quinta-feira, fevereiro 09, 2012

A dona da voz - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 09/02/12


É da deputada estadual Janira Rocha (PSOL) a voz que apareceu ontem no “Jornal Nacional”, da TV Globo, com instruções ao cabo Daciolo, líder dos bombeiros fluminenses que acompanha a greve dos militares na Bahia.
A deputada dizia que é um erro fechar a negociação baiana antes da programada greve dos policiais do Rio.


Correlação de forças...
Janira confirma o diálogo. “A minha vida inteira fui militante sindical”, diz ela, que, ao receber do cabo Daciolo o relato de que a greve na Bahia poderia acabar num acordo ruim, defendeu esperar pela do Rio. “É questão de correlação de forças.”


Já...
A conversa de Daciolo sobre a PEC 300, segundo o governo do Rio, foi com Garotinho.


O GOVERNO CABRALresolveu, digamos, “abrir o armário” em sua campanha de carnaval.
Na contramão do Ministério da Saúde, que, para o protesto dos gays, retirou do ar seu vídeo institucional com uma cena entre homossexuais, o programa estadual Rio Sem Homofobia pôs em sua campanha as figuras de uma travesti, de um homem e de uma mulher para combater a discriminação. O lançamento será no desfile do bloco de Preta Gil, domingo, na Avenida Rio Branco. Eu apoio 



Mercado da morte
Este anúncio da venda de uma escopeta está no quadro de avisos da Superintendência da Polícia Federal no Rio. É assinado por Wilson Ferreira Pinna, policial aposentado que já trabalhou na ANP.
No quadro, há outros anúncios, como o de uma pistola, arma que um policial está autorizado a usar em sua defesa na vida privada.


Aragão e o kuduro
Jorge Aragão entrou em estúdio no Rio com o angolano Yuri da Cunha, espécie de rei do kuduro, o ritmo da moda.
Yuri, sucesso na Europa, veio gravar com o brasileiro o samba “Sonho de Jorge” (de Aragão) para seu novo CD-DVD.


Passaralho no BB
Marco Maia, presidente da Câmara, anda furioso com a direção do Banco do Brasil, por ter demitido gente ligada a ele.
Entre os desempregados, está o diretor Sérgio Ricardo Nazaré.


Mansão do Huck
Luciano Huck, condenado pela Justiça Federal a pagar R$ 40 mil por cercar a faixa de areia ao longo de sua mansão, em Angra, RJ, conseguiu suspender a ação na Justiça estadual, que o julga por erros na construção.
A liminar foi concedida pelo desembargador Custódio Tostes, da 1 a- Câmara Cível do Rio.


De olho no shopping
Os consórcios que vão gerir os aeroportos de Guarulhos, Brasília e Campinas estão de olho na receita do aluguel de lojas, cujos contratos poderão ser revistos.
Na Europa, esses aluguéis representam 60% da receita total. Aqui, variam de 30% a 40%.
Pingue-pongue
A Praça Cláudio Coutinho, no Leblon, no Rio, ganhou esta mesa de pingue-pongue em aço inox e vidro super-resistente.
É um teste. Caso resista ao vandalismo, a Secretaria municipal de Conservação promete instalar outras setes.


Mau exemplo
O Colégio Anglo-Americano, no Novo Leblon, na Barra, no Rio, foi multado em R$ 5.457,84 por fazer obra sem licença.


Tom imperdível
Em três semanas, “A música, segundo Tom Jobim”, de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim, já foi assistido por mais de 50 mil espectadores.
O longa vai para a quarta semana seguida em cartaz.


Volta, Adriano
Torcedores do Flamengo lançaram ontem o site voltaadriano.com.br para tentar convencer Patrícia Amorim a contratar o atacante do Corinthians.


Retratos da vida
Ontem, uma operadora de caixa da filial do supermercado Guanabara na Barra, no Rio, saiu algemada da loja.
Foi acusada de, numa compra de mais de R$ 3 mil, ter registrado só R$ 200 para embolsar o restante. Teria sido flagrada por um superior.


NATHALIA DILL, a linda atriz, posa para a campanha de inverno de uma grife, cuja inspiração é o Rio. As fotos
foram feitas em vários recantos da cidade, como Santa Teresa


LETÍCIA SABATELLA, toda bela no Cine Odeon para o lançamento de “Hotxuá”, seu primeiro filme como diretora, recebe o carinho da grande atriz Odete Lara 


PONTO FINALA TV Globo lançou na internet o aplicativo “Globelezese”. Quem acessar o site redeglobo.com/globeleza poderá pôr sua foto ou dos amigos na boneca Globeleza. Depois, é só escolher uma maquiagem e clicar para ela sambar.

Insegurança total - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 09/02/12


Em quase todos os ministérios não ocupados por petistas, os secretários executivos são ligados ao Planalto. Mas quando há um "malfeito", é o partido do ministro que paga o pato


Nunca os aliados do PT estiveram tão com o pé atrás em relação ao governo. Em várias áreas. Até mesmo no que se refere à tramitação de projetos no parlamento, a começar pela proposta que está em pauta agora, o Fundo de Previdência dos Servidores Públicos. Quem tiver o cuidado de analisar com calma os arquivos da Câmara, verá que, no fim de 2000, os deputados aprovaram essa proposta por 264 votos contra 138. Votaram a favor PSDB, PFL, PMDB, PTN, PPB e PTB. A turma do contra foi representada por PT, PDT, PSB, PCdoB, PL, PPS e PV.

O novo regime era compulsório apenas para quem se aposentasse depois de sancionada a nova lei. Todos os servidores iriam receber o teto do INSS. Quem quisesse mais, teria que poupar por intermédio de uma contribuição complementar. Ou seja, nada muito diferente do que o governo da presidente Dilma e o PT propõem agora, embora o partido tenha sido contra nos tempos em que Fernando Henrique Cardoso era presidente. "Não poderíamos estar votando agora um projeto que a Casa já havia aprovado lá atrás e que o governo, simplesmente, retirou", afirmava ontem, indignado, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).

Miro descobriu que esse projeto foi devolvido ao Poder Executivo no governo Lula e, depois, reenviado em 2007, quando a presidente Dilma Rousseff já era ministra da Casa Civil. "O trabalho da Câmara não vale de nada. O governo pode, a seu bel-prazer, pedir a devolução de um projeto em processo de votação e depois reapresentá-lo como se nada tivesse acontecido. Isso está errado. Quero que os consultores da Câmara se pronunciem", comentou Miro.

O deputado não deixa de ter razão. E o precedente criado é perigoso. Retira-se um projeto que está votado e, anos depois, envia-se outro em que praticamente os mesmos personagens apenas trocam de lado. Quem era a favor hoje é contra e quem é contra, agora defende a proposta. "Qual a segurança que teremos em votar um projeto e ter a certeza de que o governo não vai retirá-lo depois de votado? Estamos vivendo um período de total insegurança jurídica", cobra o pedetista.

Por falar em insegurança...
Ao mesmo tempo em que o deputado Miro Teixeira está meio desconfiado com o que chama de insegurança jurídica, outros aliados da presidente Dilma Rousseff estão meio cabreiros com o andar da carruagem do Poder Executivo. Eles perceberam que em quase todos os ministérios não ocupados por petistas os secretários executivos são ligados ao Planalto. É o caso dos ministérios da Previdência; do Turismo; de Minas e Energia; e dos Transportes. Só falta saber o que será do Ministério das Cidades, onde é dada como certa a nomeação da atual secretária de Habitação, Inês Magalhães. A tarefa dela, dizem os congressistas, seria cuidar do novo ministro, Aguinaldo Ribeiro.

Isso derruba a tese de que a presidente Dilma Rousseff loteou o governo entre os partidos ou aceitou a tal "porteira fechada". É justamente o inverso: em cada local, há alguém da confiança do partido dela de olho nas ações. Ocorre que, se houver algum "malfeito", como ela se refere às suspeitas de corrupção, a bomba cai no colo do partido aliado. Nunca nas mãos daqueles que ocupam as secretarias executivas e influenciam diretamente as liberações de recursos.

O receio dos aliados agora é de que, na eleição, o PT venha com um discurso de que seus ministérios são os únicos que não dão problemas à presidente Dilma Rousseff. Afinal, tirando os embates do Enem, não se ouve falar sobre escândalos na Saúde, no Meio Ambiente ou no Desenvolvimento Social e Combate à Fome, por exemplo.

Para que isso não aconteça, os partidos aliados pretendem se sentar à mesa com Dilma e definir um acordo no qual se preserve os partidos aliados na hora da campanha pelas capitais e grandes cidades, ainda que estejam em palanques opostos. Até porque, depois da eleição municipal, Dilma precisará de uma base bastante unida para atravessar a pauta acumulada no Congresso Nacional. E se estiver tudo em frangalhos, a derrota certamente virá. Se brincar, ela pode ficar tão acuada ao ponto de ter que pedir a devolução de projetos votados do Congresso. E, por tabela, mais um desgaste, como o de agora, com a votação do fundo de previdência do servidor.

