e indiretos em vários níveis, desde que a infraestrutura acompanhe essas novas necessidades e desejos. Caso contrário, vamos chegar a um limite e, consequentemente, haverá um aumento generalizado de preços de bens. Estamos falando de inflação.
Outra questão importante é a continuidade desta situação de poder de compra. A educação tem uma parcela definitiva nesse contexto, uma vez que mais pessoas estão estudando e se formando, e isso as qualifica para efetivar as condições de nova classe média. Porém, como tudo, há uma limitação. O que faz as pessoas serem classe média ou alta (A, B, C e D) é justamente a tendência de vislumbrar um progresso constante. Se as pessoas que melhoraram de vida nos últimos anos não continuarem a se qualificar, menor será a capacidade de assumir vagas no mercado. Ainda menor será a capacidade de compreensão desta sociedade tão qualificada.
Por isso, uma coisa precisa ficar clara: sem educação, não há progresso na sociedade. E é este o caminho a ser seguido.
O sistema de estratificação social mudou em virtude do aumento da renda da população e da ascensão da chamada “nova classe média”, refletindo, desta forma, no perfil socioeconômico da população brasileira atual.
O novo modelo, muito mais refinado e que começou a ser utilizado neste ano, foi desenvolvido pelos professores Wagner Kamakura (Rice University) e José Afonso Mazzon (FEA-USP), cujo conceito foi apresentado no livro Estratificação Socioeconômica e Consumo no Brasil. O livro considera 35 variáveis que vão desde a natureza geográfica, demográfica e cultural, além da aquisição de bens, itens e acesso a serviços essenciais de conforto doméstico e da rede pública.
Feito em colaboração com a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), este novo critério adota uma base de dados nacional – a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, de 2009 –, o que mostra certos aspectos com mais nitidez. Para desenvolver o novo modelo de estratificação, os autores utilizaram o conceito teórico da renda permanente, que indica a capacidade do domicílio de ter e manter certo padrão de vida. Esse conceito, de acordo com os estudiosos, é mais válido que o de renda corrente, que é flutuante, principalmente em termos práticos, porque “os consumidores tentam manter o seu padrão de vida ao longo do tempo, mesmo quando sua renda corrente sofre mudanças dramáticas, utilizando para isso a poupança, o investimento ou o crédito”. Mas como manter essa ascensão da classe média?
Por diversas medições oficiais e extraoficiais, percebemos um aumento significativo na distribuição de renda nos últimos 30 anos no Brasil. Mas o que mais mudou na economia, principalmente nesses últimos cinco anos, foi o consumo. Mais famílias passaram a ter mais poder de compra. Mais pessoas querendo comprar, maior a necessidade de produção, hoje suprida principalmente pela importação de bens de consumo, mais precisamente itens de tecnologia.
Por um lado, isso é bom, pois vai gerar muitos empregos diretos e indiretos em vários níveis, desde que a infraestrutura acompanhe essas novas necessidades e desejos. Caso contrário, vamos chegar a um limite e, consequentemente, haverá um aumento generalizado de preços de bens. Estamos falando de inflação.
Outra questão importante é a continuidade desta situação de poder de compra. A educação tem uma parcela definitiva nesse contexto, uma vez que mais pessoas estão estudando e se formando, e isso as qualifica para efetivar as condições de nova classe média. Porém, como tudo, há uma limitação. O que faz as pessoas serem classe média ou alta (A, B, C e D) é justamente a tendência de vislumbrar um progresso constante. Se as pessoas que melhoraram de vida nos últimos anos não continuarem a se qualificar, menor será a capacidade de assumir vagas no mercado. Ainda menor será a capacidade de compreensão desta sociedade tão qualificada.
Por isso, uma coisa precisa ficar clara: sem educação, não há progresso na sociedade. E é este o caminho a ser seguido.
Má administração requer mais impostos - FLORIANO PESARO
FOLHA DE SP - 12/02
A antipatia gerada pela proposta de aumento do IPTU mostra que não foram só uns quantos privilegiados que se opuseram a esse abuso
Todo mundo sabe que São Paulo é o município mais rico e com uma das maiores arrecadações tributárias do país. No entanto, a inoperância da atual gestão da prefeitura faz com que a cidade apresente indicadores de desigualdade tão grandes quanto a sua riqueza.
O primeiro ano desta administração municipal foi marcado pelo aumento da máquina pública e dos gastos com salários. O prefeito criou nada menos do que cinco secretarias: Promoção da Igualdade Racial, Relações Governamentais, Licenciamento, Políticas para as Mulheres, Turismo; além da Controladoria Geral do Município, da Subprefeitura de Sapopemba e das empresas Vai-Tec e Agência São Paulo de Desenvolvimento. Para administrar tudo isso, foram criados, sem concurso, mais de 1.200 cargos, e a folha de pagamento aumentou mais R$ 180 milhões por ano.
O Orçamento da cidade para 2014 aprovado pela Câmara Municipal é de R$ 50,6 bilhões, incluindo R$ 800 milhões que viriam do reajuste do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). O valor é o maior da história e 19,6% maior que o do ano passado (R$ 42,3 bilhões).
Em vez de criar cargos e aumentar impostos, o prefeito deveria criar políticas públicas para melhorar a eficiência e a eficácia do governo.
O problema é que o partido do prefeito tem obsessão por impostos e cargos públicos. O IPTU já é redistributivo: tira dos mais ricos e isenta os mais pobres. E já faz 20 anos que os aposentados são isentos.
O prefeito ganhou a eleição vendendo a imagem do novo, mas só adota velhos hábitos de gestão. Repete não apenas a prática dos aumentos de impostos, mas também a retórica mentirosa de que o reajuste recairá apenas sobre os ricos.
A sociedade paulistana não aceitou o brutal e descabido aumento do IPTU. Foi às ruas protestar. O PSDB entrou com ação na Justiça para barrar esse absurdo. Entendemos que as pessoas não têm capacidade contributiva para arcar com aumento tão grande. E foi também o que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, entendeu, já que manteve a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo e restabeleceu as decisões judiciais que haviam impedido o reajuste do IPTU em São José do Rio Preto (SP) e em Caçador (SC).
Em um ano de governo, a população não percebeu nenhuma melhoria na qualidade do serviço público. É isso o que mostra a pesquisa Irbem (Ibope/Rede Nossa São Paulo. Para os 1.512 entrevistados, 125 dos 169 indicadores de qualidade de vida estão abaixo da média.
O aumento abusivo foi repudiado pela grande maioria da população que lutou para adquirir sua casa própria ou pequeno negócio. Aliás, a antipatia gerada pelo imposto deixou claro que não foram só uns quantos privilegiados que se opuseram a esse abuso.
O prefeito Fernando Haddad ainda não conseguiu nos mostrar a que veio e já tentou nos impingir a ideia de que o problema de São Paulo é financeiro. Não é! São Paulo requer uma administração criativa e competente, uma máquina mais enxuta e focada nos grandes problemas.
O PSDB tem todo o interesse em ver São Paulo apresentar índices menos díspares, com melhor oferta em moradia, creche e transporte. Mas não nos enganemos. Devemos fazer melhor do que sacrificar mais o bolso dos paulistanos.
A antipatia gerada pela proposta de aumento do IPTU mostra que não foram só uns quantos privilegiados que se opuseram a esse abuso
Todo mundo sabe que São Paulo é o município mais rico e com uma das maiores arrecadações tributárias do país. No entanto, a inoperância da atual gestão da prefeitura faz com que a cidade apresente indicadores de desigualdade tão grandes quanto a sua riqueza.
O primeiro ano desta administração municipal foi marcado pelo aumento da máquina pública e dos gastos com salários. O prefeito criou nada menos do que cinco secretarias: Promoção da Igualdade Racial, Relações Governamentais, Licenciamento, Políticas para as Mulheres, Turismo; além da Controladoria Geral do Município, da Subprefeitura de Sapopemba e das empresas Vai-Tec e Agência São Paulo de Desenvolvimento. Para administrar tudo isso, foram criados, sem concurso, mais de 1.200 cargos, e a folha de pagamento aumentou mais R$ 180 milhões por ano.
O Orçamento da cidade para 2014 aprovado pela Câmara Municipal é de R$ 50,6 bilhões, incluindo R$ 800 milhões que viriam do reajuste do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). O valor é o maior da história e 19,6% maior que o do ano passado (R$ 42,3 bilhões).
Em vez de criar cargos e aumentar impostos, o prefeito deveria criar políticas públicas para melhorar a eficiência e a eficácia do governo.
O problema é que o partido do prefeito tem obsessão por impostos e cargos públicos. O IPTU já é redistributivo: tira dos mais ricos e isenta os mais pobres. E já faz 20 anos que os aposentados são isentos.
O prefeito ganhou a eleição vendendo a imagem do novo, mas só adota velhos hábitos de gestão. Repete não apenas a prática dos aumentos de impostos, mas também a retórica mentirosa de que o reajuste recairá apenas sobre os ricos.
A sociedade paulistana não aceitou o brutal e descabido aumento do IPTU. Foi às ruas protestar. O PSDB entrou com ação na Justiça para barrar esse absurdo. Entendemos que as pessoas não têm capacidade contributiva para arcar com aumento tão grande. E foi também o que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, entendeu, já que manteve a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo e restabeleceu as decisões judiciais que haviam impedido o reajuste do IPTU em São José do Rio Preto (SP) e em Caçador (SC).
Em um ano de governo, a população não percebeu nenhuma melhoria na qualidade do serviço público. É isso o que mostra a pesquisa Irbem (Ibope/Rede Nossa São Paulo. Para os 1.512 entrevistados, 125 dos 169 indicadores de qualidade de vida estão abaixo da média.
O aumento abusivo foi repudiado pela grande maioria da população que lutou para adquirir sua casa própria ou pequeno negócio. Aliás, a antipatia gerada pelo imposto deixou claro que não foram só uns quantos privilegiados que se opuseram a esse abuso.
O prefeito Fernando Haddad ainda não conseguiu nos mostrar a que veio e já tentou nos impingir a ideia de que o problema de São Paulo é financeiro. Não é! São Paulo requer uma administração criativa e competente, uma máquina mais enxuta e focada nos grandes problemas.
O PSDB tem todo o interesse em ver São Paulo apresentar índices menos díspares, com melhor oferta em moradia, creche e transporte. Mas não nos enganemos. Devemos fazer melhor do que sacrificar mais o bolso dos paulistanos.
Iugoslávia, PT e Brasil - GASTÃO REIS
O GLOBO - 12/02
Medidas para reativar economia fazem água
A Iugoslávia ficará para a História como uma experiência a ser evitada. Existiu como país por cerca de um século e depois se desagregou em meia dúzia de nações. O que teria acontecido? Como o PT entra no script? E qual seria a lição para o Brasil? É o que veremos a seguir.
