FOLHA DE SP - 16/10
SÃO PAULO - São indefensáveis as liminares que o Judiciário vem concedendo que obrigam o Instituto de Química da USP de São Carlos a fornecer a pacientes de câncer uma droga que jamais teve sua segurança e eficácia atestada para humanos.
É claro que ninguém pode tirar de um doente o direito de buscar uma cura, mesmo que ilusória. Se a Justiça tivesse se limitado a derrubar barreiras burocráticas que impedem as pessoas de fabricar poções e importar medicamentos, mesmo que experimentais, estaria de parabéns.
Só que as liminares vão além de permitir que indivíduos, supostamente esclarecidos dos riscos que correm, exerçam sua liberdade. As decisões judiciais fazem com que o Estado patrocine uma terapia não comprovada e nela aloque escassos recursos públicos. Pior, o faz de maneira tão atabalhoada que será quase impossível extrair desse experimento, vá lá, natural qualquer informação relevante sobre a fosfoetanolamina, a droga em questão.
Mesmo que todos os pacientes que receberam o fármaco aleguem ter sido curados, sua eficácia não estará demonstrada. Para que isso ocorresse, seria necessário proceder a testes controlados. Seria preciso comparar o desfecho clínico de duas populações semelhantes, uma submetida à droga e a outra a um placebo ou a algum tratamento efetivo. Se os resultados do grupo que tomou a fosfoetanolamina fossem superiores aos do grupo controle, aí e apenas aí teríamos uma prova de que o medicamento funciona. Sem isso, é impossível descartar que a melhora alardeada por pacientes se deva ao efeito placebo e a outros fatores de confusão que contaminam a pesquisa médica.
Também é difícil de acreditar que se sabe há duas décadas que fosfoetanolamina é uma molécula de interesse médico, com possível ação anticâncer, e até hoje não tenha sido objeto de um ensaio com seres humanos. O episódio diz bastante a respeito da Justiça e da ciência no Brasil.
sexta-feira, outubro 16, 2015
Levy contra o pessimismo - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 16/10
O Brasil está perto do fundo de um poço muito parecido com aquele em que se meteu nos anos de 1999 e 2003. Para sair dali, não falta muito mais que colocar um remendão imediato nas contas do governo e aprovar um plano duradouro de contenção da dívida pública. Nas outras crises, embora não tenha havido "ajuste estrutural", funcionou.
É um resumo muito breve e, assim, algo injusto, de um documento que o Ministério da Fazenda publicou ontem, "Reequilíbrio Fiscal e Retomada da Economia".
Trata-se de uma espécie de prestação de contas misturada a uma exposição de motivos contra o pessimismo sombrio de quase todas as análises econômicas que não sejam governistas. Parece também uma defesa de Joaquim Levy. Para quem quer vê-lo pelas costas ou observa sua fritura, soa ainda como prévia de testamento.
Havendo perspectiva de controle do aumento da dívida pública como ocorreria a retomada?
Baixaria o prêmio de risco, o extra em taxas de juros cobrado no país. Assim, teria fim a desvalorização descontrolada do real. As taxas de juros para empréstimos de prazo mais longo, que afetam decisões de investimento, começariam a baixar, assim como a expectativa de inflação.
Melhoraria, pois, a confiança dos empresários, também reforçada pela expectativa de que o peso dos tributos não continuaria aumentar (pois o deficit público estaria controlado), o que é controverso, mas não impossível, mas passemos.
O tamanho da desvalorização de 2015 se assemelha aos de 1999 e 2003, assim como o nível de depressão de ânimo dos empresários e de ociosidade da capacidade de produção industrial. Há uma vantagem agora: o país tem nível altíssimo de reservas internacionais e, apesar da piora do risco-Brasil, a degradação nem de longe chega perto da verificada nas outras duas crises.
A inflação em baixa não estragaria a oportunidade proporcionada pelo real mais desvalorizado, que estimula a produção doméstica, em vez de importações. O comércio global vai mal, decerto. Mas a indústria perdeu tanto espaço no último quinquênio que, "parece", tem mais espaço para recuperar. Agora não há boom do preço de commodities. Mas, nas recuperações de 2000 e 2004 também não se contou com melhoria de preços de exportações. Quase não se trata de estímulo à demanda.
Metade do texto compara indicadores econômicos dos anos em torno de 1999 (desvalorização do real) e de 2003 (crises do final de FHC e medo de Lula) com os do ciclo atual. Em curvas de gráficos, a crise dos anos Dilma parece mais com a de FHC, como se sabe.
Note-se que, na crise fernandina o Brasil quebrara e passava por mudança de regime de política econômica, de câmbio quase fixo para quase flutuante e metas de inflação.
Mais importante, para o argumento, é a dificuldade com o ajuste fiscal. Nas crises passadas, o buraco nas contas foi tapado com grandes aumentos de impostos. Agora, com carga tributária maior e campanhas várias antigoverno, está difícil. Além disso, houve, de alguma forma, recomeços. Sob FHC, mudança de política econômica com convicção, que dava apoio a uma equipe econômica capaz; no caso de Lula, confiança das elites em sua transfiguração econômica e enorme confiança popular na figura do presidente.
O Brasil está perto do fundo de um poço muito parecido com aquele em que se meteu nos anos de 1999 e 2003. Para sair dali, não falta muito mais que colocar um remendão imediato nas contas do governo e aprovar um plano duradouro de contenção da dívida pública. Nas outras crises, embora não tenha havido "ajuste estrutural", funcionou.
É um resumo muito breve e, assim, algo injusto, de um documento que o Ministério da Fazenda publicou ontem, "Reequilíbrio Fiscal e Retomada da Economia".
Trata-se de uma espécie de prestação de contas misturada a uma exposição de motivos contra o pessimismo sombrio de quase todas as análises econômicas que não sejam governistas. Parece também uma defesa de Joaquim Levy. Para quem quer vê-lo pelas costas ou observa sua fritura, soa ainda como prévia de testamento.
Havendo perspectiva de controle do aumento da dívida pública como ocorreria a retomada?
Baixaria o prêmio de risco, o extra em taxas de juros cobrado no país. Assim, teria fim a desvalorização descontrolada do real. As taxas de juros para empréstimos de prazo mais longo, que afetam decisões de investimento, começariam a baixar, assim como a expectativa de inflação.
Melhoraria, pois, a confiança dos empresários, também reforçada pela expectativa de que o peso dos tributos não continuaria aumentar (pois o deficit público estaria controlado), o que é controverso, mas não impossível, mas passemos.
O tamanho da desvalorização de 2015 se assemelha aos de 1999 e 2003, assim como o nível de depressão de ânimo dos empresários e de ociosidade da capacidade de produção industrial. Há uma vantagem agora: o país tem nível altíssimo de reservas internacionais e, apesar da piora do risco-Brasil, a degradação nem de longe chega perto da verificada nas outras duas crises.
A inflação em baixa não estragaria a oportunidade proporcionada pelo real mais desvalorizado, que estimula a produção doméstica, em vez de importações. O comércio global vai mal, decerto. Mas a indústria perdeu tanto espaço no último quinquênio que, "parece", tem mais espaço para recuperar. Agora não há boom do preço de commodities. Mas, nas recuperações de 2000 e 2004 também não se contou com melhoria de preços de exportações. Quase não se trata de estímulo à demanda.
Metade do texto compara indicadores econômicos dos anos em torno de 1999 (desvalorização do real) e de 2003 (crises do final de FHC e medo de Lula) com os do ciclo atual. Em curvas de gráficos, a crise dos anos Dilma parece mais com a de FHC, como se sabe.
Note-se que, na crise fernandina o Brasil quebrara e passava por mudança de regime de política econômica, de câmbio quase fixo para quase flutuante e metas de inflação.
Mais importante, para o argumento, é a dificuldade com o ajuste fiscal. Nas crises passadas, o buraco nas contas foi tapado com grandes aumentos de impostos. Agora, com carga tributária maior e campanhas várias antigoverno, está difícil. Além disso, houve, de alguma forma, recomeços. Sob FHC, mudança de política econômica com convicção, que dava apoio a uma equipe econômica capaz; no caso de Lula, confiança das elites em sua transfiguração econômica e enorme confiança popular na figura do presidente.
Negociações espúrias entre Cunha e Planalto - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 16/10
O presidente da Câmara nega que tenha sido aberta uma negociação entre ele e o governo em torno do destino de pedidos de impeachment contra a presidente Dilma, sobre os quais tem influência — pode aceitar algum ou engavetar todos — e, de outro lado, a tramitação de seu processo no Conselho de Ética.
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) desmente informações de que recentes encontros com os ministros Jaques Wagner, da Casa Civil, Edinho Silva, das Comunicações, e o vice-presidente Michel Temer, de seu partido, tenham servido para a costura de um entendimento pelo qual Cunha cauterizaria, na Câmara, o movimento pró-impeachment, e o Planalto se movimentaria para defendê-lo no Conselho de Ética e na Lava-Jato.
Na prática, porém, nada é simples, e entre essas moedas de troca algumas são falsas. Cunha pode engavetar qualquer pedido de impeachment, mas é no mínimo temerário o governo acenar com a possibilidade de barrar a continuação das investigações sobre o presidente da Casa.
No processo na Comissão de Ética, há até dúvidas sobre se a base do governo, PT incluído, atuaria em bloco para livrar Cunha da cassação. Fora do Congresso, também não se deve esperar que, como foi falado, o governo substitua José Eduardo Cardozo no Ministério da Justiça por alguém capaz de enquadrar a Polícia Federal, para proteger o deputado na Lava-Jato. Caso aconteça, será um escândalo à parte. Se o próprio Lula não consegue fazer o mesmo —para se proteger, e a lulopetistas —, não será Cunha o autor da proeza. Além de tudo, a PF, na condição de organismo de Estado, tem prerrogativas de autonomia operacional.
Também seria escandaloso e grave revés no atual processo de consolidação das instituições republicanas no país se houvesse alguma interferência da Procuradoria-Geral da República na atuação dos promotores da Lava-Jato baseados em Curitiba. Nem poderia, dadas as garantias constitucionais de independência do MP como instituição e de cada um de seus representantes.
Coincidência ou não, ontem a PGR pediu ao Supremo novo inquérito sobre Eduardo Cunha, este para investigar as contas dele e família descobertas na Suíça.
Um anterior trata dos US$ 5 milhões transferidos, segundo delações premiadas, para o deputado como propina gerada numa negociata na Petrobras.
Se Eduardo Cunha deseja a troca do impeachment por alguma blindagem dele e família na Lava-Jato, parece querer o impossível. O governo pode tentar salvá-lo no Conselho de Ética, e será tão pouco sutil quanto uma tentativa de resgate no fórum do Centro do Rio, à luz do dia.
Há em funcionamento um movimentado mercado persa onde existe de tudo, menos ética. O que inclui a oposição, interessada em apoiar Cunha apenas para ele ser veículo do impeachment. O senador tucano Cássio Cunha Lima (PB) identifica, com propriedade, uma "ética de ocasião" no comportamento do PSDB.
Cunha, político ligeiro, e o PT, partido calejado no toma lá dá cá do fisiologismo, têm expertise no ramo. Mas irão longe demais nesta negociação espúria, e num momento grave da vida pública.
Importa é saber se há ou não fatos concretos que, com sustentação legal, justifiquem o impedimento da presidente Dilma, e se Eduardo Cunha consegue provar a origem lícita dos milhões de dólares localizados em contas suas na Suíça.
O presidente da Câmara nega que tenha sido aberta uma negociação entre ele e o governo em torno do destino de pedidos de impeachment contra a presidente Dilma, sobre os quais tem influência — pode aceitar algum ou engavetar todos — e, de outro lado, a tramitação de seu processo no Conselho de Ética.
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) desmente informações de que recentes encontros com os ministros Jaques Wagner, da Casa Civil, Edinho Silva, das Comunicações, e o vice-presidente Michel Temer, de seu partido, tenham servido para a costura de um entendimento pelo qual Cunha cauterizaria, na Câmara, o movimento pró-impeachment, e o Planalto se movimentaria para defendê-lo no Conselho de Ética e na Lava-Jato.
Na prática, porém, nada é simples, e entre essas moedas de troca algumas são falsas. Cunha pode engavetar qualquer pedido de impeachment, mas é no mínimo temerário o governo acenar com a possibilidade de barrar a continuação das investigações sobre o presidente da Casa.
