sábado, outubro 15, 2011

NELSON MOTTA - Os Milagres do Cristo



Os Milagres do Cristo
NELSON MOTTA
REVISTA VEJA - RIO




No filme em preto e branco de 1941, o DC-3 da Pan Am se aproxima do Rio de Janeiro, trazendo Carmen Miranda e seus amigos de Hollywood para uma aventura nos trópicos. O avião sobrevoa a cidade, com a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar ao fundo, os dedos de uma imensa mão de concreto, depois um braço e o corpo inteiro do Cristo Redentor entram em quadro. É a mais clássica imagem do Rio de Janeiro, o postal mais banal, o maior clichê visual, o insuperável lugar-comum da beleza incomum da cidade. É a vista do Rio que se tem do céu.

No Brasil de 1931, construir uma estátua daquele tamanho, no alto de uma montanha de difícil acesso, era, no mínimo, um despropósito, uma insanidade, seria um Fitzcarraldo carioca que terminaria em mortes e tragédia. Autoabençoado, o Cristo resistiu a tudo com estoica concretude.
O cinema ficou colorido, a cidade mudou, mudaram os aviões e os passageiros, mas ao longo do tempo, em filmes, novelas, seriados e comerciais, quando alguém chega ao Rio de Janeiro, a cena continua a mesma. A cidade se espalhando à beira-mar, a baía cercada de montanhas, abençoada pelo Cristo entre as nuvens.

"Muita calma pra pensar / e ter tempo pra sonhar / da janela vê-se o Corcovado / o Redentor, que lindo… " — cantava João Gilberto em 1959, lançando a bossa nova no histórico LP Chega de Saudade. Anos depois, consagrado nos Estados Unidos, o autor de Corcovado, Tom Jobim, voltava ao Brasil e compunha o clássico Samba do Avião: "Cristo Redentor / braços abertos sobre a Guanabara / estou morrendo de saudade..."

No Carnaval de 1989, um dos piores períodos da nossa história recente, nos estertores do desmoralizado governo Sarney, com inflação que chegou a passar de 80% em um mês, Collor eleito presidente e o Rio de Janeiro falido e entregue à bandidagem, o gênio de Joãosinho Trinta concebeu o enredo Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia para a Beija-Flor de Nilópolis, trazendo o Cristo Redentor para a passarela do samba. E para o centro de uma polêmica.

O enredo de Joãosinho era "não só sobre o lixo físico, mas o lixo moral, mental e espiritual, que cria uma multidão de marginalizados, que tiram do lixo as coisas de brilho". Proibido pela Arquidiocese e coberto por um plástico preto, com a faixa desafiadora "Mesmo proibido, olhai por nós", o carro alegórico do Cristo,abarrotado de mendigos foliões cantando e dançando à sua volta, levantou a Sapucaí.

O Cristo Redentor de 2011 é o da animação Rio, em 3-D. É de tirar o fôlego, visto de ângulos que não existem, criados pela imaginação de Carlos Saldanha e pela tecnologia de ponta. Agora vamos imaginar o inimaginável: que o Cristo não existisse. E aparecesse um carioca católico e empreendedor, meio Roberto Medina, meio Eike Batista, e propusesse a construção de um Cristo gigante no alto do Corcovado, sem custos para o estado. Claro, os logos dos patrocinadores estariam na base da estátua, afinal alguém teria de pagar a conta. O cara ia ser chamado de maluco, de picareta, de explorador da imagem divina, e não conseguiria construí-lo. Pior ainda se algum político o propusesse como um projeto público. Com concorrência fajuta, aditivos e superfaturamentos, custaria mais caro do que a reforma do Maracanã. E um desenho medonho seria o escolhido.

Ainda bem que o Cristo foi construído há oitenta anos, porque hoje certamente o Ibama e a Secretaria do Meio Ambiente não autorizariam a obra, pelos distúrbios que o gigantesco corpo estranho provocaria na fauna e na flora do Corcovado, pelas luzes e pelo movimento de pessoas que assustariam os animais silvestres, pelo abalo que provocaria no ecossistema, pela interferência na paisagem natural das montanhas emoldurando a Baía de Guanabara. Sob protestos das outras religiões e dos ateus, o Cristo Redentor teria de ser construído na Barra.

IVAN ANGELO - Choro

Choro
IVAN ANGELO
REVISTA VEJA SP



Toca o interfone. O porteiro quer saber se o motoboy da farmácia pode subir. Sim, claro. Daí a pouco soa a campainha da porta de serviço e é ele, um rapaz alto, com o capacete pendurado no braço e a encomenda da farmácia na mão. Tenho de conferir a nota, dar-lhe o cheque, assinar o protocolo, e é tudo; ele sai, vai esperar o elevador no hall, encosto a porta. Só encosto, porque pretendo abrir o pacote e jogar a embalagem na lixeira. Quando abro a porta, ele ainda está lá, e chora alto.

Vacilo um instante, golpeado pela cena; não tenho coragem de invadir sua intimidade; cerro discretamente a porta, sem fechar, e fico protegido, esperando que o elevador chegue e me liberte daquele estupor, o sofrimento de um desconhecido.

Tento rapidamente me lembrar de algum detalhe do breve momento em que estivemos juntos, algo que me teria escapado ao trocarmos o pacote por papéis, qualquer coisa que me teria avisado de que iria ocorrer algo desconcertante, íntimo, no final daquela relação efêmera e prosaica, um detalhe como mãos trêmulas ou voz embargada. Mesmo que tivesse notado, poderia interpretar tais detalhes como prenúncio de choro, em encontro tão rápido? Sem saber como eram a sua voz ou as suas mãos nos bons e nos maus momentos?

Não, não houve sinais; reconstruo a cena: abro a porta, rapaz de fino trato e traços, o pacote, a caneta dele, o cheque, o papel para o visto, a caneta de volta, aceita uma água, não obrigado, então obrigado, boa tarde, com licença — e só.

O elevador tarda, tento parecer inaudível, respiração de pessoa escondida. Pela fresta ouço um soluço alto, entrevejo um soco na parede, não um soco com os nós dos dedos, mas um golpe com a lateral da mão fechada, testa encostada na parede. Decido-me: vou lá.

Uma vez vi meu pai chorando. Não vi, ouvi. Coragem não tive de ir lá, passar a mão na cabeça dele. Creio que não seria isso que faria se tivesse ido lá; teria encostado nele, acho que teria chorado junto. Era menino muito pequeno e estava assustado porque tinha ouvido as duas pancadas com que ele havia matado nosso cãozinho, doente terminal de raiva. Eu estava deitado, meus irmãos dormiam, e eu não conseguia dormir porque desconfiava que aquilo ia acontecer, desconfiava daquele buraco aberto no quintal para plantar um pé de mamão. Ele havia esperado a madrugada a fim de nos poupar de algum sofrimento, mas eu ouvi as pancadas, e o ouvi enterrá- lo, e depois ele entrou na cozinha e ficou lá sem acender a luz, e daí a pouco ouvi os soluços dele, por um tempo que não acabava mais. Era a primeira vez que o via chorar, a primeira vez que via um homem chorar. De manhã ele disse que o cachorro tinha fugido. Fui olhar o mamoeiro plantado e nunca disse a ele que sabia.

Vou lá, mas fazer o quê? Num segundo ensaio a pergunta ao motoqueiro: posso te ajudar? Depois oferecer uma limonada, talvez; de qualquer forma não deixá-lo descer naquele instante, não seria seguro que ele entrasse de moto no trânsito violento da cidade com aquele transbordamento de si mesmo.

Abro a porta já falando “amigo”, e nesse momento eu o vejo entrar pela porta do elevador com sua dor escondida pelo capacete. Percebo na hora que havia colocado o capacete para que os passageiros não vissem que estivera ou estava chorando. Não atende ao meu chamado, a porta automática se fecha.

Corro a olhá-lo da varanda. Sai do prédio, sobe na sua moto, dá a pedalada de partida do motor e segue ereto, rosto indevassável, como qualquer motoqueiro sem sofrimento. Faz aquele bamboleio na curva e é absorvido de novo pelo anonimato.