O que, afinal, deu errado com a Iugoslávia, país onde os operários eram donos das fábricas, um tipo de socialismo diferente do capitalismo de Estado imposto por Stálin a seus países satélites? Em linhas gerais, tem a ver com o sistema de incentivos estabelecido pelas novas regras. Sistematicamente, os trabalhadores, agora donos, passaram a se dar generosos aumentos, esquecendo a imperiosa necessidade de investir nas empresas para obter ganhos de produtividade e de competitividade. Resultado: o país virou o maior exportador líquido de mão de obra para o resto da Europa e o salário real dos operários ficou estagnado, a despeito dos aumentos nominais. O paradoxo é que os novos donos das fábricas passaram a agir contra seus próprios interesses de longo prazo. Quem estava certo era o “amaldiçoado” empresário capitalista cujos lucros eram reinvestidos, gerando empregos e ganhos reais de salários, como aconteceu nas economias capitalistas clássicas.
Na verdade, a Iugoslávia caiu no que poderíamos chamar de armadilha consumista, coisa que lembra bastante bem a política econômica do PT dos últimos anos. Durante uma década, a Receita Federal bateu recordes de arrecadação de 10% ao ano, em termos reais, enquanto o PIB saía pela porta dos fundos com crescimento pífio a ponto de hoje estar reduzido a um reles pibinho. A carga tributária, de quase 40% do PIB, diminuiu brutalmente a capacidade de investir do setor privado sem que o governo contrabalançasse a insanidade aumentando sua taxa de investimento, hoje inferior a 2% do PIB.
Esgotadas a herança bendita de FHC e as condições excepcionalmente favoráveis do mercado internacional, começou a faltar pinga para a festa continuar a pleno vapor. A conta, sentida na pele pela população, foi bater no supermercado com aumentos expressivos nos preços dos gêneros alimentícios e também nos serviços, nos combustíveis e na energia elétrica.
As medidas pontuais adotadas para reativar a economia estão fazendo água, pois faltam investimentos de caráter estratégico que deveriam ter sido feitos ao longo dos anos em infraestrutura e em outros setores críticos. O corte de gastos para tornar o Estado mais eficiente e a ampliação das privatizações foram retardados durante anos por puro preconceito ideológico. Pouco ou nada ensinou ao PT o tempo perdido pela ex-URSS e pela China em seguir, por tanto tempo, a cartilha da estatização e da ingerência do Estado no cerceamento das liberdades individuais, que são fontes de criatividade e geração de inovações e conhecimentos capazes de melhorar a vida de todos.
O Brasil certamente não é a Iugoslávia, mas, dados os precedentes históricos, nossa marcha da insensatez tem semelhanças e já foi longe demais. E com pleno conhecimento de causa perdida. Até quando?
Medidas para reativar economia fazem água
A Iugoslávia ficará para a História como uma experiência a ser evitada. Existiu como país por cerca de um século e depois se desagregou em meia dúzia de nações. O que teria acontecido? Como o PT entra no script? E qual seria a lição para o Brasil? É o que veremos a seguir.
O que, afinal, deu errado com a Iugoslávia, país onde os operários eram donos das fábricas, um tipo de socialismo diferente do capitalismo de Estado imposto por Stálin a seus países satélites? Em linhas gerais, tem a ver com o sistema de incentivos estabelecido pelas novas regras. Sistematicamente, os trabalhadores, agora donos, passaram a se dar generosos aumentos, esquecendo a imperiosa necessidade de investir nas empresas para obter ganhos de produtividade e de competitividade. Resultado: o país virou o maior exportador líquido de mão de obra para o resto da Europa e o salário real dos operários ficou estagnado, a despeito dos aumentos nominais. O paradoxo é que os novos donos das fábricas passaram a agir contra seus próprios interesses de longo prazo. Quem estava certo era o “amaldiçoado” empresário capitalista cujos lucros eram reinvestidos, gerando empregos e ganhos reais de salários, como aconteceu nas economias capitalistas clássicas.
Na verdade, a Iugoslávia caiu no que poderíamos chamar de armadilha consumista, coisa que lembra bastante bem a política econômica do PT dos últimos anos. Durante uma década, a Receita Federal bateu recordes de arrecadação de 10% ao ano, em termos reais, enquanto o PIB saía pela porta dos fundos com crescimento pífio a ponto de hoje estar reduzido a um reles pibinho. A carga tributária, de quase 40% do PIB, diminuiu brutalmente a capacidade de investir do setor privado sem que o governo contrabalançasse a insanidade aumentando sua taxa de investimento, hoje inferior a 2% do PIB.
Esgotadas a herança bendita de FHC e as condições excepcionalmente favoráveis do mercado internacional, começou a faltar pinga para a festa continuar a pleno vapor. A conta, sentida na pele pela população, foi bater no supermercado com aumentos expressivos nos preços dos gêneros alimentícios e também nos serviços, nos combustíveis e na energia elétrica.
As medidas pontuais adotadas para reativar a economia estão fazendo água, pois faltam investimentos de caráter estratégico que deveriam ter sido feitos ao longo dos anos em infraestrutura e em outros setores críticos. O corte de gastos para tornar o Estado mais eficiente e a ampliação das privatizações foram retardados durante anos por puro preconceito ideológico. Pouco ou nada ensinou ao PT o tempo perdido pela ex-URSS e pela China em seguir, por tanto tempo, a cartilha da estatização e da ingerência do Estado no cerceamento das liberdades individuais, que são fontes de criatividade e geração de inovações e conhecimentos capazes de melhorar a vida de todos.
O Brasil certamente não é a Iugoslávia, mas, dados os precedentes históricos, nossa marcha da insensatez tem semelhanças e já foi longe demais. E com pleno conhecimento de causa perdida. Até quando?
Pecado original - ALEXANDRE SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 12/02
É fácil ver paralelos entre o Brasil de hoje e a Argentina há 10 anos; a crise se origina da recusa em lidar com a inflação
Tempos atrás um dos luminares da heterodoxia econômica no país argumentava, um tanto cinicamente, é verdade, que a tarefa de controlar a inflação não podia ser deixada exclusivamente a cargo do Banco Central, mas deveria envolver o "governo todo".
Era, contudo, outra época; suas sugestões foram devidamente ignoradas e seu potencial destrutivo ficou limitado a outras áreas de atuação. Mais recentemente, porém, essas ideias voltaram a ganhar força.
Em meados de 2011, apostando na desinflação que viria do frio, o BC embarcou num programa temerário de redução da Selic apesar das claras tensões inflacionárias então existentes. Desprezando décadas de estudos, cortou a taxa de juros mesmo com expectativas crescentes de inflação, dando a entender que seu compromisso com a meta já não existia. Perdeu, portanto, a capacidade de "ancorar" as expectativas inflacionárias, isto é, de convencer agentes econômicos de que o melhor "palpite" para a inflação seria a própria meta.
Não bastasse o descaso do BC, o governo federal adotou uma política fiscal extraordinariamente expansiva, mal e mal disfarçada por uma contabilidade criativa facilmente detectável por qualquer analista com um mínimo de experiência no assunto. Os gastos federais, sem contar as transferências a Estados e municípios, saltaram de R$ 795 bilhões (17,8% do PIB) em 2010 para R$ 927 bilhões (19,0% do PIB) em 2013, já descontada a inflação do período.
Em outras palavras, as políticas que deveriam agir no sentido de reduzir a inflação atuaram na direção oposta, agravando o problema. E foi aí que as ideias descartadas em tempos mais sérios começaram a voltar. Assim, em vez de tratar as causas da inflação, o governo ("como um todo") passou a se concentrar nos sintomas. Reduções localizadas de impostos e controles de preços substituíram as políticas monetária e fiscal.
Apenas o subsídio ao consumo de energia custou pouco menos de R$ 8 bilhões ao Tesouro no ano passado (outros R$ 2 bilhões vieram de contas de reservas), o que se adiciona a perdas não reveladas da Petrobras, originadas da desastrosa iniciativa de manter os preços domésticos de combustíveis inferiores aos internacionais. Isso para não mencionar a renúncia fiscal dos impostos sobre, por exemplo, a cesta básica.
Agora, devido à situação precária dos reservatórios e, portanto, ao uso mais intenso da energia termelétrica, já se fala na necessidade de mais R$ 18 bilhões em 2014 para indenizar as empresas, impedidas de repassar os custos mais altos por receio dos efeitos sobre a inflação.
Com as contas de reservas esgotadas, trata-se de recursos do Tesouro que beneficiarão os maiores consumidores de energia, não exatamente a parcela mais pobre da população. E o governo ainda vem acenar com promessas de moderação fiscal...
A verdade é que, como ocorrido em outros países, a tentativa de engajar "o governo todo" na tarefa de controlar a inflação para "ajudar o BC" implica exatamente o oposto.
Em primeiro lugar desestimula a expansão da oferta, como ficou claro, por exemplo, na redução do volume de investimentos do setor elétrico após a edição da MP 579, em setembro de 2012, ao mesmo tempo em que incentiva o aumento do consumo, agravando o problema setorial. Do ponto de vista macroeconômico, adiciona ao deficit fiscal, fator que impulsiona a inflação à frente, depois de passado o alívio transitório sobre os índices de preços.
Quem teve a oportunidade de seguir o padrão de política econômica argentina pós-2004 não há de ter dificuldade de achar paralelos entre o Brasil de hoje e a Argentina há dez anos. Os desequilíbrios fiscais e cambiais, assim como as várias instâncias de controles de preços que puseram a economia platina de joelhos, tiveram origem precisamente na recusa em lidar com o problema inflacionário. Sabemos o fim do filme, mas ninguém parece interessado em mudar o roteiro.
É fácil ver paralelos entre o Brasil de hoje e a Argentina há 10 anos; a crise se origina da recusa em lidar com a inflação
Tempos atrás um dos luminares da heterodoxia econômica no país argumentava, um tanto cinicamente, é verdade, que a tarefa de controlar a inflação não podia ser deixada exclusivamente a cargo do Banco Central, mas deveria envolver o "governo todo".
Era, contudo, outra época; suas sugestões foram devidamente ignoradas e seu potencial destrutivo ficou limitado a outras áreas de atuação. Mais recentemente, porém, essas ideias voltaram a ganhar força.
Em meados de 2011, apostando na desinflação que viria do frio, o BC embarcou num programa temerário de redução da Selic apesar das claras tensões inflacionárias então existentes. Desprezando décadas de estudos, cortou a taxa de juros mesmo com expectativas crescentes de inflação, dando a entender que seu compromisso com a meta já não existia. Perdeu, portanto, a capacidade de "ancorar" as expectativas inflacionárias, isto é, de convencer agentes econômicos de que o melhor "palpite" para a inflação seria a própria meta.