No processo na Comissão de Ética, há até dúvidas sobre se a base do governo, PT incluído, atuaria em bloco para livrar Cunha da cassação. Fora do Congresso, também não se deve esperar que, como foi falado, o governo substitua José Eduardo Cardozo no Ministério da Justiça por alguém capaz de enquadrar a Polícia Federal, para proteger o deputado na Lava-Jato. Caso aconteça, será um escândalo à parte. Se o próprio Lula não consegue fazer o mesmo —para se proteger, e a lulopetistas —, não será Cunha o autor da proeza. Além de tudo, a PF, na condição de organismo de Estado, tem prerrogativas de autonomia operacional.
Também seria escandaloso e grave revés no atual processo de consolidação das instituições republicanas no país se houvesse alguma interferência da Procuradoria-Geral da República na atuação dos promotores da Lava-Jato baseados em Curitiba. Nem poderia, dadas as garantias constitucionais de independência do MP como instituição e de cada um de seus representantes.
Coincidência ou não, ontem a PGR pediu ao Supremo novo inquérito sobre Eduardo Cunha, este para investigar as contas dele e família descobertas na Suíça.
Um anterior trata dos US$ 5 milhões transferidos, segundo delações premiadas, para o deputado como propina gerada numa negociata na Petrobras.
Se Eduardo Cunha deseja a troca do impeachment por alguma blindagem dele e família na Lava-Jato, parece querer o impossível. O governo pode tentar salvá-lo no Conselho de Ética, e será tão pouco sutil quanto uma tentativa de resgate no fórum do Centro do Rio, à luz do dia.
Há em funcionamento um movimentado mercado persa onde existe de tudo, menos ética. O que inclui a oposição, interessada em apoiar Cunha apenas para ele ser veículo do impeachment. O senador tucano Cássio Cunha Lima (PB) identifica, com propriedade, uma "ética de ocasião" no comportamento do PSDB.
Cunha, político ligeiro, e o PT, partido calejado no toma lá dá cá do fisiologismo, têm expertise no ramo. Mas irão longe demais nesta negociação espúria, e num momento grave da vida pública.
Importa é saber se há ou não fatos concretos que, com sustentação legal, justifiquem o impedimento da presidente Dilma, e se Eduardo Cunha consegue provar a origem lícita dos milhões de dólares localizados em contas suas na Suíça.
À espera dos bárbaros - CELSO MING
O ESTADÃO - 16/10
Sinais de invasão dos bárbaros ou de um desastre iminente do Brasil estão sendo repassados pelas agências de classificação de risco
Num dos mais notáveis poemas do século 20 (À espera dos bárbaros), o alexandrino Konstantínos Kavafis descreve a prostração, o conformismo e a incapacidade de reação dos dirigentes de uma cidade diante da ameaça de invasão inevitável.
Sinais de invasão dos bárbaros ou de um desastre iminente do Brasil estão sendo repassados pelas agências de classificação de risco. Nesta quinta-feira, foi a vez da Fitch, uma das três mais importantes, rebaixar a qualidade dos títulos de dívida do Brasil.
Foi um movimento esperado diante da passividade do governo federal ante a franca deterioração das contas públicas. A dívida bruta vai saltando para acima dos 70% do PIB, não se vê nenhuma iniciativa para coibir o rombo e é natural que, nessas condições, a capacidade do País de honrar os compromissos financeiros vá se evaporando.
Ainda há as reservas externas de US$ 370 bilhões aplicadas em títulos fortes; e há o superávit na balança comercial, que deverá ultrapassar os US$ 15 bilhões. São muralhas que ainda resistem ao cerco da cidadela. Mas por quanto tempo, se o resto vai mal. E piorando.
A retração do PIB não é outra coisa senão a queda da renda e, do ponto de vista do setor público, a quebra da capacidade de arrecadar e de sustentar a dívida. O déficit nominal, que inclui a conta dos juros, avança para os 9% do PIB.
A decisão mais grave da Fitch não foi a de reduzir em um degrau a qualidade dos títulos brasileiros, imediatamente antes da perda do grau de investimento. Foi ter mantido a condição do Brasil “em perspectiva negativa”. Isso significa que a qualquer momento pode vir novo rebaixamento. Quando isso acontecer, será inevitável a saída de respeitável volume de capitais. Isso porque grande número de fundos não pode, por lei ou disposição estatutária, manter em carteira os chamados títulos lixo (junk funds), aqueles que não levam o selo do grau de investimento de pelo menos duas agências de classificação de risco.
As coisas mudariam de figura se ficassem asseguradas condições para obtenção de um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) de 1,0% a 2,0% do PIB. Mas já se viu que não há vontade política por parte do governo de derrubar decisivamente as despesas. Nem do Congresso, em aprovar aumento de impostos.
Por aí se vê que, mais decisivo para o rebaixamento do Brasil do que a corrosão das contas públicas, é o impasse político, que bloqueia o processo de tomada de decisões, como aponta o primeiro parágrafo do comunicado com as justificativas para a decisão divulgada nesta quinta-feira pela agência Fitch.
Pior que tudo, não há sinais para virada do jogo. Quando, em março de 2014, veio o primeiro rebaixamento da Standard & Poor’s, ainda não à condição de grau especulativo, as reações do governo Dilma continuavam sendo as de que a economia estava sendo vítima de um inexplicável pessimismo.
Não há mais otimistas por aqui. Há, sim, um clima de modorrento conformismo com a capitulação iminente da cidade, como se os bárbaros pudessem, enfim, trazer a solução.
CONFIRA:
Aí está a evolução da receita nominal dos serviços desde agosto de 2013.
Os serviços e o PIB
Com variações menos importantes, as estatísticas se repetem e refletem a queda da atividade econômica. Os números desta quinta-feira se concentram no setor de serviços, o mais imunizado contra os soluços do câmbio e, no entanto, igualmente prostrado. Sozinho, corresponde a cerca de 70% do PIB. No período de oito meses terminados em agosto o volume caiu 2,6%. É possivelmente também ser esse o tamanho da queda de toda a atividade econômica do País no mesmo período.
Sinais de invasão dos bárbaros ou de um desastre iminente do Brasil estão sendo repassados pelas agências de classificação de risco
Num dos mais notáveis poemas do século 20 (À espera dos bárbaros), o alexandrino Konstantínos Kavafis descreve a prostração, o conformismo e a incapacidade de reação dos dirigentes de uma cidade diante da ameaça de invasão inevitável.
Sinais de invasão dos bárbaros ou de um desastre iminente do Brasil estão sendo repassados pelas agências de classificação de risco. Nesta quinta-feira, foi a vez da Fitch, uma das três mais importantes, rebaixar a qualidade dos títulos de dívida do Brasil.
Foi um movimento esperado diante da passividade do governo federal ante a franca deterioração das contas públicas. A dívida bruta vai saltando para acima dos 70% do PIB, não se vê nenhuma iniciativa para coibir o rombo e é natural que, nessas condições, a capacidade do País de honrar os compromissos financeiros vá se evaporando.
Ainda há as reservas externas de US$ 370 bilhões aplicadas em títulos fortes; e há o superávit na balança comercial, que deverá ultrapassar os US$ 15 bilhões. São muralhas que ainda resistem ao cerco da cidadela. Mas por quanto tempo, se o resto vai mal. E piorando.
A retração do PIB não é outra coisa senão a queda da renda e, do ponto de vista do setor público, a quebra da capacidade de arrecadar e de sustentar a dívida. O déficit nominal, que inclui a conta dos juros, avança para os 9% do PIB.
A decisão mais grave da Fitch não foi a de reduzir em um degrau a qualidade dos títulos brasileiros, imediatamente antes da perda do grau de investimento. Foi ter mantido a condição do Brasil “em perspectiva negativa”. Isso significa que a qualquer momento pode vir novo rebaixamento. Quando isso acontecer, será inevitável a saída de respeitável volume de capitais. Isso porque grande número de fundos não pode, por lei ou disposição estatutária, manter em carteira os chamados títulos lixo (junk funds), aqueles que não levam o selo do grau de investimento de pelo menos duas agências de classificação de risco.
As coisas mudariam de figura se ficassem asseguradas condições para obtenção de um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) de 1,0% a 2,0% do PIB. Mas já se viu que não há vontade política por parte do governo de derrubar decisivamente as despesas. Nem do Congresso, em aprovar aumento de impostos.
Por aí se vê que, mais decisivo para o rebaixamento do Brasil do que a corrosão das contas públicas, é o impasse político, que bloqueia o processo de tomada de decisões, como aponta o primeiro parágrafo do comunicado com as justificativas para a decisão divulgada nesta quinta-feira pela agência Fitch.
Pior que tudo, não há sinais para virada do jogo. Quando, em março de 2014, veio o primeiro rebaixamento da Standard & Poor’s, ainda não à condição de grau especulativo, as reações do governo Dilma continuavam sendo as de que a economia estava sendo vítima de um inexplicável pessimismo.
Não há mais otimistas por aqui. Há, sim, um clima de modorrento conformismo com a capitulação iminente da cidade, como se os bárbaros pudessem, enfim, trazer a solução.
CONFIRA:
Aí está a evolução da receita nominal dos serviços desde agosto de 2013.
Os serviços e o PIB
Com variações menos importantes, as estatísticas se repetem e refletem a queda da atividade econômica. Os números desta quinta-feira se concentram no setor de serviços, o mais imunizado contra os soluços do câmbio e, no entanto, igualmente prostrado. Sozinho, corresponde a cerca de 70% do PIB. No período de oito meses terminados em agosto o volume caiu 2,6%. É possivelmente também ser esse o tamanho da queda de toda a atividade econômica do País no mesmo período.
Afundando nos erros - VICENTE NUNES
CORREIO BRAZILIENSE - 16/10
Em vez de organizar a base política para aprovar projetos importantes no Congresso, a fim de dar uma direção aos agentes econômicos, Planalto se atropela em negociações vergonhosas para tentar salvar Dilma e Cunha
A decisão da agência de classificação de risco Fitch de cortar a nota do Brasil não teve o impacto devastador do anúncio feito pela Standard & Poor"s (S&P), que retirou o selo de bom pagador do país, mas mostrou um quadro desolador da economia brasileira. O que se vê nas justificativas da Fitch para o rebaixamento é uma nação à deriva. Não há nenhum sinal de melhora à vista. Se algo pode acontecer, é para pior.
O Brasil de Dilma Rousseff está quebrado. A opção da presidente de seguir o modelo econômico defendido pelo PT, que foi derrotado várias vezes antes de Lula assumir a defesa da estabilidade, promoveu um estrago tão grande, que, para juntar o cacos, levará anos. O mais assustador é que não há nenhum projeto efetivo para tirar o país do atoleiro, apenas promessas inconsistentes, como a de estabilizar a dívida pública, que caminha firmemente para os 70% do Produto Interno Bruto (PIB).
A falta de capacidade do governo de retomar o controle da situação é explícita. Em vez de organizar a base política para aprovar projetos importantes no Congresso a fim de dar uma direção, ainda que mínima, aos agentes econômicos, o Palácio do Planalto se atropela em negociações vergonhosas com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, para livrá-lo da cassação e impedir o impeachment de Dilma.
O descompromisso com a economia real é tamanho, que parte do governo preferiu comemorar a reação dos mercados diante do rebaixamento do país pela Fitch do que mostrar preocupação e medidas concretas para o resgate da confiança. Esse grupo atribuiu a queda do dólar e a alta da bolsa a um sinal de que os investidores já não dão tanta importância às manifestações das agências de risco. Trata-se de uma visão equivocada.
Na verdade, os mercados estão precificando o possível afastamento de Dilma. Para algumas casas bancárias, são de 80% as chances de o governo da petista ser interrompido. Além disso, a situação do Brasil é tão ruim que, neste momento, os investidores estão preferindo se apegar a fatores externos para guiar os negócios. O dólar e a bolsa de valores estão oscilando de acordo com os sinais emitidos pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, de que a alta de juros na maior economia do planeta ficará para 2016. Isso mostra, porém, uma vulnerabilidade maior do país. Se algo de ruim acontecer lá fora, o impacto por aqui será brutal.
Tapa-buracos
A conta do descaso do governo só aumenta. O Tesouro Nacional, responsável por administrar a dívida do país, está sendo obrigado a pagar juros cada vez maiores para se financiar no mercado. A cada leilão semanal de títulos, as taxas batem recorde. Com isso, a situação fiscal só piora, pois é necessário mais dinheiro para honrar os compromissos com os credores. Como não há recursos suficientes, o Tesouro é obrigado a emitir mais papéis, empurrando o total de débitos para níveis alarmantes. A Fitch prevê que a dívida bruta chegue aos 70% do PIB no fim de 2016. Os analistas projetam 80% até 2018.
