quarta-feira, novembro 23, 2011

Cronistas são os outros! - TUTTY VASQUES



O ESTADÃO - 23/11/11

Chamado a palpitar como "cronista" em três debates nos últimos 20 dias, tenho exposto nessas ocasiões o mais profundo constrangimento por me incluir em uma categoria que, quando comecei a escrever, reunia gênios como Rubem Braga, Otto Lara Resende, Antônio Maria, Sérgio Porto, Nelson Rodrigues, Paulo Mendes Campos e, para não ficar só nos mortos, Ivan Lessa, Verissimo e Millôr.
Caras iluminados, cujo talento incomum conquistou o direito de ser o que Drummond definia como "o mais livre dos redatores de um jornal". Só o cronista podia escrever com humor, espírito crítico ou pura poesia o que lhe desse na telha e coubesse em seu espaço de alto de página. A arte de olhar o mundo pelo próprio umbigo não era pra qualquer um no tempo em que não havia internet.
Hoje em dia, como se sabe, somos milhares escrevendo pelos cotovelos sem nenhuma cerimônia com o leitor - ô, raça! -, sempre disposto a interagir com o autor que dê voz à sua indignação crônica contra tudo-isso-que-aí-está.
Sou, nesse espectro da conversa fiada, apenas um gaiato desenturmado em qualquer debate que se proponha. Mil desculpas a quem foi me ver ontem no CCBB de São Paulo esperando coisa melhor.

Todos iguais Tem uma coisa estranha nessas fotografias de chineses nus postadas na internet em solidariedade ao artista dissidente Ai Weiwei: tente identificar quem é homem na foto abaixo!

Deixa solto! Tem torcedor do Corinthians preocupado com a dieta severa do Adriano: "Se ele emagrecer mais, estraga!"

Campeão de audiência Já tem candidato a galã da Globo saindo no tapa atrás de convite para a festa de 60 anos de Walcyr Carrasco na cobertura do autor de novelas. Vai acontecer em dezembro se a vizinhança de Higienópolis não encrencar antes com a gente diferenciada que promete aparecer de surpresa.

Melhor falando Quem já ouviu Il Vero Amores, CD de Silvio Berlusconi que chega nesta semana às lojas de disco, garante: a Itália ainda vai sentir saudades dos pronunciamentos do ex-premiê!

Só o que faltava! Tomara que não vire moda no verão a anunciada tendência de "depilação artística na virilha" das moças com desenhos de estrelas, corações, letras, luas, coelhinhos, maçãs...

É da 3ª via? Que diabos o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp, quis dizer com "Gabriel Chalita será o candidato da terceira via"? Por muito menos, o Kassab ficou chateado com a Marta nas últimas eleições em SP.

Querido, cheguei! Quando, afinal, Ideli Salvatti vai quebrar o silêncio que a presidente Dilma lhe impôs? O marido da ministra não aguenta mais o tanto que ela fala quando chega em casa!

‘Bye, bye, Brazil’ - ANCELMO GOIS



O GLOBO - 23/11/11



A americana Kinder Morgan, que engoliu a gigante El Paso por US$ 21 bi, em outubro, procura interessados nos campos de petróleo que, com a compra, passou a ter aqui. Quer vendê-los.
Pode ser o fim das atividades da El Paso no Brasil.

Mulheres no poder
A carioca Magda Chambriard, engenheira civil com pós em engenharia química pela UFRJ, deve ser nomeada diretora-geral da ANP até o fim do ano. O mandato de Haroldo Lima, do PCdoB, acaba dia 11. Magda já é da diretoria da agência.

Ministro Saci
Aldo Rebelo, nacionalista radical, proibiu estrangeirismos no Ministério do Esporte. Autor na Câmara do Dia do Saci, por ser contra o Dia das Bruxas, mandou abolir “internet”, “site” e “release”. No lugar, serão usadas “rede mundial de computadores”, “portal ou sítio” e “informações para imprensa”.

Calma, gente
Uma estudante italiana não pôde renovar seu visto de permanência em Belo Horizonte. O agente da Polícia Federal explicou que era represália, porque brasileiros estariam tendo dificuldades na Itália ainda por causa do caso Cesare Battisti.

Mãe é mãe
De dona Mercedes Jimenes, 85 anos, ao encontrar outro dia Miguel Falabella, autor de “Aquele beijo”, a novela da TV Globo na qual sua filha Cláudia Jimenes faz a mãe de santo Iara:

— Você precisa escrever mais para minha filha! Ela está aparecendo muito pouco na novela!

Não me deixe
Paulo Coelho dará uma festa hoje, em Madri, pelos 60 anos de sua mulher, a artista plástica Christina Oiticica. O mago vai cantar “Ne me quittes pas” (“Não me deixe”), de Jacques Brel. A canção, diz, marcou dias tumultuados do casal. Não é fofo? 

‘Lampião era gay’
Será lançado amanhã o livro “Lampião, o mata sete”, do juiz e pesquisador sergipano Pedro de Morais. Polêmico, diz que Lampião era gay, e Maria Bonita só entrou no bando para afastar sua “má fama”. Há controvérsias.

Retratos da vida
Marcos Paulo, o diretor da TV Globo que se recupera do câncer, vai cair no samba em 2012. Sairá na bateria da Mocidade, da qual sua mulher, Antônia Fontenelle, é rainha. Tocará tamborim ou reco-reco.

Não quer festa
Dilma, preocupada com a saúde de Lula, sinalizou a amigos que, este ano, vai preferir comemorar seu aniversário, dia 14 de dezembro, de modo discreto. Não quer, de jeito nenhum, um repeteco daquele grande bolo do PT do ano passado.

MMA, sou contra
O MMA Jungle Fight marcado para sábado na Mangueira corre risco de não acontecer. É que os organizadores do evento, planejado antes da pacificação, não pediram o “nada a opor” à polícia. A delegada Monique Vidal afirma que, sem a autorização, ninguém sobe no tatame. Está certa.

Verão sem Noite
O projeto Noites Cariocas não será realizado em 2012.

Serra Sons
O MP do Rio pediu à Justiça o bloqueio de bens da empresa Cartão Postal Editora e Publicidade e de seus sócios-administradores, responsáveis pelo festival Serra Sons, em Lumiar, RJ. É que o festival, não realizado, lesou umas 5 mil pessoas. A ação, da promotoria de Nova Friburgo, estimou uma indenização de R$ 300 por pessoa.

Bola Preta
O carnaval de 2012 do Cordão da Bola Preta está nas mãos da 15a- Câmara Cível do Rio. Os desembargadores julgarão recurso contra decisão que, por pendências judiciais, proibiu o Bola de receber verba públicas.

Miaaaauuuu
O gato flagrado por uma senhorinha na sala de exibição do Estação Sesc Botafogo, sábado, motivo de nota aqui ontem, é... velho morador do cinema, acredite. Aliás, moradora. É fêmea. A bichana é uma mascote. Segundo a administração, o cinema tem um gato desde 1985: “Pedimos desculpas, a gata tem o canto dela, não pode circular pelas salas. Por isso, já está de castigo!” Tadinha, gente.
ESTA CORUJA
simpática, que surgiu no quintal da leitora Sílvia Meszaros, no Jardim Botânico, desafia a canção de São Vinicius de Moraes (1913- 1980), lembra? — aquela que dizia “Uorujinha, coitadinha/Que feinha que é você.” A formosa, repare, parece de pelúcia. É um filhote de murucututu-debarriga-amarela (Pulsatrix koeniswaldiana). Segundo o veterinário André Sena Maia, a penosa faz ninho em troncos ocos, como este aí, e se reproduz entre a primavera e o verão. Que Deus a proteja, e a nós não desampare

