quarta-feira, agosto 11, 2010

ELIO GASPARI

Leandro e seu vídeo são o Juruna 2.0
Elio Gaspari
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/08/10


  Era uma vez um índio chamado Juruna. Ele escandalizou o país no fim dos anos 70 com um simples gravador. O xavante ia aos gabinetes de Brasília, apresentava seus pleitos, ouvia o blá-blá-blá dos burocratas e gravava. Quando Juruna tocou suas fitas, o Brasil percebeu que não era só ele quem estava sendo feito de bobo e tratado como um estorvo. Juruna transformou-se numa celebridade e, em 1982, tornou-se o primeiro índio a sentar na Câmara dos Deputados. Deu-se à bebida e morreu no anonimato em 2002.
Para felicidade geral, existem hoje internet e YouTube. O garoto Leandro dos Santos de Paula, que vive no conjunto Nelson Mandela, em Manguinhos, perto de uma área conhecida como “Faixa de Gaza”, gravou em vídeo uma breve conversa com Lula e Sérgio Cabral durante uma visita dos dois ao bairro e tornou-se um Juruna 2.0.
Leandro queixou-se ao Nosso Guia de que na área esportiva da obra que os maganos visitavam não podia jogar tênis. Tomou a primeira, de Lula: “Isso é esporte da burguesia, porra”. (Se Leandro tivesse o chassis de Serena Williams, ele não arriscava uma cortada dessas.) Na condição de pai dos pobres, aconselhou: “Por que você não faz natação?”
“Porque a gente não pode entrar na piscina.” Por quê? “Porque não abre para a população.”
Nosso Guia virou-se para o governador Sérgio Cabral e ensinou: “No dia em que a imprensa vier aqui e pegar um final de semana com essa porra fechada, o prejuízo político será infinitamente maior do que colocar dois guardas aqui”.
Maravilha. A patuleia paga a piscina, não pode entrar, e Lula se preocupa com a possibilidade de a imprensa flagrar a cena. Sem imprensa, tudo bem. Ademais, o que ele teme é o “prejuízo político”. O da Viúva é desprezível.
Leandro reclamou do barulho que o “Caveirão” (o blindado com que a PM demonstra sua força) faz à noite na sua rua. Entrou em cena o governador Sérgio Cabral, chamando Leandro de “otário” e “sacana”. A intervenção de Cabral foi claramente intimidatória, mas o jovem não baixou a bola. Afinal, como no caso de Juruna, sua ação foi premeditada. Ele é freguês das comemorações triunfalistas do governador. À diferença do índio, ele faz o registro em vídeo.
Cabral sustenta que Leandro está sendo usado por interesses eleitorais. Engano. Foram ele e Nosso Guia que usaram a autoridade que a choldra lhes confere para desfilar vulgaridades, o resto é registro. Como diria o bandido Elias Maluco, “não esculacha”. Em seu benefício, foi arrogante, mas não chamou Leandro para a briga, como fez Ciro Gomes em Tianguá, nem estapeou um eleitor em Campo Grande, como fez o governador André Puccinelli. (Nos dois casos, os doutores haviam sido chamados de “ladrão”.)
Bem-aventurados os leandros desta vida, bem-aventurado o YouTube e glória eterna ao Juruna. O xavante, depois de eleito deputado, fez um discurso chamando todos os ministros do governo João Figueiredo de “ladrões”. O general invocou os sentimentos do ministro do Exército e quis que o ministério o processasse: “Eu quero todos! Quem não fizer, eu demito!” Onze fizeram, e chegou-se a temer uma crise com o Congresso. Deu em nada. O Brasil tinha começado a melhorar.

ZUENIR VENTURA

O charme da irreverência
ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 11/08/10


Não é engraçado que a grande novidade do debate da Band na semana passada tenha sido o candidato mais velho? Plínio de Arruda Sampaio, de 80 anos, que O GLOBO chamou de Plínio, o moço, em oposição a Plínio, o velho, da antiga história romana, encarnou o atributo juvenil da irreverência espirituosa que em momento algum ele confundiu com inconveniência ou agressividade. Acabou sendo a surpresa, a nota dissonante que se esperava que Marina fosse, em vez de ser um acorde ligeiramente distinto dos outros dois, que se exibiram com suas performances previamente ensaiadas e orquestradas.

A candidata verde representou sob vários aspectos o PT original, autêntico, mas que não existe mais, substituído que foi por um genérico fake.

Bem-humorado, trazendo para o debate um pouco do humor que a Justiça Eleitoral proibiu na campanha, Plínio se divertiu e divertiu a gente. O tom de suas críticas aos concorrentes foi sempre amistoso, mal disfarçando um certo paternalismo, mesmo quando disparava algumas franquezas contra o que chamou de bom-mocismo dos adversários. Com a quebra da linguagem formal por meio de um discurso mais coloquial, menos empostado, o candidato do PSOL foi um enorme sucesso junto aos jovens: 15 mil menções em 12 horas no Twitter.

Pelo conteúdo nem tanto, porque sua proposta de socialismo é mais radical e utópica, mas, pelo estilo, ele lembrou o Brizola de volta do exílio, elegendo-se governador do Rio em 1982 e candidatandose à Presidência em 89. O caudilho foi então um hit, com seu forte sotaque gaúcho, seu gestual teatral, seu timing próprio e sua capacidade de botar nos adversários apelidos caricaturais: Gato Angorá em Moreira Franco, Sapo Barbudo em Lula. Até nisso, Plínio foi parecido, chamando Marina de Poliana Ecocapitalista.

É difícil prever se a adesão virtual se traduzirá em votos ou se no mínimo alavancará a candidatura de Plínio. Tenho dúvidas de que uma ferramenta que no Brasil não teve força para baixar a audiência de Galvão Bueno, apesar do empenho, consiga eleger um presidente da República.

Mesmo que nada disso aconteça, a performance de Plínio serviu pelo menos para desestabilizar a desgastada retórica vigente nesta campanha. A irreverência bemsucedida provou que os códigos dos marqueteiros não podem virar ditadura.

O que o deputado Aldo Rabelo tem a dizer aos fluminenses e cariocas diante das fundamentadas denúncias de que o novo Código Florestal proposto por ele vai reduzir em quase 90% a área de preservação da Mata Atlântica no Estado do Rio?

GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO

LEITURA DINÂMICA
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 11/08/10

O governo vai fazer, em setembro, uma megapesquisa para avaliar os hábitos de informação "e formação de opinião" da população brasileira. Numa primeira rodada, com 12 mil pessoas, no começo do ano, levantamento semelhante constatou que 35% dos brasileiros maiores de 16 anos leem revistas e 46% leem jornais; 80% se informam por meio do rádio e 96,6% assistem à TV.

