O GLOBO - 03/08
O governo do PT montou em dez anos uma orgia de gastos públicos sem precedentes — e sem investimentos, sem projetos. A inflação é o efeito colateral mais visível desse golpe
O Brasil sofre de orfandade crônica. Está sempre procurando um pai. De repente o país saiu às ruas, indignado. Parecia ter finalmente entendido que seus problemas não se resolvem com a aclamação de bonzinhos profissionais, e seus melodramas de esquerda. A popularidade dos governantes despencou. O povo sentira o colapso administrativo do populismo, e queria ação. Aí chegou o Papa Francisco.
Milhões de brasileiros saíram às ruas novamente, e o resto do país grudou na tela da TV. O povo revoltado com o império do blá-blá-blá estava, agora, derretido com as palavras bondosas de Francisco. Euforia geral: papai chegou. Vejam como o Papa é simples! Notem como é despojado, com seu carro modesto de janela aberta! Olhem o Papa preso no engarrafamento, sem medo do povo! Vivam os novos tempos!
É comovente ver um povo se lambuzar todo com essas esmolas de esperança.
Esmolas valiosas, aliás, para os profissionais da bondade que andavam chamuscados. Até a presidente da Argentina veio tirar foto com o sorridente Francisco em Copacabana. Cristina Kirchner acaba de vitaminar sua ditadura do bem, com poderes de intervenção estatal na mídia, enquanto sua foto com o Papa bonzinho circula em material de propaganda por todo o país. Como é barato lavar uma reputação...
Dilma Rousseff sabe disso, e também não perdeu a pechincha de Francisco: pegando uma carona na aura imaculada do santo homem, despejou um discurso petista daqueles mais satânicos, cheio de autoexaltações paranoicas e fraudes retóricas convictas. Dilma disse que as manifestações de rua são sinal de dez anos de êxito do PT. E o Papa ouviu sorridente. Deus abençoe a cara de pau.
O desfile de simplicidade e despojamento de Francisco, que custou uns 300 milhões de reais ao contribuinte, foi uma bênção para o governo popular. Não há mau humor no Brasil que sobreviva ao carnaval, e a micareta cristã veio a calhar.
Como se sabe, os brasileiros acham que ajuntamento de gente é sinônimo de grandiosidade. Da mesma forma que as passeatas contra tudo (e contra nada) foram saudadas como um novo Maio de 68, as multidões que atravancaram o cotidiano carioca em torno de Sua Santidade viraram o “show da fé”, o alvorecer da boa vontade franciscana etc. De muvuca em muvuca, de mistificação em mistificação, o país vai caminhando epicamente para lugar nenhum.
Recitando sua cartilha progressista, Francisco declarou que não gosta de jovem que não protesta. Pronto: quem mandou você, estudante alienado que só pensa em estudar, ficar em casa? Está excomungado. Por que não fez como o jovem que foi à passeata em Belo Horizonte com um cartaz pedindo “Jô titular!” — um brado indignado para que Felipão escalasse o artilheiro do Atlético-MG? Esse não vai para a lista negra do Papa.
Assim é o populismo: calcula o que a multidão quer ouvir e manda bala. “Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”, disse Francisco, levando à apoteose o presépio progressista. Bem, vamos ajudar esse Papa simpaticíssimo e responder quem é ele: é o representante máximo de uma religião que não tolera as relações homossexuais. Caberia então perguntar ao novo Papa: está propondo uma mudança radical na doutrina do catolicismo? Está indicando que a Igreja deverá aceitar o sexo entre iguais, portanto sem fins reprodutivos?
Se o Papa responder que sim, estaremos diante de uma revolução. Mas se ele não responder — e ele jamais responderá —, a declaração sobre os gays terá sido só uma frase de efeito. Um truque político.
O Brasil revoltado que foi às ruas e invadiu palácios deveria estar farto de truques políticos. Deveria estar farto, ou ao menos desconfiado, de líderes que trazem o paraíso na garganta. As manifestações estouraram porque a vida piorou. E a vida piorou por causa do “show da fé” numa administração fajuta, disfarçada por alegorias e bandeirolas progressistas.
O governo do PT montou em dez anos uma orgia de gastos públicos sem precedentes — e sem investimentos, sem projetos, pura alimentação do parasitismo político. A inflação é o efeito colateral mais visível desse golpe. Mas Dilma acaba de declarar, tranquilamente, que a sua Disneylândia de ministérios não afeta as contas públicas. E que a inflação era um problema no governo Fernando Henrique, não no de Lula e no seu. O PT é especialista em falsidade ideológica por falta de contraditório. Tudo cola. A mentira progressista tem perna longa — pelo menos mais longa que a dos manifestantes ninja, que andam muito e nunca chegam.
Acaba de sair novo relatório de superfaturamento milionário no Dnit — aquele mesmo Dnit que levou à queda do ministro dos Transportes, na famosa faxina de Dilma. Isto é: a ordenha prossegue normalmente. Onde está a mídia ninja? Melhor rezar para Francisco.
sábado, agosto 03, 2013
Rebelde precoce - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 03/08
No meu tempo, criança não tinha mau humor, que era coisa de adulto
Com certeza por ciúmes do irmãozinho Eric, mas também provavelmente por influência dos protestos de rua, minha neta Alice, a dois meses de completar 4 anos, tem estado muito rebelde — malcriada, desobediente, respondona. Respeito que, é bom, nada, pelo menos em relação a mim. Faz caretas com a língua de fora — “brruuuu” — e só falta me vaiar. Acho que tudo piorou depois que o Papa, fazendo apologia da contestação, anunciou que “um jovem que não protesta não me agrada”. Ela deve ter visto na TV e resolveu seguir o evangelho segundo Francisco. Ainda ontem, brincando com ela de massinha de modelar, confundi a figura de um cachorro com a de um cavalo, uma confusão que eu julgava natural na minha idade. Pra quê? “Você só faz bobagem”, ela me recriminou e eu fiquei tentando me lembrar se algum dia ousei falar assim com meu avô. Quando tento uma gracinha, em vez de provocar risos, recebo gozação: “Vovô Zu é bobo!” “Tive uma ótima ideia”, ela diz e, diante de minha curiosidade para saber qual era, exibe seu preconceito feminista: “Não adianta, homem não sabe nada.” Essa impaciência se manifesta também toda vez que não consigo aprender a lidar com o Ipad, que ela domina.
No meu tempo, criança não tinha mau humor, que era coisa de adulto. Já Alice tem acordado mal-humorada, ou porque não dormiu bem ou por motivos não revelados. “Estou irritada e hoje não quero conversa com ninguém”, limita-se a responder. A única maneira que descobri para romper esse gelo não é recomendada, porque se trata de suborno. Como, além de gênio, ela é interesseira, apelo: “Pena você não querer conversa porque tinha um presente-surpresa pra você.” Ela vem correndo e eu dou escondido o biscoito de chocolate que ela adora e que o pai proíbe fora de hora. Uma amiga politicamente correta se escandalizou: “Isso é corrupção!”, me recriminou, e eu a provoquei: “Estou preparando ela para a vida lá fora.” Enfim, já vejo o dia em que, repetindo o ronco das ruas, minha neta vai chegar exibindo para mim o cartaz: “Você não me representa.” Aí eu chamo a polícia.
Preocupada com esse estado de ânimo de Alice, Mary resolveu recorrer à sua amiga Lucia, que a tranquilizou, informando que Lucinda, um ano mais velha, também passou por essa fase. Aliás, continua. É a chamada fase “monstro”. Se não se percebe isso nas crônicas-exaltação do Verissimo abordando o tema, é que esse deslumbramento irrestrito parece que é comum nos avôs de idade mais avançada.
Tenho muito medo de chegar lá assim.
No meu tempo, criança não tinha mau humor, que era coisa de adulto
Com certeza por ciúmes do irmãozinho Eric, mas também provavelmente por influência dos protestos de rua, minha neta Alice, a dois meses de completar 4 anos, tem estado muito rebelde — malcriada, desobediente, respondona. Respeito que, é bom, nada, pelo menos em relação a mim. Faz caretas com a língua de fora — “brruuuu” — e só falta me vaiar. Acho que tudo piorou depois que o Papa, fazendo apologia da contestação, anunciou que “um jovem que não protesta não me agrada”. Ela deve ter visto na TV e resolveu seguir o evangelho segundo Francisco. Ainda ontem, brincando com ela de massinha de modelar, confundi a figura de um cachorro com a de um cavalo, uma confusão que eu julgava natural na minha idade. Pra quê? “Você só faz bobagem”, ela me recriminou e eu fiquei tentando me lembrar se algum dia ousei falar assim com meu avô. Quando tento uma gracinha, em vez de provocar risos, recebo gozação: “Vovô Zu é bobo!” “Tive uma ótima ideia”, ela diz e, diante de minha curiosidade para saber qual era, exibe seu preconceito feminista: “Não adianta, homem não sabe nada.” Essa impaciência se manifesta também toda vez que não consigo aprender a lidar com o Ipad, que ela domina.
No meu tempo, criança não tinha mau humor, que era coisa de adulto. Já Alice tem acordado mal-humorada, ou porque não dormiu bem ou por motivos não revelados. “Estou irritada e hoje não quero conversa com ninguém”, limita-se a responder. A única maneira que descobri para romper esse gelo não é recomendada, porque se trata de suborno. Como, além de gênio, ela é interesseira, apelo: “Pena você não querer conversa porque tinha um presente-surpresa pra você.” Ela vem correndo e eu dou escondido o biscoito de chocolate que ela adora e que o pai proíbe fora de hora. Uma amiga politicamente correta se escandalizou: “Isso é corrupção!”, me recriminou, e eu a provoquei: “Estou preparando ela para a vida lá fora.” Enfim, já vejo o dia em que, repetindo o ronco das ruas, minha neta vai chegar exibindo para mim o cartaz: “Você não me representa.” Aí eu chamo a polícia.
Preocupada com esse estado de ânimo de Alice, Mary resolveu recorrer à sua amiga Lucia, que a tranquilizou, informando que Lucinda, um ano mais velha, também passou por essa fase. Aliás, continua. É a chamada fase “monstro”. Se não se percebe isso nas crônicas-exaltação do Verissimo abordando o tema, é que esse deslumbramento irrestrito parece que é comum nos avôs de idade mais avançada.
Tenho muito medo de chegar lá assim.
Uau! Porta do Cabral vira balada! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 03/08
Não tá cruel ser bambi, tá desumano! Meu São Paulo na Copa Audi foi rebaixado pra Copa Fusca!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! A porta da casa do Cabral virou balada.
Vou abrir uma van de cachorro-quente. Hot dog, R$ 0,20! E ainda levo a Valdirene e a chacrete pra me ajudarem.
E um amigo comprou o primeiro andar por R$ 20 mil e eu posso atender pela janela. E uma mais radical gritou: "Vende coquetel molotov". Rarará!
E essa: "Dilma recua e agora declara que o povo vai ter que cumprir dez anos no SUS".
E o novo apelido do Alckmin é AlckSiemens! E o Alckmin tá certo: "A malha metroviária de São Paulo é boa". Boa, superfaturada, super-roubada e superlotada.
E o meu São Paulo? Não tá cruel ser bambi, tá desumano! São Paulo na Copa Audi! Foi rebaixado pra Copa Fusca! Como disse o tuiteiro Spartacus: "O São Paulo foi atrás de um Audi e trouxe três Gols". Por enquanto!
Um esclarecimento: a Vexame Tour do São Paulo já acabou ou a gente vai perder pra mais alguém? Perder pro Benfica. Perder o voo de volta! O São Paulo vai perder até o voo de volta.
E o Sarney era menino e o Rogério Ceni já era goleiro do São Paulo! E essa história de goleiro bater pênalti já deu o que tinha que dar! E a última vez que o São Paulo ganhou eu ainda usava Orkut!
E essa do Humor Esportivo: "Do Audi, o São Paulo só leva a lanterna". O São Paulo trouxe três gols, um frango e uma lanterna! Rarará!
E o técnico se chama Autuori! Autuori em flagrante! Rarará! Autua o Autuori!
E o Flamengo? Já disse que o Flamengo tá igual à Vanusa: não sabe e não lembra onde tava hoje! Rarará!
É mole? É mole mas sobe!
O Brasil é Lúdico! Olha o adesivo nessa kombi: "FRETE-SE". Adoro esse pronome "se", é tão inútil que as pessoas usam aleatoriamente. Como essa placa no Jalapão: "Temos-se sorvetes". Rarará.
Fica mais chique! Não vejo essas placas como crítica à ignorância e ao analfabetismo do brasileiro. Vejo que, quando numa situação de carência, o brasileiro se torna dinâmico, criativo, lúdico!
Como esse cartaz na balsa de Porto Seguro: "Aluga-se Bicicleta-se". Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Não tá cruel ser bambi, tá desumano! Meu São Paulo na Copa Audi foi rebaixado pra Copa Fusca!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! A porta da casa do Cabral virou balada.
Vou abrir uma van de cachorro-quente. Hot dog, R$ 0,20! E ainda levo a Valdirene e a chacrete pra me ajudarem.
E um amigo comprou o primeiro andar por R$ 20 mil e eu posso atender pela janela. E uma mais radical gritou: "Vende coquetel molotov". Rarará!
E essa: "Dilma recua e agora declara que o povo vai ter que cumprir dez anos no SUS".
E o novo apelido do Alckmin é AlckSiemens! E o Alckmin tá certo: "A malha metroviária de São Paulo é boa". Boa, superfaturada, super-roubada e superlotada.
E o meu São Paulo? Não tá cruel ser bambi, tá desumano! São Paulo na Copa Audi! Foi rebaixado pra Copa Fusca! Como disse o tuiteiro Spartacus: "O São Paulo foi atrás de um Audi e trouxe três Gols". Por enquanto!
Um esclarecimento: a Vexame Tour do São Paulo já acabou ou a gente vai perder pra mais alguém? Perder pro Benfica. Perder o voo de volta! O São Paulo vai perder até o voo de volta.
E o Sarney era menino e o Rogério Ceni já era goleiro do São Paulo! E essa história de goleiro bater pênalti já deu o que tinha que dar! E a última vez que o São Paulo ganhou eu ainda usava Orkut!
E essa do Humor Esportivo: "Do Audi, o São Paulo só leva a lanterna". O São Paulo trouxe três gols, um frango e uma lanterna! Rarará!
E o técnico se chama Autuori! Autuori em flagrante! Rarará! Autua o Autuori!
E o Flamengo? Já disse que o Flamengo tá igual à Vanusa: não sabe e não lembra onde tava hoje! Rarará!
É mole? É mole mas sobe!
O Brasil é Lúdico! Olha o adesivo nessa kombi: "FRETE-SE". Adoro esse pronome "se", é tão inútil que as pessoas usam aleatoriamente. Como essa placa no Jalapão: "Temos-se sorvetes". Rarará.
Fica mais chique! Não vejo essas placas como crítica à ignorância e ao analfabetismo do brasileiro. Vejo que, quando numa situação de carência, o brasileiro se torna dinâmico, criativo, lúdico!
Como esse cartaz na balsa de Porto Seguro: "Aluga-se Bicicleta-se". Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Vida mais comprida - CELSO MING
ESTADÃO - 03/08
Se viver é bom, viver mais haverá de ser melhor ainda. Mas isso tem lá seus preços.
Nesta sexta-feira, o IBGE divulgou sua atualização sobre a expectativa de vida do brasileiro e o que se vê, na média, é uma vida cada vez mais longa pela frente, apesar da mortalidade infantil (que caiu de 69,1% em 1980 para 16,7% em 2010) e apesar de tantos acidentes e tanta morte entre os jovens.
No Brasil, em 30 anos, a esperança de vida aumentou, na média, quatro meses e 15 dias por ano. Quem nasceu em 2010, tinha uma probabilidade de vida de 73 anos, nada menos que 11 anos e quase 3 meses a mais do que quem nasceu em 1980.
Esse não é um fenômeno apenas brasileiro. Toda a população mundial está vivendo mais e… envelhecendo. Nos anos 50, o cinquentão já era considerado idoso. Hoje, um septuagenário tem todo o direito de se reconhecer saudável e com muitos projetos pela frente.
Esse é o resultado da conjunção favorável de grande número de fatores: substancial melhora das condições sanitárias da população; avanços na medicina e nas técnicas de prevenção de doenças, como a vacinação em massa e exames clínicos periódicos; medicamentos modernos, especialmente os antibióticos; cada vez maiores exigências na qualidade dos alimentos; mais instrução (e mais esclarecimento) da população.
Embora seja considerado o resultado de melhores condições de vida, essas transformações das estruturas etárias produzem importantes consequências econômicas, políticas e sociais.
Para os sistemas de previdência, por exemplo, implicam despesas crescentes com aposentadoria. Uma população mais velha está mais sujeita a doenças degenerativas, ao contrário de populações relativamente mais jovens, mais vulneráveis às doenças infecciosas. Esse fenômeno demográfico relativamente novo na história do homem, conjugado com o encarecimento da medicina, vai impor crescentes despesas com tratamentos de saúde.
