sábado, julho 20, 2013

Você quer mesmo um Brasil melhor? - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

Então faça por onde: em vez de só cobrar, que tal exercer seriamente o civismo e a cidadania?


Então faça por onde – em vez de sair mascarado, quebrando e saqueando. A violência é pouco eficaz. O crime é contraproducente se o objetivo for aperfeiçoar uma democracia. Vivemos um momento histórico, inspirado por revoltas populares na Tunísia, Espanha ou nos Estados Unidos. É hora de aproveitar para o bem a energia de jovens brasileiros idealistas, que rejeitam os vícios da política tradicional e corrupta. Sejam sujeitos e não objetos. Em vez de só cobrar – e virar massa de manobra –, que tal exercer seriamente o civismo e a cidadania?

É uma vergonha o Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil. Ocupamos o 85o lugar no ranking mundial, atrás de Bósnia e Azerbaijão. Faltam médicos e professores em todo o país, não apenas nos confins do Brasil. É um absurdo querer aumentar, por lei, o número de anos de estudo de medicina. Ou exilar residentes em lugares sem condições de trabalho. A atitude desesperada do governo Dilma só expõe a metástase da Saúde. Não há ambulâncias, equipamentos ou médicos suficientes em lugar nenhum no Brasil, e isso inclui Rio de Janeiro e São Paulo.

Relanço então uma ideia que defendi há três anos em ÉPOCA: instituir o serviço civil obrigatório, que substituiria o alistamento no Exército para quem completa 18 anos. O serviço militar, com mais de um século, é um anacronismo num país sem guerra. É sexista, por contemplar apenas homens. Em vez dele, rapazes e moças dedicariam um ano de sua vida para servir à comunidade. Em meio expediente, para não atrapalhar os estudos. Funcionaria como um estágio e poderia ser pago pelo Estado com um salário mínimo. Os filhos da classe média e da elite aprenderiam mais sobre o Brasil real se fossem convocados a ensinar a crianças e adolescentes carentes português, matemática, inglês, história, informática. Design ou balé. Capoeira ou música. Gastronomia ou fotografia.

O serviço civil obrigatório seria uma oportunidade de integração, educação, disciplina. Não existe, em nosso país partido, nenhuma estratégia de entendimento real entre as classes. Não se treinam o ouvido nem a compaixão. Jovens deveriam consagrar um tempo ao bem público. Para criar bases e valores. Desperdiçamos um exército de jovens inteligentes e criativos. Há os que sonham em sair do Brasil sem chegar a entender o país em que nasceram. Nem aprendem a dar bom-dia ou a agradecer por um serviço prestado.

Na Suíça ou na Alemanha, é possível escolher o serviço civil em vez do militar. No Brasil, a Constituição de 1988 também contempla a objeção de consciência, que isenta o cidadão do serviço militar se contrariar suas crenças filosóficas, religiosas ou políticas. Mas não existe um serviço alternativo formalizado. Várias escolas estimulam a consciência social, mas iniciativas isoladas não bastam. Deveríamos preparar jovens para servir a pátria como cidadãos.

Para quem tem filosofia pacifista como eu, o serviço militar é uma agressão. A alternativa não passa pela violência. Ser empreendedor, ser voluntário, ir para a política são, todas elas, formas mais eficazes de mudança. Um estudante de Direito poderia, no primeiro ano da faculdade, dedicar seis horas diárias a atender pequenas causas em favela. Um estudante de contabilidade montaria pequenos negócios para famílias pobres e empreendedoras. Um estudante de letras incentivaria adolescentes a ler e escrever contos ou poesias. Outro ensinaria a ser inventivo no computador, a tocar piano ou a falar inglês. São tantos dons aprendidos na universidade, financiados pelos pais ou com nossos impostos. Por que não retribuir?

Isso nada tem a ver com filantropia ou caridade. “O serviço civil alternativo seria um rito de passagem do jovem para a idade adulta”, diz o empreendedor social Rodrigo Baggio, fundador do Comitê para Democratização da Informática. Baggio encara o serviço civil como “um aprendizado cívico, uma experiência que ajuda o jovem a escolher sua própria profissão e seu futuro”. “Valoriza o currículo”, diz ele. “O jovem que já foi voluntário é hoje mais solicitado no mercado.” O serviço civil ainda gera um pacto social mais eficaz. Deveria, segundo Baggio, haver uma parceria entre governo, sociedade civil, ONGs e empresas, com o apoio do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Uma comissão destinaria o jovem a certo trabalho, a partir de uma capacitação básica em direitos humanos, cidadania e empreendedorismo.

O serviço militar prepara para a guerra. E se preparássemos os jovens para a paz? Há no Brasil 31 milhões de jovens de 18 a 26 anos, segundo o IBGE. Pouquíssimos se alistam nas Forças Armadas. Dá para entender também o desinteresse pelo voto e pela política partidária. Torço por uma mudança de fundo, sem confete e sem violência. Uma Jornada Nacional da Juventude. Que se engaje de verdade, sem ódio e sem sangue nos olhos, num futuro melhor para este Brasil desigual, ineficiente e entregue a políticos sem o menor apreço pelo interesse público.


Falta técnico negro - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 20/07

Oswaldo de Oliveira, técnico do Botafogo, chamou atenção ontem no Rio para a ausência de colegas negros. Foi durante um curso de formação de treinadores, patrocinado pela ABTF:
— Pela quantidade de jogadores negros que são formados todos os anos, já deveríamos ter mais treinadores negros. Mas, hoje, o número é ínfimo.

Segue...
Veja só. Dos 20 treinadores de times da primeira divisão do Campeonato Brasileiro, só um, Cristóvão Borges, do Bahia, é negro. Cartas para a Redação.

Pensão alimentícia
A 4ª Câmara Cível do Rio negou liminar a Romário para reduzir a pensão dos filhos Mônica e Romarinho, do seu casamento com Mônica Santoro. O deputado queria diminuir de R$ 32.544 para R$ 5 mil. Mas vai ter que esperar uma audiência em agosto para tentar um acordo.

Pimenta x Pimentel
O ex-deputado Pimenta da Veiga admite, em conversas com amigos, ser o candidato tucano ao governo de Minas em 2014.
Se isto ocorrer, será uma disputa apimentada. O candidato do PT deve ser o ministro Fernando Pimentel.

Deus castiga
Ontem, aproveitando o movimento da JMJ, a chilena-brasileira TAM cobrava R$ 2.372,94 por uma passagem Rio-São Paulo-Rio.

No mais
Lula fez bem em ir a público desmentir o boato de que o câncer na laringe teria voltado. Afinal, esta história tinha virado uma espécie de lenda urbana na internet, espaço onde a insensatez faz sua morada.

Ditadura x Taiguara
Taiguara, o cantor que fez muito sucesso nos anos 1970 com músicas como “Universo do teu corpo”, foi um dos artistas mais perseguidos durante a ditadura. No Arquivo Nacional, há registros de 143 músicas dele que foram censuradas.
Agora, ele vai ganhar um documentário.

Canções inéditas...
Dirigido por Felipe Rodrigues e Mário de Aratanha, o filme também recuperou com a família do cantor 30 canções inéditas.
Taiguara morreu aos 50 anos, em fevereiro de 1996.

‘Inferno’ faz sucesso
O livro “Inferno”, de Dan Brown, ocupa há sete semanas o topo da lista de livros mais vendidos no país, segundo o site especializado Publishnews.
A Editora Arqueiro vendeu 300 mil cópias, além de 18 mil digitais.

Sem fotos
Fiorella Mattheis, a atriz que se casa hoje com o ex-judoca Flávio Canto, em Petrópolis, RJ, mandou um recado aos convidados: é proibido tirar fotos.

Cidade das Artes
O Ministério Público do Rio propôs uma nova ação civil pública por improbidade administrativa cometida durante a construção da Cidade das Artes contra o ex-prefeito Cesar Maia e ex-integrantes da prefeitura.
Cobra R$ 4,6 milhões, além de pedir a condenação dos réus. Segundo a investigação do MP, houve falta de planejamento e ilegalidade na prorrogação do prazo.

Moda praia
A Bumbum, uma das grifes de praia mais tradicionais e famosas do Brasil, de Cidinho Pereira, está atravessando um momento difícil.
Sua loja em Ipanema, em frente à Praça Nossa Senhora da Paz, vai fechar. No lugar, vai funcionar a Maria Filó.
É pena.

Fora do Rio
Houve gente que veio para a Jornada Mundial da Juventude e preferiu se hospedar, antes do evento, fora da Região Metropolitana do Rio.
A última pesquisa prévia da ABIH-RJ mostra que hotéis de Penedo, Petrópolis, Teresópolis, Paraty e Macaé estão com 100% de ocupação.
Nova Friburgo e Itatiaia têm 95% de seus quartos ocupados.

Amor aos cabelos
O tom dos cabelos da atriz Paolla Oliveira, no ar na novela “Amor à vida”, é o mais pedido no salão Ophicina do Cabelo.
Só na última semana, foram mais de 20 colorações no mesmo tom que o da atriz.