ANCELMO GOIS - NÃO À PRIVATIZAÇÃO


NÃO À PRIVATIZAÇÃO
 ANCELMO GOIS
O GLOBO - 15/10/11

A terra tremeu esta semana para o consórcio SMU, formado, entre outras, pela japonesa Mitsui e pela PTE Ltda., de Cingapura, com a decisão da Petrobras de não mais terceirizar a Central de Utilidades do futuro Complexo Petroquímico do Rio.
A ideia inicial, estimulada pelo próprio governo, era que o SMU, onde a Petrobras teria 20% do capital, se encarregasse do fornecimento à futura refinaria de energia, vapor, água, hidrogênio e outros insumos.

SEGUE... 
Nas outras refinarias, a Central de Utilidades já é da própria Petrobras.

CALMA, GENTE 
Uma turma tentava convocar ontem, pelo Facebook, um ato contra os corruptos na próxima segunda (17), em frente ao Teatro Casa Grande, no Rio, onde Zé Dirceu vai lançar seu livro Tempos de Planície e será homenageado com uma festa.

WILL.I.AM IN RIO 
Will.i.am, o líder da banda americana The Black Eyed Peas, desembarca no Rio segunda.
Vem gravar o clipe de Great Times, faixa de seu novo CD solo, que será lançado mundialmente em janeiro.

ERA DO MARKETING 
Veja como o mundo do marketing é rápido no gatilho.
Logo depois da tragédia da explosão num restaurante da Praça Tiradentes, no Rio, quinta, a Sygma-SMS, empresa que vende sistemas de proteção contra vazamentos de gás para bares e restaurantes, mandou e-mail aos jornais vendendo seu peixe.

AMOR E CAPITAL 
O livro Love and capital: Karl and Jenny Marx and the birth of a revolution, da jornalista americana Mary Gabriel, será lançado aqui pela editora Zahar em 2012. A obra mostra Marx como pai protetor e marido amoroso.

ACARAJÉ DE VERÃO 
A inclusão de última hora da Bahia no horário de verão, que começa hoje, à meia-noite, pode, segundo gente graúda do setor, provocar um caos nos voos com conexão em Salvador.
Para um executivo do ramo, “a falta de aviso pelo menos uns 30 dias antes deve trazer transtornos, pois os sistemas de reserva não serão capazes de ajustar suas malhas”.

ACARAJÉ, DE NOVO 
Geddel Vieira Lima, o peemedebista baiano que ganhou de Dilma uma vice-presidência da Caixa, acusou no Twitter a Secretaria de Segurança de seu Estado de grampear telefones de políticos da oposição.

NO MAIS 
Após o Conar liberar o comercial de calcinhas com Gisele Bündchen, o Planalto avaliou que a ministra Iriny Lopes, das Mulheres, poderia ter poupado o governo desse mico.

COCÔ DA BAIXADA 
A estação de tratamento de esgoto da Cedae em Sarapuí, na Baixada Fluminense, construída no governo Brizola e que nunca funcionou, vai começar a operar a partir de segunda. Faltava construir o tronco coletor.
Serão 1,5 mil litros de dejetos tratados por segundo – ou um Maracanãzinho de cocô por dia que deixará de ser despejado na 
Baía de Guanabara. 

BOLETIM MÉDICO 
O deputado Hugo Leal, autor da Lei Seca, está internado no Hospital Samaritano, no Rio, com trombose no fígado.

REGINA ALVAREZ - Crescer na crise

Crescer na crise
REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 15/10/11

No momento em que a tendência é buscar culpados pela mais grave crise da Zona do Euro, nos seus 11 anos de existência, é oportuno discutir também o que é preciso ser feito para que a União Europeia não apenas supere os problemas que enfrenta, mas saia desta crise mais forte, estável e unificada. Nesse sentido, é consenso entre os analistas que os problemas de hoje são estruturais, nasceram na formação do bloco econômico.

O economista Carlos Langoni, da Fundação Getúlio Vargas, vê uma grande falha institucional no lançamento do euro. A âncora monetária foi muito bem construída, com a criação do Banco Central Europeu, mas faltou uma âncora fiscal forte. O Tratado de Maastricht trouxe um limite para o déficit que nunca foi levado muito a sério pelos governos de um modo geral, não apenas dos países que hoje estão na berlinda.

Esse problema foi apontado pelo presidente de Portugal, Cavaco Silva, em palestra realizada em Florença, esta semana. Ele disse que a crise não pode ser atribuída apenas aos Estados financeiramente indisciplinados, acusando Alemanha e França de darem o mau exemplo quando deixaram de cumprir os limites do déficit já em 2005.

O economista Rafael Martello, da Tendências, observa que a crise de 2008 expôs as fragilidades fiscais dos países do bloco e a atual mostrou que não é mais possível seguir em frente sem reformas estruturais profundas. O Estado de bem-estar social não é mais financiável e tem que ser repensado. Este é o lado ruim da crise, o alto custo social.

O aspecto positivo, destaca Langoni, é que a crise vai forçar os países a avançar do ponto de vista institucional, como aconteceu no Brasil no passado recente, com o saneamento e reestruturação do sistema financeiro e a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal.

É exatamente nesse sentido que a Europa precisa caminhar, com a reforma do sistema financeiro e um ajuste fiscal sustentável. Não é fácil, nem será feito de uma vez. É um processo penoso e politicamente delicado, mas o fato é que a crise sem precedentes na Zona do Euro abriu uma janela para que a região avance em direção ao fortalecimento.

O que os analistas esperam é que superada esta fase aguda de turbulência surja uma Europa menos suscetível a choques, um bloco mais forte, mais estável, mais unificado, com um sistema pró-ativo que atue preventivamente para evitar novo colapso.

Afinal, como alertou o presidente português Cavaco Silva, na palestra em Florença, a União Europeia vive horas decisivas para o seu futuro e o que está em jogo é nada menos do que o projeto de unificação.

Efeito interno

A divulgação do índice IBC-Br de agosto, pelo Banco Central, reforçou a expectativa dos economistas de crescimento próximo de zero ou até negativo no terceiro trimestre, na comparação com o segundo. Mas a crise internacional tem pouco a ver com esse resultado ruim. A queda no nível de atividade está mais relacionada a medidas adotadas pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central, no começo do ano, quando o risco era de superaquecimento, destacam os economistas Newton Rosa, da Sul América Investimento, e André Perfeito, da Gradual Investimentos.

- Não acredito que a crise seja a principal responsável. O efeito é muito limitado sobre a economia brasileira e por enquanto está restrito à queda da confiança dos empresários - disse Rosa, que prevê estagnação no terceiro trimestre.

Já Perfeito estima que o PIB do terceiro trimestre recuará pelo menos 0,25%. Ele aponta a elevação dos compulsórios em dezembro de 2010; a alta da Selic na primeira metade do ano; e o aperto fiscal implementado pela presidente Dilma no início do mandato como principais causas da desaceleração.

RECORDE NO CARTÃO: O Banco do Brasil bateu recorde na concessão de crédito via Cartão BNDES. Nos últimos dois meses, o volume transacionado chegou a R$1,075 bi.

DE VOLTA AO AZUL: Depois de fechar com os maiores ganhos semanais desde 2009, os índices americanos Dow Jones e Nasdaq voltaram ao terreno positivo no acumulado do ano.

ESTRATÉGIA: O Banco Central chileno manteve esta semana a taxa de juros inalterada pela quarta vez seguida. A estratégia é aguardar os efeitos da crise antes de começar a cortar.

LEONARDO CAVALCANTI - O troco em Dilma



O troco em Dilma
LEONARDO CAVALCANTI
CORREIO BRAZILIENSE - 15/10/11

Até o mês passado, os aliados insatisfeitos com a faxina da presidente rogavam pragas em silêncio. Apenas observadores mais atentos dos movimentos políticos percebiam a intolerância com as ações contra a corrupção. Não é mais assim. Agora, até estratégia os camaradas desenvolveram

Dilma Rousseff não perde por esperar. A história de tirar da Esplanada dos Ministérios aliados envolvidos em denúncias menores de corrupção já deu o que tinha de dar, e isso só fez mal a ela. Afinal, se desgastou cada vez mais com a própria base aliada. O troco pode ser dado ainda nas eleições municipais do próximo ano. Dilma perdeu e ainda não sabe.