Sem um ajuste fiscal consistente, não há como interromper essa trajetória explosiva. Os arremedos propostos pelos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, dão apenas um alívio de curto prazo. Mas nem mesmo esses tapa-buracos saíram do papel. Quase 80% deles dependem de aprovação do Congresso, que não tem outra pauta que não seja o impeachment de Dilma.
Um conceituado técnico do governo diz que, neste momento, o único ajuste fiscal em execução é o controle na boca do caixa do Tesouro. O problema é que esse mecanismo abriu espaço para suspeição. O Tribunal de Contas da União (TCU) determinou novas investigações para checar se a administração Dilma continua fazendo as pedaladas fiscais que levaram o órgão a propor ao Congresso a rejeição das contas da petista de 2014, ou seja, o governo Dilma só se enrola nos próprios erros e leva o país para o buraco. Mesmo ciente do desastre que provocou no país ao aceitar mais inflação e destruir as contas públicas, a petista finge que acredita que tudo está bem, que tudo não passa de complô de "moralistas sem moral" para dar um golpe e defenestrá-la do poder.
Títulos da crise
Em vez de organizar a base política para aprovar projetos importantes no Congresso, a fim de dar uma direção aos agentes econômicos, Planalto se atropela em negociações vergonhosas para tentar salvar Dilma e Cunha
A decisão da agência de classificação de risco Fitch de cortar a nota do Brasil não teve o impacto devastador do anúncio feito pela Standard & Poor"s (S&P), que retirou o selo de bom pagador do país, mas mostrou um quadro desolador da economia brasileira. O que se vê nas justificativas da Fitch para o rebaixamento é uma nação à deriva. Não há nenhum sinal de melhora à vista. Se algo pode acontecer, é para pior.
O Brasil de Dilma Rousseff está quebrado. A opção da presidente de seguir o modelo econômico defendido pelo PT, que foi derrotado várias vezes antes de Lula assumir a defesa da estabilidade, promoveu um estrago tão grande, que, para juntar o cacos, levará anos. O mais assustador é que não há nenhum projeto efetivo para tirar o país do atoleiro, apenas promessas inconsistentes, como a de estabilizar a dívida pública, que caminha firmemente para os 70% do Produto Interno Bruto (PIB).
A falta de capacidade do governo de retomar o controle da situação é explícita. Em vez de organizar a base política para aprovar projetos importantes no Congresso a fim de dar uma direção, ainda que mínima, aos agentes econômicos, o Palácio do Planalto se atropela em negociações vergonhosas com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, para livrá-lo da cassação e impedir o impeachment de Dilma.
O descompromisso com a economia real é tamanho, que parte do governo preferiu comemorar a reação dos mercados diante do rebaixamento do país pela Fitch do que mostrar preocupação e medidas concretas para o resgate da confiança. Esse grupo atribuiu a queda do dólar e a alta da bolsa a um sinal de que os investidores já não dão tanta importância às manifestações das agências de risco. Trata-se de uma visão equivocada.
Na verdade, os mercados estão precificando o possível afastamento de Dilma. Para algumas casas bancárias, são de 80% as chances de o governo da petista ser interrompido. Além disso, a situação do Brasil é tão ruim que, neste momento, os investidores estão preferindo se apegar a fatores externos para guiar os negócios. O dólar e a bolsa de valores estão oscilando de acordo com os sinais emitidos pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, de que a alta de juros na maior economia do planeta ficará para 2016. Isso mostra, porém, uma vulnerabilidade maior do país. Se algo de ruim acontecer lá fora, o impacto por aqui será brutal.
Tapa-buracos
A conta do descaso do governo só aumenta. O Tesouro Nacional, responsável por administrar a dívida do país, está sendo obrigado a pagar juros cada vez maiores para se financiar no mercado. A cada leilão semanal de títulos, as taxas batem recorde. Com isso, a situação fiscal só piora, pois é necessário mais dinheiro para honrar os compromissos com os credores. Como não há recursos suficientes, o Tesouro é obrigado a emitir mais papéis, empurrando o total de débitos para níveis alarmantes. A Fitch prevê que a dívida bruta chegue aos 70% do PIB no fim de 2016. Os analistas projetam 80% até 2018.
Sem um ajuste fiscal consistente, não há como interromper essa trajetória explosiva. Os arremedos propostos pelos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, dão apenas um alívio de curto prazo. Mas nem mesmo esses tapa-buracos saíram do papel. Quase 80% deles dependem de aprovação do Congresso, que não tem outra pauta que não seja o impeachment de Dilma.
Um conceituado técnico do governo diz que, neste momento, o único ajuste fiscal em execução é o controle na boca do caixa do Tesouro. O problema é que esse mecanismo abriu espaço para suspeição. O Tribunal de Contas da União (TCU) determinou novas investigações para checar se a administração Dilma continua fazendo as pedaladas fiscais que levaram o órgão a propor ao Congresso a rejeição das contas da petista de 2014, ou seja, o governo Dilma só se enrola nos próprios erros e leva o país para o buraco. Mesmo ciente do desastre que provocou no país ao aceitar mais inflação e destruir as contas públicas, a petista finge que acredita que tudo está bem, que tudo não passa de complô de "moralistas sem moral" para dar um golpe e defenestrá-la do poder.
Títulos da crise
- Ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas Gomes recomenda ao Tesouro Nacional que não sancione mais o aumento dos juros da dívida pública. Em vez de oferecer ao mercado títulos com taxas prefixadas, elevadíssimas, que passe a ofertar papéis corrigidos pela Selic, de 14,25% ao ano, com prazos de vencimento mais curtos.
O verdadeiro ajuste
- Carlos Thadeu ressalta que ajuste de verdade quem está fazendo é a população. Com o tarifaço promovido pelo governo, a inflação caminhando para 10% e o crédito caro e escasso, as famílias foram obrigadas a cortar gastos, inclusive com alimentação, para evitar o descontrole orçamentário que pode resultar em calote.
O verdadeiro ajuste
- Carlos Thadeu ressalta que ajuste de verdade quem está fazendo é a população. Com o tarifaço promovido pelo governo, a inflação caminhando para 10% e o crédito caro e escasso, as famílias foram obrigadas a cortar gastos, inclusive com alimentação, para evitar o descontrole orçamentário que pode resultar em calote.
Partidarização das agências reguladoras - PEDRO DUTRA
Folha de SP - 16/10
Prevista e anunciada, a notícia afinal chegou: perdeu o Brasil grau de investimento. Primeiro pela agência Standard and Poor's no começo do mês passado. Agora, nesta quinta-feira (15), a agência de classificação de risco Fitch também rebaixou a nota do país.
Antes, porém, o Brasil já perdera o grau de regulação das agências, não por acaso.
O governo Dilma Rousseff, como ocorreu com aquele que o precedeu, até agora tem visto as agências reguladoras, dotadas de independência técnica e decisória, como um decidido adversário a lhe tolher a ação, privando-o de impor o que entende ser o melhor aos usuários de serviços públicos.
Este governo e o anterior não estão sós. Suas políticas contaram com o apoio de parte da cultura jurídica brasileira, que defende que a ação das agências se conforme ao programa do governo, sob pena de se ter uma fraude ao voto majoritário.
Além disso, sendo o presidente da República o chefe do Poder Executivo, todos os funcionários públicos estariam subordinados a seu comando, os titulares das agências reguladoras inclusive, mesmo a eles assegurado em lei independência decisória e mandato fixo.
E assim foi feito. A maioria das indicações de titulares das agências passou a obedecer a critério partidário, alijados os experientes quadros técnicos desses órgãos.
Ignorou o governo a advertência de advogados e economistas, e também de investidores nacionais e estrangeiros, de que a partidarização da ação regulatória, há muito vedada nas economias democráticas, iria importar em redução, se não em recusa, de novos investimentos.
Curiosamente, a política do governo federal fez adeptos entre alguns governos estaduais –de oposição inclusive. Ampliou-se, assim, uma aversão ao investimento privado, vendo-se no centenário regime de concessão de serviços públicos ao setor privado, e nas garantias que este naturalmente necessita para aceitar prestá-los, um desafio, se não uma afronta, à política ditada pelo governo.
Não estranha, portanto, que titulares do governo federal e de governos estaduais deliberadamente descumpram cláusulas de contratos de concessão firmados por seus antecessores e celebrem publicamente essa violação.
Mesmo cientes de que tais investidas vêm sendo repudiadas pelos tribunais superiores do país, havendo o Supremo Tribunal Federal já decidido que cabe às agências, e não ao Poder Executivo, cumprir tais contratos.
Nessa conduta assombra o desprezo pela experiência, cuja lição é clara: à regulação técnica, não partidária e exercida na forma da lei, segue o investimento. Somente o despreparo administrativo e o preconceito ideológico são capazes de cegar essa evidência. Até o momento, eles têm triunfado, ante a um país atônito.
Prevista e anunciada, a notícia afinal chegou: perdeu o Brasil grau de investimento. Primeiro pela agência Standard and Poor's no começo do mês passado. Agora, nesta quinta-feira (15), a agência de classificação de risco Fitch também rebaixou a nota do país.
Antes, porém, o Brasil já perdera o grau de regulação das agências, não por acaso.
O governo Dilma Rousseff, como ocorreu com aquele que o precedeu, até agora tem visto as agências reguladoras, dotadas de independência técnica e decisória, como um decidido adversário a lhe tolher a ação, privando-o de impor o que entende ser o melhor aos usuários de serviços públicos.
Este governo e o anterior não estão sós. Suas políticas contaram com o apoio de parte da cultura jurídica brasileira, que defende que a ação das agências se conforme ao programa do governo, sob pena de se ter uma fraude ao voto majoritário.
Além disso, sendo o presidente da República o chefe do Poder Executivo, todos os funcionários públicos estariam subordinados a seu comando, os titulares das agências reguladoras inclusive, mesmo a eles assegurado em lei independência decisória e mandato fixo.
E assim foi feito. A maioria das indicações de titulares das agências passou a obedecer a critério partidário, alijados os experientes quadros técnicos desses órgãos.
Ignorou o governo a advertência de advogados e economistas, e também de investidores nacionais e estrangeiros, de que a partidarização da ação regulatória, há muito vedada nas economias democráticas, iria importar em redução, se não em recusa, de novos investimentos.
Curiosamente, a política do governo federal fez adeptos entre alguns governos estaduais –de oposição inclusive. Ampliou-se, assim, uma aversão ao investimento privado, vendo-se no centenário regime de concessão de serviços públicos ao setor privado, e nas garantias que este naturalmente necessita para aceitar prestá-los, um desafio, se não uma afronta, à política ditada pelo governo.
Não estranha, portanto, que titulares do governo federal e de governos estaduais deliberadamente descumpram cláusulas de contratos de concessão firmados por seus antecessores e celebrem publicamente essa violação.
Mesmo cientes de que tais investidas vêm sendo repudiadas pelos tribunais superiores do país, havendo o Supremo Tribunal Federal já decidido que cabe às agências, e não ao Poder Executivo, cumprir tais contratos.
Nessa conduta assombra o desprezo pela experiência, cuja lição é clara: à regulação técnica, não partidária e exercida na forma da lei, segue o investimento. Somente o despreparo administrativo e o preconceito ideológico são capazes de cegar essa evidência. Até o momento, eles têm triunfado, ante a um país atônito.
A glória da burrice - JOSÉ PIO MARTINS
GAZETA DO POVO - PR - 16/10
Inconformado com a estupidez do governo e dos políticos dos anos 50 e 60, que batiam no peito e gritavam que nunca iriam autorizar empresas multinacionais a produzirem petróleo no Brasil, Roberto Campos desabafou dizendo que “a burrice no Brasil tem um passado glorioso e um futuro promissor”. A angústia do grande economista era que, enquanto rejeitava capitais de risco dispostos a investir na produção de petróleo aqui, o governo sofria em busca de empréstimos (a juros altos) para fazer importações do produto.
Roberto Campos não entendia que lógica o governo e os políticos viam na ideia de que mendigar empréstimos internacionais e ficar na dependência de suprimento externo era melhor que atrair empresas estrangeiras para a produção em território nacional. Quando veio a crise do petróleo, em 1973, e o preço do barril pulou de US$ 3,20 para US$ 14, o Brasil importava 75% do consumo, a dívida externa explodiu e o país quebrou. A frase de Roberto Campos foi profética. A burrice provou sua glória passada como, após a morte do autor, em 9 de outubro de 2001, continuou firme rumo ao futuro promissor.