Cena carioca
A propaganda estrelada por Tony Ramos caiu na boca do povo. Ontem, na churrascaria Giuseppe Grill, no Centro do Rio, um cliente perguntou ao garçom: “Mas é Friboi?”
O atendente riu e devolveu: “É Seara.” Como se sabe, a JBS, dona da Friboi, comprou a Seara há dois meses.


Tesouro a ser prensado - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 20/07

RIO DE JANEIRO - Em 2000, a cultura brasileira ganhou um senhor presente: a caixa "Noel Pela Primeira Vez", com 14 CDs contendo as gravações originais das 229 composições de Noel Rosa (1910-1937), assinadas ou não. Foi o resultado de um esforço de 11 anos (1987-1998) do professor (de biologia) e pesquisador paulistano Omar Jubran. Ou seja, Jubran levou mais tempo para compilar a obra de Noel do que este para construí-la.

O que nos EUA costuma ser o trabalho de uma equipe, com o apoio de instituições como a Smithsonian e valendo-se de verbas e arquivos generosos, aqui é a luta de um homem e dos abnegados que se dispõem a ajudá-lo. Num país onde se joga tudo fora, imagine o que seja procurar discos de cera, de 78 rpm, fabricados há 70 anos --alguns de cuja existência o pesquisador só tinha uma vaga referência; outros, de que nem sabia; e todos, ao ser encontrados, exigindo pesada restauração.

Entre completar seu levantamento de Noel e conseguir que ele viesse à luz, Jubran teve de esperar outros dois anos, até 2000 --quando a caixa finalmente saiu, graças ao interesse da Funarte, da AAD (Associação dos Amigos da Funarte) e da gravadora Velas. Ninguém ganhou dinheiro com isso. Somente o Brasil ficou mais rico.

Agora, Jubran tem em mãos outro trabalho, ainda maior em extensão e ao qual também dedicou quase dez anos: a obra de Ary Barroso. Pelo equivalente a 20 CDs, lá estão todas os sambas e canções de Ary por seus intérpretes originais --316 fonogramas, quase 100 a mais que os de Noel. Jubran não pediu dinheiro a ninguém para procurar essas raridades. Procurou e achou.

E, de novo, ele espera que uma instituição queira prensar tal tesouro e pô-lo ao alcance das pessoas. É um projeto caro? Não. Mais barato do que contratar qualquer banda de rock para fazer um show na praia.

CAMPOS: ‘VOLTA, LULA’ É FARDO - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém

O GLOBO - 20/07

Eduardo Campos lembrou a Lula que o processo eleitoral de 2014
começa agora em setembro, quando se esgota o prazo para mudança de partido.
Aí então, Campos já saberá onde terá palanques para as eleições presidenciais. Se tiver um número mínimo de dez estados, ele se sentirá confortável para definir sua candidatura. Mas só a anunciará em janeiro, no Congresso do PSB.
Sem rodeios, mas com elegância, o governador acusou o ex-presidente de ter antecipado em um ano o debate sucessório quando lançou a reeleição da Dilma.
— Você sabe por que eu fiz isso. Foi para conter o movimento interno do “Volta, Lula” no momento em que a Dilma estava bem nas pesquisas. Mas, agora, com a queda de popularidade, o movimento cresceu.
Mesmo percebendo que a conversa caminhava para a reafirmação do apoio a Dilma, Campos exorcizou:
— É tiro no pé, atestado de incompetência política. Sua candidatura já nasceria com esse fardo, presidente.

Sem saída

O governador, em dialeto pernambucano, falou ao conterrâneo do “desmantelo” que provocaria uma suposta desistência sua.
Com outras palavras, disse que, se a Dilma for para o segundo turno, o PT vai precisar dele. Se for ele para o segundo, o PT vai precisar dele ainda mais, para preservação e
aperfeiçoamento do projeto de governo do campo progressista a que pertencem os dois partidos.

ET
Não mais que de repente, Brasília, por algumas horas, virou uma espécie de Varginha (MG): a via-sacra de Serra pelos gabinetes do Senado.
Como a criançada faz com ele nas campanhas, segui os passos daquele simpático, mas assustador, extraterrestre e consegui reconstruir o que de mais importante disse aos senadores que visitou.

Aí tem
Primeiro, Serra, nas conversas, tentou desconstruir a presidente. Disse que hoje a Dilma “está reduzida a pó” e que ele não sabe nem se ela termina o mandato.
Depois, esclareceu que estava em Brasília por questões estritamente pessoais.
O ex-governador deixou seus interlocutores apavorados e preocupados.
Todos agora querem saber que motivos pessoais levariam o desalmado à capital do país.
Façam suas apostas, senhores!

Fofos
No clima de exacerbação total dos ânimos populares contra os políticos, soa quase como um elogio a forma como o vice de Cabral é tratado nas faixas dos protestos.
Ou ninguém vê diferença entre o “Fora, Cabral!” e o “Vaza, Pezão!”?

Amor
Impressionou-me, na visita que fiz à prefeitura de São Paulo, o esbanjamento de elogios do Fernando Haddad aos tucanos FH e Alckmin.O desprezo do alcaide a José Serra só é comparável ao do Serra por ele.

Pecadores
Apesar do vapt-vupt da viagem para ver o Papa, Dilma levará na bagagem duas malas pesadas: Renan e Alves.
Mas, para chegar perto de Sua Santidade, os dois impuros terão que antes confessar seus pecados, mas sem direito a comunhão.

No ar
Justiça se faça. Desde Sarney até hoje, ministros de São Paulo sempre voltaram para casa no mesmo jatinho da FAB.
Ontem, por exemplo, Cardozão teve que se sentar ao lado da sua colega Eleonora Menicucci.É que só havia os dois no voo.

Ira
A entrevista de Henrique Alves a Fernando Rodrigues defendendo a extinção de 14 ministérios tirou o humor da Dilma.
A presidente só voltou ao normal quando um assessor sugeriu-lhe responder que só faria a reforma administrativa do governo se pudesse começar pelo Dnocs, o parque de diversão da família Alves.

Armação
Agora em setembro, ou dezembro, ou janeiro, não importa a data, o fato é que Dilma muda ministros, mas não reduz o número de ministérios.
Claro, tudo o que interessa a “Coisa-Ruim” et caterva não interessa ao país.

Boato
O PMDB se prepara para romper com a Dilma. Dizem que é sério. É crer para ver!

Ueba! Papa vai morar em Búzios! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 20/07

E o papa? O papa vai realizar o sonho de todo brasileiro: ver um argentino beijando nosso chão! Rarará


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Papa Week! Predestinada do dia! Vencedora da corrida Subida ao Cristo: Jéssica Ladeira! Rarará!

E o papa? O papa vai realizar o sonho de todo brasileiro: ver um argentino beijando o nosso chão! Rarará!

E fazer piada com argentino é pecado? Sim! Gol de mão não é pecado. Piada com argentino é pecado! O papa mandou avisar: quem fizer piada com argentino vai direto pro inferno!

E já imaginou se o Papa renuncia e abre uma pousada em Búzios? Uma vez argentino, sempre argentino. Papa vem ao Brasil, renuncia e abre uma pousada em Búzios! Rarará!

E se o papa fosse argentino mesmo, teria que mudar o nome da Capela Sistina pra Capela Cristina! Capela Cristina Kirchner! Rarará!

E os argentinos já tão falando que o papa é melhor que o Pelé! Rarará!

E a manchete do "Piauí Herald": "Eike Batista pede milagre ao papa Francisco".

E mais essa: "Aeronáutica abre concurso com 80 vagas para médicos". A Dilma vai mandar os médicos pro espaço! Rarará!

E a novelha "Amor à Vida"? Aquele hospital virou um HOSPUTAL! Só tem sacanagem! Depois reclamam quando a Dilma quer médicos cubanos. E agora as mulheres vão pedir médicos padrão Caio Castro no SUS! Rarará!

E o elenco está interTREPANDO cada vez melhor! Muda o nome da novela pra "Trepar a Vida"! Rarará! Aí, sim! E a família Doriana? Adoro a família do Fagundes: a filha não é filha da mãe, o neto é filho do avô e a Susana Vieira tem a mesma idade que a mãe dela! Rarará. E a bicha má? Virou bicha mala. Bicha má-la! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

E atenção! O site Kibeloco revela as manchetes pra 2030! Como será o mundo em 2030? Esportes: "Anderson Silva faz gracinha e apanha no Mundialito de Dominó em Copacabana". "Fifa nega que estádios da Copa de 2042 em Marte virarão elefantes brancos".

Economia: "Barraquinha de churros de Eike Batista é apreendida. Ele vendia sonhos', diz a PM". Política: "Criadores revelam que Galinha Pintadinha era projeto de espionagem da CIA". Entretenimento: "Juiz diz que lei Maria da Penha só vale pra quem se chama Maria da Penha. E Dado Dolabella é inocentado". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Nasceu? É menino? Isso é insuportável - ALEX MASSIE

O Estado de S.Paulo 20/07

Razões para não se importar com o bebê real


O parto da duquesa de Cambridge estava previsto para sábado passado. Como muitas mães de primeira viagem, atrasou. Isso é inconveniente. Chato para ela, talvez, mas muito pior para o restante de nós - mesmo que o bebê tenha nascido a esta altura.