Não bastasse o descaso do BC, o governo federal adotou uma política fiscal extraordinariamente expansiva, mal e mal disfarçada por uma contabilidade criativa facilmente detectável por qualquer analista com um mínimo de experiência no assunto. Os gastos federais, sem contar as transferências a Estados e municípios, saltaram de R$ 795 bilhões (17,8% do PIB) em 2010 para R$ 927 bilhões (19,0% do PIB) em 2013, já descontada a inflação do período.
Em outras palavras, as políticas que deveriam agir no sentido de reduzir a inflação atuaram na direção oposta, agravando o problema. E foi aí que as ideias descartadas em tempos mais sérios começaram a voltar. Assim, em vez de tratar as causas da inflação, o governo ("como um todo") passou a se concentrar nos sintomas. Reduções localizadas de impostos e controles de preços substituíram as políticas monetária e fiscal.
Apenas o subsídio ao consumo de energia custou pouco menos de R$ 8 bilhões ao Tesouro no ano passado (outros R$ 2 bilhões vieram de contas de reservas), o que se adiciona a perdas não reveladas da Petrobras, originadas da desastrosa iniciativa de manter os preços domésticos de combustíveis inferiores aos internacionais. Isso para não mencionar a renúncia fiscal dos impostos sobre, por exemplo, a cesta básica.
Agora, devido à situação precária dos reservatórios e, portanto, ao uso mais intenso da energia termelétrica, já se fala na necessidade de mais R$ 18 bilhões em 2014 para indenizar as empresas, impedidas de repassar os custos mais altos por receio dos efeitos sobre a inflação.
Com as contas de reservas esgotadas, trata-se de recursos do Tesouro que beneficiarão os maiores consumidores de energia, não exatamente a parcela mais pobre da população. E o governo ainda vem acenar com promessas de moderação fiscal...
A verdade é que, como ocorrido em outros países, a tentativa de engajar "o governo todo" na tarefa de controlar a inflação para "ajudar o BC" implica exatamente o oposto.
Em primeiro lugar desestimula a expansão da oferta, como ficou claro, por exemplo, na redução do volume de investimentos do setor elétrico após a edição da MP 579, em setembro de 2012, ao mesmo tempo em que incentiva o aumento do consumo, agravando o problema setorial. Do ponto de vista macroeconômico, adiciona ao deficit fiscal, fator que impulsiona a inflação à frente, depois de passado o alívio transitório sobre os índices de preços.
Quem teve a oportunidade de seguir o padrão de política econômica argentina pós-2004 não há de ter dificuldade de achar paralelos entre o Brasil de hoje e a Argentina há dez anos. Os desequilíbrios fiscais e cambiais, assim como as várias instâncias de controles de preços que puseram a economia platina de joelhos, tiveram origem precisamente na recusa em lidar com o problema inflacionário. Sabemos o fim do filme, mas ninguém parece interessado em mudar o roteiro.
Produtividade na veia - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 12/02
A presidente Dilma tem de fato muito a comemorar com o excelente desempenho do agronegócio. É o Brasil que funciona e que busca a modernidade.
Ontem, em discurso de "inauguração da safra" pronunciado em Lucas do Rio Verde (MT), ela se referiu à "produtividade na veia" que está sendo injetada na economia, graças ao aumento de 221% da produção de grãos em 20 anos, com aumento da área plantada de apenas 41%.
A agricultura apresenta resultados brilhantes em condições adversas, que infelizmente a indústria não consegue repetir, nem mesmo com os benefícios com que vem sendo contemplada.
O setor conseguiu aproveitar a boa fase de demanda e preços das commodities agrícolas e hoje, bem mais capitalizado, está bem mecanizado e opera com tecnologia de ponta.
Mas não dá para alimentar ilusões demais. Esse alto desempenho está acontecendo apesar da atuação do governo e seu Ministério da Agricultura, um dos mais inexpressivos da Esplanada. E, também, apesar do governo que, há alguns anos, trabalhou contra o uso de sementes geneticamente modificadas (transgênicas) de grãos.
Se dependesse tão somente da política adotada, a agropecuária estaria mal parada. Castigada por uma infraestrutura precária e cara, esta sim, fortemente dependente de decisões do governo, enfrenta altos custos de produção e escoamento da safra que impedem a obtenção de resultados melhores. Os recursos do financiamento das safras, os tais R$ 136 bilhões mencionados pela presidente Dilma, provêm mais do setor privado do que de recursos oficiais.
Ela própria admitiu ontem as fortes deficiências na rede de armazenamento. É o que obriga o agricultor a despachar depressa demais sua produção e, na prática, a usar inadequadamente a frota de caminhões como instrumento improvisado de depósito de safra. Como nada de especial aconteceu nessa área nos últimos 12 meses, nas próximas semanas os noticiários de TV e os jornais deverão voltar a publicar fotos de congestionamentos das rodovias que dão acesso aos portos.
Nada mais eloquente para mostrar os contrastes, vale focar o que acontece no setor sucroalcooleiro. No último sábado, o provável candidato do PT ao governo de São Paulo e ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ouviu um rosário de queixas e de reivindicações dos empresários, em solenidade realizada em Ribeirão Preto. Eles acusam o governo de quebrar o setor com a política de dumping imposta ao setor dos combustíveis. A presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, lembrou o governo que 44 usinas foram fechadas ao longo das últimas cinco safras e que outras 12 não estão em condições de processar a cana-de-açúcar que, no Sudeste, estará disponível para corte a partir de abril.
Mais decepcionado com a política da presidente Dilma do que o setor sucroalcooleiro, só mesmo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Para seus líderes, o governo faz o jogo do agronegócio e não liga mais para a reforma agrária. Quem diria que o governo do PT fosse assim avaliado por suas próprias bases.
A presidente Dilma tem de fato muito a comemorar com o excelente desempenho do agronegócio. É o Brasil que funciona e que busca a modernidade.
Ontem, em discurso de "inauguração da safra" pronunciado em Lucas do Rio Verde (MT), ela se referiu à "produtividade na veia" que está sendo injetada na economia, graças ao aumento de 221% da produção de grãos em 20 anos, com aumento da área plantada de apenas 41%.
A agricultura apresenta resultados brilhantes em condições adversas, que infelizmente a indústria não consegue repetir, nem mesmo com os benefícios com que vem sendo contemplada.
O setor conseguiu aproveitar a boa fase de demanda e preços das commodities agrícolas e hoje, bem mais capitalizado, está bem mecanizado e opera com tecnologia de ponta.
Mas não dá para alimentar ilusões demais. Esse alto desempenho está acontecendo apesar da atuação do governo e seu Ministério da Agricultura, um dos mais inexpressivos da Esplanada. E, também, apesar do governo que, há alguns anos, trabalhou contra o uso de sementes geneticamente modificadas (transgênicas) de grãos.
Se dependesse tão somente da política adotada, a agropecuária estaria mal parada. Castigada por uma infraestrutura precária e cara, esta sim, fortemente dependente de decisões do governo, enfrenta altos custos de produção e escoamento da safra que impedem a obtenção de resultados melhores. Os recursos do financiamento das safras, os tais R$ 136 bilhões mencionados pela presidente Dilma, provêm mais do setor privado do que de recursos oficiais.
Ela própria admitiu ontem as fortes deficiências na rede de armazenamento. É o que obriga o agricultor a despachar depressa demais sua produção e, na prática, a usar inadequadamente a frota de caminhões como instrumento improvisado de depósito de safra. Como nada de especial aconteceu nessa área nos últimos 12 meses, nas próximas semanas os noticiários de TV e os jornais deverão voltar a publicar fotos de congestionamentos das rodovias que dão acesso aos portos.
Nada mais eloquente para mostrar os contrastes, vale focar o que acontece no setor sucroalcooleiro. No último sábado, o provável candidato do PT ao governo de São Paulo e ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ouviu um rosário de queixas e de reivindicações dos empresários, em solenidade realizada em Ribeirão Preto. Eles acusam o governo de quebrar o setor com a política de dumping imposta ao setor dos combustíveis. A presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, lembrou o governo que 44 usinas foram fechadas ao longo das últimas cinco safras e que outras 12 não estão em condições de processar a cana-de-açúcar que, no Sudeste, estará disponível para corte a partir de abril.
Mais decepcionado com a política da presidente Dilma do que o setor sucroalcooleiro, só mesmo o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Para seus líderes, o governo faz o jogo do agronegócio e não liga mais para a reforma agrária. Quem diria que o governo do PT fosse assim avaliado por suas próprias bases.
Os donos do dinheiro e o Brasil - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 12/02
BC americano, assim como o 'mercado', acha que o Brasil é frágil e deve se 'ajustar' e se 'reformar'
OS DONOS DO DINHEIRO grosso e líquido, os financistas do mundo, passaram a achar que o Brasil é uma economia "frágil" desde maio do ano passado, mais ou menos quando ficou claro que a economia mundial mudava de rumo, dada a mudança nos EUA.
Os donos da maior e mais importante torneira de dinheiro do mundo, o banco central dos Estados Unidos (o Fed), acham que os donos do dinheiro estão certos.
Quase não haveria como esperar conclusão diferente, que consta do Relatório de Política Monetária do Fed, texto que o BC americano tem de enviar todo semestre ao Congresso deles e que foi publicado ontem.
O Fed afirma que os donos do dinheiro, os investidores, não tratam os países "emergentes" de modo indiferenciado, farinha do mesmo saco. Isto é, quanto mais frágil a economia emergente, mais sua moeda se desvalorizou entre abril de 2013 e fevereiro deste ano de 2014; maior o aumento das taxas de juros cobradas do governo de cada um desses países.
E daí? O governo brasileiro diz que o Brasil tem sido jogado de modo indevido no mesmo saco de gatos fracos dos emergentes. Assim que a manada enlouquecida dos "mercados" se acalmasse, perceberia que a economia brasileira é mais sólida, com o que seria atenuado o vandalismo dos financistas no nosso mercado, sempre segundo o governo.
Recorde-se que o Fed praticamente repete a avaliação do bancão americano Morgan Stanley, que inventou e popularizou a história dos "cinco frágeis", chamados de "cinco fracotes" nesta coluna em agosto de 2013. Eram as economias mais sujeitas a apanhar e que apanhavam nos "mercados": Brasil, África do Sul, Índia, Indonésia e Turquia.
Os indicadores de fragilidade, segundo a avaliação do Fed, simplezinha e convencional, são: 1) Deficit externo (saldo em conta-corrente, diferença entre exportação e importação de bens e serviços); 2) Dívida bruta do governo em relação ao PIB (ao tamanho da economia); 3) Taxa média de inflação nos últimos três anos; 4) Variação do crédito para o setor privado como proporção do PIB (nos últimos cinco anos); 5) Razão entre dívida externa do país e valor de um ano de exportações; 6) Tamanho das reservas internacionais em relação ao PIB.