Férias frustradas - DENISE ROTHENBURG



CORREIO BRAZILIENSE - 23/11/11


Em janeiro, sem pressão dos congressistas, será a hora de a presidente mostrar quem manda. Se for Dilma a comandante, ela deve aproveitar para trocar as peças que apresentaram defeito ao longo deste ano. Se deixar quase tudo como está, o sinal de que se rendeu ao rame-rame da política estará dado.
Quem esperava sair de férias em janeiro, pode começar a mudar de ideia. Pelo menos para os que trabalham na Esplanada dos Ministérios. A intenção da presidente Dilma Rousseff é aproveitar o período para fazer mudanças na equipe. E isso não tem nada a ver com a pressão do PT para que ela libere logo o ministro da Educação, Fernando Haddad. Tampouco tem relação direta com o fato de ser, tradicionalmente, o mês em que muita gente aproveita para reorganizar a casa. 
Os motivos de Dilma para mudar o ministério apenas em janeiro são outros. Têm relação direta com o fato da calmaria de Brasília nesse período, leia-se o recesso do Legislativo e do Judiciário. Sem o barulho do Congresso, fica mais fácil mexer no ministério. Dilma poderá escolher sem ter, na porta do gabinete presidencial, a pressão dos partidos aliados e do próprio PT, que, vez por outra, espeta a presidente da República. 
Aquela história de criar um Ministério de Direitos Humanos, que iria reunir as secretarias de Políticas para as Mulheres e de Igualdade Racial está praticamente descartada. Afinal, onde Dilma iria colocar as correntes petistas? 
Embora as mudanças na equipe sejam mais pontuais do que as esperadas, na mesma época, Dilma pretende fazer as mudanças nas agências reguladoras. São seis cargos vagos, além da direção-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), de onde Haroldo Lima sai em dezembro deste ano. Tem cadeira nas agências da Saúde, na de Transportes Terrestres e até na Ancine. 
Se Dilma cumprir o que tem dito a alguns amigos, é melhor a turma da Esplanada se preparar, porque janeiro será de muito trabalho. Diz-se nos gabinetes de Brasília que, quando há mudança de chefia, no caso, de ministros, ninguém sai de férias, aquela turma que só chega atrasada no trabalho começa a aparecer na hora certa, ficar até mais tarde e por aí vai. Neste janeiro, será uma boa hora para verificar se é assim mesmo. 
Os deputados é que detestam ter que passar por Brasília nessa época do ano. Afinal, é quando muitos aproveitam para desovar as milhas acumuladas nos programas das companhias aéreas e levar a família para um bom período à beira-mar, nas estações de esqui da Europa ou mesmo na Disney, sem as filas de julho. Eles não costumam sucumbir aos chamados, a não ser quando há eleição para presidente da Câmara e do Senado, o que não é o caso deste ano. 
Portanto, reza a tradição, não tem mesmo época melhor para Dilma empreender uma reforma ministerial. Vai testar funcionários e parlamentares. Os políticos talvez não se animem muito a passar pela capital da República. Afinal, eles não têm tido muito sucesso na hora de promover indicações para a presidente Dilma. Há alguns meses, o PT tentou emplacar ex-parlamentares em agências reguladoras. Apresentou, por exemplo, o nome de Cida Diogo, do Rio de Janeiro, para uma das agências da Saúde. Dilma não aceitou. 
A presidente não se incomoda com indicações feitas por políticos, mas quer que os indicados sejam técnicos e do setor em que pretendem trabalhar. Até agora, ela se deu muito bem perante a opinião pública por ter a imagem de quem não compactua com malfeitos dos outros e que não se rende ao rame-rame da política. Ainda é cedo para dizer, mas, apesar da manutenção do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, nada indica que essa visão que o eleitor tem da presidente tenha sofrido alguma alteração. 
Em janeiro, sem pressão dos congressistas, será a hora de a presidente mostrar quem manda. Se for Dilma a comandante, ela deve aproveitar para trocar as peças que apresentaram defeito ao longo deste ano. Se deixar quase tudo como está, o sinal de que se rendeu ao rame-rame da política estará dado. O fato de ter praticamente desistido de enxugar a máquina pública para abrigar as tendências do PT é preocupante. Afinal, o número de ministérios não pode ser medido em função das acomodações partidárias e sim em razão da disponibilidade de recursos e das necessidades do país. Mas a ideia de fazer em janeiro para fugir das pressões políticas é um alento. Vamos ver quem vai vencer no fim, se o interesse partidário ou o público. Se for o segundo, o contribuinte agradece. 

GOSTOSA


O FGC virou o mico da banca - ELIO GASPARI


O GLOBO - 23/11/11





Em abril, Murilo Portugal, presidente da Federação Brasileira de Bancos, poderá assumir a direção do Fundo Garantidor de Créditos. Tomara que dê certo, com resultados melhores do que a tentativa da Febraban de azucrinar a vida de quem recebia nota pintada de vermelho em caixa eletrônico.

O FGC é uma instituição que, em tese, preserva a vitalidade do sistema bancário. Criado durante o tucanato, é alimentado pelos bancos, sem dinheiro da Viúva, e se destina a garantir depósitos dos correntistas de instituição que venha a quebrar. Nos cofres do FGC há hoje algo como R$20 bilhões, colocados lá pela patuleia que toma empréstimos e, neles, paga taxas bancárias.

Na prática, o FGC virou uma ação entre amigos na qual a má qualidade da fiscalização do Banco Central juntou-se à má administração de bancos com diretores bem relacionados.

Durante a crise de 2008, o Fundo Garantidor foi um colchão eficiente para evitar uma crise de crédito. Socorreu 24 pequenos bancos emprestando-lhes R$4 bilhões. Nessa época, elevou-se a garantia dos depositantes de R$20 mil para R$70 mil. Como havia perigo de incêndio, criou-se uma proteção especial, que vai até R$20 milhões para papéis denominados DPGEs. Ela está aí até hoje. Há assim uma garantia para os cavalgados e outra para os cavalcantis.

No fim do ano passado, o FGC socorreu com R$2,5 bilhões o Banco PanAmericano, do empresário Silvio Santos. Foi a maior operação de sua história, concluída com a compra da instituição pelo BTG Pactual. O buraco era maior do que se pensava e o Fundo perderá alguns bilhões de reais. Até setembro passado, as arcas do FGC puseram R$8,5 bilhões em 26 bancos. Há mais gente na fila e, como sempre, há na fila interesses que nela já estiveram e a ela pretendem voltar.

Passados 16 anos da criação do FGC, a grande banca coabita com um mico. Aquilo que seria a privatização do risco bancário transformou-se numa terceirização de funções do Banco Central e numa modalidade de almoço grátis. Enquanto a alta finança inventou o conceito de "grande demais para quebrar", a baixa finança nacional criou os "pequenos demais". Pequenos no tamanho, não nos vínculos. No caso do PanAmericano, felizmente rastreou-se a generosidade com que seus diretores aspergiam dinheiro para candidatos petistas (legalmente) e para o tucanato alagoano, pagando contas que não eram suas.

Pode-se entender que bancos quebrem na Europa. No Brasil, se uma instituição financeira vai à garra, de duas uma: ou foi saqueada (o que ocorre na maioria dos casos) ou foi administrada por irresponsáveis. Do Banco Santos, que estava nas duas condições, o FGC só conseguiu recuperar 25% do que lá pôs.

Se os administradores do Fundo blindarem seu cofre, inclusive recusando tratativas verbais com o Banco Central, é possível que ele passe a garantir apenas os depositantes. Não se pode tirar dinheiro do FGC sem que a autoridade monetária sugira e justifique a operação, por escrito, documentando o processo. As negociações ocorridas em Wall Street na crise de 2008, bem como os nomes dos negociadores, são mais ou menos conhecidos. As conversas que levaram metade do PanAmericano para a Caixa, seu rombo para o FGC e o que sobrou para o Pactual ainda estão numa caixa de surpresas. O caso está na Polícia Federal.

Lobistas - ANTONIO DELFIM NETO



FOLHA DE SP - 23/11/11


Em relação ao mercado financeiro, há pelo menos dois fatos sobre os quais cabem muito poucas dúvidas:

1º) Do ponto de vista internacional, as "inovações" produzidas pelos "econofísicos" (os famosos "quants") acabaram sendo causa eficiente da crise bancária. Esta mostrou a fraqueza e a vulnerabilidade da "rede" de relações do sistema financeiro internacional, que até agora continua na UTI (o Fed, o BCE e o Banco da Inglaterra).

2º) Do ponto de vista nacional, a crise de 1997 e a enérgica ação do Banco Central do Brasil ajudaram a construir um sistema financeiro hígido, ágil e seguro, com um amplo espectro de fiscalização. Custou cerca de 4% do PIB, mas dispomos hoje de sofisticados mecanismos de intermediação financeira a altura dos melhores e mais seguros do mundo.

Nos EUA, após longa batalha, o governo acabou promulgando, há mais de um ano, a lei Dodd-Frank, que estabeleceu novos controles sob o mercado financeiro.

A lei (com mais de 2.000 páginas, devido à forte ação dos lobbies para torná-la inexequível) fixou "regras gerais" que estão sendo detalhadas e serão executadas por uma centena de mecanismos. Isso mostra a confusão cuidadosamente construída no Congresso americano pela ação política dos influentes lobbies de que dispõe o armipotente sistema financeiro.

O cabo de guerra entre o Executivo e o sistema financeiro (sob os olhares furtivos de parte importante do Legislativo) continua a crescer.

James Dimon, o cínico e competente presidente do JP Morgan, não tem pudor em afirmar que o controle sugerido pela lei "reduzirá o crescimento econômico" e deve ser considerado "antiamericano porque coloca os EUA numa situação competitiva desvantajosa". Só se for em relação aos "predadores europeus" que, ele sugere, continuarão com as mãos livres!