Há pouquíssimas ocasiões em que é permissível sentir piedade da imprensa. Mas pense um instante nos jornalistas acampados do lado de fora do St. Mary's Hospital, em Londres. Esses profissionais foram as pobres almas encarregadas de manter a vigília à espera do nascimento do novo bebê real.

Não um mero bebê real, mas o futuro herdeiro do trono da Grã-Bretanha. A mídia agachada ali fora, enquanto Kate Mountbatten-Windsor (de nome se solteira Middleton), consorte do futuro rei, esperava para dar à luz. Os nervos em "Camp Kate", como o lugar foi batizado, ficaram em frangalhos. O calor incomum de Londres só fez piorar as coisas.

Enquanto o tempo passava, os jornais ficavam sem material para encher sua cota de páginas sobre o bebê real. Florestas inteiras foram derrubadas para imprimir a cobertura até agora e há mais - muito mais - por vir quando a criança finalmente fizer a sua estreia - se é que já não fez.

Felizmente, a turma da imprensa está sendo paga para montar sua vigília; britânicos obcecados pela realeza montaram tendas fora do St. Mary's, desesperados para não perder a "ação". O Daily Telegraph ofereceu aos seus leitores o uso de uma webcam apontada para a entrada do St. Mary's.

Ao menos os britânicos têm a desculpa de que essa nova pessoa, algum dia, se a saúde permitir, se tornará monarca e chefe de Estado. A mídia internacional não tem essa desculpa e, como era de se esperar, os americanos estão entre os piores infratores. Revistas de fofocas como US Weekly ficaram apaixonadas por Kate e o bebê. "Tudo Sobre O BEBÊ REAL!", gritou a capa do número desta semana, prometendo matérias sobre "uma escolha de nome de último minuto", o suposto "nervosismo na sala de parto" de Kate e seu (improvável) "medo de ficar sozinha". Dentro há fotos, também, do "adorável quarto do bebê no palácio".

A realidade é mais dura para as redes de televisão americanas, testadas em sua lendária habilidade de encher horas de programação sem absolutamente nenhuma novidade. Sem nascimento, não havia notícia. Mas nada conseguiu parar os exageros incontroláveis. "O mundo inteiro está esperando o nascimento", derramou-se Christiane Amanpour da CNN, confirmando o declínio da rede de estação noticiosa séria a mais uma comerciante das besteiras de tabloide. Os cortiços de Manila e as favelas do Rio de Janeiro morrem de excitação, mal capazes de conter seu maravilhamento no momento em que a Casa de Windsor se preparava para se perpetuar mais uma vez.

Em meio a toda essa insanidade, as únicas pessoas que conservam algum senso de equilíbrio são os membros da família real. "Bem, você sabe, todos têm bebês. É adorável, mas não fico loucamente excitada com isso", disse Margaret Rhodes, a prima de 88 anos da rainha Elizabeth II, à CNN.

Há algo a ser dito em favor do sangue frio aristocrático. Sua majestade parece um pouco mais preocupada. Perguntada sobre a perspectiva de se tornar bisavó, a rainha respondeu: "Eu gostaria muito que ele chegasse porque vou entrar em férias em breve". Num tempo de mudança, é reconfortante ser lembrado de que a classe alta britânica ainda acredita que as emoções são desperdiçadas com crianças e deveriam ser confinadas a cães e outros animais.

Sucessão. Será menino? Será menina? Por razões que são em grande parte místicas, a presunção - respaldada pelos agentes de apostas - era a de que Kate daria à luz uma menina, embora dada a história da Casa de Windsor, animal, vegetal ou mineral parece quase tão provável quanto um homo sapiens macho ou fêmea. Para os interessados nesses assuntos, Alexandra e Charlotte eram os nomes favoritos se a criança se revelar uma fêmea (para os apostadores, Psy está pagando 5000 por 1).

No entanto, uma menina seria politicamente mais significativa que um menino. Num lembrete de que mesmo as instituições mais antigas precisam se curvar às modas dominantes, as leis de sucessão da Grã-Bretanha foram recentemente alteradas para permitir que uma princesa primogênita herde o trono. Até recentemente, qualquer princesa nessa posição corria o risco de ser suplantada pela chegada - indesejada, sem dúvida - de algum irmão mais novo. O direito de primogenitura foi estendido agora às meninas. Isso é considerado radical. Se continuar assim, em breve monarcas britânicos poderão se casar com católicos.

Mas, é claro, de certa maneira é modestamente radical, não menos porque mudar as leis de sucessão na Grã-Bretanha significa também mudá-las nos 14 outros países - entre eles, Canadá e Austrália - nos quais a rainha Elizabeth continua sendo chefe de Estado. Quando se lida com uma instituição tão antiga como a monarquia britânica, toda mudança é complicada.

Pelo menos o príncipe William e a duquesa de Cambridge parecem um casal feliz e satisfeito. Até onde essa normalidade é possível em vidas tão impossíveis, eles parecem ser quase tão "normais" quanto se poderia esperar. Seu casamento parece construído sobre alicerces mais sólidos do que os dos pais do príncipe William.

Embora, constitucionalmente falando, as responsabilidades da duquesa se resumam a produzir "um herdeiro e um substituto", é preciso lembrar que fazer isso não é pouca coisa pela excelente razão de que tornaria a perspectiva - não obstante longínqua - de o príncipe Harry um dia assumir o trono ainda mais improvável. Pôr mais corpos entre Harry e a coroa não é uma má ideia, por mais divertido que o pensamento sobre um príncipe playboy que um dia venha a se tornar monarca possa ser.

A popularidade de William e Kate provavelmente sustentará a Casa de Windsor por outro meio século, no mínimo.

O segredo. A legitimidade da monarquia moderna repousa menos nos direitos divinos dos reis do que na disposição do público de tolerá-la. A rainha Elizabeth tem sido uma monarca modelo não menos porque, com a possível exceção de seus interesses em corridas de cavalo, ninguém poderia dizer com plena segurança quais são seus pontos de vista sobre qualquer assunto. Ao não expressar opiniões, ela evita controvérsias. Ao suprimir o ego, ela oferece a impressão de um serviço altruísta. Seu filho, o atual príncipe de Gales, poderia aprender e lucrar com seu exemplo. A suspeita de que ele não o fará justifica a sugestão ocasional - fantasiosa ao extremo - de que a coroa deva passar da rainha Elizabeth ao príncipe William, pulando o príncipe Charles.

O príncipe William pode não herdar o trono por outros 40 anos, mas parece ter absorvido as lições transmitidas por sua avó enquanto desfruta, assim parece, de um traço da chamada qualidade de estrela que sua mãe possuía. Nesse aspecto, ele pode ser pensado como um príncipe surpreendentemente moderno.

Mas enquanto isso, como extras numa performance interminável de Esperando Godot, nós nos sentamos, esperamos - e esperamos - e tentamos imaginar quando a notícia virá - se é que não veio neste minuto. A alegria que alguns sentirão com a chegada do recém-nascido príncipe ou princesa não será nada em comparação com o alívio sentido pela maioria de que, enfim, esse longo pesadelo internacional terminou. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Contra a internet - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

FOLHA DE SP - 20/07

Um "insider" do Vale do Silício ataca o modelo concentrador da web, em que poucos ganham muito


No auge, a Kodak empregava mais de 140 mil pessoas e valia cerca de R$ 50 bilhões. Quando o Instagram foi vendido por R$ 2 bilhões ao Facebook, ano passado, tinha só 13 funcionários.

Para Jaron Lanier, um "insider" do Vale do Silício, esse exemplo resume tudo o que há de errado com a economia da rede. Sob a fachada de escolhas infinitas e liberdade total, esconde-se um modelo concentrador. "A internet destruiu mais empregos do que criou", fulmina.

A tese está exposta no livro mais recente de Lanier, "Who Owns the Future?" (a quem pertence o futuro?), lançado em maio nos EUA e ainda inédito no Brasil. Não é pouco o barulho que causou.

Com seus longos dreadlocks e gosto por música da Antiguidade, Lanier passaria facilmente por mais um freak californiano adepto de ideias exóticas.

Na verdade, ele é um dos maiores expoentes da internet. Também foi um dos criadores da realidade virtual.

No Vale do Silício (região da Califórnia que concentra os gigantes da web), já fez de tudo. Hoje, trabalha em uma divisão de vanguarda na Microsoft, onde estuda, entre outras coisas, a construção de elevadores para o espaço.

A encrenca da internet, na visão de Lanier, vem do perfil de seus criadores, nos anos 70 e 80. Com bom humor, diz que eram de dois naipes: "Ou maconheiros liberais, ou conservadores do tipo que usam rádios da faixa do cidadão para monitorar a polícia e escapar dela". Essas duas tribos, tão diferentes, coincidiam no seguinte: para ambas, "o anonimato era a coisa mais bacana".

Assim, criou-se intencionalmente uma web em que as informações vão se dissipando, como partículas perdidas em um universo em expansão. Ninguém sabe o que veio de onde, nem quem criou o quê. E a informação circula gratuitamente, também porque é "cool".

Bem, se ninguém quer pagar por nada on-line, é preciso criar um modo de fazer dinheiro. E aí, em busca de um caminho sustentável, a internet, tão "rebelde", adotou o modelo de negócios mais tradicional: vender anúncios.