Inconformado com a estupidez do governo e dos políticos dos anos 50 e 60, que batiam no peito e gritavam que nunca iriam autorizar empresas multinacionais a produzirem petróleo no Brasil, Roberto Campos desabafou dizendo que “a burrice no Brasil tem um passado glorioso e um futuro promissor”. A angústia do grande economista era que, enquanto rejeitava capitais de risco dispostos a investir na produção de petróleo aqui, o governo sofria em busca de empréstimos (a juros altos) para fazer importações do produto.
Roberto Campos não entendia que lógica o governo e os políticos viam na ideia de que mendigar empréstimos internacionais e ficar na dependência de suprimento externo era melhor que atrair empresas estrangeiras para a produção em território nacional. Quando veio a crise do petróleo, em 1973, e o preço do barril pulou de US$ 3,20 para US$ 14, o Brasil importava 75% do consumo, a dívida externa explodiu e o país quebrou. A frase de Roberto Campos foi profética. A burrice provou sua glória passada como, após a morte do autor, em 9 de outubro de 2001, continuou firme rumo ao futuro promissor.
Exemplo soberbo da burrice nacional são os entraves à participação na globalização. Levantamento da Câmara de Comércio Mundial informa que o Brasil continua sendo o país mais fechado para o comércio exterior entre todas as nações do G20, ficando com nota 2,3 em 2015 (a escala vai de 1 a 6), atrás de Argentina e Índia. Para piorar, o país caiu da 57.ª para a 75.ª posição, entre 140 países, no ranking da competitividade global publicado pelo Fórum Econômico Global – perdendo, assim, 18 posições.
Mas o que é essa tal globalização? Para começar, é uma necessidade, em face da superpopulação. O planeta atingiu 1 bilhão de habitantes somente em 1830. Em apenas 100 anos, a população dobrou. Hoje, já somos 7,3 bilhões. A globalização é a possibilidade de um habitante de Berlim comer um mamão produzido em Manaus, um morador de Maringá poder comer trigo produzido na França ou uma maçã da Argentina, um doente na China poder curar-se com um medicamento feito na Bélgica, ou um esquerdista francês poder escrever contra a globalização em seu notebook coreano.
As necessidades humanas estão onde as pessoas estão; as condições adequadas à produção, não. O Brasil tem terra fértil e clima favorável à soja, mas não tem para o trigo. Certos países têm petróleo, mas não têm comida. Quanto mais os países se especializarem naquilo em que são mais produtivos e eficientes, melhores serão as chances de elevação do bem-estar via comércio exterior. Ademais, ao comércio seguem-se os investimentos e, a estes, segue-se a transferência de tecnologia. O nacionalismo protecionista condena o país ao isolamento e ao atraso. Nenhum país do mundo – nem mesmo os Estados Unidos – consegue gerar toda a tecnologia requerida para seu crescimento.
Mas o que é essa tal globalização? Para começar, é uma necessidade, em face da superpopulação. O planeta atingiu 1 bilhão de habitantes somente em 1830. Em apenas 100 anos, a população dobrou. Hoje, já somos 7,3 bilhões. A globalização é a possibilidade de um habitante de Berlim comer um mamão produzido em Manaus, um morador de Maringá poder comer trigo produzido na França ou uma maçã da Argentina, um doente na China poder curar-se com um medicamento feito na Bélgica, ou um esquerdista francês poder escrever contra a globalização em seu notebook coreano.
As necessidades humanas estão onde as pessoas estão; as condições adequadas à produção, não. O Brasil tem terra fértil e clima favorável à soja, mas não tem para o trigo. Certos países têm petróleo, mas não têm comida. Quanto mais os países se especializarem naquilo em que são mais produtivos e eficientes, melhores serão as chances de elevação do bem-estar via comércio exterior. Ademais, ao comércio seguem-se os investimentos e, a estes, segue-se a transferência de tecnologia. O nacionalismo protecionista condena o país ao isolamento e ao atraso. Nenhum país do mundo – nem mesmo os Estados Unidos – consegue gerar toda a tecnologia requerida para seu crescimento.
Quando proibiu a importação de computadores, componentes eletrônicos e tecnologia, e também proibiu empresários estrangeiros de investirem em empresas de informática em nosso território, a lei de reserva de mercado de informática (que durou até 1991) cometeu grave crime econômico contra o povo brasileiro. Mas os nacionalistas – de direita (inclusive alguns militares) e de esquerda – reivindicavam medalhas de defensores da pátria. Lamentável!
Apesar da repetição do fracasso desse tipo de nacionalismo, continuamos insistindo na mesma rota. Definitivamente, a burrice no Brasil tem garantido um futuro promissor.
Apesar da repetição do fracasso desse tipo de nacionalismo, continuamos insistindo na mesma rota. Definitivamente, a burrice no Brasil tem garantido um futuro promissor.
Vanguarda do atraso - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 16/10
"O Brasil não perde oportunidade de perder oportunidades." A frase, repetida por Roberto Campos, traduz tendência inapelável da burocracia verde-amarela. Exemplos não faltam. O mais recente figura no decreto que reduz despesas com viagens e carros oficiais. A crise que joga o país em tsunami de incertezas seria ocasião para promover mudanças substanciais na administração pública.
Não é o que se viu. Remendos tomaram o lugar de guinada efetiva. Em vez de novo paradigma, o governo manteve o modelo. Mudou para deixar tudo como está. Classe executiva substitui a primeira classe. Ora, se a viagem é indispensável, o servidor deve receber passagem na classe econômica. Se quer regalias, ninguém o proíbe. Basta desembolsar a diferença.
Números divulgados pelo Ministério do Planejamento falam alto. No ano passado, a União gastou quase R$ 500 milhões em idas e vindas aéreas de funcionários. Do total, R$ 470 milhões na classe econômica; R$ 12,4 milhões na executiva e R$ 280 mil na primeira. À primeira vista, a diferença parece pouco significativa. Mas, mais do que valores, conta a simbologia - a determinação efetiva de pôr ponto final em vantagens que caracterizam o subdesenvolvimento.
Outro emblema do atraso é o carro oficial. Nada menos contemporâneo do que veículo, motorista e combustível sustentados pelo contribuinte. Eles funcionam como a velha carteirada sintetizada no "sabe com quem está falando"? No caso, não há necessidade nem de perguntar nem de se expor à justa indignação de brasileiros submetidos a uma das mais pesadas cargas tributárias do mundo sem receber a necessária contrapartida. Sentar-se no banco de trás é suficiente.
Os recursos, sempre escassos, precisam ser aplicados em rubrica que atenda o bem comum. País cuja educação pede socorro, cuja saúde agoniza, cuja mobilidade imobiliza, cuja segurança é mais precária que a de nações em guerra não tem o direito de conjugar o verbo desperdiçar. A qualidade dos gastos tem de ser obsessão do administrador.
Em vez de lustrar o ego de ministros, secretários ou diretores, o dinheiro arrecadado da sociedade tem de servir à sociedade, não se servir dela. O governo, se quer mudar de verdade, deve acabar com o carro oficial e moralizar as viagens de servidores. Em primeiro lugar, proibir o pagamento de tarifa cheia. Em segundo, apropriar-se das milhas acumuladas. Elas pertencem ao Estado. Com os pontos, outros viajarão sem onerar o Tesouro. A crise impõe mudanças radicais. Puxadinhos não valem.
"O Brasil não perde oportunidade de perder oportunidades." A frase, repetida por Roberto Campos, traduz tendência inapelável da burocracia verde-amarela. Exemplos não faltam. O mais recente figura no decreto que reduz despesas com viagens e carros oficiais. A crise que joga o país em tsunami de incertezas seria ocasião para promover mudanças substanciais na administração pública.
Não é o que se viu. Remendos tomaram o lugar de guinada efetiva. Em vez de novo paradigma, o governo manteve o modelo. Mudou para deixar tudo como está. Classe executiva substitui a primeira classe. Ora, se a viagem é indispensável, o servidor deve receber passagem na classe econômica. Se quer regalias, ninguém o proíbe. Basta desembolsar a diferença.
Números divulgados pelo Ministério do Planejamento falam alto. No ano passado, a União gastou quase R$ 500 milhões em idas e vindas aéreas de funcionários. Do total, R$ 470 milhões na classe econômica; R$ 12,4 milhões na executiva e R$ 280 mil na primeira. À primeira vista, a diferença parece pouco significativa. Mas, mais do que valores, conta a simbologia - a determinação efetiva de pôr ponto final em vantagens que caracterizam o subdesenvolvimento.
Outro emblema do atraso é o carro oficial. Nada menos contemporâneo do que veículo, motorista e combustível sustentados pelo contribuinte. Eles funcionam como a velha carteirada sintetizada no "sabe com quem está falando"? No caso, não há necessidade nem de perguntar nem de se expor à justa indignação de brasileiros submetidos a uma das mais pesadas cargas tributárias do mundo sem receber a necessária contrapartida. Sentar-se no banco de trás é suficiente.
Os recursos, sempre escassos, precisam ser aplicados em rubrica que atenda o bem comum. País cuja educação pede socorro, cuja saúde agoniza, cuja mobilidade imobiliza, cuja segurança é mais precária que a de nações em guerra não tem o direito de conjugar o verbo desperdiçar. A qualidade dos gastos tem de ser obsessão do administrador.
Em vez de lustrar o ego de ministros, secretários ou diretores, o dinheiro arrecadado da sociedade tem de servir à sociedade, não se servir dela. O governo, se quer mudar de verdade, deve acabar com o carro oficial e moralizar as viagens de servidores. Em primeiro lugar, proibir o pagamento de tarifa cheia. Em segundo, apropriar-se das milhas acumuladas. Elas pertencem ao Estado. Com os pontos, outros viajarão sem onerar o Tesouro. A crise impõe mudanças radicais. Puxadinhos não valem.
O jacaré do Lula - BERNARDO MELLO FRANCO
Folha de SP - 16/10
Sempre que os adversários tentavam esconder algum fato incômodo, o ex-governador Leonel Brizola sacava uma expressão debochada. "Se tem dente de jacaré, couro de jacaré, olho de jacaré... como não é jacaré?", ele perguntava.
A ex-brizolista Dilma Rousseff deve ter se lembrado disso ao repetir, nesta quarta, que a ofensiva para cassar seu mandato é uma tentativa de golpe. "Tem cara de golpe, pé de golpe, mão de golpe. Mas tenta passar como sendo uma manifestação oposicionista", afirmou a presidente.
Enquanto Dilma discursava em São Bernardo do Campo, o morador mais ilustre da cidade voava para Brasília. O que Lula foi fazer na capital tem cara de acordão, pé de acordão e mão de acordão. Ele tenta negociar um cessar-fogo entre o governo e o deputado Eduardo Cunha.
Os petistas temem que Cunha aceite um novo pedido de impeachment contra Dilma. Cunha teme que os petistas apoiem a cassação de seu mandato. A convergência de interesses aproximou os inimigos. E irritou a oposição, que já havia se oferecido para salvar a pele do deputado.
Nos últimos dias, Cunha se reuniu com dois ministros próximos de Lula: Edinho Silva e Jaques Wagner. O chefe da Casa Civil chegou a encontrá-lo na base aérea de Brasília, um cenário tradicional de conversas que não podem ser divulgadas.
A trama está em curso, mas é difícil acreditar no sucesso do acordão. Por um lado, o governo não tem como garantir a impunidade de Cunha, que foi denunciado ao STF por corrupção. Por outro, o peemedebista já deixou claro que aproveitará qualquer chance para apunhalar Dilma.
Como é praxe, o deputado e o ex-presidente evitam confessar o inconfessável. A assessoria de Lula chamou as notícias sobre o assunto de "escandalosamente mentirosas". Em escândalos passados, o petista também tentou esconder o rabo do jacaré enquanto orientava o PT a salvar os mandatos dos senadores Renan Calheiros e José Sarney.
Sempre que os adversários tentavam esconder algum fato incômodo, o ex-governador Leonel Brizola sacava uma expressão debochada. "Se tem dente de jacaré, couro de jacaré, olho de jacaré... como não é jacaré?", ele perguntava.
A ex-brizolista Dilma Rousseff deve ter se lembrado disso ao repetir, nesta quarta, que a ofensiva para cassar seu mandato é uma tentativa de golpe. "Tem cara de golpe, pé de golpe, mão de golpe. Mas tenta passar como sendo uma manifestação oposicionista", afirmou a presidente.
Enquanto Dilma discursava em São Bernardo do Campo, o morador mais ilustre da cidade voava para Brasília. O que Lula foi fazer na capital tem cara de acordão, pé de acordão e mão de acordão. Ele tenta negociar um cessar-fogo entre o governo e o deputado Eduardo Cunha.
