quinta-feira, janeiro 20, 2011

JANIO DE FREITAS

Um voo mais alto
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/01/11

Um dos efeitos do reinício da concorrência para caças da FAB recai nas relações políticas com os EUA

O REINÍCIO, com maior abertura e novas bases, da concorrência para os futuros caças da FAB alcança muito mais do que a recusa ao negócio forçado, e agendado mais de oito vezes pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, com a fábrica francesa Dassault e contra os pareceres dos técnicos militares brasileiros.
A decisão de Dilma Rousseff põe em suspenso também, com a cautela diplomática de não o mencionar, a "aliança estratégica" do Brasil com a França, tal como acertada por Lula e Nicolas Sarkozy. O que, por sua vez, levará a reconsiderações nos desdobramentos práticos da Estratégia Nacional de Defesa, o mirabolante plano armamentista de custo estimado em US$ 40 bilhões (antes da desvalorização do dólar).
Outro efeito do reinício da concorrência -não declarado, mas implícito na abertura a mais concorrentes- recai nas relações políticas com os Estados Unidos. A aceitação de mais concorrentes significa a possibilidade de que a Rússia volte a propor o seu caça Sukhoi.
Tal admissão pelo Brasil contém a recusa ao veto emitido pelos Estados Unidos, e aceito pelo governo Fernando Henrique Cardoso na primeira concorrência dos aviões, quando o russo Sukhoi destacou-se na seleção da FAB. Àquela altura, a contrapartida de incremento no comércio bilateral era dada como parte determinante na concorrência, e também nesse aspecto, contrariando as expectativas, a Rússia fez as melhores ofertas.
Não houve outro jeito: vieram o veto e a curvatura de espinha do governo brasileiro, como no Sistema de Vigilância da Amazônia em que os vencedores franceses foram despachados para escanteio. Agora há um problema adicional para os Estados Unidos, além da soberania aparentemente implícita na atitude do novo governo.
Se o caça russo, testado na primeira seleção por uma equipe da FAB na Força Aérea da Índia, já obteve a preferência, agora há um modelo ainda mais avançado. E neste estaria, como uma das razões da maior abertura da concorrência, a atenção da FAB, considerado que talvez só a China, além dos russos, se disporia a confrontar-se com os principais fabricantes.
Sob aspectos formais e institucionais, é muito positiva a sustação do simplismo com que foram estabelecidas e admitidas a "aliança estratégica" com a França, a escolha dos caças franceses contra o parecer da FAB, e as pressões de Nelson Jobim para conclusão desse negócio de US$ 6 bilhões.
Mereceria o mesmo tratamento o negócio feito com franceses para submarinos nucleares (cinco, ao final) e mais de 20 convencionais, além de um estaleiro e uma grande base no Estado do Rio. Sem concorrência nem sequer para a obra, que já veio entregue no pacote, com a malandragem de praxe pelos governos francês e brasileiro, à empreiteira Odebrecht. Mas esse negócio pôde andar mais depressa, se bem que haja margem para voltar a ele e seus primórdios na região de Sepetiba.

BONDOSOS
Se o Ministério da Defesa acha que há cinco guerrilheiros do Araguaia vivos e com identidade falsas, não precisaria pedir à Justiça que faça a Polícia Federal procurá-los. Diz que um deles trabalhou por 20 anos em uma multinacional, logo, sabe que nome atual tem e seu provável paradeiro.
Além disso, os cinco saíram vivos do Araguaia porque "foram agraciados" por oficiais do Exército, um deles, uma mulher, até levada de avião militar à cidade desejada. Não é crível que esses militares os deixassem soltos para serem apanhados pouco depois. O presente seria completo, com as novas identidades protetoras.
O problema é que também não é crível a história do Ministério da Defesa, ao menos nos termos em que está.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

As centrais ameaçam Dilma
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 20/01/11

Acostumados aos favores do governo Lula, dirigentes de centrais sindicais cobram mais atenção da presidente Dilma Rousseff e já ameaçam criar problemas, se ela não governar de acordo com sua orientação. "Se Dilma ficar ouvindo seus burocratas, vai ter muito trabalho conosco", disse o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP). A ameaça foi feita na Avenida Paulista, na terça-feira, durante manifestação por um salário mínimo superior aos R$ 545 fixados na semana passada pelo Executivo.

Houve reuniões de protesto em 20 Estados. Participaram do comício na capital paulista a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Força Sindical e quatro organizações de menor peso, mas igualmente beneficiadas pelas políticas dos últimos oito anos. Não há surpresa nessa manifestação concertada.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou uma borracha nas diferenças que havia entre as centrais, proporcionando a todas uma participação no Imposto Sindical, cooptando os dirigentes e conduzindo o peleguismo a níveis nunca antes conhecidos na história deste país.

A conversão dos sindicalistas em sócios do poder foi facilmente verificável, nos últimos anos, por sua presença na administração federal direta e indireta e também nos fundos de pensão de estatais.

Nada mais natural, portanto, que as manifestações de indignação dos dirigentes sindicais diante do tratamento a eles oferecido até agora pela presidente Dilma Rousseff. Pouco mais de duas semanas depois da posse ela ainda não os havia recebido em seu gabinete - uma atitude ultrajante, com certeza, do ponto de vista desse grupo acostumado à proximidade do poder.

"Cuidado, Dilma", advertiu o deputado Paulo Pereira da Silva, referindo-se à manutenção da Tabela do Imposto de Renda. "O FHC começou assim. Não corrigiu a tabela. Foi o primeiro erro dele. Ninguém está botando a faca no pescoço, mas espero que esta seja a última manifestação."

Há bons argumentos a favor da correção da Tabela, mas a truculência do deputado não tem a mínima relação com argumentos e razões. É apenas isso - truculência, reforçada com a invocação do nome de Lula como exemplo para sua sucessora.

Qual a diferença entre o presidente da CUT, Artur Henrique, e seu colega, o deputado Pereira da Silva, mais conhecido como Paulinho da Força?

Em outros tempos haveria rivalidade entre as duas organizações. A CUT, um produto do sindicalismo outrora pregado por Luiz Inácio Lula da Silva, tenderia a apoiar o governo petista. O próprio Lula cuidou de eliminar tanto a rivalidade quanto qualquer diferença em termos de valores. CUT e Força hoje se distinguem quase exclusivamente como siglas. Se existe uma rivalidade, é essencialmente em torno da obtenção de benefícios, como, por exemplo, a fatia do Imposto Sindical.

Nenhuma surpresa, portanto, quando o presidente da CUT repete palavras do presidente da Força. Segundo o dirigente Artur Henrique, a presidente cercou-se de "economistas burocratas", empenhados em "implantar a agenda dos derrotados nas urnas". Em outras palavras, ela estaria disposta a executar políticas propostas pelos tucanos. Para esclarecer sua acusação, o sindicalista citou o ajuste fiscal defendido pela equipe econômica.

A presidente já deveria saber disso. Se tivesse alguma dúvida, teria sido eliminada pelo comentário do presidente da CUT: arrumação das contas públicas é coisa de tucano. Talvez pudesse ter acrescentado: de neoliberal, de direitista, de reacionário.

Ao concordar com um salário mínimo de R$ 545, pouco maior que o proposto no fim do ano, a presidente Dilma Rousseff quis evitar a perda causada pela inflação, só conhecida há poucos dias. O argumento contra um aumento maior foi a necessidade de ajeitar as contas públicas e conter a alta de preços, uma das maiores ameaças aos assalariados. Pressionada e ameaçada pela nata do peleguismo, a presidente Dilma Rousseff dificilmente poderá evitar uma definição, esclarecendo se cumprirá as primeiras promessas de governo ou se manterá com os sindicalistas a relação promíscua escolhida por seu antecessor para o exercício de poder.

