quarta-feira, novembro 23, 2011

Esse moço está diferente - ROSÂNGELA BITTAR


VALOR ECONÔMICO - 23/11/11

O ex-governador Ciro Gomes, tratamento que prefere não apenas por ser o cargo mais importante que conquistou, mas porque tem profundo desprezo pela atividade que exerceu na Câmara dos Deputados por quatro anos, reapareceu em Brasília, na quinta-feira, depois de muitos meses de ausência, para fazer uma palestra, remunerada, evidentemente, pois é a atividade da qual está vivendo no momento. Fisicamente, dez quilos mais gordo, barba branca, aparência de homem maduro. Quanto ao temperamento... bem, numa conversa de duas horas conseguiu ser ameno, comedido, usar da franqueza peculiar sem ser ríspido ou fazer ataques gratuitos. As velhas contradições aparecem aqui e ali, quase que como um cacoete de linguagem, mas o palavrório não é mais derramado, é contido. Esse moço está diferente. Ou estava, naquele dia.

E não é porque a temporada não é de campanha. Ciro está sempre em campanha. Analisa cada aspecto da conjuntura política, sabe o que quer, para si, e consegue mapear bem o perfil dos adversários no momento. Mora no Ceará e por lá estava fazendo política, organizando seu partido no Estado.

Ele conta que em quatro anos de mandato de deputado federal deu um único parecer, em relatório sobre um único projeto, o da Defesa da Concorrência, o novo Cade. Quando tinha o que dizer, não havia agenda para seu discurso; quando não tinha, avisavam que era sua vez de falar - metodologia que multiplica os pronunciamentos irrelevantes no Congresso, registra Ciro.

Seu projeto político pessoal, porém, está vivo, e continua sendo disputar a Presidência da República, o que já fez por duas vezes. Em outros tempos, estaria nervoso mas, hoje, diz que não admite brigar por isso. Migrante partidário contumaz, Ciro não quer fundar partido ou trocar de legenda para ter condições de se candidatar. Cansou das trocas. Vai ficar no PSB.

Diante da demonstração de que o PSB, hoje, tem um dono, um candidato seja a presidente, seja a vice-presidente, e esse nome é o do governador de Pernambuco, Ciro diz com naturalidade que isto não está decidido e nem foi discutido na legenda. Sem afrontas ou bravatas.

Em 2010, o ex-governador queria se candidatar a presidente, mas seu partido não deixou, preferiu seguir os designíos de Lula. Ciro continua, como em 2010, adepto da tese de que, no primeiro turno, é preciso ter candidato e deixar as alianças políticas para o segundo turno. Ele assegura, também, que a política de Lula, de quem continua amigo e aliado, é aniquilar os partidos que gravitam em torno do PT, fazer de todos uma coisa só, e ao não lançar candidato o PSB entra no jogo e se enfraquece.

"Não sou mentiroso. Já disputei duas vezes a Presidência da República, não vou andar mentindo por aí que não quero. Só não vou mais brigar". Lembrado do óbvio, de que no PSB parece estar definido que a vez é de Eduardo Campos, corta, com calma: "Por quem? Essa discussão nunca aconteceu no partido".

"Acho que ele pode ser candidato, deve ser candidato, tem todas as condições de ser candidato, mas quero saber que candidatura é essa. Por que é melhor do que a minha, honestamente? Qual é o conteúdo, o projeto"?

À primeira vista, Ciro parece estar criando um daqueles problema precoces e desnecessários para o presidente do seu partido e candidato natural Eduardo Campos. Mas talvez não.

Pode não ter sido combinado, e não foi, mas no momento adequado, diante desse fenômeno da natureza, o PT terá que recorrer a Eduardo Campos para saber como resolver a candidatura Ciro, o que fazer, qual a melhor saída. E daí pode surgir a solução. Longe de ser destruidora, a questão Ciro seria preservadora da figura e das opções de Eduardo Campos.

Carlos Lupi já perdeu o apoio do seu partido, o PDT. Se não de papel passado, pelo menos as correntes do partido que têm significado já caíram fora do jogo. A Força Sindical, cartório do qual sobrevive o PDT, já não se descabela; os liberais do PDT, como Miro Teixeira e Pedro Taques, o criticam abertamente e pedem CPI; os históricos ou deles herdeiros, como Brizola Neto, Vieira da Cunha e Cristovam Buarque, desestabilizaram há muito a aparente sustentação que lhe davam. As bancadas que, no fim, é o que importa para o governo, não estão fazendo a menor questão de protegê-lo dos seus erros.

Mas Lupi controla a máquina, a convenção, os delegados, estrutura que montou e alimentou depois do falso afastamento da presidência do partido. Uma máquina de que prescinde a estabilidade da base do governo e, como todas, permeável a um novo poder que vier a se instalar no PDT.

Portanto, não é temor de perder o apoio da sigla - como se alegou nos dois últimos dias -, o que força a presidente Dilma Rousseff a manter Carlos Lupi no cargo, preso por um fiapo.

Se não saiu agora, quando os erros e irregularidades ficaram expostos, o coerente é manter Carlos Lupi para sempre.

O afastamento na reforma ministerial é o que faltava para provar a ausência de um enredo para a mudança do ministério prevista para o início de 2012. Sairá só para dar uma satisfação, mesmo que tardia, à sociedade? Será para dar tempo de arrumar as gavetas? Ou ganhar um tempo para ajeitar coisas ainda confusas?

Se a presidente da República já sabe que Lupi não vai lhe servir dentro de 45 dias, por que serve agora? É o mistério insondável dessa história.

Um olheiro da Fifa quis saber, informalmente, a opinião do ministro Aldo Rebelo sobre se o Brasil vai ou não vai dar conta da Copa do Mundo. Mesmo sem conhecer, ainda, detalhes dos atrasos e principais problemas, o ministro do Esporte respondeu-lhe que isso é inquestionável. "Para um país que faz o Carnaval do Rio, com todos aqueles desfiles de Escola de Samba e milhares de turistas, e realiza o Carnaval de Salvador, durante 15 dias de extremada organização de foliões em bloco contidos em cordas, na rua, a Copa do Mundo é fácil".

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