Os petistas temem que Cunha aceite um novo pedido de impeachment contra Dilma. Cunha teme que os petistas apoiem a cassação de seu mandato. A convergência de interesses aproximou os inimigos. E irritou a oposição, que já havia se oferecido para salvar a pele do deputado.
Nos últimos dias, Cunha se reuniu com dois ministros próximos de Lula: Edinho Silva e Jaques Wagner. O chefe da Casa Civil chegou a encontrá-lo na base aérea de Brasília, um cenário tradicional de conversas que não podem ser divulgadas.
A trama está em curso, mas é difícil acreditar no sucesso do acordão. Por um lado, o governo não tem como garantir a impunidade de Cunha, que foi denunciado ao STF por corrupção. Por outro, o peemedebista já deixou claro que aproveitará qualquer chance para apunhalar Dilma.
Como é praxe, o deputado e o ex-presidente evitam confessar o inconfessável. A assessoria de Lula chamou as notícias sobre o assunto de "escandalosamente mentirosas". Em escândalos passados, o petista também tentou esconder o rabo do jacaré enquanto orientava o PT a salvar os mandatos dos senadores Renan Calheiros e José Sarney.
O dia a dia da nossa corrupção - ALBERTO CARLOS ALMEIDA
VALOR ECONÔMICO - 16/10
O que cidadãos em geral, empresários e alguns políticos gostariam é que a corrupção no Brasil fosse reduzida. Sonhar não custa nada, há aqueles que desejam que ela simplesmente acabe. Nada é mais comum em época de escândalo da Lava-Jato do que estarmos em conversas sociais, em festas de aniversário, eventos, confraternizações, e dialogarmos sobre a corrupção no país. Com rapidez, surgem afirmações do tipo: que absurdo é a política, quanta roubalheira, o Brasil não tem jeito mesmo, a corrupção é deslavada, me sinto envergonhado, pesam sobre todos os políticos escândalos e denúncias de corrupção.
O diálogo social caminha, com muita frequência, para o nome do juiz Sérgio Moro. Ele é elogiado como sendo exemplo de quem colocará o país nos eixos, como a pessoa e o profissional que mudará a história do Brasil, e então as esperanças de mudança são depositadas na Justiça Federal de Curitiba. Há ainda aqueles que, mais informados, consideram que o fatiamento da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) é um grande revés no combate à corrupção. As realizações de Moro são, para essas pessoas, inebriantes: ele é o cara, somente ele será capaz de fazer justiça.
Em tais diálogos sociais é praticamente impossível levantar um tema correlato, aquele que relaciona a corrupção no mundo político aos pequenos e diários atos de corrupção de toda a sociedade brasileira. Vale aqui um parêntese. A palavra corrupção é aplicada neste artigo de maneira ampla, não caracteriza atos relacionados somente ao setor público, mas também ações moralmente correlatas praticadas na vida diária e no setor privado. Pois bem, a grande questão que o Brasil precisa discutir é até que ponto seremos capazes de combater a corrupção em Brasília, nos governos estaduais, nas prefeituras, se toda a sociedade comete constantemente delitos ou tão somente quebras de regas que são funcionalmente idênticas a um ato de corrupção.
Quem tem filhos menores de 18 anos sabe que há em São Paulo a possibilidade de obtenção de uma carteira de identidade na qual o menor passa a ter mais de 18 anos. O objetivo é simples: possibilitar que o jovem passe a frequentar shows, espetáculos e baladas que exigem a maioridade como idade mínima. É comum que o menor chegue em casa afirmando que todos os amigos já fazem parte de um grupo que vai requisitar esse novo RG e que, se ele não for parte desse grupo, será discriminado e, mais grave, não poderá ir aos mesmos lugares que seus colegas passarão a frequentar. Ora, se os pais sabem que isso acontece, é bem provável que as autoridades policiais e judiciárias também saibam. Adicionalmente, os pais acabam por aceitar a demanda de seus filhos tornando-os todos, pais e filhos, transgressores e cúmplices. Cabe a pergunta: nossos deputados federais não são, ao fim e ao cabo, bons representantes de nossos atos?
Circula também a informação de que há transgressões da mesma natureza no relacionamento comercial denominado "business to business". Quando uma empresa fornece serviços para outra empresa há, em geral, algum tipo de concorrência. A empresa contratante solicita propostas de diversos fornecedores, uma proposta técnica, com as especificações do serviço, e também e obviamente o preço. Afirma-se que, em muitos casos, a empresa contratada é aquela que paga alguma coisa para os que têm o poder de decisão na empresa contratante. Utiliza-se, inclusive, um nome simpático e inofensivo para isso: chama-se "deu bola", ou "pagou bola". Cabe buscar saber quão disseminado é esse procedimento. Certamente, muitos de nós já ouvimos falar dele. De novo, aqui se aplica a pergunta: nossos deputados federais não são, ao fim e ao cabo, bons representantes de nossos atos?
Recentemente, foi feita uma pesquisa entre 1.100 alunos do ensino médio e superior, pessoas de 16 a 30 anos de idade, de ambos os sexos, e se constatou que 69% já haviam colado em provas, 68% já tinham copiado textos da internet para colocar em trabalhos e 59% já haviam assinado a lista de presença em nome de colegas. Mais da metade já tinha marcado a presença para outra pessoa. Qualquer semelhança com o que ocorre em Brasília não é mera coincidência. É aqui que entram nossos representantes. É lamentável constatar, mas eles nos representam fielmente - inclusive Fernando Collor, por mais que isso nos cause indignação.
É possível que o mesmo estudante que tenha marcado a presença para um colega venha a se tornar político, talvez vereador ou deputado estadual - não precisamos chegar em Brasília. Se ele se tornar um representante do povo, já terá cometido transgressões em sua vida social, pequenos ilícitos ou quase ilícitos. A partir daí, um pequeno passo o impede de fazer o mesmo dentro da administração pública: a chance de fazê-lo e a percepção de que não haverá consequências para sua carreira.
Nós, brasileiros, temos imensa dificuldade para cumprir a lei, cumprir regras. Essa dificuldade tem a ver com a forma como entendemos as relações entre Estado e sociedade e a genealogia das leis. No Brasil, o Estado é visto como um ente inteiramente separado da sociedade. O Estado é uma coisa e a sociedade é outra. São coisas estanques, separadas, que se relacionam, sim, mas que funcionam com suas próprias lógicas. Procure prestar atenção a seus diálogos com filhos e amigos para ver como você se refere ao Estado, e como se refere à sociedade. Nossa visão cultural é diferente, por exemplo, da que têm os americanos, que veem os dois entes como superpostos, entrelaçados e entranhados um no outro. Para eles, não há um Estado lá e uma sociedade aqui, mas há os dois conjuntamente.
O passo seguinte, como vemos o nascimento das leis, tem a ver com isso. Para nós, leis e regras foram feitas por pessoas longe de nós, aqueles "carinhas lá", que fizeram isso para nos prejudicar, para nos f#$%. Foi exatamente esse o argumento dos motoristas quando a velocidade máxima foi reduzida a 50 km/h em várias vias de São Paulo. Virou lugar comum afirmar que "aqueles caras querem prejudicar a nós, os motoristas". Ou: "Eles não sabem quais são nossas reais demandas, não sabem como nossa vida já é difícil, aí, eles, que estão lá longe, no Estado, decidiram por uma regra que prejudica a nós, aqui na sociedade". Muitos imaginaram estratégias para burlar a lei, sendo a mais fácil e óbvia acelerar muito entre os radares e diminuir para 50 quando se aproximassem os controles.
O resultado dessa visão de mundo é que a lei desfruta de pouca legitimidade no Brasil. As pessoas são reticentes em cumpri-la, e quando o fazem ficam de olho na primeira possibilidade de transgredi-la. Há aqueles que, diante disso, argumentam simplesmente que não cumprem a lei porque os outros não o fazem. Nesse cenário, cumpri-la seria um ato de otário. Ora, há uma questão que antecede: provavelmente, a mesma pessoa que utiliza o argumento de que os outros não cumprem a lei não vê legitimidade na lei, não considera legítima a maneira com que se chegou a ela. De novo, não custa repetir, a lei tende a ser vista como algo feito por "aqueles caras lá", no governo, que não sabem das dificuldades que passamos, aqui na sociedade. Eis a justificativa perfeita para não cumprir a lei.
Minha suspeita é que a corrupção é muito disseminada. Não acontece somente em Brasília, é grande nas prefeituras e nos governos estaduais, nas assembleias legislativas, nas câmaras de vereadores, em suma, em todo o setor público. Ocorre em secretarias municipais, em empresas públicas, e muitos órgãos da administração pública. Também suspeito que o procedimento de "dar bola" seja muito disseminado entre empresas clientes e fornecedoras, assim como é avassalador o desrespeito às leis do trânsito, o simples furar o sinal vermelho.
É fácil enxergar o que fazem os políticos em Brasília e defender que eles sejam punidos. Eles estão longe, são "aqueles mesmos carinhas lá" que fazem as leis. Difícil é ver quando nós mesmos não seguimos as regras e leis. Não somos capazes de ver, e quando o fazemos, temos uma boa justificativa, da mesma maneira que as têm os políticos em Brasília. O desafio é identificarmos nossas transgressões e as combatermos.
Diante desse cenário, Sérgio Moro é importante, mas não resolve. Ele é importante porque as investigações que chefia estão tendo impacto sobre o funcionamento do sistema político e também sobre a atividade econômica, mas a solução para a redução da corrupção é bem mais ampla. O mensalão ocorreu em 2005 e o julgamento foi em 2012. Políticos muito poderosos já perderam seus mandatos e alguns nunca voltaram a ser o que eram antes - casos de José Dirceu, o todo-poderoso ministro da Casa Civil, e de Ibsen Pinheiro, que havia sido presidente da Câmara dos Deputados. É possível citar muitos outros. Nada disso impediu que as práticas sociais continuassem em Brasília e em outros níveis do setor público.
Alguns dirão que os políticos não foram presos em número suficiente, que é preciso prender ainda muitos talvez, até que se deem conta de que a corrupção é deletéria para suas vidas pessoais e carreiras. Pode ser. Difícil é saber quantos terão que ser punidos, ou a proporção que terá de ir para atrás das grades antes que haja sinal de redução da corrupção.
Fica aqui a reflexão: pode ser que todo o esforço da Justiça seja inglório se a sociedade não mudar, se todos os brasileiros, e não apenas os políticos, não passarem a respeitar mais as lei e as regras.
*Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário
O que cidadãos em geral, empresários e alguns políticos gostariam é que a corrupção no Brasil fosse reduzida. Sonhar não custa nada, há aqueles que desejam que ela simplesmente acabe. Nada é mais comum em época de escândalo da Lava-Jato do que estarmos em conversas sociais, em festas de aniversário, eventos, confraternizações, e dialogarmos sobre a corrupção no país. Com rapidez, surgem afirmações do tipo: que absurdo é a política, quanta roubalheira, o Brasil não tem jeito mesmo, a corrupção é deslavada, me sinto envergonhado, pesam sobre todos os políticos escândalos e denúncias de corrupção.
O diálogo social caminha, com muita frequência, para o nome do juiz Sérgio Moro. Ele é elogiado como sendo exemplo de quem colocará o país nos eixos, como a pessoa e o profissional que mudará a história do Brasil, e então as esperanças de mudança são depositadas na Justiça Federal de Curitiba. Há ainda aqueles que, mais informados, consideram que o fatiamento da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) é um grande revés no combate à corrupção. As realizações de Moro são, para essas pessoas, inebriantes: ele é o cara, somente ele será capaz de fazer justiça.
Em tais diálogos sociais é praticamente impossível levantar um tema correlato, aquele que relaciona a corrupção no mundo político aos pequenos e diários atos de corrupção de toda a sociedade brasileira. Vale aqui um parêntese. A palavra corrupção é aplicada neste artigo de maneira ampla, não caracteriza atos relacionados somente ao setor público, mas também ações moralmente correlatas praticadas na vida diária e no setor privado. Pois bem, a grande questão que o Brasil precisa discutir é até que ponto seremos capazes de combater a corrupção em Brasília, nos governos estaduais, nas prefeituras, se toda a sociedade comete constantemente delitos ou tão somente quebras de regas que são funcionalmente idênticas a um ato de corrupção.