ALON FEUERWERKER

Nem sempre é bom
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 20/01/11


Serra está sem mandato, será um líder da oposição extraparlamentar. E Aécio vai ser uma referência da oposição no Senado e no Congresso. Natural que ambos procurem ocupar espaço batendo no governo
Coisa normal na pós-derrota, a oposição gasta parte do tempo rosnando ou brigando internamente. Normal porque políticos lutam pelo poder. Se estão no governo, brigam por cargos e posições no governo. Se estão na oposição, brigam por posições e cargos na oposição. 
Na teoria, e à primeira vista, é ótimo para o governo haver duas correntes em formação no PSDB, uma supostamente mais disposta ao diálogo e outra menos. Ou supostamente menos. 
Mas talvez não seja tão bom assim. Na ditadura, por exemplo, a divisão do oposicionista MDB (Movimento Democrático Brasileiro) em autênticos e moderados em nada ajudou o situacionismo quando chegou a hora. As duas correntes juntaram-se para derrubar o regime. 
E ambas vitaminadas. Uma pela mobilização das ruas e pela aura de autenticidade, a outra pela capacidade de composição, de aliar-se a setores da base do governo, de representar a possibilidade de uma transição sem rupturas sérias. 
No fim das contas, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves entenderam-se, e deu no que deu. 
Há pelo menos um detalhe a diferenciar o cenário da oposição com Dilma Rousseff do cenário vivido pelo antecessor. Fora um curto período no comecinho do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, tanto Aécio Neves quanto José Serra estiveram sempre e simultaneamente em posições importantes de governo durante os oito anos, o que restringiu a mobilidade e o ímpeto oposicionista de ambos. 
Governador não faz oposição a Brasília. Só faz quando o govermo federal está caindo de podre, o que não é o caso, nem leva jeito de vir a ser. 
Agora a coisa muda um pouco de figura. Serra está sem mandato, será um líder da oposição extraparlamentar. E Aécio vai ser uma referência da oposição no Senado e no Congresso Nacional. Natural portanto que ambos procurem ocupar espaço batendo no governo. Cada um a seu modo, mas batendo. 
Até porque a vaga aberta para a disputa em 2014 é a da oposição. Se tudo estiver pelo menos razoavelmente bem, Dilma irá pleitear mais quatro anos. Se não, o PT sempre poderá recorrer a Lula. Então, quem pensa em construir um caminho alternativo terá de fazê-lo contra Dilma, e não a favor. E desta vez sem os constrangimentos causados por estar governando um estado. 
Por fora corre Geraldo Alckmin, que se movimenta pesadamente neste começo de novo mandato paulista para neutralizar o efeito fadiga de material. Em 2014, os tucanos completam duas décadas de continuidade política e administrativa em São Paulo. Não é bolinho. 

AfãEra completamente desnecessário, pelo ângulo político, o Ministério do Trabalho ajeitar os números do emprego formal no ano passado para atingir a meta de 2,5 milhões de vagas líquidas. 
Os números teriam sido bons de qualquer jeito, com 2,1 milhões de postos de trabalho. E tem outro problema, este técnico. Um valor das estatísticas é a possibilidade de fazer comparações. No afã de agradar sabe-se lá a quem, restou prejudicada a série histórica. 
Uma sugestão: que o ministério passe a divulgar duas séries, pela metodologia tradicional e pela alterada, para não enfraquecer a utilidade dos números. 
Mas no efeito de propaganda a coisa ficou bem, ainda que a manobra tenha atraído atenção para a heterodoxia na manipulação desse tipo de dado pelo ministério. 
Em 2009, segundo as mesmas fontes, o Brasil criou um milhão de empregos líquidos. Nada de mais, a não ser por um detalhe: naquele ano a economia recuou, teve crescimento negativo, segundo os dados finais do IBGE. 
Ano passado, pela metodologia tradicional, o Brasil criou pouco mais de 2 milhões de empregos, numa economia crescendo para além de 7%. 
Eis um desafio intelectual de vulto: alguém explicar por que no Brasil crescimento e criação de empregos são variáveis quase independentes. Como pode um país em recessão criar quase metade dos empregos que cria quando cresce a 7% 
Haja inelasticidade, para usar um termo dos economistas. Os números do Ministério do Trabalho talvez estejam a merecer uma lupa. 

GOSTOSA

DEMÉTRIO MAGNOLI

700 mortos e 8 passaportes 
Demétrio Magnoli
O ESTADO DE SÃO PAULO - 20/01/11

Marco Aurélio Garcia qualificou como assunto "de uma irrelevância absoluta" a concessão de passaportes diplomáticos aos filhos e netos de Lula. Ele, certamente, considera relevante a tragédia que ceifou mais de 700 vidas e destruiu cidades inteiras na Região Serrana do Rio de Janeiro. Os dois eventos, cujos impactos sobre a vida nacional são incomparáveis, estão relacionados, ainda que indiretamente. Eles, além disso, têm igual relevância, pois procedem da mesma fonte: a delinquência atávica de uma elite política hostil ao interesse público.

A lei é cristalina ao listar os critérios que regulam a concessão de passaportes diplomáticos. O ex-ministro Celso Amorim violou a lei, a pedido de Lula, quando presenteou a prole estendida do ex-presidente com o privilégio reservado aos representantes do Estado. O gesto ilegal não é amenizado, mas agravado pelo recurso cínico à invocação do "interesse nacional". O que o Ministério Público precisa para acusar o ex-ministro e o ex-presidente de abuso de autoridade?

Certos grupos ambientalistas propensos à mistificação culpam as mudanças climáticas globais pela catástrofe no Rio de Janeiro. Mas as precipitações torrenciais e os deslizamentos em encostas de morros fazem parte da dinâmica climática e geomorfológica normal das serras do Sudeste brasileiro. A intensidade das chuvas não é explicação suficiente das causas de uma das maiores tragédias humanas da história do País. Uma urbanização descontrolada, com ocupação extensiva de encostas de morros e várzeas inundáveis, moldou o cenário do desastre. Os mortos, as famílias devastadas, os desabrigados são o produto de décadas de escolhas políticas baseadas numa racionalidade avessa ao interesse público e, muitas vezes, às próprias leis. O que o Congresso Nacional precisa para instalar uma CPI dedicada à investigação do enredo completo da tragédia anunciada?

O patrimonialismo "é a vida privada incrustada na vida pública", segundo a definição de Octavio Paz. Na sua trajetória rumo ao poder, o lulismo conectou-se com um anseio profundo da sociedade brasileira ao fazer a denúncia sistemática de uma elite política consagrada ao intercâmbio de privilégios oriundos do controle do aparelho de Estado. Lula tocou um nervo exposto com seus "300 picaretas do Congresso", tirada irresponsável que se converteu em canção popular e sintetizou a bandeira de mudança com a qual alcançaria o Planalto. De lá para cá, ele e seu partido traíram noite e dia o compromisso original. A emissão dos passaportes diplomáticos equivale a uma abjuração escrita: o presidente que sai transforma a corrupção em virtude, zombando da "lei das gentes".

Não há mais de 700 mortos no Rio de Janeiro porque Lula concedeu à sua descendência o privilégio ilegal, mas porque a elite política que hoje Lula personifica zomba da "lei das gentes". Cada uma das áreas de risco ocupadas na Região Serrana fluminense tem a sua história singular. Alguns bairros surgiram por incúria das autoridades públicas. Outros se estabeleceram sob o amparo de acordos espúrios entre loteadores e políticos em cargos de mando. Prefeitos e vereadores formaram clientelas eleitorais estimulando a ocupação de vertentes e várzeas, ou apenas condescendendo com a violação das normas. A catástrofe foi tecida com os fios de uma política que combina populismo, patrimonialismo e clientelismo. Na Austrália, inundações muito mais amplas deixaram um saldo de mortes que se conta na casa de poucas dezenas, não de várias centenas.