A American Bankers Association e o Institute of International Finance dão suporte pretensamente "científico" a tal proposição. Em 2009, o sistema financeiro gastou mais de US$ 90 milhões com "lobbiyng"; em 2010, mais do que US$ 100 milhões e, em 2011, até hoje, US$ 50 milhões.

Felizmente, o BIS (o banco central dos bancos centrais) acaba de publicar um estudo tranquilizador produzido por representantes de bancos centrais de 15 países -o do BC foi feito pelo competente Marcos Ribeiro de Castro, que desmonta completamente os argumentos do custoso "lobby".

O efeito da regulação será modestíssimo na taxa de crescimento (menos de 0,01% por ano durante os anos de sua implantação), mas produzirá substancial redução dos riscos de destruidoras crises financeiras.

GOSTOSA


New Miami - MARTHA MEDEIROS


ZERO HORA - 23/11/11

É um senhor com diversos serviços prestados à cultura brasileira, além de ter um refinamento como já não se vê. Foi ele que me contou que encontrou um casal de amigos no aeroporto e perguntou para onde estavam embarcando. Responderam que para Paris. “E você?”. Meu amigo respondeu meio constrangido: “Para Miami”. Incredulidade. “Miami? Você, Ricardo?”

Para esse casal, Miami não passa de um shopping center atrativo para sacoleiros, e não para pessoas de bom gosto habituadas a ir a concertos de música erudita e exposições de arte. Eu tinha essa mesma impressão, e o elegante Ricardo Cravo Albin, de quem falo, idem. Nosso preconceito foi confidenciado um ao outro num bate-papo que tivemos durante uma das mais expressivas Feiras do Livro dos Estados Unidos. Pois é, a de Miami.

Admito que aceitei o convite da feira pela chance de conhecer essa cidade mítica. Não fosse a trabalho, quando iria? Jamais. Depois de fazer um passeio transcendental pelo Peru, imaginei que a Flórida seria o anticlímax. E quebrei a cara, como sempre quebram os que resolvem dar uma olhada por trás das cortinas de suas ideias prontas.

Conversando com moradores e circulando pela cidade, descobri uma Miami disposta a provar que é mais do que uma devoradora de cartões de crédito. De 10 anos para cá, foram feitos investimentos em modernas casas de espetáculos e centros culturais, que hoje recebem musicais e peças de teatro que antes só eram vistas em Nova York.

O orgulho atual é o New World Center, concebido por Frank Gehry (arquiteto do Gugenheim Bilbao) e que possui um megatelão instalado de frente para um jardim público, para que os concertos possam ser assistidos por transeuntes. Outra experiência democratizante: jovens escutam ópera e música clássica por 30 minutos, como aperitivo antes de shows de hip hop e festas techno. Educação cultural, com resultados que o futuro mostrará.

Além disso, os prédios art déco em Miami Beach são um museu a céu aberto. A Art Basel, que começa semana que vem, é a maior mostra de arte da América. E é animador caminhar pelas ruas do centro e encontrar esculturas permanentes de Botero e Henry Moore. Basta de Romero Britto.

E há o de sempre: belas praias, temperatura amena e espírito alegre. Lojas? Cheguei e saí com a mala do mesmo tamanho. Fora os outlets, que dizem ser uma oportunidade econômica imperdível, não entendo a compulsão por compras. O check in no aeroporto, na hora de embarcar de volta ao Brasil, parece um filme de terror, com pessoas tentando passar volumes enormes e suspeitíssimos: o que trazem de lá que não tem aqui?

Enfim, há vida inteligente em Miami para quem consegue desviar os olhos das vitrines. Agora, é torcer para que não construam o descomunal resort-cassino patrocinado por um grupo da Malásia, que promete ser a principal fonte de renda da cidade, já que jogo atrai mais que cultura. É a vulgaridade lutando para não ceder à – eca! – sofisticação. Resista, Miami.

Mão estendida - ILIMAR FRANCO



O GLOBO - 23/11/11

A oposição está disposta a acelerar a votação da DRU no Senado. Os líderes do DEM, Demóstenes Torres (GO), e do PSDB, Álvaro Dias (PR), querem em troca tirar o orçamento da Saúde do alcance da DRU. Sugerem também votar a emenda 29, com o texto do governador Tião Viana (AC) que aumenta a receita da Saúde em R$ 35 bilhões em 2012. “Se o governo não topar dar mais dinheiro para a Saúde vamos para o pau”, avisa Demóstenes.

O lobby dos financiadores de campanhas
Uma mudança no texto da emenda que deu R$ 2 milhões a mais para cada deputado no Orçamento da União, atribuída a um erro de redação, provocou um rebuliço ontem no Congresso. Foi como se alguém acendesse um rastilho de pólvora. Originalmente, o combinado era que esse dinheiro estaria vinculado a gastos com saúde em geral, incluindo-se aí a reforma de hospitais públicos e postos de saúde, por exemplo. Mas a redação falava somente em gastos com “atenção básica à saúde”. O lobby das empresas da construção civil, grandes financiadores das campanhas para o Parlamento, entrou em campo para acertar o texto.

"O secretário estadual Carlos Minc (RJ) quer descredenciar a Chevron. Afinal, quem é mesmo o ministro do Meio Ambiente do Brasil?” — Sérgio Guerra, deputado federal (PE) e presidente do PSDB

ATAQUE ESPECULATIVO. Em reunião com a bancada do PT da Câmara, a ministra Luiza Bairros (Igualdade Racial) disse ontem que há um movimento de fora do governo para derrubá-la. Parte do movimento negro acusa Luiza de ter abandonado o Estatuto da Igualdade Racial, que estabelece políticas afirmativas. A situação da ministra tende a ficar ainda mais difícil com as novas regras baixadas pelo governo, que dificultam os convênios com ONGs. A maioria de suas ações é feita com o terceiro setor.

Contra o Rio
A Confederação Nacional dos Municípios está fazendo mobilização para levar milhares de prefeitos dia 30 a Brasília. O objetivo é tentar convencer os deputados a votar, ainda este ano, a nova lei de distribuição dos royalties do petroleo.

Sozinho
Por causa da redistribuição dos recursos do Fundo Partidário, o DEM está irritado com os demais partidos. Com a criação do PSD todos vão perder dinheiro, mas nenhum partido quer se unir ao DEM e contestar a redivisão na Justiça.

Código tumultua votação da DRU
O relator do Código Florestal no Senado, Jorge Viana (PT-AC), fez mudanças em relação ao texto aprovado na Câmara. Os ruralistas reagiram. A senadora Kátia Abreu (PSD-TO), que preside a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), pregou ontem de manhã, reunida com 30 deputados ruralistas, que eles obstruíssem a votação da DRU. A turma do deixa-disso argumentou que era cedo para radicalizar e vai agora insistir nas negociações com o relator.

Contra o tempo
Assim que a Câmara aprovou ontem a DRU, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), que acompanhava a votação, atravessou para o Senado. Ela se reuniu no cafezinho do plenário com o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR).

Mantido
O ministro Alexandre Padilha (Saúde) garantiu ontem ao presidente da Frente Parlamentar HIV-Aids, deputado Chico D’Angelo (PT-RJ), que não vai reduzir recursos para o programa em 2012. A prioridade da pasta é a parceria com a Frente.

O PRESIDENTE da Câmara, Marco Maia (PT-RS), pediu aos líderes dos partidos que o ajudem, pois ele quer aprovar a PEC da Música ainda antes do recesso.

O MAIS FIEL. Todos os deputados do PT e do PMDB presentes ontem na Câmara votaram a favor da prorrogação da DRU. No recém-criado PSD, o terceiro partido da Câmara, 85% da bancada votaram “sim”.

DEPOIS de comprar uma briga com o Planalto no debate dos royalties, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) lança, no dia 5, o livro “Royalties do petróleo: as regras do jogo para discutir sabendo”.

Erros e lições - MIRIAM LEITÃO



O GLOBO - 23/11/11

A Chevron errou redondamente, merece as punições cabíveis e puni-la ajuda também como alerta para as outras empresas. Mas é importante que se analise tudo o que não funcionou neste caso para se prevenir. O Brasil escolheu ir cada vez mais longe e mais fundo no mar atrás de petróleo. O produto brasileiro é marítimo e o país tem que redobrar os cuidados.

A Chevron teve um faturamento no mundo de US$ 198 bilhões em 2010. É grande o suficiente para absorver essa multa. No Brasil, é a terceira maior produtora. A Petrobras é sócia, mas não tem envolvimento na operação e foi a estatal que primeiro viu a mancha no dia seguinte ao 7 de novembro, quando o vazamento começou, foi a primeira a começar a limpeza. Precisa continuar acompanhando até porque a estatal é a operadora ou sócia em quase todos os poços no Brasil.