BIBLIOTECA 
A pesquisa constatou também que 53% nunca abrem um livro pra ler. O governo afirma que o levantamento servirá para refinar a primeira pesquisa e para redirecionar verbas de mídia no Orçamento de 2011. 

LADO A LADO 
Só três ministros não telefonaram nos últimos dias para prestar solidariedade a Joaquim Barbosa, do STF (Supremo Tribunal Federal), que tem sido criticado por tirar mais de cem dias de licença médica do tribunal: Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello.

NO FORNO 
O programa "Roda Viva", da TV Cultura, não será mais ao vivo. Ancorado por Marília Gabriela, ele passará a ser gravado com antecedência. A emissora afirma que pretende, com isso, criar expectativa divulgando momentos reveladores das entrevistas antes de elas irem ao ar.

MUITO ACOMPANHADO 
Em São Paulo para o lançamento de uma biografia da presidenciável Marina Silva (PV), Fernando Gabeira, candidato do PV ao governo do Rio, nega mal-estar por ter vindo a SP, na semana passada, para fazer campanha com José Serra. "Quando estou com a Marina, perguntam do Serra; se estou com o Serra, perguntam da Marina. Se estou sozinho, dizem que estou isolado. Se estou com algumas pessoas da minha coligação, dizem que estou mal acompanhado."

DÁ-LHE BEM-TE-VI 
O pássaro bem-te-vi lidera, com 4.418 votos, a eleição de animal silvestre símbolo de SP, feita pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. Na sequência aparecem o sabiá-laranjeira e o joão-de-barro. Em último lugar, o papa-vento, com 164 votos. A votação vai até o dia 27 de setembro, no sitewww.biodiversidade.prefeitura.sp.gov.br.

BRUNI EM BARRETOS 
O pecuarista Henrique Prata, diretor de gestão do Hospital do Câncer de Barretos, conta que embarca para Paris em outubro para se encontrar com a primeira-dama francesa, Carla Bruni. "Vou jantar com ela para acertar os detalhes da vinda dela a Barretos no fim do ano", diz.

CRÂNIOS E BICHOS 
Dezesseis animais embalsamados, dois crânios, cadeiras de rodas, muletas e andadores compõem as instalações do belga Jan Fabre na exposição "Umbraculum -Um Lugar na Sombra para Pensar e Trabalhar", que será inaugurada amanhã no Instituto Tomie Ohtake.

PALOCCI GANHA RIFA EM NOITE DE DOAÇÃO DE MAMÓGRAFOS 

Uma causa nobre e sobrenomes idem -as famílias Feffer, Gerdau, Safra e o bilionário Eike Batista, entre outros -se mobilizaram para comprar e doar mamógrafos a hospitais. Todos fazem parte da Américas Amigas, entidade idealizada pela ex-embaixatriz dos EUA, Barbara Sobel, para unir brasileiros e americanos por esta "causa maior", o combate ao câncer de mama no Brasil.
Há mamógrafos de sobra no país -mais de 1.200, que estão até ociosos, segundo especialistas. O problema é o uso inadequado, a falta de informação e o exesso de burocracia para a sua utilização. José Aristodemo Pinotti, morto no ano passado, mostrava em levantamento que cada aparelho poderia fazer 40 mamografias por dia, mas só realizava 16.

De qualquer forma, a Américas Amigas já conseguiu recursos para comprar e doar seis mamógrafos este ano.
E realiza festas disputadas. Anteontem, Barbara Sobel foi a anfitriã de um jantar em que foram vendidas rifas de bolsas e até de um carro para levantar dinheiro. Conseguiu R$ 317 mil. Antonio Palocci, coordenador da campanha de Dilma Rousseff (PT), por exemplo, comprou rifa de R$ 1.000. E ganhou duas noites de hospedagem no hotel Hyatt de Buenos Aires. "Aê ministro, se deu bem!", disse Luciano Huck, mestre de cerimônias do evento. Ele já havia sorteado hospedagens em Paris e brincou com o fato de estar oferecendo vouchers para Buenos Aires e Mendoza. "Daqui a pouco vou sortear hospedagem no Capão Redondo".
Eleonora Rosset levou a bolsa Hermès. "Ano passado ganhei a do Gucci." Neste ano, "a do Gucci" foi para a empresária Anna Cláudia Rocha, mulher de Flavio Rocha, da Riachuelo.
O jantar, chamado The Night of the Stars, foi animado por apresentações de Tiê, Nina Becker e Daniela Procópio. No menu, braseado de vitela com gratin de batata, duo de salmão com shimeji e pout pourri de sobremesas.
Foram sorteadas também uma blindagem de carro e um Mitsubishi Pajero. Roberto Civita, da editora Abril, ganhou o carro -e o colocou imediatamente à venda. A empresária Renata Seripieri deu o maior lance: R$ 150 mil, doados para a Américas Amigas. No fim da festa, Huck brincou com a anfitriã: "A Barbara disse que quem quiser um visto americano pode depois falar com ela".

PINGUIM DE LIVRARIA 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez uma palestra anteontem sobre o livro "O Príncipe", de Nicolau Maquiavel. O evento, no teatro Cultura Artística, no Itaim Bibi, lançou o selo Penguin - Companhia das Letras, que editará obras do catálogo da coleção Penguin Classics e uma série de clássicos da língua portuguesa.

CINEMA NA COZINHA 
André Klotzel estreou anteontem o filme "Reflexões de um Liquidificador". No longa, o eletrodoméstico conta a história de sua dona, interpretada por Ana Lúcia Torre.

CURTO-CIRCUITO

O procurador Manoel Pastana lança hoje o livro "De Faxineiro a Procurador da República", no Carpe Diem, em Brasília. Na sexta-feira, a sessão de autógrafos acontecerá na Livraria Cultura do shopping Villa-Lobos.

A mostra de fotografia "Coleção Pirelli/Masp" será inaugurada hoje, das 19h30 às 22h, no Masp.

O Fórum Nacional realiza amanhã evento para a entrega do "Plano Nacional de Desenvolvimento - A Hora e Vez do Brasil" aos principais candidatos à Presidência, na Academia Brasileira de Letras, às 10h, no Rio de Janeiro. 

A exposição "Coleção Domingos Giobbi - Arte, uma Relação Afetiva" será inaugurada no sábado, a partir das 11h, na Estação Pinacoteca.