Brasília cai na tentação protecionista - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 09/02/12

Os motivos parecem razoáveis.
Como a indústria instalada no Brasil — brasileira ou não — começa a perder mercado para produtos importados, que se ergam barreiras às compras no exterior, em nome do salvamento de empregos e renda no mercado interno.
Na realidade, trata-se de mais uma daquelas conclusões erradas do "senso comum".
Indiscutível que há uma conjuntura mundial complexa, em que desalinhamentos de taxas de câmbio — a brasileira, valorizada — se somam à retração de mercados importantes como o americano e europeu e forçam a China e outras plataformas de exportação orientais a ser bem mais competitivas do que já eram.
Porém, fechar o país, por meio de barreiras alfandegárias, é a pior decisão que um governo pode tomar.
Caso do brasileiro.
Nos veículos, Brasília aumentou em 30 pontos percentuais o IPI sobre modelos com menos de 65% de conteúdo fornecido pela área do Mercosul.
Depois, voltou-se contra o acordo comercial assinado com o México, para também fechar esta porta de entrada de automóveis.
E, agora, planeja partir contra as importações de têxteis, com a arma do aumento do IPI.
Os conhecidos pendores protecionistas latentes no PT dão estridente sinal de vida.
Assim como a eclosão da crise mundial, a partir de Wall Street, no final de 2008, serviu de biombo para a abertura das comportas dos gastos em custeio, cujo subproduto político foi a eleição de Dilma, agora, a superoferta de produtos industrializados asiáticos serve de justificativa para a ressurreição da ideia da reserva de mercado.
Cercar o país de barreiras para forçar a vinda de fábricas, de tão tosco não chega a ser uma política industrial.
O Brasil, assim, se equipara ao protecionismo da Argentina, país que se converteu em pária global, intoxicado por overdose de heterodoxias kirchneristas.
Em recente artigo no GLOBO, o economista Rogério Werneck derrubou, com números, a ideia de que o Brasil estaria sob inundação de um tsunami de importações: de 2000 a 2010, o peso das importações no consumo de bens industrializados aumentou de 11,6% do PIB para 19%, dados da Fundação de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) e Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Não configura qualquer desastre.
Outro aspecto fundamental nesta "invasão" é que boa parte das importações é de componentes e insumos que fazem a indústria brasileira ser mais competitiva interna e externamente.
Ou seja, caso os devaneios protecionistas avancem, a indústria brasileira, já bastante integrada no mundo, padecerá com a ruptura de linhas de suprimento.
O terremoto/tsunami no Japão e as inundações na Tailândia mostraram o que isso significa: os desastres naturais afetaram montadoras de veículos no mundo todo.
Em vez de erguer barreiras vetadas pela OMC para conter importações, o melhor caminho é aplicar políticas de aumento do poder de competição dos produtos industrializados nacionais, sem depender do câmbio.
Alguns dos pontos a atacar são conhecidos: impostos, infraestrutura, burocracia, qualificação da mão de obra.
O protecionismo tarifário é o menos inteligente e eficaz dos meios.

Brado retumbante - MARIA ELENA PEREIRA JOHANNPETER

O ESTADÃO - 09/02/12

Nas últimas semanas, assistindo ao seriado O Brado Retumbante, fiquei muito chocada ao ouvir, dito pela "esposa do presidente", que todas as ONGs merecem ser fechadas, pois são desonestas e se utilizam totalmente do dinheiro do governo, embora sua sigla signifique organizações não governamentais. Deixou nas entrelinhas que as ONGs estão a serviço apenas de políticos inescrupulosos.

Existem, no Brasil, 338 mil ONGs registradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que trabalham seriamente. Também sabemos que existem ONGs que são criadas exclusivamente para cobrir os interesses escusos de políticos, de empresários ou de outras pessoas. Porém não se pode "encher a boca" e dizer que todas merecem ser fechadas. É um grande desrespeito com as organizações sérias, como a que criei e onde trabalho há 15 anos, bem como outras, como a Todos Pela Educação ou o Movimento Brasil Competitivo (MBC) ou a própria Fundação Roberto Marinho, que é também uma ONG.

Sei que todas as que citei não se perturbam com esses pronunciamentos. Porém as pequenas, as que lutam diariamente por doações para poder colocar comida na mesa ou conseguir medicamentos para o seu público assistido, essas sofrem, sim, e muito.

Os meios de comunicação, com o enorme poder que têm em suas mãos, devem ser muitíssimo cuidadosos para não ajudarem a destruir aquilo que eles mesmos apoiam.

Na ONG Parceiros Voluntários são quase 3 mil organizações sociais conveniadas (OSCs) e 400 mil voluntários engajados no Rio Grande do Sul. Essas OSCs lutam contra todo tipo de problema que se pode imaginar para auxiliar crianças, idosos, pessoas com necessidades especiais e doentes a amenizarem as suas dores, a tristeza, a fome e a falta de um lugar para morar. Conhecemos de muito perto essa realidade e, por isso, podemos ser testemunhas do enorme esforço que essas ONGs fazem para buscar recursos e manter esses lares em benefício de quem não tem nada. Aqui, no Rio Grande do Sul, temos exemplos fantásticos de dedicação e profissionalismo. Muitas dessas ONGs dão um passo mais à frente e participam de longos cursos de capacitação para aprenderem a ser gestores e, assim, buscar sustentabilidade para a instituição que lideram.

Somente para citar um exemplo: por meio de uma parceria firmada com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Petrobrás, finalizamos, após três anos de trabalho, o projeto Desenvolvimento de Princípios de Transparência e Prestação de Contas em Organizações da Sociedade Civil. Durante esse período, foram capacitadas 76 ONGs e 148 lideranças dessas ONGs em 21 cidades gaúchas. Os grupos contaram com o auxílio de profissionais de várias áreas e receberam assessoramento para aplicar ferramentas de transparência e prestação de contas e gestão, além de avaliar aspectos jurídicos, tributários e contábeis. Após as atividades, as organizações seguiram recebendo consultoria de especialistas durante mais dez meses.

Será que essas pessoas são sérias, ou não? Será que elas merecem a nossa admiração, nosso respeito e um braço estendido para ajudar a seguirem adiante, ou não? Peço cuidado, muito cuidado, aos meios de comunicação pelos milhões de pessoas que em boa parte das vezes dependem unicamente dessas ONGs para resgatar alguma dignidade. E que o governo realmente feche as ONGs que estão a serviço de corruptos, mas que não cometa o erro de desvalorizar os milhares de sérias.

Carlos Drummond de Andrade sintetiza muito bem o valor do nosso envolvimento com o outro: "A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade".

Avenida Brasil. Ou "da morte"? - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 09/02/12

O nome do Brasil, involuntária mas desgraçadamente, acabará associado ao massacre na Síria. Explico: conforme o relato de Mayte Carrasco, a enviada especial de "El País" a Homs, a cidade que é o grande símbolo da revolta contra a ditadura, a avenida Brasil foi rebatizada para "avenida da morte, devido à presença de franco-atiradores que disparam sobre qualquer pessoa que se aventure por ela".

Triste coincidência. Pior: não há nada que o Brasil possa fazer para parar o massacre. Nada que já não esteja fazendo e que é o possível. O fracasso não é do Brasil, a não ser como parte de uma comunidade internacional de novo incapaz de agir ante uma carnificina.

Até o presidente do país mais poderoso do mundo, Barack Obama, reconheceu essa incapacidade, meses atrás, em nota que alude especificamente aos Estados Unidos, mas que serve à perfeição para o conjunto de países-membros das Nações Unidas.

Dizia Obama: "Sessenta e seis anos depois do Holocausto e 17 anos depois de Ruanda, os EUA ainda carecem de uma moldura política abrangente e de um mecanismo interagências correspondente para prevenir e responder a atrocidades de massa e ao genocídio".

A afirmação foi feita a propósito do anúncio de criação, em um prazo de 120 dias, do Conselho de Prevenção de Atrocidades. Obama deu um prazo de cem dias para um "inventário de amplo alcance das ferramentas econômicas, diplomáticas e outras disponíveis" para enfrentar tais situações.

O ponto de partida do projeto era perfeito: "O presidente" -dizia a nota- "rejeita a ideia de que, diante de atrocidades em massa, nossas opções estão limitadas a ou enviar os militares ou manter-se à margem e não fazer nada".