Antes de mais nada, as frases acima não são deste colunista. Foram pronunciadas por dois cardeais governistas na última semana. Protegidos pelo anonimato, os políticos deixaram claro o que pensam sobre Dilma. Não são os únicos, ao contrário. É só tentar encontrar quantos aliados - até mesmo petistas e lulistas - defenderam a presidente publicamente.

O que era apenas sussurrado, agora ganha plenos pulmões, mesmo que em conversas de bastidores. Até o mês passado, a praga dos aliados era rogada em silêncio. Apenas observadores mais atentos dos movimentos políticos percebiam a intolerância dos aliados com as ações de Dilma na Esplanada dos Ministérios. O incômodo era tal que até criaram uma tese.

A tese da governabilidade relacionava a demissão dos ministros envolvidos em denúncias de corrupção com a má vontade dos partidos em votar projetos de interesse no Congresso. Pura chantagem. Um, dois, três ministros caíram e nada de revoltas. As legendas trocaram os nomes dos indicados e tudo ficou por isso mesmo, pois.

Atritos

A dificuldade do Planalto é que a pressão contra Dilma continua. E cada dia aumenta, como deixam claro os dois cardeais da base aliada. Agora, o principal argumento deles é o de que um projeto de continuidade do PT não se confirma com a presidente criando atritos com a base aliada. E que Dilma precisa mais dos parlamentares do que imagina.

Ao agir como estrategistas políticos, os críticos da presidente dizem acreditar que ela não tem - e nunca terá - a força de Lula, que ao longo dos últimos oito anos conseguiu queimar etapas na relação com o eleitor na ponta. O carisma do ex-presidente fazia com que ele atropelasse ministros, governadores, senadores, deputados federais e estaduais, vereadores e líderes comunitários. Explico.

Para a base insatisfeita, os deputados federais e senadores têm uma teia própria de relações nos estados a partir dos parlamentares e ministros de Brasília. Isso garante a um candidato a presidente ter acesso ao eleitor a partir de uma espécie de efeito dominó, iniciado por conta das redes de votos conquistadas por deputados estaduais, vereadores e líderes comunitários.

Lula conseguiu neutralizar o efeito dominó de uma forma que os próprios políticos locais passaram a rogar pelo apoio dele. Mas isso não significa, na lógica dos aliados, que Dilma consiga fazer o mesmo. Ao contrário. Ao demitir ministros, a presidente estaria colocando em risco a própria reeleição em 2014 e, de imediato, a força do Palácio do Planalto na corrida municipal no próximo ano.

A torcida dos insatisfeitos com Dilma pode perder força caso a popularidade da presidente continue em alta. E, como se sabe, isso depende menos de aliados ressentidos - com suas estratégias e chantagens - e mais da força da economia no próximo ano e em 2014.

Armadilha

Em Porto Alegre, ontem, uma vaia irritou Dilma mais do que o costume devido às suspeitas de ter sido orquestrada. A manifestação foi organizada pelo Sindicato dos Bancários, filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) no estado. A CUT, é bom lembrar, é do PT.

TUTTY VASQUES - Saída pelo aeroporto



Saída pelo aeroporto
TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 15/10/11

O PT procura uma saída honrosa para Marta Suplicy recuar da candidatura em São Paulo sem perder o rebolado. Não pode ser um bota-fora qualquer! A senadora, como se sabe, não precisa da política para ser o centro das atenções nos melhores salões de sua cidade.

Nada que o dinheiro compre, no caso dela, compensa o desconforto íntimo de ser ofuscada pelo apagado Fernando Haddad, o escolhido de Lula para debutar nas urnas da capital em 2012.

Não transparece em público por causa do botox e do penteado impecável, mas, por dentro, Marta deve estar se sentindo como a irmã da Cinderela quando rejeitada no teste do sapatinho.

De uma hora pra outra, sua candidatura virou abóbora e, pelo andar da carruagem, se não aparecer rapidinho uma fada ou um José Dirceu de condão para contornar a situação o feitiço pode acabar em bafafá nas prévias do partido. O santo dela é forte pra dedéu!

Flores, caixa de bombom, ingressos para ópera, chás ingleses, champanhe, cremes rejuvenescedores, todo dia alguém do PT lhe faz um agrado, mas, comenta-se na base aliada do governo, só o cargo de embaixadora em Paris resgataria a autoestima de Marta Suplicy. Feio, cá pra nós, ela não faria, d'accord?!

Tara


A admiração dos homens - ô, raça! - pela rainha Rania, da Jordânia, virou puro fetiche após denúncias de que, além de linda, sua majestade se amarra numa corrupção.

Peralá!

Botar a culpa da explosão que matou três e feriu 17 num prédio comercial no centro do Rio no cigarro de um funcionário, francamente, vão acabar absolvendo o dono do gás.

Eu, hein!

Que diabos Galvão Bueno quis dizer com "carrego uma geladeira nas costas pelo meu ufanismo". Fez a frase em meio a um balanço de seus 30 anos de serviços prestados à TV Globo?

"Meu nome é Alckmin!"

O governador Geraldo Alckmin superou o recorde do saudoso Enéas Carneiro com uma participação de 5 segundos na propaganda política do PSDB na TV.

Só pensa naquilo

De Silvio Berlusconi, comentando o voto de confiança que conseguiu a duras penas (a favor 316 x 301
contra) no parlamento italiano:

"Vitória apertadinha é mais gostosa!"

A inveja é uma...

William Bonner e Fátima Bernardes só voltam na semana que vem do feriadão de Nossa Senhora Aparecida!

Ah, coitada!

Já tem muita gente boa por aí começando a ficar com pena da ministra de Políticas para Mulheres, Iriny Lopes. O Conar, a direção da TV Globo, as feministas, a presidente Dilma, a Gisele Bündchen, ninguém, enfim, dá a menor bola para o que ela diz!

Only Mallu

A cantora Mallu Magalhães teve o bom senso de cortar o sobrenome de sua assinatura artística: "Só quem fala português sabe pronunciar 'Magalhães'!" - explica. Só se fala disso em Nova York!

JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém - Esperteza


Esperteza
 JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém
O GLOBO - 15/10/11

Cabral deu uma bombástica entrevista ao GLOBO, ameaçando a Dilma e dizendo não se responsabilizar pelos seus atos. Antes que a entrevista fosse publicada, teve o cuidado de contar para a presidente. — Meu Deus! — exclamou Dilma com as mãos na cabeça. — Desconsidere-a, então — sugeriu o bravateiro.

Kuarup 
Particularmente, achei a entrevista um desastre. Como um governador de estado diz que não se responsabiliza pelos seus atos? Cabral, inimputáveis, no Brasil, só índios e Lula. 

Companhia 
Rodrigo Maia anda conversando tanto com Pezão sobre eleições... As de governador, não de prefeito. Não estranhem não uma possível aliança do DEM com o PMDB, no Rio, em 2014, sob as bênçãos de Cabral... 

Namoro 
São cada vez mais intensos os encontros do prefeito Kassab, do PSD, com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. 

“Tô Fora”
Kassab, o grande articulador político do país, acaba de sofrer um duro revés. Depois de ter conseguido domar até o Alckmin, Kassab viu escapar o sonho de fazer do vice Afif o candidato à prefeitura de São Paulo. Afif deu-lhe um rotundo não. 

Exportação 
O governo búlgaro, na posse da Dilma, trouxe de presente uma estátua de veado. Agora, na visita dela ao país, novamente, deram-lhe de presente dezenas de veadinhos estampados em louças e outros suvenires. Será que os búlgaros, por terem conhecido só a equipe da Dilma, acham que não temos veados na política?......