MÍRIAM LEITÃO

Em nome dos fatos 
Miriam Leitão 

O Globo - 11/08/2010

Inflação fora de controle quem enfrentou foi o Plano Real. O acumulado em 12 meses estava em 5.000% em julho de 1994. Quando a inflação subiu em 2002, no último ano do governo Fernando Henrique, pela incerteza eleitoral criada pelo velho discurso radical do PT, ficou em 12%. Ela foi reduzida pelo instrumental que o PT havia renegado. Isso é a História. O resto é propaganda e manipulação.

O PT e o governo Lula têm dito que receberam o país com descontrole inflacionário e a candidata Dilma Rousseff repetiu isso na entrevista do Jornal Nacional. O interesse é mexer com o imaginário popular que lembra do tormento da inflação. A grande vitória contra a inflação foi conquistada no governo Itamar Franco, no plano elaborado pelo então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, como todos sabem. Nos primeiros anos do governo FH houve várias crises decorrentes, em parte, do sucesso no combate à inflação, como a crise bancária. Foi necessário enfrentar todas essas ondas para garantir a estabilização.

Nada daquela luta foi fácil. A inflação havia derrotado outros cinco planos, e feito o país perder duas décadas.

Todos sabem disso. Se por acaso a candidata Dilma Rousseff andava distraída nesta época, o seu principal assessor Antonio Palocci sabe muito bem o que foi que houve. Ele ajudou a convencer os integrantes do partido a ter uma atitude mais madura e séria no combate à inflação. O PT votou contra o Plano Real e fez oposição a cada medida necessária para consolidar a nova ordem. As ideias que o partido tinha sobre como derrotar a alta dos preços eram rudimentares.

Em 2002, a inflação subiu principalmente nos dois últimos meses, após a eleição.

A taxa, que havia ficado abaixo de 6% em 2000, subiu um pouco em 2001 e ficou quase todo o ano de 2002 em torno de 7%. Em outubro daquele ano, o acumulado em 12 meses foi para 8,5%. Em novembro, com Lula eleito, subiu para 10,9% e em dezembro fechou em 12,5%. É tão falso culpar o governo Fernando Henrique por aquela alta da inflação — de 12,5% repita-se, e não os 5.000% que ele enfrentou — quanto culpar o governo Lula pela queda do PIB do ano passado, que foi provocada pela crise internacional.

Recentemente, conversei com um integrante do governo Lula que, longe dos holofotes e da campanha, admitiu que essa aceleração final foi decorrente do fato de que a maioria dos empresários não acreditava que o governo Lula fosse pagar o preço de manter a estabilização.

Esse foi o mérito do PT. Foi ter contrariado seu próprio discurso, abandonado suas próprias propostas, por ter percebido o valor da estabilização. Esse esforço foi liderado por Palocci e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A inflação entraria numa rota de descontrole que poderia até ter destruído o esforço feito durante os oito anos anteriores se o governo Lula tivesse persistido nas suas propostas. A História foi essa e não a que a candidata Dilma Rousseff apresentou.

No caso da dívida, também a versão apresentada em palanque é diferente dos fatos. Por medo do governo Lula houve fuga de capitais e dificuldade de renovação de empréstimos a empresas brasileiras. Na negociação com o FMI, o Brasil acertou um empréstimo em que quase todas as parcelas seriam liberadas no governo Lula. Era para garantir um começo mais fácil para a nova administração. A conquista da confiança na condução econômica pela dupla Palocci-Meirelles fez com que a maior parte do dinheiro do Fundo nem fosse sacada porque os financiamentos voltaram. No final de 2008, houve de novo uma drástica suspensão do crédito externo para empresas brasileiras, mas não se pode culpar o governo Lula por isso. Como se sabe, foi a crise bancária americana e europeia. Com alguns números se pode construir versões fantasiosas, ou se ter a coragem de dizer a verdade, mesmo em época eleitoral, para não negar o mérito do passado, e mostrar o que se avançou.

Há virtudes na política econômica do começo do governo Lula. Nos últimos tempos há muitos defeitos também. Mas o importante agora é constatar que não é verdade que o país tenha crescido abaixo da média dos outros durante o governo Lula por culpa do governo anterior. O Brasil cresceu 1% em 2003. Depois cresceu forte em 2004. Nos anos de 2005 e 2006 o PIB variou 3,16% e 3,9% e o mundo crescia bem mais.

Não é possível responsabilizar o governo anterior por isso, evidentemente. Depois de crescer 6% e 5% em 2007 e 2008, o Brasil teve uma pequena queda do PIB, de 0,19%, no ano passado, por causa da crise externa e não de qualquer erro do governo Lula. Um número melhor do que o da Rússia, e abaixo dos outros Brics.

Enfim, a História é o que a História é. Essas distorções da realidade de época de campanha são tentativa de manipulação da opinião pública. Ofendem a memória e a inteligência das pessoas.

Seria preferível que a candidata governista falasse da boa notícia de que em 2010 o país cresce forte, com inflação baixa, e criando emprego. E não que menosprezasse as vitórias de países menores ou que falsificasse tão grosseiramente os fatos recentes da História do Brasil.

GOSTOSAS

DORA KRAMER

Feito quem come gilete
DORA KRAMER
O ESTADO DE SÃO PAULO - 11/08/10

O problema já havia surgido de maneira tênue no debate da Band, mas na entrevista do Jornal Nacional ficou explícito: de agora em diante caberá a Dilma Rousseff dar explicações sobre as contradições do PT e do governo Luiz Inácio da Silva.

