ZERO HORA - 03/08
É estarrecedora a queda da credibilidade das instituições brasileiras depois dos protestos de junho medida pela pesquisa Índice de Confiança Social, do Ibope. Em sua quinta edição anual, divulgada na quinta-feira, o levantamento revela que todas as 18 instituições avaliadas pelo instituto tiveram queda em sua credibilidade, retrocedendo de 54 para 47. É a primeira vez que o índice de confiança nas instituições fica na metade de baixo da escala, que vai de zero a cem. Na primeira edição, em 2009, o patamar era de 58.
A mais afetada foi a Presidência da República, que perdeu três vezes mais confiança do que as outras 17 instituições pesquisadas, registrando uma queda de 33% em relação à medição anterior. O recuo desde 2012 foi de 21 pontos. Há três anos, no último ano do segundo mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, a Presidência era a terceira instituição mais confiável, perdendo apenas para os bombeiros e as igrejas. Em seu primeiro ano no cargo, 2011, Dilma apresentou queda de confiança de 69 para 60. Subiu para 63 em 2012 e caiu para 42. Como ocorre nas pesquisas sobre a popularidade da presidente, o Índice de Confiança Social revela desigualdade regional na apreciação de Dilma: a queda foi mais acentuada no Sudeste (de 60 para 34 pontos em um ano) e mais branda no Nordeste (de 68 para 54 pontos). Também há diferenças entre as classes de consumo: enquanto na classe A/B o recuo foi de 36 pontos, na classe D/E chegou a 54. Apesar da queda, a presidente da República ainda detém a 11ª posição entre 18 colocados, ficando a uma distância considerável do final do ranking. A última colocação é ocupada pelos partidos políticos, com nota 25, ficando o Congresso em penúltimo lugar, com nota 29. O sistema público de saúde e o Judiciário também foram atingidos pela onda de queda de popularidade.
Essa realidade impõe um desafio sem precedentes para instituições públicas e privadas (entre estas últimas, os meios de comunicação), que precisam rever seus procedimentos para recuperar a credibilidade. É visível, antes de mais nada, que todas tiveram sua imagem abalada pelos protestos de junho e julho. Considerando-se esse contexto, é natural que instituições mais expostas, como a Presidência e o Congresso, enfrentem o maior descrédito. Mas não é possível imaginar que uma nação como a brasileira consiga fazer frente aos inúmeros desafios a sua frente sem refletir e adotar medidas rápidas e eficazes para reverter o prejuízo. Se o Executivo e o Legislativo, duas das principais e mais poderosas instituições da República, enfrentam um tal grau de repúdio, nada de positivo pode daí advir para o país. O pior equívoco, neste momento, seria encarar como natural uma situação profundamente anômala, que revela um divórcio político entre representantes e representados.
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