O GLOBO - 03/08
Um grupo de intelectuais ligado a Zé Dirceu, liderado por Fernando Morais, elabora um manifesto para pedir ao STF que julgue o mensalão de acordo com os autos, sem pressão política.
Aliás, como se sabe, Morais escreve uma biografia de Dirceu.
O Rei na novela
Roberto Carlos vai ceder a Glória Perez uma de suas tão aguardadas músicas inéditas para compor a trilha da próxima novela das 21h da TV Globo, "Salve Jorge’!
Tolerância zero
De zero a dez, beira zero a paciência de Dilma com a ameaça de greve dos auditores fiscais, categoria da Receita Federal com um piso inicial de R$ 14 mil.
O estilo Dilma...Aliás, do deputado Valdemar Costa Neto, réu do mensalão, ontem, ao ouvir de um correligionário do PR que Dilma é "igual a comunista”:
— Não sei se ela é igual a comunista. Mas se os comunistas fossem iguais a ela, o comunismo... não tinha acabado na Rússia.
Petróleo na soja
O grupo Sonangol, a Petrobras de Angola, negocia a compra de duas fábricas de processamento de soja em Mato Grosso.
Coisa de uns US$ 800 milhões. O negócio deve ser fechado semana que vem em Portugal.
Herança"Herança” último volume da saga iniciada com "Eragon” do americano Christopher Paolini, principal lançamento juvenil da Rocco para a Bienal de São Paulo, esgotou a tiragem inicial de 30 mil exemplares ainda na pré-venda, antes de sair da gráfica.
A editora já prepara nova fornada de mais 20 mil exemplares.
O REPOUSO DAS GARÇAS
Esta árvore, na Freguesia, em Jacarepaguá, virou dormitório para cerca de 25 garças que, toda a noite, fazem na copa generosa o seu repouso. Repare na cena. Mas, agora, obras de macrodrenagem do Rio Sangrador, ali perto, tocadas pela Rio Águas, ameaçam a vida da frondosa e a paz das penosas. A arquiteta e urbanista Gisela Santana, vizinha da obra, está em negociação com os engenheiros para tentar salvar a árvore. “Outras já foram cortadas nas margens do rio”, conta. “Esta fica próxima à Rua Geminiano de Gois. Nosso bairro tem sofrido com a forte especulação imobiliária, que gera perda do habitat de diversas espécies. Seria ótimo poder salvar ao menos esta, como símbolo da preservação.” Deus proteja a árvore, olhe pelas garças e não nos desampare jamais •
Gois em Londres I
O fim dos Jogos deve marcar o início de grandes reformulações na comissão técnica da seleção de Mano Menezes.
Com ou sem o ouro, gente graúda, até então com plenos poderes, está ameaçada de perder a função.
Gois em Londres II
Aliás, no alarme falso de incêndio no hotel da seleção de Mano, em Newcastle, chamou a atenção uma cena no quarto do diretor Andrés Sanchez, que dormia quando o... "uóóóónn”.. soou no segundo andar.
Sonado, Andrés achou que era o alarme do rádio-despertador, na cabeceira. Só se deu conta ao tirar o aparelho da tomada, e aí... zupt!... correu!
Oi, oi, oi
Da ministra Ana de Hollanda, ontem, fazendo graça com o sucesso de "Avenida Brasil’,’ a novela da TV Globo, ao lançar a campanha na TV do programa Leia Mais, Seja Mais, de incentivo à leitura:
— Então... logo mais, entre um tapa da Carminha e um bofetão da Nina, vocês poderão ver a chamada.
A luta continua
Domingo, uma nova favela carioca, agora na Zona Norte, será ocupada pelas forças de segurança.
Por segurança
A Mangueira decidiu começar às 15h, amanhã, e não às 22h, a disputa do samba da escola para 2013.
Museus do Rio
O Ministério da Cultura vai dar R$ 7,6 milhões para os museus do Rio. Serão contemplados, entre outros, o Museu da Moda e o Museu Antonio Parreiras.
Além desta verba, o Museu Castro Maia ganhará R$ 2 milhões, segundo o presidente do Ibram, José Nascimento Jr.
O amor é lindo
Marcos Palmeira e Maria Paula estão de namorico.
Negócios da fé
A gravadora MZA, do produtor Marco Mazzola, ganhou a disputa para lançar os produtos oficiais da Jornada Mundial da Juventude, no Rio, em 2013.
Já estão programados para o fim do ano um CD e um DVD só com cantores católicos.
A maior diversão
O grupo Severiano Ribeiro/Kinoplex venceu a licitação da RioFilme e da prefeitura para operar o cinema do novo Imperator (agora Centro Cultural João Nogueira), no Méier, com três salas e 400 lugares.
Vai se chamar CineCarioca Méier. Os ingressos custarão, em média, R$ 10.
Sorte no boteco
Veja como a sorte tem frequentado os bares do Rio.
Depois dos garçons do Cervantes, na Barra, que faturaram a Quina de São João, lembra?, agora uma auxiliar de cozinha do Bar da Gema, na Tijuca, pediu demissão depois de ganhar R$ 30 mil numa raspadinha. Que seja feliz.
sexta-feira, agosto 03, 2012
Crise econômica na agenda - ROBERTO FREIRE
BRASIL ECONÔMICO - 03/08
A presidente Dilma, receosa de que o julgamento do mensalão pelo STF empurre a sua lama para o Planalto e tome conta da agenda política do governo, prepara mais um novo pacote de incentivos à economia em crise, para muito além da marolinha, neste mês de agosto.
A General Motors anunciou o fechamento de sua fábrica de São José dos Campos (SP), o que ocasionará a demissão de 1,5 mil empregados. O sindicato local prevê ainda a demissão de outros 4 mil trabalhadores da cadeia produtiva.
O governo esperneia porque reduziu o IPI dos carros em troca da manutenção do nível de emprego. No entanto, a medida teve impacto menor do que o esperado, já que o consumidor endividado não está disposto a assumir mais compromissos. O resultado são as demissões. Completa-se o ciclo vicioso: menos consumo, menos emprego, menor produção industrial.
O governo apresentou vários pacotes de estímulo à economia, como a redução do IPI de carros, da linha branca e móveis, e nada parece surtir efeito. Como apontamos em diversos artigos, o problema central das medidas governamentais está no diagnóstico sobre a crise.
O modelo de crescimento desenvolvido no governo Lula, baseado na exportação de commodities e na expansão do consumo interno, esgotou-se. É necessário formular um novo modelo, focado no investimento produtivo e na inovação tecnológica.
Não adianta tentar salvar o crescimento do PIB de 2012, que ficará abaixo dos 2%, conforme previsão do Banco Central. Para isso é preciso que o governo tenha um horizonte mais amplo, que prepare o país para retomar o crescimento em bases mais sólidas e sustentáveis.
Para agravar tal cenário, Dilma enfrenta ainda outro problema com forte consequência sobre o conjunto da economia como um todo: o baixo nível do investimento público. Ao tentar retomá-lo, o governo encontra boa parte do funcionalismo em greve ou fazendo operação padrão, o que prejudica a importação de insumos e, consequentemente, a produção industrial.
O governo insiste em negar ao funcionalismo o direito básico previsto na lei trabalhista de não redução salarial. Com inflação de 6,5% em 2011 e 5,9% em 2010, várias categorias sentem a redução salarial no bolso. Negar ao menos a recomposição salarial é tolher direitos dos trabalhadores. Essa postura intransigente tem afetado muito a economia nacional, que depende desse investimento para retomar o crescimento.
A verdade é que a presidente Dilma tem se mostrado uma péssima gerente de crise, ao contrário de sua fama. Não consegue controlar a máquina pública. Os investimentos públicos não saem do papel. Não consegue formular uma estratégia de superação da crise.
Não avança nas reformas estruturais como a tributária de que o país tanto precisa. Tão grave quanto é a paralisia que avança nas mais diversas frentes do governo Dilma, desde as obras do PAC, sobretudo a da Olimpíada e da Copa, aos desencontros na área política e os ruídos de sua base no Congresso, até a anomia administrativa, atingindo os diversos serviços prestados pelo governo, com graves prejuízos para a população. Como diz o slogan do próprio governo, "Brasil, um país de todos" em greve e quase parando.
A presidente Dilma, receosa de que o julgamento do mensalão pelo STF empurre a sua lama para o Planalto e tome conta da agenda política do governo, prepara mais um novo pacote de incentivos à economia em crise, para muito além da marolinha, neste mês de agosto.
A General Motors anunciou o fechamento de sua fábrica de São José dos Campos (SP), o que ocasionará a demissão de 1,5 mil empregados. O sindicato local prevê ainda a demissão de outros 4 mil trabalhadores da cadeia produtiva.
O governo esperneia porque reduziu o IPI dos carros em troca da manutenção do nível de emprego. No entanto, a medida teve impacto menor do que o esperado, já que o consumidor endividado não está disposto a assumir mais compromissos. O resultado são as demissões. Completa-se o ciclo vicioso: menos consumo, menos emprego, menor produção industrial.
O governo apresentou vários pacotes de estímulo à economia, como a redução do IPI de carros, da linha branca e móveis, e nada parece surtir efeito. Como apontamos em diversos artigos, o problema central das medidas governamentais está no diagnóstico sobre a crise.
O modelo de crescimento desenvolvido no governo Lula, baseado na exportação de commodities e na expansão do consumo interno, esgotou-se. É necessário formular um novo modelo, focado no investimento produtivo e na inovação tecnológica.
Não adianta tentar salvar o crescimento do PIB de 2012, que ficará abaixo dos 2%, conforme previsão do Banco Central. Para isso é preciso que o governo tenha um horizonte mais amplo, que prepare o país para retomar o crescimento em bases mais sólidas e sustentáveis.
Para agravar tal cenário, Dilma enfrenta ainda outro problema com forte consequência sobre o conjunto da economia como um todo: o baixo nível do investimento público. Ao tentar retomá-lo, o governo encontra boa parte do funcionalismo em greve ou fazendo operação padrão, o que prejudica a importação de insumos e, consequentemente, a produção industrial.
O governo insiste em negar ao funcionalismo o direito básico previsto na lei trabalhista de não redução salarial. Com inflação de 6,5% em 2011 e 5,9% em 2010, várias categorias sentem a redução salarial no bolso. Negar ao menos a recomposição salarial é tolher direitos dos trabalhadores. Essa postura intransigente tem afetado muito a economia nacional, que depende desse investimento para retomar o crescimento.
A verdade é que a presidente Dilma tem se mostrado uma péssima gerente de crise, ao contrário de sua fama. Não consegue controlar a máquina pública. Os investimentos públicos não saem do papel. Não consegue formular uma estratégia de superação da crise.
Não avança nas reformas estruturais como a tributária de que o país tanto precisa. Tão grave quanto é a paralisia que avança nas mais diversas frentes do governo Dilma, desde as obras do PAC, sobretudo a da Olimpíada e da Copa, aos desencontros na área política e os ruídos de sua base no Congresso, até a anomia administrativa, atingindo os diversos serviços prestados pelo governo, com graves prejuízos para a população. Como diz o slogan do próprio governo, "Brasil, um país de todos" em greve e quase parando.
Previdência e CLT na agenda após eleições - CLAUDIA SAFATLE
VALOR ECONÔMICO - 03/08
Depois do pacote de medidas destinado a estimular os investimentos - cujo anúncio foi adiado e tende a ser feito em duas etapas, no fim deste mês e em meados de setembro -, o foco do governo deve se voltar para dois temas delicados: as novas regras do INSS e a flexibilização do mercado de trabalho.
Nesse último tema, a discussão será em torno de um anteprojeto de lei que amplia a autonomia de empresas e sindicatos nas negociações de cada categoria, abrindo espaços legais para dar primazia do negociado sobre o legislado.
Cortes vão atingir "viúvas alegres e filhas amasiadas"
A intenção do governo é retomar a iniciativa e vencer as múltiplas resistências a essas duas reformas, que são debatidas e engavetadas há mais de uma década.
Mudanças e regras mais restritivas terão que ser feitas também nas pensões por morte e essas, se vierem, já vêm tarde. A conta das pensões por morte atingiu a exorbitância de R$ 100 bilhões no ano passado - equivalente a 2,8% do PIB - e sobre ela não há controle nem limite de duração. Do total, cerca de R$ 60 bilhões são gastos anualmente com pensões do INSS, e os outros R$ 40 bilhões, com as do setor público. A média dos países da OCDE com essa despesa está entre 0,8% e 1% do PIB.
