FOLHA DE SP - 12/02
BRASÍLIA - Ontem a Folha promoveu um debate na sua página A3 sobre violência e direitos humanos. O pano de fundo: um adolescente negro acusado de praticar furtos em série no Rio acabou agredido e preso nu, pelo pescoço, a um poste.
A apresentadora de TV Raquel Sheherazade escreveu a favor do direito de cidadãos se defenderem e de prenderem quem os ameaça. O deputado federal Ivan Valente, do PSOL paulista, rebateu dizendo que "ressuscitou-se o Pelourinho 125 anos após o fim da escravidão".
Gostei de ler os dois artigos com opiniões bem antagônicas. Mas ficou para mim uma dúvida: onde está o centro? Afinal, o Brasil não é só a busca do direito de prender pessoas com as próprias mãos. Tampouco é um país no qual a escravidão seja cotidiana, apesar do lamentável e bárbaro episódio do Rio.
Tem havido uma polarização exacerbada nos grandes debates brasileiros. É sempre fácil enxergar as posições nos dois extremos do espectro político-ideológico. Só o centro parece invisível. Até porque uma análise moderada será logo classificada "de direita" pelos mais liberais. Ou de "condescendente com a esquerda" por quem luta na trincheira do conservadorismo.
A grande vantagem --alguns dirão desvantagem-- da história de conchavos sociais do Brasil foi ter colocado de pé uma nação quase sem conflitos sangrentos generalizados. A disposição para encontrar saídas pactuadas deu-se em vários momentos, como no fim da ditadura militar. Na cultura brasileira, o extremismo de direita ou de esquerda nunca teve tanto espaço como em países vizinhos na América Latina.
Nesta semana, a morte do cinegrafista Santiago Andrade também produziu grande polarização. Sem contar a tentativa de alguns querendo se apropriar da tragédia alheia. Há hoje muitas ideias fora do lugar no Brasil. É um enigma aonde isso vai dar, sobretudo em ano eleitoral.
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