A ANP disse que foi enganada pela empresa nos procedimentos de correção do desastre. O Ibama ameaça com punições e diz que a empresa não cumpriu o Programa de Emergência Individual, que faz parte da licença ambiental. A Secretaria de Meio Ambiente vai entrar com uma ação civil pública.

Tudo deve ser feito, nada disso resolve a questão fundamental que é saber como isso aconteceu e de que forma todos os responsáveis devem trabalhar para evitar a ocorrência de novos desastres. Ficou claro que os órgãos reguladores — o do setor e o ambiental — chegaram tarde. Demoraram para se manifestar. O primeiro a exigir explicações foi um delegado da Polícia Federal. Além de punir a empresa, é preciso rever procedimentos tanto da Agência Nacional de Petróleo quanto do Ibama para que o país não venha a ser novamente surpreendido por um desastre ambiental.

Explorar petróleo é uma atividade de risco; em alto mar é mais arriscado ainda; no pré-sal será mais difícil e com perigos muito maiores. A Petrobras trabalha com redundâncias na operação, como manda a melhor prática no quesito segurança. Tudo é montado pensando sempre no pior caso e a pergunta chave é: e se isso falhar, o que deve entrar em operação para evitar o desastre?

A partir do caso no Golfo do México foi montado um grupo internacional das grandes exploradoras de petróleo, o OGP. A Petrobras faz parte e recentemente, numa reunião em Varsóvia, teve uma proposta sua aprovada, de que seja criado um grupo para compartilhar informações no combate a acidentes. A primeira recomendação é que a produção seja interrompida imediatamente. A Chevron não parou imediatamente.

Os equipamentos da indústria de petróleo não são diferentes; em geral, são os mesmos fornecedores que são subcontratados em qualquer operação. O problema que houve nesse poço pode se repetir, se não for entendido em todos os detalhes.

Não se pode medir o desastre pelo volume de óleo que vazou, com argumento de que no Golfo do México, operado pela BP, foi muito maior; esse tipo de evento — pequeno, grande, médio — é inaceitável e deve-se buscar o impossível: risco zero.

O objetivo de risco zero nunca será conseguido, portanto essa é uma boa hora de se perguntar se queremos explorar petróleo tão perto de um santuário ecológico como Abrolhos. O Parque Nacional Marinho de Abrolhos, criado em 1983, tem nada menos do que 1.300 espécies de invertebrados, peixes, tartarugas, aves, mamíferos e é área de acasalamento de espécies como a baleia jubarte.

Em 2003 o governo decidiu permitir a exploração de petróleo em área bem próxima ao parque e já há dez empresas nacionais e estrangeiras no entorno, em 13 blocos que já foram licitados. O que o país precisa se perguntar é se quer correr esse risco.

A exploração no pré-sal vai significar um desafio operacional enorme e aumento da exposição ao risco. A exploração não será a dois mil metros e sim a sete mil metros. A hora é de rever os protocolos, de todos órgãos envolvidos, na regulação setorial e ambiental, para evitar riscos e prevenir acidentes.

O caso da Chevron poderá ser estudado no futuro como exemplo de erro em lidar com crises. Eles não interromperam a produção imediatamente, omitiram informações ao órgão regulador, não responderam por dias aos telefonemas dos jornalistas. Quando decidiram se pronunciar, foi através de notas, com respostas burocráticas para todos os veículos. E, quando enfim falaram, foi através de um executivo — no caso o presidente — que só fala inglês e tem estopim curto: quis interromper a entrevista por não gostar das perguntas.

Sujou a imagem, sujou o mar, tomou multa, mas que não a assusta. Até porque o decreto que estabeleceu a multa máxima em R$ 50 milhões é de 2000 e registra que esse valor não tem correção. Será eternamente os mesmos R$ 50 milhões.

O mais importante será se sairmos desse acidente com mudanças nos procedimentos de prevenção, com exigência de mais transparência por parte das empresas, novos planos de contingência e maior consciência dos riscos. Os barris de petróleo vazados num acidente podem ser fornecidos por qualquer outro produtor. A biodiversidade perdida não se recupera.

Mentira & politicagem - ROBERTO DaMATTA



O Globo - 23/11/2011


Seria a mentira uma realidade da política brasileira? Sobretudo neste momento em que o governo de dona Dilma constitui uma Comissão da Verdade, mas um dos seus ministros - justo o do Trabalho, que é o apanágio do seu partido (o dos trabalhadores) - mente de modo claro, aberto, insofismável e - mais que isso - com uma verve e um nervo dignos de um astro de novela das oito?

Fiquei deveras assombrado por sua ousadia e desenvoltura de ator, quando - perante o Congresso - ele diz não conhecer o empresário com quem jantou, andou de avião e contemplou - com um olhar digno de um Anthony Hopkins - um pedaço de papel com o nome da questionada figura, numa simulação dramática que era maior prova de que mentia descaradamente.

Ou seja, para o governo é mais fácil resgatar o passado fabricado pelo autoritarismo do regime militar - um momento no qual opiniões conflitantes eram proibidas e que engendrou oposições à sua altura e igualmente fechadas, passando por alto pela Lei da Anistia - do que demitir um ministro mentiroso. Continuamos a refazer o que não deveria ter sido feito e a não fazer o que o bom-senso exige que se faça.

Viver em sociedade demanda mentir. Como exige comer, confiar e beber - mas dentro de certos limites. Os americanos distinguem as "white lies" (mentiras brancas ou brandas) - falsidades sem maiores consequências - das mentiras sujeitas a sanções penais e éticas.

Pois, como todo mundo sabe, a América não mente. Ela está convencida - apesar de todas as bolhas e Bushes - que até hoje segue o exemplo de George Washington, seu primeiro presidente; um menino obviamente neurótico que nunca mentiu. Na América há todo um sistema jurídico que dá prêmios à verdade, muito embora, num lugar chamado Estados Unidos, minta-se à americana. Ou seja, com a certeza de que se diz a verdade, somente a verdade, nada mais do que a verdade. E que Deus me ajude! Foi o que fez, entre outros, Bill Clinton quando negou ter tido sexo com a dragonarde Monica Lewinsky porque o que eles fizeram no Salão Oval não estava na Bíblia.

No Brasil não acreditamos ser possível existir sem mentir. Basta pensar no modo como fomos criados para entendermos a mentira como "boa educação" ou gentileza, pois como cumprir a norma de não discutir com os mais velhos sem enganar? Como não mentir quando a mulher amada chega do salão de beleza com o cabelo pintado de burro quando foge e pergunta: querido, o que é que você acha do meu novo penteado? Ou quando você confessa ao padre aquele pecado que você comete diariamente e dele se arrepende também cotidianamente só para a ele voltar com uma volúpia apenas compreendida pelo velho e bom catolicismo romano? Como não mentir diante do seu professor, um Burro Doutor, que diz que sabe tudo mas não conhece coisa alguma? Ou do amigo que escreve um livro de merda, mas acha que obrou coisa jamais lida? Ou para o netinho que questiona, intuindo Descartes: se existe presente, onde está Papai Noel?

Como não mentir se o governo mente todo o tempo, seja não realizando o que prometeu nas eleições, seja "blindando" os malfeitos inocentes dos seus aliados, seja dizendo que nada sabe ou tem a ver com o que o ocorre debaixo do seu nariz de Pinóquio?

Numa sociedade que teve escravos, entende-se a malandragem de um Pedro Malasartes como um modo legítimo de burlar senhores cruéis. Mas não se pode viver democraticamente aceitando, como tem ocorrido no lulopetismo, pessoas com o direito de mentir e roubar publicamente. Mentir para vender um tolete de merda como um passarinho raro ao coronelão que se pensa dono do mundo é coisa de "vingança social" à Pedro Malasartes.

No velho marxismo no qual eu fui formado, tratava-se de uma forma de "resistência" ao poder. Mas será que podemos chamar de "malfeitos" o terrorismo e o tráfico? Seria razoável aceitar a mentira como rotina da vida política nacional porque, afinal de contas, o "estado (e a tal governabilidade com suas alianças) tem razões que a sociedade não conhece" ou, pior que isso, que o nosso partido tem planos que tanto o Estado quanto a sociedade podem ser dispensados de conhecer?

No Brasil das éticas múltiplas (uma mentira e uma verdade para cada pessoa, situação, tempo e lugar), temos a cultura do segredo competindo ferozmente com a das inúmeras versões que, normalmente, só quem sabe a mais "verdadeira" é que conhece alguém mais próximo do poder. Entre nós, a verdade tem gradações e lembranças. No antigo Brasil do "você sabe com quem está falando?", dizia-se: aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei! Hoje, nos vem à mente uma velha trova mineira: "Tu fingiste que me enganaste, eu fingi que te acreditei; foste tu que me enganaste ou fui eu que te enganei?".