"São as viúvas alegres e as filhas amasiadas" os alvos dessa medida, comenta uma fonte oficial, referindo-se às altíssimas pensões pagas a viúvas de desembargadores, por exemplo, e às filhas de pensionistas que não se casam oficialmente para herdar o benefício vitalício. Um caminho possível é limitar o recebimento da pensão por morte a um prazo de três a cinco anos.
O fator previdenciário, que está com seus dias contados, foi instituído em 1999, durante o governo FHC, para dissuadir os trabalhadores a buscarem a aposentadoria precoce. Trata-se de uma fórmula que leva em conta a idade, o tempo de contribuição e a expectativa de vida do brasileiro para calcular o valor do benefício. Só este ano, a vigência do fator representa uma redução de cerca de R$ 10 bilhões nas despesas com benefícios. Como a tabela de expectativa de vida do IBGE se altera a cada ano, cria-se uma incerteza sobre quando o trabalhador poderá receber o teto.
O fato é que, com o fator, para chegar ao teto do benefício o requerente da aposentadoria acaba tendo que atingir a idade mínima de 60 e 65 anos, para mulheres e homens, respectivamente.
A proposta que o governo deve fazer como alternativa ao fim do fator preservará direitos adquiridos e, portanto, só será aplicada aos que ingressarem no mercado de trabalho a partir da nova legislação. E mesmo o fim do fator previdenciário será gradual, num processo de transição que não comprometa as contas da previdência social.
Uma hipótese para a transição, sugerida pelo Ministério da Previdência, é conceder aposentadoria integral aos que já estão no mercado de trabalho quando a soma da idade e do tempo de contribuição for de 85 anos para as mulheres e de 95 anos para os homens, adicionando um ingrediente móvel para adequar o benefício à tabela de expectativa de vida do IBGE.
Com as mudanças no RGPS e as que já foram feitas para o funcionalismo público com a criação da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público (Funpresp), o governo Dilma completaria a reforma da seguridade social e eliminaria distorções que sobreviveram por décadas.
No primeiro semestre deste ano, o RGPS acumulou déficit de R$ 20,5 bilhões, cifra que sobe para R$ 36,5 bilhões no acumulado de 12 meses. Já a conta das aposentadorias do setor público é bem maior e o déficit anual ronda a casa dos R$ 60 bilhões. Em 2011, foi de R$ 56 bilhões.
Na Câmara, há pressões de alguns partidos, como o PDT, para acelerar a votação do fim do fator. O presidente da Casa, deputado Marco Maia (PT-RS), alega que aguarda os retornos do grupo de trabalho que ficou de estudar o tema no governo e preparar uma nova proposta.
Flexibilizar as negociações trabalhistas é, também, outra face das reformas há tantos anos discutidas e jamais implementadas. Por iniciativa do movimento sindical, está na Casa Civil um anteprojeto de lei que propõe alterações da Consolidação das Leis do Trabalho para dar primazia aos acordos feitos nas fábricas. Conforme reportagem publicada pelo Valor na edição do dia 7 de julho, a proposta foi elaborada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a adesão a essa nova lei, como alternativa à CLT, seria facultativa.
O texto foi entregue em setembro do ano passado ao secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e ao presidente da Câmara, Marco Maia. Pela proposta, o Acordo Coletivo de Trabalho com Propósito Específico (ACE) regulamentaria a criação de Comitês Sindicais de Empresa (CSE) - as antigas comissões de fábrica - nos locais de trabalho, dando segurança jurídica às negociações dos comitês diretamente com a direção das empresas. O acordo não poderia, porém, cortar direitos trabalhistas (férias, 13º salário, entre outros).
Reforma da previdência, flexibilização das leis trabalhistas e privatizações são temas da velha Agenda Perdida, elaborada por economistas quando da primeira eleição de Lula, em 2002. O ex-presidente teve a iniciativa de aprovar os primeiros passos da nova previdência do setor público, mas parou aí. Lula também declarou, nos primeiros anos do primeiro mandato, que gostaria de alterar alguns aspectos da CLT, mas desistiu.
O pacote de medidas que o governo quer divulgar até setembro tem por objetivo desobstruir os investimentos produtivos e cuidar do crescimento da economia pelo lado da oferta. Até agora, à exceção de periódicas e dirigidas políticas industriais, o que foi feito desde o governo passado foi expandir a demanda.
Se não forem apenas intenções do Palácio do Planalto, nos próximos meses a presidente estará derrubando tabus.
O impasse das federais - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 03/08
Ao rejeitarem a última proposta salarial apresentada pelo governo, que previa reajuste de 25% a 40%, escalonado em três anos e de acordo com o cargo e a titulação do docente, os 140 mil professores das universidades federais deixaram claro que são eles que não querem negociar com os Ministérios do Planejamento e da Educação (MEC). Quando entraram em greve, há dois meses e meio, era a categoria que acusava o governo de não querer dialogar e, muito menos, de querer negociar.
Com isso, o semestre letivo começou sem aulas em 57 das 59 universidades e em 33 dos 37 institutos e escolas técnicas federais. Como a suspensão das atividades nos últimos 75 dias se concentrou nos cursos de graduação, pois na pós-graduação o docente que não trabalha perde a bolsa de produtividade paga pelas agências de fomento à pesquisa, os maiores prejudicados são os alunos do quarto e do quinto ano. Eles terão de adiar não apenas as solenidades de formatura, mas também seus planos profissionais, uma vez que o cronograma de aulas de 2012 está comprometido.
Além de reajuste de salários e gratificações, os docentes das universidades e escolas técnicas federais reivindicam um novo plano de carreira, alegando que demoram muito tempo para chegar ao posto máximo, de professor titular. E, nas universidades que foram inauguradas pelo governo do presidente Lula, eles também pedem melhores condições de trabalho, reclamando que não dispõem de laboratórios, bibliotecas, computadores e até mesmo de salas de aula em número suficiente.
Desde o início da greve, que começou no dia 17 de maio, o governo já apresentou duas propostas - ambas rejeitadas pelas duas principais entidades sindicais do professorado, o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) e o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe). A primeira proposta, que previa um reajuste salarial escalonado de 8% a 25%, aumentava em R$ 3,9 bilhões os gastos da União com a folha de pagamento do professorado das universidades e escolas técnicas federais. A segunda proposta tinha um impacto de R$ 4,2 bilhões nas contas públicas.
"A greve vai continuar. Vamos ver quem tem mais força", afirma a presidente da Andes, Marinalva Oliveira, que é professora de psicologia da Universidade Federal do Amapá. "A responsabilidade está no colo do governo. Cabe a ele elaborar uma proposta que atenda minimamente às reivindicações da categoria. Ninguém é louco de achar que todas as demandas serão atendidas, mas tem que contemplar pelo menos algumas delas", argumenta o coordenador-geral do Sinasefe, David Lobão, que também critica o projeto de progressão da carreira docente apresentado pelo MEC na semana passada, por condicioná-la à titulação e não ao tempo de serviço dos professores.
Mas, segundo a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, o governo não tem condições de apresentar uma terceira proposta, por causa da retração da economia e da queda na arrecadação de impostos. Para o secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, Marco Antonio de Oliveira, o governo chegou ao "limite", em matéria de proposta salarial. "Dialogamos, fizemos tudo o que era possível e procuramos atender a algumas demandas consideradas justas", afirma o secretário de ensino superior do MEC, Amaro Lins.
Além do problema orçamentário, o impasse entre o governo e o professorado das escolas técnicas e universidades federais tem um componente político. As principais entidades sindicais do professorado das instituições federais sempre estiveram próximas da CUT e do PT. Mas, nos últimos anos, a Andes e o Sinasefe vincularam-se ao PSOL e ao PSTU, dois pequenos partidos de extrema esquerda, e à central sindical por eles controlada, a Conlutas. Embora os dirigentes da Andes e do Sinasefe tenham prometido não "partidarizar" a greve, fica evidente que ela é política e que os grevistas estão agindo não só por razões corporativas, mas também com vistas às eleições de outubro.
Marmelada indigesta - TUTTY VASQUES
O Estado de S.Paulo - 03/08
Em sua primeira contribuição efetiva para a elevação do espírito olímpico internacional, o badminton desmoralizou a marmelada em Londres. Ninguém deixa a peteca cair com tanta displicência impunemente.
O olho grande na tabela da fase de mata-mata da competição custou a eliminação às quatro duplas femininas que entregaram descaradamente o jogo umas às outras, mas a bizarrice que se viu em quadra deixa como legado uma lição básica de esportividade: nunca é fácil perder!
Menos ainda quando se almeja a derrota! Pode até não chorar no final, mas o torcedor exige um mínimo de capricho na encenação do fracasso para não fazer papel de bobo na plateia. A marmelada só funciona quando a suspeita de fraude é sinal de esperteza do espectador que não se deixa enganar.
O cara pode até estar certo de que, para tirar o Palmeiras e o São Paulo do páreo no Brasileirão de 2009, o Corinthians fez corpo mole naquela famigerada derrota para o Flamengo, mas jamais terá como provar a molecagem do Timão.
Sem isso, a marmelada desanda, vira desrespeito com o interesse do público e, em especial, com o sofrimento de quem perde a contragosto, para valer.
Devemos esta noção de ética esportiva ao badminton!
Meio nossa
Depois de tudo que a presidente Dilma fez pela entrada da Venezuela no Mercosul, francamente, o Brasil talvez possa se considerar sócio da medalha de ouro conquistada em Londres pelo esgrimista bolivariano Ruben Gascon.
Humilhação espetacular
O que os caras do basquete americano fizeram ontem com os pobres coitados da seleção da Nigéria na vitória de 156 a 73 pode ser considerado bullying olímpico. Se fosse futebol, a partida acabaria em pancadaria.
Especialidade da casa
O Brasil se despediu do tiro esportivo em 17.º lugar. Isso quer dizer o seguinte: a bala perdida é uma vocação nacional!
Roleta russa
O basquete brasileiro virou um jogo de azar! Teve sorte nas duas partidas que venceu, mas ontem perdeu para a Rússia com uma cesta espírita de três pontos a quatro segundos do fim. Cá pra nós, é mais seguro apostar no bicho!
Bem inimigos
Galvão Bueno e Renato Maurício Prado fizeram as pazes ao final de um arranca-rabo ao vivo no SporTV, mas é grande a torcida no centro de imprensa do Parque Olímpico para que a luta continue. Vale medalha!
Para o bem de todos
"DIGA AO POVO QUE FICO MAIS UNS DIAS!"
Patrícia Amorim, presidente do Flamengo, sem se dar conta das reais intenções de uma campanha da torcida rubro-negra pela sua permanência em Londres.
Ippon estético
Duas coisas chamavam especialmente atenção ontem em torno do tatame das competições de judô na Excel Arena: a chapinha irretocável no cabelo da técnica brasileira Rosicleia Campos e o botox vigoroso do presidente russo Vladimir Putin.
Defesa em campo - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 03/08
Enquanto os advogados de defesa dos réus do mensalão estão no aquecimento, os petistas já têm tudo pronto para tentar evitar os estragos eleitorais ao seus filiados. A homenagem ao ex-presidente Lula ontem em São Paulo fez parte desse contexto de reforçar os aspectos positivos do governo passado poucas horas antes de os ministros do Supremo Tribunal Federal abrirem a primeira sessão do julgamento.
Para quem não acompanhou o discurso de Lula durante a homenagem recebida pelas organizações dos produtores de biodiesel, vai aqui um breve resumo da fala de meia hora dele. Lula disse que seu governo colocou 40 milhões de brasileiros no mercado de consumo, citou os programas sociais, enfim, defendeu o que considera o melhor de seu legado. Tudo com o bom humor que lhe é peculiar. Quem estivesse chegado de paraquedas ali, sem saber do contexto do julgamento em Brasília, acharia que o tema mensalão era coisa do passado, sequer citado no discurso da maior estrela petista.
Nos bastidores, entretanto, a história é bem outra. Lula tem plena consciência do estrago que esse julgamento fará ao partido. Reclama que a mídia, de uma forma geral, já condenou os réus e que os ministros do Supremo agora são pressionados a fazer o mesmo. Lula se esquece de dizer — e seus amigos também não mencionam na conversa direta com o ex-presidente — que, no início do processo, o então presidente da República se referia ao episódio como “práticas inaceitáveis”. Também não se lembra que há alguns meses, houve inclusive notícias de tentativas de influenciar o calendário do processo no Supremo.