Passaram-se os cem dias, 120 também, sem que se tenham notícias seja do "inventário", seja da diretoria, exatamente quando o mundo se vê, outra vez, ante a opção de "enviar os militares ou não fazer nada". Na verdade, o dilema no caso da Síria nem chegou a ser esse, uma vez que a opção "enviar os militares" nunca esteve entre as cartas postas à mesa.

Restou tão somente não fazer nada. Pior: tudo indica que a matança vai continuar. Escreve, por exemplo, Scott Stewart, do site geopolítico Stratfor: "Nossa atual avaliação é a de que o governo e a oposição chegaram a um impasse no qual o governo não pode esmagar a revolta, e a oposição não pode derrubar o governo sem que haja uma intervenção externa".

Na semana passada, a oposição à ditadura gritava, nas ruas da Síria, "perdoe-nos, Hama". Era uma alusão ao fato de que, 30 anos atrás, Hafez Assad, o pai do atual ditador, promoveu um massacre na cidade de Hama, na qual cerca de 30 mil pessoas foram mortas e outras tantas foram presas, torturadas e, muitas, mortas na prisão.

A ditadura impôs silêncio sobre o massacre nos 30 anos seguintes, mas, agora que a revolta rompeu o medo, Hama pode ser recordada.

No ritmo em que vão as coisas, à comunidade internacional só resta pedir perdão à Síria -ou, pelo menos, aos sírios que estão sendo massacrados nas "avenidas da morte" de tantas cidades sírias.

Com a mão do gato - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 09/02/12
Enquanto mantém em público o discurso de que apenas a questão salarial é passível de negociação com os grevistas da PM baiana, Jaques Wagner opera nos bastidores para convencer o Tribunal de Justiça a revogar os pedidos de prisão dos líderes do movimento, principal obstáculo ao fim da paralisação que já dura nove dias. Nesse período, foram registrados mais de 130 homicídios na região metropolitana de Salvador.
Desembargadores foram procurados pelos principais operadores políticos do governador petista. Ouviram apelo para analisar com boa vontade um pedido de habeas corpus vindo da defesa dos policiais.

Cúpula Reunidos ontem à noite no Rio, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), o comandante do Exército, Enzo Peri, e o governador Sérgio Cabral (PMDB) discutiram o "vaso comunicante" entre os policiais que ameaçam parar no Estado e os que já estão em greve na Bahia.

Muita calma... Fala a senadora e ex-prefeita Marta Suplicy: "Gente do PT está me pedindo empenho na campanha do Haddad, mas, enquanto não for esclarecida esta confusão que envolve o PSD, vou aguardar. Prefiro esperar um esclarecimento do partido sobre a negociação com Kassab antes de ter participação mais efetiva".

...nessa hora Marta não chega a dizer que se manterá afastada em caso de aliança com Kassab, mas, em privado, manifesta desconforto diante da ideia de dividir palanque com seu adversário de 2008 e vice de José Serra na eleição que a tirou da prefeitura, em 2004, com um discurso de desconstrução da gestão petista na cidade.

Lipoaspiração Para acomodar o PDT em seu secretariado, Geraldo Alckmin planeja mover Davi Zaia (Trabalho) para a Gestão Pública. Antes, desidratará a pasta. O primeiro passo será transformar o Detran em autarquia, sob controle de Andrea Calabi (Fazenda). A Prodesp migrará para o Planejamento.

Querido de todos Do líder da bancada do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), sobre o demitido presidente da Casa da Moeda: "Disseram que o Dornelles [presidente do PP] queria manter o [Luiz Felipe] Denucci lá, que o Delfim [Netto] queria manter ele lá e que o Lula gostava dele e queria manter ele lá".

Pão e água Em tom queixoso, Jovair contou a colegas que o governo vai substituir o presidente da Conab, Evangevaldo Santos, em resposta à encrenca na Casa da Moeda. O PTB tornou mais difícil a vida de Guido Mantega ao sustentar que foi o ministro da Fazenda, e não o partido, quem escolheu Denucci para comandar a instituição.

Sumiço geral Ontem, quando Mendonça Filho (DEM-PE) defendeu em plenário a ida de Mantega à Câmara para explicar a situação da Casa da Moeda, de onde Denucci saiu acusado de desviar dinheiro, nenhum deputado petista se manifestou. Apenas o líder do PMDB, Henrique Alves (RN), apareceu para socorrer o ministro.

Na real 1 Quem acompanha a troca de comando na Secretaria das Mulheres avalia que, apesar das negativas oficiais, o debate sobre a descriminalização do aborto ganhará fôlego com Eleonora Menicucci. Militante feminista historicamente favorável à prática, a ministra delegou à acadêmica Lourdes Bandeira a coordenação da transição.

Na real 2 Espera-se que Eleonora monte equipe de "perfil técnico" -leia-se, menos sujeita às pressões do Congresso, onde há forte resistência a qualquer projeto que flexibilize a legislação.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

Tiroteio

"Designar uma abortista convicta para comandar a política pública de valorização da mulher, hoje com status de ministério, é uma ofensa a todos os que defendem a vida."
DO DEPUTADO EDUARDO CUNHA (PMDB-RJ), expoente da bancada evangélica, sobre declarações da futura ministra Eleonora Menicucci expondo suas convicções pessoais em defesa da descriminalização do aborto.

Contraponto

Embromation

Na solenidade de abertura do ano judiciário em São Paulo, Michel Temer foi chamado a discursar. Num salão superlotado do TJ, sob temperatura superior a 30 graus, o vice defendeu a produção dos desembargadores. Ao final, um deles, transpirando sob a toga, comentou:
-Ele conseguiu...
O colega ao lado se interessou em saber:
-Conseguiu o quê? Defender o Judiciário?
-Não, conseguiu discursar por quase dez minutos sem dizer nada!

GOSTOSA


Distorções públicas - CLAUDIA ANTUNES

FOLHA DE SP - 09/12/12

RIO DE JANEIRO - Se alguém qui ser saber quanto ganham policiais e professores em Nova York, uma busca na internet leva direto a páginas dos respectivos departamentos municipais. Informam-se ali salários iniciais e quanto o profissional receberá à medida que aumentem qualificação e tempo de serviço.

No Brasil, é difícil obter resultado semelhante. Quando há dados em sites oficiais, as diferenciações baseadas em bônus e gratificações são tantas que aspirantes às duas carreiras podem desanimar antes de conseguir entender sua possível remuneração.

Fruto de gambiarras sucessivas para esticar orçamentos e reduzir o impacto dos salários na Previdência do funcionalismo, a falta de transparência alimenta batalhas de números entre autoridades e servidores. É o que ocorre no Rio, onde o Estado anunciou reajuste para as polícias, que ameaçam greve.

Se considerado o salário-base proposto para a PM fluminense (R$ 1.699), ele ficará próximo da renda média mensal dos trabalhadores nas metrópoles brasileiras (R$ 1.650). Nos EUA, mais ricos e menos desiguais, o piso do policial de NY (R$ 6.400) é menor do que essa renda média em nível nacional, de cerca de R$ 7.600.

Em todo o Brasil, a última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) mostrou que, em 2009, cabos e soldados das PMs tinham rendimento maior que o de mestres dos ensinos médio e fundamental (situação inversa à de NY). Criado em 2008, o piso nacional do professorado está em R$ 1.187, bem menos que os R$ 4.000 almejados pelos policiais.

A comparação não visa alimentar uma disputa pelo posto de funcionário menos valorizado, mas chamar atenção para o tamanho das distorções em serviços públicos vitais. Não dá para eliminá-las a bala. É necessário definir prioridades, quem ganhará e o que deve ser cortado -auxílio-moradia e benesses do tipo para juízes e deputados seriam fortes candidatos.

Metas e mitos de inflação - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 09/02/12

AS "METAS DE INFLAÇÃO" têm dado o que falar desde que o Banco Central dos EUA, o Fed, saiu do armário no mês passado e assumiu o objetivo de 2%.

Não se trata de debate lá muito profundo ou novo, mas está na mídia financeira global. É a mesma conversa que ficara mais estridente pouco antes e depois da crise de 2008. Em suma, questiona-se que tipo de estabilidade é essa, a dos BCs e suas metas, que termina em tamanha catástrofe.

Grosso modo, em regimes de meta de inflação, os BCs procuram manter os preços em torno de uma linha (a meta) por meio de mexidas nos juros (o que em tese regula o ritmo da economia) e por meio do convencimento dos mercadores de dinheiro a respeito da estabilidade do preço de sua mercadoria básica.

Os críticos observam, por exemplo, que as catástrofes financeiras dos séculos 20 e 21 foram precedidas de períodos de inflação baixa para o consumidor, de grande expansão do crédito, de especulação estéril, de bolhas e estouros.