Nessa hora, ninguém pode com gigantes como Google e Facebook. Lanier os chama de "servidores-sereias", pela capacidade irresistível de atrair usuários.

Quem vende o anúncio mais eficiente possível --e portanto pode cobrar muito por ele-- é quem sabe tudo sobre seu usuário. Ou porque rastreia toda a atividade on-line, como o Google; ou porque usa as informações fornecidas, voluntária e gratuitamente, pelo "internauta", como o Facebook.

Para processar essa quantidade colossal de dados, são necessários computadores muito poderosos. Que só portentos como Google, Facebook, Apple e Amazon podem comprar.

E assim se completa o modelo concentrador que Jaron Lanier combate. Bilhões de usuários fornecem informações e produzem conteúdo, sem cobrar, para os "servidores-sereias". Estes têm uma capacidade de processamento única, e transformam essas informações em trunfos para vender anúncios. Anúncios que vão atingir as mesmas pessoas que estão trabalhando de graça sem perceber.

É um modelo de tudo para uns poucos, e nada para muitos. Não forma uma classe média --só magnatas e proletários. Por isso, na visão de Lanier, não vai se sustentar.

Como alternativa, o autor apresenta uma solução polêmica: os micropagamentos. E dá o exemplo dos programas de tradução automática, como o Google Translate e o velho BabelFish.

São serviços prodigiosos. Fornecem traduções imediatas em dezenas de idiomas, mesmo os mais obscuros. Só que não funcionam por milagre. São abastecidos por traduções reais, feitas por seres humanos em algum lugar do passado.

Quando você pergunta ao Google Translate como se diz "quero comer um bife com batata frita" em polonês, o que ele faz é consultar um número astronômico de traduções "humanas" em seu banco de dados, e deduzir a resposta. No caso, "Chc? zje?? stek z frytkami".

Pelo modelo de Lanier, os seres humanos que, lá atrás, fizeram as traduções receberiam micropagamentos cada vez que seu trabalho fosse usado numa tradução on-line.

É um modelo complicado e utópico. Mesmo outros críticos da internet, como Evgeny Morozov, o atacaram violentamente (vale ler Morozov espinafrando Lanier: is.gd/EtiO2P).

Ainda que não se concorde com as propostas de Jaron Lanier, não dá para negar a clareza de suas análises. Que o livro saia logo no Brasil.

Francisco e o direito canônico - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 20/07

Além de ser chefe de sua igreja, o papa é soberano do Estado do Vaticano, assim reconhecido pela ONU


A visita próxima do papa Francisco, primeiro desse nome, primeiro sul-americano e, além do mais, argentino, sugeriu o tema. As questões da segurança do papa predominam no noticiário, mas, nesta coluna, em termos jurídicos, parece oportuno examinar no diálogo com o leitor o debate suscitado quando se pergunta como e quando aplicar o direito canônico, em face do direito brasileiro.

A questão cabe porque prepondera, em nosso país, a liberdade religiosa e de todos os cultos. É assegurada no sexto e no sétimo incisos do art. 5º da Constituição. Garantem inviolabilidade de crença, livre exercício dos cultos, proteção de locais de culto e liturgias, bem como a assistência religiosa a entidades civis e militares de internação coletiva. Logo, é livre a manifestação de alegria ou de contrariedade, de cada brasileiro, com a visita.

O oitavo inciso do art. 5º impede que alguém seja privado de direitos por motivos de crença religiosa, o que não significa a liberdade de ofender a crença alheia ou os representantes dela.

As perguntas óbvias sobre disposições constitucionais, que parecem dizer o contrário, têm lembrado feriados religiosos que privilegiam denominações cristãs e casamento religioso com efeitos civis, celebrados por dignitários das religiões reconhecidas. A norma republicana de 1891 definiu a liberdade religiosa, inexistente no Império --quando só era admitida a religião católica, sendo proibidos até templos de outras denominações. Não subsiste no presente.

Voltando ao casamento religioso, para ficar no exemplo mais característico da interação dos direitos constitucional e religioso (por exemplo, na sagração de pessoas das mais variadas correntes religiosas, como titulares da correspondente pregação), invoca a possibilidade de se integrar o direito canônico com o direito comum. A denominação "canônico", porém, traz no Brasil a marca exclusiva da Igreja Católica, não aplicável a cidadãos de outras crenças. Na Inglaterra, o "canon" se liga à Igreja Anglicana.

Também podem ser lembrados outros exemplos de religiosos de diversas correntes da fé, alheios ao direito canônico.

A garantia do pluralismo religioso é uma das belezas da verdadeira democracia, até na admissão integral do ateísmo, daquele que nega toda credibilidade a um ser supremo, que nós chamamos Deus. Voltando aos papas: as homenagens que lhes serão prestadas no Brasil compõem tratamento constitucional, porque, além de ser chefe de sua igreja, Francisco é também soberano do Estado do Vaticano, assim reconhecido pela Organização das Nações Unidas.

Em síntese: o direito canônico não se liga, não se subordina nem é subordinado ao direito comum. A conclusão inclui o tratamento ao papa em visita, por isso mesmo integralmente apropriadas as homenagens oficiais prestadas ao Estado Vaticano.

O leitor perguntará: como fica o direito? A resposta dos estudiosos é variada. Os doutrinadores católicos veem no direito canônico a expressão dos termos em que o cristianismo o sustenta, com valores transmitidos a todos os católicos. Os não católicos discordam em grande parte, como é natural. É de lembrar a origem comum, no Velho Testamento, de cristãos, islâmicos e judeus.

Enfim, não há solução para uma paz definitiva.

PIB: novas frustrações no horizonte? - SILVIA MATOS

O Estado de S.Paulo - 20/07

O PIB do segundo trimestre deste ano só será conhecido dia 30 de agosto. Mas, até lá, diversos indicadores serão divulgados e seremos bombardeados por inúmeras projeções, algumas mais pessimistas, outras mais otimistas.

Independentemente disso, mesmo os mais otimistas não conseguem evitar certo ceticismo quanto ao cenário de crescimento brasileiro. Podemos crescer um pouco mais ou um pouco menos, mas os valores referenciais são cada vez menores, de acordo com o Boletim Focus. Nossa avaliação também sinaliza para um cenário não muito otimista.

Em primeiro lugar, a frustração com o primeiro trimestre foi grande. Não apenas em relação à taxa em si, mas a sua composição. Excluindo a agropecuária, o crescimento do PIB dos três primeiros meses foi bem mais fraco que o divulgado no último trimestre do ano passado.

Em segundo lugar, como começamos o ano não muito bem, houve uma redução do carregamento estatístico do PIB para 2013. Se a economia registrar neste e nos próximos trimestres crescimentos nulos, o resultado no final do ano será um PIB de apenas 1,3%. Se o PIB tivesse crescido 1% no primeiro trimestre, já teríamos garantido um valor um pouco melhor para o ano, de 1,7%. Como cresceu só 0,6%, as projeções para 2013 foram bastante reduzidas.

Em terceiro lugar, as informações que temos até o momento sobre o ritmo da atividade econômica neste segundo trimestre não são alentadoras. A agropecuária, apesar da sua maior contribuição para o PIB se concentrar no primeiro semestre, teve uma parte relevante já contabilizada no primeiro trimestre. Para o segundo, ainda se espera uma contribuição favorável, mas bem aquém da registrada no início do ano.

O setor serviços também não deve crescer a taxas muito elevadas, de acordo com as indicações do Índice de Confiança do FGV/Ibre. Entre março e maio de 2013 a confiança recuou 2,4% em relação aos meses de dezembro a fevereiro. Além disso, os dados referentes ao emprego no setor corroboram essa análise: tanto as contratações formais, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, como a população ocupada nas principais regiões metropolitanas, da Pesquisa Mensal de Emprego, têm perdido fôlego nos últimos meses. Como este setor é intensivo em mão de obra, os dados referentes ao emprego são um bom termômetro setorial.

Então as esperanças se voltam para a indústria. O crescimento neste e nos próximos trimestres dependerá muito do setor industrial. Segundo dados da PIM-PF, a produção da indústria de transformação de abril cresceu 1,7%. Mesmo se houver uma estabilidade em maio e junho, haverá um crescimento em relação ao trimestre anterior. As Sondagens do Ibre, contudo, mostram que essa recuperação não está garantida, pois os sinais ainda são muito dúbios. Por um lado, houve um aumento do Nível de Utilização da Capacidade (Nuci) entre abril e maio, de 84,2% para 84,6%, e melhora na percepção dos empresários sobre o momento presente. Mas, por outro lado, ocorreu uma piora das expectativas. Em relação aos outros subsetores da indústria, mesmo avaliando que o péssimo resultado do primeiro trimestre não irá se repetir, ainda não há sinais de crescimento muito expressivo.

Consolidando todas essas informações, a previsão do IBRE para o crescimento do PIB no segundo trimestre é de 0,7%. Para o ano como um todo é de 2,3% e para 2014, 2,6%. Com isso, a taxa média de crescimento no governo Dilma ficaria em 2%. Ou seja: saímos da quase estagnação, mas só conseguimos atingir taxas de crescimento muito modestas. Infelizmente esse número tão desalentador pode nem ser atingido, já que o ambiente externo tem sido um fator adicional de preocupação. Uma piora no cenário mundial pode limitar ainda mais nossa trajetória de crescimento neste e nos próximos anos.