Parecem poucos os administradores de fundos de pensão e de planos de saúde do Brasil que vêm se preparando para encarar a nova realidade e tratar de formação mais adequada e mais segura de reservas. Em todo o caso, já se mostram fortemente propensos a esticar a mensalidade dos seus associados.
Do ponto de vista das políticas públicas, o aumento da expectativa de vida vai exigir importantes revisões de planejamento. Um governo pode vir a ter de providenciar mais cuidados para com os idosos e menos construção de escolas.
Daqui para a frente, os mais velhos se sentirão cada vez mais obrigados a esticar sua vida ativa para garantir a complementação do seu sustento. Em contrapartida, tendem a se ocupar por mais tempo de atividades profissionais, o que exigirá dos jovens mais preparação por mais tempo para a entrada no mercado de trabalho, algo que já começa a acontecer também no Brasil.
Provavelmente o maior impacto desse forte incremento da expectativa de vida seja na política. Uma população em que o número de coroas tende a crescer proporcionalmente mais do que a dos jovens tende a pensar e agir mais conservadoramente. E esse conservadorismo terá seu peso no voto.
Se viver é bom, viver mais haverá de ser melhor ainda. Mas isso tem lá seus preços.
Nesta sexta-feira, o IBGE divulgou sua atualização sobre a expectativa de vida do brasileiro e o que se vê, na média, é uma vida cada vez mais longa pela frente, apesar da mortalidade infantil (que caiu de 69,1% em 1980 para 16,7% em 2010) e apesar de tantos acidentes e tanta morte entre os jovens.
No Brasil, em 30 anos, a esperança de vida aumentou, na média, quatro meses e 15 dias por ano. Quem nasceu em 2010, tinha uma probabilidade de vida de 73 anos, nada menos que 11 anos e quase 3 meses a mais do que quem nasceu em 1980.
Esse não é um fenômeno apenas brasileiro. Toda a população mundial está vivendo mais e… envelhecendo. Nos anos 50, o cinquentão já era considerado idoso. Hoje, um septuagenário tem todo o direito de se reconhecer saudável e com muitos projetos pela frente.
Esse é o resultado da conjunção favorável de grande número de fatores: substancial melhora das condições sanitárias da população; avanços na medicina e nas técnicas de prevenção de doenças, como a vacinação em massa e exames clínicos periódicos; medicamentos modernos, especialmente os antibióticos; cada vez maiores exigências na qualidade dos alimentos; mais instrução (e mais esclarecimento) da população.
Embora seja considerado o resultado de melhores condições de vida, essas transformações das estruturas etárias produzem importantes consequências econômicas, políticas e sociais.
Para os sistemas de previdência, por exemplo, implicam despesas crescentes com aposentadoria. Uma população mais velha está mais sujeita a doenças degenerativas, ao contrário de populações relativamente mais jovens, mais vulneráveis às doenças infecciosas. Esse fenômeno demográfico relativamente novo na história do homem, conjugado com o encarecimento da medicina, vai impor crescentes despesas com tratamentos de saúde.
Parecem poucos os administradores de fundos de pensão e de planos de saúde do Brasil que vêm se preparando para encarar a nova realidade e tratar de formação mais adequada e mais segura de reservas. Em todo o caso, já se mostram fortemente propensos a esticar a mensalidade dos seus associados.
Do ponto de vista das políticas públicas, o aumento da expectativa de vida vai exigir importantes revisões de planejamento. Um governo pode vir a ter de providenciar mais cuidados para com os idosos e menos construção de escolas.
Daqui para a frente, os mais velhos se sentirão cada vez mais obrigados a esticar sua vida ativa para garantir a complementação do seu sustento. Em contrapartida, tendem a se ocupar por mais tempo de atividades profissionais, o que exigirá dos jovens mais preparação por mais tempo para a entrada no mercado de trabalho, algo que já começa a acontecer também no Brasil.
Provavelmente o maior impacto desse forte incremento da expectativa de vida seja na política. Uma população em que o número de coroas tende a crescer proporcionalmente mais do que a dos jovens tende a pensar e agir mais conservadoramente. E esse conservadorismo terá seu peso no voto.
Dados mais gerais - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 03/08
Hoje, a pesquisa de emprego do IBGE é feita apenas em seis cidades. A partir de novembro, começarão a ser divulgados os dados de 3.400 municípios. O país terá pela primeira vez um indicador de desemprego nacional. Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, diz que a pesquisa já está em testes desde 2011: é a Pnad Contínua, um antigo projeto do instituto.
A PME é mensal e só é coletada no Rio, São Paulo, Salvador, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre. A Pnad traz dados do Brasil inteiro, mas só uma vez por ano. O esforço foi fazer algo com a periodicidade da PME, mas com a abrangência da Pnad. Inicialmente, os dados serão divulgados trimestralmente, mas, depois, passarão a ser mensais.
Cimar me contou isso numa entrevista que fiz com ele e a pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas Joana Monteiro, sobre um tema que frequenta sempre esta coluna: o alto desemprego de jovens, e, pior, o alto número de jovens que nem estudam, nem trabalham, nem estão procurando emprego. Cimar incluiu outro "nem": o IBGE tem perguntado aos jovens que não estão estudando ou trabalhando se eles estão fazendo algum curso de qualificação no momento. A maioria não está.
Os números estão exigindo das políticas públicas, dos especialistas, formadores de opinião, educadores, empresários uma dedicação maior ao tema. De 16 a 24 anos, são 15% os desempregados, ou seja, os que procuram emprego e não encontram. Já foram 22%, há dez anos, portanto, melhorou. Mas há dois pontos a considerar. Primeiro, havia caído mais, e agora voltou a subir. Segundo, quando a taxa era 22% era o dobro do desemprego médio da população; agora, que o mercado de trabalho está melhor, o desemprego dos jovens passou a ser o triplo da média do país. Uma boa notícia, contou Cimar, é que os jovens que entram no mercado de trabalho estão com um percentual maior, até 60%, de carteira assinada.
Joana Monteiro tem estudado o fenômeno dos nem-nem-nem. Não estudam, não trabalham, não procuram emprego. São 17% da população de 18 a 24 anos. A maioria, mulheres que tiveram filhos e ficam em casa cuidando deles.
- Mas se você exclui as mulheres com filhos, o grupo até aumentou a partir de 2006, de 8% a 10%. Esse grupo é muito representado por pessoas de baixa escolaridade e de famílias bem pobres. Entre as pessoas com até cinco anos de estudo, 30% não estão trabalhando, nem estudando, nem procurando emprego. Na minha opinião, é o grupo com o qual temos que nos preocupar mais, porque eles correm risco de permanecer sempre dependentes de programas de transferência de renda - diz a pesquisadora.
Se ficarmos apenas nessa faixa dos 18 a 24 anos, há quatro milhões de jovens que não estudam nem trabalham. Há pesquisas que alongam a faixa etária até 29 anos, o que dobra o número desses jovens que não estão se qualificando nem estão dentro do mercado de trabalho.
Cimar Azeredo acha que esse fenômeno tem que continuar sendo monitorado e que a Pnad Contínua, ao dar informações mais amplas do país, poderá informar melhor os pesquisadores que se dedicam ao problema. Joana acredita que o fenômeno não está inteiramente entendido. Sugere que o IBGE faça mais perguntas para entender a cabeça desses jovens que, por desalento, falta de oportunidades, erros da política educação, barreiras no mercado de trabalho, não estão se preparando.
Por razões demográficas, o Brasil tem menos jovens entrando no mercado de trabalho a cada ano, em comparação com o passado. Mais um motivo para o não se perder a força e a capacidade desses jovens que, por uma falha coletiva, o país está perdendo.
Hoje, a pesquisa de emprego do IBGE é feita apenas em seis cidades. A partir de novembro, começarão a ser divulgados os dados de 3.400 municípios. O país terá pela primeira vez um indicador de desemprego nacional. Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, diz que a pesquisa já está em testes desde 2011: é a Pnad Contínua, um antigo projeto do instituto.
A PME é mensal e só é coletada no Rio, São Paulo, Salvador, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre. A Pnad traz dados do Brasil inteiro, mas só uma vez por ano. O esforço foi fazer algo com a periodicidade da PME, mas com a abrangência da Pnad. Inicialmente, os dados serão divulgados trimestralmente, mas, depois, passarão a ser mensais.
Cimar me contou isso numa entrevista que fiz com ele e a pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas Joana Monteiro, sobre um tema que frequenta sempre esta coluna: o alto desemprego de jovens, e, pior, o alto número de jovens que nem estudam, nem trabalham, nem estão procurando emprego. Cimar incluiu outro "nem": o IBGE tem perguntado aos jovens que não estão estudando ou trabalhando se eles estão fazendo algum curso de qualificação no momento. A maioria não está.
Os números estão exigindo das políticas públicas, dos especialistas, formadores de opinião, educadores, empresários uma dedicação maior ao tema. De 16 a 24 anos, são 15% os desempregados, ou seja, os que procuram emprego e não encontram. Já foram 22%, há dez anos, portanto, melhorou. Mas há dois pontos a considerar. Primeiro, havia caído mais, e agora voltou a subir. Segundo, quando a taxa era 22% era o dobro do desemprego médio da população; agora, que o mercado de trabalho está melhor, o desemprego dos jovens passou a ser o triplo da média do país. Uma boa notícia, contou Cimar, é que os jovens que entram no mercado de trabalho estão com um percentual maior, até 60%, de carteira assinada.
Joana Monteiro tem estudado o fenômeno dos nem-nem-nem. Não estudam, não trabalham, não procuram emprego. São 17% da população de 18 a 24 anos. A maioria, mulheres que tiveram filhos e ficam em casa cuidando deles.
- Mas se você exclui as mulheres com filhos, o grupo até aumentou a partir de 2006, de 8% a 10%. Esse grupo é muito representado por pessoas de baixa escolaridade e de famílias bem pobres. Entre as pessoas com até cinco anos de estudo, 30% não estão trabalhando, nem estudando, nem procurando emprego. Na minha opinião, é o grupo com o qual temos que nos preocupar mais, porque eles correm risco de permanecer sempre dependentes de programas de transferência de renda - diz a pesquisadora.
Se ficarmos apenas nessa faixa dos 18 a 24 anos, há quatro milhões de jovens que não estudam nem trabalham. Há pesquisas que alongam a faixa etária até 29 anos, o que dobra o número desses jovens que não estão se qualificando nem estão dentro do mercado de trabalho.
Cimar Azeredo acha que esse fenômeno tem que continuar sendo monitorado e que a Pnad Contínua, ao dar informações mais amplas do país, poderá informar melhor os pesquisadores que se dedicam ao problema. Joana acredita que o fenômeno não está inteiramente entendido. Sugere que o IBGE faça mais perguntas para entender a cabeça desses jovens que, por desalento, falta de oportunidades, erros da política educação, barreiras no mercado de trabalho, não estão se preparando.
Por razões demográficas, o Brasil tem menos jovens entrando no mercado de trabalho a cada ano, em comparação com o passado. Mais um motivo para o não se perder a força e a capacidade desses jovens que, por uma falha coletiva, o país está perdendo.
No comércio exterior, o buraco dos erros políticos - ROLF KUNTZ
O ESTADO DE S. PAULO - 03/08
O Brasil só precisa conseguir um superávit comercial de US$ 4,99 bilhões em cinco meses - média mensal de US$ 998 milhões - para encerrar o ano com o saldo zerado, o pior em 13 anos, mas, ainda assim, muito melhor que o acumulado nos últimos sete meses. Nada mais fácil, se os preços e o volume de vendas de commodities ajudarem, se a indústria se tomar mais competitiva e os ventos forem mais favoráveis no mercado internacional. O entusiasmo criado pelos últimos números da indústria, com crescimento de 1,9% de maio para junho, combina com essa aposta. Olhados com um pouco mais de atenção, no entanto, os dados justificam alguma cautela: a produção industrial está apenas voltando aos níveis de 2011. Não se deve esquecer o tombo do ano passado. Da mesma forma, convém olhar com mais cuidado as cifras da balança comercial. São mais feias do que podem parecer à primeira vista.
O resultado oficial de janeiro a julho inclui, na coluna da receita, US$ 2,81 bilhões de exportações fictícias de plataformas para extração de petróleo. Foram US$ 380 milhões só no mês passado. Em sete, meses, esse tipo de operação ficou no segundo lugar na lista de vendas de manufaturados. Situou-se logo abaixo de automóveis de passageiros (US$ 2,99 bilhões) e logo acima de óleos combustíveis (US$ 2,1 bilhões) e de autopeças (US$ 2,05 bilhões). Só há um problema nessa classificação. O Brasil de fato produz e exporta veículos, óleos, autopeças e aviões (US$ 1,81 bilhão), mas as plataformas são contabilizadas sem necessidade de embarque e sem a realização efetiva de uma operação comercial. Sua "exportação" é apenas uma formalidade para reduzir a tributação sobre equipamentos do setor petrolífero. A operação é legal, mas sua inclusão na balança de comércio distorce as contas. Sem essa receita fictícia, o rombo teria chegado a US$ 7,8 bilhões.
O País, segundo a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Tatiana Prazeres, ainda poderá ter um saldo positivo este ano, embora muito menor, certamente, que o de 2012 (US$ 19,41 bilhões). O resultado é em grande parte explicável, disse a secretária, pelas operações com petróleo e derivados. Foi um déficit de US$ 15,44 bilhões, 270,31% maior que o de um ano antes. A observação pode parecer razoável, mas o problema da conta petróleo está longe de ser acidental ou passageiro. No ano passado, o rombo, no mesmo período, havia sido 164,26% maior que o de janeiro a julho de 2011. Também isso é conseqüência da política econômica.
As importações de combustíveis e lubrificantes têm aumentado porque a Petrobrás deixou de produzir petróleo e derivados em volumes suficientes. Isso resulta do estilo de gestão adotado no governo anterior, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva subordinou a estatal a seus objetivos políticos. A alardeada autossuficiência nunca foi muito além do marketing presidencial.
O acúmulo de erros minou as finanças e a capacidade produtiva do grupo. Houve investimentos mal planejados, prioridades mal escolhidas, controle de preços e uso da empresa como instrumento de uma política industrial voluntarista. As correções iniciadas pela atual administração tiveram efeitos até agora limitados. A política de preços, apenas atenuada nos últimos tempos, causou danos enormes à produção de etanol, porque o álcool se tomou proporcionalmente mais caro.
O mau estado das contas ex-temas mais uma vez reflete os grandes erros da política econômica. As exportações de produtos básicos e semimanufaturados somaram 60,2% da receita comercial acumulada nos sete meses. A participação dos manufaturados cresceu ligeiramente, de 36,8% para 37,5% (o resto da conta corresponde às chamadas operações especiais). Mais uma vez, portanto, o Brasil se caracterizou como fornecedor de commodities e pagou um preço pesado por isso. Pela média diária, houve redução de 1,6% na receita dos básicos e de 6% na de semimanufaturados.
Esse efeito foi particularmente sensível em julho, quando os preços de 12 das 22 principais commodities foram menores que os de um ano antes. Os valores desses bens são normalmente mais afetados pelas oscilações da demanda que os preços dos manufaturados. Mas a diplomacia comercial, ao desprezar acordos com os mercados mais desenvolvidos, tornou o Brasil mais dependente da América Latina para as vendas desses produtos.
Também na região os produtores chineses vêm tomando espaços dos brasileiros. Nada parece mais natural. Basta levar em conta a baixa qualidade dos acordos comerciais firmados até com os vizinhos e as condições de competição, minadas pelo encarecimento da produção, pelo alto custo do investimento e pelo ambiente -incluído o sistema de transportes - altamente desfavorável aos negócios. A atenção maior ao consumo que à produção afeta a balança comercial desde 2007, quando as importações começaram a crescer mais que as exportações.
Nem o aparente arrefecimento da inflação justifica maior otimismo. Com a pioradas contas públicas, pressões inflacionárias continuarão forçando o Banco Central a manter juros elevados. Mudanças no cenário global complicam o quadro. A alta do dólar é mais um fator de elevação de preços e o financiamento externo tende a ficar mais difícil.
Enquanto isso, o cardápio da política econômica permanece quase invariável com pequenas mudanças para pior. Enquanto ministros da área econômica encenam um corte de gastos de R$ 10 bilhões - tesourada no vento, na maior parte -, a presidente se dispõe a liberar R$ 6 bilhões para amansar uma base parlamentar indócil. A eleição continua dominando as atenções do governo, como se todo o resto, incluída uma economia de uns R$ 4,5 trilhões (cerca de US$ 2,2 trilhões), pudesse esperar.
A ousadia uruguaia - ALBERTO DINES
GAZETA DO POVO - PR - 03/08
O governo não está pressionado por protestos de rua, nem coagido pelos aliados na coligação de centro-esquerda. Está atendo às estatísticas, às realidades, ao compromisso de atentar para o futuro. O presidente José “Pepe” Mujica não é um demagogo; ao contrário, sua simplicidade, franqueza, seu desapego às pompas do poder o converteram numa figura respeitada e querida por todos.
Ao incentivar o projeto de legalização, cultivo e distribuição da maconha aprovado nesta quinta pela Câmara dos Deputados, Mujica acrescentou ao seu habitual pragmatismo uma grande dose de audácia e, com esses ingredientes, resolveu enfrentar um extraordinário desafio.