Quem tem filhos menores de 18 anos sabe que há em São Paulo a possibilidade de obtenção de uma carteira de identidade na qual o menor passa a ter mais de 18 anos. O objetivo é simples: possibilitar que o jovem passe a frequentar shows, espetáculos e baladas que exigem a maioridade como idade mínima. É comum que o menor chegue em casa afirmando que todos os amigos já fazem parte de um grupo que vai requisitar esse novo RG e que, se ele não for parte desse grupo, será discriminado e, mais grave, não poderá ir aos mesmos lugares que seus colegas passarão a frequentar. Ora, se os pais sabem que isso acontece, é bem provável que as autoridades policiais e judiciárias também saibam. Adicionalmente, os pais acabam por aceitar a demanda de seus filhos tornando-os todos, pais e filhos, transgressores e cúmplices. Cabe a pergunta: nossos deputados federais não são, ao fim e ao cabo, bons representantes de nossos atos?
Circula também a informação de que há transgressões da mesma natureza no relacionamento comercial denominado "business to business". Quando uma empresa fornece serviços para outra empresa há, em geral, algum tipo de concorrência. A empresa contratante solicita propostas de diversos fornecedores, uma proposta técnica, com as especificações do serviço, e também e obviamente o preço. Afirma-se que, em muitos casos, a empresa contratada é aquela que paga alguma coisa para os que têm o poder de decisão na empresa contratante. Utiliza-se, inclusive, um nome simpático e inofensivo para isso: chama-se "deu bola", ou "pagou bola". Cabe buscar saber quão disseminado é esse procedimento. Certamente, muitos de nós já ouvimos falar dele. De novo, aqui se aplica a pergunta: nossos deputados federais não são, ao fim e ao cabo, bons representantes de nossos atos?
Recentemente, foi feita uma pesquisa entre 1.100 alunos do ensino médio e superior, pessoas de 16 a 30 anos de idade, de ambos os sexos, e se constatou que 69% já haviam colado em provas, 68% já tinham copiado textos da internet para colocar em trabalhos e 59% já haviam assinado a lista de presença em nome de colegas. Mais da metade já tinha marcado a presença para outra pessoa. Qualquer semelhança com o que ocorre em Brasília não é mera coincidência. É aqui que entram nossos representantes. É lamentável constatar, mas eles nos representam fielmente - inclusive Fernando Collor, por mais que isso nos cause indignação.
É possível que o mesmo estudante que tenha marcado a presença para um colega venha a se tornar político, talvez vereador ou deputado estadual - não precisamos chegar em Brasília. Se ele se tornar um representante do povo, já terá cometido transgressões em sua vida social, pequenos ilícitos ou quase ilícitos. A partir daí, um pequeno passo o impede de fazer o mesmo dentro da administração pública: a chance de fazê-lo e a percepção de que não haverá consequências para sua carreira.
Nós, brasileiros, temos imensa dificuldade para cumprir a lei, cumprir regras. Essa dificuldade tem a ver com a forma como entendemos as relações entre Estado e sociedade e a genealogia das leis. No Brasil, o Estado é visto como um ente inteiramente separado da sociedade. O Estado é uma coisa e a sociedade é outra. São coisas estanques, separadas, que se relacionam, sim, mas que funcionam com suas próprias lógicas. Procure prestar atenção a seus diálogos com filhos e amigos para ver como você se refere ao Estado, e como se refere à sociedade. Nossa visão cultural é diferente, por exemplo, da que têm os americanos, que veem os dois entes como superpostos, entrelaçados e entranhados um no outro. Para eles, não há um Estado lá e uma sociedade aqui, mas há os dois conjuntamente.
O passo seguinte, como vemos o nascimento das leis, tem a ver com isso. Para nós, leis e regras foram feitas por pessoas longe de nós, aqueles "carinhas lá", que fizeram isso para nos prejudicar, para nos f#$%. Foi exatamente esse o argumento dos motoristas quando a velocidade máxima foi reduzida a 50 km/h em várias vias de São Paulo. Virou lugar comum afirmar que "aqueles caras querem prejudicar a nós, os motoristas". Ou: "Eles não sabem quais são nossas reais demandas, não sabem como nossa vida já é difícil, aí, eles, que estão lá longe, no Estado, decidiram por uma regra que prejudica a nós, aqui na sociedade". Muitos imaginaram estratégias para burlar a lei, sendo a mais fácil e óbvia acelerar muito entre os radares e diminuir para 50 quando se aproximassem os controles.
O resultado dessa visão de mundo é que a lei desfruta de pouca legitimidade no Brasil. As pessoas são reticentes em cumpri-la, e quando o fazem ficam de olho na primeira possibilidade de transgredi-la. Há aqueles que, diante disso, argumentam simplesmente que não cumprem a lei porque os outros não o fazem. Nesse cenário, cumpri-la seria um ato de otário. Ora, há uma questão que antecede: provavelmente, a mesma pessoa que utiliza o argumento de que os outros não cumprem a lei não vê legitimidade na lei, não considera legítima a maneira com que se chegou a ela. De novo, não custa repetir, a lei tende a ser vista como algo feito por "aqueles caras lá", no governo, que não sabem das dificuldades que passamos, aqui na sociedade. Eis a justificativa perfeita para não cumprir a lei.
Minha suspeita é que a corrupção é muito disseminada. Não acontece somente em Brasília, é grande nas prefeituras e nos governos estaduais, nas assembleias legislativas, nas câmaras de vereadores, em suma, em todo o setor público. Ocorre em secretarias municipais, em empresas públicas, e muitos órgãos da administração pública. Também suspeito que o procedimento de "dar bola" seja muito disseminado entre empresas clientes e fornecedoras, assim como é avassalador o desrespeito às leis do trânsito, o simples furar o sinal vermelho.
É fácil enxergar o que fazem os políticos em Brasília e defender que eles sejam punidos. Eles estão longe, são "aqueles mesmos carinhas lá" que fazem as leis. Difícil é ver quando nós mesmos não seguimos as regras e leis. Não somos capazes de ver, e quando o fazemos, temos uma boa justificativa, da mesma maneira que as têm os políticos em Brasília. O desafio é identificarmos nossas transgressões e as combatermos.
Diante desse cenário, Sérgio Moro é importante, mas não resolve. Ele é importante porque as investigações que chefia estão tendo impacto sobre o funcionamento do sistema político e também sobre a atividade econômica, mas a solução para a redução da corrupção é bem mais ampla. O mensalão ocorreu em 2005 e o julgamento foi em 2012. Políticos muito poderosos já perderam seus mandatos e alguns nunca voltaram a ser o que eram antes - casos de José Dirceu, o todo-poderoso ministro da Casa Civil, e de Ibsen Pinheiro, que havia sido presidente da Câmara dos Deputados. É possível citar muitos outros. Nada disso impediu que as práticas sociais continuassem em Brasília e em outros níveis do setor público.
Alguns dirão que os políticos não foram presos em número suficiente, que é preciso prender ainda muitos talvez, até que se deem conta de que a corrupção é deletéria para suas vidas pessoais e carreiras. Pode ser. Difícil é saber quantos terão que ser punidos, ou a proporção que terá de ir para atrás das grades antes que haja sinal de redução da corrupção.
Fica aqui a reflexão: pode ser que todo o esforço da Justiça seja inglório se a sociedade não mudar, se todos os brasileiros, e não apenas os políticos, não passarem a respeitar mais as lei e as regras.
*Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário
Piada de brasileiro - NELSON MOTTA
O GLOBO - 16/10
No Castelo de São Jorge, lamento não estarmos na Idade Média, com as tropas de Dilma e de Cunha se massacrando mutuamente numa batalha sangrenta
Lisboa continua linda e continua sendo, onde se pode desfrutar da suprema liberdade de andar despreocupado pelas ruas a qualquer hora do dia ou da noite sem ser roubado, agredido ou morto, de comer bem e barato, de ser tratado com gentileza e respeito. Melancólicos por natureza, os portugueses estão mais animadinhos — pelo menos mais do que nós, os otimistas bravateiros: Portugal cresceu 0,9% em 2014, com inflação zero. E Dilma ainda culpa a crise internacional. Parece piada de brasileiro.
Na semana passada, a aliança de liberais e conservadores que sustenta o governo impôs uma derrota humilhante ao Partido Socialista, que, mesmo com seu ex-primeiro-ministro José Sócrates preso por corrupção, dava como certo voltar ao poder como alternativa às impopulares medidas de ajuste impostas pelo governo para enfrentar a crise. O povo não foi bobo e preferiu a austeridade eficiente ao populismo irresponsável que os levou à crise.
Um amigo português quer saber o que pode acontecer com Dilma e Eduardo Cunha. Tudo, inclusive nada, respondo enigmaticamente e pergunto: em que país Cunha poderia ser absolvido por um tribunal, um conselho de ética ou um plenário da Câmara, apesar de denunciado por cinco delatores e pela PGR com extratos bancários apresentados pela Procuradoria de Justiça da Suíça, como beneficiário de pelo menos cinco milhões de dólares de 23 contas em quatro países? Quem tem Cunha, tem medo.
Conto-lhe que Lula negocia com Eduardo Cunha a salvação de seu mandato e o de Dilma. Só imaginar os pedidos e ofertas de um e de outro, o cinismo, o ódio mútuo, o absoluto desprezo pela opinião pública, pela lei e pelas instituições, dá vontade de vomitar o vinho e o bacalhau.
Em frente ao Castelo de São Jorge, lamento não estarmos na Idade Média, com as tropas de Dilma e de Cunha se massacrando mutuamente numa batalha sangrenta, limpando o terreno para que novas forças políticas pudessem reconstruir o país destruído pela corrupção, incompetência e ambição de duas quadrilhas em disputa dos cofres do Estado.
O difícil é saber que novas forças são essas.
No Castelo de São Jorge, lamento não estarmos na Idade Média, com as tropas de Dilma e de Cunha se massacrando mutuamente numa batalha sangrenta
Lisboa continua linda e continua sendo, onde se pode desfrutar da suprema liberdade de andar despreocupado pelas ruas a qualquer hora do dia ou da noite sem ser roubado, agredido ou morto, de comer bem e barato, de ser tratado com gentileza e respeito. Melancólicos por natureza, os portugueses estão mais animadinhos — pelo menos mais do que nós, os otimistas bravateiros: Portugal cresceu 0,9% em 2014, com inflação zero. E Dilma ainda culpa a crise internacional. Parece piada de brasileiro.
Na semana passada, a aliança de liberais e conservadores que sustenta o governo impôs uma derrota humilhante ao Partido Socialista, que, mesmo com seu ex-primeiro-ministro José Sócrates preso por corrupção, dava como certo voltar ao poder como alternativa às impopulares medidas de ajuste impostas pelo governo para enfrentar a crise. O povo não foi bobo e preferiu a austeridade eficiente ao populismo irresponsável que os levou à crise.
Um amigo português quer saber o que pode acontecer com Dilma e Eduardo Cunha. Tudo, inclusive nada, respondo enigmaticamente e pergunto: em que país Cunha poderia ser absolvido por um tribunal, um conselho de ética ou um plenário da Câmara, apesar de denunciado por cinco delatores e pela PGR com extratos bancários apresentados pela Procuradoria de Justiça da Suíça, como beneficiário de pelo menos cinco milhões de dólares de 23 contas em quatro países? Quem tem Cunha, tem medo.
Conto-lhe que Lula negocia com Eduardo Cunha a salvação de seu mandato e o de Dilma. Só imaginar os pedidos e ofertas de um e de outro, o cinismo, o ódio mútuo, o absoluto desprezo pela opinião pública, pela lei e pelas instituições, dá vontade de vomitar o vinho e o bacalhau.
Em frente ao Castelo de São Jorge, lamento não estarmos na Idade Média, com as tropas de Dilma e de Cunha se massacrando mutuamente numa batalha sangrenta, limpando o terreno para que novas forças políticas pudessem reconstruir o país destruído pela corrupção, incompetência e ambição de duas quadrilhas em disputa dos cofres do Estado.
O difícil é saber que novas forças são essas.
A caminho de nova perda do grau de investimento - EDITORIAL VALOR ECONÔMICO
VALOR ECONÔMICO - 16/10
O Brasil caminha em linha reta rumo à perda de grau de investimento pela Fitch. O rebaixamento do país pela empresa de classificação de risco ontem, para o último degrau antes do grau de "especulativo" ou "junk" veio acompanhado de perspectiva negativa e condicionantes cuja reversão nos próximos 12 meses são muito difíceis, em especial o sucesso na consolidação fiscal, que detenha o rápido crescimento da dívida pública e a redução dos "riscos políticos e de governabilidade", que estão minando a confiança e as expectativas de recuperação. Apenas para voltar à perspectiva estável, a Fitch lista como fatores objetivos a estabilização da dívida; de novo a consolidação fiscal; redução nos desequilíbrios macroeconômicos; melhoria do ambiente para investimentos; crescimento e reformas. As chances de novo rebaixamento são superiores a 50%.