Lula e os seus não se limitaram a absorver os usos e costumes da elite política estabelecida, mas foram bem mais longe, produzindo uma espécie de elogio público do patrimonialismo. O ex-presidente proclamou a inimputabilidade de José Sarney (o "homem incomum"), mudou a lei para beneficiar a empresa financiadora do negócio de seu filho e, na hora da despedida, comportou-se como um potentado, oferecendo passaportes diplomáticos aos familiares com a desenvoltura de um pai que distribui ovos de Páscoa. Como exigir de autoridades estaduais e municipais o respeito à lei, a adesão à norma, quando a República se transfigura na fazenda dos Lula da Silva?

"Sempre tem a hora de fazer avaliação. Tem que se fazer uma autocrítica, por que se permitiu fazer tudo isso. Mas agora é resgatar corpos e ajudar famílias desabrigadas. Não vamos perder tempo nesse momento." O governador Sérgio Cabral não é mais responsável pela tragédia que seus predecessores ou que os prefeitos, vereadores e lideranças locais da Região Serrana do Rio de Janeiro. Contudo, ao fabricar uma acusação preventiva contra os críticos, ameaçando crismá-los como inimigos da ajuda às vítimas, revela-se mais inteligente - e muito mais nocivo ao interesse público. A sua operação de linguagem tem o objetivo de suspender o debate político enquanto perdurar a emergência humanitária. É a receita certa para proteger a elite política que parasita a sociedade.

Uma tristeza avassaladora começou a se espalhar pelo Brasil inteiro com as primeiras imagens da tragédia. A memória dos mais de 700 mortos merece um monumento que não seja feito de pedra nem se preste à demagogia das inaugurações políticas. O monumento só pode ser um programa plurianual ambicioso de reconstrução das cidades devastadas e remodelação estrutural dos padrões de ocupação do solo na Região Serrana fluminense e em inúmeras outras cidades e corredores urbanos do País. Os recursos para tanto existem, mas serão queimados na pira ardente das obras colossais da Copa do Mundo e da Olimpíada.

As chuvas de janeiro provocaram um trauma nacional duradouro. O verão não terminou. As águas da destruição ainda podem apagar o fogo do desperdício sem freios e das negociatas fabulosas promovidas em nome do orgulho nacional. É a única homenagem verdadeira que os vivos podem prestar aos mortos.

Sociólogo e Doutor em Geografia Humana pela USP.

MÍRIAM LEITÃO

Dilema do prisioneiro
Míriam Leitão
O GLOBO - 20/01/11

O Banco Central subiu os juros em 0,5% na primeira reunião do governo Dilma. Isso aprofunda a baixa do dólar, motivo de queixa dos exportadores e dos produtores brasileiros. Se não subisse os juros, o BC estaria dando um sinal de que a inflação pode continuar subindo num momento em que ela se aproxima do teto da meta. O câmbio é a única pressão deflacionista na economia.

A inflação hoje é alimentada pelos preços internacionais de commodities, pela demanda aquecida, pelos gastos do governo. As importações favorecidas pelo dólar baixo ajudam a atender à demanda e atenuar a alta dos preços. Mesmo que a valorização do real seja um efeito colateral - em certa medida até indesejado - é o que tem evitado a alta maior da inflação no Brasil.

O Banco Central está nesse dilema do prisioneiro, ou, mais popularmente falando, na situação de se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come, nesse conflito entre juros e câmbio. Num texto publicado ontem no "Financial Times", o jornal registrou que o Brasil tem o segundo maior juros do mundo, perdendo apenas para a Croácia. O economista Kenneth Rogoff disse que não precisa ser PhD em economia para saber que a redução dos juros seria um longo empurrão para o investimento brasileiro, mas politicamente o país estaria congelado no dilema de como reduzir o tamanho do governo.

Poucos tinham dúvida de que o Banco Central fosse subir os juros nesta reunião, mas a dúvida que ainda persiste é qual é o tamanho do ciclo de alta dos juros? Outra dúvida é: até que ponto o novo governo aguentará a elevação dos juros? Se o governo reduzisse os gastos de forma mais efetiva, o Banco Central não estaria sozinho em sua tarefa e poderia diminuir a intensidade do ciclo de alta. Mas o fato é que: apesar de todas as promessas de corte, congelamento prévio de despesas, pedidos para revisão do custeio, o governo ainda não cortou coisa alguma, de um orçamento que já chegou inflado e depois de um ano em que o setor público gastou de forma descontrolada.

O objetivo principal do Banco Central é conter a piora das expectativas e esfriar a atividade econômica, para que o aumento de preços das matérias-primas não seja repassado para o resto da economia. É o que os economistas chamam de efeitos de segunda ordem. Funciona mais ou menos assim: um prestador de serviços vai ao supermercado e percebe que o salário dele compra menos itens que em meses anteriores. Como ele tem muitos clientes, decide aumentar o preço do seu serviço. Já os clientes, sentem que a renda está crescendo e não se importam em pagar mais caro. Dessa forma, a inflação que começou nos alimentos se espalha.

O boletim Focus sobe por seis semanas seguidas a projeção de inflação para este ano. Desta vez, foi de 5,35% para 5,47%, quase 1 ponto acima do centro da meta. Ao mesmo tempo, a demanda continua forte, sustentada pelo aumento da renda, pelo mercado de trabalho que bate recordes, e pela oferta de crédito. O Bradesco estima que a oferta de crédito ainda crescerá 15% este ano, mesmo com todas as medidas macroprudenciais anunciadas pelo Banco Central.

O dilema não está só no dólar, que prejudica nossa indústria exportadora. O aumento dos juros também pode afetar mais à frente o comércio, que vendeu muitos itens a prazo. Subir demais a taxa de juros pode afetar o emprego e provocar um aumento na inadimplência.

Para Fábio Silveira, da RC consultores, não havia mais tempo para o Banco Central esperar:

- Temos inflação demais no Brasil: de commodities, de contratos, de serviços. O BC precisa esfriar a demanda agregada, já que não pode atuar sobre o preço das commodities. Essa é a única maneira dele evitar um aumento generalizado. Se a demanda continuar forte, haverá repasse porque as pessoas continuarão comprando - explicou.

Luis Otávio Leal, do Banco ABC Brasil, acha que a inflação brasileira tem um agravante: o gargalo de mão-de-obra, resultado do forte crescimento dos últimos anos e do baixo investimento em educação e qualificação de profissionais.

- Ao contrário de outras inflações, que tinha a Utilização da Capacidade Ociosa como referência, agora temos um problema de falta mão-de-obra. Antes, era só importar máquinas e fazer investimento que se ampliava a produção. Agora, é mais difícil, porque não se importa mão-de-obra com facilidade, não só pela distância, mas também por aspectos culturais, do próprio idioma. O treinamento também é mais demorado. Leva mais tempo qualificar do que comprar máquina - afirmou.

Na verdade, a inflação neste momento não tem um único fator. Tem vários. É a pressão no mercado de trabalho, aumento de consumo, elevação dos gastos do governo, inflação de alimentos, matérias-primas e energia. Nem todas as variáveis respondem à pressão dos juros, mas certamente a batalha das expectativas começou a ser vencida ontem com essa dose amarga do remédio de sempre.

Muita gente duvidava que o Banco Central teria autonomia para decidir sobre a alta dos juros. A mudança no comando parecia indicar um BC mais dócil aos reclamos da Fazenda de que essa inflação é passageira e que os juros não deveriam subir. Alexandre Tombini avisou, logo que foi escolhido, que recebeu a incumbência de manter a inflação na meta. No discurso de posse, a presidente definiu inflação como "praga". Ontem, o BC mostrou que sim, pode subir juros. Falta agora acionar a outra arma, mais poderosa e com menos efeitos colaterais para reduzir a inflação: o corte de gastos públicos.