Com apenas 3 milhões de habitantes e uma preocupante taxa de envelhecimento da população, o Uruguai está apostando nos jovens, precisa protegê-los. Mais de uma vez Mujica reconheceu que a luta contra o narcotráfico através da repressão está perdida, o país não tem recursos e o velho idealista não tem ânimo para transformá-lo num Estado policial. O monopólio da máfia é o inimigo interno número um.
A decisão é histórica, foi imediatamente condenada pela ONU, mas Mujica já anunciou que irá defendê-la pessoalmente em setembro ou outubro perante a Assembleia Geral. “A maconha é uma praga, mas o narcotráfico é pior, o maior flagelo da América Latina.”
O consumo já era legal no país; o plano agora aprovado pela Câmara e encaminhado ao Senado autoriza o Estado a “assumir o controle e a regulação de atividades de importação, exportação, plantação, cultivo, colheita, produção, aquisição, armazenamento, comercialização e distribuição de cannabis e seus derivados”.
Uma agência reguladora, o Instituto Nacional do Cannabis (Inca), criada simultaneamente, deverá controlar todas as etapas da cadeia produtiva. Plantar maconha, independentemente da destinação, será permitido desde que com a autorização prévia do Estado. Para consumo próprio dentro da casa do usuário, o limite será de seis plantas e um estoque máximo de 480 gramas do produto processado. O plano vai além do modelo holandês de simples despenalização porque se estende à venda e ao consumo da erva. Só cidadãos uruguaios, devidamente cadastrados, poderão beneficiar-se.
“Nunca fumei maconha, sou de outra época [tem 78 anos] e não defendo qualquer tipo de dependência”, declarou o presidente, “prefiro legalizar o consumo para que não cresça nas sombras e cause mais dano à população”.
Embora a tramitação no Senado seja considerada mais favorável, uma recente pesquisa indicou que 63% dos uruguaios são contra o plano. Alguns pontos, porém, poderão ser alterados, como o limite mínimo de 18 anos para o cadastro.
Por décadas considerado a “Suíça sul-americana”, no ranking do IDH está na 51.ª posição (nós, na 85.ª), o Uruguai liberou os jogos de azar, facilita a movimentação de capitais e agora avança com essa audaciosa experiência sanitária e social. País-laboratório, pouco menor que o Paraná, sabe explorar suas vantagens. Iludidos pelo gigantismo, abdicamos de experimentar. Junho, ao que parece, não serviu para coisa alguma.
O governo não está pressionado por protestos de rua, nem coagido pelos aliados na coligação de centro-esquerda. Está atendo às estatísticas, às realidades, ao compromisso de atentar para o futuro. O presidente José “Pepe” Mujica não é um demagogo; ao contrário, sua simplicidade, franqueza, seu desapego às pompas do poder o converteram numa figura respeitada e querida por todos.
Ao incentivar o projeto de legalização, cultivo e distribuição da maconha aprovado nesta quinta pela Câmara dos Deputados, Mujica acrescentou ao seu habitual pragmatismo uma grande dose de audácia e, com esses ingredientes, resolveu enfrentar um extraordinário desafio.
Com apenas 3 milhões de habitantes e uma preocupante taxa de envelhecimento da população, o Uruguai está apostando nos jovens, precisa protegê-los. Mais de uma vez Mujica reconheceu que a luta contra o narcotráfico através da repressão está perdida, o país não tem recursos e o velho idealista não tem ânimo para transformá-lo num Estado policial. O monopólio da máfia é o inimigo interno número um.
A decisão é histórica, foi imediatamente condenada pela ONU, mas Mujica já anunciou que irá defendê-la pessoalmente em setembro ou outubro perante a Assembleia Geral. “A maconha é uma praga, mas o narcotráfico é pior, o maior flagelo da América Latina.”
O consumo já era legal no país; o plano agora aprovado pela Câmara e encaminhado ao Senado autoriza o Estado a “assumir o controle e a regulação de atividades de importação, exportação, plantação, cultivo, colheita, produção, aquisição, armazenamento, comercialização e distribuição de cannabis e seus derivados”.
Uma agência reguladora, o Instituto Nacional do Cannabis (Inca), criada simultaneamente, deverá controlar todas as etapas da cadeia produtiva. Plantar maconha, independentemente da destinação, será permitido desde que com a autorização prévia do Estado. Para consumo próprio dentro da casa do usuário, o limite será de seis plantas e um estoque máximo de 480 gramas do produto processado. O plano vai além do modelo holandês de simples despenalização porque se estende à venda e ao consumo da erva. Só cidadãos uruguaios, devidamente cadastrados, poderão beneficiar-se.
“Nunca fumei maconha, sou de outra época [tem 78 anos] e não defendo qualquer tipo de dependência”, declarou o presidente, “prefiro legalizar o consumo para que não cresça nas sombras e cause mais dano à população”.
Embora a tramitação no Senado seja considerada mais favorável, uma recente pesquisa indicou que 63% dos uruguaios são contra o plano. Alguns pontos, porém, poderão ser alterados, como o limite mínimo de 18 anos para o cadastro.
Por décadas considerado a “Suíça sul-americana”, no ranking do IDH está na 51.ª posição (nós, na 85.ª), o Uruguai liberou os jogos de azar, facilita a movimentação de capitais e agora avança com essa audaciosa experiência sanitária e social. País-laboratório, pouco menor que o Paraná, sabe explorar suas vantagens. Iludidos pelo gigantismo, abdicamos de experimentar. Junho, ao que parece, não serviu para coisa alguma.
Efeito Donadon - VERA MAGALHÃES -
FOLHA DE SP - 03/08
Advogados do mensalão e ministros do STF acreditam que o presidente da corte, Joaquim Barbosa, pode levar antes do dia 14 ao plenário a decisão sobre se cabem ou não embargos infringentes no julgamento. A defesa de Delúbio Soares antecipou a discussão desse recurso. Os réus estão pessimistas com o precedente do ex-deputado Natan Donadon. Acham que os ministros podem considerar os recursos protelatórios e mandar expedir os mandados de prisão dos condenados.
Nova ordem
O regimento interno do STF estabelece que, nas ações penais originárias, como o mensalão, não há revisor nos embargos. Desta forma, Ricardo Lewandowski não será o segundo a votar, mas o oitavo. Depois de Barbosa votarão Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki.
In loco
Casada com a orientação dada a ministros para viajar, Dilma Rousseff vai priorizar nas próximas semanas inaugurações de obras em quatro Estados: São Paulo, Minas Gerais, Paraná, e Santa Catarina.
Resgate
Não por acaso, as regiões são aquelas onde a presidente tem registrado o pior desempenho nas últimas pesquisas de aprovação.
Cruzada
O governo se prepara para maior reação de religiosos neste fim de semana, quando ocorrem cultos e missas, sobre a sanção presidencial do projeto que assiste vítimas do estupro.
Sem recuo
A despeito das críticas, o Planalto vai marcar reunião com evangélicos, já prevista após visita do papa Francisco, para reafirmar que não quebrou acordo feito em 2010, de que não ampliaria as possibilidades de aborto no SUS.
Onde pega
Uma das razões de irritação de Dilma Rousseff com Aloizio Mercadante foi que, no entender da presidente, o titular do MEC não se empenhou para fazer prevalecer a destinação de 100% dos royalties de petróleo do pré-sal para a educação, área de sua pasta.
Construção
Depois de meses recolhido e dedicado ao governo de Pernambuco, Eduardo Campos volta a falar ao empresariado. O presidenciável do PSB será estrela de almoço do Secovi-SP no dia 22 sobre conjuntura nacional.
Sintonia
José Serra pediu informações à cúpula do Palácio dos Bandeirantes antes de reagir às denúncias de formação de cartel nas licitações do metrô e trem de São Paulo. As duas partes concordaram com a linha de destacar a motivação política do Cade na investigação.
De perto
O governo paulista estuda uma manobra jurídica para retirar as investigações de dentro do Cade. Auxiliares de Geraldo Alckmin (PSDB) buscam uma jurisprudência que determine a remissão dessas apurações para instituições regionais.
Torcida 1
A preferência interna do PT por Alexandre Padilha para ser o candidato ao governo paulista encontra resistência da parte de alguns aliados.
Torcida 2
O PR, que negocia também com o PSDB de Geraldo Alckmin, tem dito à cúpula petista que preferiria apoiar Aloizio Mercadante ou Marta Suplicy.
#vemprarua
Alvo de críticas da oposição, o prefeito Fernando Haddad (PT) ampliou sua agenda pública nas últimas semanas para acompanhar a execução de obras e programas do município. Só ontem, participou de quatro eventos fora da prefeitura.
Time
Alfredo Manevy é o novo número dois da Secretaria de Cultura paulistana. Ele trabalhou com o titular da pasta, Juca Ferreira, no Ministério da Cultura.
Fácil
O governo federal prepara pacote para reduzir a burocracia dos contratos trabalhistas. O ministro Guilherme Afif (Micro e Pequena Empresa) vai apresentar às centrais sindicais proposta de aplicar as regras do Simples Nacional a esses contratos, unificando tributos e trâmites administrativos.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"Em vez de explicar as denúncias graves, o PSDB se volta contra o órgão que investiga o que o próprio governo deixou de apurar."
DO DEPUTADO ESTADUAL ÊNIO TATTO (PT-SP), sobre a acusação do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) de que o Cade atua como "instrumento político".
contraponto
Vaga preferencial
"No lançamento do Fórum Mundial de Direitos Humanos, Garibaldi Alves (Previdência) prometeu ser breve:
--Vou falar dois minutos, conforme prometi à Maria do Rosário, a segunda ministra mais temida da Esplanada.
Diante da surpresa de todos, o ministro complementou:
--O primeiro é o Mantega, que cuida do dinheiro e dos cortes. A segunda é a Maria do Rosário, que me cobra a implementação dos direitos humanos, em especial dos idosos.
Advogados do mensalão e ministros do STF acreditam que o presidente da corte, Joaquim Barbosa, pode levar antes do dia 14 ao plenário a decisão sobre se cabem ou não embargos infringentes no julgamento. A defesa de Delúbio Soares antecipou a discussão desse recurso. Os réus estão pessimistas com o precedente do ex-deputado Natan Donadon. Acham que os ministros podem considerar os recursos protelatórios e mandar expedir os mandados de prisão dos condenados.
Nova ordem
O regimento interno do STF estabelece que, nas ações penais originárias, como o mensalão, não há revisor nos embargos. Desta forma, Ricardo Lewandowski não será o segundo a votar, mas o oitavo. Depois de Barbosa votarão Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki.
In loco
Casada com a orientação dada a ministros para viajar, Dilma Rousseff vai priorizar nas próximas semanas inaugurações de obras em quatro Estados: São Paulo, Minas Gerais, Paraná, e Santa Catarina.
Resgate
Não por acaso, as regiões são aquelas onde a presidente tem registrado o pior desempenho nas últimas pesquisas de aprovação.
Cruzada
O governo se prepara para maior reação de religiosos neste fim de semana, quando ocorrem cultos e missas, sobre a sanção presidencial do projeto que assiste vítimas do estupro.
Sem recuo
A despeito das críticas, o Planalto vai marcar reunião com evangélicos, já prevista após visita do papa Francisco, para reafirmar que não quebrou acordo feito em 2010, de que não ampliaria as possibilidades de aborto no SUS.
Onde pega
Uma das razões de irritação de Dilma Rousseff com Aloizio Mercadante foi que, no entender da presidente, o titular do MEC não se empenhou para fazer prevalecer a destinação de 100% dos royalties de petróleo do pré-sal para a educação, área de sua pasta.
Construção
Depois de meses recolhido e dedicado ao governo de Pernambuco, Eduardo Campos volta a falar ao empresariado. O presidenciável do PSB será estrela de almoço do Secovi-SP no dia 22 sobre conjuntura nacional.
Sintonia
José Serra pediu informações à cúpula do Palácio dos Bandeirantes antes de reagir às denúncias de formação de cartel nas licitações do metrô e trem de São Paulo. As duas partes concordaram com a linha de destacar a motivação política do Cade na investigação.
De perto
O governo paulista estuda uma manobra jurídica para retirar as investigações de dentro do Cade. Auxiliares de Geraldo Alckmin (PSDB) buscam uma jurisprudência que determine a remissão dessas apurações para instituições regionais.
Torcida 1
A preferência interna do PT por Alexandre Padilha para ser o candidato ao governo paulista encontra resistência da parte de alguns aliados.
Torcida 2
O PR, que negocia também com o PSDB de Geraldo Alckmin, tem dito à cúpula petista que preferiria apoiar Aloizio Mercadante ou Marta Suplicy.
#vemprarua
Alvo de críticas da oposição, o prefeito Fernando Haddad (PT) ampliou sua agenda pública nas últimas semanas para acompanhar a execução de obras e programas do município. Só ontem, participou de quatro eventos fora da prefeitura.
Time
Alfredo Manevy é o novo número dois da Secretaria de Cultura paulistana. Ele trabalhou com o titular da pasta, Juca Ferreira, no Ministério da Cultura.
Fácil
O governo federal prepara pacote para reduzir a burocracia dos contratos trabalhistas. O ministro Guilherme Afif (Micro e Pequena Empresa) vai apresentar às centrais sindicais proposta de aplicar as regras do Simples Nacional a esses contratos, unificando tributos e trâmites administrativos.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"Em vez de explicar as denúncias graves, o PSDB se volta contra o órgão que investiga o que o próprio governo deixou de apurar."
DO DEPUTADO ESTADUAL ÊNIO TATTO (PT-SP), sobre a acusação do governo de Geraldo Alckmin (PSDB) de que o Cade atua como "instrumento político".
contraponto
Vaga preferencial
"No lançamento do Fórum Mundial de Direitos Humanos, Garibaldi Alves (Previdência) prometeu ser breve:
--Vou falar dois minutos, conforme prometi à Maria do Rosário, a segunda ministra mais temida da Esplanada.
Diante da surpresa de todos, o ministro complementou:
--O primeiro é o Mantega, que cuida do dinheiro e dos cortes. A segunda é a Maria do Rosário, que me cobra a implementação dos direitos humanos, em especial dos idosos.
Tchau, Cabral - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 03/08
O PT do Rio planeja desembarcar do governo Sérgio Cabral (PMDB). Sua Executiva estadual, bancadas e secretários se reúnem para tratar da saída na segunda-feira. A proposta já tem maioria . Para oficializar a decisão , o Diretório Regional ainda ser á convocado . Os secretários petistas vão deixar seus cargos até outubro. A candidatura do senador Lindbergh Farias será reafirmada.
Entre o céu e a terra
O ex-governador José Serra tem muita vontade de entrar no PPS para concorrer à Presidência. Mas essa alternativa está a cada dia mais distante de se concretizar . Seus aliados não querem que ele saia do PSDB. E, para que ele fique , alertaram-no de que ninguém no PSDB vai acompanhá-lo . Mostraram que não há possibilidade, por hora, de aliança do PPS com qualquer outro partido . E citaram pesquisas que mostrariam que, entre os eleitores que votam nos tucanos, há uma preferência por ele em detrimento do senador Aécio Neves. Por causa disso, alguns conselheiros lhe sugeriram permanecer no partido , porque a eleição será no ano que vem e, até lá , tudo pode acontecer.
“Respeito o Tarso. Até porque foi com ele que eu e o Michel acordamos com o Lula . Ele distorce a relação , talvez pelo clima PT x PMDB no Sul”
Henrique Alves
Presidente da Câmara, sobre as críticas do governador Tarso Genro ao PMDB
A cada dia com sua agonia
O PT , que se prepara para desembarcar do governo Sérgio Cabral, é o mesmo que, em 2010, criticou e ameaçou expulsar o deputado Alessandro Molon quando este anunciou que não apoiaria a reeleição do atual governador .
Na pressão
A ministra do TCU, Ana Arraes, mãe do governador Eduardo Campos (PE), foi sorteada para ser a relatora das contas da presidente Dilma. Há pressões para que ela se declare impedida devido à eleição do ano que vem. Eduardo Campos é pré-candidato à presidência pelo PSB. Os ministros do Tribunal defendem que ela não abra mão da tarefa.
Nem todos os iguais são iguais
Nota da tendência petista Mensagem defende a qualificação da aliança do governo Dilma. Cita os aliados PCdoB, PDT e PSB. O PMDB ficou de fora. A Mensagem quer se diferenciar das posições de um dos seus, o governador Tarso Genro (RS)
Do Maracanã à Perimetral
Considerando os recentes protestos, os recuos nas mudanças pretendidas pelos gestores do Maracanã e pesquisas, o vereador do Rio Cesar Maia (DEM) vai iniciar campanha para que o Consórcio Porto Maravilha desista de colocar abaixo a Perimetral. Numa dessas pesquisas, 79% se manifestaram contra. Os entrevistados temem graves problemas de mobilidade na cidade.
Braço de ferro
O ministro Antônio Andrade (Agricultura) anda às turras com o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Andrade não quer nomear o advogado Rogério Figueredo para a Secretaria de Defesa Agropecuária. A indicação foi de Cunha.
