quarta-feira, novembro 23, 2011
O FGC virou o mico da banca - ELIO GASPARI
O GLOBO - 23/11/11
Em abril, Murilo Portugal, presidente da Federação Brasileira de Bancos, poderá assumir a direção do Fundo Garantidor de Créditos. Tomara que dê certo, com resultados melhores do que a tentativa da Febraban de azucrinar a vida de quem recebia nota pintada de vermelho em caixa eletrônico.
O FGC é uma instituição que, em tese, preserva a vitalidade do sistema bancário. Criado durante o tucanato, é alimentado pelos bancos, sem dinheiro da Viúva, e se destina a garantir depósitos dos correntistas de instituição que venha a quebrar. Nos cofres do FGC há hoje algo como R$20 bilhões, colocados lá pela patuleia que toma empréstimos e, neles, paga taxas bancárias.
Na prática, o FGC virou uma ação entre amigos na qual a má qualidade da fiscalização do Banco Central juntou-se à má administração de bancos com diretores bem relacionados.
Durante a crise de 2008, o Fundo Garantidor foi um colchão eficiente para evitar uma crise de crédito. Socorreu 24 pequenos bancos emprestando-lhes R$4 bilhões. Nessa época, elevou-se a garantia dos depositantes de R$20 mil para R$70 mil. Como havia perigo de incêndio, criou-se uma proteção especial, que vai até R$20 milhões para papéis denominados DPGEs. Ela está aí até hoje. Há assim uma garantia para os cavalgados e outra para os cavalcantis.
No fim do ano passado, o FGC socorreu com R$2,5 bilhões o Banco PanAmericano, do empresário Silvio Santos. Foi a maior operação de sua história, concluída com a compra da instituição pelo BTG Pactual. O buraco era maior do que se pensava e o Fundo perderá alguns bilhões de reais. Até setembro passado, as arcas do FGC puseram R$8,5 bilhões em 26 bancos. Há mais gente na fila e, como sempre, há na fila interesses que nela já estiveram e a ela pretendem voltar.
Passados 16 anos da criação do FGC, a grande banca coabita com um mico. Aquilo que seria a privatização do risco bancário transformou-se numa terceirização de funções do Banco Central e numa modalidade de almoço grátis. Enquanto a alta finança inventou o conceito de "grande demais para quebrar", a baixa finança nacional criou os "pequenos demais". Pequenos no tamanho, não nos vínculos. No caso do PanAmericano, felizmente rastreou-se a generosidade com que seus diretores aspergiam dinheiro para candidatos petistas (legalmente) e para o tucanato alagoano, pagando contas que não eram suas.
Pode-se entender que bancos quebrem na Europa. No Brasil, se uma instituição financeira vai à garra, de duas uma: ou foi saqueada (o que ocorre na maioria dos casos) ou foi administrada por irresponsáveis. Do Banco Santos, que estava nas duas condições, o FGC só conseguiu recuperar 25% do que lá pôs.
Se os administradores do Fundo blindarem seu cofre, inclusive recusando tratativas verbais com o Banco Central, é possível que ele passe a garantir apenas os depositantes. Não se pode tirar dinheiro do FGC sem que a autoridade monetária sugira e justifique a operação, por escrito, documentando o processo. As negociações ocorridas em Wall Street na crise de 2008, bem como os nomes dos negociadores, são mais ou menos conhecidos. As conversas que levaram metade do PanAmericano para a Caixa, seu rombo para o FGC e o que sobrou para o Pactual ainda estão numa caixa de surpresas. O caso está na Polícia Federal.
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