As cobranças serão feitas a ela e não a Lula, pois é a candidata e não o presidente quem estará presente às entrevistas e aos debates que daqui até a eleição dividirão a cena com o horário eleitoral de televisão e com as pesquisas de intenções de voto.
Do horário cuidam os marqueteiros, das pesquisas tratam os institutos, mas das respostas às perguntas feitas sem combinação prévia só os candidatos propriamente ditos podem se encarregar.
A tarefa não é fácil para nenhum deles; nem para o experiente José Serra, que sempre pode escorregar (como, aliás, já escorregou) diante de um questionamento mais incisivo ou desconfortável.
Muito mais difícil é para Dilma. Por escassez de traquejo e abundância de passivos.
Na Band a candidata saiu pela tangente das cobranças de desempenho feitas pelo adversário tucano. Na Globo procurou se equilibrar, mas não conseguiu responder satisfatoriamente.
Cobrada sobre resultados pífios no crescimento econômico face ao desenvolvimento de vizinhos e de companheiros na categoria emergentes, socorreu-se na herança maldita, culpando o governo Fernando Henrique e mentiu ao se referir a inexistente descontrole inflacionário em 2003.
Ouviu seu preparo profissional ser posto em questão pelo entrevistador - “a senhora está preparada?” -, que a indagou ainda sobre uma possível tutela por parte do presidente Lula. Não pôde confirmar nem renegar, mas em algum momento daqui em diante terá de responder.
Bem como precisará ser mais clara a respeito do dedo posto por Willian Bonner em cima da ferida: o PT errou quando insultava Sarney, Collor e Renan ou errou depois ao se aliar a eles?
“Antes o PT não tinha experiência, amadureceu no governo”, respondeu Dilma. 
Quer dizer, é “maduro”, inevitável e indispensável juntar-se ao que há de pior - pelo critério do próprio PT - e, portanto, concluiu-se que, a depender dela, não há o menor risco de o nível melhorar.
Se não foi isso, o que então a candidata quis dizer? Nos próximos dois meses terá várias chances de explicar. 

O fiador - Antonio Palocci tranquiliza o establishment a respeito de temas que provocam dúvida e suscitam receio. 
Sobre a preponderância do PT nas decisões de governo sem Lula em cena, tem dito: o partido não tem vocação para atuar na administração. Prefere ficar distante e continuar defendendo algumas ideias das quais não se desgruda desde a fundação. Em miúdos: será o partido de um lado e o governo de outro.
Sobre a presença do PMDB no governo e seus conflitos com o PT: mais objetiva e interessada do que Lula no conteúdo das questões, Dilma sabe melhor como lidar com as dificuldades. Isso facilitará a administração dos mais que prováveis atritos entre PT e PMDB. 
Sobre guinada à esquerda: tem ainda menos margem de manobra que Lula para quaisquer concessões. Se Lula teve de se aliar ao atraso, Dilma por mais razão dependerá de alianças, digamos, tradicionais.

Caneta - O PSDB conta com a eleição de Geraldo Alckmin no primeiro turno da eleição em São Paulo para ajudar o desempenho de José Serra no segundo.
Eleito governador, Alckmin teria muito mais facilidade para convencer os prefeitos do Estado a ajudar o tucano a se eleger presidente.
Vacina. Pelo sim, pelo não, os tucanos mudaram os planos de começar o horário eleitoral com empate entre Dilma e Serra. Já dizem esperar que a pesquisa do Datafolha - para eles a única totalmente confiável - registre a dianteira da petista. Aguardam algo como cinco pontos porcentuais de frente.

RUY CASTRO

Cacarejos a 10 mil pés 

Ruy Castro

FOLHA DE SÃO PAULO - 11/08/10


O pior aconteceu. Leio que a TAM vai permitir o uso do celular durante os voos domésticos. Isso significa que, em vez de aproveitar o voo para cochilar e recuperar o sono atrasado ou pôr em dia minha leitura dos clássicos brasileiros ou da revista de bordo, terei de aturar os problemas pessoais do passageiro ao meu lado. 
E, mesmo que não tivesse nada a fazer e me limitasse a olhar para o teto do avião, por que devo ser obrigado a ouvir que o filhinho do passageiro está com diarreia e que ele recomenda à esposa que use a pomada tal contra assaduras? Ou que considera seu sócio uma besta e está dedicando metade do voo a espinafrá-lo porque o fulano não comprou o lote de bombinhas contra asma que o fabricante ofereceu com desconto? Ou que, definitivamente, ele não quer almoçar com a sogra neste domingo? 
O celular está fazendo com que todo mundo saiba da vida de todo mundo. As pessoas não se tocam de que a exposição não solicitada de sua intimidade pode ser uma agressão aos ouvidos dos outros. 
Outro dia, num trem de Sevilha a Córdoba, na Espanha, o sistema de som pediu que as pessoas abaixassem o volume ou emudecessem seus celulares, ‘em consideração aos outros passageiros’. Ou seja, queria evitar que o simples toque do telefone perturbasse o sossego geral. Aqui, uma empresa de aviação, não contente em infernizar a vida dos usuários com comerciais de televisão durante o voo, institucionaliza a cacofonia de celulares tocando a 10 mil pés de altura. 
Como sei que sou voto vencido e que a maioria dos passageiros aprovará a liberação do celular nos voos – as pessoas não conseguem parar de cacarejar umas com as outras, não sei de onde tiram tanto assunto –, só me resta seguir a sugestão de uma amiga: comprar um iPod, cravá-lo nos tímpanos e fazer de conta que o mundo exterior não existe

GOSTOSA

ILIMAR FRANCO

O risco Galeão 
Ilimar Franco 

O Globo - 11/08/2010

Os ministros Orlando Silva (Esportes) e Nelson Jobim (Defesa) se estranharam na reunião ministerial.

Orlando discorria sobre as obras para a Copa de 2014, quando chegou ao tema Galeão. Jobim então interveio falando do “risco aeroviário” decorrente de aterros sanitários, ocupação ilegal de áreas do aeroporto, depósitos irregulares de lixo que atraem pássaros e urubus. Irritado, Orlando reagiu: “Se é só isso, está resolvido. Vou ligar para o governador Sérgio Cabral e ele vai resolver”.

Defesa pede providências desde abril

O que o ministro dos Esportes não sabe é que o seu colega Nelson Jobim mandou uma carta, em 15 de abril, pedindo providências ao governador Sérgio Cabral. E até agora nada. Na carta, de três páginas, fala sobre os principais pólos de atração da fauna no entorno do Galeão: aterros sanitários do Jardim Gramacho, criação de animais no bairro de Tubiacanga, pesca de arrasto, depósitos irregulares de lixo que atraem aves e animais de médio e grande porte, colocando em risco os pousos e decolagens.

E conclui dizendo: “Podemos criar um cenário prospectivo em que seja concreta a ocorrência de um acidente por colisão com aves, particularmente no Galeão”.

Aqui nesta sala só eu e o José Alencar estamos fora do próximo governo. Tudo mais vai depender da eleição da nossa candidata e do desempenho de vocês” — presidente Lula, na reunião ministerial

NÃO FOI DESSA VEZ. O ministro Carlos Gabas (Previdência) foi o protagonista do momento de maior descontração da reunião ministerial. Para agradar ao presidente, com pompa, Gabas disse: “Tenho viajado muito pelo país. Até conheci o Zé Pereira, que trabalhou com o senhor na Volkswagen”. O presidente Lula o aparteou: “Rapaz, tem muita gente falando que trabalhou comigo na Volkswagen. Só tem um detalhe: eu nunca trabalhei na Volkswagen”. Os ministros presentes rolaram de rir.