'IA SAIR METENDO PORRADA EM POLÍTICO' - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 20/07

Na próxima segunda, Anderson Silva começa a filmar a comédia "Até que a Sorte nos Separe 2", de Roberto Santucci. Em entrevista, o campeão de MMA fala sobre política, cinema e as críticas após ser nocauteado no dia 6. Fez até piada com o fato de sua voz fina suscitar brincadeira sobre sua sexualidade.

Folha - A pergunta que não quer calar...
Anderson Silva - Tá bom, vai, eu sou gay [risos]. Não existe cura gay. Eu não tô curado de ser gay [A assessora interrompe: "Cuidado com o que você diz". Mais risos]. Não, eu não sou gay.

E o que acha do deputado Marco Feliciano?
Sou a favor da liberdade de expressão, para quem é gay e para quem não é também. Tá tudo bem.

E as críticas sobre a derrota?
Foi uma falha humana, que custou o título, um patrimônio brasileiro. Não sou máquina. Cometi um erro bobo, precisava ter dado um passo atrás e não dei. E gerou essa polêmica [pelo fato de] nunca ter sido nocauteado. Uma coisa nova que me deixou triste, me questionando se sou bom o suficiente.

Pode ter sido cansaço?
Tenho plena certeza de que foi estresse mental. Fiquei decepcionado com a atitude de alguns que não conhecem muito, imaginando que vendi a luta. Te colocam numa posição de intocável, imbatível.

Que lição ficou?
Fui do céu ao inferno muito rápido. Quando você começa a vencer muito não consegue detectar problemas.

Você já conquistou tudo?
Dentro do esporte, já conquistei tudo o que gostaria.

E fora do esporte?
Tô me preparando para atuar. O primeiro teste de fogo será "Até que a Sorte nos Separe 2". Sempre tive aquela coisa de querer ser um super-herói. Mas filme de luta eu não gostaria de fazer.

Com quem sonha em atuar?
Denzel Washington, Will Smith. Lima Duarte, Wagner Moura, Selton Mello, sou apaixonado por eles. Imagina eu contracenando com Regina Duarte?

Já olha para Hollywood?
Fiz algumas coisas lá. Não posso falar, mas foram três filmes nos EUA e no Canadá. Depois que eu parar, será possível me dedicar 100%.

E as manifestações no Brasil?
São válidas, se feitas da forma correta, sem vandalismo.

Como vê um atleta como Romário na política?
Ele se saiu muito bem. Mas uma andorinha não faz verão. O governo tem que investir mais em esporte e saúde. O negócio é esperar, de repente o Romário vira presidente.

Pensa em ser político?
Não tenho talento. Não tenho paciência pra sacanagem. E com político você tem que ser político. Não tenho estômago, ia sair metendo a porrada em todo mundo.

Como é ter Ronaldo patrão, sendo contratado da 9ine?
Você tem irmão? Tomo bastante esporro dele, mas não brigo. É relação de família. Ele e a 9ine me tratam como nenê. Tomo dura direto. É legal, pois a relação é de respeito. Vai durar pra sempre.

O que Ronaldo lhe disse depois da derrota?
Virou pra mim: Negão, eu te amo, cara. Porra, tá tudo certo. Bora pra outra. Levanta essa cabeça'.

TRIUNFO DA REPÚBLICA
No livro "1889", que Laurentino Gomes lança no mês que vem com tiragem recorde de 200 mil exemplares, o autor lança luz sobre uma personagem desconhecida nos livros de história, mas decisiva na Proclamação da República: a "bela e sedutora" baronesa de Triunfo.

TRIUNFO 2
A viúva gaúcha foi o centro de uma disputa amorosa. Marechal Deodoro, que perdera o coração dela anos antes para o senador Gaspar da Silveira Martins, só decidiu proclamar a República ao saber que dom Pedro 2º nomeou o desafeto para chefiar um ministério.

Até então, segundo a obra, Deodoro era monarquista convicto. A inimizade foi estopim da queda do império.

TRIUNFO 3
Laurentino Gomes fez pesquisas durante três anos para escrever o livro, incluindo estada de um ano nos Estados Unidos. "1889", que entra em pré-venda na internet na segunda, fecha uma trilogia composta por "1808" e "1822". No começo de setembro, "1808" será lançado nos EUA, em inglês.

CANETA
A Confederação Nacional da Indústria teme que Dilma Rousseff vete a prorrogação do Reintegra, programa que devolve parte dos impostos pagos pelas empresas exportadoras. No texto da MP 610, constam duas datas: dezembro de 2013 e final de 2014.

A redação permite ao governo vetar o inciso com prazo maior. Se o temor for confirmado, o setor produtivo será onerado em R$ 2 bilhões, segundo a CNI.

SANGUE NOVO
A Justiça negou direito de resposta a um vereador de Atibaia (a 64 km de SP) incomodado por ter sido chamado de "neófito" (novato, iniciante) em um jornal local. Jorge de Jesus Silva, o Jorge do Mercado Davi (PSL), que está no primeiro mandado, alegou no processo que o adjetivo o "desqualificava" e sugere "despreparo".

SANGUE NOVO 2
Na decisão, o juiz Alexandre Alves dá o significado do dicionário para argumentar que não tem "tom pejorativo". O vereador, que entrará com recurso, diz ter ficado mais irritado com acusações da reportagem, também citadas na ação.

OFF BROADWAY
Miguel Falabella conseguiu autorização para captar R$ 4,8 milhões pela Lei Rouanet para o musical "Memórias de um Gigolô". O espetáculo passará por São Paulo, Rio de Janeiro e outras quatro cidades num total de 80 apresentações.

RAP SERTANEJO
Marcelo D2 subirá ao palco da 20ª edição do Prêmio Multishow, em 3 de setembro, com os rappers do ConeCrewDiretoria. Zezé di Camargo & Luciano se apresentam com Paula Fernandes. A direção musical é de Kassin.

BALADINHA
"Vamo fazer uma baladinha sertaneja na casa do governador", disse o cantor Michel Teló ao abrir show no evento beneficente Inverno sem Frio, no Palácio dos Bandeirantes. A primeira-dama Lu Alckmin cantou timidamente o refrão de "Ai, se Eu Te Pego" e se divertiu ao lado de convidados como o empresário Olacyr de Moraes e a estudante Carolina Aquilino.

BRINDE À SAÚDE
Ana Hickmann e Karina Bacchi estiveram na inauguração da Casa da Mulher, centro de prevenção e apoio a mulheres com câncer de mama. Elas foram recebidas pela presidente do Instituto Arte de Viver Bem e idealizadora do espaço, Valéria Baraccat, e pelo médico Paulo Demenato.

CURTO-CIRCUITO
A exposição "Transit_SP", sobre arte africana, abre hoje, às 11h, na Oca, no parque Ibirapuera.

O músico Pigo Pegoraro canta na Serralheria, na Lapa, hoje, à 0h. 18 anos.

O Baile de Adelaide, com a banda Seu Chico e os DJs Tutu Moraes e Peu Araújo, é hoje, à 0h, no Estúdio, em Pinheiros. 18 anos.

China e Mombojó apresentam no Sesc Pompeia o show infantil "Coisinha", amanhã, às 18h30. Livre.

Peças de famosas como Sabrina Sato e Giovanna Antonelli estão em bazar beneficente amanhã, no bar Numero, a partir das 11h.

O “Volta, Lula!” - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 20/07

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva considera “burrice” ou “ingenuidade” a campanha interna de petistas descontentes com a presidente Dilma Rousseff no sentido de que ele volte a concorrer à Presidência da República. Também desencoraja os aliados dos demais partidos que o procuram. Mesmo assim, o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), seu maior amigo na Câmara, não desiste. Por quê?

Aparentemente, Devanir está cheio de razão. A pesquisa Ibope divulgada na quinta-feira mostrou que o PT teria muito mais facilidade para vencer as eleições com a candidatura de Lula do que com a de Dilma, que tem 30% das intenções de voto, contra 22% de Marina Silva (Rede Sustentabilidade), 13% de Aécio Neves (PSDB) e 5% de Eduardo Campos (PSB). Lula teria 41% e os adversários ficariam, respectivamente, com 18%, 12% e 3%. A vantagem de Dilma contra Marina Silva, portanto, seria de apenas 8%, ao passo que a de Lula seria de 23%.

Onde estaria, então, a “burrice” ou a “ingenuidade” de petistas como Devanir? No açodamento da proposta, com toda certeza. Por mais que a oposição pense o contrário, Dilma ainda não virou uma pata manca, para usar o velho jargão norte-americano. Com inflação em queda, se a economia mantiver o nível de emprego, terá condições de sustentar o favoritismo. Além disso, exerce o poder com muita gana. E o governo, como lembrava o mestre Norberto Bobbio, é a forma mais concentrada de poder, quando nada porque arrecada, normatiza e coage. A volta de Lula contra a vontade de Dilma seria um deus nos acuda. Sem chance de dar certo.