Ainda que seja possível ao governo romper a paralisia em que se encontra, não se vislumbram movimentos decisivos que levem à restauração da confiança e à recomposição de uma base política mais ou menos sólida no horizonte de tempo em que operam as avaliações das empresas de rating, ou seja, em 12 meses. A inação oficial, antes provocada pela falta de convicção na necessidade de rigoroso ajuste fiscal, logo sobre sua magnitude, foi em seguida reforçada pela crise política, que chegou agora às primeiras tentativas de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Pelo lado do ajuste, não há sinais positivos. Suas etapas seguintes - três Propostas de Emenda Constitucional, dois projetos de lei e três MPs - estão empacadas no Congresso, onde sequer têm parecer o início do processo (Valor, 15 de outubro). Duas PECs são vitais: a que desvincula o destino de 30% da arrecadação federal e a que cria a CPMF, com receita estimada de R$ 42 bilhões, capaz de virar o jogo fiscal a favor do equilíbrio. Essas ações buscam tornar viável um superávit primário de 0,7% do PIB em 2016, embora o esforço possa ser maior, pois a meta de R$ 5,8 bilhões, ou 0,15% do PIB, para este ano está ameaçada de frustração.
A Fitch prevê superávit nulo em 2016 (meta de 0,7%) e 0,5% no ano seguinte (meta de 1,2%). Para estabilizar a dívida, calcula que o esforço fiscal tenha de ser de 2% do PIB ao ano e, por isso, a dívida bruta - "alta e de custo maior" que em países com a mesma classificação do Brasil - deverá subir para 66% do PIB este ano, 69% em 2016 e 71% em 2017. O déficit nominal, em sua previsão, fechará 2015 em 9% do PIB e acima de 6% nos dois anos seguintes. É fácil supor que a simples manutenção da trajetória atual levará à perda do grau de investimento.
Um dos argumentos principais para a perspectiva negativa é o dos efeitos nefastos da crise política. O mau desempenho da economia e das contas públicas persistirá, para a Fitch, enquanto ela não for debelada. Não há novidade nisso. Se o governo seguir com sua continuidade ameaçada pelo fantasma do impeachment ou não reconstituir dos escombros sua base de apoio no Congresso até o fim do ano, a extensão dos estragos será bem maior até mesmo que a perda do grau de investimento por duas empresas de rating.
A situação é mais complicada, porque um governo fraco que luta pela sobrevivência e paga qualquer preço por ela, está ameaçado de não só ter suas medidas desfiguradas no Congresso, como também de engolir retrocessos, como projetos que atendem interesses clientelistas, que custam dinheiro.
Um exemplo premonitório ocorreu quando, pressionado por líderes partidários e carente de apoio, o governo deu sinal verde para a aprovação dos "jabutis" da MP 678 e mudança do escopo de seu objeto, a permissão do Regime Diferenciado de Contratação para construção de presídios e obras de segurança pública. O polêmico RDC, cuja extensão a todas as obras públicas havia sido barrada antes, foi estendido a obras e serviços de mobilidade urbana, logística (metrô, estradas, portos) e contratos de ciência, pesquisa e tecnologia. Junto vieram a renegociação da dívida do Proálcool em termos camaradas (15 anos de prazo, 3 de carência e juros de 3% ao ano) e a extensão do prazo para acabar com os lixões até agosto de 2018 (ele findou em agosto de 2014).
Se, acossado no campo político, o governo ao menos mostrasse determinação na defesa do ajuste econômico, teria alguma chance de sair do córner em que está. Mas, à primeira vitória contra o impeachment ressurge na corte governista o movimento pela saída do ministro da Fazenda. É desalentador.
O Brasil caminha em linha reta rumo à perda de grau de investimento pela Fitch. O rebaixamento do país pela empresa de classificação de risco ontem, para o último degrau antes do grau de "especulativo" ou "junk" veio acompanhado de perspectiva negativa e condicionantes cuja reversão nos próximos 12 meses são muito difíceis, em especial o sucesso na consolidação fiscal, que detenha o rápido crescimento da dívida pública e a redução dos "riscos políticos e de governabilidade", que estão minando a confiança e as expectativas de recuperação. Apenas para voltar à perspectiva estável, a Fitch lista como fatores objetivos a estabilização da dívida; de novo a consolidação fiscal; redução nos desequilíbrios macroeconômicos; melhoria do ambiente para investimentos; crescimento e reformas. As chances de novo rebaixamento são superiores a 50%.
Ainda que seja possível ao governo romper a paralisia em que se encontra, não se vislumbram movimentos decisivos que levem à restauração da confiança e à recomposição de uma base política mais ou menos sólida no horizonte de tempo em que operam as avaliações das empresas de rating, ou seja, em 12 meses. A inação oficial, antes provocada pela falta de convicção na necessidade de rigoroso ajuste fiscal, logo sobre sua magnitude, foi em seguida reforçada pela crise política, que chegou agora às primeiras tentativas de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Pelo lado do ajuste, não há sinais positivos. Suas etapas seguintes - três Propostas de Emenda Constitucional, dois projetos de lei e três MPs - estão empacadas no Congresso, onde sequer têm parecer o início do processo (Valor, 15 de outubro). Duas PECs são vitais: a que desvincula o destino de 30% da arrecadação federal e a que cria a CPMF, com receita estimada de R$ 42 bilhões, capaz de virar o jogo fiscal a favor do equilíbrio. Essas ações buscam tornar viável um superávit primário de 0,7% do PIB em 2016, embora o esforço possa ser maior, pois a meta de R$ 5,8 bilhões, ou 0,15% do PIB, para este ano está ameaçada de frustração.
A Fitch prevê superávit nulo em 2016 (meta de 0,7%) e 0,5% no ano seguinte (meta de 1,2%). Para estabilizar a dívida, calcula que o esforço fiscal tenha de ser de 2% do PIB ao ano e, por isso, a dívida bruta - "alta e de custo maior" que em países com a mesma classificação do Brasil - deverá subir para 66% do PIB este ano, 69% em 2016 e 71% em 2017. O déficit nominal, em sua previsão, fechará 2015 em 9% do PIB e acima de 6% nos dois anos seguintes. É fácil supor que a simples manutenção da trajetória atual levará à perda do grau de investimento.
Um dos argumentos principais para a perspectiva negativa é o dos efeitos nefastos da crise política. O mau desempenho da economia e das contas públicas persistirá, para a Fitch, enquanto ela não for debelada. Não há novidade nisso. Se o governo seguir com sua continuidade ameaçada pelo fantasma do impeachment ou não reconstituir dos escombros sua base de apoio no Congresso até o fim do ano, a extensão dos estragos será bem maior até mesmo que a perda do grau de investimento por duas empresas de rating.
A situação é mais complicada, porque um governo fraco que luta pela sobrevivência e paga qualquer preço por ela, está ameaçado de não só ter suas medidas desfiguradas no Congresso, como também de engolir retrocessos, como projetos que atendem interesses clientelistas, que custam dinheiro.
Um exemplo premonitório ocorreu quando, pressionado por líderes partidários e carente de apoio, o governo deu sinal verde para a aprovação dos "jabutis" da MP 678 e mudança do escopo de seu objeto, a permissão do Regime Diferenciado de Contratação para construção de presídios e obras de segurança pública. O polêmico RDC, cuja extensão a todas as obras públicas havia sido barrada antes, foi estendido a obras e serviços de mobilidade urbana, logística (metrô, estradas, portos) e contratos de ciência, pesquisa e tecnologia. Junto vieram a renegociação da dívida do Proálcool em termos camaradas (15 anos de prazo, 3 de carência e juros de 3% ao ano) e a extensão do prazo para acabar com os lixões até agosto de 2018 (ele findou em agosto de 2014).
Se, acossado no campo político, o governo ao menos mostrasse determinação na defesa do ajuste econômico, teria alguma chance de sair do córner em que está. Mas, à primeira vitória contra o impeachment ressurge na corte governista o movimento pela saída do ministro da Fazenda. É desalentador.
Pouca-vergonha - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADÃO - 16/10
Ontem, neste espaço, criticamos a Unasul por tratar o Brasil como uma república bananeira, ao ameaçar o País de exclusão se a presidente Dilma Rousseff sofrer impeachment. Manifestamos indignação porque, afinal, as instituições democráticas aqui funcionam plenamente, sendo independentes e capazes de tomar as mais graves decisões sempre em respeito ao que prevê a lei. Não era preciso que um preposto do bolivarianismo nos viesse dizer o que fazer e como fazer. Mas talvez não devêssemos estar tão certos a respeito das virtudes dos tripulantes dessas instituições que ainda funcionam. É que algumas das principais lideranças políticas, que ocupam hoje os mais altos cargos da República ou que por ali já passaram, comportam-se, elas sim, como se o País fosse uma bodega – onde, como se sabe, não se discutem princípios, apenas o preço.
É isso o que estão fazendo a própria Dilma, seu padrinho e guru, o ex-presidente Lula, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e todos os demais envolvidos nas indecorosas maquinações que pretendem salvar a pele da presidente e de Cunha.
Para ter uma dimensão do que se está urdindo nos subterrâneos de Brasília, convém recapitular o que está em questão. A presidente Dilma teve sua contabilidade de 2014 rejeitada pelo Tribunal de Contas da União, que viu nela sinais evidentes de acobertamento de malfeitos danosos aos cofres públicos, motivo mais que suficiente para que seu mandato sofra questionamentos jurídicos e políticos. Há indícios fortes, além disso, de que a campanha da reeleição foi alimentada por recursos obtidos de forma escusa. Cunha, por sua vez, foi reconhecido pelas autoridades suíças como beneficiário de diversas contas bancárias naquele país, algo que ele havia negado à CPI que investiga o escândalo da Petrobrás, no qual, suspeita-se fortemente, o poderoso deputado carioca está envolvido até a medula. Tanto Dilma quanto Cunha, portanto, têm sérias contas a acertar com o País.
Mas eis que, então, entra em cena o incansável Lula, aquele que, um dia, quando era oposição, denunciou a existência de “300 picaretas” no Congresso e que depois, para manter o poder, elevou a picaretagem à categoria de política de Estado. Ao que se sabe até aqui, Lula, em pessoa ou por meio de seus peões, como o ministro Jaques Wagner (Casa Civil), está negociando com Cunha um acordo que, se concretizado, resultará em uma das maiores afrontas lançadas pelo lulopetismo, tão pródigo em escândalos, à Nação e à democracia.
Pelos termos do conchavo que chegaram ao conhecimento público, Cunha se comprometeria a não deflagrar um processo de impeachment contra Dilma se o governo ajudar a salvar o mandato do deputado, abafando o processo aberto contra ele no Conselho de Ética da Câmara. Há até mesmo relatos, noticiados pelo jornal O Globo, segundo os quais Cunha teria exigido também que o governo dificulte as investigações da Operação Lava Jato contra ele e seus familiares e que troque o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pois este não consegue “controlar” a Polícia Federal.
O governo sabe que não tem como atender a todas as reivindicações de Cunha, especialmente em relação à Lava Jato, pois a Polícia Federal e o Ministério Público têm se comportado com a correção de órgãos do Estado e não de beleguins do governo. Talvez não tenha nem como garantir os votos necessários para proteger Cunha, razão pela qual Dilma suspendeu o corte de 3 mil cargos comissionados, anunciado recentemente pela presidente como parte de seu “esforço” para pôr as contas em ordem, pois precisa deles para saciar a voracidade da alcateia que responde pelo nome de “base aliada”. Mas Lula e Dilma sabem que é preciso ao menos mostrar que estão empenhados em agradar a Cunha, pois o presidente da Câmara ainda detém a caneta que pode selar o destino da petista. “Se eu for bem tratado, pode ser que tenha boa vontade com o governo. Mas, se não for, posso tomar minha decisão mais rápido”, ameaçou Cunha em almoço com Temer e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Portanto, é em termos que fariam corar até frade de pedra que Cunha, Lula e grande elenco encenam um deprimente espetáculo de imoralidade política, que de nenhuma maneira condiz com o país decente que os brasileiros esperam construir toda vez que depositam seu voto na urna.