Fiel

O candidato ao Senado pelo PMDB catarinense, o ex-governador Luiz Henrique, não passa um dia sem defender a candidatura de José Serra (PSDB).

Ontem, falando a empresários, disse que com Serra todos vão pagar menos impostos.

Repescagem

O PT-RJ reviu a lista dos candidatos a deputado federal que vão aparecer nas inserções da propaganda eleitoral na TV. Foi aprovada proposta do presidente do diretório, Luiz Sérgio, incluindo o ex-deputado Antonio Carlos Biscaia.

Produção artesanal

A campanha de Marina Silva (PV) pediu a seus militantes que enviem vídeos de incentivo a sua candidatura para serem utilizados no programa eleitoral gratuito. Mas é preciso falar as seguintes frases: “Eu sou Marina”, “Eu sou marineiro”, “Eu sou mais um”. E a campanha faz um alerta, em texto enviado à militância: “As mulheres devem dizer ‘mais um’, nunca ‘mais uma’. E ‘marineiro’, nunca ‘marineira’”.

Marcando a diferença

Para se contrapor a José Serra (PSDB), que defende uma reforma do Mercosul e critica as relações do governo Lula com os governos da Bolívia e da Venezuela, a proposta de governo elaborada por Marco Aurélio Garcia para Dilma Rousseff defende o aprofundamento da atual política externa, “dando ênfase especial aos processos de integração sulamericana e latino-americana, à cooperação sul-sul, à solidariedade com os países pobres e em desenvolvimento”.

O PRESIDENTE Lula proibiu seus ministros de pedirem férias nos próximos três meses. Quem pretendia sair, para fazer campanha, dançou.

SOBRE a reunião ministerial, fala o ministro Wagner Rossi (Agricultura): “Foi uma chamada do presidente para que não haja menos empenho no final do governo.

Foi para calibrar”.

EDITORIAL - O GLOBO

Subsídio do BNDES precisa ser explicitado
EDITORIAL
O GLOBO - 11/08/10
Talvez pelo clima eleitoral, entidades empresariais representativas de segmentos da indústria divulgaram nota sob o título “Em defesa do investimento”, para firmar posição ao lado do BNDES. Não por acaso, trata-se de clientela tradicional do banco público (indústria química, siderurgia, máquinas em geral etc.). Como as críticas à capitalização da instituição financeira feita pela via do endividamento passaram a constar do discurso de candidatos da oposição, estas entidades foram à luta no campo da batalha política. Para desavisados que leram o manifesto, a injeção de R$ 180 bilhões no banco, captados pelo governo por meio do lançamento de títulos da dívida pública, foi magistral operação feita na hora certa, a fim de evitar que os efeitos da crise mundial deprimissem ainda mais a já anêmica taxa de investimento. Logo, deduzem, os críticos conspiram contra a elevação de patamar dos índices de crescimento.

Engano. Nem tampouco fazer reparos à forma como foi realizada a capitalização do BNDES significa rejeitar o apoio estatal a este ou àquele setor. O x da questão é como tudo foi realizado, pela via do endividamento em condições que embutem nos créditos concedidos pelo banco pesados subsídios a serem arcados pelo contribuinte. Afinal, o Tesouro paga, pelo dinheiro que capta, juros Selic (hoje, 10,75%), e o BNDES empresta a 6%.

O próprio manifesto dos empresários admite o subsídio e reconhece — outro aspecto negativo da operação — a necessidade de a sociedade ser informada dos detalhes da transferência de bilhões ao banco, feita de uma maneira que infla a dívida bruta e mantém sem acréscimos o endividamento líquido, numa espécie de maquiagem contábil.

O uso nada transparente de dinheiro público para sustentar empresas cobrando-lhes juros subsidiados já ocorreu no passado (governo Geisel), com resultados conhecidos: empresas sem competitividade e, no final, perdas para a Viúva.

Também como naquela época, persegue-se a criação de empresas “campeãs nacionais”.

Mas a qual preço? A operação fortemente apoiada pelo Executivo de constituição de uma “campeã nacional” nas telecomunicações (a Oi, a “Supertele”) já não deu tão certo: subestimaramse passivos, e o jeito foi quebrar o dogma do grupo puro-sangue brasileiro e permitir que a Portugal Telecom comprasse parte da companhia. São contingências de um mercado em grande transformação. Mas o fato é que os bilhões colocados na empresa em dinheiro do contribuinte (via subsídio embutido em crédito do BNDES e por meio de fundos de pensão de estatal, os quais, quando têm problemas de caixa, se socorrem de forma indireta no Tesouro) não deram o resultado que os estrategistas do Estado forte buscavam. Como houve desvalorização patrimonial, existe pelo menos um prejuízo contábil.

A história econômica brasileira é repleta de passagens em que a “mão visível” do Estado se move guiada por parâmetros irracionais, na escolha de bem-aventurados empresários, os tais “campeões”, aqueles que passam a ter trânsito livre nos gabinetes do poder e nos cofres do Erário. O problema é que sempre o contribuinte paga a conta no final desses projetos em que o burocrata decide o que é melhor para a sociedade. Vale a imagem surrada: não há almoço de graça, e a conta costuma ser espetada na sociedade.

Frustração na criação da ‘Supertele’ serve de alerta sobre essas operações

BANDIDOS

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Cerco à Petrobrás
EDITORIAL
 O Estado de S.Paulo - 11/08/10

O desafio mais urgente para a Petrobrás é conseguir dinheiro barato e suficiente para os investimentos no pré-sal, estimados em US$ 224 bilhões até 2014. É hoje o mais ambicioso projeto da indústria petrolífera mundial. A melhor solução é a capitalização, no menor prazo possível, por meio da venda de ações. Mas, para tomar esse rumo, a estatal precisa vencer uma disputa absurda com a Agência Nacional do Petróleo (ANP). O diretor-geral da agência, Haroldo Lima, elegeu como prioridade o aumento da participação do Estado no capital da Petrobrás, além de insistir na preferência a fornecedores nacionais de equipamentos, embora incapazes de atender às necessidades da empresa.