Com a palavra, os eleitos e os nomeados.

JAPA GOSTOSA


Outros quinhentos - DORA KRAMER





 O Estado de S.Paulo - 23/11/11


Duas leis sancionadas pela presidente Dilma Rousseff na última sexta-feira representam, juntas, indiscutíveis avanços na direção de um atributo indispensável ao bom exercício da democracia: a transparência.

A criação da Comissão da Verdade e a Lei de Acesso à Informação são as boas novas em meio a tantas más (e velhas) na política e suas circunstâncias.

A primeira fecha um ciclo, ao pretender investigar e revelar ao País o que ainda não se sabe sobre as agressões aos direitos humanos cometidas durante o regime militar.

A segunda assegura ao público pagante (de impostos) acesso às informações dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário nos âmbitos federal, estadual e municipal. Na teoria, o que não estiver sob sigilo, bastará ser requerido para tornar-se sabido.

Na prática, o desafio dessas duas iniciativas é saírem do papel da melhor e mais próxima maneira daquela pretendida pelos que se propuseram à empreitada. Não é tarefa de fácil execução.

Digamos que diante do que há pela frente a aprovação no Congresso e a sanção presidencial tenham sido as etapas mais fáceis. Houve acordo, civilidade e ótimas intenções.

Transformá-las em realidade serão outros quinhentos.

A Lei de Acesso à Informação tem seis meses para entrar em vigor, prazo certamente previsto para que o poder público tenha tempo de se estruturar para atender às demandas de pessoas, entidades, empresas, instituições, como previsto na legislação: com o mínimo de burocracia e o máximo de eficiência.

É um serviço hoje inexistente, cuja montagem não é coisa simples, mas com empenho se faz. O obstáculo mais complicado de ser ultrapassado será o da mentalidade prevalente no Estado de que não é um ente a serviço da população, mas justamente o oposto: seus eventuais ocupantes é que costumam se servir da delegação pública.

Hoje, o que se vê em todas as instâncias de poder é a resistência ao fornecimento de dados. Agora isso passa a ser uma obrigação legal, mas não está claro por intermédio de qual instrumento será possível fazer valer o direito.

Recursos à Justiça, à Controladoria-Geral da União, ao Ministério Público? Foge ao espírito do acesso franqueado.

Os órgãos públicos podem publicar seus dados na internet, mas não necessariamente todos os que interessam a quem procura.

É o tipo da lei que dependerá de um processo de mudança profundo - nas ações e nos pensamentos dos mundos público e privado - para "pegar" ou virar letra morta.

Muito se falou quando da discussão do projeto da lei na questão do sigilo eterno, resolvida com a limitação a 50 anos para a liberação de documentos tidos como secretos.

Mas o principal ponto é a abertura de informações relativas ao cotidiano dos governos. Mudar isso, num ambiente em que o Estado se comporta como dono daquilo que de fato pertence ao cidadão, será algo equivalente a uma revolução.

Quanto à Comissão da Verdade, a arte primeira será da presidente Dilma Rousseff para formar um grupo de confiabilidade, bom senso e experiência suficientes para que o trabalho não se perca em partidarismos nem revanchismos.

Essa exigência está consagrada na proposta, que excluiu punições e impõe observância à Lei da Anistia, de resto consolidada por manifestação do Supremo Tribunal Federal.

Mas, como na Lei de Acesso à Informação, embora guardadas as proporções aqui também a prática é que ditará o sucesso ou o fracasso de uma iniciativa salutar. 

Óbvio? Nem tanto quando o que está em jogo não é o simples cumprimento de um texto legal. É a compreensão de todo o processo de construção da retomada da democracia a partir de um pacto cujas cláusulas atenderam às especificidades do País e que, sem ingerências estranhas a elas, precisa ser concluído com a exposição da verdade. Nada além da verdade.

Ícone. Reconheçamos: José Sarney é incansável.

Essa agora de contratar uma consultoria para melhorar a própria imagem e pagar com dinheiro do Senado é, como se dizia no tempo em que Sarney era deputado "bossa nova" da UDN, de cabo de esquadra.

Conformistas sem causa - ANTONIO PRATA


FOLHA DE SP - 23/11/11

Semana retrasada publiquei aqui um texto criticando os alunos que ocupavam a reitoria da USP. Ao terminar de escrevê-lo, me senti aliviado, como se houvesse tirado um peso das minhas costas. Nos dias que se seguiram, recebi uma quantidade enorme de e-mails elogiosos e, sobretudo, empolgados.
Quase duas semanas depois, mensagens continuam a chegar e meu alívio passou a ser pinicado por uma suspeita: será que não há um ânimo exagerado em nossa condenação àqueles estudantes? Sigo concordando com os argumentos que expus na coluna, mas percebo que no fundo de nossa -ou, vá lá, da minha- indignação, pulsa menos um incômodo do que certa felicidade; uma satisfação secreta diante dos jovens equivocados. Por quê?
Li neste domingo, numa "New Yorker" antiga, uma matéria sobre Rimbaud. O poeta francês que, entre os quinze e os vinte anos, mudou a história da literatura -e depois foi ser comerciante na África, sem jamais escrever novamente um único verso. Qual a explicação para um artista tão talentoso ter abandonado seu dom, tão cedo? Uma das possíveis respostas é colocada na boca de Verlaine -amante do "enfant terrible"- pelo romancista Bruce Duffy, no livro "Disaster Was My God": Rimbaud teria desistido da poesia simplesmente porque cresceu.
Sua escrita, embora formalmente impecável e laboriosamente trabalhada, dependia da rebeldia adolescente, da vontade de destruir as instituições e lugares comuns, de viver todas as experiências simultaneamente e fazer do próprio corpo o epicentro do mundo.
Quem aí já não teve sentimentos semelhantes, mesmo que em menor grau, em algum momento entre a primeira espinha e o primeiro holerite? Quem aí não sente, mesmo que em menor grau, que abandonou parte de seus anseios de juventude em troca do comércio -profissional, social, afetivo- da vida cotidiana?
A poesia de Rimbaud -como, aliás, toda grande poesia- nos lembra das infinitas possibilidades escondidas sob essa fina coberta que, com afinco, esticamos todas as manhãs sobre nossas ambições frustradas, nossos sonhos calados por covardia ou, pior, por preguiça.
Os jovens, vez ou outra, também ameaçam a frágil segurança de nossas certezas. Na semana passada, estiveram por quatro vezes na capa deste jornal: um rapaz descendo uma viela da Rocinha, com uma prancha de surfe embaixo do braço, uma turma banhando-se na lama, no festival SWU, garotos e garotas enfrentando a polícia em Nova York e Milão. Esportes radicais, rock'n'roll, revolta: mesmo que você ache tudo isso uma bobagem, impossível ignorar a centelha, a pergunta que nos fazem aquelas imagens: será que não nos acomodamos? Será que estamos tirando da vida o máximo que ela pode dar?
Aí é que, para nosso alívio, surgem os invasores da reitoria: ao vê-los, tão equivocados, podemos crer que toda rebeldia é burra, que sonhos são coisa de quem usa pochete e exibe fotos do Mao Tsé-tung. Satisfeitos, confirmamos nosso acerto, validamos a segurança da vida adulta contra as inquietações da juventude, a troca da poesia pelo comércio -profissional, social, afetivo-, que realizamos todos os dias.
Nada melhor que rebeldes sem causa para dar sentido ao nosso conformismo.

"Fina Estampa"! Festival de Botox! - JOSÉ SIMÃO


FOLHA DE SP - 23/11/11

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E o site Sensacionalista lança pacote de viagem: "Vá à Europa antes que acabe". Venha conhecer o nosso desemprego!

E um leitor me disse que a Renata Sorrah tá parecendo o roqueiro Serguei! Turbinada de botox. As atrizes globais botam tanto botox que ficam com cara de égua de charrete! Atriz não pode abusar do botox.

Tanto botox que entram no ar com placa no pescoço: estou contente, estou deprimida, estou esticada, estou mais lisa que tábua de polenta. Isso! A Eva Wilma tá parecendo uma tábua de polenta. Rarará! Mas eu sou a favor: o que Deus criou, só o botox e o silicone seguram! Rarará!

E o cofrinho de hipopótamo do Adriano? Aquilo não é um cofrinho, é o Banco Central. Diz que o cofrinho do Adriano já dá pra comprar o Tevez!

E a manchete do Twiteiro: "Com duas rodadas de antecedência, Corinthians se classifica matematicamente pra dar vexame na Libertadores 2012". Rarará!