Reunião
A propósito, Dilma cancelou a ida à reunião de hoje do Diretório Nacional do PT, esnobando o convite do presidente da legenda, Rui Falcão. O encontro deve debater a conjuntura, mas os ânimos estão muito exaltados entre os integrantes das diversas tendências que compõem a direção do partido. Divergem sobre quase tudo, tanto na economia quanto na política.

PEC 37
Indicado pelo Departamento da Polícia Federal para negociar o destino da Proposta de Emenda à Constituição 37, o delegado Roberto Troncon, superintendente da PF em São Paulo, avalia que a derrota da proposta jogou o sistema de investigação criminal num quadro de instabilidade jurídica.


Vidraças
Manifestantes que saíram da Assembleia Legislativa, na manhã de ontem, promoveram quebra-quebra em Vitória. No Palácio Anchieta, antigo colégio de jesuítas, destruíram as janelas. O Batalhão de Missões Especiais (BME) reagiu com bombas de gás e tiros de bala de borracha.

Avalista
O deputado Cândido Vaccarezza, do PT-SP, aceitou o convite do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDN-RN), para presidir o grupo de trabalho que vai elaborar as propostas de reforma política, com o aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente do PT, Rui Falcão, e o líder da bancada, José Guimarães (PT-CE), somente não vetaram a indicação por causa disso.

Fogo amigo
O Palácio do Planalto não engoliu a indicação de Vaccarezza porque não controla o parlamentar. A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, pôs pilha no deputado Henrique Fontana (PT-RS), que disputava o comando da comissão, para articular o manifesto de 27 deputados contra Vaccarezza. Fontana foi relator do projeto de reforma política rejeitado pela Câmara este ano.

Menos médicos
A Federação Nacional dos Médicos (Fenam) anunciou que deixará seis comissões do governo das quais participa e outros cinco colegiados do Conselho Nacional de Saúde, em protesto contra a medida provisória que criou o Programa Mais Médicos e contra os vetos da Lei do Ato Médico, que regulamenta a medicina. Também anunciou que impetrará duas ações judiciais no Supremo para suspender os efeitos da medida.

Recepção
A recepção ao papa Francisco, prevista para segunda-feira, no Palácio Guanabara, promete mais confusão. O encontro, com a presença da presidente Dilma; do vice-presidente Michel Temer e de oito governadores, além de deputados e senadores, já gera protestos nas redes sociais. “O papa vai ser recepcionado com todo amor, respeito e dignidade no Rio, mesmo por seguidores de outras religões, ateus e agnósticos”, promete o governador Sérgio Cabral. A conferir.

Vândalos
O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), acusou ontem organizações internacionais — leia-se, Anonymous — de estimularem a violência nas manifestações na capital fluminense. Ele anunciou também a criação da Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas.

Um governo atolado vai desemperrar a economia? - ROLF KUNTZ

ESTADÃO - 20/07

Tiririca estava errado. No Brasil, sempre dá para piorar, como têm provado com notável diligência a impropriamente chamada classe política e o governo da presidente Dilma Rousseff. Qual a distância, hoje, entre otimismo e pessimismo nas previsões econômicas? A economia brasileira crescerá em média 3,2% ao ano entre 2014 e 2018, segundo a nova bola de cristal operada em parceria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pela instituição de pesquisas The Gonference Board, o indicador antecedente composto. No discurso oficial, um crescimento inferior a 4% ou 5% ao ano jamais foi admitido, até há pouco tempo, como padrão normal para o Brasil. Poderia ocorrer como consequência de choques externos ou em fases de ajuste muito forte, mas sempre como situação excepcional. Hoje, até uma expansão pouco superior a 3% por vários anos pode parecer improvável, quando se considera a crise de produtividade da economia nacional.
Não há cálculo seguro do potencial de crescimento do País, mas os números estimados vêm caindo nos últimos anos - da faixa de 3,5% a 4% até há pouco tempo para algo entre 2,5% e 3% nas últimas avaliações. O número de 2,5% foi indicado esta semana pela economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências, segundo o jornal Valor.
Calcular o produto potencial pode ser muito complicado, mas, apesar disso, economistas e formuladores de políticas têm excelentes motivos para levar em conta esse conceito. A existência de limites tem sido mostrada amplamente pela experiência. Pode-se ultrapassá-los de vez em quando, mas insistir na aventura acaba normalmente em desastre. Inflação e desequilíbrio externo são consequências bem conhecidas e muito frequentes na História do Brasil.
Inflação e desajuste crescente no balanço de pagamentos já estão presentes no cenário brasileiro, apesar do crescimento pífio dos últimos dois anos e meio. Ninguém deveria iludir-se com o recuo de alguns índices desde o mês passado. A redução dos preços dos alimentos tem efeito passageiro na formação dos indicadores, assim como a redução das tarifas de transporte coletivo. Grandes fatores inflacionários, como o desarranjo fiscal, a expansão do crédito e os aumentos salariais acima dos ganhos de produtividade, foram apontados, mais uma vez, na ata da última reunião do Comitê de política monetária (Copom), divulgada na quinta-feira. A ata destoou claramente do discurso presidencial do dia anterior.
Os autores do texto, no entanto, apontaram a possibilidade de um arrefecimento da demanda se nada for feito para reverter a tempo a crise de confiança do setor empresarial e das famílias. Por enquanto, "a demanda doméstica tende a se apresentar relativamente robusta, especialmente o consumo das famílias", segundo a ata. Mas os sinais de alerta já estão acesos. O texto contém o suficiente para indicar o risco de uma estagnação mais ampla, mas seus autores poderiam ter ido mais longe. Se o consumo cair, o investimento continuar insuficiente e a indústria continuar em marcha lenta, como ficarão as já estropiadas finanças públicas?
Não há resposta para o problema do crescimento, no Brasil, sem a ação do governo, mas o governo está atolado na própria incompetência gerencial, na indigência de ideias de seus formuladores de políticas e num esquema pegajoso e sufocante de alianças políticas.
No Brasil, dizem especialistas, nenhum presidente pode governar sem acordos, às vezes com parceiros da pior espécie. Pode ser. Em muitos países coalizões são indispensáveis à operação do governo. Alianças, no entanto, são em geral precedidas de algum entendimento a respeito de objetivos e métodos. É o caso, em países da Europa, da formação de gabinetes para enfrentar a crise fiscal e financeira.
A peculiaridade brasileira é outra: programas são secundários e o fundamento das alianças é a partilha dos benefícios do poder. Não se divide o governo como responsabilidade, mas como butim. Esse padrão se fortaleceu com a disposição petista de aparelhar e lotear a máquina federal. Nada mais natural, quando um partido chega ao Palácio do Planalto com um projeto de poder e nenhum projeto real de governo.
Sem alianças em torno de um programa, o governo é forçado a negociar com a base a votação de cada projeto, como se nenhuma ideia geral desse um sentido comum às várias propostas. Não se pode sequer confiar na aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, condicionada pelos companheiros à adoção de um impropriamente chamado orçamento impositivo - na prática, uma simples manobra para tornar obrigatória a liberação de verbas para emendas.
A um governo com essas condições de funcionamento - e comandado por uma presidente cada vez mais isolada - cabe a missão de promover a mudanças necessárias para destravar a economia, aumentar seu potencial de crescimento e impor ao País um ritmo de expansão mais parecido com o dos emergentes mais dinâmicos.
Nenhuma tarefa importante será cumprida se a presidente Dilma Rousseff e sua equipe forem incapazes de começar a arrumação das próprias contas. Para isso será necessário desfazer a confusão de incentivos temporários e permanentes, trocar as ações pontuais pelas chamadas políticas horizontais e cortar o vínculo incestuoso entre o Tesouro e os bancos controlados pela União.
Tudo isso deverá ser apenas o começo de uma lista enorme de mudanças. Elevar a eficiência na elaboração e na condução de projetos de infraestrutura será outro desafio tão duro quanto urgente. Sem isso, até como exportador de matérias-primas o País será cada vez menos competitivo.
Que dirão dessa agenda os marqueteiros eleitorais da presidente?
Sem o governo nenhum problema se resolverá, mas o próprio governo é o primeiro problema.

A inflação perde força - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 20/07

A inflação deu sinais fortes de desaceleração. A evolução do Índice de Preços ao Consumidor Amplo do dia 15 (IPCA-15), divulgado ontem, mostrou perda de força nos preços, fator que pode dar algum alento à combalida atividade econômica.

(Esse IPCA-15 é o mesmo IPCA, com a diferença de que a evolução dos preços em 30 dias não é fechada no final, mas no meio do mês: vai do dia 15 anterior ao dia 15 do mês de referência, aproximadamente.)

Ainda se nota algum efeito artificial, digamos assim. Um dos itens que mais contribuíram para a redução da inflação foi a retirada dos reajustes nas tarifas dos transportes coletivos nas grandes cidades, atraso que ainda deve provocar certa distorção. Em todo o caso, o recuo no mês foi bastante expressivo, de 0,55%.

A desaceleração também foi puxada pela redução dos preços dos alimentos (-0,18%, no mês, e +11,6% em 12 meses), em consequência da queda das cotações das commodities.