Essa incapacidade é reconhecida pelo diretor-geral da ANP, mas ele só admite uma redução temporária da participação nacional no fornecimento. A Petrobrás defende uma redução de 65% para 35%, segundo fontes do setor. O diretor Haroldo Lima tem resistido. Segundo ele, "na média da participação nacional não se mexe". Assim, se houver diminuição do conteúdo nacional na fase exploratória, será preciso haver uma compensação na etapa de desenvolvimento. Em outras palavras, será necessário garantir a preferência mesmo se isso tornar mais cara e menos eficiente, em termos técnicos, a produção de petróleo e gás no pré-sal.

Isso é uma evidente irracionalidade, que, aliás, não foi inventada agora. Desde o começo de seu primeiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionou a Petrobrás para dar preferência a fornecedores nacionais, ainda que em prejuízo próprio.

Depois, a legislação sobre a exploração do pré-sal converteu a Petrobrás, formalmente, num instrumento de política industrial. Seus dirigentes engoliram e defenderam essa tolice. Alegaram a necessidade de fortalecer a indústria brasileira para se evitar a "doença holandesa" - a desindustrialização, no caso de o Brasil se tornar uma grande potência petrolífera.

Agora, a disposição da empresa de favorecer os fornecedores nacionais parece ter-se esgotado, diante do despreparo da indústria brasileira para preencher os 65% de participação. Os fornecedores poderão melhorar e para isso precisarão investir. O BNDES talvez possa ajudá-los, se sobrar dinheiro depois dos grandes financiamentos concedidos a grupos poderosos.

O problema da capitalização é o mais grave, a curto prazo, porque de sua solução dependerá a realização dos ambiciosos projetos da Petrobrás. A primeira dificuldade é a fixação de preço para os cerca de 5 bilhões de barris cedidos pelo governo como contribuição para o aumento de capital. Analistas do mercado indicam um valor em torno de US$ 6 por barril. Dirigentes da Petrobrás preferem um preço menor, na altura de US$ 5. Nesse caso, o aporte do governo equivalerá a US$ 25 bilhões. O diretor-geral da ANP insiste em US$ 8 por barril. Esse preço elevará a contribuição estatal para US$ 40 bilhões. Segundo Haroldo Lima, esse valor protegerá os interesses do povo brasileiro e até permitirá elevar a participação estatal na empresa de 32% para cerca de 40% do capital total. Mas essa é apenas uma bandeira ideológica, que em nada contribuirá para converter o pré-sal numa fonte de riqueza efetiva.

Se prevalecer a pretensão do diretor-geral da ANP, os acionistas minoritários terão dificuldade para acompanhar o governo na capitalização. Se o petróleo continuar na faixa de US$ 80 por barril, a Petrobrás terá de conseguir uns US$ 60 bilhões para realizar os investimentos projetados para os próximos anos. Isso é dinheiro de verdade, enquanto a participação do governo consiste em 5 bilhões de barris escondidos a milhares de metros abaixo da superfície do mar.

Enquanto os impasses permanecem, a capitalização atrasa e o valor de mercado da Petrobrás encolhe. A alternativa seria buscar empréstimos, mas isso aumentaria perigosamente o endividamento da empresa. No momento, sua dívida equivale a cerca de 31% do patrimônio líquido. Se passar de 35%, a estatal poderá perder a classificação de grau de investimento e terá mais dificuldades para se capitalizar. Não se sabe se alguém tentou explicar detalhes práticos como esse ao diretor-geral da ANP e a quem o pôs no cargo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

MERVAL PEREIRA

Quem é quem ? 
Merval Pereira 

O Globo - 11/08/2010

O fenômeno da transubstanciação de Dilma em Lula é o maior desafio que o candidato oposicionista José Serra enfrenta, sem estar preparado para tal. Aliás, taxá-lo de oposicionista em ambientes populares o preocupa, e sua veia crítica só é utilizada em determinados ambientes e para determinados públicos. O que torna muito difícil a sua vida de candidato.

A capacidade de transferência de votos de Lula era menosprezada pelos tucanos, especialmente pela fragilidade da candidata tirada do bolso do colete, Dilma Rousseff, que era comparada nos bastidores da campanha de Serra ao marechal Teixeira Lott, pela inabilidade política.

Na eleição presidencial de 1960, Lott foi lançado candidato pela coligação governista PTB/PSD que elegera JK e dera sustentação ao seu governo.

Juscelino, interessado em voltar ao poder para um segundo mandato em 1965, (não havia reeleição na época) apoiou Lott, que foi derrotado por Jânio Quadros.

Tudo indica que os tempos são outros e, sobretudo, que Lula é mais popular no momento do que Juscelino jamais foi em sua época, e não há nada parecido com Jânio na postura política de Serra.

A começar pelo receio que o candidato do PSDB tem de atacar Lula, de ser visto como anti-Lula, coisa que não afetou a campanha de Jânio que, ao contrário, centrou seus ataques na corrupção, empunhou a vassoura saneadora e teve êxito.

Serra está à procura de temas que sirvam para atacar o governo Lula sem atacar o próprio, enquanto Dilma a cada dia valoriza mais o papel de “laranja eleitoral” de Lula, recusando-se a aprofundar o debate de políticas governamentais, passando apenas a única mensagem que interessa, a da continuidade do governo Lula.

No primeiro debate, realizado pela TV Bandeirantes, Serra mostrou o que deve ser o tema central de sua campanha eleitoral na televisão: críticas a temas específicos que são os que aparecem nas pesquisas como os mais mal avaliados do governo Lula: saúde, educação e segurança pública.

Na verdade, o governo Lula tem uma alta avaliação devido quase que exclusivamente à sensação de bem-estar experimentada pela população de maneira geral, e dentro desse clima é impossível querer tratar de temas polêmicos como as reformas da Previdência e da legislação trabalhista, por exemplo.

O próprio Lula, depois de ter iniciado o governo com ânimo reformista, tendo aprovado algumas mudanças importantes na área previdenciária, recuou desse ímpeto e nem mesmo regulamentou os avanços alcançados, anulando-os na prática para não entrar em atrito com os sindicatos.

Ao contrário, o governo Lula deu mais poder às centrais sindicais, reconhecendoas formalmente e negociando com elas a política salarial do país.

Com a economia mundial de vento em popa, pode aumentar o alcance do Bolsa Família e aprofundar a política de dar aumentos reais ao salário mínimo, que vinha do governo anterior.

Nesse quadro de bondades sucessivas, não havia espaço para reformas estruturais do Estado, sem as quais o país não estará realmente preparado para um crescimento sustentável.

Mas como não é possível aos candidatos oposicionistas competitivos — na suposição de que Marina Silva do PV seja oposição — entrarem nessas discussões de fundo, seria de esperar que pelo menos contestassem o governo nas políticas setoriais que são frágeis.

