O GLOBO - 20/07
Além de crescer menos, a China crescerá de maneira diferente, mas o Brasil, se souber, poderá aproveitar o novo momento. Na transição, o Brasil tem sido afetado pela redução dos preços de soja e minério de ferro. O que acontece na China chega aqui pelo comércio. Os chineses têm para nós a importância de quase dois Mercosul, porque representam 16% da corrente de comércio.
O crescimento chinês de 7,5% no segundo trimestre foi o menor para o período em 23 anos. O número foi um alívio porque se chegou a temer que fosse mais baixo. A redução que houve até agora já impactou os preços de soja e minério de ferro. Para se ter uma ideia, o preço do minério exportado pelo Brasil em julho foi 8% menor do que em junho.
O embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, presidente do Cebri, lembra que, apesar de tudo, a corrente de comércio Brasil-China este ano está 9% maior que no mesmo período de 2012. Ele e o economista Pedro da Motta Veiga, diretor do Cindes, acham que o Brasil tem uma vantagem também no novo modelo para o qual a China está indo. O gigante asiático cresceu puxado pelos investimentos e exportações e agora tenta voltar-se para o consumo interno.
- Há janelas de oportunidades no novo modelo porque também produzimos alimentos, ao contrário de Chile e Peru, por exemplo - disse Castro Neves.
- Os minérios vão perder, mas em compensação ela vai comprar mais alimentos - completa Motta Veiga.
O número de 7,5% é alto, mas caiu muito desde o recorde de 14% de 2007. Nos últimos 10 anos, o salto chinês fez subir o preço das duas principais matérias-primas exportadas pelo Brasil. Entre 2002 e 2012, o preço do minério de ferro subiu mais de 400%, segundo o MDIC. Nos últimos dois anos, ficou abaixo do recorde.
Há o risco de que a transição desacelere demais a economia. Um dos sinais foi a alta dos juros do interbancário, que indicou risco de crédito. O endividamento é de 200% do PIB.
- Não são as famílias que estão endividadas. Ao contrário, elas poupam demais e muitas vezes a poupança tem rendimento negativo. São as empresas que estão endividadas - alerta Pedro da Motta Veiga.
O modelo até agora dependeu da exportação, o que manteve a moeda desvalorizada. Se o governo valorizar a moeda para estimular o consumo, pode perder o impulso externo sem que o consumo sustente o ritmo. A alta taxa de poupança chega a 50% do PIB: é boa para o investimento, mas freia os gastos. Sem aumento da rede de previdência será difícil mudar isso. Nada é simples na China. Na quarta, o Conselho de Segurança da Índia, chefiada pelo primeiro-ministro, decidiu criar uma força de 50 mil homens para ficar na fronteira porque concluiu que a China será ameaça maior que o Paquistão.
Muitas mudanças e ameaças rondam nosso maior parceiro. Por enquanto, a balança comercial é favorável ao Brasil. Em 2011, tivemos saldo positivo de US$ 11,5 bi. Em 2012, US$ 6,9 bilhões. De janeiro a maio deste ano, mais US$ 2,6 bi. Temos que ficar de olhos em cada número chinês, porque tudo repercute no Brasil.
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