Foi assim em 1929 nos EUA, em 1987-89 no Japão, de 1996 a 2006 nos EUA (várias bolhas) etc. A inflação de varejo parecia baixa, mas havia inflação de ativos como ações e imóveis, por exemplo.

Um índice de inflação deveria ser uma "cesta" de preços de tudo (de carros e barbearia a terrenos na lua e derivativos loucos)? Se fosse possível tal índice, os BCs teriam capacidade de influenciar preços?

Os BCs apenas teriam a ilusão de que controlam parte relevante das variações de preços. A baixa na inflação dos 2000 teria sido, em parte, devida à oferta de manufaturas baratas dos países recentemente industrializados, China e cia. Esse seria apenas um exemplo de ilusão do poder dos BCs, dizem os críticos.

Os BCs não teriam controle sobre o efeito final sobre os preços (de bens ou ativos financeiros) provocado pelo aumento ou redução de dinheiro na praça. Os agentes econômicos, a depender de tecnologias financeiras, gostos mutantes, expectativas ou sabe-se lá, reagiriam de modo imprevisível ao relaxamento monetário, causando variações incertas de preços em bens, serviços ou ativos financeiros. Os BCs seriam aprendizes de feiticeiros.

Note-se que essa é uma crítica "liberal": BCs e governos deveriam bulir ainda menos com a economia.

Mas certas querelas sobre metas de inflação devem alegrar os críticos brasileiros "à esquerda". Considere-se o caso de Ben Bernanke (economista-padrão dos mais reputados), presidente do Fed.

No Congresso, foi acusado de inflacionista pela direita alucinada. Respondeu que, apesar do compromisso com a meta e preços estáveis, vez e outra é preciso levar a inflação à meta mais devagarzinho, considerando o estado da economia (tal como faz o "novo BC" de Dilma Rousseff e, aliás, também o fez o de Armínio Fraga, sob FHC).

É o que tem feito o BC do Reino Unido desde 2008. Não era o que vinha fazendo o BC da União Europeia, que sob o comando de Jean-Claude Trichet elevou juros, negou crédito e ajudou a levar a eurozona de volta à recessão e quase ao colapso financeiro, em 2011.

Em suma, há tiros de canhão no concerto já desafinado das metas.

Isto posto, nossa inflação continua alta e dura de matar. Com ou sem canhão.

Estreita vigilância - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 09/02/12



Os Ministérios da Justiça e da Defesa monitoram de perto a mobilização de policiais militares em vários Estados onde há risco de greves e já fazem um planejamento para o envio de tropas no caso de os governadores pedirem auxílio para a garantia da ordem pública.

Há 4 mil homens na Bahia desde a semana passada, quando o governador Jaques Wagner pediu ajuda em função dos tumultos de rua provocados por grevistas e da ocupação da Assembleia Legislativa por policiais amotinados.

Diante do risco de ocorrerem greves também no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul e Alagoas, o governo federal programa possíveis deslocamentos levando em conta um efetivo de até 10 mil soldados da Força Nacional mais o que for preciso de pessoal do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

Embora o governo abrace a tese de que a greve da Bahia e as ameaças em outros Estados façam parte de uma mobilização nacional para forçar a votação da emenda constitucional (PEC 300) que institui o piso salarial para policiais militares e bombeiros, não prevê outra ação de caráter nacional além da garantia da ordem.

Segundo alta autoridade da área federal de segurança, não há o que fazer a não ser aguardar que os governadores consigam resolver o problema de modo pontual com as corporações dos respectivos Estados, "dentro das possibilidades orçamentárias de cada um".

Segurança pública é função estadual e, portanto, não haveria como a União agir sem que se configurasse uma intervenção. Oficialmente, Brasília mantém distância regulamentar, mas, na prática, atua.

De um lado, em consonância com a presidência da Câmara dos Deputados na decisão anunciada de manter a PEC 300 fora da pauta de votações; de outro, em conformidade com os governadores na posição de não negociar anistia para grevistas que tenham ou venham a se envolver em crimes.

No caso específico da Bahia, há um evidente pisar em ovos na abordagem do assunto em virtude do desgaste político que o episódio rende ao governador Jaques Wagner, do PT.

Não só pelo fato de o partido ter apoiado a greve de dez anos atrás quando o governador (César Borges) era um adversário, mas também porque os petistas precisam se equilibrar entre o discurso "duro" contra a quebra de hierarquia e a hesitação em utilizar efetivamente a força do Estado contra os grevistas e arcar com os riscos de imagem resultantes de atos mais violentos.

Isso sem contar o evidente constrangimento em função da demora do governador em reconhecer a amplitude do movimento. Não se fala em "erro de avaliação" de Jaques Wagner. Fala-se, isso sim, em "informações incompletas" que teriam sido passadas a ele pelos comandos igualmente interessados nas reivindicações salariais.

Quanto ao principal, a solução que será dada à greve dos policiais baianos, no governo federal o que se diz é que o nome do jogo agora é paciência e negociação.

Por "questão de estratégia" não é revelado se há ou não intenção de haver desocupação forçada da Assembleia Legislativa, caso não se consiga resolver o impasse na base do diálogo. 

Na realidade, a impressão que dá é que há pouco de estratégia e muito de torcida para que os grevistas sejam vencidos pelo cansaço sem que o governador tenha necessidade de trocar o discurso "duro" por ações mais efetivas ou que precise ceder além do inicialmente pretendido.

Alegar que a motivação é nacional e que a mobilização tem motivações políticas regionais, além de uma contradição em termos - a PEC 300 não faz parte de pauta das negociações em curso na Bahia nem no Rio - não constrói caminho para a solução necessária para um cenário de total insegurança pública.

Balança. A permanência de Fernando Bezerra à frente do Ministério da Integração Nacional não é uma questão resolvida.

Pode vir a sair sim, mas longe das circunstâncias de denúncias e mais próximo do prazo de desincompatibilização de candidatos às eleições municipais.

Maia se rebela - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 09/02/12


Depois de ter uma conversa dura, ontem, com a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), por causa da nomeação de um diretor do Banco do Brasil, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), suspendeu a votação do fundo de previdência complementar do funcionalismo. O cargo foi para o PT paulista. No Planalto, diz-se que a culpa da crise é dos petistas e que Maia "surtou".

General GDias saiu tosquiado
Na cúpula do Exército, é grande o desconforto com as imagens do comandante da 6a- Região Militar, general Gonçalves Dias, confraternizando com policiais militares em greve na Bahia. Viram na sua atitude um estímulo à quebra da hierarquia. O comandante militar do Nordeste, general Sampaio Benzi, viajou para Salvador. No Planalto, Dias está sendo chamado de "ingênuo" por ter aceitado um bolo de aniversário de policiais militares que invadiram a Assembleia Legislativa. O seu gesto emitiu sinal contrário aos discursos duros contra os grevistas do governador Jaques Wagner (BA) e do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça).

"Nós temos que pensar mais no Estado. O Brasil é bem maior do que um debate entre dois governos” — Pedro Taques, senador (PDT-MT), em relação ao debate PT x PSDB sobre a privatização dos aeroportos

BANHO DE ÁGUA FRIA. O PSDB não gostou nada do vídeo gravado ontem pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a privatização dos aeroportos. Contrariando o discurso do partido, que bate na tecla do "estelionato eleitoral" do PT, FH afirmou que essa não é uma questão ideológica e que depende das circunstâncias. Para os tucanos, ele preferiu preservar sua relação pessoal com a presidente Dilma em vez de fazer oposição, como cobra do senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Santo de casa
Presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) sofre grande pressão para chegar a um acordo que encerre a greve da PM na Bahia. Com malas prontas para o carnaval de Salvador, sua filha liga sem parar.

Na garganta
O presidente do PDT, Carlos Lupi, está possesso com o deputado Brizola Neto (PDT-RJ). Tudo por causa de sua nota contra a volta de Lupi ao comando do partido. Os simpatizantes de Brizola, candidato a um ministério, lamentam pela nota.

Casa da Moeda: o vespeiro
O PT escapou por pouco do escândalo na Casa da Moeda, envolvendo o ex-presidente Luiz Felipe Denucci. Ocorre que, em passado recente, os petistas pressionavam, via Anvisa, pela criação de um selo nacional para os medicamentos. O selo seria produzido pela Casa da Moeda. As mudanças ocorridas na agência, em virtude da posse da presidente Dilma, fizeram os petistas arquivar a ideia de produzir esse selo.

Endurecer
O secretário de Segurança do Rio, José Beltrame, vai hoje ao presidente do Senado, José Sarney, propor que o Código Penal adote a criminalização do jogo do bicho e da formação de milícias, e o tratamento compulsório do dependente químico.