Cardozo salva show de Justin e vira herói 
Depois que a colunista Mônica Bergamo publicou uma foto dele ao lado do cantor Justin Bieber, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não teve mais sossego. Até no despacho de Cardozo com a Dilma, um assessor exibiu a foto. Desligada, a nossa presidente, que de garotinho só conhece o Anthony, assustada, perguntou: 
— Quem é essa menina que tá com o senhor, ministro? 
— Parece, mas não é. É o Justin Bieber! — Justin Bieber, o menino cantor??!!! 
— Esse mesmo, presidente. Ele é muito simpático! 
— Eu só queria saber o que é que o ministro da Justiça estava fazendo num show juvenil. E foi aí que, constrangido, Cardozo contou à Dilma uma história genial. A bela namorada do cantor, Selena Gomez, foi impedida de entrar no Brasil, por causa de documentação irregular. Já na hora do embarque, diante deste impasse, Justin bateu o pé:
— Se ela não entrar, eu não vou. Cancelem os shows. Os promotores brasileiros, desesperados, lembraram que só uma amiga poderia salvá-los: Maíra Cardozo, jovem filha do ministro. Para evitar um levante juvenil, Cardozo resolveu. Virou herói dos produtores e dos pombinhos.

Merecida homenagem 
A FSB, uma das maiores empresas de assessoria do país, acaba de marcar um golaço. Em comemoração aos 30 anos da empresa, a FSB resolv e u h o m e n a g e a r u m d o s maiores jornalistas do país, Wilson Figueiredo, 87 anos de idade, 47 dos quais no “Jornal do Brasil”, onde passou por todos os cargos, publicando a sua biografia pela editora Azul: “E a Vida Continua — a trajetória profissional de Wilson Figueiredo”. Não costumo falar das empresas de assessorias, exatamente por ter amigos em todas elas. Mas, pelo presente que dará à História e ao jornalismo do país, não posso deixar de parabenizar o coordenador geral do projeto, Francisco Soares Brandão, o Chiquinho, por essa iniciativa. O lançamento será no dia 1o- de dezembro, na Travessa do Leblon. Wilson Figueiredo, além da reconhecida competência, dignifica a minha profissão. 

Duro na queda

Aparentemente, Lula desistiu de assediar Chalita para que renunciasse a sua candidatura à prefeitura de São Paulo. 

Circo 
O DEM da Bahia resolveu filiar subcelebridades para lançá- las à Câmara Municipal de Salvador e, assim, puxar votos para a legenda. Entre os famosos estão Cissa Chagas, a “Mulher Maravilha”, o anão Pepy Safado, vários ex-BBB e o ex-jogador Beijoca. Bem, se não derem certos como vereadores, o DEM poderá usálos em aniversários de crianças para fazer caixinha para a campanha. 

No auge do sucesso
Teodora Bastos, a minha sobrinha cretina, de “Fina Estampa” é, pelas pesquisas, a pessoa mais odiada do país. E, paradoxalmente, a mais desejada pelos homens de todas as faixas -— dos 15 aos 90 anos. Poderosa Dieckmann.

ILIMAR FRANCO - Jeitinho


Jeitinho
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 15/0/11
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), deve recriar parte dos 1.050 cargos de confiança extintos em 2007, para contemplar o PSD. A medida gerou uma economia de R$ 40 milhões. Assim, o PSD terá seus cargos sem que os outros partidos diminuam os seus. Hoje, há 1.315 cargos de confiança na Casa, preenchidos sem concurso. “Estamos conversando com o Marco Maia”, contou o líder do novo partido, Guilherme Campos (SP)

Reviravolta estratégica do DEM 
Vinte anos depois de terem sido os principais parceiros na Nova República (1985-1989), o DEM e o PMDB voltam a se aproximar. As direções dos dois partidos têm conversado muito nas últimas semanas. A maioria dos deputados e senadores do DEM aposta numa aliança estratégica com o PMDB. A antiga aliança dos demistas com o PSDB está desgastada. Eles se consideram traídos pelos tucanos, que fomentaram a criação do novo partido, o PSD, do prefeito Gilberto Kassab (SP). Como o PSD não pretende fazer oposição, se a aproximação do DEM com o PMDB se consolidar, o PSDB ficará politicamente isolado.

"Pasmem os senhores, um cidadão ganhou 525 vezes! Um outro, 327 vezes! Um outro, 206 vezes!” — Álvaro Dias, líder do PSDB no Senado (PR), sobre suspeita de manipulação de resultados nas loterias.

SUJEITO OCULTO. O PT paulista é o maior entusiasta da proposta de criar um ministério que englobe os movimentos sociais (Direitos Humanos, Igualdade Racial, Mulheres, Juventude e Índios). No Planalto, quem gosta da ideia é o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), que já faz a interlocução com os movimentos pela Presidência da República. Seu nome está colocado para comandar a nova pasta, caso seja criada.

Pedindo passagem 
A Frente Parlamentar de Combate à Corrupção quer se integrar às marchas de protesto. Um de seus membros, deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), reclama que “a rejeição global a partidos não separa o joio do trigo e soma para o atraso”.

Pegou mal
Integrantes da Mensagem acusam o ministro Fernando Haddad (Educação) de “oportunismo” por ter negado integrar essa corrente do PT para obter o apoio da Construindo um Novo Brasil à sua candidatura à prefeitura de São Paulo.

Líderes negam autoria de proposta 
Os líderes do PMDB, Henrique Alves (RN), e do PT, Paulo Teixeira (SP), ligaram para negar que estejam defendendo uma redução ainda maior que a proposta do Senado do pagamento de royalties e participação especial para os estados e municípios produtores de petróleo. Ambos se declaram amigos do Rio. A proposta que retira ainda mais receitas dos produtores existe, mas seu autor é o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI).

Comparando 
Nas votações no Congresso no primeiro semestre deste ano, o governo Dilma t e v e a p o i o m é d i o d e 54,10%. A Consultoria Arko- Advice registra que esse desempenho é melhor que o do segundo mandato do expresidente Lula, 51,18%.

Os mais fiéis
As bancadas estaduais que mais votaram com o governo Dilma foram as de Sergipe, 65,7%; Brasília, 64,95%; e Bahia, 63%. Neles, os governadores são os petistas Marcelo Déda (SE), Agnelo Queiroz (DF) e Jaques Wagner (BA).

PENSANDO ALTO. Aliados da senadora Marta Suplicy (PT-SP) reivindicam o Ministério da Educação como compensação para ela desistir da candidatura à prefeitura de São Paulo. 

PT x PSDB. O ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração), que é do PSB, anda criticando a gestão do prefeito do Recife, João da Costa (PT). O ministro quer disputar a prefeitura no ano que vem. 

A PRESIDENTE Dilma afirmou, em Porto Alegre, que o Brasil, depois de pagar sua dívida com o FMI e virar credor do Fundo, tinha se habilitado para ser credor dos ricos países europeus.

HÉLIO SCHWARTSMAN - Fraudes e gambiarras na saúde



Fraudes e gambiarras na saúde 
HÉLIO SCHWARTSMAN 
FOLHA DE SP - 15/09/11

SÃO PAULO - Se a Prefeitura de São Paulo executar a promessa de exigir que todos os médicos cumpram os plantões à risca, o sistema público de saúde entra em colapso.
Na barafunda que constitui a escala dos serviços municipais, é preciso distinguir entre as fraudes propriamente ditas, nas quais funcionários-fantasmas recebem sem trabalhar, e as gambiarras, que são as soluções informais encontradas pelos gestores para lidar com um sistema engessado e pouco funcional.
O problema está no fato de que o serviço público no Brasil é composto por diversas camadas geológicas de servidores, o que inviabiliza uma política salarial consistente.
Em parte, a culpa é dos políticos. Cada administrador que entra tenta criar uma marca eleitoral. Para isso, concebe um programa qualquer (AMAs, AMEs, PSF, Samu, UPAs, há vários alfabetos deles) e, a fim de fazê-lo funcionar direitinho, contrata a soldo generoso os médicos que nele trabalharão. Os demais salários, é claro, ficam como estavam. O resultado, que contraria os princípios mais elementares da administração, é que o poder público passa a concorrer consigo mesmo.
Em São Paulo, por exemplo, as AMAs pagam cerca de R$ 3.500 mensais por 12 horas semanais. Já um plantonista de UTI ou sala de emergência, função muito mais estratégica, recebe, pela tabela, mais ou menos o mesmo montante, mas para uma jornada de 24 horas.
Para atrair profissionais para esses postos-chave e manter os hospitais funcionando, gestores se valem de todo tipo de expedientes irregulares. Oferecem pagamento dobrado (recebe por 24, mas trabalha 12), plantões extras e outras medidas que resultam em escalas irreais.
Nessa balbúrdia, perde-se quase inteiramente o controle sobre quem trabalha ou não, e as fraudes se diluem nas incoerências do sistema. Ganham os fraudadores e os administradores que os patrocinam.