Sobre a espionagem
O jornalista Glenn Greenwald, do The Guardian, participará terça-feira da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Vai falar sobre a espionagem do governo americano e o comprometimento de informações.
O GOVERNADOR Cid Gomes (CE) recebeu a confirmação: a reunião dos Brics, em março de 2014, será no Centro de Convenções de Fortaleza
O PT do Rio planeja desembarcar do governo Sérgio Cabral (PMDB). Sua Executiva estadual, bancadas e secretários se reúnem para tratar da saída na segunda-feira. A proposta já tem maioria . Para oficializar a decisão , o Diretório Regional ainda ser á convocado . Os secretários petistas vão deixar seus cargos até outubro. A candidatura do senador Lindbergh Farias será reafirmada.
Entre o céu e a terra
O ex-governador José Serra tem muita vontade de entrar no PPS para concorrer à Presidência. Mas essa alternativa está a cada dia mais distante de se concretizar . Seus aliados não querem que ele saia do PSDB. E, para que ele fique , alertaram-no de que ninguém no PSDB vai acompanhá-lo . Mostraram que não há possibilidade, por hora, de aliança do PPS com qualquer outro partido . E citaram pesquisas que mostrariam que, entre os eleitores que votam nos tucanos, há uma preferência por ele em detrimento do senador Aécio Neves. Por causa disso, alguns conselheiros lhe sugeriram permanecer no partido , porque a eleição será no ano que vem e, até lá , tudo pode acontecer.
“Respeito o Tarso. Até porque foi com ele que eu e o Michel acordamos com o Lula . Ele distorce a relação , talvez pelo clima PT x PMDB no Sul”
Henrique Alves
Presidente da Câmara, sobre as críticas do governador Tarso Genro ao PMDB
A cada dia com sua agonia
O PT , que se prepara para desembarcar do governo Sérgio Cabral, é o mesmo que, em 2010, criticou e ameaçou expulsar o deputado Alessandro Molon quando este anunciou que não apoiaria a reeleição do atual governador .
Na pressão
A ministra do TCU, Ana Arraes, mãe do governador Eduardo Campos (PE), foi sorteada para ser a relatora das contas da presidente Dilma. Há pressões para que ela se declare impedida devido à eleição do ano que vem. Eduardo Campos é pré-candidato à presidência pelo PSB. Os ministros do Tribunal defendem que ela não abra mão da tarefa.
Nem todos os iguais são iguais
Nota da tendência petista Mensagem defende a qualificação da aliança do governo Dilma. Cita os aliados PCdoB, PDT e PSB. O PMDB ficou de fora. A Mensagem quer se diferenciar das posições de um dos seus, o governador Tarso Genro (RS)
Do Maracanã à Perimetral
Considerando os recentes protestos, os recuos nas mudanças pretendidas pelos gestores do Maracanã e pesquisas, o vereador do Rio Cesar Maia (DEM) vai iniciar campanha para que o Consórcio Porto Maravilha desista de colocar abaixo a Perimetral. Numa dessas pesquisas, 79% se manifestaram contra. Os entrevistados temem graves problemas de mobilidade na cidade.
Braço de ferro
O ministro Antônio Andrade (Agricultura) anda às turras com o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Andrade não quer nomear o advogado Rogério Figueredo para a Secretaria de Defesa Agropecuária. A indicação foi de Cunha.
Sobre a espionagem
O jornalista Glenn Greenwald, do The Guardian, participará terça-feira da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Vai falar sobre a espionagem do governo americano e o comprometimento de informações.
O GOVERNADOR Cid Gomes (CE) recebeu a confirmação: a reunião dos Brics, em março de 2014, será no Centro de Convenções de Fortaleza
Navio ancorado - KÁTIA ABREU
FOLHA DE SP - 03/08
Negociações comerciais capazes de de fazer o país crescer não avançaram na cúpula do Mercosul
Até quando deixaremos a ideologia acima das razões econômicas, do mercado e da competitividade, ancorando o grande navio do comércio brasileiro no porto das pequenas pretensões regionais?
Na cúpula do Mercosul, 15 dias atrás em Montevidéu, mais uma vez temas políticos dominaram debates e resoluções do bloco: Repúdio à espionagem dos Estados Unidos e ao bloqueio do espaço aéreo europeu à aeronave boliviana, e apoio à soberania argentina sobre as Ilhas Malvinas.
São assuntos importantes, mas as negociações comerciais capazes de alavancar atividades que geram renda e podem, de fato, fazer o país crescer, não avançaram.
As declarações finais apenas reafirmaram o apoio à conclusão da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio, parada desde 2008. Por falta de discussão, declarou-se o óbvio.
Reiteraram o compromisso de seguir negociando com a União Europeia, mas não se aprofundaram nas dificuldades para consolidar a oferta conjunta do Mercosul.
Destacaram que o objetivo atual do bloco é formar uma "sociedade comum" e que "a integração não pode ser filha do mercado". É difícil concordar com esse argumento, pois quem produz riqueza é o mercado.
A reunião evidenciou que o comércio saiu da agenda prioritária. É usado apenas como justificativa da integração. Foram apresentados números positivos das vendas intrabloco, que se multiplicaram por 12 desde a criação do Mercosul (1991), enquanto o comércio com o mundo é oito vezes maior.
Os números revelam o tamanho do equívoco: o comércio do Brasil com o Mercosul foi de US$ 53,1 bilhões em 2011 e 9% menor em 2012. Com o resto do mundo, foi de US$ 429 bilhões. Todo o comércio do Mercosul com o mundo em 2011 (US$ 824 bilhões) representou apenas 4,6% da movimentação mundial (US$ 17,8 trilhões).
Ninguém citou qual poderia ter sido o aumento do comércio exterior, se concretizada a Área de Livre-Comércio das Américas (Alca), proposta em 1994 e abandonada em 2005. A integração liderada pelos americanos, que já previam a expansão chinesa, criaria mercado com 850 milhões de pessoas e PIB sete vezes maior que o do Mercosul.
Mesmo sem a Alca, os números do comércio do Mercosul poderiam ser maiores, se a abertura do mercado do Cone Sul fosse completa.
Tanto, que o presidente uruguaio, José Mujica, chegou a afirmar que "temos que falar tanto em livre-comércio, porque não temos livre comércio". E defendeu não só a efetivação dos acordos no âmbito do Mercosul, mas a abertura de negociações com a China, principal parceiro comercial da América Latina.
Os acordos bilaterais e regionais de livre-comércio estão dividindo as Américas do Atlântico e do Pacífico e não somos os únicos a reavaliar estratégias de integração comercial.
Comemorando 20 anos do Acordo Norte-Americano de Livre-Comércio (Nafta), os EUA estão estudando a relevância do bloco e uma possível reabertura de negociações para modernizar as regras acordadas. E nós, quando seremos mais pragmáticos? Quando aprenderemos a separar agendas políticas das comerciais?
A China é exemplo notório de pragmatismo econômico e comercial. Pratica um "socialismo com características chinesas", que levou a mais de uma década de crescimento na casa dos dois dígitos e a uma inserção internacional consistente, com mais de 11% do comércio mundial.
Aqui, nosso "capitalismo com características brasileiras" vai nos levando ao isolamento.
Concordo com o presidente Mujica: é preciso negociar com a China, principal destino de nossas exportações. E não podemos perder o acordo com os europeus.
Por enquanto, estamos à frente dos americanos --com o seu gás de xisto-- nessa negociação que é fundamental para o comércio de produtos agropecuários. Mas não há tempo a perder.
No primeiro semestre, o saldo do comércio exterior do Brasil foi o pior de toda a série histórica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, iniciada em 1993.
E em Montevidéu, mais uma vez, a diplomacia brasileira perdeu a oportunidade de discutir o comércio. Não perceberam que é hora de levantar a âncora do nosso navio.
Negociações comerciais capazes de de fazer o país crescer não avançaram na cúpula do Mercosul
Até quando deixaremos a ideologia acima das razões econômicas, do mercado e da competitividade, ancorando o grande navio do comércio brasileiro no porto das pequenas pretensões regionais?
Na cúpula do Mercosul, 15 dias atrás em Montevidéu, mais uma vez temas políticos dominaram debates e resoluções do bloco: Repúdio à espionagem dos Estados Unidos e ao bloqueio do espaço aéreo europeu à aeronave boliviana, e apoio à soberania argentina sobre as Ilhas Malvinas.
São assuntos importantes, mas as negociações comerciais capazes de alavancar atividades que geram renda e podem, de fato, fazer o país crescer, não avançaram.
As declarações finais apenas reafirmaram o apoio à conclusão da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio, parada desde 2008. Por falta de discussão, declarou-se o óbvio.
Reiteraram o compromisso de seguir negociando com a União Europeia, mas não se aprofundaram nas dificuldades para consolidar a oferta conjunta do Mercosul.
Destacaram que o objetivo atual do bloco é formar uma "sociedade comum" e que "a integração não pode ser filha do mercado". É difícil concordar com esse argumento, pois quem produz riqueza é o mercado.
A reunião evidenciou que o comércio saiu da agenda prioritária. É usado apenas como justificativa da integração. Foram apresentados números positivos das vendas intrabloco, que se multiplicaram por 12 desde a criação do Mercosul (1991), enquanto o comércio com o mundo é oito vezes maior.
Os números revelam o tamanho do equívoco: o comércio do Brasil com o Mercosul foi de US$ 53,1 bilhões em 2011 e 9% menor em 2012. Com o resto do mundo, foi de US$ 429 bilhões. Todo o comércio do Mercosul com o mundo em 2011 (US$ 824 bilhões) representou apenas 4,6% da movimentação mundial (US$ 17,8 trilhões).
Ninguém citou qual poderia ter sido o aumento do comércio exterior, se concretizada a Área de Livre-Comércio das Américas (Alca), proposta em 1994 e abandonada em 2005. A integração liderada pelos americanos, que já previam a expansão chinesa, criaria mercado com 850 milhões de pessoas e PIB sete vezes maior que o do Mercosul.
Mesmo sem a Alca, os números do comércio do Mercosul poderiam ser maiores, se a abertura do mercado do Cone Sul fosse completa.
Tanto, que o presidente uruguaio, José Mujica, chegou a afirmar que "temos que falar tanto em livre-comércio, porque não temos livre comércio". E defendeu não só a efetivação dos acordos no âmbito do Mercosul, mas a abertura de negociações com a China, principal parceiro comercial da América Latina.
Os acordos bilaterais e regionais de livre-comércio estão dividindo as Américas do Atlântico e do Pacífico e não somos os únicos a reavaliar estratégias de integração comercial.
Comemorando 20 anos do Acordo Norte-Americano de Livre-Comércio (Nafta), os EUA estão estudando a relevância do bloco e uma possível reabertura de negociações para modernizar as regras acordadas. E nós, quando seremos mais pragmáticos? Quando aprenderemos a separar agendas políticas das comerciais?
A China é exemplo notório de pragmatismo econômico e comercial. Pratica um "socialismo com características chinesas", que levou a mais de uma década de crescimento na casa dos dois dígitos e a uma inserção internacional consistente, com mais de 11% do comércio mundial.
Aqui, nosso "capitalismo com características brasileiras" vai nos levando ao isolamento.
Concordo com o presidente Mujica: é preciso negociar com a China, principal destino de nossas exportações. E não podemos perder o acordo com os europeus.
Por enquanto, estamos à frente dos americanos --com o seu gás de xisto-- nessa negociação que é fundamental para o comércio de produtos agropecuários. Mas não há tempo a perder.
No primeiro semestre, o saldo do comércio exterior do Brasil foi o pior de toda a série histórica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, iniciada em 1993.
E em Montevidéu, mais uma vez, a diplomacia brasileira perdeu a oportunidade de discutir o comércio. Não perceberam que é hora de levantar a âncora do nosso navio.
A esquizofrenia do poder - LUIZ FERNANDO JANOT
O GLOBO - 03/08
Vive-se um delírio pseudodesenvolvimentista que joga para o futuro o ônus da irresponsabilidade fiscal e do desperdício do dinheiro público em obras sem planejamento
A sociedade americana vive um momento de perplexidade diante do recente pedido de concordata da cidade de Detroit. Símbolo-sede da sua poderosa indústria automobilística, Detroit não resistiu ao processo de desindustrialização que, por anos a fio, afetou a cidade. A crise financeira envolvendo as três grandes montadoras — Ford, GM e Chrysler — arrastou consigo outras indústrias menores e agravou, ainda mais, os elevados índices de desemprego. Sem novas perspectivas de trabalho, uma parcela significativa da população deixou a cidade, largando para trás uma quantidade expressiva de residências e edifícios comerciais desocupados. Esta é a triste realidade de uma das mais importantes cidades americanas que, como outras espalhadas pelo mundo afora, deixaram de criar alternativas para enfrentar os desafios decorrentes das transformações ocorridas nos meios de produção industrial. De uma maneira geral, essa atitude reflete a visão imediatista que costuma prevalecer nas decisões políticas sobre o desenvolvimento urbano das cidades.
No Brasil de hoje é mais do que evidente o desinteresse pelo planejamento de longo prazo. Vive-se um delírio pseudodesenvolvimentista que transfere para o futuro o ônus da irresponsabilidade fiscal e do desperdício do dinheiro público em obras desprovidas do planejamento. As empreiteiras, penhoradas, agradecem os perdulários financiamentos do BNDES garantidos por frequentes capitalizações com recursos do Tesouro Nacional. Também não se pode esquecer as sinistras “Parcerias Público-Privadas” que, na verdade, utilizam mais recursos públicos do que privados. Os novos estádios de futebol estão aí para confirmar essa afirmação.
Por outro lado, percebe-se uma expansão incontrolável do tecido urbano das cidades brasileiras promovida pelo capital financeiro travestido de capital imobiliário. O interesse do mercado em criar novas centralidades, através da oferta de edifícios corporativos e de shopping-centers, tem contribuído para o abandono de importantes prédios do centro histórico e para a degradação dos espaços públicos no seu entorno. Por que seguir o exemplo de São Paulo, que esvaziou o velho centro ao implantar, sucessivamente, novas centralidades? Por que em vez disso não incentivar a requalificação espacial e tecnológica dos belíssimos edifícios de escritórios existentes nas áreas centrais, como está sendo feito atualmente com o Empire State em Nova York?
A realidade econômica e financeira do mundo globalizado faz com que essas respostas não sejam tão simples como se pode supor. Para o geógrafo inglês David Harvey, a qualidade da vida urbana, ao virar mercadoria, trouxe consigo uma aura de liberdade para a escolha dos bens de consumo e para as atividades de lazer e entretenimento — obviamente, para quem tem dinheiro para usufruir desse privilégio. Esse modelo faz com que os comportamentos sociais se reduzam, apenas, à sua condição econômica. Todavia, o direito à cidade é muito mais abrangente do que esse tipo de reducionismo. As cidades, na sua essência, possuem vínculos sociais e culturais próprios, assim como estilos de vida e valores estéticos diversificados. Esses aspectos de natureza humanística não podem ser desprezados inconsequentemente.
Nos processos de transformação urbana não cabem o temor reverencial e o deslumbramento diante de modelos culturais padronizados e introduzidos através de um marketing ardiloso. No Rio, corre-se duplamente esse risco quando se incentiva a criação de uma nova centralidade na Barra da Tijuca e, paralelamente, se investe na revitalização da zona portuária a partir de sofisticados prédios corporativos para atender a uma suposta demanda reprimida por esse tipo de edificação. O imediatismo de decisões tomadas pela sua repercussão midiática reflete uma espécie de esquizofrenia do poder. No futuro, quem pagará o preço pela falta de um planejamento consistente será a própria cidade.
Vive-se um delírio pseudodesenvolvimentista que joga para o futuro o ônus da irresponsabilidade fiscal e do desperdício do dinheiro público em obras sem planejamento
A sociedade americana vive um momento de perplexidade diante do recente pedido de concordata da cidade de Detroit. Símbolo-sede da sua poderosa indústria automobilística, Detroit não resistiu ao processo de desindustrialização que, por anos a fio, afetou a cidade. A crise financeira envolvendo as três grandes montadoras — Ford, GM e Chrysler — arrastou consigo outras indústrias menores e agravou, ainda mais, os elevados índices de desemprego. Sem novas perspectivas de trabalho, uma parcela significativa da população deixou a cidade, largando para trás uma quantidade expressiva de residências e edifícios comerciais desocupados. Esta é a triste realidade de uma das mais importantes cidades americanas que, como outras espalhadas pelo mundo afora, deixaram de criar alternativas para enfrentar os desafios decorrentes das transformações ocorridas nos meios de produção industrial. De uma maneira geral, essa atitude reflete a visão imediatista que costuma prevalecer nas decisões políticas sobre o desenvolvimento urbano das cidades.
No Brasil de hoje é mais do que evidente o desinteresse pelo planejamento de longo prazo. Vive-se um delírio pseudodesenvolvimentista que transfere para o futuro o ônus da irresponsabilidade fiscal e do desperdício do dinheiro público em obras desprovidas do planejamento. As empreiteiras, penhoradas, agradecem os perdulários financiamentos do BNDES garantidos por frequentes capitalizações com recursos do Tesouro Nacional. Também não se pode esquecer as sinistras “Parcerias Público-Privadas” que, na verdade, utilizam mais recursos públicos do que privados. Os novos estádios de futebol estão aí para confirmar essa afirmação.
