O GLOBO - 12/02
Ações da companhia continuaram se desvalorizando este ano na bolsa de valores, porque o mercado está cético quanto à recuperação dos resultados da empresa
Os preços das ações da Petrobras continuaram amargando fortes perdas após a virada do ano. A empresa espera recuperar produção e melhorar os resultados ao longo de 2014, mas o mercado tem reagido com ceticismo. A queda acumulada em doze meses é da ordem de 25%, enquanto, na média, os papéis mais negociados na Bovespa se desvalorizaram 12%.
No quatro trimestre de 2013 e nas primeiras semanas de 2014, a Petrobras pôs em operação nove novas plataformas, que aumentam sua capacidade de produção em mais de 1 milhão de barris diários de petróleo e gás. Algumas delas foram instaladas em campos promissores da camada do pré-sal. É bem possível que a trajetória da curva de produção se inverta a partir de agora, rumo a quatro milhões de barris diários até o fim da década (o que significará o dobro do atual volume).
O descrédito de mercado se deve a seguidas frustrações no alcance das metas. A recuperação anunciada para 2013 não ocorreu. Houve até uma queda surpreendente, que a companhia justificou com atrasos na entrada em operação de algumas unidades.
No entanto, como chamou atenção o consultor Jorge Camargo (que foi alto executivo na própria Petrobras e em outras companhias petrolíferas), em artigo publicado sábado no GLOBO, a queda da produção nos campos maduros da Bacia de Campos, principalmente, está ocorrendo mais rapidamente do que seria natural, o que denota falta de investimento na perfuração de novos poços e de equipamentos adequados para separação do óleo extraído dos reservatórios junto com grande volume de água salgada.
O consultor usou a imagem de uma gigante extenuada para descrever a situação da Petrobras. A estatal tem um programa de investimentos da ordem de US$ 250 bilhões, e, para executá-lo, teve de atingir o limite aceitável de endividamento. Não pode recorrer mais ao mercado para se capitalizar nesse ambiente de ações desvalorizadas. E os recursos gerados nos seus negócios têm sido insuficientes devido a uma política de preços imposta pelo governo que a leva a registrar elevados prejuízos na importação de óleo diesel, gasolina e gás.
É uma questão não resolvida, que este ano esbarra no calendário eleitoral. O ajuste de preços sem dúvida pode encarecer todo o custo de transportes, e infelizmente a inflação já está em um patamar que não permite absorver esse choque sem ultrapassar o teto (6,5%) da meta estabelecida pelo governo.
Mas o responsável por esse quadro é o próprio governo, cuja combinação de políticas fiscal e monetária expansionistas permitiu que a inflação se mantivesse nesses patamares perigosos e arriscados. Mas jogar o peso desse equívoco sobre a Petrobras, obrigando-a a subsidiar o consumo de combustíveis, é persistir no erro.
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