Ontem, neste espaço, criticamos a Unasul por tratar o Brasil como uma república bananeira, ao ameaçar o País de exclusão se a presidente Dilma Rousseff sofrer impeachment. Manifestamos indignação porque, afinal, as instituições democráticas aqui funcionam plenamente, sendo independentes e capazes de tomar as mais graves decisões sempre em respeito ao que prevê a lei. Não era preciso que um preposto do bolivarianismo nos viesse dizer o que fazer e como fazer. Mas talvez não devêssemos estar tão certos a respeito das virtudes dos tripulantes dessas instituições que ainda funcionam. É que algumas das principais lideranças políticas, que ocupam hoje os mais altos cargos da República ou que por ali já passaram, comportam-se, elas sim, como se o País fosse uma bodega – onde, como se sabe, não se discutem princípios, apenas o preço.
É isso o que estão fazendo a própria Dilma, seu padrinho e guru, o ex-presidente Lula, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e todos os demais envolvidos nas indecorosas maquinações que pretendem salvar a pele da presidente e de Cunha.
Para ter uma dimensão do que se está urdindo nos subterrâneos de Brasília, convém recapitular o que está em questão. A presidente Dilma teve sua contabilidade de 2014 rejeitada pelo Tribunal de Contas da União, que viu nela sinais evidentes de acobertamento de malfeitos danosos aos cofres públicos, motivo mais que suficiente para que seu mandato sofra questionamentos jurídicos e políticos. Há indícios fortes, além disso, de que a campanha da reeleição foi alimentada por recursos obtidos de forma escusa. Cunha, por sua vez, foi reconhecido pelas autoridades suíças como beneficiário de diversas contas bancárias naquele país, algo que ele havia negado à CPI que investiga o escândalo da Petrobrás, no qual, suspeita-se fortemente, o poderoso deputado carioca está envolvido até a medula. Tanto Dilma quanto Cunha, portanto, têm sérias contas a acertar com o País.
Mas eis que, então, entra em cena o incansável Lula, aquele que, um dia, quando era oposição, denunciou a existência de “300 picaretas” no Congresso e que depois, para manter o poder, elevou a picaretagem à categoria de política de Estado. Ao que se sabe até aqui, Lula, em pessoa ou por meio de seus peões, como o ministro Jaques Wagner (Casa Civil), está negociando com Cunha um acordo que, se concretizado, resultará em uma das maiores afrontas lançadas pelo lulopetismo, tão pródigo em escândalos, à Nação e à democracia.
Pelos termos do conchavo que chegaram ao conhecimento público, Cunha se comprometeria a não deflagrar um processo de impeachment contra Dilma se o governo ajudar a salvar o mandato do deputado, abafando o processo aberto contra ele no Conselho de Ética da Câmara. Há até mesmo relatos, noticiados pelo jornal O Globo, segundo os quais Cunha teria exigido também que o governo dificulte as investigações da Operação Lava Jato contra ele e seus familiares e que troque o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pois este não consegue “controlar” a Polícia Federal.
O governo sabe que não tem como atender a todas as reivindicações de Cunha, especialmente em relação à Lava Jato, pois a Polícia Federal e o Ministério Público têm se comportado com a correção de órgãos do Estado e não de beleguins do governo. Talvez não tenha nem como garantir os votos necessários para proteger Cunha, razão pela qual Dilma suspendeu o corte de 3 mil cargos comissionados, anunciado recentemente pela presidente como parte de seu “esforço” para pôr as contas em ordem, pois precisa deles para saciar a voracidade da alcateia que responde pelo nome de “base aliada”. Mas Lula e Dilma sabem que é preciso ao menos mostrar que estão empenhados em agradar a Cunha, pois o presidente da Câmara ainda detém a caneta que pode selar o destino da petista. “Se eu for bem tratado, pode ser que tenha boa vontade com o governo. Mas, se não for, posso tomar minha decisão mais rápido”, ameaçou Cunha em almoço com Temer e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Portanto, é em termos que fariam corar até frade de pedra que Cunha, Lula e grande elenco encenam um deprimente espetáculo de imoralidade política, que de nenhuma maneira condiz com o país decente que os brasileiros esperam construir toda vez que depositam seu voto na urna.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
EXÉRCITO CASSA CONDECORAÇÕES DE MENSALEIROS
Finalmente, três anos após serem condenados pelo Supremo Tribunal Federal, os mensaleiros José Genoino (PT), Roberto Jefferson (PTB) e Valdemar Costa Neto (PR) tiveram cassadas a Medalha do Pacificador, a mais alta condecoração do Exército Brasileiro. O ato é do general Vilas Boas, o atual comandante. O ex, general Enzo Peri, teve medo de irritar Dilma e não casou as medalhas, apesar de ser obrigado a isso pela legislação. Os mensaleiros já sumiram do Almanaque do Exército.
EXIGÊNCIA LEGAL
O decreto 4.207/02 manda cassar honrarias de condenado por crime contra o erário, em sentença transitada em julgado.
TRANSITADO EM JULGADO
Os mensaleiros são corruptos transitados em julgado no STF desde 28 de novembro de 2012. Suas penas somaram 282 anos de cadeia.
DEBAIXO DA CAMA
O general Enzo Peri não apenas deixou de cassar as medalhas dos corruptos do mensalão como se esquivou de explicar sua atitude.
SOB PRESSÃO
A atitude medrosa do Exército incomodou o Ministério Público Federal, que cobrou o cumprimento da legislação, para cassar as honrarias.
APOIO A CUNHA NO CONSELHO INDEPENDE DO GOVERNO
O governo espalha que está prestes a fechar acordo com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, com objetivo de blindar a presidente Dilma de impeachment, em troca do apoio de deputados governistas a ele, no Conselho de Ética, a fim de evitar a cassação do seu mandato. A história não fecha por um detalhe: Eduardo Cunha já conta com 15 dos 21 membros do Conselho de Ética, governistas ou oposicionistas.
FAZENDO AS CONTAS
Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) confirma “15 votos fieis” a Cunha no Conselho de Ética. Mas reconhece: as denúncias complicam o quadro.
TUDO DOMINADO
Além da corregedoria, outro colegiado importante tem maioria – talvez unanimidade – favorável a Eduardo Cunha: mesa diretora na Câmara.
CONCHAVO
O ministro Jaques Wagner (Casa Civil) foi escalado pelo governo para lidar com o amigo Eduardo Cunha. Tem avançado.
CORTINA DE FUMAÇA
A assessoria de Lula divulgou uma “agenda política” do ex-presidente em Brasília, conversas, tratativas, mas era tudo lorota. Ele viajou à capital para depor no Ministério Público Federal, que o investiga por tráfico internacional de influência em favor da empreiteira Odebrecht.
SEM ACORDO
O senador Blairo Maggi (PR-MT) conversava com Michel Temer sobre sua transferência para o PMDB. Mas recuou após o vice não lhe garantir a candidatura à presidência do Senado pelo PMDB, em 2017.
OMBRO AMIGO
O vice-líder tucano na Câmara, Nilson Leitão (MT), avalia que o momento não é para pressionar Eduardo Cunha. “Uma hora os vazamentos seletivos das denúncias vão parar”, espera.
VIDA DURA
Incomodado com a política do toma lá dá cá, Marcos Rogério (PDT-RO) garante que não haverá vida fácil para o governo na votação do veto ao reajuste do Judiciário. “O governo traiu o trabalhador”, diz.
LESA-PÁTRIA
O Acordo de Livre Comércio entre Mercosul e Egito, promulgado pelo Senado, ficou engavetado na Casa Civil desde sua assinatura, em 2010, até setembro deste ano. Isso prejudicou as exportações, porque prevê corte de 90% do impostos nas transações entre os países.
ALEGAÇÃO CARA-DE-PAU
“O PT agora é réu confesso e usa como desculpa a política dos fins que justificam os meios”, critica o deputado Danilo Forte (PSB-CE), sobre o governo justificar as pedaladas em prol da população carente.
CRÍTICA INTERNA
Senadores tucanos criticam o líder do partido na Câmara, Carlos Sampaio (SP), pela “excessiva” defesa que faz de Eduardo Cunha. A avaliação é que isso depõe contra o discurso ético do partido.
DESAFIO
A Comissão de Trabalho da Câmara aprovou aumento salarial para desembargadores e juízes. “Vamos ver se ela [Dilma] terá coragem de vetar a proposta”, desafia um deputado governista.
PENSANDO BEM...
...Dilma grita, o PT esperneia, o PSOL estrebucha, mas só o STF e a Procuradoria-Geral da República colocam Eduardo Cunha nas cordas.
Finalmente, três anos após serem condenados pelo Supremo Tribunal Federal, os mensaleiros José Genoino (PT), Roberto Jefferson (PTB) e Valdemar Costa Neto (PR) tiveram cassadas a Medalha do Pacificador, a mais alta condecoração do Exército Brasileiro. O ato é do general Vilas Boas, o atual comandante. O ex, general Enzo Peri, teve medo de irritar Dilma e não casou as medalhas, apesar de ser obrigado a isso pela legislação. Os mensaleiros já sumiram do Almanaque do Exército.
EXIGÊNCIA LEGAL
O decreto 4.207/02 manda cassar honrarias de condenado por crime contra o erário, em sentença transitada em julgado.
TRANSITADO EM JULGADO
Os mensaleiros são corruptos transitados em julgado no STF desde 28 de novembro de 2012. Suas penas somaram 282 anos de cadeia.
DEBAIXO DA CAMA
O general Enzo Peri não apenas deixou de cassar as medalhas dos corruptos do mensalão como se esquivou de explicar sua atitude.
SOB PRESSÃO
A atitude medrosa do Exército incomodou o Ministério Público Federal, que cobrou o cumprimento da legislação, para cassar as honrarias.
APOIO A CUNHA NO CONSELHO INDEPENDE DO GOVERNO
O governo espalha que está prestes a fechar acordo com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, com objetivo de blindar a presidente Dilma de impeachment, em troca do apoio de deputados governistas a ele, no Conselho de Ética, a fim de evitar a cassação do seu mandato. A história não fecha por um detalhe: Eduardo Cunha já conta com 15 dos 21 membros do Conselho de Ética, governistas ou oposicionistas.
FAZENDO AS CONTAS
Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) confirma “15 votos fieis” a Cunha no Conselho de Ética. Mas reconhece: as denúncias complicam o quadro.
TUDO DOMINADO
Além da corregedoria, outro colegiado importante tem maioria – talvez unanimidade – favorável a Eduardo Cunha: mesa diretora na Câmara.
CONCHAVO
O ministro Jaques Wagner (Casa Civil) foi escalado pelo governo para lidar com o amigo Eduardo Cunha. Tem avançado.
CORTINA DE FUMAÇA
A assessoria de Lula divulgou uma “agenda política” do ex-presidente em Brasília, conversas, tratativas, mas era tudo lorota. Ele viajou à capital para depor no Ministério Público Federal, que o investiga por tráfico internacional de influência em favor da empreiteira Odebrecht.
SEM ACORDO
O senador Blairo Maggi (PR-MT) conversava com Michel Temer sobre sua transferência para o PMDB. Mas recuou após o vice não lhe garantir a candidatura à presidência do Senado pelo PMDB, em 2017.
OMBRO AMIGO
O vice-líder tucano na Câmara, Nilson Leitão (MT), avalia que o momento não é para pressionar Eduardo Cunha. “Uma hora os vazamentos seletivos das denúncias vão parar”, espera.
VIDA DURA
Incomodado com a política do toma lá dá cá, Marcos Rogério (PDT-RO) garante que não haverá vida fácil para o governo na votação do veto ao reajuste do Judiciário. “O governo traiu o trabalhador”, diz.
LESA-PÁTRIA
O Acordo de Livre Comércio entre Mercosul e Egito, promulgado pelo Senado, ficou engavetado na Casa Civil desde sua assinatura, em 2010, até setembro deste ano. Isso prejudicou as exportações, porque prevê corte de 90% do impostos nas transações entre os países.
ALEGAÇÃO CARA-DE-PAU
“O PT agora é réu confesso e usa como desculpa a política dos fins que justificam os meios”, critica o deputado Danilo Forte (PSB-CE), sobre o governo justificar as pedaladas em prol da população carente.
CRÍTICA INTERNA
Senadores tucanos criticam o líder do partido na Câmara, Carlos Sampaio (SP), pela “excessiva” defesa que faz de Eduardo Cunha. A avaliação é que isso depõe contra o discurso ético do partido.
DESAFIO
A Comissão de Trabalho da Câmara aprovou aumento salarial para desembargadores e juízes. “Vamos ver se ela [Dilma] terá coragem de vetar a proposta”, desafia um deputado governista.
PENSANDO BEM...
...Dilma grita, o PT esperneia, o PSOL estrebucha, mas só o STF e a Procuradoria-Geral da República colocam Eduardo Cunha nas cordas.
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