GOSTOSA


FERNANDO RODRIGUES - A 'primavera brasileira' não chega



A 'primavera brasileira' não chega 
FERNANDO RODRIGUES 
FOLHA DE SP - 15/10/11

BRASÍLIA - Foram ou não foram bem-sucedidos os atos genéricos contra a corrupção da última quarta-feira? Há duas formas de olhar o copo, como se sabe. Meio vazio ou meio cheio.
Do ponto de vista numérico, os microatos foram desprezíveis para efeito de pressão política. Aliás, as adesões encolheram.
Em Brasília, noticiou-se que até 25 mil pessoas teriam saído às ruas contra a corrupção no 7 de Setembro. Nesta semana, o número divulgado foi 20 mil.
Constatar esse raquitismo de manifestantes na rua não desmerece as marchas contra a corrupção. Trata-se apenas de uma informação necessária para evitar o autoengano, essa mania nacional. A realidade é que, tristemente, não há no Brasil, no momento, um caldo de cultura já pronto e desaguando em grandes protestos contra a roubalheira do dinheiro público.
Adicione-se a essa conjuntura a ineficiência, por ora, do uso das redes sociais e da internet na mobilização de grandes massas de brasileiros.
Registrada a parte vazia do copo, é justo mencionar o quase heroísmo dos que se esforçam para manter viva a possibilidade de uma "primavera brasileira".
Mas, enquanto não florescem as mil flores num país mais higienizado e justo, os líderes à frente dos atos públicos talvez devessem refletir sobre certos símbolos usados nas manifestações.
Combater a corrupção, às vezes, produz mais luz do que energia. O Brasil tem uma história funesta de presidentes eleitos para esse fim. Tornaram-se simulacros de retidão. Jânio Quadros usou uma vassoura, renunciou e pavimentou a vinda de 21 anos de ditadura militar. Fernando Collor queria caçar marajás. O resto é história.
Limpar o Brasil é bom. Mudar os defeitos estruturais da política que causam a corrupção é melhor ainda -mas mobilizaria menos gente.

RUY CASTRO - Pequenas farsas



 Pequenas farsas 
RUY CASTRO 
FOLHA DE SP - 15/10/11

RIO DE JANEIRO - Um pouco de arqueologia musical. Em 1964, no estúdio da Liberty Records, em Los Angeles, Gary Lewis, 19 anos, filho do ator Jerry Lewis, gravou uma canção, "This Diamond Ring", com um conjunto formado por seus colegas de escola, composto de guitarra, baixo elétrico, teclado e ele próprio, Gary, aos vocais e bateria.

Gravou é força de expressão. Os quatro eram aprendizes, e não muito aplicados. Mas o estúdio estava ali para isto. O tema e o arranjo foram fornecidos pelo produtor Snuff Garrett. Os rapazes gravaram vários takes completos, até que um desses, o décimo, pareceu quase tolerável. Então, ganharam cada qual um aperto de mão, um pirulito e passar bem, e foram mandados para casa. Dali o produtor chamou músicos de verdade e os botou para gravar tudo de novo, em cima do take original, dando-lhe esmalte profissional.

Em dezembro, o single maquiado de "This Diamond Ring", com Gary Lewis and The Playboys, chegou às lojas dos EUA. Três dias depois, eles foram ao programa de TV de Ed Sullivan, dublando, com os microfones desligados, o playback com os sons gerados pelos músicos do estúdio.

Veio janeiro de 1965, e "This Diamond Ring" chegou ao nº 1 na parada da "Billboard". Empolgada, em fevereiro, a Liberty botou Lewis para gravar novo disco. Desta vez, dispensaram a farsa do conjunto e ele já cantou sobre um playback definitivo. O esquema com Sullivan se repetiu, e "Count Me In" foi nº 2 na "Billboard". Gary Lewis and The Playboys tiveram uma carreira curta e falsa. Mas suficiente para entrarem nos anais.

Ouvi dizer que Justin Bieber, o garoto que provoca distúrbios hormonais nas pré-adolescentes, passou seus shows no Brasil dublando playbacks. Pelo visto, e como tantos, ele também é uma farsa. Mas que diferença faz isso para suas fãs? </

RUTH DE AQUINO - Vida pedestre



Vida pedestre
RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA

A morte sobe à calçada em carros potentes e desgovernados, dirigidos por irresponsáveis

RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
Rosany Calazans foi casada com Rudolf Lessak por duas décadas. Ela tem 49 anos e acorda tarde, às 9 horas. Ele tinha 80 anos, acordava às 6 horas da manhã, era faixa preta de judô, fazia trilha e natação, tinha 1,92 metro de altura e 90 quilos. Ele está no passado porque se foi abruptamente deste mundo quando caminhava na calçada com a mulher, no Itanhangá, perto do condomínio Floresta, um lugar muito verde no Rio de Janeiro, para onde o casal se mudara havia nove anos em busca de sossego.
Uma picape Nissan Frontier 4x4 subiu a calçada e capotou, arremessando Rudolf a quase 10 metros de distância. Ele morreu na hora. Seu corpo salvou sua mulher. Rosany caiu sem respirar direito, mas as dores físicas já passaram. A dor da alma é que não passa. O carro, quase um trator, de 2 toneladas, atingiu seu marido pelas costas, virou de lado e encalhou fumegante. A avenida é uma reta. A velocidade máxima permitida, 40 quilômetros por hora.
Juliana Vilela, de 26 anos, morena bonita de cabelos compridos, dirigia o Nissan Frontier de R$ 80 mil que pertence ao pai, militar da Marinha. Ela não tem carteira de habilitação. Eram 8h30 de uma manhã ensolarada no domingo passado, Juliana estava vestida com minissaia curta preta, blusa escura e salto alto. Saiu do carro sem ferimento. Telefonava freneticamente no celular, não para chamar os bombeiros ou a ambulância, mas para avisar mãe, irmão, amigos. Perguntou a testemunhas: “Morreu alguém?” Quando confirmaram, Juliana jogou o sapato no carro e saiu correndo descalça para o condomínio em que mora com os pais.
“Ela está fugindo”, Rosany escutou. E correu atrás da atropeladora. Juliana entrou no prédio e voltou ao local do acidente de figurino matinal: shortinho, camisa listrada e chinelo baixo. Só sete horas depois, na 32ª DP, da Taquara, Juliana se submeteu a “um exame clínico para constatação de embriaguez”. Não passa de um teste de reflexos e equilíbrio. Ela fez o “quatro”, abaixou, levantou. Deu negativo. É brincadeira. Só no Brasil. Não é preciso ser médico para saber que esse exame não prova nada após sete horas. Já para o delegado que preside o inquérito, Mauricio Mendonça, “depende do organismo de cada pessoa”. Ah, sim. Como anda mesmo a Lei Seca no Rio?
Perguntei ao delegado se a atropeladora fez exame de sangue para detectar álcool ou outras substâncias no organismo. “Não”, disse, “porque ela se recusou.” Usou um direito constitucional, mas, ao agir assim, reforçou a suspeita de que voltava de uma balada. Um ser humano de boas intenções que mata alguém por fatalidade até exigiria exame de sangue para provar que não estava alcoolizado ou drogado.
A morte sobe à calçada em carros potentes e desgovernados, dirigidos por irresponsáveis 
Primeiro, Juliana disse aos policiais que tinha cochilado ao volante. Mas, como era esquisito dormir dirigindo de manhã ao sair “para comprar pão” – como consta em seu depoimento oficial –, a versão escrita ficou mais sofisticada, atribuindo a culpa a um terceiro que ninguém conhece, ninguém viu. “Uma van fez uma manobra irresponsável e a fez perder o controle, subindo na calçada”, disse o delegado. “Mentira”, disse a viúva. Agora, o advogado de Juliana marcará data para novo depoimento.
Rosany ainda não tem advogado. Enquanto Juliana se preparava para escapar de seis anos de prisão por matar um pedestre, na calçada, sem direito de dirigir, Rosany cuidou de burocracia e luto. Enterrou o marido no cemitério junto ao sítio do casal, na serra de Nova Friburgo. Ele estava com seu quimono e a faixa. Eram os desejos dele, mas o de Rosany era que o marido chegasse aos 100 anos com saúde. “Era mais do que amor”, disse. Ela não tem filhos e não consegue mais nem pensar se deseja comer. Não acredita em justiça porque a família da atropeladora é poderosa no local, tanto que as testemunhas lhe disseram que adorariam depor, mas têm medo.
Tentei falar com Juliana. Atendeu sua mãe. “Ela não está.” Eu me identifiquei como jornalista. “Ela não vai falar.” Por quê? “Porque não. Vocês distorcem tudo.” Disse a ela que o telefonema estava sendo gravado. “Ótimo”, respondeu com arrogância, “adorei.”
Segundo o Denatran, que só registra mortos no local, atropelamentos matam 6.303 no Brasil por ano. Nos cálculos do Ministério da Saúde, o total sobe para 8.522, o que significa um atropelado morto por hora no país. Cada vez mais a morte sobe às calçadas em carros potentes e desgovernados, dirigidos por irresponsáveis. Em São Paulo, numa noite de sábado no mês passado, um motorista alcoolizado invadiu a calçada em frente ao Shopping Villa-Lobos e matou mãe e filha. Difícil chamar isso de “acidente”.
Juliana não tem medo. Nada vai acontecer com ela. Nem mesmo perder o que já não tinha, a carteira de habilitação.

