Pequenas farsas
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 15/10/11
RIO DE JANEIRO - Um pouco de arqueologia musical. Em 1964, no estúdio da Liberty Records, em Los Angeles, Gary Lewis, 19 anos, filho do ator Jerry Lewis, gravou uma canção, "This Diamond Ring", com um conjunto formado por seus colegas de escola, composto de guitarra, baixo elétrico, teclado e ele próprio, Gary, aos vocais e bateria.
Gravou é força de expressão. Os quatro eram aprendizes, e não muito aplicados. Mas o estúdio estava ali para isto. O tema e o arranjo foram fornecidos pelo produtor Snuff Garrett. Os rapazes gravaram vários takes completos, até que um desses, o décimo, pareceu quase tolerável. Então, ganharam cada qual um aperto de mão, um pirulito e passar bem, e foram mandados para casa. Dali o produtor chamou músicos de verdade e os botou para gravar tudo de novo, em cima do take original, dando-lhe esmalte profissional.
Em dezembro, o single maquiado de "This Diamond Ring", com Gary Lewis and The Playboys, chegou às lojas dos EUA. Três dias depois, eles foram ao programa de TV de Ed Sullivan, dublando, com os microfones desligados, o playback com os sons gerados pelos músicos do estúdio.
Veio janeiro de 1965, e "This Diamond Ring" chegou ao nº 1 na parada da "Billboard". Empolgada, em fevereiro, a Liberty botou Lewis para gravar novo disco. Desta vez, dispensaram a farsa do conjunto e ele já cantou sobre um playback definitivo. O esquema com Sullivan se repetiu, e "Count Me In" foi nº 2 na "Billboard". Gary Lewis and The Playboys tiveram uma carreira curta e falsa. Mas suficiente para entrarem nos anais.
Ouvi dizer que Justin Bieber, o garoto que provoca distúrbios hormonais nas pré-adolescentes, passou seus shows no Brasil dublando playbacks. Pelo visto, e como tantos, ele também é uma farsa. Mas que diferença faz isso para suas fãs? </
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