GOSTOSA

JOSÉ SIMÃO

"BBB"! Cortaram a operada!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/01/11

E um leitor não gostou do nome da trans. Diz que Ariadna é nome de vítima de homicídio no Datena


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! "BBB" Podre Brasil! Big Bagaça Urgente! Cortaram a operada! A transexual foi eliminada! E ela tem um motivo pra se orgulhar: foi a única "BBB" que entrou e saiu da casa SEM A MALA! Rarará!
Ex-homem e ex-"BBB"! Foi eliminada por discriminação e por ser chatinha mesmo. Tudo que é ex é chato: ex-homem, ex-fumante, ex-gordo e ex-mulher!
E sabe porque a trans resolveu virar mulher? Porque não tinha mais saco pra ser homem. Rarará! Ai, que saco ser homem. PAF! Corta! E o Bial? O Bial pagou pau pra operada. Rarará!
E o texto do Bial?! Ele entrou em delírio! Desorientação! Até que uma amiga minha gritou: "Chega, Bial! Você tá me deixando fora de mim". Eu acho que vou dar um tiro de calmante no Bial, sabe aqueles que botam elefante pra dormir na NatGeo Wild? E um cara no Twitter disse que o pior de ser eliminado é encontrar toda sua família vestindo camiseta com a sua foto! E os caras estão há dez dias sem ver a família e já fazem aquele escândalo?
E o Bial pedindo baixaria pros BBBs? Pedindo não, implorando. Apelo à Baixaria! Rarará!
E um leitor não gostou do nome da trans. Diz que Ariadna é nome de vítima de homicídio no Datena. Rarará! E "BBB" quer dizer Baixaria do Boninho! Rarará!
E você vê como são as coisas: a trans eliminou o membro e os membros a eliminaram!
E uma amiga minha assiste ao "BBB" por higiene mental. E outra disse que o "BBB" é um DESERTO mental! Rarará!
Brasileiro é Cordial! Olha o cartaz que um amigo meu pendurou no banheiro do salão de festas: "Se eu pegar o pinto de anzol que fica mijando fora do vaso sanitário e emporcalhando o banheiro, vou colocar tanto pó de mico na cueca do estrupício que ele vai sambar mais que a Globeleza na Apoteose. Conto com todos. Assinado: Paulo". Esse andou frequentando o curso de cordialidade do Gervásio!
E olha a pichação em Portugal: "Manuel. A partir de hoje fazes tu o jantar. Assinado: Maria". Bem Portugal! Bem ingênuo. Eu fui num casamento em Portugal e na hora da chuva de arroz, uma portuguesa gritou: "E quem vai varrer?". Rarará.
A situação tá ficando psicodélica! Nóis sofre mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MERVAL PEREIRA

Tragédia incalculável
Merval Pereira
O GLOBO - 20/01/11

Os esquemas de emergência estão funcionando razoavelmente bem no interior, a solidariedade da população continua muito alta e neutraliza a desorganização oficial, que é grande, e ao mesmo tempo são preocupantes os relatos de prefeitos e voluntários que estão nos locais mais atingidos. Há o receio de que o tamanho da tragédia seja muito maior do que se divulga oficialmente.

Até agora existem ainda muitas áreas inatingíveis pelos serviços de socorro, muitas áreas soterradas, muita gente desaparecida.

É possível que o número de mortos passe de mil, um número que pode ser maior ainda se levarmos em conta que vilas inteiras, pequenas cidades inteiras, foram soterradas.

Conversei com um motorista que participou no fim de semana de resgates em Nova Friburgo, que me relatou fatos impressionantes.

A equipe da qual fazia parte chegou a uma área que estava isolada há dias, e um sobrevivente contava que debaixo daquele lamaçal todo um dia houve uma praça, um comércio típico do interior. Tudo agora encoberto por uma camada profunda de lama e entulho.

Não há possibilidade de saber quantas pessoas estão soterradas. É bem possível que dezenas, centenas de corpos não sejam encontrados.

A partir dessa tragédia de proporções nunca antes vistas no país (nesse caso vale a comparação, que se banalizou no governo Lula), há alguns avanços que podem ser obtidos.

O mais importante seria mudar essa nossa cultura, que nos coloca mobilizados solidariamente para ajudar os atingidos pela catástrofe, mas não privilegia a prevenção como ação de cidadania.
O tamanho da tragédia pode obrigar as autoridades dos três níveis de governo (municipal, estadual e federal) a entrarem em uma nova fase, em que flertar com a irresponsabilidade e o descaso pode significar o fim de um projeto político, pela reação do eleitorado à demagogia e às promessas vãs.

Este é um pensamento otimista, que a nossa realidade não autoriza. Mas, num momento desses, é preciso ter esperanças de que alguma coisa mude para melhor.

É o caso do economista José Roberto Afonso, que tem casa no Vale do Cuiabá e está empenhado em transformar o que aconteceu lá num "case" de virada. O local está tão destruído, diz ele, que é hora de refazer tudo. "Nem é recuperar ou reconstruir, porque não dá para voltar ao que era. Vamos fazer algo novo e diferente, e, se Deus quiser, melhor".

A prefeitura do Rio está montando um sofisticado sistema de previsão do tempo, cujo novo radar meteorológico, instalado no Alto do Sumaré, na Zona Norte da cidade, captou a possibilidade de chuvas fortes, mas a previsão não teve resultados porque não existe um sistema integrado na Defesa Civil que permita dar consequência operacional às informações dos satélites e radares.

É o que vai se tentar montar com o novo sistema de previsão do tempo da cidade. A previsão, hoje com até seis horas de antecedência da chegada de tempestades, será melhorada com o funcionamento de um sistema de alta resolução que, segundo a prefeitura, fará previsões com 80% de acerto e até 48 horas de antecedência.

Também o sistema de alarme comunitário para chuvas fortes no Rio vai ter uma rede de 60 sirenes espalhadas pela cidade, com membros da Defesa Civil devidamente capacitados dando treinamento para os moradores das comunidades com áreas de risco.

Em nível nacional, o sistema de alertas e prevenção anunciado há cinco anos já está em testes para começar a funcionar nas regiões mapeadas no meio do ano. Será implantado gradativamente ao longo do tempo.

Essa questão de treinamentos e prevenção é fundamental. Lembro-me que quando morei na Califórnia, em 1990, a casa que alugamos tinha no quintal dois enormes contêineres com provisões para uma semana de sobrevivência em caso de terremotos, o grande problema da região.

E havia também na casa um vídeo com instruções sobre como agir caso um terremoto atingisse a área.

Também na Universidade de Stanford havia treinamentos nas salas de aula sobre como reagir quando a sirene de alarme soasse.

Na Alemanha, há uma rádio oficial que transmite apenas mensagens sobre as condições das estradas e as previsões climáticas, e, quando há algum acidente no percurso, a rádio oficial interrompe a programação normal e passa a dominar o noticiário naquela região em que é preciso dar informações para os cidadãos.

A tragédia na Serra do Rio pode levar também a uma mudança de atitude dos parlamentares em relação ao novo Código Florestal, que estava sendo aprovado com a força da bancada ruralista, apesar dos protestos das ONGs preservacionistas.

Ficou agora no ar a ameaça de que as mudanças possam ampliar os riscos em algumas regiões, em vez de apenas incentivar a agricultura, que é declaradamente seu objetivo, especialmente o pequeno agricultor.

O texto não considera topos de morros como áreas de preservação permanente, e libera a construção de casas em encostas, além de reduzir a faixa de preservação nas margens de rios.

Essas mudanças agora poderão ser discutidas com mais vagar, para compatibilizar a necessidade de incentivar a agricultura com a cultura de prevenção de desastres ambientais que se quer implantar.

