A 'primavera brasileira' não chega
FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 15/10/11
BRASÍLIA - Foram ou não foram bem-sucedidos os atos genéricos contra a corrupção da última quarta-feira? Há duas formas de olhar o copo, como se sabe. Meio vazio ou meio cheio.
Do ponto de vista numérico, os microatos foram desprezíveis para efeito de pressão política. Aliás, as adesões encolheram.
Em Brasília, noticiou-se que até 25 mil pessoas teriam saído às ruas contra a corrupção no 7 de Setembro. Nesta semana, o número divulgado foi 20 mil.
Constatar esse raquitismo de manifestantes na rua não desmerece as marchas contra a corrupção. Trata-se apenas de uma informação necessária para evitar o autoengano, essa mania nacional. A realidade é que, tristemente, não há no Brasil, no momento, um caldo de cultura já pronto e desaguando em grandes protestos contra a roubalheira do dinheiro público.
Adicione-se a essa conjuntura a ineficiência, por ora, do uso das redes sociais e da internet na mobilização de grandes massas de brasileiros.
Registrada a parte vazia do copo, é justo mencionar o quase heroísmo dos que se esforçam para manter viva a possibilidade de uma "primavera brasileira".
Mas, enquanto não florescem as mil flores num país mais higienizado e justo, os líderes à frente dos atos públicos talvez devessem refletir sobre certos símbolos usados nas manifestações.
Combater a corrupção, às vezes, produz mais luz do que energia. O Brasil tem uma história funesta de presidentes eleitos para esse fim. Tornaram-se simulacros de retidão. Jânio Quadros usou uma vassoura, renunciou e pavimentou a vinda de 21 anos de ditadura militar. Fernando Collor queria caçar marajás. O resto é história.
Limpar o Brasil é bom. Mudar os defeitos estruturais da política que causam a corrupção é melhor ainda -mas mobilizaria menos gente.
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