O Fed amassou esses números em um único índice, que comparou com as taxas de desvalorização da moeda e do preço dos títulos dos governos de 15 "emergentes" mais relevantes (entre abril de 2013 e fevereiro de 2014). A relação entre "fraqueza" e desvalorizações parece gritante, como já havia notado o Morgan Stanley em meados de 2013.
Mais deficit externo, mais inflação, dívida externa grande, aumento rápido do crédito, dívida pública alta, tudo isso teria sido levado em conta pelos financistas no momento de pensar se era o caso de dar o fora de um país. De fato, ou em teoria, esses são em geral fatores de desvalorização da moeda e de alta de juros (e, pois, de prejuízo para o investidor).
Na ponta baixa da curva, no grupo dos países mais frágeis e que, portanto, apanharam mais, vêm pela ordem de insucesso: Turquia, Brasil, Indonésia, África do Sul e Índia. Os mesmos da metade do ano passado.
O que fazer, segundo o Fed? O de sempre: governos devem gastar menos, reduzir a inflação e fazer "reformas".
BC americano, assim como o 'mercado', acha que o Brasil é frágil e deve se 'ajustar' e se 'reformar'
OS DONOS DO DINHEIRO grosso e líquido, os financistas do mundo, passaram a achar que o Brasil é uma economia "frágil" desde maio do ano passado, mais ou menos quando ficou claro que a economia mundial mudava de rumo, dada a mudança nos EUA.
Os donos da maior e mais importante torneira de dinheiro do mundo, o banco central dos Estados Unidos (o Fed), acham que os donos do dinheiro estão certos.
Quase não haveria como esperar conclusão diferente, que consta do Relatório de Política Monetária do Fed, texto que o BC americano tem de enviar todo semestre ao Congresso deles e que foi publicado ontem.
O Fed afirma que os donos do dinheiro, os investidores, não tratam os países "emergentes" de modo indiferenciado, farinha do mesmo saco. Isto é, quanto mais frágil a economia emergente, mais sua moeda se desvalorizou entre abril de 2013 e fevereiro deste ano de 2014; maior o aumento das taxas de juros cobradas do governo de cada um desses países.
E daí? O governo brasileiro diz que o Brasil tem sido jogado de modo indevido no mesmo saco de gatos fracos dos emergentes. Assim que a manada enlouquecida dos "mercados" se acalmasse, perceberia que a economia brasileira é mais sólida, com o que seria atenuado o vandalismo dos financistas no nosso mercado, sempre segundo o governo.
Recorde-se que o Fed praticamente repete a avaliação do bancão americano Morgan Stanley, que inventou e popularizou a história dos "cinco frágeis", chamados de "cinco fracotes" nesta coluna em agosto de 2013. Eram as economias mais sujeitas a apanhar e que apanhavam nos "mercados": Brasil, África do Sul, Índia, Indonésia e Turquia.
Os indicadores de fragilidade, segundo a avaliação do Fed, simplezinha e convencional, são: 1) Deficit externo (saldo em conta-corrente, diferença entre exportação e importação de bens e serviços); 2) Dívida bruta do governo em relação ao PIB (ao tamanho da economia); 3) Taxa média de inflação nos últimos três anos; 4) Variação do crédito para o setor privado como proporção do PIB (nos últimos cinco anos); 5) Razão entre dívida externa do país e valor de um ano de exportações; 6) Tamanho das reservas internacionais em relação ao PIB.
O Fed amassou esses números em um único índice, que comparou com as taxas de desvalorização da moeda e do preço dos títulos dos governos de 15 "emergentes" mais relevantes (entre abril de 2013 e fevereiro de 2014). A relação entre "fraqueza" e desvalorizações parece gritante, como já havia notado o Morgan Stanley em meados de 2013.
Mais deficit externo, mais inflação, dívida externa grande, aumento rápido do crédito, dívida pública alta, tudo isso teria sido levado em conta pelos financistas no momento de pensar se era o caso de dar o fora de um país. De fato, ou em teoria, esses são em geral fatores de desvalorização da moeda e de alta de juros (e, pois, de prejuízo para o investidor).
Na ponta baixa da curva, no grupo dos países mais frágeis e que, portanto, apanharam mais, vêm pela ordem de insucesso: Turquia, Brasil, Indonésia, África do Sul e Índia. Os mesmos da metade do ano passado.
O que fazer, segundo o Fed? O de sempre: governos devem gastar menos, reduzir a inflação e fazer "reformas".
'É proibido gastar'- ALMIR PAZZIANOTTO PINTO
O Estado de S.Paulo - 12/02
Nesta nação desmemoriada, em que persiste o analfabetismo, que engrossa a legião dos desonestos e alienados, é necessário remarcar, com insistência, episódios esquecidos. A crise do sistema de ensino, aliada à política de desinformação praticada pelo governo petista, relega ao esquecimento fatos da História e abre espaço a terroristas, corruptos e picaretas, festejados como heróis.
Passadas três décadas desde a vitória de Tancredo Neves para a Presidência da República, milhões pouco sabem do período 1960-1990, sendo comum encontrar quem imagine ter sido o PT responsável pela derrota, em 15 de janeiro de 1985, do candidato oficial, Paulo Maluf.
Tancredo pertence a reduzido grupo de estadistas. Lançou-se na vida pública em São João del-Rei, em 1933, pelo antigo Partido Progressista, fundado por Olegário Maciel, Antonio Carlos Ribeiro de Andrade e Venceslau Brás. Vereador, deputado estadual, deputado federal, ministro da Justiça de 1951 a 1954, foi orador à beira do túmulo de Getúlio Vargas, em São Borja, cujo suicídio, no dia 24, gerou a crise que resultaria dez anos depois no movimento de 31 de março.
Grande ao longo da vida, Tancredo agigantou-se em 1984. Derrotada a emenda constitucional que restabeleceria eleições diretas para a Presidência, restou à oposição arriscada disputa no colégio eleitoral.
Discursos reunidos no livro Tancredo Neves - Sua Palavra na História revestem-se de atualidade. Os problemas levantados durante a breve campanha eleitoral permanecem como então se achavam: insolúveis. E 11 anos de petismo só fizeram agravá-los.
José Sarney recebeu o País em precárias condições econômicas e sociais. Fez o possível, sob o bombardeio de milhares de greves, que somaram milhões de horas de produção perdidas, e de serviços públicos interrompidos, em prejuízo da economia, dos salários, do povo. Tentou três vezes, mas não derrotou a inflação. Fernando Collor de Mello foi abatido mal havia decolado. Itamar Franco aplainou o terreno para o Plano Real, que estabilizou a moeda, conteve os preços, zerou a inflação.
A Aécio Neves o destino reservou a missão de levar adiante a tarefa de reconstruir o País desejado pelo avô. Empenhou o futuro político no desfecho do próximo pleito.
Os derradeiros discursos de Tancredo consubstanciam, em linguagem serena e objetiva, autêntico programa de governo. Deixarei de lado parágrafos referentes a saúde, educação, transporte, relações internacionais, austeridade, combate à corrupção, recuperação da economia para me deter na área do trabalho, prioridade máxima de governo consagrado à tarefa de repor o Brasil na rota do desenvolvimento e lhe devolver a industrialização e prestígio internacional.
Antes, porém, rápida parada no discurso proferido em 1984, na Convenção Nacional do PMDB (o antigo, não esse que está aí), ao se referir à formação da Aliança Democrática: "Temos de compreender a verdade essencial do nosso pacto político. Nós o estabelecemos em favor da nossa gente. O Brasil que amamos não é entidade abstrata, feita apenas de símbolos, por mais que os veneremos. O Brasil que amamos está em cada coração e em cada alma de seus filhos. Restaurar, em seus olhos, o orgulho da Pátria é a missão que nos cabe. A soberania do País é a soberania de seu povo; a dignidade do País é a dignidade de sua gente".
Quão distinta dos negócios que se fazem agora, mediante a entrega de ministérios em troca de segundos de televisão.
No mesmo pronunciamento, a respeito da CLT observou Tancredo: "As relações entre capital e trabalho reclamam novo ordenamento jurídico. A Consolidação das Leis do Trabalho é um diploma envelhecido no arbítrio, que desserve aos empregados e não serve aos empresários. O código vigente só tem servido para iludir trabalhadores e intranquilizar empresas. Não há economia forte com sindicatos fracos. A autonomia sindical é imprescindível à construção democrática do País. Os sindicatos, quando no exercício das suas atividades legais, existem como legítimos instrumentos dos trabalhadores, e sem eles não há paz social".
Falando ao País após a vitória no colégio eleitoral, dirigiu-se aos assalariados para afirmar: "Retomar o crescimento é gerar empregos. Toda a política econômica de meu governo estará subordinada a esse dever social. Enquanto houver, neste país, um só homem sem trabalho, sem pão, sem teto e sem letras, toda a prosperidade será falsa".
Já no discurso redigido para o dia da posse tratou da liberdade sindical, tendo a audácia de registrar: "Os sindicatos devem ser livres. A unidade sindical não pode ser estabelecida por lei, mas surgir naturalmente da vontade dos filiados. Sendo assim, tudo farei para que o Brasil adote a Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho. Os sindicatos não podem submeter-se à tutela do governo nem subordinar-se aos interesses dos partidos políticos. Se devemos ter uma política sindical, temos que evitar qualquer sindicalismo político".
Escândalos decorrentes de relações promíscuas entre governo e sindicatos confirmam Tancredo e robustecem a necessidade da reforma sindical. O pelego entrava a geração de empregos, pois desencoraja aplicações em atividades geradoras de emprego.
Aécio deve dar continuidade ao projeto do "Estado moderno, apto a administrar a Nação no futuro dinâmico que está sendo construído". Poderá adotar como emblema a frase "é proibido gastar", encontrada no discurso do avô ao novo Ministério.
A Nação sabe que nunca se esbanjou tanto, e de maneira tão irresponsável, dinheiro do povo como em 11 anos de petismo. Vejam-se as viagens e os estádios da Copa.
Nesta nação desmemoriada, em que persiste o analfabetismo, que engrossa a legião dos desonestos e alienados, é necessário remarcar, com insistência, episódios esquecidos. A crise do sistema de ensino, aliada à política de desinformação praticada pelo governo petista, relega ao esquecimento fatos da História e abre espaço a terroristas, corruptos e picaretas, festejados como heróis.
Passadas três décadas desde a vitória de Tancredo Neves para a Presidência da República, milhões pouco sabem do período 1960-1990, sendo comum encontrar quem imagine ter sido o PT responsável pela derrota, em 15 de janeiro de 1985, do candidato oficial, Paulo Maluf.
Tancredo pertence a reduzido grupo de estadistas. Lançou-se na vida pública em São João del-Rei, em 1933, pelo antigo Partido Progressista, fundado por Olegário Maciel, Antonio Carlos Ribeiro de Andrade e Venceslau Brás. Vereador, deputado estadual, deputado federal, ministro da Justiça de 1951 a 1954, foi orador à beira do túmulo de Getúlio Vargas, em São Borja, cujo suicídio, no dia 24, gerou a crise que resultaria dez anos depois no movimento de 31 de março.