Por falar em calendário…
Esses detalhes agora são coisa do passado. A ordem dentro do PT é enfrentar logo esse julgamento, usando Lula como garoto-propaganda dos ativos do governo. Nesse primeiro momento, a impressão entre os políticos foi a de que a estratégia do PT pode dar certo. A oposição, mais focada nas eleições municipais, não aproveitou a largada do julgamento para bater bumbo na rua ou colocar seu bloco na Praça dos Três Poderes, em frente ao edifício do Supremo Tribunal Federal, como reforço à acusação.
Nem mesmo as 24 cadeiras reservadas para cidadãos comuns que quisessem acompanhar o julgamento dentro do plenário foram usadas. Metade delas terminou ocupada por jornalistas não credenciados. Sinal de que a população está dedicada a outros afazeres, deixando a Justiça à vontade para adotar suas posições. Tampouco a oposição passou o dia em revezamento na Câmara. A sensação de recesso só não é total por causa dos poucos discursos no plenário da Casa.
Entre os oposicionistas há quem considere ser cedo para avaliar o grau de indiferença da população com o julgamento. Afinal, o brasileiro tem por norma se apresentar para torcer nas finais de torneios importantes. E, como o calendário começa com atraso, a expectativa é a de que esse movimento só surja mais ao fim do processo, daqui a um mês. Aí, explica-se o temor do PT com as eleições e o fato de tirarem logo Lula da cartola para fazer o contraditório nas ruas, palanques e auditórios.
Por falar em auditórios…
Os políticos não ficaram tão ligados no mensalão porque estavam mais interessados no primeiro debate eleitoral na tevê ontem à noite, na Band. Seguindo à risca a máxima de que a primeira impressão é a que fica, as atenções estavam voltadas para a troca de passes entre PT e PSB, adversários em Belo Horizonte e Recife. Também havia toda uma preocupação, especialmente por parte do PT, com o desempenho de Fernando Haddad, em São Paulo, o único estreante em campanhas políticas no grid paulistano.
Enquanto os advogados de defesa dos réus do mensalão estão no aquecimento, os petistas já têm tudo pronto para tentar evitar os estragos eleitorais ao seus filiados. A homenagem ao ex-presidente Lula ontem em São Paulo fez parte desse contexto de reforçar os aspectos positivos do governo passado poucas horas antes de os ministros do Supremo Tribunal Federal abrirem a primeira sessão do julgamento.
Para quem não acompanhou o discurso de Lula durante a homenagem recebida pelas organizações dos produtores de biodiesel, vai aqui um breve resumo da fala de meia hora dele. Lula disse que seu governo colocou 40 milhões de brasileiros no mercado de consumo, citou os programas sociais, enfim, defendeu o que considera o melhor de seu legado. Tudo com o bom humor que lhe é peculiar. Quem estivesse chegado de paraquedas ali, sem saber do contexto do julgamento em Brasília, acharia que o tema mensalão era coisa do passado, sequer citado no discurso da maior estrela petista.
Nos bastidores, entretanto, a história é bem outra. Lula tem plena consciência do estrago que esse julgamento fará ao partido. Reclama que a mídia, de uma forma geral, já condenou os réus e que os ministros do Supremo agora são pressionados a fazer o mesmo. Lula se esquece de dizer — e seus amigos também não mencionam na conversa direta com o ex-presidente — que, no início do processo, o então presidente da República se referia ao episódio como “práticas inaceitáveis”. Também não se lembra que há alguns meses, houve inclusive notícias de tentativas de influenciar o calendário do processo no Supremo.
Por falar em calendário…
Esses detalhes agora são coisa do passado. A ordem dentro do PT é enfrentar logo esse julgamento, usando Lula como garoto-propaganda dos ativos do governo. Nesse primeiro momento, a impressão entre os políticos foi a de que a estratégia do PT pode dar certo. A oposição, mais focada nas eleições municipais, não aproveitou a largada do julgamento para bater bumbo na rua ou colocar seu bloco na Praça dos Três Poderes, em frente ao edifício do Supremo Tribunal Federal, como reforço à acusação.
Nem mesmo as 24 cadeiras reservadas para cidadãos comuns que quisessem acompanhar o julgamento dentro do plenário foram usadas. Metade delas terminou ocupada por jornalistas não credenciados. Sinal de que a população está dedicada a outros afazeres, deixando a Justiça à vontade para adotar suas posições. Tampouco a oposição passou o dia em revezamento na Câmara. A sensação de recesso só não é total por causa dos poucos discursos no plenário da Casa.
Entre os oposicionistas há quem considere ser cedo para avaliar o grau de indiferença da população com o julgamento. Afinal, o brasileiro tem por norma se apresentar para torcer nas finais de torneios importantes. E, como o calendário começa com atraso, a expectativa é a de que esse movimento só surja mais ao fim do processo, daqui a um mês. Aí, explica-se o temor do PT com as eleições e o fato de tirarem logo Lula da cartola para fazer o contraditório nas ruas, palanques e auditórios.
Por falar em auditórios…
Os políticos não ficaram tão ligados no mensalão porque estavam mais interessados no primeiro debate eleitoral na tevê ontem à noite, na Band. Seguindo à risca a máxima de que a primeira impressão é a que fica, as atenções estavam voltadas para a troca de passes entre PT e PSB, adversários em Belo Horizonte e Recife. Também havia toda uma preocupação, especialmente por parte do PT, com o desempenho de Fernando Haddad, em São Paulo, o único estreante em campanhas políticas no grid paulistano.
Eu nunca esqueci de Long Beach - BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 03/08
Sorte teve Paulo Francis. Deus me livre do flagelo de colocar minha decrepitude a serviço do inimigo
O FATO: a meia-idade não é um termo usado para definir quem está na metade da vida. Anglicismo, "meia-idade" ("middle age") identifica basicamente quem já meteu a botina na porta da velhice com força máxima. Não é o meu caso. Ainda tenho muito querosene a queimar antes de ser atirada do penhasco feito a vovó dinossauro do seriado de TV.
Mesmo assim, nos últimos tempos tenho visto gente gasta por toda parte. Inclusive no espelho. E acabei chegando à conclusão de que não há quem não envelheça mal.
Rabugice, falta de sociabilidade, excesso de método, esquisitices: o pacote de ruindades oferecido aos que ousam desafiar a ordem natural (deveríamos sumir aos 30 anos, não é isso?) pode ser mediano ou conter bônus extra na forma da imobilidade, esquecimento ou na aquisição das feições do sr. Beiçola. Fato está que não existe animal, vegetal ou mineral que não fique um pouco mais chatinho na medida em que a quilometragem avança.
Nesta semana, Gore Vidal foi ter com o Criador. Engraçado, inteligentérrimo e um "raconteur" dos mais saborosos, ele soube juntar a pesquisa histórica e a fofoca cabeluda como se ambas tivessem sido criadas para dançar juntas o tango.
Que ninguém nos ouça: Gore Vidal envelheceu mal. Pessimamente, diria. Sujeito escreveu "Burr" e "Myra Breckinridge", realizou uma das biografias mais elogiadas de Abraham Lincoln de que se tem notícia e ainda descarnou a América em seis volumes. E acabou a vida tecendo banalidades sobre o futuro do Império e pegando no pé da extrema-direita como se fosse um transviado irritadinho do Twitter. Sorte do Paulo Francis ter morrido no auge. Já imaginou colocar a decrepitude a serviço do inimigo, como Vidal se dispôs a fazer com George W. Bush?
Conheci Gore Vidal em São Paulo nos anos 1980. Tomamos um porre (posso ter sido só eu, quem sabe), demos muita risada, ele comportou-se comigo como um verdadeiro gentleman. Fui convidada para um jantar na casa de estrangeiros que fundaram a Chácara Flora e, ao chegar, encontrei uma situação insólita: um grupo animado de brasileiros conversava em um ambiente (quem conduzia a prosa era um decorador muito festejado à época) e em outra sala, sentado sozinho olhando uma lareira sem combustível, havia um senhor que eu imediatamente reconheci: Gore Vidal. Isso mesmo, sozinho. Sem ninguém ali para servir nem sequer uma Coca.
Sabe como é, brasileiro começa a noite falando inglês e logo desanda. Não dá meia hora já conta a primeira piada em português e nunca mais ninguém presta atenção no chato do gringo.
Eu não perdi tempo: "Mr. Vidal, it's an honour..." O papo fluiu, ele conhecia um tio meu (ambos moravam na Itália, ele e meu tio) e a coisa rolou e ficamos todos muito felizes. "A Barbara está tomando conta daquela bicha velha americana -ela veio com você?" e pronto, tudo resolvido. Como sempre a egoísta da grã-finada se arruma.
No dia seguinte, Vidal deu palestra no auditório no Masp e eu fui lá, com meu livrinho debaixo do braço. Se quiser ver o autógrafo, entre no meu Instagram, @bgancia. A dedicatória diz assim: "Barbara (who has forgotten that weekend in Long Beach), Gore Vidal". Pena que eu não lembre mais da piada. Mas tinha a ver com o fato de que, segundo ele, Long Beach seria o lugar mais de quinta dos EUA e ele tinha me achado chique ou algo assim -eu acho. Em todo caso, agora que bateu os "penny loafers" não há mais como especular. O que é certo é que a memória começa a me pregar peças.
Sorte teve Paulo Francis. Deus me livre do flagelo de colocar minha decrepitude a serviço do inimigo
O FATO: a meia-idade não é um termo usado para definir quem está na metade da vida. Anglicismo, "meia-idade" ("middle age") identifica basicamente quem já meteu a botina na porta da velhice com força máxima. Não é o meu caso. Ainda tenho muito querosene a queimar antes de ser atirada do penhasco feito a vovó dinossauro do seriado de TV.
Mesmo assim, nos últimos tempos tenho visto gente gasta por toda parte. Inclusive no espelho. E acabei chegando à conclusão de que não há quem não envelheça mal.
Rabugice, falta de sociabilidade, excesso de método, esquisitices: o pacote de ruindades oferecido aos que ousam desafiar a ordem natural (deveríamos sumir aos 30 anos, não é isso?) pode ser mediano ou conter bônus extra na forma da imobilidade, esquecimento ou na aquisição das feições do sr. Beiçola. Fato está que não existe animal, vegetal ou mineral que não fique um pouco mais chatinho na medida em que a quilometragem avança.
Nesta semana, Gore Vidal foi ter com o Criador. Engraçado, inteligentérrimo e um "raconteur" dos mais saborosos, ele soube juntar a pesquisa histórica e a fofoca cabeluda como se ambas tivessem sido criadas para dançar juntas o tango.
Que ninguém nos ouça: Gore Vidal envelheceu mal. Pessimamente, diria. Sujeito escreveu "Burr" e "Myra Breckinridge", realizou uma das biografias mais elogiadas de Abraham Lincoln de que se tem notícia e ainda descarnou a América em seis volumes. E acabou a vida tecendo banalidades sobre o futuro do Império e pegando no pé da extrema-direita como se fosse um transviado irritadinho do Twitter. Sorte do Paulo Francis ter morrido no auge. Já imaginou colocar a decrepitude a serviço do inimigo, como Vidal se dispôs a fazer com George W. Bush?
Conheci Gore Vidal em São Paulo nos anos 1980. Tomamos um porre (posso ter sido só eu, quem sabe), demos muita risada, ele comportou-se comigo como um verdadeiro gentleman. Fui convidada para um jantar na casa de estrangeiros que fundaram a Chácara Flora e, ao chegar, encontrei uma situação insólita: um grupo animado de brasileiros conversava em um ambiente (quem conduzia a prosa era um decorador muito festejado à época) e em outra sala, sentado sozinho olhando uma lareira sem combustível, havia um senhor que eu imediatamente reconheci: Gore Vidal. Isso mesmo, sozinho. Sem ninguém ali para servir nem sequer uma Coca.
Sabe como é, brasileiro começa a noite falando inglês e logo desanda. Não dá meia hora já conta a primeira piada em português e nunca mais ninguém presta atenção no chato do gringo.
Eu não perdi tempo: "Mr. Vidal, it's an honour..." O papo fluiu, ele conhecia um tio meu (ambos moravam na Itália, ele e meu tio) e a coisa rolou e ficamos todos muito felizes. "A Barbara está tomando conta daquela bicha velha americana -ela veio com você?" e pronto, tudo resolvido. Como sempre a egoísta da grã-finada se arruma.
No dia seguinte, Vidal deu palestra no auditório no Masp e eu fui lá, com meu livrinho debaixo do braço. Se quiser ver o autógrafo, entre no meu Instagram, @bgancia. A dedicatória diz assim: "Barbara (who has forgotten that weekend in Long Beach), Gore Vidal". Pena que eu não lembre mais da piada. Mas tinha a ver com o fato de que, segundo ele, Long Beach seria o lugar mais de quinta dos EUA e ele tinha me achado chique ou algo assim -eu acho. Em todo caso, agora que bateu os "penny loafers" não há mais como especular. O que é certo é que a memória começa a me pregar peças.