A candidata Marina, por exemplo, poderia, com conhecimento de causa, denunciar que o interesse do governo Lula e, especificamente, o da ex-ministra Dilma Rousseff pelo meio ambiente não passa de jogada eleitoral.

Ela sabe disso, pois passou quase sete anos no governo tendo divergências internas sérias, e acabou saindo por não conseguir que o meio ambiente fosse um tema central do governo Lula.

Mas Marina se sente mais à vontade em brigar com o PSOL do que com o PT, onde permaneceu por mais de 30 anos.

Da mesma maneira, Serra pisa em ovos quando vai criticar o governo Lula, e parece paralisado em suas ações.

A divulgação, ontem, do novo Índice de Valores Humanos (IVH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) lhe dá dados para uma crítica no setor de saúde, em que ele é muito bem avaliado.

O novo Índice de Valores Humanos é composto pelos setores de trabalho, saúde e educação. Ele mostra o setor de saúde em pior condição do que os outros dois, que também não se encontram bem.

Em uma escala de zero a 1, sendo 1 o melhor resultado, o Brasil tem um IVH de 0,59, sendo que na educação o índice ficou em 0,54, e na saúde, em 0,45.

Esses dados fazem parte de um outro levantamento, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), também do Pnud.

O índice anunciado em outubro do ano passado mostra o Brasil em 75° lugar, tendo caído dez posições no governo Lula, embora continue na faixa de Alto Desenvolvimento Humano.

Mas, na comparação com nossos competidores diretos, continuamos perdendo terreno. Na comparação com o último ranking, cinco países se destacaram por terem subido três ou mais posições: China, Colômbia, França, Peru e Venezuela.

Com exceção da França, que voltou ao grupo dos dez primeiros, China, Colômbia e Venezuela melhoraram na educação.

No nosso caso, é ao contrário.

O Índice de Desenvolvimento Educacional, anunciado pela Unesco em janeiro deste ano, ficamos em 88 olugar, caindo 12 posições no governo Lula em face do baixo nível do ensino fundamental no país.

Há outras listas em que o Brasil vai mal, como o da Transparência Internacional sobre combate à corrupção, onde aparecemos em 80olugar, ou o da violência, onde o Brasil é o 83ocolocado entre 121 países do relatório do Economist Intelligence Unit da revista inglesa “The Economist”.

Mas quem quer falar de problemas, quando tudo vai indo tão bem?

GOSTOSA

FÁBIO TOFIC SIMANTOB

O Grande Pai
Fábio Tofic Simantob 
O Estado de S.Paulo -11/08/10

Em comemoração pelos 20 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - como se houvesse motivos para comemorar a data -, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, encaminhou projeto de lei ao Congresso Nacional propondo a penalização dos castigos físicos dispensados a crianças e adolescentes. O projeto prevê pena de advertência, proteção à família e orientação psicológica para quem usa castigo corporal ou confere tratamento cruel ou degradante à criança ou ao adolescente.

É importante observar que, ao contrário do que a proposta sugere, nossa lei penal há décadas criminaliza o abuso dos meios corretivos e educacionais praticados contra pessoas sob a guarda ou vigilância do agressor (seja ele criança, adolescente, idoso ou incapaz por qualquer outro motivo). É o que prevê o artigo 136 (maus-tratos) do Código Penal, ao estabelecer que é crime apenado com detenção de 2 meses a 1 ano ou multa a conduta de "expor a perigo a vida ou a saúde de pessoas sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina".

Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave, a pena é de 2 a 4 anos e, se resulta morte, é de 4 a 12 anos, em todo caso aumentada em um terço se a vítima for menor de 14 anos.

Se, de um lado, o que permite a comprovação dos maus-tratos é a objetiva constatação das sevícias, a configuração ou não da palmada acabará sendo decidida ao alvitre do intérprete, no ilimitado terreno dos subjetivismos. Sim, pois fazendo um confronto lógico entre as duas figuras, a que existe há décadas no Código Penal (os maus-tratos) e a que consta da proposta do governo de reforma do ECA, a conclusão é de que esta última servirá como figura subsidiária da outra. Ou seja, quando o fato não for grave o suficiente para configurar maus-tratos, será enquadrado na figura mais branda do ECA. É a punição da famosa palmada no bumbum.

Isso quer dizer que os problemas graves de violência doméstica contra a criança continuarão a ocorrer, e quanto a isso não se apresentou nenhuma proposta. Mesmo porque esse, como vários outros, não é um problema que se resolve no fácil terreno da canetada legislativa, mas no árduo e espinhoso alpendre da política pública.

Ao querer ensinar como se educa, o governo prova não conhecer outro meio senão aquele mesmo que ele visa a coibir: o do castigo. Isso não é de estranhar, basta dar uma espiada na forma como o próprio Estado educa as crianças e os adolescentes que vivem sob sua tutela nas casas correcionais (entre as quais a Febem é de triste memória e a Fundação Casa não chega a ser um louvável exemplo presente), ou pior até, aquelas que deveriam estar sob sua tutela, mas não estão. A regra, então, é a da lógica cartesiana. Como há um consenso de que não se deve castigar uma criança com corretivos físicos, a conclusão é uma só: quem assim procede deve ser punido. Nada mais aparentemente óbvio, nada mais equivocado.

Essa é a tática totalitária de resolver problemas pelo caminho do óbvio. Havendo consenso nacional sobre um mal a combater, ao chefe supremo cabe abreviar o caminho que leva ao aniquilamento imediato do problema. Tão simples quanto desastroso. Não é demais lembrar que práticas totalitárias não são privilégio de Estados tirânicos, a tirania só é uma forma não-democrática de escolher os métodos, o que não significa a escolha de métodos piores.

Arvorando-se em Grande Pai da Nação, como que monopolizando para si todo o amor do povo, nosso Leviatã chega ao ponto de querer ser amado ao custo da desintegração familiar. Consegue numa só tacada o amor do filho repreendido e o temor do pai equivocado, atingindo a perfeição maquiavélica (ser amado e temido ao mesmo tempo).

O que diferencia as práticas totalitárias das outras é a completa falta de sensibilidade das primeiras e sua incompreensão sobre a complexidade dos problemas do homem; não há naquelas a sábia percepção de que a política nunca será capaz de resolver todos os problemas da condição humana e que, às vezes, deixar um problema sem resposta é melhor do que dar-lhe uma política equivocada.

Pergunta-se: afinal, o que é mais humilhante ou degradante, a palmada no bumbum numa via pública ou a eterna lembrança de que, por causa disso, sua mãe foi levada a prestar contas à polícia?