Por outro lado, percebe-se uma expansão incontrolável do tecido urbano das cidades brasileiras promovida pelo capital financeiro travestido de capital imobiliário. O interesse do mercado em criar novas centralidades, através da oferta de edifícios corporativos e de shopping-centers, tem contribuído para o abandono de importantes prédios do centro histórico e para a degradação dos espaços públicos no seu entorno. Por que seguir o exemplo de São Paulo, que esvaziou o velho centro ao implantar, sucessivamente, novas centralidades? Por que em vez disso não incentivar a requalificação espacial e tecnológica dos belíssimos edifícios de escritórios existentes nas áreas centrais, como está sendo feito atualmente com o Empire State em Nova York?
A realidade econômica e financeira do mundo globalizado faz com que essas respostas não sejam tão simples como se pode supor. Para o geógrafo inglês David Harvey, a qualidade da vida urbana, ao virar mercadoria, trouxe consigo uma aura de liberdade para a escolha dos bens de consumo e para as atividades de lazer e entretenimento — obviamente, para quem tem dinheiro para usufruir desse privilégio. Esse modelo faz com que os comportamentos sociais se reduzam, apenas, à sua condição econômica. Todavia, o direito à cidade é muito mais abrangente do que esse tipo de reducionismo. As cidades, na sua essência, possuem vínculos sociais e culturais próprios, assim como estilos de vida e valores estéticos diversificados. Esses aspectos de natureza humanística não podem ser desprezados inconsequentemente.
Nos processos de transformação urbana não cabem o temor reverencial e o deslumbramento diante de modelos culturais padronizados e introduzidos através de um marketing ardiloso. No Rio, corre-se duplamente esse risco quando se incentiva a criação de uma nova centralidade na Barra da Tijuca e, paralelamente, se investe na revitalização da zona portuária a partir de sofisticados prédios corporativos para atender a uma suposta demanda reprimida por esse tipo de edificação. O imediatismo de decisões tomadas pela sua repercussão midiática reflete uma espécie de esquizofrenia do poder. No futuro, quem pagará o preço pela falta de um planejamento consistente será a própria cidade.
O Brasil e a Idade Média - JOSÉ HORTA MANZANO
CORREIO BRAZILIENSE - 03/08
A História não se repete. Acontecimentos novos podem até evocar situações passadas, mas cada caso é um caso.
Em novembro de 1923, um punhado de indivíduos se reuniram numa cervejaria de Munique para encenar o que lhes parecia o ato final de um rocambolesco plano de tomada do Estado alemão pela força. O golpe foi um rotundo fracasso. Vistos como loucos mansos, os cabeças, presos e processados, foram condenados a penas leves. Quis o destino que, 10 anos mais tarde, o chefe da malta, um certo Adolf Hitler, fosse içado ao posto máximo da nação. O resto da história todos conhecem.
Nos primeiros anos do século 20, um jovem italiano, violento e rebelde, fugiu de seu país e ganhou a Suíça. Más línguas afirmam que era para escapar do serviço militar. Em território helvético, o moço turbulento continuou fazendo das suas. Rebelde e arruaceiro, viveu de expedientes e chegou até a ser preso por vadiagem. Voltou à Itália em 1904. Quis o destino que, 18 anos e muitas peripécias mais tarde, nosso impetuoso anarco-sociossindicalista ? Benito Mussolini era seu nome ? se visse alçado à função de chefe do governo. Sabem todos o que veio depois.
A tentativa de tomada do quartel cubano de Moncada, levada a cabo em 1953 por uma turma de jovens iluminados, todos no vigor de seus 30 anos, foi um desastre total. Prisão, tortura, degredo dos rebeldes remanescentes foi o resultado. Naquele momento, ninguém imaginou que o chefe do grupo, um certo Fidel Castro, havia de se tornar senhor absoluto do país seis anos mais tarde. Os capítulos seguintes são conhecidos.
Faz pouco mais de um mês, o Brasil foi palco de um fenômeno desconcertante. Dirigentes boquiabertos assistiram a passeatas espontâneas formadas por gente comum. Não eram revolucionários nem putschistas. Não pretendiam derrubar o regime, muito menos tomar o poder. Não eram movidos por ideologia. Não carregavam armas. À exceção de grupelhos insignificantes de energúmenos imbecis, protestaram pacificamente.
Agora sossegaram. Mas que ninguém se engane: os acontecimentos de junho foram um divisor de águas. Daqui a um século, baixada a poeira, a história dará a 2013 a mesma importância que dá hoje a 1822 ou 1889. A sagacidade caseira do inefável Conselheiro Acácio ensina que as consequências, naturalmente, vêm sempre depois.
O brasileiro é um povo de sorte. No espaço de pouco mais de 10 anos, teve duas ocasiões de dar um salto à frente, na boa direção. A primeira foi quando Lula da Silva chegou ao posto máximo da República. Dono de apoio quase unânime do povo e de seus representantes, não lhe teria sido difícil impor as reformas indispensáveis para curar a esquizofrenia do país. Pareceu a todos que, finalmente, o Brasil deixaria de ter um pé na modernidade e outro ancorado na Idade Média.
Estava na hora de banir traços antediluvianos tais como o paternalismo, o nepotismo, o cartorialismo, o rigor reservado ao vulgo enquanto privilegiados são tratados com leniência. Queríamos todos ver desaparecer a desigualdade entre os do andar de cima e os do andar de baixo. Queríamos ver o fim de anacronismos que não combinam com o mundo civilizado.
Desgraçadamente, nenhuma reforma radical foi empreendida que acelerasse nosso processo civilizatório. Os donos do poder agiram como o cirurgião que anestesia o paciente mas esquece de operá-lo. Ninaram o povo com doces sonhos de grandeza, mas não se deram ao trabalho de eliminar os tumores que minam a sociedade. Entre mercurocromo e curativos, descuraram-se de servir ao povo. Usaram a arraia-miúda como massa de manobra e, insolentes, dela se serviram. Os protestos são a prova patente da ineficiência e do fracasso da atual maneira de governar.
Mas temos sorte. Diferentemente de Alemanha, Itália e Cuba, temos uma segunda chance. Nossa "revolução" não tem cabeças nem porta-bandeiras. Não prenuncia episódios violentos nem sangrentos. As demandas do povo brasileiro, a anos-luz da luta de classes, não são ideológicas, nem sectárias, nem elitistas, nem sindicais.
Medidas pontuais podem gerar alguma curta trégua, mas não resolverão o problema. O brasileiro, farto de que lhe zombem das fuças, quer ser tratado com dignidade. Plebiscitos e referendos não condizem com a situação atual. O povo já disse o que quer. Do governo, não se espera que faça mais perguntas, mas que dê as respostas que esperamos todos. E logo.
O governo que se dizia "popular", no fundo, não o era. Popular é o movimento que a todos surpreendeu, essa energia espontânea e sem lideranças. Estamos vivendo o começo do fim do Brasil medieval.
Em novembro de 1923, um punhado de indivíduos se reuniram numa cervejaria de Munique para encenar o que lhes parecia o ato final de um rocambolesco plano de tomada do Estado alemão pela força. O golpe foi um rotundo fracasso. Vistos como loucos mansos, os cabeças, presos e processados, foram condenados a penas leves. Quis o destino que, 10 anos mais tarde, o chefe da malta, um certo Adolf Hitler, fosse içado ao posto máximo da nação. O resto da história todos conhecem.
Nos primeiros anos do século 20, um jovem italiano, violento e rebelde, fugiu de seu país e ganhou a Suíça. Más línguas afirmam que era para escapar do serviço militar. Em território helvético, o moço turbulento continuou fazendo das suas. Rebelde e arruaceiro, viveu de expedientes e chegou até a ser preso por vadiagem. Voltou à Itália em 1904. Quis o destino que, 18 anos e muitas peripécias mais tarde, nosso impetuoso anarco-sociossindicalista ? Benito Mussolini era seu nome ? se visse alçado à função de chefe do governo. Sabem todos o que veio depois.
A tentativa de tomada do quartel cubano de Moncada, levada a cabo em 1953 por uma turma de jovens iluminados, todos no vigor de seus 30 anos, foi um desastre total. Prisão, tortura, degredo dos rebeldes remanescentes foi o resultado. Naquele momento, ninguém imaginou que o chefe do grupo, um certo Fidel Castro, havia de se tornar senhor absoluto do país seis anos mais tarde. Os capítulos seguintes são conhecidos.
Faz pouco mais de um mês, o Brasil foi palco de um fenômeno desconcertante. Dirigentes boquiabertos assistiram a passeatas espontâneas formadas por gente comum. Não eram revolucionários nem putschistas. Não pretendiam derrubar o regime, muito menos tomar o poder. Não eram movidos por ideologia. Não carregavam armas. À exceção de grupelhos insignificantes de energúmenos imbecis, protestaram pacificamente.
Agora sossegaram. Mas que ninguém se engane: os acontecimentos de junho foram um divisor de águas. Daqui a um século, baixada a poeira, a história dará a 2013 a mesma importância que dá hoje a 1822 ou 1889. A sagacidade caseira do inefável Conselheiro Acácio ensina que as consequências, naturalmente, vêm sempre depois.
O brasileiro é um povo de sorte. No espaço de pouco mais de 10 anos, teve duas ocasiões de dar um salto à frente, na boa direção. A primeira foi quando Lula da Silva chegou ao posto máximo da República. Dono de apoio quase unânime do povo e de seus representantes, não lhe teria sido difícil impor as reformas indispensáveis para curar a esquizofrenia do país. Pareceu a todos que, finalmente, o Brasil deixaria de ter um pé na modernidade e outro ancorado na Idade Média.
Estava na hora de banir traços antediluvianos tais como o paternalismo, o nepotismo, o cartorialismo, o rigor reservado ao vulgo enquanto privilegiados são tratados com leniência. Queríamos todos ver desaparecer a desigualdade entre os do andar de cima e os do andar de baixo. Queríamos ver o fim de anacronismos que não combinam com o mundo civilizado.
Desgraçadamente, nenhuma reforma radical foi empreendida que acelerasse nosso processo civilizatório. Os donos do poder agiram como o cirurgião que anestesia o paciente mas esquece de operá-lo. Ninaram o povo com doces sonhos de grandeza, mas não se deram ao trabalho de eliminar os tumores que minam a sociedade. Entre mercurocromo e curativos, descuraram-se de servir ao povo. Usaram a arraia-miúda como massa de manobra e, insolentes, dela se serviram. Os protestos são a prova patente da ineficiência e do fracasso da atual maneira de governar.
Mas temos sorte. Diferentemente de Alemanha, Itália e Cuba, temos uma segunda chance. Nossa "revolução" não tem cabeças nem porta-bandeiras. Não prenuncia episódios violentos nem sangrentos. As demandas do povo brasileiro, a anos-luz da luta de classes, não são ideológicas, nem sectárias, nem elitistas, nem sindicais.
Medidas pontuais podem gerar alguma curta trégua, mas não resolverão o problema. O brasileiro, farto de que lhe zombem das fuças, quer ser tratado com dignidade. Plebiscitos e referendos não condizem com a situação atual. O povo já disse o que quer. Do governo, não se espera que faça mais perguntas, mas que dê as respostas que esperamos todos. E logo.
O governo que se dizia "popular", no fundo, não o era. Popular é o movimento que a todos surpreendeu, essa energia espontânea e sem lideranças. Estamos vivendo o começo do fim do Brasil medieval.
Sem firmeza - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 03/08
A ex-senadora Marina Silva, que procura se colocar mais uma vez como presidenciável na eleição de 2014, tem dificuldades para se firmar como alternativa aos governos petistas, já que saiu desse meio e nunca rompeu com os antigos companheiros de maneira explícita. Talvez por esperar receber os votos dos petistas desiludidos.
Para o eleitor da classe média que, ao mesmo tempo, admira sua postura independente e preocupação com o meio ambiente, mas receia a inexperiência e capacidade de articulação política para montar um governo eficiente, ela é uma incógnita atraente. Um dos desafios que enfrenta neste momento é ser a preferida das massas rebeladas nas ruas, mas não se misturar aos vândalos que se infiltram nas manifestações para depredar prédios públicos e símbolos do capitalismo que pretendem destruir, como bancos e lojas.
Eis que ninguém menos que um membro da Executiva Nacional provisória da Rede de Sustentabilidade, o partido que Marina tenta colocar de pé, é flagrado com uma barra de ferro nas mãos nos atos de depredação do prédio do Itamaraty em Brasília, em junho. E o que usava como máscara para cobrir o rosto era uma camiseta da Rede.
O sociólogo Pedro Piccolo Contesini, de 29 anos, admitiu que estava lá naquela noite, mas deu explicação ridícula na sua página do Facebook: Vi uma barra de ferro no chão e a agarrei, inicialmente com a intenção de me defender, caso as coisas piorassem por ali. Depois, com as emoções à flor da pele, a pressionei algumas vezes contra diferentes pontos de uma estrutura também de ferro do próprio prédio e em seguida a joguei. Não quebrei nada.
Esse detalhe de ter pressionado a barra de ferro contra diferentes pontos do prédio faz parte de tentativa bisonha de se safar da acusação de depredação de prédio público. Com que intenção alguém pressiona uma barra de ferro na estrutura de um prédio, em meio a um tumulto generalizado que incluiu até mesmo a tentativa de incêndio da sede do Itamaraty?
Por que alguém cobre o rosto e pega uma barra de ferro numa demonstração pacífica de protesto? A certa altura, Piccolo diz que ficou excitado com tudo aquilo. O nascente partido de Marina Silva agiu como se já estivesse perfeitamente integrado à arcaica estrutura partidária brasileira.
Soltou uma nota condenando a violência e, mais adiante, aceitou o pedido de desligamento do membro de sua Executiva Nacional em decorrência da investigação iniciada pela Polícia Federal sobre sua suposta participação nos atos de depredação do Itamaraty .
Suposta porque, até o momento, Piccolo apenas admitiu estar no local, com o rosto coberto e uma barra de ferro na mão. Garante que não quebrou nada, e a Rede Sustentabilidade lhe dá o benefício da dúvida.
A atitude dúbia do partido de Marina, querendo ficar bem com todo mundo, pode lhe custar o descrédito dos que estão nas ruas protestando e rejeitam a baderna como método de ação política.
A ministra Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos, age mais como militante do que como autoridade governamental. Foi por isso que, em maio, tuitou logo, acusando as oposições de ter espalhado os boatos que levaram a uma corrida aos bancos dos beneficiários do Bolsa Família, com receio de que o programa fosse ser extinto. Ficou claro depois que a responsável pela onda de boatos fora a própria Caixa Econômica Federal, que antecipou o pagamento sem explicação.
Ontem Maria do Rosário voltou a se precipitar, afirmando que o desaparecimento do pedreiro Amarildo, depois de ter sido levado pela Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha, deveria ser investigado partindo-se do princípio de que a responsabilidade é da Polícia Militar.
Eu também temo que Amarildo já esteja morto, como a própria família desconfia. E também acho que a polícia tem a ver com seu desparecimento. Mas é preciso esperar as investigações para definir os culpados.
O papel da ministra deveria ser o de pressionar para que as investigações sejam rápidas e esclarecedoras, não o de acusar o aparelho policial, mesmo que o histórico aponte nessa direção.
Para o eleitor da classe média que, ao mesmo tempo, admira sua postura independente e preocupação com o meio ambiente, mas receia a inexperiência e capacidade de articulação política para montar um governo eficiente, ela é uma incógnita atraente. Um dos desafios que enfrenta neste momento é ser a preferida das massas rebeladas nas ruas, mas não se misturar aos vândalos que se infiltram nas manifestações para depredar prédios públicos e símbolos do capitalismo que pretendem destruir, como bancos e lojas.
Eis que ninguém menos que um membro da Executiva Nacional provisória da Rede de Sustentabilidade, o partido que Marina tenta colocar de pé, é flagrado com uma barra de ferro nas mãos nos atos de depredação do prédio do Itamaraty em Brasília, em junho. E o que usava como máscara para cobrir o rosto era uma camiseta da Rede.
O sociólogo Pedro Piccolo Contesini, de 29 anos, admitiu que estava lá naquela noite, mas deu explicação ridícula na sua página do Facebook: Vi uma barra de ferro no chão e a agarrei, inicialmente com a intenção de me defender, caso as coisas piorassem por ali. Depois, com as emoções à flor da pele, a pressionei algumas vezes contra diferentes pontos de uma estrutura também de ferro do próprio prédio e em seguida a joguei. Não quebrei nada.
Esse detalhe de ter pressionado a barra de ferro contra diferentes pontos do prédio faz parte de tentativa bisonha de se safar da acusação de depredação de prédio público. Com que intenção alguém pressiona uma barra de ferro na estrutura de um prédio, em meio a um tumulto generalizado que incluiu até mesmo a tentativa de incêndio da sede do Itamaraty?