Viciados e consumidores - MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
FOLHA DE SP - 03/08
SÃO PAULO - Humanos parecem se sentir atraídos por estados alterados da mente. Nem todos, é verdade, mas a transformação de recursos da natureza em poções que descerram as cortinas de paraísos -e infernos- artificiais é uma atividade milenar, observável nas mais diversas sociedades.
Ao longo dos séculos, algumas drogas se tornaram mais populares ou mais aristocráticas, outras foram eleitas por artistas e intelectuais, outras por místicos e pacifistas.
O proibicionismo começou em finais do século 19, sob influência norte-americana. Chegou-se, nos EUA, a banir bebidas alcoólicas, mas a Lei Seca, como sabemos, não deu certo.
Consolidou-se, então, no chamado mundo moderno, uma situação em que o álcool é a droga oficial, com direito a anúncio, colunas especializadas nos meios de comunicação e ampla comercialização. A mensagem subliminar é: vai fundo porque se fizesse mal seria proibido.
É o caso da maconha, antes vista como droga de negro, que continuou vetada e é tratada enganosamente como substância muito mais nociva do que o álcool, o que justificaria a irracional mobilização de recursos vultosos e de forte aparato policial-militar para combatê-la.
Pesquisa divulgada anteontem diz que o Brasil teria 1,3 milhão de "viciados" em cannabis -número que parece subestimado. Os que usam álcool não são em geral tratados como viciados, mas "consumidores".
Levantamentos indicam que cerca de 80% de jovens entre 18 e 24 anos já consumiram álcool e que cerca de 20% são dependentes. Muitos adolescentes também.
A hipocrisia que cerca o tema só atrapalha. Droga é um negócio perigoso. Pode ser consumida dentro de limites razoáveis ou levar à ruína material e moral. Seria ingênuo crer que a humanidade caminha para um mundo sem drogas. A melhor política é a liberação progressiva, mas controlada, com forte investimento em educação e esclarecimento.
Quadrilhas e coautores - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 03/08
BRASÍLIA - A estreia não deixa dúvidas: além dos réus do mensalão, estarão em julgamento também os onze ministros do Supremo. Sem falar no constrangimento da participação de Dias Toffoli.
Ao tentar "ressuscitar" (o verbo é do ex-presidente Cezar Peluso) a tese do desmembramento, talvez o advogado Márcio Thomaz Bastos não quisesse, de fato, que os três deputados federais fossem julgados pelo Supremo, e os demais 35 réus, pela primeira instância. Talvez sua intenção fosse protelar o processo e mostrar quem é quem na corte.
Por 9 a 2 os ministros decidiram o óbvio: a questão já havia sido votada pelo tribunal. Mas eles expuseram fragilidades. Rompantes e termos inadequados do relator Joaquim Barbosa não são novidade. O que surpreendeu foi o voto do revisor Ricardo Lewandowski, por escrito e longuíssimo, para corroborar a tese da defesa, pelo desmembramento.
Essa polaridade Joaquim-Lewandowski certamente permeará todo o julgamento -que vai longe.
Joaquim considerou "irresponsável" discutir o desmembramento mais uma vez, acusou Lewandowski de "deslealdade" e disse que tudo isso poderia afetar "a legitimidade do processo" e a própria "credibilidade da corte". Destempero inútil.
O presidente Ayres Britto demorou a aprumar. Apesar de prometerem que seriam sucintos, Gilmar Mendes e Celso de Mello deram aula ao vivo. Marco Aurélio, como sempre, provocador. Rosa Weber, Cármen Lúcia e Luiz Fux, rápidos, despretensiosos.
Em bom português, Peluso argumentou que é impossível julgar coautorias e quadrilhas com os réus pulverizados em instâncias diferentes. Não estão em julgamento atos isolados de um Dirceu, de um Delúbio, mas, sim, todo um intrincado esquema em que cada um e todos tinham responsabilidade.
PS - Apesar de Padilha (Saúde) dizer que Marta Suplicy gravou para o programa de Haddad, ela nega.
Exportações emperradas - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 03/07
A crise internacional é só uma das causas do pífio desempenho do Brasil no comércio internacional, neste ano, e provavelmente nem é a mais importante. Para explicar o fiasco é preciso levar em conta pelo menos dois outros fatores: as falhas da política econômica e os erros da estratégia comercial acumulados a partir de 2003. Nesse ano, o governo decidiu impedir o País de jogar na primeira divisão dos mercados globais, dando prioridade a alianças com parceiros do "Sul". Com isso, perderam-se oportunidades importantes nos mercados mais desenvolvidos, enquanto outros emergentes se esforçavam precisamente para conquistar espaços no mundo rico. Outro resultado foi a dependência cada vez maior da venda de produtos básicos para um daqueles parceiros "estratégicos", a China, enquanto o governo chinês trabalhava para converter seu país na maior potência exportadora do mundo.
Os efeitos desses erros são observados há vários anos e se acentuaram em 2012. Neste ano, o superávit comercial acumulado até julho, de US$ 9,9 bilhões, foi 39% menor que o de um ano antes, na comparação baseada no resultado médio dos dias úteis. Pelo mesmo critério, as exportações, de R$ 138,2 bilhões, foram 3% menores que as de janeiro a julho de 2011, enquanto as importações foram 1,7% maiores.
As cifras de julho foram provavelmente afetadas pela greve de funcionários da Receita Federal e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, mas o descompasso entre receita e despesa já havia sido observado até junho. Além disso, quase certamente a greve distorceu mais o valor importado que o exportado.
Os dados são suficientes, no entanto, para permitir uma análise das tendências mesmo antes da revisão dos números, porque os padrões mais importantes foram mantidos. A estagnação das exportações e o crescimento das importações apenas confirmam o enfraquecimento do produtor brasileiro diante dos competidores de fora. Os produtores estrangeiros têm sido amplamente beneficiados pela política federal de estímulo ao consumo. As ações de estímulo à produção têm sido muito menos eficientes. Isso é confirmado pelos números do comércio exterior e pela crescente penetração de importados no mercado interno. A desvalorização do real pode ter barateado os produtos brasileiros no confronto com os de fora, mas foi insuficiente para diminuir de forma importante a desvantagem competitiva do fabricante nacional. Essa desvantagem poderá ser atenuada um pouco mais no próximo ano, se o governo ampliar a bateria de estímulos, mas a mudança ainda será muito limitada. Segundo 68% dos executivos consultados em pesquisa da Confederação Nacional da Indústria, nenhum impacto sobre seus planos de investimento resultou do Plano Brasil Maior. Como o governo continua incapaz de investir os valores programados, ganhos de produtividade resultantes da expansão e da modernização da infraestrutura geral e dos equipamentos serão ainda modestos nos próximos tempos.
Como consequência da crise, o valor exportado para a União Europeia, até julho, foi 7% menor que o de um ano antes. A exportação para a China rendeu 1,4% mais, uma variação modestíssima atribuível, principalmente, à perda de ritmo da economia chinesa e à desvalorização de algumas matérias-primas, especialmente do minério de ferro. A valorização da soja impediu um resultado pior. Mas as vendas para os Estados Unidos foram 7% maiores que as de um ano antes. Isso se deve, em boa parte, à importância do mercado americano para as vendas brasileiras de manufaturados. A China, ao contrário, mantém com o Brasil uma relação semicolonial. O saldo seria bem melhor, se o governo brasileiro tivesse dado mais atenção aos mercados americano e europeu, sem negligenciar, é claro, as demais regiões.
A preferência aos países do "Sul" também se reflete no comércio com os vizinhos. As vendas para o Mercosul foram 17% inferiores às de um ano antes, principalmente por causa da perda de 18,4% no valor vendido para a Argentina. Isso se explica pelo protecionismo argentino, aceito alegremente - e quase aplaudido - pelo governo brasileiro. Parceria estratégica é isso.
O bolo e o apetite - LUIZ GARCIA
O GLOBO - 03/08
O escândalo político-financeiro e que atende pelo apelido de mensalão começou ontem os seus dias decisivos, com o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal. Trata-se, sem dúvida, de um momento histórico na carreira dos ministros do Supremo Tribunal Federal - e uma festa cívica, se a decisão do STF corresponder ao que pensa a maioria dos brasileiros bem informados sobre o que se passa no país.
E falamos em festa cívica como referência à primeira vez na história do país que crimes financeiros atribuídos a personagens próximos - muito próximos - de um presidente da República são investigados a fundo. Resultando numa lista de réus que satisfaz a maioria da opinião pública. Se alguém já esqueceu, eles são acusados de manipular um complexo esquema financeiro destinado a comprar votos de senadores e deputados em benefício de membros do governo Lula e aliados. Essa máquina de fazer dinheiro era comandada dentro do governo Lula por José Dirceu, então chefe da Casa Civil.
Outro chefe da quadrilha, o publicitário Marcos Valério, era peça-chave da máquina de corrupção. O valerioduto - assim batizado no que se poderia definir como uma anti-homenagem - manipulou ilegalmente (como foi comprovado pela polícia) recursos cujo total chegou perto de R$ 100 milhões. Não é exagero acreditar que o bolo tenha passado dessa quantia. O julgamento, se tiver as consequências previstas pela maior parte da mídia e por uma considerável parcela da opinião pública, terá óbvias consequências políticas. A reação do Congresso é imprevisível. Mas parece ser inevitável que uma condenação severa afetará inevitavelmente a força política do PT. Pelo menos, por algum tempo. É também imprevisível a reação da presidente Dilma Rousseff. Com certeza, ela não se manifestará publicamente (nem deveria fazê-lo), mas só o tempo dirá se as consequências de um veredicto humilhante para o PT afetarão de alguma forma o seu prestígio e a sua atuação no governo.
Seja como for - e mais importante que as consequências políticas imediatas - um julgamento severo talvez, quem sabe, servirá para reduzir o apetite com que uma parcela considerável da comunidade política costuma se lançar sobre o apetitoso bolo da máquina pública.
O escândalo político-financeiro e que atende pelo apelido de mensalão começou ontem os seus dias decisivos, com o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal. Trata-se, sem dúvida, de um momento histórico na carreira dos ministros do Supremo Tribunal Federal - e uma festa cívica, se a decisão do STF corresponder ao que pensa a maioria dos brasileiros bem informados sobre o que se passa no país.
E falamos em festa cívica como referência à primeira vez na história do país que crimes financeiros atribuídos a personagens próximos - muito próximos - de um presidente da República são investigados a fundo. Resultando numa lista de réus que satisfaz a maioria da opinião pública. Se alguém já esqueceu, eles são acusados de manipular um complexo esquema financeiro destinado a comprar votos de senadores e deputados em benefício de membros do governo Lula e aliados. Essa máquina de fazer dinheiro era comandada dentro do governo Lula por José Dirceu, então chefe da Casa Civil.
Outro chefe da quadrilha, o publicitário Marcos Valério, era peça-chave da máquina de corrupção. O valerioduto - assim batizado no que se poderia definir como uma anti-homenagem - manipulou ilegalmente (como foi comprovado pela polícia) recursos cujo total chegou perto de R$ 100 milhões. Não é exagero acreditar que o bolo tenha passado dessa quantia. O julgamento, se tiver as consequências previstas pela maior parte da mídia e por uma considerável parcela da opinião pública, terá óbvias consequências políticas. A reação do Congresso é imprevisível. Mas parece ser inevitável que uma condenação severa afetará inevitavelmente a força política do PT. Pelo menos, por algum tempo. É também imprevisível a reação da presidente Dilma Rousseff. Com certeza, ela não se manifestará publicamente (nem deveria fazê-lo), mas só o tempo dirá se as consequências de um veredicto humilhante para o PT afetarão de alguma forma o seu prestígio e a sua atuação no governo.
Seja como for - e mais importante que as consequências políticas imediatas - um julgamento severo talvez, quem sabe, servirá para reduzir o apetite com que uma parcela considerável da comunidade política costuma se lançar sobre o apetitoso bolo da máquina pública.
Manobra perigosa - DENNIS ACETI
O GLOBO - 03/08
Debate-se a questão do poder investigatório do Ministério Público brasileiro. Como se sabe, a Constituição optou por dar roupagem bem moderna ao Ministério Público, deferindo-lhe, dentre outros, o poder de, com exclusividade, dar início à formal acusação contra autores de infrações penais, levando-os a julgamento pelo Poder Judiciário.
