segunda-feira, janeiro 20, 2014

Uma nova ideia para desenvolver o Nordeste - MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA


Apareceu uma nova ideia para desenvolver o Nordeste. Tem a educação como base e difere radicalmente de políticas anteriores. As primeiras ações em favor da região visavam ao abastecimento de água. O horror da Grande Seca (1877-1879). com seu rastro de fome e morte, levou dom Pedro II a aprovar a construção do Açude do Cedro, no Ceará, iniciada em 1890 e concluída em 1906 (como se vê, atrasos na execução de obras públicas não são dos dias atuais). É dessa época a ideia de transpor águas do Rio São Francisco para a região semiárida. Em 1909, surgiu a Inspetoria de Obras contra as Secas (Ifocs), que mais tarde viraria departamento — Dnocs.

A construção de açudes — agora também destinados à irrigação — seria a principal estratégia de ação do governo na área das secas. Foi a chamada "fase hidráulica", que viria a ser mantida e ampliada com a Revolução de 1930. Muitos desses açudes, entretanto, viraram "cemitérios d"água". Nos anos 1950, a área irrigada do Nordeste correspondia a menos de 10% da implantada no Oeste dos Estados Unidos.

Uma nova grande seca (1958) contribuiria para mudar rumos. A Sudene foi criada em 1959 como reação ao desemprego no campo, ao êxodo rural e à "indústria da seca" (corrupção no uso dos recursos para atendimento às populações atingidas pela estiagem). Além disso, percebera-se que a industrialização aumentava o fosso entre o Nordeste e o Centro-Sul. Cabia, pois, ampliar o parque industrial nordestino. O autor do diagnóstico, impregnado de visões intervencionistas da Cepal sobre industrialização, foi Celso Furtado, que viria a ser o primeiro superintendente da Sudene.

Os instrumentos de ação da autarquia eram os incentivos fiscais e o crédito subsidiado dos bancos federais. Mais tarde, os governos estaduais da região passaram a competir uns com os outros para atrair indústrias mediante incentivos fiscais do ICMS. Instaurou-se a "guerra fiscal", que se espalharia país afora, gerando distorções e piorando o sistema tributário. Passados mais de cinquenta anos, o resultado não deixa de ser decepcionante. O Nordeste progrediu, é verdade, mas comparativamente não saiu do lugar. Como o resto do país também cresceu, a região representa hoje 13,5% do PIB, praticamente a mesma proporção de 1958 (13%).

Estudos e experiências recentes têm questionado a estratégia de desenvolvimento regional adotada no Nordeste. Nos tempos da criação da Sudene, dizia-se que a educação seria efeito e não causa do desenvolvimento. Hoje se fala o contrário. O baixo investimento em educação — e não a insuficiência de investimento produtivo (a tese de Furtado) — explicaria o atraso de regiões do país.

O principal defensor da nova tese é o economista pernambucano Alexandre Rands Barros, professor da Universidade Federal de Pernambuco. Suas pesquisas mostram uma conclusão surpreendente. Para ele, se o Nordeste tivesse o padrão educacional do Sudeste e do Sul, as desigualdades regionais desapareceriam. Ou seja, diz ele, "a educação é o único determinante do atraso relativo da região".

Barros escreveu um dos capítulos do livro organizado por Fabio Giambiagi e Cláudio Porto (Propostas para o Governo 2015/2018, 2013). Ele propõe uma nova política de desenvolvimento regional que buscaria reduzir as desigualdades em educação, tanto a qualidade quanto a quantidade disponível. Inversões em infraestrutura permitiriam o florescimento de novos empreendimentos, que teriam perfil adequado para absorver mão de obra mais qualificada. Evitar-se-iam, assim, sua migração para outras regiões e a redução do efeito das novas políticas. Professores teriam bonificação por desempenho de seus alunos e os melhores estudantes receberiam bolsas de estudo. A Sudene se converteria em órgão de apoio gerencial, geração de informações e outras funções associadas à nova estratégia.