Reação
O governador Renato Casagrande reage à crítica de um ministro do governo sobre o ICMS diferenciado do Espírito Santo: "Ele não conhece História. O incentivo existe para compensar o fim dos estímulos à cafeicultura. A União arrecada R$ 10 bi em tributos aqui."

A PRESIDENTE Dilma está convocando para a próxima terça-feira a primeira reunião do Conselho Político do governo. Na pauta, as votações no Congresso até as eleições municipais.

O SENADOR Eduardo Braga (PMDB-AM) pediu socorro ontem ao governo federal. Acabam de chegar a Tabatinga, fronteira com a Colômbia, 400 haitianos.

O VICE-PRESIDENTE Michel Temer obteve ontem apoio do presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), à proposta de promover um plebiscito sobre reforma política. A intenção é fazê-lo em 2013.

Quanto falta para o colapso? - FERNANDO REINACH


O Estado de S.Paulo - 09/02/12


Sistemas vivos passam por transições abruptas. A morte é a mais conhecida. Em um momento estamos vivos, no seguinte, mortos. Mas existem inúmeros exemplos de pontos de transição abruptos. Qual o momento em que a devastação de uma floresta a condena ao desaparecimento? Qual o número mínimo de baleias necessário para a sobrevivência da espécie? Determinar o ponto exato em que essas transições ocorrem e quão longe estamos delas é um problema ainda não resolvido.

Isso é difícil de fazer porque todos os sistemas vivos possuem mecanismos de autorregulação. Imagine que um animal coma cada vez menos; intuitivamente, sabemos que chega um momento em que ele morre. Mas determinar esse momento é difícil porque, à medida que ele come menos, ele também se movimenta menos, diminui seu metabolismo e passa a necessitar de menos alimento. Processos semelhantes tornam difícil prever o tamanho mínimo de uma população de baleias ou o abuso que uma floresta aguenta antes de desaparecer.

Por volta de 1980, foi proposta uma teoria que permite medir a distância entre o estado presente e o ponto de colapso de um sistema biológico. A ideia é que o tempo que um sistema vivo leva para se recuperar de um trauma aumenta à medida que o sistema se aproxima do ponto de colapso. Se você abre uma clareira em uma floresta virgem, ela se fecha rapidamente. À medida que a floresta se aproxima do ponto de colapso, a teoria prevê que o tempo necessário para a clareira fechar aumenta. Você tira o alimento de um animal. Se ele estiver saudável, ao ser alimentado, a recuperação é rápida. Mas, se ele estiver se aproximando do ponto de colapso, o tempo de recuperação aumenta. O mesmo princípio se aplicaria a uma população de baleias ou a um paciente na UTI.

Na prática. O problema é que essa teoria nunca havia sido testada. Agora, um grupo de cientistas demonstrou que ela funciona na prática.

O experimento foi feito com microalgas. Esses seres unicelulares necessitam de luz para fazer fotossíntese e produzir seu alimento, mas luz em excesso os mata. Para evitar o excesso de luz, eles crescem todos juntos - assim, um faz sombra para o outro. Regulando a distância entre eles (sua densidade no oceano), regula-se a quantidade de luz que recebem. Os cientistas colocaram essas algas em um recipiente de vidro em condições ideais: muitas algas por litro e uma quantidade de luz fixa.

Estabelecida a condição ótima, os cientistas adicionaram mais líquido ao recipiente, mantendo a mesma quantidade de luz incidente. Inicialmente, as algas, com menos vizinhos para diminuir a incidência de luz, diminuem sua taxa de crescimento, mas rapidamente se dividem de modo a otimizar novamente o sombreamento.

Os cientistas mediram o tempo que o sistema leva para se recuperar. Mas, antes que ele estivesse totalmente recuperado, adicionaram mais líquido, forçando as algas a se adaptar ao novo ambiente. As algas novamente se recuperaram. Ao longo de 30 dias, os cientistas foram aumentando o estresse e a cada vez as algas se recuperavam.

Mas o tempo de recuperação foi ficando mais longo. Até um momento em que eles adicionaram um pouco mais de líquido e o sistema colapsou: todas as algas morreram. Haviam atingido o ponto de transição abrupta.

Após medir a velocidade de recuperação em função do estresse aplicado no sistema, os cientistas demonstraram que é possível prever quão distante o sistema está do colapso medindo seu tempo de recuperação. Estes resultados demonstram que a teoria proposta em 1980 é verdadeira.

Nos próximos anos, é provável que diversos grupos, usando diversos sistemas biológicos, tentem demonstrar que medir a variação do tempo de recuperação permite prever quão distante um sistema vivo está do colapso. Se essa teoria for confirmada, teremos uma arma poderosa. Estudos de impacto ambiental finalmente terão um embasamento científico mais sólido e programas de recuperação ambiental poderão ter seus resultados medidos de forma objetiva.

Os diferentes são todos doentes? - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 09/09/12


Perdoamos facilmente, mas não é por misericórdia, é porque desculpamos os "doentes". É um progresso?


Aconteceu no mesmo dia. Primeiro, houve uma mãe falando da homossexualidade do filho, que ela, em tese, acabava de descobrir: "É uma doença, não é?", perguntou. Ela queria encontrar, na minha confirmação, uma razão de perdoar o filho por ele ser como é.

Mais tarde, alguém, falando de um parente próximo que é toxicômano, afirmou mais do que perguntou: "Ele é doente" -no tom de quem procura uma confirmação que permita perdoar o inelutável.

Nos dois casos, respondi com cautela, mais ou menos desta forma: "Certo, deve haver razões para ele ser assim, mas ele não é doente como alguém que pega um vírus ou uma bactéria, nem como alguém que seja invadido por um câncer".

A observação convidava meus interlocutores a questionar o que eles entendiam por "doente".

A mãe do primeiro exemplo acrescentou que, de fato, não devia se tratar tanto de uma doença quanto de uma disposição genética.

Meu segundo interlocutor poderia ter dito a mesma coisa. Afinal, logo na sexta passada, a revista "Science" publicou uma pesquisa de Karen Ersche, da Universidade de Cambridge (Reino Unido), defendendo a tese de que existe uma predisposição genética à toxicomania (veja-se o caderno "Saúde" da Folha de 3 de fevereiro e o texto original por www.migre.me/7OLiy -de fato, sem entrar em detalhes, a pesquisa de Ersche mostra que deve haver uma predisposição genética à toxicomania, embora essa predisposição não sele o destino de ninguém).

Desde quinta-feira passada, também recebi vários comentários à minha última coluna: muitos diziam que, claro, "cross-dressers", travestis e transexuais devem ser tratados com respeito por uma razão simples: "eles são doentes".

Parece que a possibilidade de respeitar a diferença passa pelo reconhecimento de que essa diferença constitui uma patologia ou uma espécie de malformação congênita (no fundo, a exceção genética é isso).

Alguns perguntarão: "não é melhor assim?". Sem essa "injeção" de patologia (ou de teratologia), os diferentes seriam apenas julgados em nome de um moralismo qualquer: os drogados seriam vagabundos, os homossexuais, sem-vergonhas, e, quanto aos "cross-dressers" e etc., nem se fala.

Em outras palavras, a substituição da moral tradicional ou religiosa pela medicina, em geral, produz uma nova tolerância das diferenças: elas não são punidas, são diagnosticadas.

Mais um exemplo. Obviamente, para nossa proteção, não deixamos de prender os criminosos, mas já "sabemos" que muitos deles não são "ruins", eles só têm um problema de córtex pré-frontal -por causa dessa malformação, continuam impulsivos que nem adolescentes.

O neurocientista David Eagleman ("Incógnito", ed. Rocco) chegou a propor que a gente treine nossos criminosos de modo que eles gozem de uma "normalidade" cerebral parecida com a da gente. Aí, sim, poderíamos condená-los com toda justiça. Sem isso, puniríamos "doentes", não é?

Perdoamos facilmente, mas não é por misericórdia ou compreensão, é porque respeitamos e desculpamos doentes e vítimas de anomalias genéticas. É um progresso?

Acima de seu sistema jurídico, cada sociedade produz e alimenta um sistema de crenças, regras e expectativas que facilita a coexistência mais ou menos harmoniosa de seus cidadãos.

Para essa função, a modernidade escolheu a medicina (do corpo e das almas). Com isso, o controle sobre nossas vidas seria aparentemente mais suave, mais "liberal". Mas é só uma aparência.

Pense bem. Certo, se toda exceção ou anormalidade for doença ou malformação, os diferentes não serão propriamente punidos. No entanto, a sociedade esperará que eles sejam "curados".

Outro "problema": se os desvios da norma forem tolerados por serem efeitos de doença ou malformação, o que aconteceria com quem pratica desvios, mas não apresenta as "malformações" que o desculpariam?