Tal exclusividade exigiu do Ministério Público certo fortalecimento em suas bases de sustentação, inclusive com o incremento da logística de investigação - afinal, se escalado pelo constituinte para obrar como guardião dos bens mais caros à sociedade, implicitamente também deveria poder munir-se das armas necessárias a tanto.
O aparelho policial e os investigados em geral, no entanto, não se conformam com a eficácia investigatória do Ministério Público. Vêm, pelos canais parlamentares de sempre, investir contra a atuação dos seus membros. Consentem, no máximo, em circunscrever o poder investigatório do Ministério Público à estatura meramente supletiva.
O que se deseja, se aprovada a proposta de emenda constitucional número 37 (em boa hora apelidada de PEC da impunidade), é fazer perigosa inversão na ordem dos fatores: de controlador dos trabalhos policiais, seu principal destinatário e eventual protagonista das investigações criminais - especialmente quando os investigados ostentam os mais altos postos na República -, objetiva-se ver as agências policiais como controladoras da atividade do Ministério Público.
E, pasmem, isto em contexto de reiterada ocorrência de achaques aos cofres públicos e de acentuado quadro de morte de civis em confrontos com policiais, que se assemelha, se não supera, a índices de guerra civil. Sem falar, igualmente, nos resultados pouco animadores do percentual de resolução das investigações policiais.
Certamente que se reconhecem a importância e a relevância do trabalho policial, a adversidade com a qual os profissionais da polícia têm que operar e até mesmo os baixos salários suportados pelos chefes de família que compõem tão necessário organismo. Tais fatores, no entanto, não sustentam tão baixos índices de efetividade das investigações criminais, gerando altíssimo grau de arquivamento dos inquéritos policiais que chegam ao Ministério Público.
Há quase uma década, a relatora especial da ONU para execuções sumárias, arbitrárias e extrajudiciais, Asma Jahangir, já preconizava a necessidade de o Ministério Público dispor de grupo de investigadores para realização de investigações independentes, o que ocorre em todas as nações democráticas do mundo, salvo raríssimas e pouco recomendáveis exceções.
Portanto, para se evitar lamentável retrocesso histórico, e em atenção à expectativa de todo corpo social e da comunidade internacional, aguarda-se que o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional assegurem o poder investigatório do Ministério Público.
Dificuldades do favoritismo - ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK
O ESTADÃO - 03/08
Na condução da política econômica, o governo continua aferrado a uma visão de mundo peculiar, que o leva a ter forte resistência a políticas horizontais e preferência inequívoca por medidas particularistas, focadas em setores específicos, ou até mesmo em empresas, e formuladas ao sabor de interesses especiais de todo tipo. O que requer problemática gestão de uma complexa rede de guichês de favores. Sobram razões para ver com apreensão essa forma de conduzir a política econômica. Algumas das dificuldades envolvidas afloraram com nitidez nas últimas semanas.
Há cerca de um ano, o governo vem fazendo grande alarde com a ideia de desoneração da folha de pagamentos da indústria. Mas, em vez de anunciar simples redução da alíquota de contribuição patronal, partiu para injustificável mudança de base fiscal. Contribuição paga sobre faturamento e não mais sobre a folha, com alguma desoneração embutida na troca. Tudo isso em quatro setores, escolhidos a dedo. Muito barulho e poucas nozes. O valor total da desoneração aos setores agraciados foi inicialmente estimado em não mais que R$ 1,4 bilhão até o fim de 2012. Cerca de 0,03% do PIB.
Há poucos meses ainda havia esperança de que tal programa pudesse ficar restrito aos quatro setores inicialmente escolhidos. E de que, aos poucos, o governo afinal percebesse que a desoneração da folha poderia ser feita de maneira incomparavelmente mais simples, sem o lamentável e desnecessário retrocesso da tributação sobre faturamento. Ledo engano. Em abril, assustado com a desaceleração da economia, o governo, por meio da Medida Provisória (MP) 563, estendeu o esquema de desoneração a 11 outros setores, ao mesmo tempo em que reduziu a alíquota de contribuição sobre faturamento que vinha sendo paga pelos setores que já haviam sido incluídos no programa. Mas a coisa não ficou por aí. Ainda faltava submeter a MP ao Congresso.
O Executivo tem condições de atender com mais desenvoltura os amigos do rei quando consegue atuar sozinho, sem a ingerência do Congresso.
Basta ter em conta, por exemplo, o caso do vasto orçamento paralelo montado no BNDES, nutrido com transferências diretas do Tesouro, que tem permitido ao governo manejar montantes gigantescos de recursos públicos como bem entende, a salvo do crivo do Congresso. O problema é que nem sempre o Executivo consegue atuar sozinho. E, quando o Congresso tem de entrar na jogada, a coisa se complica. Se o nome do jogo é atender os amigos do rei, o Congresso logo se encanta, pronto a participar da iniciativa. A seu modo. E de todos os lados, surgem régulos empenhados em atender os amigos dos régulos. Foi o que se viu na votação da MP 563 em meados de julho.
De nada adiantou a gigantesca bancada da base aliada na Câmara. O amadorismo da Fazenda logo sucumbiu diante da atuação concertada dos profissionais do Congresso. A banda tocou como os régulos queriam. E, para grande contrariedade do governo, a Câmara aprovou a inclusão no esquema de desoneração de vários outros setores, como transporte de carga e de passageiros (rodoviário, marítimo e aéreo), brinquedos, granito e mármore e parte do agronegócio (carnes, soja e trigo).
Tudo indica que o que começou como um programa bastante restrito de desoneração está dando lugar, agora, a uma mudança bem mais abrangente de base fiscal, com generalização da impensada cobrança de contribuição patronal sobre faturamento, que deve desfigurar ainda mais o já problemático sistema tributário com que conta o país. Tendo em vista os custos políticos, em ano eleitoral, de um veto do Executivo à inclusão desses novos setores, o governo agora considera a possibilidade de partir para rápida ampliação da abrangência do seu programa de desoneração da folha. E de reduzir, se necessário, a meta de superávit primário, para acomodar o custo fiscal envolvido, que excederia em larga margem o acanhado limite de 0,17% do PIB, contemplado inicialmente na MP 563. Em meio às contradições do favoritismo, um erro leva a outro.
Na condução da política econômica, o governo continua aferrado a uma visão de mundo peculiar, que o leva a ter forte resistência a políticas horizontais e preferência inequívoca por medidas particularistas, focadas em setores específicos, ou até mesmo em empresas, e formuladas ao sabor de interesses especiais de todo tipo. O que requer problemática gestão de uma complexa rede de guichês de favores. Sobram razões para ver com apreensão essa forma de conduzir a política econômica. Algumas das dificuldades envolvidas afloraram com nitidez nas últimas semanas.
Há cerca de um ano, o governo vem fazendo grande alarde com a ideia de desoneração da folha de pagamentos da indústria. Mas, em vez de anunciar simples redução da alíquota de contribuição patronal, partiu para injustificável mudança de base fiscal. Contribuição paga sobre faturamento e não mais sobre a folha, com alguma desoneração embutida na troca. Tudo isso em quatro setores, escolhidos a dedo. Muito barulho e poucas nozes. O valor total da desoneração aos setores agraciados foi inicialmente estimado em não mais que R$ 1,4 bilhão até o fim de 2012. Cerca de 0,03% do PIB.
Há poucos meses ainda havia esperança de que tal programa pudesse ficar restrito aos quatro setores inicialmente escolhidos. E de que, aos poucos, o governo afinal percebesse que a desoneração da folha poderia ser feita de maneira incomparavelmente mais simples, sem o lamentável e desnecessário retrocesso da tributação sobre faturamento. Ledo engano. Em abril, assustado com a desaceleração da economia, o governo, por meio da Medida Provisória (MP) 563, estendeu o esquema de desoneração a 11 outros setores, ao mesmo tempo em que reduziu a alíquota de contribuição sobre faturamento que vinha sendo paga pelos setores que já haviam sido incluídos no programa. Mas a coisa não ficou por aí. Ainda faltava submeter a MP ao Congresso.
O Executivo tem condições de atender com mais desenvoltura os amigos do rei quando consegue atuar sozinho, sem a ingerência do Congresso.
Basta ter em conta, por exemplo, o caso do vasto orçamento paralelo montado no BNDES, nutrido com transferências diretas do Tesouro, que tem permitido ao governo manejar montantes gigantescos de recursos públicos como bem entende, a salvo do crivo do Congresso. O problema é que nem sempre o Executivo consegue atuar sozinho. E, quando o Congresso tem de entrar na jogada, a coisa se complica. Se o nome do jogo é atender os amigos do rei, o Congresso logo se encanta, pronto a participar da iniciativa. A seu modo. E de todos os lados, surgem régulos empenhados em atender os amigos dos régulos. Foi o que se viu na votação da MP 563 em meados de julho.
De nada adiantou a gigantesca bancada da base aliada na Câmara. O amadorismo da Fazenda logo sucumbiu diante da atuação concertada dos profissionais do Congresso. A banda tocou como os régulos queriam. E, para grande contrariedade do governo, a Câmara aprovou a inclusão no esquema de desoneração de vários outros setores, como transporte de carga e de passageiros (rodoviário, marítimo e aéreo), brinquedos, granito e mármore e parte do agronegócio (carnes, soja e trigo).
Tudo indica que o que começou como um programa bastante restrito de desoneração está dando lugar, agora, a uma mudança bem mais abrangente de base fiscal, com generalização da impensada cobrança de contribuição patronal sobre faturamento, que deve desfigurar ainda mais o já problemático sistema tributário com que conta o país. Tendo em vista os custos políticos, em ano eleitoral, de um veto do Executivo à inclusão desses novos setores, o governo agora considera a possibilidade de partir para rápida ampliação da abrangência do seu programa de desoneração da folha. E de reduzir, se necessário, a meta de superávit primário, para acomodar o custo fiscal envolvido, que excederia em larga margem o acanhado limite de 0,17% do PIB, contemplado inicialmente na MP 563. Em meio às contradições do favoritismo, um erro leva a outro.
A primeira barreira - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 03/08
A corrupção é antieconômica. Ela reduz a arrecadação, desvia recursos públicos, cria incentivos à opacidade nas relações entre agentes econômicos, encarece produtos e serviços, estimula a falta de controle. O julgamento do mensalão pode ser a barreira para impedir o avanço desse mal. O Supremo derrubou ontem mais uma manobra para proteger os réus.
A primeira discussão tomou muito tempo, mas foi ociosa. Já havia sido travada no plenário, no mesmo processo, por três vezes. Assim que o advogado Márcio Thomaz Bastos levantou a questão de ordem pedindo o desmembramento da ação, o ministro Ricardo Lewandowski sacou um gigantesco voto para sustentar a tese. Foi derrotado por 9 a 2. Se a ação fosse desmembrada e enviada para a primeira instância, a possibilidade de alguma punição seria remotíssima.
Como disse o ministro Joaquim Barbosa, não faz sentido que o ministro Lewandowski, revisor há dois anos do relatório, só ontem tenha decidido apresentar ardorosa defesa do desmembramento .
Dos argumentos levantados pelo advogado e pelo ministro, o mais estranho foi o de que ser julgado no Supremo seria uma supressão do direito ao recurso. Ora, o STF é definido como "foro privilegiado" e é a ele que se recorre. Parece cristalino, mas tomou a tarde toda do dia primeiro, que deveria ser ocupado pelo pronunciamento do relator e a sustentação oral do procurador-geral da República. Mas o Supremo confirmou o julgamento de todos .
A grande pergunta do ponto de vista econômico é se há dinheiro público envolvido. Contratos com estatais ou empresas controladas por estatais, bônus não devolvidos, pagamento por serviços não prestados, dinheiro que não recolhe seus impostos alimentaram o esquema. Então, sim, havia dinheiro público direta e indiretamente .
No estágio financeiro do esquema o que já foi dito pelos réus é suficiente para mostrar os danos para o erário. Delúbio Soares confessou o uso de "dinheiro não contabilizado": sem origem legal, sem destino declarado. Ao não entrar na contabilidade, o dinheiro não pagou imposto, não se expôs à fiscalização das autoridades tributárias e eleitorais, elidiu leis e tributos. Duda Mendonça confessou que foi obrigado a receber pagamento por serviços prestados à campanha presidencial de 2002 em dinheiro vivo ou em paraísos fiscais. E esse dinheiro foi fruto de evasão de divisas. Não é crime receber dinheiro vivo, mas, nos volumes que ele recebeu, é, no mínimo, indício de que os recursos tinham origem criminosa .