Grande ao longo da vida, Tancredo agigantou-se em 1984. Derrotada a emenda constitucional que restabeleceria eleições diretas para a Presidência, restou à oposição arriscada disputa no colégio eleitoral.
Discursos reunidos no livro Tancredo Neves - Sua Palavra na História revestem-se de atualidade. Os problemas levantados durante a breve campanha eleitoral permanecem como então se achavam: insolúveis. E 11 anos de petismo só fizeram agravá-los.
José Sarney recebeu o País em precárias condições econômicas e sociais. Fez o possível, sob o bombardeio de milhares de greves, que somaram milhões de horas de produção perdidas, e de serviços públicos interrompidos, em prejuízo da economia, dos salários, do povo. Tentou três vezes, mas não derrotou a inflação. Fernando Collor de Mello foi abatido mal havia decolado. Itamar Franco aplainou o terreno para o Plano Real, que estabilizou a moeda, conteve os preços, zerou a inflação.
A Aécio Neves o destino reservou a missão de levar adiante a tarefa de reconstruir o País desejado pelo avô. Empenhou o futuro político no desfecho do próximo pleito.
Os derradeiros discursos de Tancredo consubstanciam, em linguagem serena e objetiva, autêntico programa de governo. Deixarei de lado parágrafos referentes a saúde, educação, transporte, relações internacionais, austeridade, combate à corrupção, recuperação da economia para me deter na área do trabalho, prioridade máxima de governo consagrado à tarefa de repor o Brasil na rota do desenvolvimento e lhe devolver a industrialização e prestígio internacional.
Antes, porém, rápida parada no discurso proferido em 1984, na Convenção Nacional do PMDB (o antigo, não esse que está aí), ao se referir à formação da Aliança Democrática: "Temos de compreender a verdade essencial do nosso pacto político. Nós o estabelecemos em favor da nossa gente. O Brasil que amamos não é entidade abstrata, feita apenas de símbolos, por mais que os veneremos. O Brasil que amamos está em cada coração e em cada alma de seus filhos. Restaurar, em seus olhos, o orgulho da Pátria é a missão que nos cabe. A soberania do País é a soberania de seu povo; a dignidade do País é a dignidade de sua gente".
Quão distinta dos negócios que se fazem agora, mediante a entrega de ministérios em troca de segundos de televisão.
No mesmo pronunciamento, a respeito da CLT observou Tancredo: "As relações entre capital e trabalho reclamam novo ordenamento jurídico. A Consolidação das Leis do Trabalho é um diploma envelhecido no arbítrio, que desserve aos empregados e não serve aos empresários. O código vigente só tem servido para iludir trabalhadores e intranquilizar empresas. Não há economia forte com sindicatos fracos. A autonomia sindical é imprescindível à construção democrática do País. Os sindicatos, quando no exercício das suas atividades legais, existem como legítimos instrumentos dos trabalhadores, e sem eles não há paz social".
Falando ao País após a vitória no colégio eleitoral, dirigiu-se aos assalariados para afirmar: "Retomar o crescimento é gerar empregos. Toda a política econômica de meu governo estará subordinada a esse dever social. Enquanto houver, neste país, um só homem sem trabalho, sem pão, sem teto e sem letras, toda a prosperidade será falsa".
Já no discurso redigido para o dia da posse tratou da liberdade sindical, tendo a audácia de registrar: "Os sindicatos devem ser livres. A unidade sindical não pode ser estabelecida por lei, mas surgir naturalmente da vontade dos filiados. Sendo assim, tudo farei para que o Brasil adote a Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho. Os sindicatos não podem submeter-se à tutela do governo nem subordinar-se aos interesses dos partidos políticos. Se devemos ter uma política sindical, temos que evitar qualquer sindicalismo político".
Escândalos decorrentes de relações promíscuas entre governo e sindicatos confirmam Tancredo e robustecem a necessidade da reforma sindical. O pelego entrava a geração de empregos, pois desencoraja aplicações em atividades geradoras de emprego.
Aécio deve dar continuidade ao projeto do "Estado moderno, apto a administrar a Nação no futuro dinâmico que está sendo construído". Poderá adotar como emblema a frase "é proibido gastar", encontrada no discurso do avô ao novo Ministério.
A Nação sabe que nunca se esbanjou tanto, e de maneira tão irresponsável, dinheiro do povo como em 11 anos de petismo. Vejam-se as viagens e os estádios da Copa.
Antiga forma - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 12/02
Dia de aniversário no PT é sempre um acontecimento. Em fevereiro de 2013, com dois anos de antecedência, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva lançou a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição durante a comemoração de uma década dos petistas no poder.
Anteontem, na festa de 34 anos de vida do partido, estava previsto que Lula lançaria Dilma de novo. Mas, mudou os planos, viajou para os Estados Unidos segundo consta para "melhorar o humor" de um grupo de investidores.
Enquanto o chefe animava o auditório por lá, aqui Dilma e os companheiros faziam um ensaio geral do discurso eleitoral pintados para a guerra com a oposição. Pelo que se depreendeu do tom, aquele modelo 'paz e amor' que levou à vitória em 2002 está de novo trancado no armário.
Foi substituído pelo figurino mais adequado aos embates de vale-tudo. Vale inclusive - ou melhor, principalmente - adaptar radicalmente a realidade para que ela atenda da forma mais adequada às conveniências.
Embora não tenha sido essa a intenção, de maneira invertida os oradores acabaram fazendo uma reflexão no espelho. A presidente Dilma Rousseff chamou seus opositores de "caras de pau". Ou seja, cínicos, dados à desfaçatez, a afirmar coisas que não são verdadeiras, que agridem os fatos. Mentirosos, pois.
Vamos deixar de lado águas passadas - aquelas em que um partido de oposição navegava atacando a política econômica para incorporar a mesmíssima política e ainda chamá-la de sua assim que virou governo - para nos atermos ao discurso atual do presidente do PT, Rui Falcão.
"Neopassadismo" e "novovelhismo" foram os neologismos inventados para emoldurar em sarcasmo as candidaturas adversárias, apresentadas como "farinha do mesmo saco". Ambas, na análise de Falcão, escoradas em "dinossauros" da política, todos integrantes das "velhas oligarquias" às quais os oponentes estariam enfeitando com "paetês" e "falsas alegorias" a fim de apresentarem-se ao eleitorado como representantes da renovação.
Bem, farinha por farinha, dividiam até meses atrás do mesmo "saco" o PT e o PSB de Eduardo Campos, o destinatário "novovelhismo" no dizer da novilíngua. O tucano Aécio Neves seria o "neopassadista".
Quanto aos dinossauros, às oligarquias e aos balangandãs nelas pendurados, se Falcão referiu-se aos avós dos dois candidatos, Miguel Arraes e Tancredo Neves, respectivamente, fez homenagem póstuma a dois personagens que fizeram cada qual à sua maneira, História.
Diferente das maneiras com que Paulo Maluf, Fernando Collor, José Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros e companhia protagonizam muitas histórias sob os olhares embevecidos e as palavras sempre agradecidas do PT.
Antes de finalizar mais uma vez atacando o Supremo Tribunal, no que seria acompanhado com entusiasmo pela plateia em saudação aos "guerreiros do povo brasileiros" presos na Papuda, Falcão criticou os adversários por fecharem os olhos a denúncias de corrupção.
A presidente Dilma tem razão, o caradurismo grassa.
Vantagem nenhuma. O governo trata as críticas do empresariado com desdém. Aqueles que não são qualificados como pessimistas, são incluídos na lista dos politicamente engajados em candidaturas presidenciais da oposição.
Fica faltando, porém, uma justificativa para as reiteradas recusas de empresários simpáticos ao Planalto em assumir a pasta do Desenvolvimento no lugar de Fernando Pimentel. Dois exemplos mais recentes, Josué Gomes da Silva e Abílio Diniz.
O último empresário de grande porte a participar do governo, Jorge Gerdau, ficou falando sozinho quando apontou a impossibilidade de se administrar o País com 39 ministérios.
Dia de aniversário no PT é sempre um acontecimento. Em fevereiro de 2013, com dois anos de antecedência, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva lançou a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição durante a comemoração de uma década dos petistas no poder.
Anteontem, na festa de 34 anos de vida do partido, estava previsto que Lula lançaria Dilma de novo. Mas, mudou os planos, viajou para os Estados Unidos segundo consta para "melhorar o humor" de um grupo de investidores.
Enquanto o chefe animava o auditório por lá, aqui Dilma e os companheiros faziam um ensaio geral do discurso eleitoral pintados para a guerra com a oposição. Pelo que se depreendeu do tom, aquele modelo 'paz e amor' que levou à vitória em 2002 está de novo trancado no armário.
Foi substituído pelo figurino mais adequado aos embates de vale-tudo. Vale inclusive - ou melhor, principalmente - adaptar radicalmente a realidade para que ela atenda da forma mais adequada às conveniências.
Embora não tenha sido essa a intenção, de maneira invertida os oradores acabaram fazendo uma reflexão no espelho. A presidente Dilma Rousseff chamou seus opositores de "caras de pau". Ou seja, cínicos, dados à desfaçatez, a afirmar coisas que não são verdadeiras, que agridem os fatos. Mentirosos, pois.
Vamos deixar de lado águas passadas - aquelas em que um partido de oposição navegava atacando a política econômica para incorporar a mesmíssima política e ainda chamá-la de sua assim que virou governo - para nos atermos ao discurso atual do presidente do PT, Rui Falcão.
"Neopassadismo" e "novovelhismo" foram os neologismos inventados para emoldurar em sarcasmo as candidaturas adversárias, apresentadas como "farinha do mesmo saco". Ambas, na análise de Falcão, escoradas em "dinossauros" da política, todos integrantes das "velhas oligarquias" às quais os oponentes estariam enfeitando com "paetês" e "falsas alegorias" a fim de apresentarem-se ao eleitorado como representantes da renovação.
Bem, farinha por farinha, dividiam até meses atrás do mesmo "saco" o PT e o PSB de Eduardo Campos, o destinatário "novovelhismo" no dizer da novilíngua. O tucano Aécio Neves seria o "neopassadista".
Quanto aos dinossauros, às oligarquias e aos balangandãs nelas pendurados, se Falcão referiu-se aos avós dos dois candidatos, Miguel Arraes e Tancredo Neves, respectivamente, fez homenagem póstuma a dois personagens que fizeram cada qual à sua maneira, História.
Diferente das maneiras com que Paulo Maluf, Fernando Collor, José Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros e companhia protagonizam muitas histórias sob os olhares embevecidos e as palavras sempre agradecidas do PT.