O que acontece se eu quero me drogar, ser "cross-dresser" ou, mais geralmente, infrator só porque estou a fim de uma "farra" e sem poder alegar nenhuma das predisposições genéticas para essas "condições"? Aí vai ser o quê? Voltamos às punições corporais?

Em suma, gostaria que fosse possível ser anormal sem ser "doente". E, se fosse o caso, me sentiria mais livre sendo punido do que sendo "curado".

"C'est ça" - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP - 09/02/12

BRASÍLIA - Depois de tantas idas e vindas, o governo está finalmente para bater o martelo a favor dos caças Rafale, da Dassault francesa, para renovar a frota da FAB. O anúncio deve ser ainda no primeiro semestre, mas só depois de 6 de maio, data do segundo turno da eleição presidencial na França.
O empurrão final foi a decisão da Índia de comprar 126 Rafale, tirando a Dassault do sufoco. É a primeira encomenda internacional do seu jato, restrito até hoje à própria Força Aérea francesa. Com escala de produção, o preço dos aviões tende a cair também no negócio com o Brasil, esvaziando uma das maiores restrições a eles: o custo do produto e, sobretudo, da manutenção.
Em seguida ao anúncio do negócio dos franceses com os indianos, Celso Amorim (Defesa) foi coincidentemente à Índia, citando em nota a vitória da Dassault e destacando que 108 dos 126 caças "serão construídos no próprio país [a Índia], com transferência tecnológica". A expressão "transferência tecnológica" é um mantra do arrastado programa FX-2, de compra dos aviões.
Lula esteve com a caneta na mão duas vezes para assinar o contrato com os franceses. Na primeira, recuou depois do vexame de anunciar a opção antes de concluído o relatório técnico da FAB. Na segunda, quando a Folha divulgou o resultado desse relatório, com o Gripen sueco em primeiro lugar, o F-18 dos EUA em segundo e o Rafale em terceiro e último.
Ao assumir, Dilma usou o bom argumento do corte de Orçamento para estudar o negócio. A vitória do Gripen na FAB passou a ser considerada e o F-18 voltou à roda. Mas, durante um ano, cristalizaram-se duas certezas no governo: 1) o Gripen é só um projeto e a Suécia tem peso político zero; 2) é impossível confiar na promessa de transferência de tecnologia dos EUA, sujeita aos humores do Congresso e à alternância de poder.
Tudo indica que os Rafale vêm aí.

Yoani Sánchez, a direita e a esquerda - EUGÊNIO BUCCI


O Estado de S.Paulo - 09/02/12


A blogueira cubana Yoani Sánchez (http://www.desdecuba.com/generaciony/), também colunista do Estado, virou uma celebridade mundial. A imagem da dissidente que jamais conseguiu autorização de seu governo para sair do país, nem mesmo uma viagem de poucos dias, virou um símbolo eloquente do limite estreito, muito estreito, que confina as liberdades individuais em Cuba. Nessa condição, ela é manchete permanente.

Como se sabe, todas as manchetes servem a interesses e Yoani Sánchez também serve, mesmo que involuntariamente. Ela tremula como um estandarte nas mãos dos opositores do regime dos irmãos Castro, principalmente dos opositores de direita - pois é também possível uma oposição à esquerda, como logo veremos.

Com frequência os relatos sobre as desventuras da blogueira vêm junto com um discurso que procura caracterizar a ditadura cubana como a tragédia inevitável, fatal, de qualquer sonho socialista. Esse discurso se vale de Yoani para mentir, o que é bem fácil constatar. Todas as mudanças sociais vieram embaladas por ideais de igualdade, como a Revolução Francesa, ou de igualdade de oportunidades, como a Revolução Americana. Mesmo agora, a partir do final da 2.ª Guerra, inúmeros governos declaradamente socialistas se sucederam na Europa, em perfeita convivência com a sociedade de mercado, sem que isso acarretasse uma degeneração de corte totalitário. Tanto é assim que, no mundo contemporâneo, o ideário socialista de perfil não autoritário foi acolhido como proposta legítima e até mesmo necessária à normalidade democrática.

Portanto, é falso o discurso direitista que atribui os padecimentos (reais) do povo cubano ao DNA de qualquer projeto de sociedade sem pobreza. A construção da tirania em Cuba não tem origem na rebeldia dos que se insurgiram contra a ditadura de Fulgêncio Batista, mas na conformação do Estado aos moldes ditados pela União Soviética.

Fora isso, o autoritarismo em Cuba tem sua origem na esquerda, sem dúvida, mas, em matéria de autoritarismo, a direita delinquiu muito mais em outros países. Avesso a essa ululante evidência, o discurso direitista instrumentaliza a figura de Yoani Sánchez para alardear que toda plataforma socialista está fadada ao totalitarismo e à escassez - e que só há liberdade num ambiente baseado mais no mercado do que na justiça social, mais na ostentação do que na dignidade humana.

Oportunista, esse discurso nunca menciona o bloqueio que os Estados Unidos impuseram à ilha há exatos 50 anos (ele teve início no dia 5 de fevereiro de 1962). A própria Yoani, é interessante notar, não vai por aí. Em mais de uma ocasião ela pediu em seu blog a suspensão desse embargo "absurdo". Ao mesmo tempo, ela cuida de alertar para algo que é profundamente verdadeiro: o bloqueio pune o povo, é verdade, mas, perversamente, convém aos irmãos Castro, que se valem dele para culpar os Estados Unidos por tudo o que acontece de ruim. Tanto que, para ela, fim do embargo seria "o golpe definitivo contra o autoritarismo sob o qual vivemos".

Há poucos dias, uma vez mais, Yoani teve negado o seu pedido para viajar para o Brasil (pela 19.ª vez, segundo sua contagem). De novo, foi notícia. Ela queria vir ao lançamento do documentário Conexão Cuba-Honduras, de Dado Galvão, em que aparece como entrevistada. Sem a presença de sua convidada mais ilustre, o lançamento foi adiado.

Enquanto isso, a injustiça prolonga-se em Havana. Muitos, hoje, no Brasil e em Cuba, apoiam a ditadura cubana. Até mesmo no caso de Yoani, a quem acusam de ser remunerada por organizações de direita e de ganhar de presente recursos avançadíssimos de tecnologia digital para fazer contrapropaganda. Logo, não movem uma palha pelos direitos dela.

O curioso é que, mesmo se fossem verdadeiras, as acusações não poderiam justificar o arbítrio. O direito de ir e vir é um direito fundamental da pessoa humana, e não apenas de quem concorda com o governo. Em qualquer democracia os direitos fundamentais de um cidadão não estão condicionados às opiniões dele. Em Cuba, porém, é assim que funciona. E ainda há os que, em nome dos ideais de esquerda, batem palmas para a opressão, dizendo que na ilha não há fome, não há morador de rua, todos têm escolas e hospitais à vontade, e que, diante disso, a falta de liberdade é um reles detalhe. Outra vez: mesmo se aceitarmos como verdadeira essa afirmação - e não há comprovações empíricas de que ela seja realmente verdadeira -, mesmo assim ela não tem validade política, pois o suposto atendimento das necessidades materiais não compensa a falta de liberdade. Aliás, lá mesmo, em Cuba, na prisão americana de Guantánamo, os prisioneiros fazem suas refeições diariamente, entre uma tortura e outra, além de contarem com médicos e dentistas de plantão. Isso não significa que vivam "numa sociedade justa". Eles vivem encarcerados, isso sim. Comida, cama, escola e hospital não são suficientes para que se tenha justiça social, paz e democracia. E sem liberdade constituem a negação dos ideais de igualdade.

Por esse ângulo é que podemos entender o lugar de uma oposição de esquerda à tirania dos irmãos Castro, uma oposição que não se confunde com as causas da direita. Ela não se serve da falta de liberdade como pretexto, mas toma a liberdade como fim. Para ela, a livre comunicação das ideias, "um dos mais preciosos direitos do homem", segundo a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, não é meramente um capricho liberal, mas uma conquista de toda a humanidade, na exata medida em que os direitos sociais não beneficiam apenas um ou outro sindicato, mas toda a sociedade. Ao romperem com a democracia, os ditadores em Cuba traíram o sonho que um dia representaram. Por isso também os opositores de esquerda defendem os direitos de Yoani Sánchez.

O QUE É QUE A BAHIA TEM - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 09/02/12



Fátima Mendonça, mulher do governador da Bahia, Jaques Wagner, dizia ontem que as ruas de Salvador estavam tranquilas. Mas a cantora Claudia Leitte preferia ficar em sua casa. As duas falaram à coluna.

CONTINUA A VIDA, MAS 'A COISA TÁ BARRA'

A primeira-dama da Bahia diz que as pessoas continuam trabalhando normalmente em Salvador e que a negociação com os grevistas da Polícia Militar, até ontem, era pacífica. O casal mantém a programação da folia na cidade e pretende passar parte dela também no Rio.