PAULO SANT’ANA - O melhor humorista


O melhor humorista
 PAULO SANT’ANA
ZERO HORA -15/10/11

Morreu esta semana o cômico José Vasconcellos. Quero render daqui, frutos da minha saudade, as minhas homenagens póstumas a esse estupendo artista.

Ele pode não ter sido o primeiro, mas foi o mais marcante humorista stand up de nosso país. Foi o primeiro que enfrentou sozinho do palco a plateia inteira.

E as pessoas da plateia choravam de tanto rir. Nunca vi em toda a minha vida um cômico que tanto fizesse rir, mas não eram sorrisos que ele arrancava do público, eram gargalhadas sonoras, extensas, hedônicas, frenéticas, um êxtase de sucesso, algo jamais visto no cenário do teatro no Brasil.

Morreu, assim, o maior cômico brasileiro, dono de um humor fino que se amparava em seu vasto vocabulário gestual e numa voz que sintetizava toda a malícia do brasileiro.

Não há mais o que dizer, José Vasconcellos foi o maior entre tantos e todos.

São abusivas essas greves dos Correios e nos bancos. Não pode uma greve como a dos Correios paralisar um setor vital para o metabolismo social, prejudicando milhares de pessoas que, além da incomodação habitual de não entrega das correspondências, se veem a braços com multas por atraso de pagamento. E algumas pessoas até se veem sem solução para seus impasses, o que lhes acarreta danos irrecuperáveis.

Quanto à greve dos bancários, vi na televisão um homem preso por não pagar uma prestação da sua pensão alimentícia, brandindo em suas mãos o dinheiro do pagamento respectivo, que pela greve não teve como enviar o pagamento para sua ex-mulher. E foi preso por inadimplente de pensão alimentícia.

Começa que o autor da violência é o juiz que decretou tal prisão. Será que não viu que era a greve que impedia o pagamento?

E em segundo lugar há que regulamentar melhor essas greves irresponsáveis, que provocam danos terríveis à população, que fica à míngua de serviços essenciais.

Como é que pode? Como é que durante um mês inteiro um cidadão fica sem receber correspondência? No sistema atual, em que inúmeras despesas são cobradas via correio, significa a falência civil de uma pessoa.

Duas greves antipopulares, antipáticas e desordeiras.

Reflexões que sou obrigado a fazer, por dever de consciência, sobre a aposentadoria de servidores públicos, assunto que, se sai da pauta, continua pulsando como um nervo exposto.

Na iniciativa privada, quem paga a aposentadoria dos trabalhadores não é seu ex-empregador. Quem paga é o INSS.

E, no serviço público, quem paga a aposentadoria dos servidores é o empregador, isto é, os municípios, os Estados e a União.

Não é discrepante?

É bem verdade que na iniciativa privada, quando um empregado é demitido, recebe seu fundo de garantia. A contrapartida no serviço público é a estabilidade do servidor.

Mas é inequívoco que se torna necessária a criação de um fundo para a aposentadoria dos servidores públicos. O interessante é que governadores acenam para um fundo aqui no plano estadual. Mas, e no plano federal, por que nunca se fala nesse fundo? É que o tesouro federal é muito forte. Mas um dia explode.

Porque essa conta vai acabar estourando e provocando um caos social, como aliás está estourando em vários países da Europa e ameaçando a quebra de nações tradicionais que posavam de estáveis.

Este equívoco provoca a quebra de um país, gente!

MARTA SUPLICY - Ao mestre, com carinho


Ao mestre, com carinho
MARTA SUPLICY 
FOLHA DE SP - 15/10/11

Dizer que a afetividade permeia a aprendizagem é óbvio para qualquer pedagogo. Assim como sabemos que o outro é fundamental para a constituição do próprio sujeito e de suas formas de agir.
A construção do conhecimento ocorre a partir de intenso processo de interação entre as pessoas e o mundo social. O que é vivido e observado no nível social aos poucos é internalizado ou não. Vira conhecimento ou passa ao largo como chuva.
O que muitos estudiosos afirmam é que, além do indivíduo que quer conhecer e do objeto a ser apropriado, o elemento mediador é a peça-chave. Ele é que vai influir no aspecto cognitivo e dar o sentido afetivo e, portanto, a qualidade do que se está aprendendo.
Estamos na era Steve Jobs e parte do conhecimento, pelo menos para uma parcela da população (50% dos lares das regiões metropolitanas brasileiras já têm computador), é obtida pela internet.
Foram-se a lousa, o dicionário e as horas na biblioteca consultando livro atrás de livro para saber mais sobre um tema. A "biblioteca virtual" anda com você: é só acessar o Google ou a Wikipedia e pronto, está lá a informação. Ela vem variada, rica e fria.
A elaboração do que vem vai depender da capacidade do sujeito ou do aluno em "destrinchar" o tsunami recebido. A partir daí, serão muitos os fatores envolvidos, mas o principal continua o mesmo.
Para aprender a usar toda essa tecnologia, iniciar qualquer busca, não desistir, o fator principal continuará sendo o que o computador não oferece: a afetividade.
Não que os que não tiveram as benesses do amor familiar ou de professores dedicados e competentes não possam superar as barreiras e utilizar muito bem o computador. Podem, como atestam os milhares de pessoas que encontram na internet o seu paraíso: não precisam expor-se, ser amáveis, frustrar-se nem relacionar-se. Talvez nem aprender. Para a maioria, entretanto, este não é o sonho.
Existem pesquisas, muitas e antigas, mostrando quanto o medo, a frustração e a timidez desgastam e travam o aluno, enquanto a serenidade e a tranquilidade do professor (a) auxiliam na redução ou na eliminação desses sentimentos desagregadores.
Os bons mestres são observadores e intérpretes perspicazes dos dizeres e das atitudes de seus alunos e conseguem identificar e compreender as dificuldades que surgem na apropriação do conhecimento, sejam elas na relação interpessoal ou com a máquina.
Será dessa mediação, daquela palavra de estímulo na hora certa ou da caçoada, da humilhação ou da falta de paciência que dependerá o êxito da aprendizagem.
Esse mundo da tecnologia depende, e muito, do velho e eterno mestre.