Antes de finalizar mais uma vez atacando o Supremo Tribunal, no que seria acompanhado com entusiasmo pela plateia em saudação aos "guerreiros do povo brasileiros" presos na Papuda, Falcão criticou os adversários por fecharem os olhos a denúncias de corrupção.
A presidente Dilma tem razão, o caradurismo grassa.
Vantagem nenhuma. O governo trata as críticas do empresariado com desdém. Aqueles que não são qualificados como pessimistas, são incluídos na lista dos politicamente engajados em candidaturas presidenciais da oposição.
Fica faltando, porém, uma justificativa para as reiteradas recusas de empresários simpáticos ao Planalto em assumir a pasta do Desenvolvimento no lugar de Fernando Pimentel. Dois exemplos mais recentes, Josué Gomes da Silva e Abílio Diniz.
O último empresário de grande porte a participar do governo, Jorge Gerdau, ficou falando sozinho quando apontou a impossibilidade de se administrar o País com 39 ministérios.
O atentado - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 12/02
Eles vão para a rua protestar contra abusos do governo, falam em defesa de direitos humanos, mas na prática têm solene desprezo pela vida do próximo
Não foi um acidente, uma fatalidade, um acaso. Foi um atentado. Com tanta gente àquela hora por ali durante uma manifestação, o rojão aceso disparado do chão teria que atingir alguém — alguém que estivesse passando, parado ou trabalhando, como o cinegrafista Santiago Andrade. O acaso foi a forte carga explosiva estourar “apenas” uma cabeça e não muitas. Os dois autores sabiam o que estavam fazendo, queriam provavelmente acertar de preferência um policial, mas também servia outro inimigo, um membro da mídia tradicional que tanto odeiam. Eles pertencem ao grupo de vândalos e arruaceiros mascarados — black blocs, anonymous — que se infiltram nas manifestações populares para promover quebra-quebra de vitrines de lojas e bancos, achando que assim estão destruindo o capitalismo. Só não esperavam que o ato terrorista de agora fosse tão documentado por imagens de TV. Aliás, o tatuador Fábio Raposo, de 22 anos, um reincidente (já foi detido antes duas vezes por agitação), disse que só se entregou por causa da ampla divulgação de sua foto, já que seria logo descoberto. Mesmo orientado pelo advogado de defesa, o seu depoimento decorado foi marcado por afirmações cínicas, contradições e mentiras, algumas até ingênuas, como a de que não sabia que o “negócio preto” que pegou no chão era uma bomba e que não conhecia o colega a quem passou o artefato, embora aparecessem juntos nas imagens, e cuja identidade ajudou a descobrir: Caio Silva de Souza, de 23 anos.
Na sua comovente despedida do marido, Arlita Andrade apelou para o fim da violência e lamentou que esses rapazes não tivessem tido os ensinamentos que ela deu a seus filhos: “O que falta a eles é o amor pelas pessoas.” Ela tem razão. Eles vão para a rua protestar contra abusos do governo, falam em defesa de direitos humanos, mas na prática têm solene desprezo pela vida do próximo.
Um desfecho como esse estava mais ou menos previsto, porque, enquanto sempre se destinou rigor crítico à ação da polícia, tratou-se com muita leniência os agitadores. Intelectuais apoiaram seus atos sem querer saber a serviço de quê e de quem agiam, quais os mentores e patrocinadores. Advogados, ONGs e políticos preferiam dar-lhes cobertura para que não fossem ou ficassem presos quando flagrados em graves delitos durante os protestos.
Ainda no começo, no dia 22 de junho passado, escrevi aqui que se alguma providência não fosse tomada com urgência para impedir a infiltração dos vândalos mascarados as legítimas manifestações populares iam perder o que haviam conquistado: “o apoio entusiasmado da opinião pública.” Aos que alegavam que os marginais predadores constituíam uma minoria, foi dito: “mas é uma minoria disposta a só produzir estragos.” E, como se viu agora, não só estragos, mas também morte.
Eles vão para a rua protestar contra abusos do governo, falam em defesa de direitos humanos, mas na prática têm solene desprezo pela vida do próximo
Não foi um acidente, uma fatalidade, um acaso. Foi um atentado. Com tanta gente àquela hora por ali durante uma manifestação, o rojão aceso disparado do chão teria que atingir alguém — alguém que estivesse passando, parado ou trabalhando, como o cinegrafista Santiago Andrade. O acaso foi a forte carga explosiva estourar “apenas” uma cabeça e não muitas. Os dois autores sabiam o que estavam fazendo, queriam provavelmente acertar de preferência um policial, mas também servia outro inimigo, um membro da mídia tradicional que tanto odeiam. Eles pertencem ao grupo de vândalos e arruaceiros mascarados — black blocs, anonymous — que se infiltram nas manifestações populares para promover quebra-quebra de vitrines de lojas e bancos, achando que assim estão destruindo o capitalismo. Só não esperavam que o ato terrorista de agora fosse tão documentado por imagens de TV. Aliás, o tatuador Fábio Raposo, de 22 anos, um reincidente (já foi detido antes duas vezes por agitação), disse que só se entregou por causa da ampla divulgação de sua foto, já que seria logo descoberto. Mesmo orientado pelo advogado de defesa, o seu depoimento decorado foi marcado por afirmações cínicas, contradições e mentiras, algumas até ingênuas, como a de que não sabia que o “negócio preto” que pegou no chão era uma bomba e que não conhecia o colega a quem passou o artefato, embora aparecessem juntos nas imagens, e cuja identidade ajudou a descobrir: Caio Silva de Souza, de 23 anos.
Na sua comovente despedida do marido, Arlita Andrade apelou para o fim da violência e lamentou que esses rapazes não tivessem tido os ensinamentos que ela deu a seus filhos: “O que falta a eles é o amor pelas pessoas.” Ela tem razão. Eles vão para a rua protestar contra abusos do governo, falam em defesa de direitos humanos, mas na prática têm solene desprezo pela vida do próximo.
Um desfecho como esse estava mais ou menos previsto, porque, enquanto sempre se destinou rigor crítico à ação da polícia, tratou-se com muita leniência os agitadores. Intelectuais apoiaram seus atos sem querer saber a serviço de quê e de quem agiam, quais os mentores e patrocinadores. Advogados, ONGs e políticos preferiam dar-lhes cobertura para que não fossem ou ficassem presos quando flagrados em graves delitos durante os protestos.
Ainda no começo, no dia 22 de junho passado, escrevi aqui que se alguma providência não fosse tomada com urgência para impedir a infiltração dos vândalos mascarados as legítimas manifestações populares iam perder o que haviam conquistado: “o apoio entusiasmado da opinião pública.” Aos que alegavam que os marginais predadores constituíam uma minoria, foi dito: “mas é uma minoria disposta a só produzir estragos.” E, como se viu agora, não só estragos, mas também morte.
Que tal tirar a máscara de quem quer ficar impune? - JOSÉ NÊUMANNE
O Estado de S.Paulo - 12/02
Não havia brasileiro razoavelmente informado que já não soubesse que os black blocs sempre fizeram o possível e mais do que o razoável para que os policiais encarregados de reprimir seu vandalismo nas ruas das cidades brasileiras produzissem um mártir. Em 25 de janeiro, Fabrício Proteus Fonseca Mendonça Chaves, de 22 anos, foi baleado num protesto em São Paulo contra os gastos da Copa do Mundo. Poderia ter sido este, mas, socorrido pelos PMs e levado para a Santa Casa de Misericórdia, felizmente ele sobreviveu. Infelizmente, contudo, o cinegrafista da Band Santiago Andrade, de 49 anos, não teve idêntica sorte e morreu em consequência de ferimentos na cabeça, vítima da explosão de um rojão disparado no centro do Rio num protesto violento contra o reajuste da tarifa de transportes públicos. Eis o mártir!
Mas o cinegrafista, que trabalhava na cobertura da manifestação quando foi atingido, não foi vitimado pela violência policial, contra a qual dez entre dez políticos, militantes de direitos humanos, governantes politicamente corretos, acadêmicos bem-pensantes e repórteres apressados esbravejam. O buscapé disparado da calçada a poucos metros de onde a vítima estava foi criminosamente preparado por vândalos cujas feições estavam escondidas por máscaras e panos com os quais encobriam o rosto. O disparo podia não ter como objetivo especificamente aquele profissional. É até possível acreditar que seu alvo seria a tropa policial que procurava conter o quebra-quebra. Mas um repórter, fotógrafo ou cameraman presente na cena para transmitir informações ao público ou um inocente transeunte do anônimo exército das vítimas das balas perdidas na violência metropolitana brasileira fatalmente seria atingido. Pois a vareta que direciona o rojão para explodi-lo nas alturas foi quebrada e quem já soltou fogos de artifício sabe que nessas condições o buscapé não sobe, faz um trajeto aleatório e atinge o que estiver à frente. Assim, feriu a cabeça do jornalista a trabalho.
Naquela quinta-feira ninguém imaginou ser possível inculpar os black blocs pelo crime hediondo. Os telejornais da Rede Globo na noite do crime e na manhã seguinte reproduziram reportagem de Bernardo Menezes, da Globo News, atribuindo aos policiais o disparo do explosivo. Quem pôs o equívoco no ar não atinou para o fato de que a fogueira ateada na cabeça do colega jamais poderia ter sido produzida por bombas de efeito moral ou granadas de gás lacrimogêneo. Faltou um átimo de sensatez para evitar a divulgação do engano. O hábito de denunciar a violência policial levou o erro ao ar. Errar é humano, está certo, mas o jornalismo responsável requer mais diligência.
Depois que a polícia demonstrou o óbvio, William Bonner, o editor-chefe do Jornal Nacional, gaguejou um pedido de desculpas envergonhado e aproveitou para elogiar a humildade de voltar atrás ao reconhecer o erro. O reconhecimento do engano é uma virtude, mas é preciso que a autocrítica tenha relevo similar ao dado à falsidade divulgada.
E mais: é necessário também transmitir a convicção de que equívocos similares serão evitados. Não só pela emissora que engoliu uma "barriga" mastodôntica e cuspiu um mosquito. Mas também por todos os envolvidos na organização das manifestações populares, seja contra o que for; na manutenção da ordem pública nas ruas durante os protestos; na defesa jurídica dos manifestantes; e na cobertura e transmissão dos fatos para conhecimento da sociedade. Todos somos responsáveis. E todos devemos ter noção das evidências de que o cinegrafista foi vitimado pela leviandade geral vigente.
O mesmo Jornal Nacional reproduziu uma enxurrada de manifestações de súbita condenação aos vândalos. Entidades que representam advogados, juízes, donos de meios de comunicação, jornalistas e poderosos da República deixaram de execrar somente a polícia.