Por que alguém cobre o rosto e pega uma barra de ferro numa demonstração pacífica de protesto? A certa altura, Piccolo diz que ficou excitado com tudo aquilo. O nascente partido de Marina Silva agiu como se já estivesse perfeitamente integrado à arcaica estrutura partidária brasileira.
Soltou uma nota condenando a violência e, mais adiante, aceitou o pedido de desligamento do membro de sua Executiva Nacional em decorrência da investigação iniciada pela Polícia Federal sobre sua suposta participação nos atos de depredação do Itamaraty .
Suposta porque, até o momento, Piccolo apenas admitiu estar no local, com o rosto coberto e uma barra de ferro na mão. Garante que não quebrou nada, e a Rede Sustentabilidade lhe dá o benefício da dúvida.
A atitude dúbia do partido de Marina, querendo ficar bem com todo mundo, pode lhe custar o descrédito dos que estão nas ruas protestando e rejeitam a baderna como método de ação política.
A ministra Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos, age mais como militante do que como autoridade governamental. Foi por isso que, em maio, tuitou logo, acusando as oposições de ter espalhado os boatos que levaram a uma corrida aos bancos dos beneficiários do Bolsa Família, com receio de que o programa fosse ser extinto. Ficou claro depois que a responsável pela onda de boatos fora a própria Caixa Econômica Federal, que antecipou o pagamento sem explicação.
Ontem Maria do Rosário voltou a se precipitar, afirmando que o desaparecimento do pedreiro Amarildo, depois de ter sido levado pela Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha, deveria ser investigado partindo-se do princípio de que a responsabilidade é da Polícia Militar.
Eu também temo que Amarildo já esteja morto, como a própria família desconfia. E também acho que a polícia tem a ver com seu desparecimento. Mas é preciso esperar as investigações para definir os culpados.
O papel da ministra deveria ser o de pressionar para que as investigações sejam rápidas e esclarecedoras, não o de acusar o aparelho policial, mesmo que o histórico aponte nessa direção.
'Cor ou raça' - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 03/08
SÃO PAULO - Não morro de simpatia por cotas raciais. Há algo de incômodo, para não dizer sombrio, na ideia de que o Estado classifique cidadãos com base na cor da pele e outras características fenotípicas.
Mesmo com esse pé atrás, sou sensível aos argumentos de quem defende tais mecanismos de inclusão. Num mundo em que o curso universitário virou a principal mola de ascensão social, é complicado transformar o desempenho em provas (medida que, embora objetiva, encerra uma série de vieses) no critério único de admissão. Não vejo, assim, como absurdos programas de ação afirmativa que levem em conta raça.
O que me parece um desatino é a multiplicação das instâncias em que somos obrigados a declarar a que "cor ou raça" pertencemos. Agora, é praticamente impossível obter algum documento oficial --incluindo registros de nascimento, atestados de óbito, carteiras de trabalho-- sem preencher um quadradinho racial. Pesquisadores já não podem mais nem atualizar seu currículo Lattes na página do CNPq sem autoclassificar-se. Os órgãos menos autoritários ainda produzem formulários que oferecem a opção "não desejo declarar", mas a maioria não é tão tolerante.
Compreendo o interesse do governo em produzir dados que permitam incorporar a dimensão racial às análises estatísticas, mas a participação nessa empreitada, cujo valor científico é bastante discutível, deveria ser um convite, jamais uma imposição.
O linguista Roman Jakobson afirmava que o idioma falado por uma pessoa ajuda a moldar seu pensamento quando a força a explicitar distinções. Falantes do português vemos a Lua como essencialmente feminina, já os que se expressam em alemão pensam o satélite como algo masculino. Meu receio é que a burocracia, ao obrigar que pensemos a nós mesmos em termos de raça, contribua para naturalizar características que desejaríamos ver banidas das relações sociais.
SÃO PAULO - Não morro de simpatia por cotas raciais. Há algo de incômodo, para não dizer sombrio, na ideia de que o Estado classifique cidadãos com base na cor da pele e outras características fenotípicas.
Mesmo com esse pé atrás, sou sensível aos argumentos de quem defende tais mecanismos de inclusão. Num mundo em que o curso universitário virou a principal mola de ascensão social, é complicado transformar o desempenho em provas (medida que, embora objetiva, encerra uma série de vieses) no critério único de admissão. Não vejo, assim, como absurdos programas de ação afirmativa que levem em conta raça.
O que me parece um desatino é a multiplicação das instâncias em que somos obrigados a declarar a que "cor ou raça" pertencemos. Agora, é praticamente impossível obter algum documento oficial --incluindo registros de nascimento, atestados de óbito, carteiras de trabalho-- sem preencher um quadradinho racial. Pesquisadores já não podem mais nem atualizar seu currículo Lattes na página do CNPq sem autoclassificar-se. Os órgãos menos autoritários ainda produzem formulários que oferecem a opção "não desejo declarar", mas a maioria não é tão tolerante.
Compreendo o interesse do governo em produzir dados que permitam incorporar a dimensão racial às análises estatísticas, mas a participação nessa empreitada, cujo valor científico é bastante discutível, deveria ser um convite, jamais uma imposição.
O linguista Roman Jakobson afirmava que o idioma falado por uma pessoa ajuda a moldar seu pensamento quando a força a explicitar distinções. Falantes do português vemos a Lua como essencialmente feminina, já os que se expressam em alemão pensam o satélite como algo masculino. Meu receio é que a burocracia, ao obrigar que pensemos a nós mesmos em termos de raça, contribua para naturalizar características que desejaríamos ver banidas das relações sociais.
Demagogia na saúde - MIGUEL REALE JUNIOR
O ESTADO DE S. PAULO - 03/08
O levantamento demográfico da medicina no Brasil publicado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em fevereiro, indicou que no nosso país o número de médicos cresceu 74%, na relação por 1.000 habitantes, de 1980 a 2012. Hoje se conta com 2 médicos para cada 1.000 habitantes, enquanto em 1980 a proporção era de 1,15. A meta proposta pela Frente Nacional de Prefeitos é de 2,75 por 1.000 habitantes no prazo de dez anos, o mesmo índice da Inglaterra. Esse crescimento desejado será conseqüência natural em face do número de inscrições nos Conselhos Regionais de formados pelas 201 faculdades existentes: de outubro de 2011 a outubro de 2012 se inscreveram 16.227 novos médicos.
Como destaca o censo demográfico da medicina, o problema não reside no número de médicos, mas na sua distribuição desigual pelas diversas regiões e, muito especialmente, na falta de outros profissionais de saúde, de instalações e equipamentos essenciais ao correto atendimento.
Malgrado esse quadro, o governo Dilma Rousseff, de modo demagógico, visando a satisfazer os objetivos de diminuirá carência de médicos em regiões prioritárias e as desigualdades regionais, criou, por medida provisória (MP), duas frentes: inovou o currículo do curso e permitiu o exercício da medicina aos formados no exterior, sendo a estes desnecessária a revalidação do diploma.
Quanto à primeira medida, inventou-se no currículo de Medicina um segundo ciclo a se realizar após os normais seis anos de curso - como se tal fosse necessário à formação do médico -, consistente na prestação obrigatória de atendimento médico a título de treinamento em serviço, exclusivamente, na atenção básica à saúde e em urgência e emergência no âmbito do SUS. Ignora-se que grande parte dos estudantes, sob orientação de seus professores, já presta, no 5.º e no 6.° anos, assistência a pacientes do SUS.
Essa imposição, da qual consta ter-se desistido, vigoraria a partir de 2021, pois aplicável aos estudantes que ingressassem na faculdade de 2015 em diante. Quem completasse o primeiro ciclo, os seis anos de curso, receberia inscrição provisória do Conselho Regional de Medicina ao se matricular no segundo ciclo, um meio médico, porque autorizado a atuar unicamente na atenção básica à saúde, em urgência e emergência no âmbito do SUS. Depois de cumprido o segundo ciclo receberia o estudante, então, o diploma de médico.
Prevê-se também que caberá ao estudante do segundo ciclo receber a necessária supervisão de sua instituição de ensino, como se isso pudesse ser feito pelas faculdades nos locais para onde será enviado o seu antigo aluno, no atendimento de emergência do SUS.
Trata-se de efetiva chantagem com o formando em Medicina: ou presta serviços ao SUS ou não recebe o diploma de médico - fazendo-se de conta que, depois do curso normal, trabalhar para o SUS seja essencial para a formação médica, para sua qualificação profissional. Viola-se a Constituição, ao se impor um serviço obrigatório admitido pela nossa Carta apenas com relação ao serviço militar. Afronta-se o disposto no artigo 5.º, XIII, pois não constitui, evidentemente, qualificação profissional para o exercício da medicina a prestação de serviços de emergência no SUS.
Caberá ao Conselho Nacional de Educação regulamentar o segundo ciclo, mas este já se manifestou no sentido de transformar em residência médica os anos de trabalho obrigatório no SUS, ideia agora aceita pelo governo. Conforme editorial deste jornal, a residência não poderá ser feita, em geral, na rede do SUS por falta de qualificação para tanto, de vez que a residência, como aperfeiçoamento, apenas é factível em hospital-escola ou de referência. Eufemisticamente se chama de residência o trabalho obrigatório.
Mais grave ainda a segunda medida: elimina-se a necessidade de avaliação de médicos, brasileiros ou estrangeiros, formados no exterior, dispensando o exame de revalidação do diploma. Entrega-se a saúde pública, com cegueira deliberada, a uma aventura. Estudantes mal sucedidos em vestibulares no Brasil, esses médicos formados na Bolívia, na Argentina e em Cuba, em cursos reconhecidamente sofríveis, não precisam do segundo ciclo nem de comprovar preparo técnico.
Quanto ao ensino cubano, basta o relato de ex-presidente do CFM Edson de Oliveira Andrade, que após visita à ilha assinalou: "Os médicos recém-formados em Cuba não conseguem aprovação nas provas de revalidação de diplomas no Brasil porque a sua formação é deliberadamente limitada, com ênfase nos cuidados básicos - importantíssimos por certo, porém insuficientes para o exercício de uma medicina plena, como precisamos e exercemos no Brasil".
Recebem os estrangeiros visto temporário de trabalho. Já os brasileiros, e são 20 mil a estudar Medicina na Bolívia, se livraram do vestibular e agora se livram também de revalidar o diploma, pois a MP exclui de incidência as normas do artigo 48, § 2.0, da Lei de Diretrizes e Bases, impositiva da revalidação, e do artigo 17 da Lei n.° 3.268/57, que exige para o exercício da medicina o registro do diploma no Ministério da Educação.
Deve-se lembrar ao ministro Lewandowski, do STF, que não viu urgência na concessão de liminar em ação interposta pela Associação Médica Brasileira contra a MP, poder tomar-se cúmplice da entrada de médicos mal formados, não avaliados, oriundos de cursos insuficientes em países latino-americanos. Urgente é impedir que a saúde seja entregue a profissionais despreparados, buscando magicamente suprir a desigual distribuição de profissionais nas regiões do País.
A demagogia não deve entrar na sensível área da saúde. Certo seria criar plano de carreira para médicos e iniciar ação conjunta com Estados e municípios para dotar de meios a rede pública de saúde. O mais é demagogia.
Fora do Beiço - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
FOLHA DE SP - 03/08
Humor intencional e humor involuntário em torno do coletivo que dá abrigo à Mídia Ninja
"Ator de Jiraya' vem ao Brasil e treina Mídia Ninja do Fora do Eixo." "Frente fria chega ao sudeste e congela cachês de artistas do Fora do Eixo." "Pablo Capilé oferece asilo a Edward Snowden na Casa Fora do Eixo."
Já deu para perceber qual o principal alvo do site de humor forado beico.tumblr.com: o coletivo artístico Fora do Eixo. Originário de Cuiabá, liderado pelo publicitário Pablo Capilé, o FdE é hoje uma potência nacional, baseada em São Paulo na casa que leva o nome da organização.
O Fora do Beiço faz mais vítimas, como se vê por estas outras manchetes: "Parapsicólogos alertam para o perigo de foto hipnotizante de Caetano"; "No Rio, papa Francisco promove caônização' [sic] de Criolo".
Velhos e novos ídolos da MPB, a cena indie estatal, o noticiário político, os fatos musicais: nada escapa da "razzia" bem-humorada do Fora do Beiço.
Em um texto sobre um suposto encontro do papa com o rapper messiânico Criolo, um trecho sublime: "Num papo franco, o papa Francisco descobriu afinidades com Criolo --ele é jesuíta, que catequiza os índios, e Criolo é augustino (que vem de Augusta'), e catequiza os indies".
Nas últimas semanas, a cena que gira em torno do Fora do Eixo, tão zoada pelo Fora do Beiço, ganhou evidência. Foi graças à Mídia Ninja, um grupo, aninhado no FdE, de jornalistas não remunerados, que vêm cobrindo como "insiders" as manifestações recentes pelo Brasil.
No Rio e em SP, apesar do amadorismo e da completa falta de isenção, marcaram gols jornalísticos. Estavam onde a "grande mídia" não conseguia estar, ajudaram a derrubar mentiras da PM. Tornaram-se, com mérito, assunto internacional.
A Mídia Ninja é um dos braços de uma televisão na internet operada pelo Fora do Eixo, a Pós TV. É por isso que me lembrei do Fora do Beiço para abrir este texto. Porque acompanho a Pós TV desde o começo, em 2011. Trabalho em televisão, procuro seguir as novidades. E é só com bom humor que dá para falar de uma coisa tão malfeita.
Pode ter sido falta de sorte, mas nas dezenas de vezes em que tentei ver a Pós TV, o que encontrei, de tão primário, deveria se chamar Pré TV. Áudio e imagens sofríveis. O conteúdo, de um tédio abissal.
Tirando as transmissões recentes dos ninjas, nunca vi um programa que não fosse: a) discurseira; b) debate ou entrevista em que todos têm a mesma opinião.
Como se dirige aos já convertidos (seus programas são vistos por poucas centenas de pessoas), a Pós TV não tem nenhuma preocupação de contextualizar. Os convidados passam horas falando sem ser identificados. Ou pelo menos passaram nos programas que segui.
Pena que o "Fora do Beiço" não deve ter assistido a um dos eventos mais curiosos da história recente da Pós TV. Ele seria capaz de descrevê-lo com muito mais humor. Foi logo depois do primeiro "streaming" de grande repercussão da Mídia Ninja.
No dia 18/6, já no estertor de uma manifestação gigantesca em SP, marcada por agressões à "grande imprensa", houve um conflito brutal entre manifestantes e a PM na rua Augusta. Nenhuma outra TV estava lá. A Mídia Ninja fez uma transmissão eletrizante, e digo isso sem nenhuma ironia.
No dia seguinte, o responsável pelo trabalho foi entrevistado na Pós TV. O apresentador fez uma rápida introdução e mandou a primeira pergunta. O rapaz só fez desfilar o jargão prolixo do Fora do Eixo.
Em poucos segundos, o próprio entrevistador pareceu perder o interesse: começou a ler e digitar em um iPad. Depois de uns cinco minutos, o ninja parou finalmente de falar, o apresentador disse algo, o ninja retomou o discurso, o entrevistador voltou ao iPad e eu fechei o computador.
No sentido contrário da diversidade que o FdE apregoa, a linha da Pós TV me parece monolítica: propagar a ideologia digital-coletivista da organização. Se alguma vez apresentou uma voz dissonante, eu infelizmente perdi.
De tão fraca e cheia de si, a Pós TV acaba fazendo humor involuntário. Bem diferente do Fora do Beiço, que não leva ninguém a sério. Até o slogan da conta no Twitter ironiza o jeito FdE de falar: "Semeando parcerias e polinizando a fertilidade efervescente culturo-colaborativa. Coletivamente falando".
Não faço ideia de quem é o gênio que escreve. Merece um programa on-line. Não na Pós TV, claro.
Humor intencional e humor involuntário em torno do coletivo que dá abrigo à Mídia Ninja
"Ator de Jiraya' vem ao Brasil e treina Mídia Ninja do Fora do Eixo." "Frente fria chega ao sudeste e congela cachês de artistas do Fora do Eixo." "Pablo Capilé oferece asilo a Edward Snowden na Casa Fora do Eixo."
Já deu para perceber qual o principal alvo do site de humor forado beico.tumblr.com: o coletivo artístico Fora do Eixo. Originário de Cuiabá, liderado pelo publicitário Pablo Capilé, o FdE é hoje uma potência nacional, baseada em São Paulo na casa que leva o nome da organização.
O Fora do Beiço faz mais vítimas, como se vê por estas outras manchetes: "Parapsicólogos alertam para o perigo de foto hipnotizante de Caetano"; "No Rio, papa Francisco promove caônização' [sic] de Criolo".
Velhos e novos ídolos da MPB, a cena indie estatal, o noticiário político, os fatos musicais: nada escapa da "razzia" bem-humorada do Fora do Beiço.
Em um texto sobre um suposto encontro do papa com o rapper messiânico Criolo, um trecho sublime: "Num papo franco, o papa Francisco descobriu afinidades com Criolo --ele é jesuíta, que catequiza os índios, e Criolo é augustino (que vem de Augusta'), e catequiza os indies".