Folha - Oi, Fátima.
Fátima Mendonça - Diga, minha nêga.

Podemos ir para o Carnaval de Salvador ou não?
Estamos negociando. Isso é coisa de greve, mesmo, de polícia, né? Confusão. Mas continua a vida, as pessoas normais, trabalhando.

Os turistas podem chegar aí tranquilos?
Não existe nenhuma possibilidade [de a festa não ocorrer normalmente]. Existe tranquilidade nas ruas. Não tem essa pressão, não tem nada disso. O que tem é uma manifestação em que eles [grevistas] ocuparam a Assembleia Legislativa e aqueles policiais que estão realmente querendo... O governador Jaques [Wagner] já deu várias coisas [na negociação salarial]. Agora, o que eles querem é não ser presos. Isso não é da alçada nossa. Isso é mais com a Justiça. Mas a negociação é pacífica, está sendo sempre pacífica.

Há notícias de 120 mortos.
É. Mas tá tranquilo, o Carnaval continua. Moraes Moreira fez um show maravilhoso [no sábado], não teve problema nenhum.

Mas esse aumento de crimes, assassinatos...
As pessoas se aproveitam nos lugares mais... Em Salvador, a gente tem sofrido muito por conta da própria prefeitura. Mas olhe só, te dou uma notícia melhor mais tarde. Tá tendo uma reunião agora. Tomara em Deus que acabe isso logo hoje.

Você e o governador mantêm a programação de Carnaval? Vão visitar blocos, camarotes?
Vamos passar em tudo. A gente nunca fica o Carnaval todo aqui, sempre só até o sábado. Porque ninguém aguenta. Todo mundo pode curtir, mas a gente, que é visado, não dá, né? No domingo, estamos pensando em ir ao desfile da Portela, no Rio, que vai homenagear a Bahia, e ver também a Imperatriz, que homenageia o Jorge Amado. Agora, barra pesada aqui, viu, a coisa tá barra pesada. Estresse, muita tensão. A gente precisa resolver porque tem que cuidar da população, né?

CLAUDIA LEITTE

'PENSEI EM CANCELAR O CARNAVAL'

Grávida, Claudia Leitte tem adiado compromissos desde que a greve da PM foi deflagrada. Por e-mail, disse esperar que "os policiais tenham salário digno" e que as autoridades do Estado garantam o direito de "ir e vir".

Folha - Está preocupada?
Claudia Leitte - Eu me preocupei muito. Pensei até que o melhor seria cancelarmos a festa, mas estou vendo progresso nas negociações. Sou uma cidadã, pago meus impostos em dia e espero em Deus que os policiais tenham o salário digno que merecem, que as autoridades tomem as providências cabíveis e que nosso direito de ir e vir nunca mais seja comprometido.

Como está a rotina?
Viajei na quinta pra fazer shows. Acompanho tudo o que vem acontecendo minuciosamente. Voltei no domingo e desde então estou em casa. As aulas de Davi [seu filho de três anos] foram suspensas, meu escritório também não está funcionando normalmente, minha coletiva de imprensa e um show que faria pra uma rádio local foram adiados. O máximo que fiz fora de casa foi uma consulta médica. Ademais, tenho ensaiado em meu estúdio e reuniões, tudo em casa.

Já está pensando em nomes para o novo filho?
Quando soubermos o sexo e pararmos de trabalhar, logo após o Carnaval, faremos uma listinha. Davi falava em menina, mas agora tem certeza que será um irmãozinho e danou-se a chamá-lo de Ben, por causa do Ben 10. Rs.

O que mudou na gravidez?
Estou comendo um pouco mais e sei que minha personal mudou minhas séries [de exercícios]. Há todo um cuidado para, sobretudo, evitar excessos. A palavra de ordem é moderação, mas o ócio também é proibido.

Você tem usado roupas com estampas de desenhos animados.
Tudo foi coincidência. Renato Thomaz, que cuida do meu figurino, não sabia da minha gravidez. Ele trouxe as peças e eu me apaixonei. Todo mundo está preparado para qualquer eventual ajuste, pois o corpo muda a cada semana, mas os croquis continuam iguais, bem como o repertório. Meus exames estão perfeitos. Minha primeira gestação foi tranquila, fiquei muito ativa e me sinto exatamente igual agora. Tudo igual, mas eu sinto que vou estar muito mais feliz! Rs.

REIS, RATOS E GATOS
O filme "Reis e Ratos" teve pré-estreia paulistana, anteontem, no Cinemark Iguatemi. Os atores do longa Rodrigo Santoro, Cauã Reymond e Selton Mello compareceram. O ex-jogador Ronaldo e a mulher, Bia Antony, também estiveram lá.

CAIXA
Apesar da apreensão dos patrocinadores do Carnaval de Salvador, relatada aos organizadores da folia baiana, a arrecadação deste ano pela prefeitura deve bater na casa dos R$ 16 milhões. O valor é parecido com o do ano passado (R$ 15,5 milhões), mas quase o dobro do alcançado em 2008 (R$ 8 milhões).

PALCO ARMADO
Anteontem, com a PM ainda em greve, os organizadores da folia baiana autorizaram a abertura das vendas dos 3.000 lugares nas arquibancadas do circuito oficial por onde passam os trios elétricos. A comercialização estava suspensa. Os ingressos custam até R$ 40.

FREIO
Com 2 milhões de foliões nas ruas -cerca de 600 mil deles, turistas de outras partes do Brasil e do mundo -, a previsão das autoridades antes das complicações com a polícia era de que o Carnaval movimentaria até R$ 1 bilhão. Houve cancelamento de voos e pacotes depois do estouro da confusão.

TENDÃO
Caetano Veloso está com tendinite. "É de tocar violão", diz Paula Lavigne, sua ex-mulher.

CALDEIRÃO BAIANO
Paula, que teve uma corrente de ouro roubada no Pelourinho há dias em Salvador, disse que não deu queixa porque alguns policiais viram. "Outro dia uma pessoa foi esfaqueada num lugar onde eu e Caetano costumávamos pedalar. É triste."

MENINOS, EU VI
O técnico Luiz Felipe Scolari, do Palmeiras, fala hoje a 30 prefeitos de SP que querem abrigar seleções na Copa de 2014. Foi convidado pelo governador Geraldo Alckmin para um café da manhã com eles, no Palácio dos Bandeirantes, em SP.

DINHEIRO NA MÃO
E o governo de SP anuncia hoje duas modalidades de financiamento para as cidades que abriguem seleções. Uma permitirá que prefeituras e agentes privados peguem recursos para obras com juros de 7%. A outra, restrita aos entes públicos, financiará projetos de até R$ 2 milhões.

CURTO-CIRCUITO

Alexandre Birman faz pré-lançamento da coleção de inverno da Schutz, na loja da Oscar Freire.

Walter Carvalho dirigiu o DVD "Alma Lírica Brasileira", de Monica Salmaso, na semana passada, em SP.

A peça "Hécuba" tem hoje sessão gratuita para atores e alunos de artes cênicas, no teatro Vivo. 12 anos.

Zizi Possi canta nos dias 25 e 26 no teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros. Classificação: dez anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

Carnaval! Devolve a Jennifer Lopez! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 09/02/12


E ontem peguei um engarrafamento de três meses: da 25 de março até 23 de maio! Rarará!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
E esse calor? Bafo dos infernos! Os gaúchos já estão chamando Porto Alegre de FORNO ALEGRE! Test-drive pro inferno!
E essa piada pronta: "Rubinho promete ser rápido na decisão da ida pra Indy". E a Fórmula Indy é o sonho de todo paulista: correr na Marginal. Porque paulista usa quatro marchas: parado, paralisado, ponto morto e puto da vida!
E em São Paulo chove tanto que um amigo foi transar com a namorada e ela tava mofada. Rarará! E ontem peguei um engarrafamento de três meses: da 25 de março até a 23 de maio! Rarará!
E socuerro! A PM continua de TPM! Querem acabar com o Carnaval no Brasil. E se fizerem greve no Rio? Devolve a Jennifer Lopez! Ela vai "sapucar" em Miami. Volta pra Miami, oferenda! Rarará! E o meu slogan pro Carnaval na Bahia: "Viva a Pipoca! Abaixo o Pipoco!". E eu já sei quem é que eu vou mandar pra negociar com a PM: a Rita Lee! Rarará!
E essa: "Embaixada dos Estados Unidos pede que americanos evitem a Bahia". Então, vamos revidar: Embaixada da Bahia pede que baianos evitem Miami!
E adorei a charge do Pater com o soldado do exército: "General, minha esposa não acredita que fomos designados para passar o Carnaval na Bahia a serviço". Rarará!
E PM que atira em pneu de ônibus e fica gritando " ÔÔÔ! O Carnaval acabô!" não é grevista nem PM e nem baiano, é outra coisa!
E atenção! Mais uma participante pro meu surreality show só de travecas: "Mulheres Picas". É uma traveca que faz homenagem a Narcisa: NARBIBA! Ai que loucura! Adoro um badalo. Rarará. É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse o outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Carnaval! Começou a Grande Festa da Esculhambação Nacional. OBA! Blocos de 2011! Direto do Recife: "Já Que Tá Dentro, Deixa!". Isso! Deixa! É Carnaval!
E no Rio de Janeiro tem um bloco só de corretores: "Os Imóveis". Rarará! E mais um direto do Rio: "Perereca Sem Freio". Oba! Já imaginou na ladeira? Na ladeira e na banguela! Já imaginou na Marginal? "Perereca Sem Freio" provoca engavetamento! Rarará. Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Na linha do risco - JANIO DE FREITAS