JOSÉ SIMÃO - Felipão usa pinto como lanterna!


Felipão usa pinto como lanterna!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 15/10/11

Ele gritou pro fotógrafo da Folha: "Fotografa o meu pau!". Prefiro fotografar a careca, dá no mesmo!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E olha essa faixa: "Perdeu-se um cão da raça pitbull, pede-se a quem encontrar... MIL DESCULPAS". Rarará!
Por falar em pitbull, e o Felipão? Aquele gentleman! Sabe o que ele gritou, todo irritado, pro fotógrafo da Folha durante o desembarque do Palmeiras? "Fotografa o meu pau!" Prefiro fotografar a careca, dá no mesmo! E ainda botava a legenda embaixo: "Cara de Pau"!
Aliás, sabe o que o fotógrafo deveria ter respondido? Tô sem lente de aumento! Rarará! E, devido à posição do Palmeiras, ele podia usar o pinto como lanterna. Rarará! O Felipau do Paumeiras! É da Turma da Maizena, só engrossa!
Bem, ele era fã do Pinochet, não precisa dizer mais nada. O Felipanta é um pouco mais estressado do que o Gaddafi. Pendura uma placa no pescoço dele: "Cuidado! Técnico antissocial". Rarará!
Adoro as manchetes pra 2030 do site Kibeloco. Três manchetes! Novembro de 2030: 1) "Secretária-geral da ONU, Dilma Rousseff entrega Estado Palestino pro PMDB"; 2) "Filho de Luis Fabiano segue passos do pai e ficará nove meses sem jogar"; 3) "Ex-jogador Adriano abre escolinha de chope em metro". Rarará!
E como se chama aquele pacote de Baconzitos com rato? Ratozitos! E um tuiteiro me mandou esta: "Neojanistas cansados convidam Harry Potter para a Marcha das Vassouras contra a Corrupção". E a situação dos Estados Unidos: "Antes nós tínhamos Steve Jobs, Bob Hope e Johnny Cash. Agora estamos sem jobs, sem hope e sem cash".
E sabe como chama o presidente da Comissão Europeia que apresentou um plano pra salvar os bancos? José Manuel DURÃO! Os europeus não têm juízo. Colocaram um durão português pra salvar os bancos!
E esta placa de supermercado: "Colchão inflávio". Coitado do Flávio! E essa numa moto em Morrinhos: "VEMDE!". E essa outra: "Deus é fieu". E num bar em Natal: "ÇAIDA DI EMERGENÇA".
Eu tenho uma teoria: brasileiro escreve tudo errado, mas todo mundo se entende. Ou como disse Gabriel García Márquez: temos de aposentar a ortografia, terror do ser humano desde o berço!
E essa: "Cabeleleira"! A palavra mais difícil da língua portuguesa depois de salsicha. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

KÁTIA ABREU - Um princípio do capitalismo


Um princípio do capitalismo
KÁTIA ABREU
FOLHA DE SP - 15/10/11

Na hora do lucro do banco, vale o mercado; na hora dos maus negócios, vale a socialização dos prejuízos

Capitalismo implica que os cidadãos e as empresas se responsabilizem por suas ações. Lucros e prejuízos são igualmente assumidos por aqueles que realizam seus empreendimentos, fazendo determinadas escolhas.

Acontece que estamos, atualmente, vivenciando determinadas práticas capitalistas que se voltam contra o espírito do próprio capitalismo. O mercado financeiro tem sido uma amostra disso, com supostas alegações de que bancos não podem quebrar, apesar de maus negócios feitos, e, inclusive, altos executivos ganhando vultosos salários e dividendos. Na hora do lucro do banco, vale o mercado; na hora dos maus negócios, vale a socialização dos prejuízos.

Ressaltemos, nesse contexto, um exemplo nacional. Os bancos brasileiros, para justificarem o alto "spread" cobrado dos tomadores de empréstimos -que faz do Brasil, sétimo PIB do mundo, o segundo colocado em taxa de juros, só perdendo para Madagascar (129º PIB)-, usam do argumento de que seu valor elevado se deve aos inadimplentes.

Ou seja, os que não pagam aos bancos, por uma razão ou outra, têm, de certa forma, o cálculo dos seus débitos transferidos para os que pagam, os adimplentes.

A situação é propriamente escandalosa, pois o banco se desresponsabiliza de um empréstimo malfeito e transfere essa responsabilidade para os que pagaram.

Se os bancos fizeram um mau negócio, deveriam se responsabilizar pelo prejuízo, não aumentando o juro dos que pagaram regularmente as suas contas.

Em vez disso, o que acontece? Graças aos "spreads" cobrados, os bancos mantêm ou aumentam os seus lucros, pagando bônus régios aos seus dirigentes e acionistas. Há aqui um princípio de irresponsabilidade que causa dano aos próprios princípios do capitalismo.

Na verdade, o argumento utilizado para justificar os "spreads" é um argumento não capitalista, à medida que o capitalismo está assentado na liberdade de escolha e na responsabilização das ações, seja no âmbito individual, seja no âmbito empresarial.

É fato que o baixo volume de crédito disponível empurra para cima o "spread". Mas, para tornar o cenário ainda mais grave, esse reduzido volume é concentrado em poucas operações de grande porte -como fez o BNDES no governo passado. Tudo, sempre, direcionado para diminuir o risco das instituições bancárias na concessão de empréstimos.

Não surpreende, nesse sentido, que a imagem dos bancos seja tão ruim perante a opinião pública. Termina reforçando os preconceitos contra o capitalismo e contra os lucros como apropriação indevida.

No caso em questão, trata-se, de fato, de uma apropriação indevida, e, para além dela, de um sério dano causado por empresas capitalistas ao próprio espírito do capitalismo. Capitalismo sem risco não é capitalismo propriamente dito.

Do ponto de vista moral, cria-se, dessa maneira, uma casta de irresponsáveis, que não pagam do próprio bolso os prejuízos que sofrem.

Se os bancos têm grande número de inadimplentes, o problema é deles -e não dos que assumem suas responsabilidades.

Façamos uma analogia para tornar o argumento ainda mais claro. O que acontece com um empresário, micro ou grande, que possui clientes inadimplentes? Ele deve arcar com o prejuízo, podendo, mesmo, ir à falência. Ele não pode transferir seu prejuízo aos seus clientes que pagam as contas em dia.

Os produtores rurais também enfrentam o constante descasamento de preços de venda e custos de produção, sem nenhum tipo de seguro. Ou seja, o empresário, qualquer que seja o seu porte, urbano ou rural, arca com os riscos da sua atividade.

O mais surpreendente é que os governos não só aceitam os argumentos dos banqueiros e de seus executivos como ainda tomam decisões transferindo recursos dos contribuintes para salvar esses mesmos bancos cujos créditos podres ameaçam sua existência.

Os governantes, em nome do "bem público", extorquem do distinto público recursos que não lhes pertencem: os recursos dos contribuintes.

MÔNICA BERGAMO - RAPUNZEL PAULISTA


RAPUNZEL PAULISTA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 15/10/11

Os cabeleireiros superaram as lojas de roupas e acessórios em SP na categoria dos pequenos negócios, de empreendedores individuais. Já são 35 mil salões de beleza que faturam até R$ 36 mil no ano e possuem um funcionário apenas, segundo o Sebrae. Os paulistas representam um quarto do setor nacional. No resto do país, o comércio de roupas lidera o ranking.

RAPUNZEL 2
O Brasil tem 131 mil cabeleireiros empreendedores individuais -um aumento de 227% nos últimos 12 meses. Para o Sebrae, o baixo custo do negócio, que requer poucos instrumentos, explica o crescimento. Muitos profissionais trabalham em casa.

VOLANTE
Nelson Barbosa, ministro interino da Fazenda, demitiu ontem um motorista da pasta "por revelar segredo do qual se apropriou em razão do cargo e por valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função pública", diz o "Diário Oficial". Recomendou também que ele não volte ao serviço público.

VOLANTE 2
Até a manhã de ontem o caso estava envolto em mistério: a assessoria do ministério não sabia detalhar os motivos da demissão. Pediu tempo para ter informações precisas sobre o episódio.

