O GLOBO - 20/07
Escrevo de Moscou, onde estou para reuniões dos Brics e do G-20. Digito este texto num breve intervalo entre reuniões e temo que o artigo possa sair mais descosturado do que de costume.
No meu entender, o grande interesse para o Brasil nesses encontros em Moscou reside na coordenação entre os Brics. Os cinco países estão cada vez mais próximos em termos de avaliação do quadro econômico internacional e da governança global. Tenho participado da articulação dos Brics desde o início, em 2009. Venho notando que estamos conseguindo, mais e mais, trabalhar de forma conjunta — apesar das inevitáveis diferenças de perspectiva e interesse entre países tão diferentes quanto Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Por exemplo, em Moscou avançamos consideravelmente na negociação de um Fundo Monetário dos Brics, que estamos chamando de Acordo Contingente de Reservas — Contingent Reserve Arrangement (CRA). Passo-a-passo, os Brics estão definindo os diferentes aspectos do CRA, inclusive detalhes operacionais. A coordenação dos trabalhos do CRA está a cargo do Brasil, como todos os países fortemente envolvidos.
Um processo semelhante está ocorrendo no que diz respeito ao Novo Banco de Desenvolvimento — New Development Bank (NDB), também conhecido como Banco dos Brics. Trata-se de tema ainda mais complexo do que o CRA, mas os ministros de Finanças dos Brics definiram com precisão o cronograma e o plano de trabalho para o NDB. A coordenação nesse caso cabe à África do Sul.
Os líderes dos Brics devem se reunir em setembro em São Petersburgo, à margem da cúpula do G-20. Na ocasião, entre outros assuntos, irão rever o progresso alcançado no CRA e no NDB, conforme estabelecido na cúpula dos Brics em Durban. Talvez possam fixar como meta a conclusão das negociações do CRA e do NDB até a próxima cúpula dos Brics, a ser realizada no Brasil em marco 2014. Embora os Brics ainda tenham muito trabalho pela frente, a conclusão das negociações na cúpula de 2014 é factível, pelo menos no caso do CRA.
Enquanto os Brics avançam, o G-20 não consegue sair do estado de quase coma em que se encontra desde a presidência da Franca de 2011. A presidência do México não conseguiu avançar em 2012. Neste ano, a presidência da Rússia parece estar indo pelo mesmo caminho. Passada a fase mais aguda da crise financeira e econômica dos países avançados, a solidariedade internacional arrefeceu. Não existe mais a mesma cooperação entre países avançados e emergentes, que marcou o G-20 desde fins de 2008 até 2010. O Brasil e os outros emergentes do G-20 continuam participando intensamente do processo, mas proliferam impasses e indefinições.
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