Nas últimas semanas, a cena que gira em torno do Fora do Eixo, tão zoada pelo Fora do Beiço, ganhou evidência. Foi graças à Mídia Ninja, um grupo, aninhado no FdE, de jornalistas não remunerados, que vêm cobrindo como "insiders" as manifestações recentes pelo Brasil.
No Rio e em SP, apesar do amadorismo e da completa falta de isenção, marcaram gols jornalísticos. Estavam onde a "grande mídia" não conseguia estar, ajudaram a derrubar mentiras da PM. Tornaram-se, com mérito, assunto internacional.
A Mídia Ninja é um dos braços de uma televisão na internet operada pelo Fora do Eixo, a Pós TV. É por isso que me lembrei do Fora do Beiço para abrir este texto. Porque acompanho a Pós TV desde o começo, em 2011. Trabalho em televisão, procuro seguir as novidades. E é só com bom humor que dá para falar de uma coisa tão malfeita.
Pode ter sido falta de sorte, mas nas dezenas de vezes em que tentei ver a Pós TV, o que encontrei, de tão primário, deveria se chamar Pré TV. Áudio e imagens sofríveis. O conteúdo, de um tédio abissal.
Tirando as transmissões recentes dos ninjas, nunca vi um programa que não fosse: a) discurseira; b) debate ou entrevista em que todos têm a mesma opinião.
Como se dirige aos já convertidos (seus programas são vistos por poucas centenas de pessoas), a Pós TV não tem nenhuma preocupação de contextualizar. Os convidados passam horas falando sem ser identificados. Ou pelo menos passaram nos programas que segui.
Pena que o "Fora do Beiço" não deve ter assistido a um dos eventos mais curiosos da história recente da Pós TV. Ele seria capaz de descrevê-lo com muito mais humor. Foi logo depois do primeiro "streaming" de grande repercussão da Mídia Ninja.
No dia 18/6, já no estertor de uma manifestação gigantesca em SP, marcada por agressões à "grande imprensa", houve um conflito brutal entre manifestantes e a PM na rua Augusta. Nenhuma outra TV estava lá. A Mídia Ninja fez uma transmissão eletrizante, e digo isso sem nenhuma ironia.
No dia seguinte, o responsável pelo trabalho foi entrevistado na Pós TV. O apresentador fez uma rápida introdução e mandou a primeira pergunta. O rapaz só fez desfilar o jargão prolixo do Fora do Eixo.
Em poucos segundos, o próprio entrevistador pareceu perder o interesse: começou a ler e digitar em um iPad. Depois de uns cinco minutos, o ninja parou finalmente de falar, o apresentador disse algo, o ninja retomou o discurso, o entrevistador voltou ao iPad e eu fechei o computador.
No sentido contrário da diversidade que o FdE apregoa, a linha da Pós TV me parece monolítica: propagar a ideologia digital-coletivista da organização. Se alguma vez apresentou uma voz dissonante, eu infelizmente perdi.
De tão fraca e cheia de si, a Pós TV acaba fazendo humor involuntário. Bem diferente do Fora do Beiço, que não leva ninguém a sério. Até o slogan da conta no Twitter ironiza o jeito FdE de falar: "Semeando parcerias e polinizando a fertilidade efervescente culturo-colaborativa. Coletivamente falando".
Não faço ideia de quem é o gênio que escreve. Merece um programa on-line. Não na Pós TV, claro.
Defesa da transparência e da responsabilidade fiscal - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 03/08
Subsídios pouco explícitos e o uso da “contabilidade criativa” jogam problemas para o futuro, quando cairão como tempestade sobre o governo de então
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tratou de desmentir com rapidez a notícia, de “O Estado de S.Paulo”, de que a presidente Dilma resolvera retirar do limite de endividamento de estados e municípios os projetos destinados a melhorar o transporte público. E já teria pedido ao advogado-geral da União, Luiz Adams, proposta de mudanças na Lei de Responsabilidade Fiscal com este objetivo.
No desmentido, Mantega garantiu, ainda, que há espaço, dentro dos limites da LRF, para a contratação de novos projetos de mais de R$ 100 bilhões. O ministro é contra, pois sabe que a lei é o único dique que contém as pressões constantes por mais gastos. E um dique já com fissuras.
Mas sabe-se que esta não é posição unânime no governo Dilma. Vale lembrar que o PT, na oposição, foi feroz adversário da Lei de Responsabilidade, só mantida intacta no governo Lula porque o candidato petista assinou documento, na campanha eleitoral de 2002, se comprometendo a não cometer heterodoxias na política econômica.
Apesar do desmentido oficial, o governo deseja incluir na proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2014 a possibilidade de estados e municípios deduzirem investimentos de seu resultado fiscal, para efeito do cálculo do superávit primário. Como já faz a União à larga.
A cada artifício desses, cada operação de “contabilidade criativa”, sempre com o objetivo de passar a imagem de uma austeridade fiscal que não existe na realidade, reduz-se a transparência na contabilidade pública e a confiança dos investidores. Este ponto fraco brasileiro já está na mira das agências de avaliação de risco.
Preocupa que o país volte a cometer erros já vistos. A distribuição de subsídios, nem sempre de maneira clara, já produziu muitos “esqueletos” fiscais que, tão logo a economia foi estabilizada, saíram do armário para assustar equipes econômicas. Um exemplo, hoje histórico, é o do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS), criado em 1967 para saldar o desencontro entre o que havia sido pago pelo mutuário do sistema financeiro da habitação e o saldo devedor do empréstimo. O BNH acabou, mas o FCVS virou um “esqueleto”, resgatado depois do Plano Real.
O governo Dilma tem usado na conta de luz o perigoso instrumento do subsídio bancado pelo Tesouro, depois do corte draconiano de 20% na receita operacional do setor elétrico. O mesmo ocorre nos bilhões levantados por meio de endividamento público a uma determinada taxa de juros, para repassá-los ao BNDES, que os empresta a um custo menor. A diferença é espetada de volta no Tesouro. O mais simples e menos obscuro dos subsídios é o dos combustíveis, responsável pelo desestímulo ao álcool e problemas financeiros da Petrobras.
Já existe, enfim, um emaranhado de operações e várias decisões que empurram problemas para o futuro. Hoje, eles reduzem a credibilidade da política econômica e, amanhã, desabarão como tempestade sobre o governo de então.
Subsídios pouco explícitos e o uso da “contabilidade criativa” jogam problemas para o futuro, quando cairão como tempestade sobre o governo de então
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tratou de desmentir com rapidez a notícia, de “O Estado de S.Paulo”, de que a presidente Dilma resolvera retirar do limite de endividamento de estados e municípios os projetos destinados a melhorar o transporte público. E já teria pedido ao advogado-geral da União, Luiz Adams, proposta de mudanças na Lei de Responsabilidade Fiscal com este objetivo.
No desmentido, Mantega garantiu, ainda, que há espaço, dentro dos limites da LRF, para a contratação de novos projetos de mais de R$ 100 bilhões. O ministro é contra, pois sabe que a lei é o único dique que contém as pressões constantes por mais gastos. E um dique já com fissuras.
Mas sabe-se que esta não é posição unânime no governo Dilma. Vale lembrar que o PT, na oposição, foi feroz adversário da Lei de Responsabilidade, só mantida intacta no governo Lula porque o candidato petista assinou documento, na campanha eleitoral de 2002, se comprometendo a não cometer heterodoxias na política econômica.
Apesar do desmentido oficial, o governo deseja incluir na proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2014 a possibilidade de estados e municípios deduzirem investimentos de seu resultado fiscal, para efeito do cálculo do superávit primário. Como já faz a União à larga.
A cada artifício desses, cada operação de “contabilidade criativa”, sempre com o objetivo de passar a imagem de uma austeridade fiscal que não existe na realidade, reduz-se a transparência na contabilidade pública e a confiança dos investidores. Este ponto fraco brasileiro já está na mira das agências de avaliação de risco.
Preocupa que o país volte a cometer erros já vistos. A distribuição de subsídios, nem sempre de maneira clara, já produziu muitos “esqueletos” fiscais que, tão logo a economia foi estabilizada, saíram do armário para assustar equipes econômicas. Um exemplo, hoje histórico, é o do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS), criado em 1967 para saldar o desencontro entre o que havia sido pago pelo mutuário do sistema financeiro da habitação e o saldo devedor do empréstimo. O BNH acabou, mas o FCVS virou um “esqueleto”, resgatado depois do Plano Real.
O governo Dilma tem usado na conta de luz o perigoso instrumento do subsídio bancado pelo Tesouro, depois do corte draconiano de 20% na receita operacional do setor elétrico. O mesmo ocorre nos bilhões levantados por meio de endividamento público a uma determinada taxa de juros, para repassá-los ao BNDES, que os empresta a um custo menor. A diferença é espetada de volta no Tesouro. O mais simples e menos obscuro dos subsídios é o dos combustíveis, responsável pelo desestímulo ao álcool e problemas financeiros da Petrobras.
Já existe, enfim, um emaranhado de operações e várias decisões que empurram problemas para o futuro. Hoje, eles reduzem a credibilidade da política econômica e, amanhã, desabarão como tempestade sobre o governo de então.
Credibilidade abalada - EDITORIAL ZERO HORA
ZERO HORA - 03/08
É estarrecedora a queda da credibilidade das instituições brasileiras depois dos protestos de junho medida pela pesquisa Índice de Confiança Social, do Ibope. Em sua quinta edição anual, divulgada na quinta-feira, o levantamento revela que todas as 18 instituições avaliadas pelo instituto tiveram queda em sua credibilidade, retrocedendo de 54 para 47. É a primeira vez que o índice de confiança nas instituições fica na metade de baixo da escala, que vai de zero a cem. Na primeira edição, em 2009, o patamar era de 58.
A mais afetada foi a Presidência da República, que perdeu três vezes mais confiança do que as outras 17 instituições pesquisadas, registrando uma queda de 33% em relação à medição anterior. O recuo desde 2012 foi de 21 pontos. Há três anos, no último ano do segundo mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, a Presidência era a terceira instituição mais confiável, perdendo apenas para os bombeiros e as igrejas. Em seu primeiro ano no cargo, 2011, Dilma apresentou queda de confiança de 69 para 60. Subiu para 63 em 2012 e caiu para 42. Como ocorre nas pesquisas sobre a popularidade da presidente, o Índice de Confiança Social revela desigualdade regional na apreciação de Dilma: a queda foi mais acentuada no Sudeste (de 60 para 34 pontos em um ano) e mais branda no Nordeste (de 68 para 54 pontos). Também há diferenças entre as classes de consumo: enquanto na classe A/B o recuo foi de 36 pontos, na classe D/E chegou a 54. Apesar da queda, a presidente da República ainda detém a 11ª posição entre 18 colocados, ficando a uma distância considerável do final do ranking. A última colocação é ocupada pelos partidos políticos, com nota 25, ficando o Congresso em penúltimo lugar, com nota 29. O sistema público de saúde e o Judiciário também foram atingidos pela onda de queda de popularidade.
Essa realidade impõe um desafio sem precedentes para instituições públicas e privadas (entre estas últimas, os meios de comunicação), que precisam rever seus procedimentos para recuperar a credibilidade. É visível, antes de mais nada, que todas tiveram sua imagem abalada pelos protestos de junho e julho. Considerando-se esse contexto, é natural que instituições mais expostas, como a Presidência e o Congresso, enfrentem o maior descrédito. Mas não é possível imaginar que uma nação como a brasileira consiga fazer frente aos inúmeros desafios a sua frente sem refletir e adotar medidas rápidas e eficazes para reverter o prejuízo. Se o Executivo e o Legislativo, duas das principais e mais poderosas instituições da República, enfrentam um tal grau de repúdio, nada de positivo pode daí advir para o país. O pior equívoco, neste momento, seria encarar como natural uma situação profundamente anômala, que revela um divórcio político entre representantes e representados.
É estarrecedora a queda da credibilidade das instituições brasileiras depois dos protestos de junho medida pela pesquisa Índice de Confiança Social, do Ibope. Em sua quinta edição anual, divulgada na quinta-feira, o levantamento revela que todas as 18 instituições avaliadas pelo instituto tiveram queda em sua credibilidade, retrocedendo de 54 para 47. É a primeira vez que o índice de confiança nas instituições fica na metade de baixo da escala, que vai de zero a cem. Na primeira edição, em 2009, o patamar era de 58.
A mais afetada foi a Presidência da República, que perdeu três vezes mais confiança do que as outras 17 instituições pesquisadas, registrando uma queda de 33% em relação à medição anterior. O recuo desde 2012 foi de 21 pontos. Há três anos, no último ano do segundo mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, a Presidência era a terceira instituição mais confiável, perdendo apenas para os bombeiros e as igrejas. Em seu primeiro ano no cargo, 2011, Dilma apresentou queda de confiança de 69 para 60. Subiu para 63 em 2012 e caiu para 42. Como ocorre nas pesquisas sobre a popularidade da presidente, o Índice de Confiança Social revela desigualdade regional na apreciação de Dilma: a queda foi mais acentuada no Sudeste (de 60 para 34 pontos em um ano) e mais branda no Nordeste (de 68 para 54 pontos). Também há diferenças entre as classes de consumo: enquanto na classe A/B o recuo foi de 36 pontos, na classe D/E chegou a 54. Apesar da queda, a presidente da República ainda detém a 11ª posição entre 18 colocados, ficando a uma distância considerável do final do ranking. A última colocação é ocupada pelos partidos políticos, com nota 25, ficando o Congresso em penúltimo lugar, com nota 29. O sistema público de saúde e o Judiciário também foram atingidos pela onda de queda de popularidade.
Essa realidade impõe um desafio sem precedentes para instituições públicas e privadas (entre estas últimas, os meios de comunicação), que precisam rever seus procedimentos para recuperar a credibilidade. É visível, antes de mais nada, que todas tiveram sua imagem abalada pelos protestos de junho e julho. Considerando-se esse contexto, é natural que instituições mais expostas, como a Presidência e o Congresso, enfrentem o maior descrédito. Mas não é possível imaginar que uma nação como a brasileira consiga fazer frente aos inúmeros desafios a sua frente sem refletir e adotar medidas rápidas e eficazes para reverter o prejuízo. Se o Executivo e o Legislativo, duas das principais e mais poderosas instituições da República, enfrentam um tal grau de repúdio, nada de positivo pode daí advir para o país. O pior equívoco, neste momento, seria encarar como natural uma situação profundamente anômala, que revela um divórcio político entre representantes e representados.
Uma lei que eleva o País - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S. PAULO - 03/07
No combate à corrupção, o Brasil acaba de entrar para o rol das nações sérias. A presidente Dilma Rousseff sancionou lei sem precedentes, que pune empresas envolvidas em fraudes com o dinheiro público. De iniciativa do Planalto, por sugestão da Controladoria-Geral da União (CGU), chefiada pelo ministro Jorge Hage, o projeto tramitou lentamente na Câmara dos Deputados até ser aprovado no Senado pouco antes do recesso.
Transformada em lei, a proposta tira dos homens de negócio e executivos corruptores o conforto de saber que, tenham feito o que fizessem e mesmo se condenados por seus ilícitos, como fraudar licitações ou subornar agentes públicos, o patrimônio das suas empresas permaneceria intacto. Afinal, a legislação não previa, nessa esfera, nenhuma punição para pessoas jurídicas. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, por exemplo, de há muito que elas também pagam pelas lambanças dos seus dirigentes.
É, de resto, o padrão adotado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o chamado "clube dos ricos", que reúne mais de 30 nações comprometidas com a democracia representativa e a economia de mercado. "Se não fosse essa lei", comenta o titular da CGU, "o Brasil levaria bomba" no exame a que será submetido pelo organismo no fim deste ano ou no início do próximo.
A lei brasileira tardou, mas não peca pela leniência. Estipula que "as pessoas jurídicas serão responsabilizadas objetivamente no âmbito administrativo e civil pelos atos lesivos (...) praticados em seu interesse ou benefício, exclusivo ou não". O princípio jurídico da responsabilidade objetiva dispensa a comprovação de que empresários e prepostos tiveram a intenção de cometer as fraudes pelas quais as respectivas firmas viriam a ser processadas.
Eis por que a presidente vetou -entre outras "flexibilizações" introduzidas no texto original pela bancada do PMDB na Câmara - o parágrafo segundo o qual só seriam punidas as empresas depois de caracterizada a culpa ou o.dolo dos autores dos delitos apurados. Não há de ser coincidência que uma das provisões da vexaminosa "minirreforma eleitoral" pronta para ser votada na Câmara, comentada neste espaço ontem, exija prova do envolvimento pessoal do candidato com violações das regras eleitorais para favorecê-lo.
Dilma vetou também o benevolente parágrafo acrescido pelos peemedebistas que limitaria a multa imposta à empresa inidônea ao valor total do bem ou serviço contratado com a área pública. A pena ficará entre 0,1% e 20% do faturamento bruto da companhia no ano anterior ao da instauração do processo. Se não for possível definir esse montante, a multa poderá alcançar R$ 60 milhões. Também essa emenda revela a mentalidade que produziu o acintoso pacote eleitoral. Nele, a multa por doações a partidos e candidatos além do teto estabelecido equivalerá, no máximo, ao valor desembolsado, em vez de até 10 vezes isso, como atualmente.