A se crer na versão dos produtores do filme "Lula, o filho do Brasil", a mesma política que colocou o filme inexplicavelmente como o representante do Brasil na disputa do Oscar o tirou da corrida ontem.

Na política interna, a popularidade do biografado foi incapaz de transformar o filme em sucesso de crítica ou público, mas teve força para indicá-lo representante oficial do país no Oscar de filme estrangeiro.

Na política externa, a relação quase de amizade entre o presidente Lula e o ditador iraniano Mahmoud Ahmadinejad, e a posição de boa vontade do governo brasileiro com o programa nuclear do Irã, levou a uma reação negativa do governo dos Estados Unidos e de Israel.

Segundo Paula Barreto, produtora do filme, ele foi prejudicado por isso em Nova York devido a um boicote de distribuidores judeus.

Também em Hollywood a influência de produtores e distribuidores judeus é reconhecidamente forte, e seria surpreendente que "Lula, o filho do Brasil" pudesse ser selecionado.

TERAPIA

DORA KRAMER

Autoabsolvição
Dora Kramer
O ESTADO DE SÃO PAULO - 20/01/11

Figura síntese do escândalo símbolo do PT no poder, Delúbio Soares tenta pela segunda vez retomar sua filiação ao partido. A primeira, depois de ter sido expulso por causa da engenharia montada na tesouraria petista para fazer frente às necessidades financeiras de filiados e aliados, foi no final de 2009.

A proximidade do ano eleitoral levou os companheiros de Delúbio a convencê-lo a desistir, já que seu retorno inevitavelmente invocaria a memória do processo em tramitação no STF, no qual o ex-tesoureiro do PT e mais 37 acusados respondem pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, formação de quadrilha, corrupção passiva e ativa.

Passado o perigo, ele volta à cena com apoio de companheiros importantes. Por exemplo, o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza, cujo entendimento é o de que Delúbio Soares já pagou por seus pecados e não pode ter "pena definitiva".

Aliás, não só o ex-tesoureiro, mas "todos eles", segundo o líder, "já pagaram um preço maior do que seus pecados".

Convenhamos, quando há movimentos concatenados não se pode acreditar em coincidências.

Lula acaba de deixar a Presidência da República avisando que além da reforma política e da fome na África vai tratar de "provar que o mensalão não existiu".

Foram cinco dias de julgamento em agosto de 2007, feitos 40 réus (hoje são 38, um foi excluído e outro morreu), envolvidos cinco partidos, três ministros de Estado, 11 parlamentares, um voto de 500 páginas redigidas pelo relator. Atualmente o processo tem 50 mil páginas e julgamento previsto para este ano, segundo os otimistas.

Portanto, ao contrário do que prega o deputado Vaccarezza, ninguém pagou preço algum, porque a Justiça ainda não se pronunciou. Ao pretender reincorporar Delúbio Soares, depois da reabilitação dos mensaleiros hoje integrantes do Diretório e da Executiva Nacional do partido ou em bons postos no governo, o PT quer preparar o ambiente para o julgamento.

Reescreve a seu modo a história, decreta autoabsolvição geral e Lula politiza a questão, tentando transformar o processo em fator de desestabilização do País.

Vai e racha. Até agora a relação entre os ex-governadores José Serra e Aécio Neves foi sempre em tese cordial e tensa na prática.

Pode ser só uma ligeira e quem sabe equivocada impressão de quem observa de longe os movimentos, mas daqui em diante a corda tende a esticar.

Pelo seguinte: Serra quer ser candidato a presidente outra vez e Aécio em 2014 também quer. E de verdade. Em 2006 e 2010 não jogou para valer, mas para se posicionar.

Por enquanto mesmo os serristas acham difícil o PSDB deixar de caminhar com Aécio, hoje visto como candidato natural. Tanto quanto Serra na eleição passada.

Pelo andar (tíbio) da carruagem dos tucanos, a batalha dar-se-á no campo da afirmação partidária no exercício da oposição. Governadores de São Paulo e Minas Gerais, nenhum dos dois se opôs politicamente ao governo federal, alegando que como gestores dependiam da preservação de boas relações com Brasília.

Não usaram as respectivas forças políticas para sustentar a bancada congressual quando ela mais precisou em sua única vitória significativa: o fim da CPMF, alcançado com a persistência do DEM, a ajuda do PMDB e o engajamento da sociedade.

Por motivos diferentes, Aécio e Serra agiram por cálculo: o mineiro ciente de que a ruptura não faria bem ao projeto de manter o controle da província e o paulista crente que Lula retribuiria a gentileza pegando leve na eleição.

É possível que Serra tenha percebido o tamanho do equívoco e, por isso, cobra do partido agora oposição de verdade. Se o PSDB achar por bem responder ao chamado, é provável que Aécio se veja obrigado a atuar com assertividade oposicionista no Senado.

Os dois desobrigados das tarefas administrativas, ambos almejando o mesmo espaço, disputando hegemonia no mesmo partido com ressentimentos acumulados de parte a parte: um cenário nada propício à unidade.

FERNANDO REINACH

Habituado pela mente
Fernando Reinach 
O Estado de S.Paulo - 20/01/11

Imagine como seria a vida se você não fosse capaz de se acostumar. O décimo bombom seria tão saboroso quanto o primeiro. O calor sentido ao entrar em um local abafado continuaria a incomodar após horas de exposição. Isso só não ocorre porque nosso cérebro tem uma capacidade enorme de se acostumar. Os cientistas chamam esse processo de habituação.

Quando recebemos um estímulo de maneira repetitiva em um período curto, a resposta que ele provoca diminui: nos acostumamos. O processo de habituação ameniza sentimentos tão distintos quanto o prazer de ingerir alimentos ou a revolta com o baixo reajuste do nosso salário.

Até hoje se acreditava que a habituação dependia de o cérebro receber estímulos diretamente dos sentidos, sejam receptores gustativos ativados ao ingerirmos um bombom ou o sistema visual ao ver impresso o valor do salário. A novidade é que experimentos demonstraram que é possível obter a habituação sem que o cérebro receba estímulo dos sentidos. Basta que imaginemos diversas vezes o estímulo para que o cérebro diminua sua resposta.

O experimento foi feito com cerca de 50 voluntários e usando os doces M&Ms. Um grupo foi instruído a imaginar por 30 vezes o ato de retirar o doce de um frasco, colocar na boca, mastigar e engolir. Outro foi instruído a imaginar 27 vezes o ato de retirar uma moeda de um frasco e colocá-la em um caça-níquel e em seguida imaginar por 3 vezes que retirava uma bala de um frasco, colocava na boca, mastigava e engolia. O terceiro foi instruído a imaginar 30 vezes que retirava uma moeda de um frasco e a colocava em um caça-níquel.

Balança. Após os exercícios, todos eram postos frente a um pote de M&Ms e informados de que deveriam aguardar até serem chamados. Não era informado se deviam ou não comê-los. Os cientistas queriam saber quantos doces as pessoas de cada grupo comeriam. Isso era determinado quando os voluntários deixavam a sala e a quantidade de M&Ms consumida era determinada com uma balança. Os resultados mostram que os voluntários que imaginaram 30 vezes que estavam comendo M&Ms ingeriam em média 2,21 gramas, enquanto as que imaginaram que manipulavam moedas 30 vezes ou 27 vezes comeram 4,1 gramas. Isso mostra que imaginar que você come M&Ms é suficiente para provocar a habituação, ou seja, diminuir a vontade de ingeri-los.

O experimento foi repetido pedindo a outros voluntários que imaginassem estar trocando os M&Ms de um pote para outro sem levá-los à boca. Nesse caso, quando colocados na frente dos doces, todos (manipuladores de moedas ou doces) ingeriram por volta de 4 gramas.