E continua a minha campanha "Viva o Humor! Fica Lupi". Porque o Lupi é a cara do prefeito de Patópolis! E, por falta de escândalo novo, a gente fica com o Lupi mesmo!

E a Volta do Bueiros Voadores! "Bueiro explode e pega fogo no centro de São Paulo!" "Bueiro explode em SP e assusta moradores." BUM-EIROS! É a Light (ops, a Osama Bin Light) exportando tecnologia pra São Paulo. Os bueiros tomaram a ponte aérea!

O Rio virou Bueiros Aires. E São Paulo vai virar o quê? São Pum! Não, São Paulo vai virar o Kassabueiro. Kassabueiro Voador! Rarará! Acho que é ensaio pro Réveillon!

A invasão das tartarugas ninjas. Quer subir na vida? Sobe em cima duma tampa de bueiro. Voa uns 500 metros! E a melhor definição de São Paulo é a da Katylene: São Paulo tem tanto gay que deveria se chamar São Paula. Rarará!

E eu queria convidar o Alckmin para uma festa imperdível, que arrasta multidões: Carnametrô. De segunda a sexta, das 18h às 20h30!

E esta: superpopulação de urubus no Ibirapuera. E eles fazem ninho nas varandas dos apartamentos ao redor do parque. Ou seja, você paga R$ 6 milhões pelo apartamento, R$ 5.000 de condomínio, R$ 40 mil de IPTU e tem um ninho de urubu na varanda. E, se mexer, vai preso! Praga de urubu! Nóis sofre, mas nóis goza.

Afinal, quem tem medo da mentira? - JOSÉ NÊUMANNE



O ESTADÃO - 23/11/11

A verdade não é, nunca foi, um valor absoluto, um bem em si. Verdades podem ferir, magoar, prejudicar. Assim como mentiras, a depender de como são contadas e para que são usadas, podem se tornar até edificantes. Gabriel García Márquez imagina que Jonas saiu, à noite, para a farra, dormiu fora de casa e, quando recuperou a clarividência, contou à mulher a aventura que teria vivido dentro do ventre de uma baleia. A imaginosa invenção do bebum salvou a paz familiar e tornou-se pedra fundamental da ficção, gênero literário que, como qualquer obra humana, pode servir ao bem e ao mal, ser inútil e desagradável ou útil e prazeroso. Do ponto de vista filosófico, há controvérsias sobre a existência da verdade absoluta, assim como se discute a existência da mente superior que a criou. Quase sempre é relativa e pode ser contraditória.

Na quinta-feira da semana passada, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que cria a Comissão da Verdade, uma instituição imperfeita, como o são todas as criações do ser humano, para buscar a memória que a ditadura militar brasileira tentou sepultar em covas rasas de cemitérios clandestinos. Nada contra. A revelação de uma verdade pretérita não poderá fazer mal algum porque, se “malfeitos” foram executados no arbítrio, o Estado Democrático de Direito já os absolveu na figura jurídica clássica da prescrição. Saber-se-á que determinado oficial ou policial torturou e pelo hediondo crime ele será sempre execrado e apontado na rua como um réprobo por suas vítimas, agora no poder. Entre eles, a presidente mesma, que guerreou, foi presa e maltratada.

Para ser digna da pomposa denominação a comissão teria de ser bifronte como o deus romano Juno, que tem duas faces, uma voltada para um lado e outra, para o lado oposto. Nas escolas de Jornalismo ensina-se que o relato dos fatos será tanto mais imparcial quanto contiver os dois ou mais lados da questão. É a teoria Rashomon da narrativa: como no filme clássico do japonês Akira Kurosawa, cada fato permite uma gama múltipla de relatos, assim como o delito testemunhado por várias pessoas com pontos de vista diferentes do mesmo ocorrido. Acomissão de Dilma, contudo, dificilmente abrigará as versões dos que venceram a guerra suja e acabaram alijadas do poder.

A questão da multilateralidade da verdade relativa, contudo, não é a única que se apresenta no debate sobre a comissão que o governo esquerdista criou para julgar os crimes da direita derrotada nas urnas. Fica em aberto também a limitação cronológica da apuração. Porque limitá-la ao prazo da ditadura?

Não será a verdade um valor positivo a ser perseguido também no Estado Democrático de Direito? A pergunta ganha força quando se sabe que no mesmo dia o País foi informado de que o chefão do Partido Democrático Trabalhista (PDT) – no qual Dilma militou –, Carlos Lupi, mentiu com loquacidade e desfaçatez. E, ao desmentir, mentiu mais numa vez, desmoralizando a natureza redentora da mentira, consagrada no mais popular e sagrado dos livros, a Bíblia.

E, só para Dilma não ficar com a responsabilidade inteira pelo desafio ao relato veraz dos fatos, convém lembrar que na dita quinta-feira 17 o SupremoTribunal Federal (STF) adiou uma vez mais a decisão sobre um assunto de altíssima relevância para a transparência indispensável ao exercício da Justiça na vigência da democracia.O pedido do Ministério Público Federal (MPF) para que o Supremo autorize a eliminação de todas as provas referentes à Operação Satiagraha, empreendida por seus membros e pela Polícia Federal (PF), deverá ser julgado amanhã a partir de decisão a ser tomada e prolatada pela ministra Cármen Lúcia. Mas também poderá ser adiado mais uma vez.

Tudo é, no mínimo, bem estranho. Da operação resultaram muitas notícias e nenhuma punição. O economista baiano Daniel Dantas, gestor de fundos do Opportunity, responsável pelo comando acionário da Telecom Brasil e denunciado pelo sócio hostil, a Telecom Italia, chegou a ser preso, assim como muitos de seus executivos. Homens públicos, como o ex-prefeito Celso Pitta e o investidor no mercado de capitais Naji Nahas, foram tirados da cama e algemados, mas o assunto terminou, como muitos outros que foram alvo de investigações da PF “republicana” no governo Lula, mergulhando no buraco negro do ostracismo. Nenhum indício, entre os inúmeros levantados na investigação e divulgados com estardalhaço, passou pelas instâncias do Judiciário sem que em algum momento se verificassem abuso de autoridade, produção ilícita de provas, etc.

Neste caso, não se trava uma batalha filosófica entre relato e invenção, mas está em questão umdos fundamentos do Estado de Direito, o da transparência. Réus, agentes da lei, promotores e juízes são todos súditos do mesmo império, o da norma legal. E não há nenhuma explicação plausível para a destruição de provas que tanto podem incriminar os acusados quanto pôr em dúvida a lisura de quem os houver investigado. Como provas não incriminam quem não tenha cometido delito, é de estranhar que logo os acusadores estejam interessados na sua eliminação. Se não é ético manter ocultas as práticas da ditadura, será muito menos sensato agir coma investigação da Operação Satiagraha com o zelo duvidoso atribuído a Ruy Barbosa de providenciar a remoção da mancha da escravidão pela queima dos documentos que a registravam.

A Nação espera que Dilma não dê a Lupi o mesmo crédito dado pela mulher de Jonas ao marido inventivo. A presidente que criou a Comissão da Verdade não pode temer a mentira. Assim, também cabe ao STF provar que a força de possíveis implicados nas provas produzidas por PF, MPF e Justiça não será suficiente para imobilizar o Poder Judiciário, tornando-o cúmplice da destruição de provas, sejam estas contra investigados, acusadores ou investigadores.

GOSTOSA


Nem mocinho, nem bandido - LUIS EDUARDO ASSIS



Valor Econômico - 23/11/2011


A economia americana se estrebucha para sair da estagnação, a União Europeia usa as tripas para evitar uma separação litigiosa. Os analistas mais céticos só não estão mais pessimistas porque são comedidos e sabem que vão precisar de muito mais pessimismo se a China tiver problemas - melhor economizar agora para não faltar no futuro. O Armagedon parece estar próximo. E, no entanto, enquanto Deus não derrama o justo juízo sobre a humanidade, o investimento estrangeiro direto (IED) no Brasil só faz aumentar. Nos últimos 12 meses, o volume líquido internalizado supera US$ 80 bilhões (incluindo repatriações de empresas brasileiras), o que indica que teremos neste ano mais que o dobro de investimentos registrados no ano passado. Esse desempenho espetacular abriu espaço para duas interpretações algo exageradas.