Outra bondade vetada pretendia condicionar as sanções às empresas ao papel dos servidores públicos envolvidos: elas seriam tanto menores quanto maior fosse a contribuição dos corrompidos para a fraude. A lei define como práticas passíveis de penas civis e administrativas a oferta de vantagem indevida a funcionário público ou a pessoas de suas relações, formação de cartéis para burlar licitações e criação de empresas de fachada para simular concorrência. As empresas acusadas que cooperarem com as investigações terão benefícios equiparáveis à delação premiada na esfera criminal - seus bens não serão bloqueados, as suas atividades não serão suspensas e pagarão apenas 1/3 das multas aplicadas às cúmplices.
Atualmente, o pior que pode acontecer a uma empresa corruptora é a sanção administrativa de ser declarada inidônea, ficando assim impedida de participar de licitações. Pela nova lei, ela poderá ser privada de receber incentivos fiscais, doações ou empréstimos de órgãos públicos por até cinco anos. Isso, se não for interditada ou ter a sua razão social dissolvida compulsoriamente. E todas entrarão para o time dos "fichas-sujas" - o Cadastro Nacional de Empresas Punidas.
Por fora dos trilhos - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 03/08
Cartel delatado pela Siemens lança suspeita grave sobre governos tucanos em SP; PSDB acusa Cade de servir como instrumento político
As sucessivas administrações do PSDB em São Paulo, Estado governado pelo partido desde 1995, estão no epicentro de um escândalo milionário em torno do fornecimento de material ferroviário para linhas de metrô e de trens da CPTM.
O caso foi revelado nesta Folha. Reportagem de 14 de julho relatou a delação de um cartel por um de seus integrantes, a empresa alemã Siemens, ao Cade (agência federal antitruste) e ao Ministério Público, com os quais fizera acordo de imunidade em troca de colaboração.
Não há ainda denúncia formal à Justiça. Por ora vieram à tona apenas documentos internos da Siemens que mencionam a combinação de resultados com as concorrentes Alstom (França), Bombardier (Canadá), CAF (Espanha), Mitsui (Japão) e outras empresas menos expressivas. Ao menos seis licitações teriam sido fraudadas.
Há que considerar a investigação com dupla cautela. Os detalhes ainda são nebulosos, mas o que transpirou até aqui indica um conluio entre fornecedores para repartir encomendas e elevar seus preços de 10% a 30%, sem provas de envolvimento das autoridades.
Essa hipótese, nada implausível, aparece em "diários" de executivos da Siemens entregues ao Cade que sugerem um suposto aval ao esquema dos governos tucanos de Mário Covas (1995-2001), Geraldo Alckmin (2001-2006) e José Serra (2007-2010).
Uma nota oficial de Alckmin, atual governador, afirma que surgiram apenas "comunicações entre empresas privadas, sem participação de servidor público estadual", e que será pedido ressarcimento aos cofres públicos.
Seu chefe da Casa Civil, Edson Aparecido, saiu em ataque contra o governo federal do PT, acusando o Cade de se tornar "instrumento de polícia política". O ex-governador Serra agiu da mesma forma.
Já o secretário estadual de Transportes da administração Covas, Claudio de Senna Frederico, pronunciou-se em termos mais ambíguos. Ainda que negue ter tomado conhecimento do cartel, ele não o descarta. E afirma não se lembrar de "ter acontecido uma licitação de fato competitiva" no setor.
É uma declaração consternadora. Mesmo que o conluio sob investigação tenha permitido saltar a usual e custosa etapa de ações judiciais após licitações, seria excesso de pragmatismo --ou índice de coisa pior-- tolerar o sobrepreço e o desperdício de recursos públicos sob esse pretexto.
Ainda não há como concluir se houve um caso grave de conspiração privada contra o princípio da concorrência ou se foi ultrapassado também o limiar da corrupção pública. Que o Cade e o Ministério Público concluam com o máximo de firmeza e celeridade sua investigação, de modo a confirmar ou afastar de vez a suspeita que paira sobre os trilhos paulistas.
Cartel delatado pela Siemens lança suspeita grave sobre governos tucanos em SP; PSDB acusa Cade de servir como instrumento político
As sucessivas administrações do PSDB em São Paulo, Estado governado pelo partido desde 1995, estão no epicentro de um escândalo milionário em torno do fornecimento de material ferroviário para linhas de metrô e de trens da CPTM.
O caso foi revelado nesta Folha. Reportagem de 14 de julho relatou a delação de um cartel por um de seus integrantes, a empresa alemã Siemens, ao Cade (agência federal antitruste) e ao Ministério Público, com os quais fizera acordo de imunidade em troca de colaboração.
Não há ainda denúncia formal à Justiça. Por ora vieram à tona apenas documentos internos da Siemens que mencionam a combinação de resultados com as concorrentes Alstom (França), Bombardier (Canadá), CAF (Espanha), Mitsui (Japão) e outras empresas menos expressivas. Ao menos seis licitações teriam sido fraudadas.
Há que considerar a investigação com dupla cautela. Os detalhes ainda são nebulosos, mas o que transpirou até aqui indica um conluio entre fornecedores para repartir encomendas e elevar seus preços de 10% a 30%, sem provas de envolvimento das autoridades.
Essa hipótese, nada implausível, aparece em "diários" de executivos da Siemens entregues ao Cade que sugerem um suposto aval ao esquema dos governos tucanos de Mário Covas (1995-2001), Geraldo Alckmin (2001-2006) e José Serra (2007-2010).
Uma nota oficial de Alckmin, atual governador, afirma que surgiram apenas "comunicações entre empresas privadas, sem participação de servidor público estadual", e que será pedido ressarcimento aos cofres públicos.
Seu chefe da Casa Civil, Edson Aparecido, saiu em ataque contra o governo federal do PT, acusando o Cade de se tornar "instrumento de polícia política". O ex-governador Serra agiu da mesma forma.
Já o secretário estadual de Transportes da administração Covas, Claudio de Senna Frederico, pronunciou-se em termos mais ambíguos. Ainda que negue ter tomado conhecimento do cartel, ele não o descarta. E afirma não se lembrar de "ter acontecido uma licitação de fato competitiva" no setor.
É uma declaração consternadora. Mesmo que o conluio sob investigação tenha permitido saltar a usual e custosa etapa de ações judiciais após licitações, seria excesso de pragmatismo --ou índice de coisa pior-- tolerar o sobrepreço e o desperdício de recursos públicos sob esse pretexto.
Ainda não há como concluir se houve um caso grave de conspiração privada contra o princípio da concorrência ou se foi ultrapassado também o limiar da corrupção pública. Que o Cade e o Ministério Público concluam com o máximo de firmeza e celeridade sua investigação, de modo a confirmar ou afastar de vez a suspeita que paira sobre os trilhos paulistas.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“Lúcido, corado e um pouco cansado”
Ministro Marcelo Crivella (Pesca), após visitar José Sarney na UTI do Sírio-Libanês, em SP
CARDOZO DEMITE ADJUNTA POR TENTAR EXPULSAR BATTISTI
Izaura Maria Soares Miranda, diretora adjunta do Departamento de Estrangeiros da Secretaria Nacional de Justiça, foi demitida na segunda (29) pelo ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) após fazer parecer contrário à permanência do terrorista Cesare Battisti no Brasil. O caso chegou ao Planalto que, por medo da reação pública, teria exigido que a exoneração – já publicada no Diário Oficial da União – fosse desfeita.
VAPT-VUPT
Segundo apurou esta coluna, Izaura foi readmitida quatro dias após sua exoneração. O Ministério da Justiça não quis se pronunciar.
CONTRADITÓRIO
Procurada, a diretora nega que o departamento seja responsável por validar a estadia de Battisti no Brasil e diz que a história “não existe”.
VALE DOIS MESES
Já o Conselho de Imigração garante que autorização dada a Battisti vale dois meses e precisa, sim, ser ratificada pelo departamento de Izaura.
PRAZO APERTADO
A autorização para o terrorista ficar no Brasil vence no próximo dia 22, prazo que o Ministério da Justiça tem para deliberar sobre o assunto.
PLANALTO RESERVA R$ 2,2 MILHÕES AO 7 DE SETEMBRO
A Presidência prepara megaevento para o Dia da Independência, que promete ser marcado por protestos, que as redes sociais organizam como “os maiores de todos os tempos”. Reservou R$ 2,2 milhões para festa em Brasília, com 49 tendas, palanques e tribunas, segurança, telões, som, mobiliário e gerador de energia. Em 2012, o Planalto esperava gastar R$ 2,4 milhões, mas a festa saiu por R$ 900 mil.
OPS!
A secretária de Educação de Capim (PB) anunciou no Facebook da prefeitura, na sexta (2): “Avisso. As aulas recomeçará (sic) dia 8/7”.
MARÉ ALTA
Mesmo remando contra maré da pindaíba, a Marinha enviou almirante e convidados à Ucrânia para assinar acordo de modernização da frota.
PERGUNTA NA ARQUIBANCADA
Cadê os cinco torcedores do Corinthians que sairiam “nas próximas horas” da Bolívia, como anunciou há dias o chanceler Patriota?
BARRA DOS TRIBUNAIS
O Conselho Nacional de Justiça não está de olho na obra da nova lâmina do Tribunal de Justiça, mas na construção do prédio do TRE do Rio, alvo de ação popular na Justiça Federal por supostas fraudes na licitação e autorização do Patrimônio Histórico. Poderá ser embargada.
NÃO É O PAPAI
Quem não voltar do “recesso branco” do Congresso nesta segunda (5) já tem uma boa desculpa: a pesquisa de ancestrais no congresso internacional sobre múmias até sexta (9), no Museu Nacional do Rio.
PADILHANDO
A página no Facebook do ministro Padilha (Saúde), oficial candidato do PT governo de São Paulo, continuava ontem no ar, após a Justiça Eleitoral determinar a suspensão por propaganda antecipada.
CAMPO DE BATALHA
Líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ) não dará trégua a Dilma por sancionar a lei permitindo pílula do dia seguinte no SUS em casos de estupro, que para ele “permite o aborto”. Evangélico, promete novo projeto revogando e emendas para derrubar. “Fomos enganados”.
ESTADO LAICO
Já a deputada Jô Morais (PCdoB-MG), coordenadora da bancada feminina, elogia Dilma por ter “enfrentado a pressão fundamentalista” e sancionado PL que ajuda vítimas de estupro: “Ganho do Estado laico”.
TROMBADA
A presidente Dilma não quer que o PT lance a candidatura de José Guimarães para o Senado. Prefere apoiar a ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins. O problema é que Guimarães tem o controle do PT-CE.
SUCESSO GARANTIDO
Moradores de Albany, Nova York, coletam fundos para criar o Museu da Corrupção Política, exibindo documentos e até celas de finados vigaristas locais. Já tem site na internet. Se a moda pegasse...
PEDE PARA SAIR
Alvo de protestos até em São Paulo, governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) bateu recorde de aprovação do ex-presidente Collor antes do impeachment: 12%, contra 35% que apoiavam o “caçador de marajás”.
PENSANDO BEM...
... só falta o “passarinho” Hugo Chávez sobrevoar Lula na plateia do inacreditável Foro de São Paulo.
PODER SEM PUDOR
HIERARQUIA
O jornalista Macário Batista lembra que o Ceará, por duas vezes, deu combate aos marginais. Uma foi no tempo do coronel Gondim. Tirou todo mundo de circulação. A outra foi no governo de Virgílio Távora. Um dia, foram reclamar ao governador porque havia denúncias de uma limpa na bandidagem do Ceará, promovida pelo Secretário de Segurança, General Assis Bezerra. Resposta de Virgílio:
- Não posso fazer nada. Ele é general e eu sou só coronel.
Ministro Marcelo Crivella (Pesca), após visitar José Sarney na UTI do Sírio-Libanês, em SP
CARDOZO DEMITE ADJUNTA POR TENTAR EXPULSAR BATTISTI
Izaura Maria Soares Miranda, diretora adjunta do Departamento de Estrangeiros da Secretaria Nacional de Justiça, foi demitida na segunda (29) pelo ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) após fazer parecer contrário à permanência do terrorista Cesare Battisti no Brasil. O caso chegou ao Planalto que, por medo da reação pública, teria exigido que a exoneração – já publicada no Diário Oficial da União – fosse desfeita.
VAPT-VUPT
Segundo apurou esta coluna, Izaura foi readmitida quatro dias após sua exoneração. O Ministério da Justiça não quis se pronunciar.
CONTRADITÓRIO
Procurada, a diretora nega que o departamento seja responsável por validar a estadia de Battisti no Brasil e diz que a história “não existe”.
VALE DOIS MESES
Já o Conselho de Imigração garante que autorização dada a Battisti vale dois meses e precisa, sim, ser ratificada pelo departamento de Izaura.
PRAZO APERTADO
A autorização para o terrorista ficar no Brasil vence no próximo dia 22, prazo que o Ministério da Justiça tem para deliberar sobre o assunto.
PLANALTO RESERVA R$ 2,2 MILHÕES AO 7 DE SETEMBRO
A Presidência prepara megaevento para o Dia da Independência, que promete ser marcado por protestos, que as redes sociais organizam como “os maiores de todos os tempos”. Reservou R$ 2,2 milhões para festa em Brasília, com 49 tendas, palanques e tribunas, segurança, telões, som, mobiliário e gerador de energia. Em 2012, o Planalto esperava gastar R$ 2,4 milhões, mas a festa saiu por R$ 900 mil.
OPS!
A secretária de Educação de Capim (PB) anunciou no Facebook da prefeitura, na sexta (2): “Avisso. As aulas recomeçará (sic) dia 8/7”.
MARÉ ALTA
Mesmo remando contra maré da pindaíba, a Marinha enviou almirante e convidados à Ucrânia para assinar acordo de modernização da frota.
PERGUNTA NA ARQUIBANCADA
Cadê os cinco torcedores do Corinthians que sairiam “nas próximas horas” da Bolívia, como anunciou há dias o chanceler Patriota?
BARRA DOS TRIBUNAIS
O Conselho Nacional de Justiça não está de olho na obra da nova lâmina do Tribunal de Justiça, mas na construção do prédio do TRE do Rio, alvo de ação popular na Justiça Federal por supostas fraudes na licitação e autorização do Patrimônio Histórico. Poderá ser embargada.
NÃO É O PAPAI
Quem não voltar do “recesso branco” do Congresso nesta segunda (5) já tem uma boa desculpa: a pesquisa de ancestrais no congresso internacional sobre múmias até sexta (9), no Museu Nacional do Rio.
PADILHANDO
A página no Facebook do ministro Padilha (Saúde), oficial candidato do PT governo de São Paulo, continuava ontem no ar, após a Justiça Eleitoral determinar a suspensão por propaganda antecipada.
CAMPO DE BATALHA
Líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ) não dará trégua a Dilma por sancionar a lei permitindo pílula do dia seguinte no SUS em casos de estupro, que para ele “permite o aborto”. Evangélico, promete novo projeto revogando e emendas para derrubar. “Fomos enganados”.
ESTADO LAICO
Já a deputada Jô Morais (PCdoB-MG), coordenadora da bancada feminina, elogia Dilma por ter “enfrentado a pressão fundamentalista” e sancionado PL que ajuda vítimas de estupro: “Ganho do Estado laico”.
TROMBADA
A presidente Dilma não quer que o PT lance a candidatura de José Guimarães para o Senado. Prefere apoiar a ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins. O problema é que Guimarães tem o controle do PT-CE.
SUCESSO GARANTIDO
Moradores de Albany, Nova York, coletam fundos para criar o Museu da Corrupção Política, exibindo documentos e até celas de finados vigaristas locais. Já tem site na internet. Se a moda pegasse...
PEDE PARA SAIR
Alvo de protestos até em São Paulo, governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) bateu recorde de aprovação do ex-presidente Collor antes do impeachment: 12%, contra 35% que apoiavam o “caçador de marajás”.
PENSANDO BEM...
... só falta o “passarinho” Hugo Chávez sobrevoar Lula na plateia do inacreditável Foro de São Paulo.
PODER SEM PUDOR
HIERARQUIA
O jornalista Macário Batista lembra que o Ceará, por duas vezes, deu combate aos marginais. Uma foi no tempo do coronel Gondim. Tirou todo mundo de circulação. A outra foi no governo de Virgílio Távora. Um dia, foram reclamar ao governador porque havia denúncias de uma limpa na bandidagem do Ceará, promovida pelo Secretário de Segurança, General Assis Bezerra. Resposta de Virgílio:
- Não posso fazer nada. Ele é general e eu sou só coronel.
SÁBADO NOS JORNAIS
- Globo: Depois do julgamento: BC fecha banco do mensalão
- Folha: Vazamento sobre cartel é político, diz governo de SP
- Estadão: Superfaturamento de cartel de trens chegou a R$ 577 milhões
- Correio: Vida longa ao povo brasileiro
- Estado de Minas: Mineiras cheias de vida
- Zero Hora: Qualidade de vida dois passos atrás
- Jornal do Commercio: Mudança no IPTU provoca polêmica
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