Em um terceiro experimento, as pessoas eram estimuladas a se imaginar colocando M&Ms no caça-níquel e a ingerir queijo. Quando colocadas em frente ao queijo e aos M&Ms, a habituação ocorria somente em relação ao queijo. Diversas combinações foram testadas e em todos os casos a habituação só ocorria quando a pessoa imaginava o ato de comer.

O fenômeno de habituação, obtido com o ato de imaginar o consumo de alimentos diversas vezes, é o oposto do que ocorre quando se pede para a pessoa imaginar um alimento saboroso (poucas vezes e sem imaginar a ingestão). Nesse caso, ocorre o que os cientistas chamam de sensitização, um fenômeno que leva a um aumento no consumo dos alimentos. É o que ocorre quando observamos a foto de um alimento delicioso: nossa vontade de comer aumenta a ponto de salivarmos. A sensitização explica o sucesso das propagandas.

A descoberta de que a habituação pode ser induzida pela imaginação sugere novas estratégias para reduzir o apetite e permitir a perda de peso. Antes do jantar, vá à cozinha, veja o que vai ser servido, volte para a sala, imagine 30 vezes o ato de ingerir os alimentos, e só depois se sente para comer. O mais interessante é que a descoberta talvez ajude a explicar porque imaginar de maneira repetitiva um determinado comportamento pode reduzir nossa resposta quando nos defrontamos com ele.

NOVA NOVELA DA GLOBO - "A VIADAGEM"

MÔNICA BERGAMO

MARKETING AMIGO
MÔNICA BERGAMO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/01/11

Os dirigentes tucanos estão definindo o tom e o conteúdo dos dez minutos da propaganda do PSDB que será veiculada em rádio e TV no próximo mês. Sérgio Guerra, presidente do partido, diz que, sem marqueteiro oficial, tem pedido ajuda a gente ligada ao tucanato. Um dos conselheiros é o publicitário Marcello Serpa, sócio e diretor-geral de criação da AlmapBBDO, que nunca fez marketing político. "Dei pitacos informais como eleitor do PSDB e fã assumido do FHC", explica Serpa. E completa: nem ele nem a agência trabalham com política. Nem pretendem trabalhar no futuro.

MARKETING AMIGO 2

Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, diz que só no início da próxima semana terá a definição da agência que assumirá a conta do partido.

NO PEITO

A presidente Dilma Rousseff se comprometeu a vir colocar a medalha 25 de Janeiro no peito do ex-vice-presidente José Alencar, caso ele seja liberado pela equipe médica para participar das comemorações pelo aniversário de São Paulo. Alencar, que permanece internado no Hospital Sírio-Libanês, será condecorado pelo prefeito Gilberto Kassab com a comenda conferida a personalidades pelos 457 anos da cidade.

ACIONISTAS EM AÇÃO

O empresário Bernardo Gradin, da família que detém 21% da Odebrecht, diz, em entrevista à revista "Exame" que chega hoje às bancas, que os sócios o estão pressionando a vender sua parte, mas não o fará. Segundo ele, Marcelo Odebrecht, presidente do conglomerado, estaria tentando romper um acordo válido até 2021 para impor uma nova composição. Em meio à queda de braço, Gradin deixou a presidência da petroquímica Braskem, em novembro.

NA JUSTIÇA

A Odebrecht diz que não comenta o caso, "pois o assunto está sendo tratado em âmbito privado". Na disputa judicial, o grupo é representado pelo Barbosa, Müssnich & Aragão Advogados.

BARRACO
A chiadeira dos moradores dos condomínios do Real Parque, na zona sul, quanto à reurbanização da favela da área não encontra eco na Secretaria da Habitação. "A política atual não é de higienização, aquela de levar os moradores das favelas para a periferia", diz o secretário, Ricardo Pereira Leite. "Vamos melhorar as condições de moradia e mantê-los lá."

CLASSIFICADO
O secretário da Habitação afirma que o projeto vai valorizar a região como um todo. Segundo Pereira Leite, o metro quadrado no Real Parque hoje é baixo em relação a outras regiões, em torno de R$ 3.000, o mesmo da Cohab José Bonifácio, na zona leste.

PRATA DA CASA
O empresário e DJ Paulo Velloso será sócio das baladas Kiss and Fly e Buddha Bar, na Daslu.

POR BAIXO
A distribuidora de lingeries Co.Íntimas doará todo o acervo de coleções passadas para as vítimas das enchentes da região serrana do Rio. Em geral, as roupas de baixo são um item "esquecido" nas campanhas de arrecadação.

BAILE BAIANO

O camarote Expresso 2222, de Flora Gil, em Salvador, terá como tema neste ano os bailes antigos de Carnaval, com bandas de marchinha. O espaço terá shows de Preta Gil e Xanddy e o DJ Rodrigo Pena, da festa Bailinho.

TÔ CHEGANDO
O jogador de polo Rico Mansur discotecou na noite de reabertura da balada 3p4, anteontem, que teve entre os convidados Barbara Haddad e Daniel Casagrande. Michelle Cardoso e a modelo Mariana Coldebella enfeitaram a pista.

CURTO-CIRCUITO


Moraes Moreira e Davi Moraes se apresentam hoje, à meia-noite, no Studio SP. Mais cedo, às 22h, Luísa Maita canta na casa. 18 anos.

Filipe Catto se apresenta hoje, às 22h, no Tom Jazz. Classificação: 18 anos.

A locadora 2001 Vídeo abre hoje sua loja nos Jardins, com espaço para atividades infantis como teatro de fantoches e oficinas de livros e máscaras.

O grupo "Profissionais de Quinta", com arquitetos e designers, se reúne hoje no Studio SK para bate-papo sobre a reconstrução de áreas destruídas por enchentes.

com ELIANE TRINDADE (interina), DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

ADRIANO PIRES E ABEL HOLTZ

Burocracia desnecessária

ADRIANO PIRES  E  ABEL HOLTZ
O ESTADO DE SÃO PAULO - 20/01/11


A recente divulgação do estudo do World Energy Outlook nos dá conta de que a expansão dos sistemas de geração de energia elétrica mundial deverá contemplar de forma crescente as térmicas a carvão e nucleares, bem como as fontes eólicas, solar, biomassa e, onde possível for, geotérmicas. Emergentes como Brasil, China e Índia estão no topo da lista de consumidores de energia que necessitarão ampliar sua produção.

No País, além do crescimento da demanda, que significará investimentos vultosos em geração e transmissão, teremos que nos enquadrar ao decreto que definiu a Política Nacional sobre Mudanças Climáticas. A China será responsável pelo incremento em mais de 35% de toda a demanda mundial. Lá, em particular, existe ainda a necessidade de enquadramento nos compromissos de emissões de gases que provocam o efeito estufa, e seu governo iniciou um extenso programa de construção de usinas eólicas e nucleares. A Índia não ficará atrás. Seu programa de desenvolvimento industrial é pujante e o incremento na demanda por energia é previsível. Seus parques eólicos se desenvolvem e o seu governo incentiva a construção de forma definitiva.

No Brasil, continuaremos construindo hidrelétricas e devemos ampliar a participação das térmicas nucleares, além de eólicas e biomassa. Também deveríamos aprofundar nosso conhecimento sobre a energia solar, visto que, diante do nosso crescimento econômico, nos parece que as termossolares seriam adequadas a compor a nossa matriz de energia elétrica.

No caso das eólicas, parece que estamos na berlinda. A maior parte dos fabricantes mundiais de equipamentos está construindo fábricas ou iniciando compromissos no País. Deveremos passar dos atuais 927 MW para cerca de 6.000 MW em pouco mais de 10 anos. Hoje, predominantemente, a geração eólica está concentrada no Nordeste e no Sul. Mas os especialistas em clima afirmam que isso vai mudar rapidamente, pois os ventos que sopram sobre nosso território tendem a ampliar a disponibilidade para as demais regiões do País. Nesse contexto não se está considerando ainda a possibilidade de parques eólicos no litoral (offshore) que permitem uma maior produção de energia pela maior constância e velocidade dos ventos.