O governo, por dever de ofício, estimula a tese de que esses números gigantescos apenas atestam o sucesso da política econômica dos últimos anos. É como se, finalmente, o mundo, mesmo combalido, reunisse forças para redobrar suas apostas no futuro brilhante do Brasil. Os mais entusiasmados lembram que esse é um "dinheiro bom", já que é aportado para investimentos de longo prazo, que geram empregos e aumentam a produção e a renda. Essa explicação é boa, mas seria ainda melhor se fosse verdadeira. Entre outros hábitos estranhos, os economistas gostam de chamar coisas diferentes pelo mesmo nome. Neste caso, o que se chama de "investimento" estrangeiro não tem correspondência com a noção de aumento de capacidade produtiva, o que explica o fato de que a expansão espetacular do IED conviva com um desempenho medíocre da taxa de investimento. Ou seja, o IED não é necessariamente investimento, já que inclui mera troca de ativos e empréstimos a subsidiárias aqui localizadas, o que não significa aumento da capacidade produtiva.

Outro contraponto é que, assim como os carros, os ternos e os restaurantes, as empresas brasileiras também estão muito caras, o que torna mais difícil explicar esse voraz apetite dos estrangeiros. Também aqui não parece ser o paraíso do empreendedorismo. Relatório preparado pelo Banco Mundial ("Doing Business 2011") mostra que nunca foi fácil, mas está ainda mais difícil fazer negócios no Brasil. Entre 183 países analisados, caímos da modesta 124ª posição em 2009 para o modestíssimo 127º lugar agora. Difícil acreditar na tese de que o crescimento do IED é apenas testemunho de nossas consagradoras virtudes.

Por essas e por outras, há também quem prefira lembrar que o enorme diferencial entre as taxas de juros internas e internacionais pode estar estimulando a entrada de recursos especulativos. O que se registra como "dinheiro bom" seria, na verdade, o dinheiro "ruim" dos especuladores do mercado de renda fixa, cuja vida foi dificultada pelo aumento da alíquota do IOF de 2% para 6% no ano passado. Essa visão mais picante esbarra em pelo menos três contestações. A primeira é que o fluxo de IED começou a subir antes, não depois, da aplicação do IOF. Um curioso caso de premonição. Mais instigante é constatar que a partir de abril de 2011 os empréstimos inter-companhias registrados como investimento estrangeiro passaram a pagar a mesma taxa de IOF que as aplicações em renda fixa com prazo inferior a dois anos. Outro embaraço à tese conspiratória é que a quantidade de novos registros de investimento estrangeiro assim como o número de receptores destes recursos mostram estabilidade, contrariando o que seria de se esperar se o aumento do IED fosse determinado apenas pelo diferencial de juros.

O fato é que é pouco se sabe sobre os investimentos diretos, até porque não cabe ao Banco Central monitorar o que acontece depois que os recursos são internalizados. O forte afluxo destes recursos recentemente nem nos autoriza a proclamar a supremacia da economia brasileira no meio da turbulência internacional, nem dá guarida à tese conspiratória de que este capital é meramente especulativo. É sempre uma platitude dizer que a verdade está no meio (até porque qualquer assertiva, por mais absurda, sempre está a meio caminho de duas outras posições) mas talvez estejamos vivendo uma situação que combina os dois extremos. Isto chama a atenção para o fato de que é falsa a analogia entre reservas internacionais do país e a poupança que as pessoas comuns fazem para usar nas adversidades. Parte significativa da formação das reservas nestes últimos anos teve como contrapartida o forte crescimento da dívida externa privada, embutida nas estatísticas de investimento direto, que desde 2007 supera a dívida pública externa. Uma reversão nas expectativas otimistas dos investidores estrangeiros, qualquer que tenha sido sua motivação original, pode alterar este quadro aparentemente confortável em pouco tempo. As reservas brasileiras não são do Brasil.

Luis Eduardo Assis é economista diretor de política monetária do Banco Central do Brasil e professor da PUC-SP e FGV-SP.

Esse moço está diferente - ROSÂNGELA BITTAR


VALOR ECONÔMICO - 23/11/11

O ex-governador Ciro Gomes, tratamento que prefere não apenas por ser o cargo mais importante que conquistou, mas porque tem profundo desprezo pela atividade que exerceu na Câmara dos Deputados por quatro anos, reapareceu em Brasília, na quinta-feira, depois de muitos meses de ausência, para fazer uma palestra, remunerada, evidentemente, pois é a atividade da qual está vivendo no momento. Fisicamente, dez quilos mais gordo, barba branca, aparência de homem maduro. Quanto ao temperamento... bem, numa conversa de duas horas conseguiu ser ameno, comedido, usar da franqueza peculiar sem ser ríspido ou fazer ataques gratuitos. As velhas contradições aparecem aqui e ali, quase que como um cacoete de linguagem, mas o palavrório não é mais derramado, é contido. Esse moço está diferente. Ou estava, naquele dia.

E não é porque a temporada não é de campanha. Ciro está sempre em campanha. Analisa cada aspecto da conjuntura política, sabe o que quer, para si, e consegue mapear bem o perfil dos adversários no momento. Mora no Ceará e por lá estava fazendo política, organizando seu partido no Estado.

Ele conta que em quatro anos de mandato de deputado federal deu um único parecer, em relatório sobre um único projeto, o da Defesa da Concorrência, o novo Cade. Quando tinha o que dizer, não havia agenda para seu discurso; quando não tinha, avisavam que era sua vez de falar - metodologia que multiplica os pronunciamentos irrelevantes no Congresso, registra Ciro.

Seu projeto político pessoal, porém, está vivo, e continua sendo disputar a Presidência da República, o que já fez por duas vezes. Em outros tempos, estaria nervoso mas, hoje, diz que não admite brigar por isso. Migrante partidário contumaz, Ciro não quer fundar partido ou trocar de legenda para ter condições de se candidatar. Cansou das trocas. Vai ficar no PSB.

Diante da demonstração de que o PSB, hoje, tem um dono, um candidato seja a presidente, seja a vice-presidente, e esse nome é o do governador de Pernambuco, Ciro diz com naturalidade que isto não está decidido e nem foi discutido na legenda. Sem afrontas ou bravatas.

Em 2010, o ex-governador queria se candidatar a presidente, mas seu partido não deixou, preferiu seguir os designíos de Lula. Ciro continua, como em 2010, adepto da tese de que, no primeiro turno, é preciso ter candidato e deixar as alianças políticas para o segundo turno. Ele assegura, também, que a política de Lula, de quem continua amigo e aliado, é aniquilar os partidos que gravitam em torno do PT, fazer de todos uma coisa só, e ao não lançar candidato o PSB entra no jogo e se enfraquece.

"Não sou mentiroso. Já disputei duas vezes a Presidência da República, não vou andar mentindo por aí que não quero. Só não vou mais brigar". Lembrado do óbvio, de que no PSB parece estar definido que a vez é de Eduardo Campos, corta, com calma: "Por quem? Essa discussão nunca aconteceu no partido".

"Acho que ele pode ser candidato, deve ser candidato, tem todas as condições de ser candidato, mas quero saber que candidatura é essa. Por que é melhor do que a minha, honestamente? Qual é o conteúdo, o projeto"?

À primeira vista, Ciro parece estar criando um daqueles problema precoces e desnecessários para o presidente do seu partido e candidato natural Eduardo Campos. Mas talvez não.

Pode não ter sido combinado, e não foi, mas no momento adequado, diante desse fenômeno da natureza, o PT terá que recorrer a Eduardo Campos para saber como resolver a candidatura Ciro, o que fazer, qual a melhor saída. E daí pode surgir a solução. Longe de ser destruidora, a questão Ciro seria preservadora da figura e das opções de Eduardo Campos.

Carlos Lupi já perdeu o apoio do seu partido, o PDT. Se não de papel passado, pelo menos as correntes do partido que têm significado já caíram fora do jogo. A Força Sindical, cartório do qual sobrevive o PDT, já não se descabela; os liberais do PDT, como Miro Teixeira e Pedro Taques, o criticam abertamente e pedem CPI; os históricos ou deles herdeiros, como Brizola Neto, Vieira da Cunha e Cristovam Buarque, desestabilizaram há muito a aparente sustentação que lhe davam. As bancadas que, no fim, é o que importa para o governo, não estão fazendo a menor questão de protegê-lo dos seus erros.

Mas Lupi controla a máquina, a convenção, os delegados, estrutura que montou e alimentou depois do falso afastamento da presidência do partido. Uma máquina de que prescinde a estabilidade da base do governo e, como todas, permeável a um novo poder que vier a se instalar no PDT.

Portanto, não é temor de perder o apoio da sigla - como se alegou nos dois últimos dias -, o que força a presidente Dilma Rousseff a manter Carlos Lupi no cargo, preso por um fiapo.

Se não saiu agora, quando os erros e irregularidades ficaram expostos, o coerente é manter Carlos Lupi para sempre.

O afastamento na reforma ministerial é o que faltava para provar a ausência de um enredo para a mudança do ministério prevista para o início de 2012. Sairá só para dar uma satisfação, mesmo que tardia, à sociedade? Será para dar tempo de arrumar as gavetas? Ou ganhar um tempo para ajeitar coisas ainda confusas?