IMAGEM, SOM E VOLUME
O público do MIS (Museu da Imagem e do Som) de SP quadruplicou. Setembro registrou 8.000 visitas, ante 2.000 em maio.

BOM CONSELHO
Eric Clapton disse a Gary Clark Jr. que o convidou para abrir seus shows no Brasil porque ele parecia "confortável" com sua música, "sem pensar tanto sobre ela. Se o Eric Clapton fala que sou ok, já é muito", diz Clark.

ESPELHO MEU

Luiza Lemmertz e Cassio Scapin estrelam a peça "O Libertino", que estreou anteontem no Cultura Artística. As veteranas Julia Lemmertz, mãe da atriz, e Irene Ravache conferiram o espetáculo, dirigido por Jô Soares.

Fotos Marcos Michael/Folhapress

Alessandra Negrini e Karim Aïnouz

ESTREIA DO ABISMO

O ator Willem Dafoe e a cantora Elba Ramalho foram à pré-estreia do filme "Abismo Prateado", no Festival do Rio. Alessandra Negrini, protagonista do longa, circulou com o diretor, Karim Aïnouz.

PARLA, RODRIGO
O ator Rodrigo Santoro receberá na segunda, ao lado de mais sete personalidades, o Prêmio Itália, em jantar de gala na Faap. A condecoração é concedida pela Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio, Indústria e Agricultura a quem contribuiu com a imagem da Itália fora do país.

ASAS
A Aeronáutica comemora o Mês da Asa amanhã com show gratuito do Chitãozinho e Xororó, às 17h, no Campo de Marte, em SP. A Esquadrilha da Fumaça da FAB (Forças Aéreas Brasileiras) vai fazer uma demonstração às 16h. As programações começam às 9h.

LETRAS
Lygia Bojunga deve receber das mãos da presidente Dilma Rousseff a comenda Ordem do Mérito Cultural no Recife, dia 9 de novembro. A Biblioteca Nacional indicou a escritora devido a sua importância na formação de leitores no país e na internacionalização do livro brasileiro.

GAROTO-ENXAQUECA
Será no dia 16 de dezembro o show que o inglês Pete Doherty fará em SP. Ex-namorado de Kate Moss, famoso pelos problemas com drogas e algumas prisões, ele se apresentará no Cine Joia, balada que abre em novembro, em festa da agência Nova.

CURTO-CIRCUITO

O Hospital Israelita Albert Einstein comemora 40 anos com festa hoje, às 19h, no auditório Moise Safra, em sua unidade no Morumbi.

A exposição "DNA Italiano no Brasil" será inaugurada amanhã, às 11h, no Cine Livraria Cultura, no Conjunto Nacional.

Ferreira Gullar lança o livro "Em Alguma Parte Alguma" na terça, às 18h, na Casa do Saber do Itaim.

O 32º Panorama da Arte Brasileira começa hoje, às 18h30, no MAM-SP.

O médico Joel Schmillewitch fala sobre a o exame elastografia na terça, no Dinho's

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

MERVAL PEREIRA - Rio digital


Rio digital
 MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 15/10/11

Depois de 49 edições do OsteRio, reunião para debater as principais questões do desenvolvimento do estado do Rio, que se realizou durante esse período, às noites de segunda-feira, no restaurante Osteria Dell"Angolo, em Ipanema, a exemplo de experiências similares acontecidas em algumas cidades da Itália, seus organizadores consideraram que chegou o momento de dar um passo à frente, oferecendo condições ao cidadão comum de reivindicar medidas concretas aproveitando as novas mídias sociais.
Como explica o economista André Urani, presidente do IETS e coordenador do OsteRio, a sociedade civil organizada já consegue influenciar os processos de decisão, "mas o cidadão comum, as minorias e os grupos mais vulneráveis não encontram um caminho de diálogo com o poder público", gerando frustração, especialmente nos jovens, e contribuindo para o afastamento entre Estado e cidadão.
Quem levou a solução para essa interação foi um grupo de jovens coordenado por Miguel Correa do Lago, que acredita que uma maior participação dos cariocas nas questões de políticas públicas é essencial para aproveitar "esse momento único" que o Rio vive, "enfrentando desafios históricos, recebendo um grande volume de investimentos, e tentando construir uma cidade melhor".
O movimento chamado Meu Rio quer aproveitar as novas tecnologias da comunicação e da informação para dar a esse público "um veículo de expressão e agregação de suas demandas individuais".
O Meu Rio, que Miguel preside, está desenvolvendo tecnologia de ponta e uma estratégia inovadora "para dar à população novos canais de participação política e engajamento cívico".
Miguel Lago explica que uma plataforma própria e customizada permitirá a cada carioca encontrar outros cariocas apaixonados pelo Rio; obter informação de qualidade sobre a cidade; apontar problemas e desenvolver soluções para um Rio mais justo, democrático e gostoso de viver; exigir transparência, competência e equidade de nossos governantes.
Se tivermos sucesso, sonha Lago, "o Rio se tornará a primeira cidade no mundo a unir digitalmente seus cidadãos, modificar a relação entre a população, o setor público e empresas privadas, e utilizar tecnologia para transformar o processo democrático".
A primeira grande reivindicação é uma campanha por transparência nas obras do Maracanã, cujas reformas já gastaram, em dois momentos - 1999 a 2000 e 2005 a 2007 -, "acumuladamente e em valores atualizados", mais de meio bilhão de reais.
O movimento Meu Rio lembra que a justificativa da reforma para o Pan foi de que o estádio estaria adequado às normas da Fifa e pronto para a Copa de 2014.
Desde 2010, o Maracanã passa por uma terceira reforma em um espaço de 10 anos, e o valor da obra atual começou em R$705 milhões e já chegou a ser estipulado em R$1,1 bilhão, estando no momento orçada em cerca de R$800 bilhões.
O valor equivalente a quase cinco "Engenhões" pode ser o preço acumulado das obras do Maracanã. As perguntas que estão lançadas pelo movimento pedem a opinião do cidadão comum: será que essa reforma é valida? Será que vamos gostar desse novo Maracanã? Será que o carioca quer gastar isso tanto de dinheiro público na reforma de um estádio?
Como ainda não temos a nossa lei de acesso a documentos públicos, a população desconhece os documentos sobre a reforma, desde o projeto básico à planilha de custos.
O movimento Meu Rio (www.meurio.org.br) vai testar a capacidade de mobilização de suas ferramentas digitais lançando uma petição por maior transparência, a ser encaminhada ao governador do Rio e ao prefeito da cidade exigindo a publicação da lista de documentos e a explicação da reforma passo a passo numa linguagem acessível a todos.
Esta será a primeira de uma série de mobilizações, que podem incluir até mesmo projetos de lei de origem popular sobre questões específicas do estado.
O site e-Democracia, da Câmara dos Deputados, está construindo o primeiro código interativo do Brasil que, segundo o deputado Sérgio Barradas Carneiro, relator do novo Código de Processo Civil, só tem paralelo na Islândia.
O site e-Democracia foi classificado em estudo da consultoria Macroplan como um dos destaques de informação digital na categoria interatividade e participação, ao lado do inglês N 10 e-Petitions e do TID+, da Estônia.
O site brasileiro é um espaço virtual criado para estimular cidadãos a contribuir para o processo legislativo federal por meio do conhecimento de ideias e experiências.
Entre outras coisas, o e-Democracia permite aos usuários apresentar normas legislativas, construídas de forma colaborativa para subsidiar o trabalho dos deputados na elaboração de leis.
Agora podem publicar sugestões e comentários em cada um dos artigos do texto do novo Código de Processo Civil, acompanhar reuniões ao vivo e participar de bate-papos com deputados sobre o assunto por meio de uma comunidade virtual.
Jorge Maranhão, da Voz do Cidadão, chama a atenção para o fato de que a proposta da reforma política dos movimentos e organizações sociais é bastante diferente da dos parlamentares.
No site http://www.reformapolitica.org.br estão relacionados os itens da democracia participativa e direta, e a regulamentação do plebiscito e do referendo sobre reforma política.