Agora, para que os parques eólicos se desenvolvam com maior consistência, muitos problemas e obstáculos burocráticos teriam de ser removidos. É preciso adotar uma política incentivadora e continuada para a fonte, para que os investimentos fossem feitos com maior segurança e consistência empresarial. Cabe lembrar a importância deste aspecto, porque no caso das PCHs as políticas de incentivo que fizeram crescer sua participação em nossa matriz de geração foram descontinuadas ou obstaculizadas a partir de dado momento, e recentemente perderam competitividade. Fatos como esse levam inquietações aos investidores de parques eólicos. E podemos citar outro exemplo: o transporte de pás e torres que tem de percorrer milhares de quilômetros entre o local de fabricação e o de instalação, passando por rodovias em mal estado de conservação e com legislações distintas a cada Estado. O mais estranho é que cada empresa pode transportar somente duas cargas especiais por mês.

Para ilustrar, citamos que, em decorrência do último leilão onde as eólicas predominaram, será necessário transportar 2 mil pás para os parques, em sua maioria, no Nordeste. Admitindo-se que sejam 10 as empresas proprietárias dos parques, elas terão que realizar 200 viagens para ter as pás nos locais de montagem. Como apenas são possíveis duas viagens por mês, cada uma delas precisará de 100 meses para o transporte das pás. Isso é inadmissível. Esse parece ser um aspecto ligado ao Ministério dos Transportes, mas o Ministério de Minas e Energia tem de se manifestar em benefício do consumidor de energia limpa de todas as regiões do Brasil. O sonho do crescimento limpo, calcado em fontes renováveis, é possível.

RESPECTIVAMENTE: DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA (CBIE); ENGENHEIRO, CONSULTOR NA ÁREA DE ENERGIA E NEGÓCIOS DA ABEL HOLTZ & ASSOCIADOS

GOSTOSA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Mistérios
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 20/01/11

O Comitê Olímpico Brasileiro faz segredo para o público sobre o Prêmio Brasil Olímpico 2010, realizado em dezembro. Há quem desconfie que a festa do "Oscar" dos atletas não tenha sido licitada. Alberto Murray Neto, advogado e ex-membro do COB, encaminhou alerta nesse sentido à Procuradoria da República.

Mistérios 2
Procurada pela coluna, a entidade informou que "sim, houve processo formal para compras e contratações para a realização do prêmio (...) nos termos autorizados pelo Manual de Compras do COB". Mas se recusou a apresentar cópias dos editais. Mesmo que o Manual de Procedimento Administrativo do órgão determine que estes sejam públicos. Também se negou a informar os custos e a empresa contratada para organizar o evento.

Mistérios 3

O COB alega que "o TCU e a CGU têm total acesso a tais procedimentos, e auditam gastos permanentemente". O Prêmio Brasil Olímpico 2009 recebeu R$ 1,8 milhão só do Ministério do Esporte.

Resistência
A possível volta de Joaquim Lopes da Silva à presidência da EMTU não agrada a todos. Há funcionário da empresa que não esquece episódio ocorrido na primeira gestão Lopes: desde 2005 a EMTU responde ação por contratação de serviço de micro-ônibus sem licitação.

Céu sem brigadeiro
Diante de risco iminente de acidentes, a Força Aérea tenta organizar a bagunça no céu da região serrana do Rio. Para isso, montou três pontos de informação de voo. A ideia é ordenar o tráfego de helicópteros. A partir de hoje, aeronaves terão de operar em frequência estabelecida pela FAB. Desta forma, pilotos terão como saber a rota dos colegas. Atualmente, cerca de 50 helicópteros estão voando baixo e entre morros.

Surpresa
Ney Matogrosso e João Ricardo, compositor dos Secos & Molhados, voltaram a trabalhar em projeto comum. Mas não como parceiros, já que não se falam há décadas. A dupla participa do primeiro disco da banda Zabomba, que sai pelo selo Label A. Ney canta Mente, e João cedeu a canção Teatro?.

Sem sal

André Fischer, diretor do site gay Mix Brasil, comentou a eliminação de Ariadna na primeiro paredão do BBB, anteontem. "Foi prova da caretice e atraso do público brasileiro, já que edições internacionais do programa tiveram transexuais bem aceitas", acredita.
Fischer cita, porém, erro de estratégia. "Ela poderia ter se revelado na casa. Assim, o receio dos outros pareceria preconceito e, talvez, não a levassem ao paredão".

Quem canta...
Machado de Assis que se cuide. Foi aprovado para captação de recursos projeto de transformar a obra Dom Casmurro em... Musical.

Na frente

Ebe Reale, filha de Miguel Reale, autografa em alto-mar Colégio Dante Alighieri: 100 Anos de História, Cultura e Educação. Mais precisamente no cruzeiro que parte amanhã, de Santos, para comemorar o centenário da escola, da qual foi aluna.

O projeto Cedo e Sentado, do Studio SP, recebe Luísa Maita e Junio Barreto. Hoje.

Marcelo Rosenbaum e Isay Weinfeld, dentre outros, darão o curso 1 Semestre de Design: Processos Criativos. Em março, na Escola São Paulo.

Um paulista foi a restaurante em Barra Grande, Bahia, e pediu um simples prato de comida. Tomou susto: recebeu primeiro, e sem solicitar, caixa de... dominó.

ROBERTO MACEDO


O desastroso IGP da FGV

Roberto Macedo 

O Estado de S.Paulo - 20/01/11
Nesta época de calamidades, há uma que não chega às manchetes, mas também causa sérios danos, a devedores, com destaque para Estados e municípios, e também a inquilinos e cidadãos em geral.

Refiro-me aos maléficos efeitos de um quase septuagenário, mas ainda muito ativo índice mensal de inflação, nascido em 1947, o Índice Geral de Preços (IGP). Embora produzido por uma instituição de renome, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), esse geral não faz jus ao nome. Divulgado como IGP-DI (Disponibilidade Interna), tem um irmão quase gêmeo, o IGP-M, ou de Mercado, que entra em cena uma quinzena antes, apurado entre o dia 15 do mês anterior àquele "a que se refere" e o dia 15 deste último, para atender a uma demanda do setor financeiro, a de dispor de um índice de inflação "do mês" antes do seu final.

O problema vem da estrutura do índice, inalterada desde que nasceu. Nela, preços no atacado participam com 60%; preços ao consumidor, com 30%; e custos da construção civil, com 10%. Quando surgiu, o IGP procurava obter medida aproximada da variação dos preços em geral. Na época, mesmo que apresentasse distorções, elas não tinham maior relevância, pois o uso do IGP como indexador ou "corretor monetário" de preços, contratos e dívidas só passou a ter maior alcance após o bem posterior e sério agravamento da inflação.

O Plano Real domou-a e extinguiu a indexação de prazo inferior a um ano, mas mesmo a remanescente é um problema, pois significa que parte da inflação passada se transmite à atual. Ora, isso dificulta a sua redução e é também obstáculo importante no caminho de trazer as taxas de juros brasileiras para valores menos incivilizados do que os que deixam o País em posição vexatória em comparações internacionais.

O IGP integra esse "entulho indexatório" de forma fortemente distorcida. Sua estrutura não se adaptou às mudanças na economia. No caso, as mais relevantes foram a maior inserção do País numa economia mundial mais globalizada, o regime de taxas de câmbio flutuantes aqui adotado desde 1999 e o forte avanço dos preços de commodities exportadas pelo Brasil, na esteira do forte crescimento da economia mundial desde 2003.