Se a presidente da República já sabe que Lupi não vai lhe servir dentro de 45 dias, por que serve agora? É o mistério insondável dessa história.

Um olheiro da Fifa quis saber, informalmente, a opinião do ministro Aldo Rebelo sobre se o Brasil vai ou não vai dar conta da Copa do Mundo. Mesmo sem conhecer, ainda, detalhes dos atrasos e principais problemas, o ministro do Esporte respondeu-lhe que isso é inquestionável. "Para um país que faz o Carnaval do Rio, com todos aqueles desfiles de Escola de Samba e milhares de turistas, e realiza o Carnaval de Salvador, durante 15 dias de extremada organização de foliões em bloco contidos em cordas, na rua, a Copa do Mundo é fácil".

MARROM 6.4 - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 23/11/11


Alcione comemorou 64 anos, anteontem, com festa. O cantor Emílio Santiago e os atores Rogéria e Luiz Fernando Guimarães foram à casa da cantora, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A bateria da Mangueira fez uma apresentação na hora do "Parabéns a Você".

VALE EM PEDAÇOS
O tamanho da Vale no balanço da Previ começa a ser debatido pela instituição e a Previc, agência que supervisiona o regime de previdência complementar. Maior fundo de pensão do país, a instituição pode ser obrigada a se desfazer de ações da empresa. As regras determinam que um fundo não pode ter mais de 10% de seu investimento direcionado a um só negócio -o que ocorre hoje com a Previ em relação à mineradora.

TEMPO EXTRA
Um dos argumentos que podem ser usados pela Previ para evitar o enquadramento é que sua exposição na Vale aumentou porque a empresa se valorizou. E não porque o fundo incrementou seus investimentos nela. Sair de ações que podem subir ainda mais não seria, portanto, necessário. Nem um bom negócio.

RAIO X
Dilma Rousseff fez check-up no hospital Sírio-Libanês há alguns dias. Além de exames de rotina, ela se submeteu a outros indicados para o controle do câncer linfático de que se tratou em 2009. Mesmo depois do anúncio de que o paciente está curado, eles devem ser repetidos por um período de cinco anos. Os resultados revelaram que a presidente está bem.

DECANOS
A revista "New Yorker" publica na próxima segunda, 28, entrevista com Lula.

O ex-presidente conversou em agosto com o jornalista Nicholas Lemann, decano da Universidade Columbia (EUA).

DELÚBIO NO PALCO
O discurso em que Delúbio Soares anunciou sua desistência de voltar ao PT, em 2009, virou teatro. O dramaturgo Alexandre Dal Farra utiliza trechos na peça "Petróleo", que estreou ontem. Frases como "Fundei esse partido. Tempo faz. Éramos alvo da descrença de uns, da zombaria de outros" aparecem no testamento de um personagem. Dal Farra diz querer discutir "o lugar da esquerda depois de Lula".

PROVA DE FOGO
Wanderléa planeja turnê com repertório de Roberto Carlos. A cantora fez recentemente apresentação só com músicas dele. Gostou, e decidiu ampliar o projeto.

PAPEL...
Anunciada com pompa, a abertura de uma unidade do hospital Albert Einstein no Rio está longe de ser viabilizada. O governo do Estado se dispõe a providenciar terreno em área nobre para a instalação do prédio. O banqueiro Armínio Fraga também corre atrás de um espaço. Mas nada está definido.

... E LÁPIS
Estimado em R$ 600 milhões, o custo para a instalação do Einstein carioca também estaria aquém das reais necessidades de um hospital de primeira linha. Contas mais realistas estimam que ele poderia ficar entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão.

LINK
Um laptop foi surrupiado da Pinacoteca de SP durante um seminário na semana passada. Ao dar queixa, funcionários ouviram da polícia que o furto é comum em eventos desta natureza.

DEFESA DA DEFESA
O IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa) realiza hoje jantar e leilão no Lions Night Club para a arrecadação de verbas. O convite custa R$ 250.

ESCOLA DO ROCK
Perry Farrell, da banda Jane's Addiction, fez festa, anteontem, em SP para lançar a versão brasileira do festival que criou, o Lollapalooza. Ele estava com a mulher, Etty Farrell. Os cantores Pitty e Junio Barreto circularam pelo evento, no clube Dorothy Parker, nos Jardins.

CURTO-CIRCUITO
James Akel faz palestra hoje, às 19h, no auditório da FEA-USP, sobre administração de televisão.

Karina Buhr lança o disco "Longe de Onde" com show no sábado, às 21h30, no Sesc Pompeia. 18 anos.

Amilcare Dallevo inaugura hoje a sede da RedeTV! em Brasília.

Lucia Dall'Stella faz hoje almoço de aniversário.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO



FOLHA DE SP - 23/11/11


Rede de clínicas de odontologia planeja inaugurar 315 unidades em cinco anos
A rede de clínicas odontológicas Sorridents prepara-se para adotar um projeto de expansão que deve levar a empresa a fechar 2016 com 500 unidades -250 próprias e 250 franquias- e faturamento de R$ 700 milhões.

Para colocar seu plano em prática, a empresa contratou a assessoria financeira do Banco Espírito Santo, que analisa propostas de fundos de investimentos.

A ampliação da rede movimentará aproximadamente R$ 130 milhões.

Além de estudar a hipótese de garantir recursos através de fundos, a empresa não descarta a possibilidade de trabalhar com empréstimo bancário, diz a presidente da Sorridents, Carla Renata Sarni.

Dentro de cinco meses, Sarni deve decidir qual será a fonte de capital.

Hoje a empresa tem 46 clínicas próprias e 139 contratadas. Duas unidades foram inauguradas nesta semana, uma em São Bernardo do Campo (SP) e outra em Curitiba.

Com a injeção de recursos, a expectativa é que 75 unidades sejam comercializadas no próximo ano e que a empresa atinja 20 Estados (hoje são 14 mais o Distrito Federal).

Com foco nas classes C e D, a empresa atrai clientes com pagamentos em até 12 parcelas. "O preço acessível dos tratamentos é possível porque a rede compra materiais para todas as unidades."

Segundo Sarni, para oferecer um atendimento de qualidade, a empresa busca adquirir bons materiais.

Os cerca de 2.000 dentistas parceiros, porém, não rebem nenhum treinamento especial. "Eles procuram seus cursos de especialização."

Baixa oferta de imóveis eleva preço de aluguel em São Paulo
Os contratos novos de aluguel residencial na capital paulista atingiram a maior alta desde 2005, segundo o Secovi-SP (Sindicato da Habitação). Em outubro, a variação acumulada dos valores médios cobrados na comparação com os 12 meses anteriores foi de 19,7%.

O aumento é o mais alto desde janeiro de 2005, quando a entidade começou a realizar a pesquisa, segundo Francisco Crestana, vice-presidente do Secovi-SP.

O cenário indica que a cidade não conta com estoque suficiente de imóveis para alugar, segundo Crestana.

"Situação que não deve ser revertida em curto prazo."

As residências de um e dois dormitórios foram os imóveis que tiveram a maior alta de preço em outubro.

DO POPULAR AO NOBRE
Localizada há mais de cem anos na rua 25 de Março, reduto do comércio popular paulistano, a Doural vai abrir uma segunda unidade em bairro nobre da cidade, na alameda Gabriel Monteiro da Silva.

Com cerca de 3.000 m², a loja de produtos para casa vende mais de 60 mil itens como cortinas, tapetes, enxovais, utensílios de cozinha e eletroportáteis de marcas importadas de luxo, como uma cafeteira por R$ 7.000.

"No novo espaço, que terá 800 m², vamos ampliar a oferta e introduzir eletrodomésticos grandes", diz Fernando Assad Abdalla, sócio-diretor da Doural, quarta geração da família.

Haverá também uma cozinha experimental com cursos para até 20 pessoas.

Entre os objetos, panelas e facas, francesas, alemãs e italianas, e marcas como Vera Wang, St. James e Mauviel.

ESCOLHAS
O volume de turistas da América do Sul que visitam o Brasil ainda é baixo. Só 10% dos peruanos que viajam pelo continente escolhem destinos brasileiros. Na Colômbia, são 13%, segundo a Embratur.

O mercado europeu já está mais explorado. Cerca de 66% dos portugueses que vêm à região têm o Brasil como destino. Entre os franceses são 64%.

A Embratur vai apresentar amanhã a secretários estaduais de Turismo uma série de dados que apontam que há grande potencial para atração de visitantes.

"Elevamos esforços em países da região e o aumento dos investimentos continuará em 2012", diz Flávio Dino, presidente da Embratur.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