Ainda que se argumente com a possibilidade de a própria criança ou o adolescente se ofender com o corretivo dos pais e, por causa disso, denunciá-los às autoridades, é certo que o abuso causado pela exposição da família a vexame é tão ou mais traumatizante do que qualquer tratamento mais rígido dispensado ao menor - desde que, repita-se, não venha a configurar a forma de agressão mais grave, já prevista há décadas como crime de maus-tratos no Código Penal.

De fato, a criança pode ser capaz de esquecer as palmadas de um dia para o outro, mas custará a se livrar do martírio que é ver seus pais respondendo pela acusação que ela mesma deflagrou. O Estado que queremos ainda é aquele do policial que pega um menor desses pelo braço e o devolve aos pais, aconselhando-o a ser uma criança mais obediente.

Como se vê, há também um contingente de perversidade na proposta governamental, que é o de fazer do Estado o Grande Pai, prática muito comum nas máfias e na criminalidade organizada. O Estado passa a usar um instrumento perigoso e fortemente sedutor numa criança de mente ainda bastante vulnerável - o da libertação parental, com a qual toda criança zangada um dia sonhou - para se imiscuir numa relação íntima e privada, e sair dela como o grande e falso herói. É o Estado querendo se apoderar das relações afetivas para se redimir da catastrófica forma como ele próprio vem tratando as nossas crianças.

ADVOGADO CRIMINALISTA, É DIRETOR DO INSTITUTO DE DEFESA DO DIREITO DE DEFESA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Investimento em projeto de bagaço de cana sobe no BNDES 
Maria Cristina Frias
Folha de S.Paulo - 11/08/2010

O apoio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) a investimentos em cogeração de energia elétrica a partir do bagaço de cana-de-açúcar está em alta.
Os desembolsos para investimentos em cogeração devem ficar em cerca de R$ 1,3 bilhão neste ano.
Os "spreads" cobrados nos financiamentos para esse tipo de projeto estão entre os mais baixos do banco, de 0,9% ao ano.
A ideia é ampliar a participação dessa fonte na matriz energética brasileira, de acordo com o banco.
Em 2004, ano que representou a introdução dos carros flex no país, foram R$ 127 milhões em desembolsos.
O volume subiu progressivamente, até o ápice de R$ 1,6 bilhão em 2008, quando houve um boom de investimentos do setor em projetos de plantas novas de etanol, muito focado em cogeração de energia. No ano passado, devido à crise financeira internacional, houve um leve recuo para R$ 1,3 bilhão.
Para os próximos anos, as projeções do banco são novamente de alta.
Os investimentos aprovados até agora devem garantir 2,5 mil MW de potência instalada, em 2012.

MAIS NORDESTE

Com menos de dois meses de criação, a Meggadig, importadora de máquinas para construção do Grupo Megga, acaba de abrir uma filial em Recife. A previsão da companhia é atingir faturamento de US$ 100 milhões em três anos.
"Essa receita será maior que a de todas as outras cinco empresas do grupo juntas", diz Thomas Lee, presidente do conselho do Grupo Megga. A nova empresa comercializa equipamentos da Lonking, uma das maiores fabricantes de máquinas para construção da China.
Até agora foram importadas cerca de 50 máquinas. "Devemos atingir 150 unidades até o final deste ano." A escolha de Recife para a abertura da nova filial veio no rastro dos aumentos dos investimentos do governo no Nordeste, segundo Lee.
"Os investimentos em infraestrutura têm de aumentar no Brasil. Quando o país tiver uma infraestrutura eficiente, o custo-Brasil irá diminuir, e o país irá se tornar competitivo nas exportações", afirma Lee.

CUSTO É MENOR PARA LATINOS

Abu Dhabi, Londres e Nova York estão entre as cidades mais caras para estacionar carros, segundo Colliers Internacional. A única região que não entrou na lista das 50 cidades com preços mais altos para estacionar é a América Latina. Mas, de acordo com a pesquisa, as tarifas do continente devem subir com o aumento do número de motoristas.
Alto-mar A Insight Consulting, especializada em gestão, finanças e tecnologia da informação, desenvolveu um sistema de logística de pessoal para plataformas. O programa é capaz de melhorar em 30% o planejamento e o controle dos grupos de embarque e desembarque. O software, que custou R$ 400 mil, também reduz custos em até 20% e está em implantação em seis plataformas de óleo e gás no território brasileiro.

CEOs Duncan Niederauer, CEO da Bolsa de Valores de Nova York, Jeffrey Sachs, da Columbia University e conselheiro especial das Nações Unidas, e Mark Cutifani, CEO da AngloGold Ashanti, são alguns dos nomes confirmados para a reunião anual do CCI (Conselho Consultivo Internacional) da FDC (Fundação Dom Cabral). O CCI acontece entre os dias 15 e 17 deste mês, em Nova Lima, no Campus Aloysio Faria, Belo Horizonte.

EM DIA COM O PAGAMENTO

A inadimplência se manteve estável no mês passado, ante o mesmo período de 2009, segundo levantamento da Fecomércio-RJ.
Apenas 10% dos consumidores estavam com alguma prestação atrasada em julho. Simultaneamente, aumentou de 26% para 31% o percentual de brasileiros que tiveram sobra orçamentária após o pagamento de todas as despesas mensais.
"O cenário, construído pela evolução do emprego, da renda e da estabilidade no mercado de trabalho, indica que a inadimplência deve permanecer em um patamar favorável até o final deste ano", informa a entidade.

Receita da nonna Até 2011, o Brasil deve se tornar o primeiro mercado da América Latina para a italiana Riso Gallo, fabricante de risotos. Hoje, o país está atrás da Venezuela. As vendas da empresa para o Brasil, pela Aurora, crescem 15% ao ano. "Hoje, é o mercado com maior alta", diz Alejandro Titiunik, executivo da Riso Gallo. Pela primeira vez, dois restaurantes brasileiros foram incluídos do Guida Gallo, guia da Riso, que lista os locais onde é possível comer risotos tipicamente italianos.

No páreo O canal de TV aberta "Esporte Interativo" pretende começar a expandir suas atividades. A emissora afirma negociar transmissão para o Rio e para Brasília. A receita, segundo a empresa, cresceu 102% no primeiro semestre de 2010 ante o mesmo período do ano passado.

Sem derreter A Häagen-Dazs teve crescimento de dois dígitos no primeiro semestre deste ano. O número representa avanço quatro vezes maior que o do mercado.