Para fins de comparação, tomemos as taxas do IGP-DI e do IPCA, um índice do IBGE de preços ao consumidor, que assim mede melhor os preços finais dos bens e serviços da economia. Nessa comparação, o impacto dos fortes aumentos da taxa cambial em reais por dólar, em seguida à adoção do câmbio flutuante, pode ser percebido. Em 1998, antes dessa adoção, as taxas anuais do IGP-DI e do IPCA foram bem próximas (3,89% e 3,20%, respectivamente). No período 1999-2004, a taxa anual média (aritmética) do primeiro índice foi de 13,5%, enquanto a do segundo foi de 8,1%.

De 2005 até 2009 a diferença entre as médias anuais das taxas dos dois índices foi mínima (IGP-DI, 4,2%; IPCA, 4,4%), mas em 2010, em particular pela recuperação pós-crise dos preços das commodities, as taxas anuais de novo mostraram enorme discrepância (11,3% e 5,91%, respectivamente).

A razão básica do contraste é que tanto a taxa de câmbio como os preços das commodities afetam mais os preços no atacado, que têm forte participação nos IGPs. Esses preços também repercutem no varejo, mas no IPCA seu efeito é diluído por seu menor peso nos orçamentos domésticos que determinam a estrutura desse índice.

Em síntese, o IGP não tem nada de geral, é concentrado no atacado e mais reflete o efeito de causas específicas como as apontadas, o que leva a distorções quando usado como indexador. Por que corrigir valores de aluguéis, de tarifas públicas e de dívidas de Estados e municípios por um índice assim tão propenso a distorções?

Os que pagam aluguéis e essas tarifas integram a multidão anônima que não tem a quem recorrer, pois nossos parlamentares - em tese, representantes do povo -, na sua maioria, parecem mais preocupados em aumentar seus salários bem acima da variação de qualquer índice de preços. Quem tem reclamado são alguns governadores e prefeitos, pois percebem que as dívidas sob sua gestão, que têm como credor principal o governo federal, estão crescendo absurdamente, pelo efeito do IGP-DI combinado com os juros, ambos a taxas compostas.

Mas mesmo nesses casos o problema poucas vezes vem à tona, pois, embora prefeitos e governadores saibam que há uma bomba-relógio programada para explodir os orçamentos de suas esferas de governo, isso ocorrerá bem à frente de suas gestões ou mesmo de sua vida, e muitos se omitem quanto ao assunto.

A coisa funciona assim: as dívidas estaduais e municipais crescem pelo efeito do IGP-DI e dos juros, mas o desembolso com o serviço mensal da dívida, com prazo original de 30 anos, com cerca de 10 já passados, é limitado a 13% da receita corrente líquida desses entes federativos. Dessa forma, conformam-se em pagar esse valor, mas ao fim do prazo haverá um saldo devedor, a ser pago em 10 anos e sem esse limite de 13%.

Recentemente, o então secretário das Finanças do Município de São Paulo, Walter Aluísio Rodrigues, assim escreveu: para 2030 "as projeções indicam que, caso as distorções atuais sejam mantidas, a parcela que hoje corresponde a 13% das receitas municipais poderá alcançar a marca estratosférica de 90%" (Valor, 30/12/2010).

Mas, como essa superação do limite de 13% só virá a partir de 2030, o governo federal, credor dessas dívidas, fiel à sua tradição preferir o mau socorro em lugar da boa prevenção, também ignora o grave problema. E, no plano dos aluguéis e das tarifas públicas, o povo continuará pagando pela superindexação induzida pelos IGPs.

Que o governo federal seja omisso não é novidade, mas continuo sem entender por que uma instituição como a FGV ainda produz esses malditos índices.
ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP, É VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO

GOSTOSA

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Chá das cinco
RANIER BRAGON - interino
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/01/11

Senadores e deputados "plantonistas" promovem hoje em Brasília sessão que é classificada nos bastidores como mera peça de marketing dos presidentes José Sarney (PMDB-AP) e Marco Maia (PT-RS), candidatos à reeleição. Com o objetivo oficial de adotar medidas que não podem esperar a volta do Legislativo ao trabalho, daqui a 13 dias, os 25 integrantes da comissão representativa do Congresso vão analisar a MP que liberou R$ 780 milhões para cidades atingidas pelas chuvas. Além de a medida prescindir da ação do Congresso para vigorar, não há permissão legal para sua votação agora -seria necessário aval da Comissão de Orçamento, que está em férias.


Veja bem 

Embora a convocação oficial seja para analisar apenas a MP, Maia anunciou que irá discutir outras propostas relacionadas ao tema. Os 25 "plantonistas" representam só 4% dos 594 congressistas que iniciam os trabalhos a partir do dia 2 de fevereiro.

Reforço 

O economista Ricardo Paes de Barros será o secretário de ações estratégicas do ministro Moreira Franco (Assuntos Estratégicos). Cuidará dos temas da área social, em especial a erradicação da miséria.

Na agenda 
Um próximo round entre PT e PMDB se dará em torno do Departamento Nacional de Produção Mineral. O PMDB quer a diretoria-geral do órgão, cargo hoje ocupado por Miguel Nery, que está lá com a bênção de petistas.

Fila 
Com a desistência de Sandro Mabel (GO) em disputar a liderança da bancada do PR na Câmara, já são três os candidatos à vaga: Luciano Castro (RR), Milton Monti (SP) e Lincoln Portela (MG).

Monólogo 
A manifestação do ex-prefeito Cesar Maia (DEM-RJ) sobre o racha no DEM inspirou comentários irônicos na internet não só pelas opiniões, mas pelo fato de a entrevista ter sido dada ao seu próprio "ex-blog".

Estado laico
 
Mariela Castro (sobrinha de Fidel), o ex-ministro Carlos Minc e outros 7.000 pesquisadores e acadêmicos assinaram manifesto entregue às secretarias de Direitos Humanos e de Políticas para as Mulheres que cobra do governo federal inserção do aborto na agenda de saúde pública. Os ativistas pedem que o tema seja afastado da pauta religiosa que permeou a campanha.

Mais-valia 
Depois de apelar à Justiça contra o reajuste de 62% para os deputados, o PSTU leva o tema hoje ao horário nobre da TV. O programa partidário vai comparar os vencimentos dos congressistas à alta do salário mínimo, de R$ 30.

Control C 
Anunciado por Geraldo Alckmin na Campus Party como "pioneiro e inédito", o portal "Governo Aberto" traz bases de dados que já estavam disponíveis para consulta pública. A lista inclui até um ranking de investimentos anunciados por região que tem como fonte os veículos de comunicação de cada localidade.

Novo CEP 
O senador eleito Aloysio Nunes (PSDB-SP) avisou a colaboradores que se mudará para Brasília a partir da posse, mantendo modesta base política na capital paulista. "Não quero fazer a semana parlamentar, de terça a quinta. Virei a São Paulo a cada 15 dias. Há muito o que fazer", diz.

Abrigo 
Barrado nas urnas, o deputado federal Lobbe Neto (PSDB-SP) será o novo presidente do Cepam (Centro de Estudos e Pesquisas da Administração Municipal), entidade mantida pelo governo de São Paulo.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

Tiroteio


"É queda e coice para a moralidade pública. Além de não ser punido, Delúbio receberá de seu partido a refiliação como prêmio."
DO SENADOR JOSÉ AGRIPINO (DEM-RN), sobre a movimentação de lideranças do PT para integrar novamente à legenda o ex-tesoureiro Delúbio Soares, um dos réus no processo que investiga o escândalo do mensalão.

Contraponto

Som na caixa


Na posse ontem do novo presidente do INSS, o ministro Garibaldi Alves Filho (Previdência) se preparava para responder a perguntas de jornalistas sobre as divergências de bastidor entre PT e PMDB, além dos cortes no orçamento da pasta, quando subiu uma música alta no salão, praticamente inviabilizando a entrevista. Ele riu e disse que aquilo havia vindo "por encomenda". Quando desligaram o som, acrescentou:
-A cada dia eu estou gostando mais do INSS.