Ficou provado que o Banco Rural pagava quantias altas em saques na boca do caixa numa frequência que não é prática do sistema bancário. O publicitário Marcos Valério vendeu e ofereceu muito mais do que serviços de uma agência de propaganda. Pagar contas partidárias através de recursos que vem de renovação de contratos ou da apropriação do que deveria ser de órgãos ou empresas públicas é usar dinheiro público.
O nome de Sílvio Pereira apareceu ontem várias vezes, mas ele não é réu. Os fatos em que o ex-secretário-geral do PT esteve envolvido continuam intrigando quem tenta entender sua desenvoltura e conexões. Nos próximos dias, o STF vai revisitar todos os descaminhos do esquema montado que tinha como objetivo pagar dívidas de campanha de 2002, fortalecer a base eleitoral do governo Lula e aumentar o número de prefeitos aliados na campanha de 2004. Em 2006, Sílvio Pereira disse ao GLOBO que o objetivo era arrecadar R$ 1 bilhão. O enorme esquema teria ficado maior e mais robusto se não tivesse sido barrado pela série de eventos que levou ao julgamento .
A corrupção é antieconômica. Ela reduz a arrecadação, desvia recursos públicos, cria incentivos à opacidade nas relações entre agentes econômicos, encarece produtos e serviços, estimula a falta de controle. O julgamento do mensalão pode ser a barreira para impedir o avanço desse mal. O Supremo derrubou ontem mais uma manobra para proteger os réus.
A primeira discussão tomou muito tempo, mas foi ociosa. Já havia sido travada no plenário, no mesmo processo, por três vezes. Assim que o advogado Márcio Thomaz Bastos levantou a questão de ordem pedindo o desmembramento da ação, o ministro Ricardo Lewandowski sacou um gigantesco voto para sustentar a tese. Foi derrotado por 9 a 2. Se a ação fosse desmembrada e enviada para a primeira instância, a possibilidade de alguma punição seria remotíssima.
Como disse o ministro Joaquim Barbosa, não faz sentido que o ministro Lewandowski, revisor há dois anos do relatório, só ontem tenha decidido apresentar ardorosa defesa do desmembramento .
Dos argumentos levantados pelo advogado e pelo ministro, o mais estranho foi o de que ser julgado no Supremo seria uma supressão do direito ao recurso. Ora, o STF é definido como "foro privilegiado" e é a ele que se recorre. Parece cristalino, mas tomou a tarde toda do dia primeiro, que deveria ser ocupado pelo pronunciamento do relator e a sustentação oral do procurador-geral da República. Mas o Supremo confirmou o julgamento de todos .
A grande pergunta do ponto de vista econômico é se há dinheiro público envolvido. Contratos com estatais ou empresas controladas por estatais, bônus não devolvidos, pagamento por serviços não prestados, dinheiro que não recolhe seus impostos alimentaram o esquema. Então, sim, havia dinheiro público direta e indiretamente .
No estágio financeiro do esquema o que já foi dito pelos réus é suficiente para mostrar os danos para o erário. Delúbio Soares confessou o uso de "dinheiro não contabilizado": sem origem legal, sem destino declarado. Ao não entrar na contabilidade, o dinheiro não pagou imposto, não se expôs à fiscalização das autoridades tributárias e eleitorais, elidiu leis e tributos. Duda Mendonça confessou que foi obrigado a receber pagamento por serviços prestados à campanha presidencial de 2002 em dinheiro vivo ou em paraísos fiscais. E esse dinheiro foi fruto de evasão de divisas. Não é crime receber dinheiro vivo, mas, nos volumes que ele recebeu, é, no mínimo, indício de que os recursos tinham origem criminosa .
Ficou provado que o Banco Rural pagava quantias altas em saques na boca do caixa numa frequência que não é prática do sistema bancário. O publicitário Marcos Valério vendeu e ofereceu muito mais do que serviços de uma agência de propaganda. Pagar contas partidárias através de recursos que vem de renovação de contratos ou da apropriação do que deveria ser de órgãos ou empresas públicas é usar dinheiro público.
O nome de Sílvio Pereira apareceu ontem várias vezes, mas ele não é réu. Os fatos em que o ex-secretário-geral do PT esteve envolvido continuam intrigando quem tenta entender sua desenvoltura e conexões. Nos próximos dias, o STF vai revisitar todos os descaminhos do esquema montado que tinha como objetivo pagar dívidas de campanha de 2002, fortalecer a base eleitoral do governo Lula e aumentar o número de prefeitos aliados na campanha de 2004. Em 2006, Sílvio Pereira disse ao GLOBO que o objetivo era arrecadar R$ 1 bilhão. O enorme esquema teria ficado maior e mais robusto se não tivesse sido barrado pela série de eventos que levou ao julgamento .
"piauí" - FERNANDA TORRES
FOLHA DE SP - 03/07
A massificação da arte e da informação seduz quem produz e consome peças, livros, jornais e filmes
Gosto muito de ler a revista "piauí". É mesmo um milagre que alguém tenha tido a pachorra de criá-la, e de maneira tão competente.
No número 70, na edição do mês de junho, o posfácio de Mario Sergio Conti para a reedição de seu livro, "Notícias do Planalto", explica, de certa forma, o porquê do espanto com a revista.
Mario traça um mapa da escalada do marketing na política e na imprensa desde a eleição de Collor até hoje. Um dos efeitos colaterais desta influência no jornalismo seria a proliferação de colunas e cronistas, em detrimento das reportagens investigativas, mais complexas, profundas e lentas de serem feitas.
A observação calou fundo em uma cronista amadora como eu.
A cultura de massa triunfou de maneira tão acachapante, que arriscar uma publicação com letras miúdas, poucas e boas fotos e longas dissertações sobre temas não tão urgentes, é como remar contra a maré com a vontade de um suicida. Não é à toa que João Salles, seu fundador, torce pelo Botafogo.
A "piauí" era uma causa perdida, fadada ao ostracismo editorial.
Hoje, suas páginas exibem grandes anunciantes, e a publicação, notadamente, virou hábito para uma parcela pequena, porém significativa, de leitores. Nada comparável à fartura das encadernações de moda, decoração e culinária, mas, ainda assim, um feito.
Em uma época em que ser marginal é mais sinônimo de incompetência do que de heroísmo, a revista conseguiu se popularizar de forma indireta.
Na contramão das regras de mercado, acabou pautando a própria imprensa. Fez isso com Dirceu, Dilma e Ricardo Teixeira; ao mesmo tempo que selecionou artigos surpreendentes, como o do embate darwinista sobre o altruísmo, o da debacle econômica islandesa e o sobre a dinâmica dos fractais.
A massificação da arte e da informação seduz quem produz e consome peças, novelas, livros, jornais e filmes. As pesquisas de opinião dominam o comportamento, a moral, a política e o entretenimento. Cada vez mais, a balança para medir o valor de uma obra é a sua penetração no grande público e o retorno financeiro. É preciso reconhecer o valor de quem fura o bloqueio.
Em um conselho da "piauí", do qual fiz parte por um período, Luciano Huck, também conselheiro, deu uma solução lapidar para o balanço da revista que, naquele momento, insistia em se manter no vermelho. Ele sugeriu a criação de uma segunda revista, a "ceará", repleta de celebridades, fotos, escândalos, receitas e fofocas. A "piauí" seria mantida com o lucro da "ceará".
Luciano fez, com poucas palavras, o raio-X da encruzilhada econômica da alta cultura, do alto jornalismo, da música clássica, do teatro, das artes plásticas, do balé, dos museus e da cultura dita erudita. É preciso produzir chiclete para assar brioches.
O ser ou não ser de qualquer intelectual praticante é produzir algo que agrade a gregos e troianos, que instigue as cabeças pensantes, ao mesmo tempo que alcance as multidões. Esse, não há dúvida, é o milagre de Shakespeare, das tragédias gregas e de grande parte da música popular brasileira, mas não é todo dia que acontece.
A saída ideal é a educação. A "New Yorker" jamais venderá o que os tabloides vendem, mas gente suficiente a consome para que ela continue existindo. Desconfio muito da apologia dos grandes números, da glorificação do "Big Brother", como se o programa fosse um estudo antropológico do comportamento humano. Não é. Ou é, na medida em que tudo é, mas não vale um parágrafo de Jared Diamond.
Existe uma condenação velada à erudição. A exaltação do popular é um posicionamento inatacável. Discordar dela, mesmo que parcialmente, é como discursar em favor da monarquia em meio à Revolução Francesa.
Sinto falta de Benedito Ruy Barbosa e muito me toca a influência de Flaubert, Vitor Hugo e Eça de Queiroz na trama das nove de João Emanuel Carneiro. Reconheço em Harry Potter o valor de Cinderela, mas ainda considero "Providence" um dos maiores filme que já assisti.
A "piauí" galgou seu lugar nos revisteiros dos mais informados banheiros e consultórios médicos do país. No dia que virar uma alternativa xiita nos salões de cabeleireiro, terá feito uma revolução.
Quem traiu Lula? - NELSON MOTTA
O Estado de S.Paulo - 03/08
É um dos grandes mistérios da República, a pergunta que não quer calar, o enigma que os futuros historiadores enfrentarão: de quem falava Lula, em rede nacional, quando se disse traído e pediu desculpas aos brasileiros pelo mensalão?
Quem diz que daria um cheque em branco a Roberto Jefferson não pode reclamar de ser traído. Mas o seu traidor não foi Jefferson, porque estava ocupado em vingar a traição de que se sentiu vítima quando a PF detonou o esquema de propinas do PTB nos Correios.
Quem tem Zé Dirceu como seu principal aliado, numa relação de amor e ódio de 30 anos, não deve se surpreender com uma traição. Basta imaginar o que faria o Zé para chegar à Presidência, caso Lula fosse um obstáculo. Mas Dirceu pediu pra sair, para não trair Lula. Se ele sabia do mensalão e não contou para Lula, não foi traição, mas proteção. Dirceu é muito protetor.
Quem tem Valdemar Costa Neto na sua base de apoio deve estar acostumado a achaques, chantagens e traições. Mas o pragmático Valdemar não seria burro de trair quem o beneficiava e acabou traído pela ex-mulher, que o denunciou por receber malas de dinheiro do mensalão.
Quem foi o Judas do Cristo Lula? Deve ser alguém próximo, em quem ele confiava, com quem compartilhava sonhos e segredos e tinha relações afetuosas. São esses que têm poder para grandes traições, e são essas que mais doem e causam maior dano; as outras, de aliados e correligionários, são corriqueiras, na política a traição faz parte do jogo ao sabor dos acontecimentos e ninguém reclama.
Mas, fora do círculo íntimo, Genoino, Gushiken, Gilberto Carvalho, quem poderia trair Lula? O companheiro Delúbio assumiu suas responsabilidades e as alheias, e continua merecendo a gratidão de Lula e o carinho de ser chamado de "nosso Delúbio". Tiradentes não chamaria de "nosso Silvério" o traidor da Inconfidência.
A conclusão só pode ser que quem traiu Lula foi ela, "a mídia". Ele contava com seu apoio, compreensão e tolerância para o primeiro operário a chegar à Presidência da República, mas foi traído por notícias ruins, denúncias graves e críticas devastadoras.
Quem é quem - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 03/08
A postura do ministro Ricardo Lewandowski no começo do julgamento do mensalão mostra bem a disposição dele de se fazer um contraponto ao relator do processo, ministro Joaquim Barbosa.
Opapel de revisor não é o de contestar o relator, o que pode acontecer pontualmente, mas Lewandowski entrou no julgamento com a decisão de marcar sua posição a favor dos réus, sem que se saiba ainda se defenderá a absolvição generalizada ou se atuará em favor de penas brandas, admitindo que houve crime no episódio.
O protagonismo de Lewandowski serviu também para retirar o foco do ministro Dias Toffoli, que se mostrou à vontade para participar do julgamento. A proposta de desmembramento do processo, levantada novamente pelo advogado de defesa Márcio Thomaz Bastos, não precisaria ser analisada tão detalhadamente quanto o fez Lewandowski se ele não estivesse querendo marcar o terreno da defesa, respaldando uma tese que já havia sido rejeitada nada menos que três vezes pelo Supremo.
Foi o que irritou o ministro Joaquim Barbosa, que sentiu na atitude do revisor uma "deslealdade" com ele, pois, nos dois anos em que atuam juntos, não foi avisado de que Lewandowski respaldaria um pedido da defesa para "ressuscitar" um assunto que já estava superado pelo plenário do Supremo.
