O GLOBO - 03/08
O escândalo político-financeiro e que atende pelo apelido de mensalão começou ontem os seus dias decisivos, com o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal. Trata-se, sem dúvida, de um momento histórico na carreira dos ministros do Supremo Tribunal Federal - e uma festa cívica, se a decisão do STF corresponder ao que pensa a maioria dos brasileiros bem informados sobre o que se passa no país.
E falamos em festa cívica como referência à primeira vez na história do país que crimes financeiros atribuídos a personagens próximos - muito próximos - de um presidente da República são investigados a fundo. Resultando numa lista de réus que satisfaz a maioria da opinião pública. Se alguém já esqueceu, eles são acusados de manipular um complexo esquema financeiro destinado a comprar votos de senadores e deputados em benefício de membros do governo Lula e aliados. Essa máquina de fazer dinheiro era comandada dentro do governo Lula por José Dirceu, então chefe da Casa Civil.
Outro chefe da quadrilha, o publicitário Marcos Valério, era peça-chave da máquina de corrupção. O valerioduto - assim batizado no que se poderia definir como uma anti-homenagem - manipulou ilegalmente (como foi comprovado pela polícia) recursos cujo total chegou perto de R$ 100 milhões. Não é exagero acreditar que o bolo tenha passado dessa quantia. O julgamento, se tiver as consequências previstas pela maior parte da mídia e por uma considerável parcela da opinião pública, terá óbvias consequências políticas. A reação do Congresso é imprevisível. Mas parece ser inevitável que uma condenação severa afetará inevitavelmente a força política do PT. Pelo menos, por algum tempo. É também imprevisível a reação da presidente Dilma Rousseff. Com certeza, ela não se manifestará publicamente (nem deveria fazê-lo), mas só o tempo dirá se as consequências de um veredicto humilhante para o PT afetarão de alguma forma o seu prestígio e a sua atuação no governo.
Seja como for - e mais importante que as consequências políticas imediatas - um julgamento severo talvez, quem sabe, servirá para reduzir o apetite com que uma parcela considerável da comunidade política costuma se lançar sobre o apetitoso bolo da máquina pública.
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