FOLHA DE SP - 09/02/12
Nem com a maior capitulação haveria justificativa aos PMs pais que usaram crianças como escudos em Salvador

O pior crime, por muitos pontos de vista, dos amotinados em Salvador perdeu suas características, e as atenções, dado o contraste entre a condição indefesa e forçada de suas vítimas e as violências muito mais exibidas pelo motim. O contraste nada muda de fato, porém.
Na reunião fechada de ontem de manhã com o arcebispo Murilo Krieger e outros, os PMs deixaram claro que sua exigência irredutível passa a ser, à margem das várias postas na mesa, a anistia para os 12 amotinados já presos e para os que venham a sê-lo. Não convém duvidar de que o governador Jaques Wagner se achegue, no final, à possibilidade da anistia -afinal uma- ampla, geral e irrestrita.
Nem com a maior capitulação haveria justificativa possível para os PMs pais que usaram ou ainda usam crianças como escudos, expondo-as a consequências gravíssimas. Foi isso mesmo que PMs amotinados fizeram com seus filhos, ao levá-los para invadir a Assembleia Legislativa e ali mantê-los na ocupação. Em meio a homens exasperados. E armados. E desde logo cientes de que outros homens armados viriam reprimi-los.
Até o momento em que escrevo, sete crianças foram retiradas da sua condição de escudos por ordem judicial. Como não há certeza sobre o número de soldados, mulheres -mães ou não- e crianças na invasão, é incerto que não haja outras crianças entre os amotinados.
Para a forma de abuso covarde feito pelos PMs pais, contra a ingenuidade infantil dos próprios filhos e com tantos riscos implícitos, o Estatuo da Criança e do Adolescente é pouco. Anistia seria ou será ato equiparado à atitude anistiada, se for concedida no acordo buscado pelo governo ou passado um tempinho conveniente, mas já previsto.

A era do oportunismo - JOSÉ SERRA


O Estado de S.Paulo - 09/02/12


As últimas semanas trazem acontecimentos reveladores de um aspecto peculiar da "luta política" no Brasil, como a entendem o PT e o governo que ele lidera. Poderia ser resumido em dois conceitos: o relativismo como ideologia e a tática de recolher dividendos políticos sem se envolver diretamente, tirando, como se diz, a castanha do fogo com a mão do gato.

A moral da fábula do macaco esperto, que, faminto, mandava o bichano recolher as castanhas das brasas esteve visível nos sucessivos movimentos na USP. A chamada extrema esquerda desencadeou ações violentas e o petismo saiu a criticar a "falta de diálogo" e a "falta de democracia" que supostamente estariam na raiz dos distúrbios.

De olho no voto moderado, o PT não quer para si os ônus do radicalismo ultraminoritário, mas pretende sempre recolher os bônus de se apresentar como a solução ideal para evitar essa modalidade de movimento político. Como se, em algum lugar do mundo ou momento da História, o extremismo, de direita ou de esquerda, tivesse sido contido apenas com diálogo e negociação. É um discurso conveniente, pois se apresenta como alternativa "racional" de poder. Uma vez lá, os tais movimentos serão cooptados na base da fisiologia e, se necessário, da repressão. Os críticos exigirão "coerência" e o partido fará ouvidos moucos.

Mas a vida é mais complicada do que esses esquemas espertos. À medida que vai acumulando força, o PT precisa lidar com desafios concretos e, aí, surge a utilidade do relativismo. Querem um exemplo? Quando um governante adversário cuida de garantir o cumprimento da lei e manter a ordem pública, o aparato de comunicação sustentado com verbas públicas sai a campo para denunciá-lo, atacá-lo, desgastá-lo a qualquer custo. Quando, porém, esse governante é do PT ou aliado próximo, a posição se inverte.

Se o adversário cumpre a lei, é acusado de "criminalizar os movimentos sociais"; quando um deles cumpre a mesma lei, então são eles a criminalizar. Assim, os PMs em greve na Bahia governada pelo PT são chamados de "bandidos". Cadê o exercício do entendimento, a tolerância? Em São Paulo, em 2008, o PT ajudou na organização de uma marcha de policiais civis grevistas rumo ao Palácio dos Bandeirantes - marcha que, felizmente, não atingiu os objetivos sangrentos almejados.

Em Estados governados pelo petismo e aliados, são rotineiras as reintegrações de posse, mas quando precisam ser feitas em São Paulo, por exemplo, a mando da Justiça e sempre sob sua supervisão, o PT - e eis de novo a história das castanhas - cavalga o extremismo alheio para denunciar inexistentes violações sistemáticas dos direitos humanos. Nunca ofereceu uma possível solução ao problema social específico, mas se apresenta incontinenti quando sente a possibilidade de sangue humano ser vertido e transformado em ativo político.

Vivemos uma era em que o oportunismo político do PT acabou ganhando o status de virtude. Perde-se qualquer referência universal ou moral de certo e errado e essa separação é substituída por outra. Se é o partido que faz, tudo será sempre correto - os fins justificam os meios, seja lá quais forem esses fins. Se é o adversário, tudo estará sempre errado, pois suas intenções sempre seriam viciosas. A política torna-se definitivamente amoral.

É uma lógica que acaba derivando para o cômico em algumas situações. No atual governo, os ministros foram divididos em duas classes. Alguns são blindados, podem dar de ombros quando são alvo de acusações; outros são lançados ao mar sem muita cerimônia. Quando é do PT, especialmente se for do grupo próximo, a proteção é altíssima. Mas se tiver a sorte menor de ser apenas um "aliado" - conceito que embute a possibilidade de se tornar futuramente um adversário -, logo aparecem os vazamentos dando conta de que "o Palácio" mandou o infeliz se explicar no Congresso, a senha para informar aos leões que há carne fresca na arena.

Essa amoralidade essencial se estende às políticas públicas. Em 2007, quando governador de São Paulo, aflito com o congestionamento aeroportuário, propus ao presidente Lula e sua equipe a concessão à iniciativa privada de Viracopos, cujo potencial de expansão é imenso. Nada aconteceu. Na campanha eleitoral de 2010, a proposta de concessões foi satanizada. Pois o novo governo petista a adotou em seguida! Perdemos cinco anos! E a adotou privatizando também o capital estatal: o governo torna-se sócio minoritário (49% das ações) e oferece crédito subsidiado (pelos contribuintes, é lógico) do BNDES. Tudo o que era pra lá de execrado passou a ser "pragmatismo", "privatização de esquerda".

O ridículo comparece também à internet, onde a tropa de choque remunerada, direta ou indiretamente, com dinheiro público e treinada para atacar a reputação alheia desperta ou se recolhe em ordem unida, não conforme o tema, mas segundo os atores. São os indignados profissionais e seletivos. Como aquelas antigas claques de auditório, seguindo disciplinadamente as placas que alternam "aplaudir", "silenciar" e "vaiar".

Vivemos tempos complicados, um tanto obscuros, algo assim como "se Deus está morto, tudo é permitido" - e chamam de "pragmatismo" o oportunismo deslavado. A oposição, a despeito de notáveis destaques individuais, confunde-se no jogo, dado o seu modesto tamanho, mas também porque alguns são sensíveis aos eventuais salamaleques e piscadelas dos donos do poder. Um adesismo travestido de "sabedoria". A política real vai se reduzindo a expedientes necessários à manutenção do poder e à mitigação do apetite dos aliados. A conservação do statu quo supõe uma oposição não mais do que administrativa e burocrática. Parece que a nova clivagem da vida pública é esta: estar ou não na base aliada, de sorte que a política se definiria entre os que são governo e os que um dia serão.

Não sou o único que pensa assim, mas sou um deles: política também se faz com princípios, programa e coerência. E disso não se pode abrir mão, no poder ou fora dele.