Em contraposição, permanece substancial o avanço dos preços no setor de serviços, de 0,69% em junho e de 8,6% em 12 meses. Já nas despesas com habitação, a alta foi de 0,60% em junho, embora em 12 meses tenha sido bem mais baixa (3,1%). A inflação também se mantém espalhada demais, na medida em que o índice de difusão (número de itens da cesta de consumo em alta) continua elevado (55,5%).

Como o Banco Central deixou claro na Ata do Copom divulgada quinta-feira, as atenções agora se voltam para o efeito sobre a inflação que começa a ser provocado pelo repasse do avanço das cotações do dólar no câmbio interno, de cerca de 10% em dois meses.

Esse não é o único fator que pressiona em direção ao aumento dos preços. Como também foi enfatizado pela Ata, a inflação está sendo alimentada pela política fiscal (receitas e despesas do governo) insuficientemente austera, que vem exigindo demais da política de juros, e pelo ainda forte aquecimento do mercado de trabalho.

É cedo para afirmar que a desaceleração levará o Banco Central a reduzir a dose da alta dos juros básicos (Selic). Não dá para dizer que o aperto de 1,25 ponto porcentual desde abril para o atual nível de 8,5% ao ano já esteja contribuindo para o arrefecimento da inflação, porque a política de juros leva de seis a nove meses para produzir efeito. Além disso, é preciso ver o que acontecerá nos próximos meses. O mercado, cujas projeções são aferidas pela Pesquisa Focus, do Banco Central, aponta para uma inflação anual próxima de 5,8% em 2013, nível ainda elevado demais quando confrontado com a meta de 4,5%.

Além disso, a principal tarefa do Banco Central, no momento, é voltar a conduzir as expectativas, prerrogativa prejudicada pela política monetária voluntarista que perdurou de agosto de 2011 a março deste ano. Nesse sentido, o Banco Central não pode correr o risco de aliviar prematuramente sua política, especialmente se o governo também desistir de cumprir sua meta de superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida), de 2,3% do PIB.

Transições chinesas MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 20/07

Além de crescer menos, a China crescerá de maneira diferente, mas o Brasil, se souber, poderá aproveitar o novo momento. Na transição, o Brasil tem sido afetado pela redução dos preços de soja e minério de ferro. O que acontece na China chega aqui pelo comércio. Os chineses têm para nós a importância de quase dois Mercosul, porque representam 16% da corrente de comércio. 

O crescimento chinês de 7,5% no segundo trimestre foi o menor para o período em 23 anos. O número foi um alívio porque se chegou a temer que fosse mais baixo. A redução que houve até agora já impactou os preços de soja e minério de ferro. Para se ter uma ideia, o preço do minério exportado pelo Brasil em julho foi 8% menor do que em junho. 

O embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, presidente do Cebri, lembra que, apesar de tudo, a corrente de comércio Brasil-China este ano está 9% maior que no mesmo período de 2012. Ele e o economista Pedro da Motta Veiga, diretor do Cindes, acham que o Brasil tem uma vantagem também no novo modelo para o qual a China está indo. O gigante asiático cresceu puxado pelos investimentos e exportações e agora tenta voltar-se para o consumo interno. 

- Há janelas de oportunidades no novo modelo porque também produzimos alimentos, ao contrário de Chile e Peru, por exemplo - disse Castro Neves. 

- Os minérios vão perder, mas em compensação ela vai comprar mais alimentos - completa Motta Veiga. 

O número de 7,5% é alto, mas caiu muito desde o recorde de 14% de 2007. Nos últimos 10 anos, o salto chinês fez subir o preço das duas principais matérias-primas exportadas pelo Brasil. Entre 2002 e 2012, o preço do minério de ferro subiu mais de 400%, segundo o MDIC. Nos últimos dois anos, ficou abaixo do recorde. 

Há o risco de que a transição desacelere demais a economia. Um dos sinais foi a alta dos juros do interbancário, que indicou risco de crédito. O endividamento é de 200% do PIB. 

- Não são as famílias que estão endividadas. Ao contrário, elas poupam demais e muitas vezes a poupança tem rendimento negativo. São as empresas que estão endividadas - alerta Pedro da Motta Veiga. 

O modelo até agora dependeu da exportação, o que manteve a moeda desvalorizada. Se o governo valorizar a moeda para estimular o consumo, pode perder o impulso externo sem que o consumo sustente o ritmo. A alta taxa de poupança chega a 50% do PIB: é boa para o investimento, mas freia os gastos. Sem aumento da rede de previdência será difícil mudar isso. Nada é simples na China. Na quarta, o Conselho de Segurança da Índia, chefiada pelo primeiro-ministro, decidiu criar uma força de 50 mil homens para ficar na fronteira porque concluiu que a China será ameaça maior que o Paquistão. 

Muitas mudanças e ameaças rondam nosso maior parceiro. Por enquanto, a balança comercial é favorável ao Brasil. Em 2011, tivemos saldo positivo de US$ 11,5 bi. Em 2012, US$ 6,9 bilhões. De janeiro a maio deste ano, mais US$ 2,6 bi. Temos que ficar de olhos em cada número chinês, porque tudo repercute no Brasil. 

Os Brics em Moscou - PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

O GLOBO - 20/07

Escrevo de Moscou, onde estou para reuniões dos Brics e do G-20. Digito este texto num breve intervalo entre reuniões e temo que o artigo possa sair mais descosturado do que de costume.

No meu entender, o grande interesse para o Brasil nesses encontros em Moscou reside na coordenação entre os Brics. Os cinco países estão cada vez mais próximos em termos de avaliação do quadro econômico internacional e da governança global. Tenho participado da articulação dos Brics desde o início, em 2009. Venho notando que estamos conseguindo, mais e mais, trabalhar de forma conjunta — apesar das inevitáveis diferenças de perspectiva e interesse entre países tão diferentes quanto Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Por exemplo, em Moscou avançamos consideravelmente na negociação de um Fundo Monetário dos Brics, que estamos chamando de Acordo Contingente de Reservas — Contingent Reserve Arrangement (CRA). Passo-a-passo, os Brics estão definindo os diferentes aspectos do CRA, inclusive detalhes operacionais. A coordenação dos trabalhos do CRA está a cargo do Brasil, como todos os países fortemente envolvidos.

Um processo semelhante está ocorrendo no que diz respeito ao Novo Banco de Desenvolvimento — New Development Bank (NDB), também conhecido como Banco dos Brics. Trata-se de tema ainda mais complexo do que o CRA, mas os ministros de Finanças dos Brics definiram com precisão o cronograma e o plano de trabalho para o NDB. A coordenação nesse caso cabe à África do Sul.

Os líderes dos Brics devem se reunir em setembro em São Petersburgo, à margem da cúpula do G-20. Na ocasião, entre outros assuntos, irão rever o progresso alcançado no CRA e no NDB, conforme estabelecido na cúpula dos Brics em Durban. Talvez possam fixar como meta a conclusão das negociações do CRA e do NDB até a próxima cúpula dos Brics, a ser realizada no Brasil em marco 2014. Embora os Brics ainda tenham muito trabalho pela frente, a conclusão das negociações na cúpula de 2014 é factível, pelo menos no caso do CRA.

Enquanto os Brics avançam, o G-20 não consegue sair do estado de quase coma em que se encontra desde a presidência da Franca de 2011. A presidência do México não conseguiu avançar em 2012. Neste ano, a presidência da Rússia parece estar indo pelo mesmo caminho. Passada a fase mais aguda da crise financeira e econômica dos países avançados, a solidariedade internacional arrefeceu. Não existe mais a mesma cooperação entre países avançados e emergentes, que marcou o G-20 desde fins de 2008 até 2010. O Brasil e os outros emergentes do G-20 continuam participando intensamente do processo, mas proliferam impasses e indefinições.

Democracias de mentira - ALEXANDRE VIDAL PORTO

FOLHA DE SP - 20/07

Democracia que não admite dissenso é só uma tirania eleita. Conhecemos várias, e nenhuma delas é bonita


Ser minoria é complicado. Não deveria, mas é. Os alunos de uma escola coreana em Kyoto aprenderam essa lição quando um grupo ultranacionalista japonês organizou protestos contra a utilização por eles, alunos, do parque adjacente à escola.

Para os manifestantes, o parque era só para japoneses. Filhos de estrangeiros não deveriam usá-lo.

Isso foi em 2008. Desde o começo deste ano, porém, a frequência das ações dos ultranacionalistas japoneses aumentou. Recentemente, houve manifestações em que se exigia a saída dos estrangeiros do país, sob pena de serem "massacrados".

A virulência fez com que o parlamentar Yoshifu Arita apresentasse projeto de lei criminalizando o discurso de ódio contra minorias.

A iniciativa do parlamentar é positiva. O nível da proteção estendida às minorias é indicativo da qualidade de um regime democrático.

O membro de uma minoria, seja ela étnica, política, religiosa ou sexual, tem direitos que não podem ser ameaçados ou suprimidos.

Um regime democrático que desrespeita os direitos das minorias se enfraquece. Foi o que aconteceu com Mohammed Mursi, o primeiro presidente eleito do Egito, deposto por militares no começo do mês.