O próprio Joaquim Barbosa deixou claro que, embora tivesse uma posição anterior igual à de Lewandowski, pelo desdobramento do processo, acatou a decisão da maioria e aceitou a sua integralidade, não sendo razoável voltar ao assunto pela quarta vez, logo no primeiro dia do julgamento.
O fato de ter lido um longo voto, que roubou três horas do julgamento, mesmo depois de o presidente Ayres Britto ter pedido que fosse breve, pois se tratava apenas de uma questão de ordem, mostra que ele, da mesma maneira que se comportou ao liberar sua revisão fora do prazo, não se importa em retardar o processo desde que garanta a publicidade de sua posição. Seria leviano afirmar que Lewandwski se debruçou sobre o tema tão demoradamente dentro de estratégia de inviabilizar o calendário elaborado pelo STF, que permitiria que o ministro Cezar Peluso votasse antes de sua aposentadoria, em 3 de setembro.
Essa é certamente uma estratégia da defesa, e não foi outra a intenção de Thomaz Bastos ao pedir de novo o desmembramento do processo, embora a razão oficial seja de motivação técnica. Na base da defesa do desmembramento está a tentativa de descaracterizar a conexão entre os diversos crimes, esvaziando a tese da Procuradoria Geral da República de que houve formação de uma quadrilha para executar crimes contra o Estado brasileiro. À medida que cada um dos 38 réus fosse julgado isoladamente, ficaria mais fácil manobrar as diversas instâncias de recursos processuais.
O ministro Gilmar Mendes foi direto ao ponto, lembrando que, se os processos fossem encaminhados isoladamente para a primeira instância judicial, quase certamente não teriam chegado a julgamento, e os crimes prescreveriam.
Também o ministro Peluso, lembrando uma reportagem do "Jornal das 10", da Globo News, disse que um juiz que pegasse o processo pela primeira vez teria grandes dificuldades para colocá-lo em julgamento em curto prazo, pois suas muitas mil páginas não permitiriam que se inteirasse do assunto em pouco tempo, mesmo que fosse leitor tão rápido quanto um locutor de corrida de cavalos.
Tudo isso para demonstrar que a retomada da questão do desmembramento só levaria a um retardamento do processo.
A ministra Rosa Weber foi muito feliz ao dizer que os ministros estavam ali para levar adiante o processo, e não assumir posições que signifiquem um retrocesso. O cronograma inicial organizado pela presidência do Supremo já está prejudicado e, dependendo da leitura do voto do revisor, que tem mais de mil páginas de contraposições ao do relator, poderá ficar ainda mais inviabilizado.
A grande discussão será, então, sobre a possibilidade de o ministro Cezar Peluso antecipar seu voto, fazendo-o logo depois dos votos do relator Joaquim Barbosa e do revisor Ricardo Lewandowski.
É previsível que advogados questionem esse voto, pois Peluso não ouvirá o voto de vários de seus pares e não poderá mudar sua posição depois de aposentado; os demais ministros podem fazê-lo até o fim do julgamento. Ficou claro que há na maioria dos ministros do Supremo uma decisão de levar o julgamento adiante, independentemente da posição pessoal de cada um. Voltar atrás no julgamento a esta altura seria uma desmoralização para a instituição.
Tempo, tempo... - SONIA RACY
O ESTADÃO - 03/08
Código Penal em mãos, os ministros usarão a chamada dosimetria “a dose do remédio”, nas palavras de um dos magistrados para calcular as penas dos que forem condenados. “Não é brincadeira, mas estamos preparados”, ponderou à coluna Luiz Fux. “Só receio que o plenário vire uma feira livre” ,emendouo sempre polêmico Marco Aurélio Mello.
Tempo 2
Para memorizar os personagens do escândalo, o revisor do processo, Ricardo Lewandowski, instalou até uma lous a em seu gabinete com os nomes de todos os réus, agrupados de acordo com as acusaçõe s do Ministério Público. “É cacoete de professor”, declarou.
Seuvoto é dos mais esperados.
Nova musa?
Sai Andressa Mendonça de cena –- por decisão da Justiça, ela não pode ter nenhum contato com os investigados –, entram novas candidatas a musa do caso Cachoeira.
Kelly, mulher de Geovani Pereira da Silva, contador foragido do bicheiro, apareceu em uma audiência em Brasília de jeansjusto e regatapretadecotada. Equilibrava-se em saltos altíssimos e passou o tempo todo de óculos escuros.
Musa 2
Já Karina, mulher de Gleyb Ferreira, braço direito de Cachoeira,faz alinhadiscreta. Sai Hermès e entra Dudalina. “É o que gosto de usar”, explica.
Após deixar a sombra de Andressa, ela até conversou. Falou do drama que vive com o marido na cadeia. Em audiência em Goiânia, caiu no choro ao ouvir a cara-metade falar que passa os dias avaliando “se vale a pena viver ou não”.
Bola na rede
E tem ministro comparando o julgamento do mensalão a clássico de futebol: “É Brasil e Argentina na Bombonera”. Fato.
Esclarecendo
Aproposta de Kakaypara Cezar Peluso. O advogado defende que o ministro do STF seja o último a votar, para que possa ouvir seus pares antes de fazê-lo – já que, provavelmente, não estará presente nas discussões finais.
E se não dertempo de elevotar antes da aposentadoria, em 3 de setembro? “Não vota.”
Tricolor
O marketing do São Paulo FC está sem diretor. Rogê David deixou o posto para se dedicara sua empresa de viagens.
O clube quer, agora, profis sionalizar o cargo e convidou Rui Branquinho, VP de Criação da Y&R.
Troca da guarda
Marcelo Ferro e Marcelo Trindade, notáveis advogados de contenciosos, assumiram as rédeas das negociações entre Abilio Diniz e Jean-Charles Naouri.
Zelo
Operação de guerra para que as telas de Van Gogh, Monet e Manet cruzassem o Atlântico e chegassem à exposição Impressionismo: Paris e a Modernidade, que abre amanhã no CCBB. Abordo de seis aviões, as obras vieram em caixas climatizadas –- sob o olhar atento de responsáveis do Musée D’Orsay. Com direito, ainda, a período de repouso antes de serem desembaladas.
Entende-se. É a primeira vez que esse patrimônio francês deixa o museu parisiense.
Direto das Olimpíadas
Se na sala onde os nadadores ficam antes de entrar na prova, o clima é de intimidação, um filme no YouTube faz sucesso entre todos eles. Produzido pela equipe norte-americana, já tem mais de 300 mil acessos. Ao som de Carly Rae Jepsen, mostra a delegação dos EUA fazendo estripulias na piscina e dublando o hit. Com direito a participação de Michael Phelps e até beijinho de Ryan Lochte. O nadador americano, aliás, levou a família para apoiá-lo em Londres. Sua mãe, Ike, afirmou à coluna que todos acreditam ser esta a “olimpíada dele”. E que já estão ansiosos pela próxima, no Rio de Janeiro.
Já no vôlei feminino, nem a derrota para a Coreia do Sul desanimou Ana Moser. A exjogadora acredita que as coisas ainda podem mudar: “São 15 dias de muita pressão e o time passou por reconstruções importantes”, afirma. Sobre o polêmico corte da levantadora Fabíola, Ana disse entender José Roberto Guimarães: “São só 15 jogadoras, alguém tem de ser cortado”.
No hipismo, nossa amazona Luiza Almeida está tranquila. A moça chegou a Londres dia 27 e ficou descansando até domingo, quando seu cavalo, Pastor, chegou. Luiza passou os últimos dois meses treinando na Alemanha, investimento que contou com incentivo do COB. Depois de ver Zara Phillips, neta da rainha Elizabeth II, competindo que Luiza enfatizou à coluna: “É uma cavaleira excepcional”. Detalhe: o hipismo tem sido o esporte que mais atraiu público até agora nos Jogos. Cerca de 65 mil pessoas assistiram ao segundo dia de competição.
Gente que trabalha no mercado de luxo em Londres anda reclamando da falta de compradores. A maior parte das lojas de alta costura, por exemplo, está às moscas.
E quem teve seu ataque fashionista foi Maria Sharapova. A tenista russa pediu a Martin Lotti, homem dos uniformes da Nike, que lhe desenhasse algo bonito. Ele contou à coluna que a moça “se sente mais confiante” e “joga melhor” quando usa algo que a deixa elegante.
DNA do mensalão - FERNANDO GABEIRA
O Estado de S.Paulo - 03/08
O mensalão, para os juízes, é um processo de 50 mil folhas. Para mim, é matéria de memória. Maio de 2005 é um marco na política brasileira. Mas não um relâmpago em céu azul.
É um marco porque ficou evidente, naquele mês, que o PT jamais cumpriria uma de suas maiores promessas de campanha: ética na política. A entrevista do então presidente Lula em Paris, tentando justificar o mensalão, ainda menciona a responsabilidade ética do partido, mas com uma dose de convicção tão pequena que entendi como um adeus à bandeira do passado. Eu já havia deixado o PT e a base do governo em 2003. O escândalo do mensalão foi, no entanto, uma tomada de consciência popular de que a ética na coalizão do governo era só propaganda.
O termo mensalão cresceu porque foi bem escolhido. Roberto Jefferson, ao usá-lo pela primeira vez, não ignorava o apelo popular de um aumentativo. Na TV, as feiras de carros são anunciadas como feirão, as lojas de atacado, como atacadão e até os estádios de futebol, Engenhão, Barradão, Mineirão, seguem o mesmo caminho. Um setor que ainda acreditava nas promessas do PT se sentiu traído, como se o armário do quarto escondesse um amante: Ricardão.
Não foi um relâmpago em céu azul. Lula estava cansado de perder eleições. Decidiu disputar em 2002 com as condições profissionais dos adversários. Começou aí a necessidade de captar em grande escala. Programas de TV são dispendiosos. Mulheres grávidas desfilando a esperança, muitas câmeras, luz, gruas, tudo isso custa dinheiro.
Uma vez no poder, era preciso controlar os aliados, garantir sua sobrevivência política e, em troca, sua fidelidade. Agora o dinheiro corria mais fácil.
A primeira tentativa de combater o estrago do mensalão foi afirmar que jamais existiu com rigor temporal. Não havia pagamentos mensais, dizia a defesa. Mas que importância legal tem isso? O dinheiro era distribuído aos líderes dos partidos amigos. O apartamento do deputado José Janene, do PP, era chamado de pensão pelos deputados que o frequentavam. Talvez lhes pagasse quinzenalmente. Seria apenas um quinzenão.
Segundo a ex-mulher de Valdemar Costa Neto, em depoimento na Câmara, ele gastou numa só noite de cassino o equivalente a US$ 300 mil. Pode muito bem ter dado o cano nos deputados naquele mês, ou pago apenas um vale para acalmá-los. Quem jamais saberá?
A segunda tentativa de atenuar os estragos do mensalão foi o uso da novilíngua: eram apenas sobras de campanha, mero crime eleitoral. Tão brando que nem poderíamos chamar esse dinheiro de caixa 2, mas de recursos não contabilizados. Era tanto dinheiro em cena que recursos não contabilizados não conseguiam explicá-lo. Surgiram, então, empréstimos do Banco Rural e do BMG. O dinheiro foi emprestado por bancos que não cobram juros nem acossam devedores. Bancos amigos.
O relatório da CPI indicou com bastante clareza de onde veio o dinheiro: do Banco do Brasil e da Visanet. Naufragou ali a última atenuante: o dinheiro do mensalão, num total de R$ 100 milhões, é público.
Lembro-me como se fosse hoje do depoimento de Duda Mendonça. Ele anunciou a alguns deputados que iria falar. E falou: recebeu dinheiro do PT no exterior, pouco mais de R$ 10 milhões, que nunca mais retornariam ao País.
O episódio do mensalão não evitou que Lula vencesse as eleições em 2006 e, quatro anos mais tarde, elegesse Dilma Rousseff. A força eleitoral do PT manteve-se e as consequências políticas pareciam neutralizadas. O dinheiro continuou fluindo em campanhas milionárias e o partido, como os comunistas italianos, poderia até montar uma sólida estrutura econômica alternativa. Mas as consequências políticas não morrem tão cedo.
O julgamento do caso vai recolocá-lo na agenda política. Não acredito que possa modificar o curso das eleições. Será apenas uma nova dimensão a considerar. Muito se falou que a CPI do Cachoeira iria ofuscar o julgamento do mensalão. Deve ocorrer o contrário: o julgamento vai conferir importância à CPI do Cachoeira. A mensagem é simples: mesmo quando não há consequências políticas imediatas, a corrupção ainda tem toda uma batalha legal pela frente.
