O GLOBO - 12/02
Medidas para reativar economia fazem água
A Iugoslávia ficará para a História como uma experiência a ser evitada. Existiu como país por cerca de um século e depois se desagregou em meia dúzia de nações. O que teria acontecido? Como o PT entra no script? E qual seria a lição para o Brasil? É o que veremos a seguir.
O que, afinal, deu errado com a Iugoslávia, país onde os operários eram donos das fábricas, um tipo de socialismo diferente do capitalismo de Estado imposto por Stálin a seus países satélites? Em linhas gerais, tem a ver com o sistema de incentivos estabelecido pelas novas regras. Sistematicamente, os trabalhadores, agora donos, passaram a se dar generosos aumentos, esquecendo a imperiosa necessidade de investir nas empresas para obter ganhos de produtividade e de competitividade. Resultado: o país virou o maior exportador líquido de mão de obra para o resto da Europa e o salário real dos operários ficou estagnado, a despeito dos aumentos nominais. O paradoxo é que os novos donos das fábricas passaram a agir contra seus próprios interesses de longo prazo. Quem estava certo era o “amaldiçoado” empresário capitalista cujos lucros eram reinvestidos, gerando empregos e ganhos reais de salários, como aconteceu nas economias capitalistas clássicas.
Na verdade, a Iugoslávia caiu no que poderíamos chamar de armadilha consumista, coisa que lembra bastante bem a política econômica do PT dos últimos anos. Durante uma década, a Receita Federal bateu recordes de arrecadação de 10% ao ano, em termos reais, enquanto o PIB saía pela porta dos fundos com crescimento pífio a ponto de hoje estar reduzido a um reles pibinho. A carga tributária, de quase 40% do PIB, diminuiu brutalmente a capacidade de investir do setor privado sem que o governo contrabalançasse a insanidade aumentando sua taxa de investimento, hoje inferior a 2% do PIB.
Esgotadas a herança bendita de FHC e as condições excepcionalmente favoráveis do mercado internacional, começou a faltar pinga para a festa continuar a pleno vapor. A conta, sentida na pele pela população, foi bater no supermercado com aumentos expressivos nos preços dos gêneros alimentícios e também nos serviços, nos combustíveis e na energia elétrica.
As medidas pontuais adotadas para reativar a economia estão fazendo água, pois faltam investimentos de caráter estratégico que deveriam ter sido feitos ao longo dos anos em infraestrutura e em outros setores críticos. O corte de gastos para tornar o Estado mais eficiente e a ampliação das privatizações foram retardados durante anos por puro preconceito ideológico. Pouco ou nada ensinou ao PT o tempo perdido pela ex-URSS e pela China em seguir, por tanto tempo, a cartilha da estatização e da ingerência do Estado no cerceamento das liberdades individuais, que são fontes de criatividade e geração de inovações e conhecimentos capazes de melhorar a vida de todos.
O Brasil certamente não é a Iugoslávia, mas, dados os precedentes históricos, nossa marcha da insensatez tem semelhanças e já foi longe demais. E com pleno conhecimento de causa perdida. Até quando?
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