"Não é admissível que protestos democráticos sejam desvirtuados por quem não tem respeito pela vida humana", registrou Dilma Rousseff no Twitter - uma platitude de dar dó. É lamentável que do alto do cargo mais importante da República ela se tenha comportado como se fosse apenas a candidata à própria reeleição. Reduzir tal crime a um slogan de campanha, utilizando o velório da vítima como extensão de seu palanque, é absurdo em si. Fazê-lo numa rede social, como numa fofoca de adolescentes, é espantoso. Assim como revolta a justificativa dada pelos vândalos em outra rede social, o Facebook, buscando inculpar a polícia por quatro mortes não noticiadas nem comentadas pelos meios de comunicação, tentando estabelecer uma relação de nexo inexistente e adotando uma contabilidade sinistra e sem sentido. Idêntico afã oportunista levou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a procurar limpar a própria imagem com o sangue da vítima ao propor enquadrar os vândalos por crime de terrorismo.
Quando os políticos que vendem a alma por um punhado de votos descobrirão que os anarquistas que encerram as passeatas ditas pacíficas nas ruas são criminosos comuns que agridem e depredam, devendo ser punidos como tal? E que a eles se acumplicia quem defende o uso de máscaras, porque estas dificultam a identificação deles pela polícia? Os repórteres sempre benevolentes com os mascarados nunca perceberão que lidam com inimigos da verdade? Afinal, isso se comprovou no atentado ao cinegrafista e na agressão a outro que captava imagens em manifestação em defesa do tatuador por cujas mãos passou o rojão e que terminou mentindo descaradamente à polícia ao pedir delação premiada. E advogados menos empenhados em defendê-los do que em aparecer não prestam serviço à lei, mas trabalham pela impunidade de meros quadrilheiros.
Esta não é hora de caçar bruxas. Mas, sim, de tirar a máscara de quem esconde o rosto para delinquir e ficar impune.
Não havia brasileiro razoavelmente informado que já não soubesse que os black blocs sempre fizeram o possível e mais do que o razoável para que os policiais encarregados de reprimir seu vandalismo nas ruas das cidades brasileiras produzissem um mártir. Em 25 de janeiro, Fabrício Proteus Fonseca Mendonça Chaves, de 22 anos, foi baleado num protesto em São Paulo contra os gastos da Copa do Mundo. Poderia ter sido este, mas, socorrido pelos PMs e levado para a Santa Casa de Misericórdia, felizmente ele sobreviveu. Infelizmente, contudo, o cinegrafista da Band Santiago Andrade, de 49 anos, não teve idêntica sorte e morreu em consequência de ferimentos na cabeça, vítima da explosão de um rojão disparado no centro do Rio num protesto violento contra o reajuste da tarifa de transportes públicos. Eis o mártir!
Mas o cinegrafista, que trabalhava na cobertura da manifestação quando foi atingido, não foi vitimado pela violência policial, contra a qual dez entre dez políticos, militantes de direitos humanos, governantes politicamente corretos, acadêmicos bem-pensantes e repórteres apressados esbravejam. O buscapé disparado da calçada a poucos metros de onde a vítima estava foi criminosamente preparado por vândalos cujas feições estavam escondidas por máscaras e panos com os quais encobriam o rosto. O disparo podia não ter como objetivo especificamente aquele profissional. É até possível acreditar que seu alvo seria a tropa policial que procurava conter o quebra-quebra. Mas um repórter, fotógrafo ou cameraman presente na cena para transmitir informações ao público ou um inocente transeunte do anônimo exército das vítimas das balas perdidas na violência metropolitana brasileira fatalmente seria atingido. Pois a vareta que direciona o rojão para explodi-lo nas alturas foi quebrada e quem já soltou fogos de artifício sabe que nessas condições o buscapé não sobe, faz um trajeto aleatório e atinge o que estiver à frente. Assim, feriu a cabeça do jornalista a trabalho.
Naquela quinta-feira ninguém imaginou ser possível inculpar os black blocs pelo crime hediondo. Os telejornais da Rede Globo na noite do crime e na manhã seguinte reproduziram reportagem de Bernardo Menezes, da Globo News, atribuindo aos policiais o disparo do explosivo. Quem pôs o equívoco no ar não atinou para o fato de que a fogueira ateada na cabeça do colega jamais poderia ter sido produzida por bombas de efeito moral ou granadas de gás lacrimogêneo. Faltou um átimo de sensatez para evitar a divulgação do engano. O hábito de denunciar a violência policial levou o erro ao ar. Errar é humano, está certo, mas o jornalismo responsável requer mais diligência.
Depois que a polícia demonstrou o óbvio, William Bonner, o editor-chefe do Jornal Nacional, gaguejou um pedido de desculpas envergonhado e aproveitou para elogiar a humildade de voltar atrás ao reconhecer o erro. O reconhecimento do engano é uma virtude, mas é preciso que a autocrítica tenha relevo similar ao dado à falsidade divulgada.
E mais: é necessário também transmitir a convicção de que equívocos similares serão evitados. Não só pela emissora que engoliu uma "barriga" mastodôntica e cuspiu um mosquito. Mas também por todos os envolvidos na organização das manifestações populares, seja contra o que for; na manutenção da ordem pública nas ruas durante os protestos; na defesa jurídica dos manifestantes; e na cobertura e transmissão dos fatos para conhecimento da sociedade. Todos somos responsáveis. E todos devemos ter noção das evidências de que o cinegrafista foi vitimado pela leviandade geral vigente.
O mesmo Jornal Nacional reproduziu uma enxurrada de manifestações de súbita condenação aos vândalos. Entidades que representam advogados, juízes, donos de meios de comunicação, jornalistas e poderosos da República deixaram de execrar somente a polícia.
"Não é admissível que protestos democráticos sejam desvirtuados por quem não tem respeito pela vida humana", registrou Dilma Rousseff no Twitter - uma platitude de dar dó. É lamentável que do alto do cargo mais importante da República ela se tenha comportado como se fosse apenas a candidata à própria reeleição. Reduzir tal crime a um slogan de campanha, utilizando o velório da vítima como extensão de seu palanque, é absurdo em si. Fazê-lo numa rede social, como numa fofoca de adolescentes, é espantoso. Assim como revolta a justificativa dada pelos vândalos em outra rede social, o Facebook, buscando inculpar a polícia por quatro mortes não noticiadas nem comentadas pelos meios de comunicação, tentando estabelecer uma relação de nexo inexistente e adotando uma contabilidade sinistra e sem sentido. Idêntico afã oportunista levou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a procurar limpar a própria imagem com o sangue da vítima ao propor enquadrar os vândalos por crime de terrorismo.
Quando os políticos que vendem a alma por um punhado de votos descobrirão que os anarquistas que encerram as passeatas ditas pacíficas nas ruas são criminosos comuns que agridem e depredam, devendo ser punidos como tal? E que a eles se acumplicia quem defende o uso de máscaras, porque estas dificultam a identificação deles pela polícia? Os repórteres sempre benevolentes com os mascarados nunca perceberão que lidam com inimigos da verdade? Afinal, isso se comprovou no atentado ao cinegrafista e na agressão a outro que captava imagens em manifestação em defesa do tatuador por cujas mãos passou o rojão e que terminou mentindo descaradamente à polícia ao pedir delação premiada. E advogados menos empenhados em defendê-los do que em aparecer não prestam serviço à lei, mas trabalham pela impunidade de meros quadrilheiros.
Esta não é hora de caçar bruxas. Mas, sim, de tirar a máscara de quem esconde o rosto para delinquir e ficar impune.
O centro invisível - FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 12/02
BRASÍLIA - Ontem a Folha promoveu um debate na sua página A3 sobre violência e direitos humanos. O pano de fundo: um adolescente negro acusado de praticar furtos em série no Rio acabou agredido e preso nu, pelo pescoço, a um poste.
A apresentadora de TV Raquel Sheherazade escreveu a favor do direito de cidadãos se defenderem e de prenderem quem os ameaça. O deputado federal Ivan Valente, do PSOL paulista, rebateu dizendo que "ressuscitou-se o Pelourinho 125 anos após o fim da escravidão".
Gostei de ler os dois artigos com opiniões bem antagônicas. Mas ficou para mim uma dúvida: onde está o centro? Afinal, o Brasil não é só a busca do direito de prender pessoas com as próprias mãos. Tampouco é um país no qual a escravidão seja cotidiana, apesar do lamentável e bárbaro episódio do Rio.
Tem havido uma polarização exacerbada nos grandes debates brasileiros. É sempre fácil enxergar as posições nos dois extremos do espectro político-ideológico. Só o centro parece invisível. Até porque uma análise moderada será logo classificada "de direita" pelos mais liberais. Ou de "condescendente com a esquerda" por quem luta na trincheira do conservadorismo.
A grande vantagem --alguns dirão desvantagem-- da história de conchavos sociais do Brasil foi ter colocado de pé uma nação quase sem conflitos sangrentos generalizados. A disposição para encontrar saídas pactuadas deu-se em vários momentos, como no fim da ditadura militar. Na cultura brasileira, o extremismo de direita ou de esquerda nunca teve tanto espaço como em países vizinhos na América Latina.
Nesta semana, a morte do cinegrafista Santiago Andrade também produziu grande polarização. Sem contar a tentativa de alguns querendo se apropriar da tragédia alheia. Há hoje muitas ideias fora do lugar no Brasil. É um enigma aonde isso vai dar, sobretudo em ano eleitoral.
BRASÍLIA - Ontem a Folha promoveu um debate na sua página A3 sobre violência e direitos humanos. O pano de fundo: um adolescente negro acusado de praticar furtos em série no Rio acabou agredido e preso nu, pelo pescoço, a um poste.
A apresentadora de TV Raquel Sheherazade escreveu a favor do direito de cidadãos se defenderem e de prenderem quem os ameaça. O deputado federal Ivan Valente, do PSOL paulista, rebateu dizendo que "ressuscitou-se o Pelourinho 125 anos após o fim da escravidão".
Gostei de ler os dois artigos com opiniões bem antagônicas. Mas ficou para mim uma dúvida: onde está o centro? Afinal, o Brasil não é só a busca do direito de prender pessoas com as próprias mãos. Tampouco é um país no qual a escravidão seja cotidiana, apesar do lamentável e bárbaro episódio do Rio.
Tem havido uma polarização exacerbada nos grandes debates brasileiros. É sempre fácil enxergar as posições nos dois extremos do espectro político-ideológico. Só o centro parece invisível. Até porque uma análise moderada será logo classificada "de direita" pelos mais liberais. Ou de "condescendente com a esquerda" por quem luta na trincheira do conservadorismo.
A grande vantagem --alguns dirão desvantagem-- da história de conchavos sociais do Brasil foi ter colocado de pé uma nação quase sem conflitos sangrentos generalizados. A disposição para encontrar saídas pactuadas deu-se em vários momentos, como no fim da ditadura militar. Na cultura brasileira, o extremismo de direita ou de esquerda nunca teve tanto espaço como em países vizinhos na América Latina.