O PT vai se distanciar do mensalão, Dilma também. Dilma distanciou-se da Delta, de Fernando Cavendish, mas seu governo continua a irrigar os cofres da empresa fantástica. É compreensível a distância. No caso do mensalão, ela nos faz crer que todo o mecanismo foi montado pelo cérebro do ex-ministro José Dirceu, que operava num paraíso de inocentes. No da Delta, a distância convida-nos a crer que tudo se passou numa obscura seção goiana da empresa.
Nas paredes de cadeia sempre há esta inscrição: aqui o filho chora e a mãe não ouve. A mãe do PAC finge que não ouve os choros da Delta. Grande administradora, não desconfiou que a empresa que mais trabalhava nas obras do PAC era, na verdade, um antro de picaretagem. Assim como Lula não sabia que houve o mensalão. Todo aquele dinheiro rolando a partir da campanha de 2002 era um milagre político. É um senhor que me ajuda, como diria a mulher bonita vivendo súbita prosperidade. É tudo um tecido de mentiras que ainda não se rasgou no Brasil. No mensalão era uma agência de publicidade de Marcos Valério que despejava grandes somas nas contas dos políticos. O nome dela era DNA. Recentemente, foram as empresas fantasmas da Delta que realizaram essa tarefa.
Em 2005 ainda havia um mínimo de combatividade parlamentar para buscar a verdade. Hoje nem com isso podemos contar. O mensalão arrasta-se como um vírus mutante pela História moderna do Brasil. Mas a corrupção não é uma fatalidade genética. E o grande equívoco de alguns marxistas vulgares é supor que ela é um componente natural, insuperável, diante do qual a única reação sensata é tirar proveito.
Sete anos o Brasil esperou para julgar o mensalão. Sete anos mais vamos esperar pelo júri da Delta. E mais poderíamos esperar, não fora para tão longa sede tão curta a vida.
Day after - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 03/08
Com o atraso no cronograma, advogados dos réus do mensalão já estudam os cenários possíveis caso o ministro Cezar Peluso se aposente em setembro sem votar. Em caso de empate, não está claro para a defesa se a decisão seria em favor dos acusados ou se o presidente Ayres Britto arbitraria. Apenas um entendimento é consensual: ainda que Dilma Rousseff nomeie o substituto durante o julgamento, ele não poderá dar seu voto, uma vez que Peluso já se manifestou.
Fla-Flu Defensores dos réus vibravam com os elogios dos ministros ao voto de Ricardo Lewandowski, que avaliaram como desagravo à "deselegância" de Joaquim Barbosa com o revisor. Mas ficaram desolados com o placar amplamente contrário à tese do desmembramento.
Bolsa... Com a abertura de duas vagas no Supremo até o fim do ano, advogados estrelados já apostam no nome de Arnaldo Malheiros, que defende do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares no processo do mensalão, para ocupar uma das cadeiras.
... de apostas Surpreso, o criminalista afirma que, se for chamado, encarará como uma "missão". Ele lembra que o salário é bem inferior aos ganhos com escritórios de advocacia. "O Eros Grau falava que perdia R$ 1 milhão por ano", diz, referindo-se ao ministro aposentado.
Eu? Decano do STF, o ministro Celso de Mello confidenciou a um colega que não pretende deixar a Corte após o julgamento do mensalão.
Na ativa Apesar da alta só estar prevista para domingo, Roberto Jefferson, diagnosticado com câncer no pâncreas, despachou ontem o dia todo do hospital em que está internado, no Rio. Enquanto começava o julgamento do mensalão, no qual é réu, ele recebeu dirigentes petebistas para discutir estratégias para as eleições.
Não é comigo Na reabertura dos trabalhos da Câmara, apenas os líderes das bancadas do PT, PSDB, DEM, PPS e PSOL trataram do mensalão. Deputados dos outros 17 partidos com representação na Casa ignoraram o julgamento nos pronunciamentos em plenário -inclusive o PTB, hoje presidido por Jefferson, delator do esquema.
Hora do rush Simultaneamente ao início do julgamento, João Paulo Cunha (PT-SP), único réu que disputa a eleição, falava sobre o "trânsito caótico" de Osasco em reunião com aliados no Sindicato dos Bancários.
Veja bem José Roberto Batocchio diz que arrolou no processo de Flávio Maluf testemunhas na Síria, no Egito, no Afeganistão e no Iraque porque a Eucatex tem negócios nesses países. Da mesma forma, diz ele, o Ministério Público usou documentos produzidos no exterior.
Sem teto Guilherme Afif reagiu ontem à limitação do ingresso de secretários em conselhos de estatais, anunciada por Geraldo Alckmin. "Sou contra. Suplementar a remuneração é legítimo e ajuda a qualificar o governo", diz o vice-governador, fora da lista de bonificados.
Padrinhos Eduardo Campos (PSB) fará corpo a corpo hoje ao lado de Jonas Donizette, seu candidato em Campinas, praça na qual duelará com Lula como cabo eleitoral. Aliado nacional do governador pernambucano, o ex-presidente promete ajudar Márcio Pochmann (PT).
Visita à Folha Ricardo Annes Guimarães, presidente do BMG, visitou ontem a Folha. Estava com Márcio Alaor de Araújo, vice-presidente executivo do banco, Marcus Vinícius Fernandes Vieira, advogado, e Luiz Sales e Daniel Bruin, diretores da SPGA Comunicação.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Pela Constituição, todo o cidadão é inocente até se prove o contrário. A PM condena e mata. Só depois vê a ficha de quem aborda."
DO DEPUTADO ESTADUAL ENIO TATTO (PT), sobre o paciente de câncer confundido com criminoso e ofendido em blitz na zona leste paulistana.
contraponto
Dança das cadeiras
Com a superlotação do plenário do STF, ontem, advogados dos réus não conseguiram lugares para sentar no local reservado à defesa e tiveram de buscar cadeiras vagas na plateia. Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, defensor de Duda Mendonça, questionou o advogado de José Dirceu, José Luis Oliveira Lima, o Juca:
-Arrumou lugar ou vamos ficar em pé?
Sem resposta, Kakay emendou, arrancando um sorriso amarelo do colega:
-Se o ministro Toffoli se disser impedido vai sobrar um lugar ali. Um de nós pode ficar sentado...
À beira de um ataque... - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 03/08
Irritado com uma declaração à imprensa do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-RR), o ministro Gilmar Mendes (STF) ligou na segunda-feira e avisou: "O senhor não me conhece, sou um homem de enfrentamentos." O senador ouviu os protestos e respondeu: "Ministro, muito prazer. Eu também não costumo fugir de uma boa briga" Gilmar bateu o telefone.
O Planalto e o mensalão
A presidente Dilma pediu que ninguém no governo falasse em mensalão, mas todos os dias, no Planalto e na Esplanada, governistas, petistas ou não, trocam impressões sobre o julgamento. A grande preocupação do Planalto é preservar o ex-presidente Lula, que, como se sabe, é uma reserva moral do governo Dilma. Os petistas no governo também se preocupam com o destino do ex-ministro José Dirceu, sobretudo no caso de ele receber uma condenação. Entre os aliados, o temor é outro. Em caso de absolvição, preveem uma forte pressão das bases petistas pela sua reabilitação, com a nomeação para um ministério ou assumindo o comando do partido.
“Este julgamento vai transformar os ministros do STF em árbitros de futebol. Suas decisões vão ser discutidas na imprensa e nos bares”Sérgio Guerra
Presidente do PSDB e deputado federal (PE)
Tucanos recorrem a especialistas
O PSDB contratou duas empresas de auditoria para analisar e cruzar todos os dados bancários, recebidos pela CPI do Caso Cachoeira que envolvem a Construtora Delta e os integrantes da organização do contraventor Carlos Cachoeira.
Vou festejar...
Ao contrário da maioria dos petistas, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) faz festa para o governador Eduardo Campos (PE). Na homenagem ao socialista, anteontem no Rio, afirmou que ficava "impressionado" com petistas incomodados com a projeção nacional do PSB e de Campos. E concluiu: "É melhor os companheiros crescerem do que os adversários."
De volta ao passado
José Dirceu se encontrou no fim da semana passada com Lula, em São Paulo. Procurou o ex-presidente para conversar sobre o julgamento. Estava apreensivo com o resultado. Lula desejou boa sorte ao seu ex-braço-direito no Planalto.
Mensalão: quem se beneficiou
Foi o PMDB quem faturou com o escândalo do mensalão. Sua votação para a Câmara dos Deputados em 2006 subiu de 13,4% (2002) para 14,5%. A do PT caiu de 18,4% para 14,9%. A oposição despencou. O PSDB caiu de 14,3% (2002) para 13,7% (2006), e para 11,9% (2010). O DEM caiu de 13,4%, para 10,9% e para 7,5%.
Demóstenes nas redes sociais
Como fizeram o ex-ministro José Dirceu e o presidente do PTB, Roberto Jefferson, quando foram cassados na Câmara por causa do mensalão, o ex-senador Demóstenes Torres vai criar blog para se defender no Caso Cachoeira.
Um comunista quer se dar bem
Candidato a vereador pelo PCdoB em Caxias, interior do Maranhão, Batista Barros adotou como slogan: "Eu quero é me dar bem’! Nos seus cartazes, acrescenta: "Prefiro perder com a verdade do que ganhar mentindo’!
A oposição na Câmara só dá quorum para votar se o governo tiver cumprido sua promessa de empenhar suas emendas ao Orçamento da União.
Irritado com uma declaração à imprensa do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-RR), o ministro Gilmar Mendes (STF) ligou na segunda-feira e avisou: "O senhor não me conhece, sou um homem de enfrentamentos." O senador ouviu os protestos e respondeu: "Ministro, muito prazer. Eu também não costumo fugir de uma boa briga" Gilmar bateu o telefone.
O Planalto e o mensalão
A presidente Dilma pediu que ninguém no governo falasse em mensalão, mas todos os dias, no Planalto e na Esplanada, governistas, petistas ou não, trocam impressões sobre o julgamento. A grande preocupação do Planalto é preservar o ex-presidente Lula, que, como se sabe, é uma reserva moral do governo Dilma. Os petistas no governo também se preocupam com o destino do ex-ministro José Dirceu, sobretudo no caso de ele receber uma condenação. Entre os aliados, o temor é outro. Em caso de absolvição, preveem uma forte pressão das bases petistas pela sua reabilitação, com a nomeação para um ministério ou assumindo o comando do partido.
“Este julgamento vai transformar os ministros do STF em árbitros de futebol. Suas decisões vão ser discutidas na imprensa e nos bares”Sérgio Guerra
Presidente do PSDB e deputado federal (PE)
Tucanos recorrem a especialistas
O PSDB contratou duas empresas de auditoria para analisar e cruzar todos os dados bancários, recebidos pela CPI do Caso Cachoeira que envolvem a Construtora Delta e os integrantes da organização do contraventor Carlos Cachoeira.
Vou festejar...
Ao contrário da maioria dos petistas, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) faz festa para o governador Eduardo Campos (PE). Na homenagem ao socialista, anteontem no Rio, afirmou que ficava "impressionado" com petistas incomodados com a projeção nacional do PSB e de Campos. E concluiu: "É melhor os companheiros crescerem do que os adversários."
De volta ao passado
José Dirceu se encontrou no fim da semana passada com Lula, em São Paulo. Procurou o ex-presidente para conversar sobre o julgamento. Estava apreensivo com o resultado. Lula desejou boa sorte ao seu ex-braço-direito no Planalto.
Mensalão: quem se beneficiou
Foi o PMDB quem faturou com o escândalo do mensalão. Sua votação para a Câmara dos Deputados em 2006 subiu de 13,4% (2002) para 14,5%. A do PT caiu de 18,4% para 14,9%. A oposição despencou. O PSDB caiu de 14,3% (2002) para 13,7% (2006), e para 11,9% (2010). O DEM caiu de 13,4%, para 10,9% e para 7,5%.
Demóstenes nas redes sociais
Como fizeram o ex-ministro José Dirceu e o presidente do PTB, Roberto Jefferson, quando foram cassados na Câmara por causa do mensalão, o ex-senador Demóstenes Torres vai criar blog para se defender no Caso Cachoeira.
Um comunista quer se dar bem
Candidato a vereador pelo PCdoB em Caxias, interior do Maranhão, Batista Barros adotou como slogan: "Eu quero é me dar bem’! Nos seus cartazes, acrescenta: "Prefiro perder com a verdade do que ganhar mentindo’!
A oposição na Câmara só dá quorum para votar se o governo tiver cumprido sua promessa de empenhar suas emendas ao Orçamento da União.
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