Mursi e seu grupo político, a Irmandade Muçulmana, viram nas eleições uma oportunidade para impor ditames religiosos sobre toda a população, limitando os direitos individuais de quem não pensava como eles. Acabaram depostos, em resposta a milhões de pessoas que foram às ruas pedir sua saída.

Para quem controla a máquina estatal, suprimir minorias é fácil. A história está cheia de exemplos de líderes que, ao chegarem ao poder, governaram autocraticamente, desprezando visões oposicionistas.

Alguns, como Mursi, haviam sido eleitos por voto popular. Nesses casos, quem perde é a democracia.

Líderes eleitos governam para todos --para os que com eles concordem ou não. Achar que as urnas asseguram o direito de ignorar os eleitores derrotados é autoritário.

Trata-se de visão simplista, convenientemente deturpada, que considera a existência de eleições fator suficiente para conferir caráter democrático a um regime político.

Acontece que, para o verdadeiro exercício da democracia, eleições são só o começo. É preciso, também, o respeito a uma ordem constitucional pluralista, imprensa e instituições livres, e um sistema judiciário que aplique a lei com equidade.

Sobretudo, democracia pressupõe garantia aos direitos individuais. Sem isso, não adianta querer posar de democrático.

A intransigência que inviabilizou o governo de Mohammed Mursi e aleijou a democracia egípcia pode ser observada em diversos lugares.

Líderes eleitos com instintos autoritários parecem acreditar que a vitória alcançada nas urnas lhes confere permissão para suprimir direitos aos que a eles se opõem.

Com o objetivo de se eternizarem no poder, destroem o próprio sistema que os habilitou a governar.

Democracia que não admite dissenso é só uma tirania eleita. Conhecemos várias, e nenhuma delas é bonita de se ver.


Divã coletivo - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 20/07


Petistas que têm cargos no Executivo reativaram reuniões para avaliar a gestão. Elas eram comuns no governo Lula. Entre estes, há descontentamento com os rumos do governo Dilma. Eles pregam: reforma ministerial, mais integração entre suas pastas e autonomia para trabalhar. E preveem que o modelo Dilma/Belchior, de corte de custeio, vai travar ainda mais a atual administração.

Eles estavam lá
A primeira destas reuniões, de executivos petistas, foi aberta pelo presidente do PT, Rui Falcão. Mas ele não ficou para ouvir. A segunda, na presença do deputado Ricardo Berzoini, candidato a ministro das Relações Institucionais.

A pleno vapor
O governo está apostando todas as suas fichas no segundo semestre. Avaliam que o clima do país, hoje de apreensão, vai mudar. Acreditam que a economia vai melhorar. A presidente Dilma vai entregar 200 mil habitações do Minha Casa Minha Vida, que se diz no Planalto é tarefa para uma centena de viagens. Contabilizam também, na agenda positiva, a entrada de dinheiro em caixa com os leilões de rodovias e de 50 terminais de portos. Citam ainda a licitação internacional do Trem de Alta Velocidade e com os bilhões que vão entrar pelas mãos de quem se habilitar a explorar o campo petrolífero de Libra. E lembram que no PAC vai ter muita coisa para entregar.

“Paulinho, você vai mesmo concorrer contra o Rui (Falcão)? Faz um acordo. O PT não deveria ter uma disputa agora”
Luiz Inácio Lula Silva
Ex-presidente da República, num encontro com o deputado Paulo Teixeira (SP), candidato da Mensagem

Ele concordou
O líder do PT, José Guimarães (CE), que ontem desautorizou o coordenador da reforma política, Cândido Vaccarezza (PT-SP), estava na sala do presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), quando foi tomada a decisão. Lá, contam que Guimarães não só estava na reunião como concordou com a escolha de Vaccarezza.

Armadilha
O PT, dizem peemedebistas, caiu na armadilha de ficar com a coordenação da reforma política no Congresso. Tudo o que não acontecer, ficará na conta do partido da presidente Dilma.

O desabafo
Internado em São Paulo desde maio para tratar um câncer, o governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), foi surpreendido ontem por reforma no seu secretariado feita pelo seu vice, Jackson Barreto (PMDB). Ele protestou no Twitter: “Jackson nomeou o presidente da Codise à minha revelia. Estou triste e decepcionado. Minha saúde não me permite mais do que o desabafo”.

Bolsa de apostas
Mesmo com a presidente Dilma não realizando a reforma ministerial agora, como desejam setores do PT e do PMDB, há parlamentares trabalhando para que o ex-ministro Franklin Martins volte para o Planalto, mas para assumir a Casa Civil.

Sintonia fina
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, fez elogios numa roda de parlamentares ao secretário-geral do partido, Saulo Queiroz, por este ter afirmado que não seria "decente" abandonar a presidente Dilma neste momento de dificuldades.

No PT, o sentimento é de frustração com a ausência da presidente Dilma na reunião do Diretório Nacional. Seria cobrada, mas receberia apoio.

Occupy Leblon - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 20/07

Aliados de Sérgio Cabral (PMDB) veem uma série de erros do governador do Rio na negociação com os manifestantes que ocupam a frente de seu prédio, no Leblon. O principal deles teria sido a retirada de ativistas, o que fez com que a ocupação recrudescesse. Para tentar reverter o desgaste, a ordem no governo é apontar a participação de criminosos nos protestos. Serviços de inteligência da polícia teriam detectado que até ex-policiais vinculados a milícias se infiltraram nos atos.

Zen 
A aliados, Cabral declarou que é preciso manter a serenidade diante de provocações, mas manifestou preocupação com os danos que atos de violência podem causar à imagem do Rio.

Quem avisa... 
Insistindo na vulnerabilidade da segurança do papa Francisco ao Brasil, o governo recomendou ontem pela segunda vez a emissários do Vaticano trazer o papamóvel blindado ao país. A proposta foi recusada.

Ansiolítico 1 
Pesquisa encomendada pelo governo, com 2.000 entrevistas, mostrou aprovação ao programa Mais Médicos, lançado na semana passada e bombardeado por entidades do setor.

Ansiolítico 2 
Segundo a pesquisa, 78% aprovam a criação do segundo ciclo, pelo qual estudantes de medicina têm de atuar dois anos no SUS antes de se formar. Já a contratação de médicos estrangeiros é mais polêmica: 51% são a favor e 45% contra.

Padrão global 
Usando a hashtag de "Amor à Vida" nas redes sociais, médicos contrariados com o Mais Médicos pedem hospitais do mesmo nível de excelência da instituição do personagem Cesar, vivido por Antonio Fagundes na novela da Globo.

Alfinetada 
Da ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil), sobre a comparação feita por peemedebistas entre ela e a Barbie: "Achei graça porque a boneca é mais querida e popular que muito deputado".

Vem... 
Deputados petistas tentarão aprovar uma moção na reunião de hoje do diretório nacional do partido para retirar Cândido Vaccarezza (PT) da coordenação do grupo de trabalho da reforma política na Câmara.

...pra rua 
A bancada alega que o PT precisa insistir na realização de um plebiscito ainda este ano, o que não é o foco da comissão. Até ontem, 40 dos 89 deputados do partido haviam assinado nota contra a permanência de Vaccarezza no grupo.

W.O. 
Nenhum deputado do PMDB prestigiou a visita de Dilma Rousseff ao Ceará, na quinta-feira. A bancada, afinada com o líder Eduardo Cunha (PMDB-RJ), boicotou deliberadamente a agenda.

Álibi 
O senador Eunício Oliveira (CE) justificou a ausência pela necessidade de acompanhar a filha em exames médicos nos EUA.

Sintonia... 
Em conversa ontem, Dilma e Joaquim Barbosa voltaram a falar de reforma política e da simpatia de ambos por uma lei de iniciativa popular sobre o tema, para valer ainda em 2014.

...fina 
Segundo interlocutores, o presidente do Supremo Tribunal Federal defende que um eventual projeto trate do recall, em que a sociedade poderia retirar o mandato de políticos eleitos.

Agenda 
Integrantes do PPS receberam notícia de que a assessoria técnica do TSE concluiu um parecer sobre a distribuição de tempo de TV e fundo partidário para novas siglas --pendência para concretizar a fusão com o PMN.

Numa nice 
PPS e PMN dizem que a distribuição de cargos no MD não é entrave à fusão e negociam apenas o prazo de registro da sigla.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Se Lula lesse jornal, saberia que o PSDB propôs o fim da reeleição para 2018. Aliás, quem tem medo da Dilma em 2014 é o PT."
DO LÍDER DO PSDB NA CÂMARA, CARLOS SAMPAIO (SP), sobre o ex-presidente ter dito que os tucanos querem o fim da reeleição por medo de enfrentar Dilma.

contraponto


Meu pirão primeiro

Em reunião da cúpula paulista do PMDB nos anos 80, o então deputado Aloysio Nunes Ferreira apresentou um pedido de intervenção no diretório do partido em um pequeno município do Estado. Para isso, precisou telefonar para o presidente nacional da sigla, Ulysses Guimarães.

Constrangido por incomodar o dirigente com um assunto aparentemente irrelevante, Aloysio pediu desculpas e disse que tomaria as providências. Ao perceber que a cidade em questão tinha lhe dado muitos votos na eleição anterior, Ulysses protestou:

--Nesse caso, eu peço vista! Vamos decidir com calma!