Nesta semana, a morte do cinegrafista Santiago Andrade também produziu grande polarização. Sem contar a tentativa de alguns querendo se apropriar da tragédia alheia. Há hoje muitas ideias fora do lugar no Brasil. É um enigma aonde isso vai dar, sobretudo em ano eleitoral.
Terrorismo em debate - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 12/02
O Brasil corre o risco de realizar uma Copa do Mundo de futebol, dentro de cerca de quatro meses, sem ter uma legislação que tipifique o crime de terrorismo, embora nossa Constituição se refira a esse crime em várias situações e diversos tratados internacionais obriguem o país a se posicionar sobre o tema. Mas, como vários assuntos, este também não foi regulamentado, e, portanto, não existe lei para combatê-lo, a não ser a Lei de Segurança Nacional do tempo da ditadura, que não se quer utilizar em tempos de democracia.
A questão chegou ontem ao plenário do Senado, oriunda justamente de um grupo de trabalho para tratar de assuntos que, embora incluídos na Constituição de 1988, ainda não saíram do papel por falta de regulamentação. A primeira coisa que se tentou fazer foi dissociar a discussão do combate ao terrorismo do trágico assassinato do cinegrafista da TV Bandeirantes no Rio, embora o texto original tenha sido impulsionado pelos acontecimentos de junho do ano passado.
Mas o que emperrou mesmo a discussão foi a preocupação do Palácio do Planalto em não criminalizar as ações dos chamados movimentos sociais . O Projeto de Lei em discussão, cujo relator foi o senador Romero Jucá, define terrorismo da seguinte maneira: Provocar ou difundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa ou tentativa de ofensa à vida, à integridade física ou à saúde ou à privação da liberdade de pessoa .
O projeto inclui previsão de pena maior quando há emprego de explosivo, fogo, arma química, biológica ou radioativa, ou outro meio capaz de causar danos ou promover destruição em massa . Esse texto enquadra perfeitamente a ação de vandalismo de black blocs nas manifestações de protesto desde junho, e em especial o assassinato do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade.
Mas surgiu um movimento, insuflado pelo gabinete do ministro Gilberto Carvalho e liderado pelo PT, para incluir no texto da lei uma ressalva que já existe no projeto do novo Código Penal, que está sendo debatido há um ano, mas que não entrará em vigor tão cedo.
O relator da comissão especial do Código Penal foi o senador Pedro Taques (PDT-MT), que inseriu em seu texto final um capítulo que trata dos crimes contra a paz pública e estabelece penas que podem chegar a 20 anos para os casos mais graves de terrorismo. No projeto relatado por Jucá, as penas são mais pesadas, variam de 15 a 30 anos de reclusão.
Mas o projeto do Código Penal tem um item denominado Exclusão de crime , assim redigido: (...) Não constitui crime de terrorismo a conduta individual ou coletiva de pessoas movidas por propósitos sociais ou reivindicatórios, desde que os objetivos e meios sejam compatíveis e adequados à sua finalidade .
Alega o senador Pedro Taques que atos como o que matou o cinegrafista no Rio de Janeiro não são o objetivo da manifestação, e que quem desvirtuou seu sentido deve ser enquadrado no Código Penal de acordo com as circunstâncias de cada caso.
O senador tucano Aloysio Nunes Ferreira, mesmo que concorde que no caso do cinegrafista da Bandeirantes não foi caracterizada uma ação terrorista, mas um homicídio, rejeita a ressalva do novo Código Penal, dizendo que não existe terrorismo do bem .
Há, no entanto, um temor dos políticos num ano eleitoral de serem acusados pelos movimentos sociais de perseguição política. Até mesmo o senador Renan Calheiros, que nas manifestações de junho levou adiante a discussão sobre o Projeto de Lei sobre o terrorismo, ontem fazia questão de separar os dois temas.
Já o petista Jorge Viana considerava que a lei antiterrorismo seria um sinal concreto à sociedade de que crimes como o que resultou na morte de Santiago Andrade vão ser punidos com mais de 30 anos de cadeia . Ele estava trabalhando para compatibilizar os dois textos, a fim de que o consenso no Senado permita a aprovação do projeto.
No entanto, é quase impossível que se chegue a um acordo que inclua a blindagem dos chamados movimentos sociais . O governo terá que mobilizar sua base para aprovar a legislação a seu modo se quiser ter uma lei antiterrorismo antes da Copa do Mundo. Mas de que servirá essa lei se os black blocs e que tais estiverem protegidos?
A histeria dos comissários - ELIO GASPARI
FOLHA DE SP - 12/02
Manifestante é manifestante, delinquente é delinquente, bandido é bandido e terrorista é terrorista
Os surtos histéricos diante da violência urbana dão em nada. Se dessem, ela já teria acabado há décadas. Já os surtos de histeria política, quando dão em alguma coisa, acabam mutilando as liberdades públicas.
O senador Jorge Viana defendeu a aprovação em regime de urgência de um projeto de seu colega petista Paulo Paim que classifica como terrorismo os atos de violência física praticados durante manifestações de rua. Depredações e mesmo desacato à autoridade policial são delitos previstos no Código Penal. Isso para não se mencionar o homicídio do cinegrafista Santiago Andrade.
O projeto petista define assim o ato terrorista:
"Provocar ou difundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa ou tentativa de ofensa à vida, à integridade física ou à saúde ou à privação da liberdade de pessoas".
A pena iria de 15 a 30 anos de prisão. Se a ação resultar em morte, sobe de 24 a até 30 anos. Fica por aí porque esse é o limite máximo da pena de reclusão nas leis brasileiras.
Deixando-se de lado o caráter vago do que seria "provocar ou difundir terror ou pânico generalizado" e a precisão da pena mínima (15 anos de reclusão), pode-se buscar um caso semelhante de histeria, com danos historicamente conhecidos.
Que tal assim?
Será crime "comprometer a segurança nacional, sabotando quaisquer instalações militares, navios, aviões, material utilizável pelas Forças Armadas, ou ainda meios de comunicação e vias de transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, depósitos e outras instalações:
Pena: reclusão de 8 a 30 anos."
Essa era a redação do artigo 11º da Lei de Segurança Nacional, baixada a 21 de outubro de 1969, no auge da ditadura, pouco depois do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick.
A pena mínima para um sabotador de quartel ou aeroporto (imputações específicas) era de 8 anos. Para assalto a banco ou sequestro de avião ela ia de 10 a 24 anos. Nos dois casos, as penas eram inferiores às que prevê o surto petista. Caso o delito resultasse em morte, a pena seria de fuzilamento. Apesar de ter havido uma condenação, ninguém foi executado dentro das normas legais.
O comissariado quer expandir a definição de terrorismo precisamente numa época em que sexagenários que militaram em organizações da esquerda armada aborrecem-se quando alguns de seus atos são chamados de ações terroristas. O atentado do aeroporto dos Guararapes, por exemplo, quando explodiu uma bomba no saguão, matando duas pessoas e ferindo 14. Ele ocorreu em 1966, dois anos antes da edição do Ato Institucional nº 5. Oito meses antes do AI-5, um documento do Comando de Libertação Nacional, o Colina, dizia que "o terrorismo, como execução (nas cidades e nos campos) de esbirros da reação, deverá obedecer a um rígido critério político". Assim, quatro meses antes da edição do AI-5 mataram um major alemão que pensavam ser o capitão boliviano que estivera na operação que resultou no assassinato do Che Guevara. Nessa organização militava, com o codinome de Wanda, a doutora Dilma Rousseff. Tinha seus 20 anos e nunca foi acusada de ter participado de ação armada.
Como diria Ancelmo Gois: "Calma, gente".
Manifestante é manifestante, delinquente é delinquente, bandido é bandido e terrorista é terrorista
Os surtos histéricos diante da violência urbana dão em nada. Se dessem, ela já teria acabado há décadas. Já os surtos de histeria política, quando dão em alguma coisa, acabam mutilando as liberdades públicas.
O senador Jorge Viana defendeu a aprovação em regime de urgência de um projeto de seu colega petista Paulo Paim que classifica como terrorismo os atos de violência física praticados durante manifestações de rua. Depredações e mesmo desacato à autoridade policial são delitos previstos no Código Penal. Isso para não se mencionar o homicídio do cinegrafista Santiago Andrade.
O projeto petista define assim o ato terrorista:
"Provocar ou difundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa ou tentativa de ofensa à vida, à integridade física ou à saúde ou à privação da liberdade de pessoas".
A pena iria de 15 a 30 anos de prisão. Se a ação resultar em morte, sobe de 24 a até 30 anos. Fica por aí porque esse é o limite máximo da pena de reclusão nas leis brasileiras.
Deixando-se de lado o caráter vago do que seria "provocar ou difundir terror ou pânico generalizado" e a precisão da pena mínima (15 anos de reclusão), pode-se buscar um caso semelhante de histeria, com danos historicamente conhecidos.
Que tal assim?
Será crime "comprometer a segurança nacional, sabotando quaisquer instalações militares, navios, aviões, material utilizável pelas Forças Armadas, ou ainda meios de comunicação e vias de transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, depósitos e outras instalações:
Pena: reclusão de 8 a 30 anos."
Essa era a redação do artigo 11º da Lei de Segurança Nacional, baixada a 21 de outubro de 1969, no auge da ditadura, pouco depois do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick.
A pena mínima para um sabotador de quartel ou aeroporto (imputações específicas) era de 8 anos. Para assalto a banco ou sequestro de avião ela ia de 10 a 24 anos. Nos dois casos, as penas eram inferiores às que prevê o surto petista. Caso o delito resultasse em morte, a pena seria de fuzilamento. Apesar de ter havido uma condenação, ninguém foi executado dentro das normas legais.
O comissariado quer expandir a definição de terrorismo precisamente numa época em que sexagenários que militaram em organizações da esquerda armada aborrecem-se quando alguns de seus atos são chamados de ações terroristas. O atentado do aeroporto dos Guararapes, por exemplo, quando explodiu uma bomba no saguão, matando duas pessoas e ferindo 14. Ele ocorreu em 1966, dois anos antes da edição do Ato Institucional nº 5. Oito meses antes do AI-5, um documento do Comando de Libertação Nacional, o Colina, dizia que "o terrorismo, como execução (nas cidades e nos campos) de esbirros da reação, deverá obedecer a um rígido critério político". Assim, quatro meses antes da edição do AI-5 mataram um major alemão que pensavam ser o capitão boliviano que estivera na operação que resultou no assassinato do Che Guevara. Nessa organização militava, com o codinome de Wanda, a doutora Dilma Rousseff. Tinha seus 20 anos e nunca foi acusada de ter participado de ação armada.
Como diria Ancelmo Gois: "Calma, gente".
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