FOLHA DE SP - 20/07
RIO DE JANEIRO - Em 2000, a cultura brasileira ganhou um senhor presente: a caixa "Noel Pela Primeira Vez", com 14 CDs contendo as gravações originais das 229 composições de Noel Rosa (1910-1937), assinadas ou não. Foi o resultado de um esforço de 11 anos (1987-1998) do professor (de biologia) e pesquisador paulistano Omar Jubran. Ou seja, Jubran levou mais tempo para compilar a obra de Noel do que este para construí-la.
O que nos EUA costuma ser o trabalho de uma equipe, com o apoio de instituições como a Smithsonian e valendo-se de verbas e arquivos generosos, aqui é a luta de um homem e dos abnegados que se dispõem a ajudá-lo. Num país onde se joga tudo fora, imagine o que seja procurar discos de cera, de 78 rpm, fabricados há 70 anos --alguns de cuja existência o pesquisador só tinha uma vaga referência; outros, de que nem sabia; e todos, ao ser encontrados, exigindo pesada restauração.
Entre completar seu levantamento de Noel e conseguir que ele viesse à luz, Jubran teve de esperar outros dois anos, até 2000 --quando a caixa finalmente saiu, graças ao interesse da Funarte, da AAD (Associação dos Amigos da Funarte) e da gravadora Velas. Ninguém ganhou dinheiro com isso. Somente o Brasil ficou mais rico.
Agora, Jubran tem em mãos outro trabalho, ainda maior em extensão e ao qual também dedicou quase dez anos: a obra de Ary Barroso. Pelo equivalente a 20 CDs, lá estão todas os sambas e canções de Ary por seus intérpretes originais --316 fonogramas, quase 100 a mais que os de Noel. Jubran não pediu dinheiro a ninguém para procurar essas raridades. Procurou e achou.
E, de novo, ele espera que uma instituição queira prensar tal tesouro e pô-lo ao alcance das pessoas. É um projeto caro? Não. Mais barato do que contratar qualquer banda de rock para fazer um show na praia.
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