O espaço não permite registrar todas as ideias de Barros. Elas são uma grande novidade. Merecem a atenção do governo, das lideranças políticas e empresariais, e dos que se preocupam com o desenvolvimento do Nordeste. Uma coisa é certa. O Brasil será tão mais justo e próspero quanto menores forem as desigualdades regionais.

Por uns pelos a mais - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA

Se tudo correr conforme o esperado, frutificarão na cabeça do senador Renan Calheiros ao longo da sessão legislativa que se abre no próximo mês os 10 118 fios de cabelo que lhe foram transplantados da nuca para o cocoruto, em cirurgia realizada em dezembro no Recife. Projeta-se em três meses o prazo para que irrompam, desassombrados como brotos a forçar passagem no solo, os primeiros fios. Isso ocorrerá lá para meados de março. No segundo semestre já terão crescido o suficiente para fazerem diferença. Ganhará o senador no cobiçado reforço à cobertura capilar. Perderá o Senado. Ao vir a público que Calheiros viajou num avião da FAB para fazer o transplante, enfatizou-se, com justiça, o escândalo que foi ter usado transporte oficial para uma atividade privada. Esqueceu-se desse outro escândalo que é um senador da República submeter-se a transplante de cabelos. Renan comandará o Senado neste ano mais cabeludo, mais satisfeito com a imagem que vê no espelho e tomado de renovado prazer ao deslizar o pente sobre o couro cabeludo — mas também mais falso e incondizente com o que se espera de um senador.

O mundo se divide entre homens que podem e não podem fazer transplante de cabelo. Cantores e atores podem. Para alguns, é questão de sobrevivência profissional. Políticos não podem, assim como não podem pintar os cabelos. Isso devia estar na Constituição. Como não está, eis mais um item a ser incluído no rol da sonhada reforma política. Duas subcategorias podem menos ainda do que o comum dos políticos. A primeira é a dos que gostam de se dar ares de revolucionários. José Dirceu, por exemplo. Ao se apresentar para a prisão, ele fez o gesto de desafio comunista do braço levantado e do punho fechado. Meses antes, havia se submetido a um transplante de cabelos, por sinal com o mesmo doutor Fernando Basto que atendeu Renan e é o preferido dos políticos. Difícil imaginar Che Guevara marcando hora com o doutor Basto, ao descer da Sierra Maestra.

A outra categoria é a dos senadores. Transplantar ou pintar cabelos é algo que se tomou epidêmico entre os políticos brasileiros. Alguns transplantam e, ainda por cima, pintam. Se tal prática já é preocupante em deputados, ministros ou governadores, mais ainda se toma entre senadores. O Senado, por definição, é o local dos mais velhos, e, por isso mesmo, dos que se supõem mais experientes e mais sábios, entre os encarregados de zelar pela pátria. A palavra tem a mesma raiz de senhor, de senhorial, de senhoril, de sênior, e todas remetem à austeridade, à prudência e à sensatez identificadas com o passar dos anos. Ora, pintar ou implantar cabelos é, antes e acima de tudo, um ardil destinado a falsear a idade. É portanto tentar dar um drible na senhoria, na senioridade e na senhorilidade em que repousa a própria ideia de Senado. Senador que pinta ou transplanta o cabelo fere o princípio fundador da instituição a que pertence. Com isso, entra em conflito com ela, apequena-a e desmoraliza-a.

Na conhecida crônica "O velho Senado", Machado de Assis recorda os senadores que conheceu como jovem repórter, em 1860: "Uns, como Nabuco e Zacarias, traziam a barba toda feita; outros deixavam pequenas suíças, como Abrantes e Paranhos, ou, como Olinda e Eusébio, a barba em forma de colar; raros usavam bigodes, como Caxias e Montezuma". Não há sinal de pelos falsificados em nenhum dos velhos políticos que desfilam pela memória de nosso grande romancista. O marquês de Itanhaém ele lembra que usava cabeleira, mas isso naquele tempo, em vez de trair a tentativa de parecer mais jovem, tinha o efeito contrário. Itanhaém usava cabeleira porque, sendo o mais velho da casa, ainda cultivava um hábito do começo do século.

Visto de hoje, o Senado de 1860 tinha muitos defeitos, a começar por se constituir num reduto de senhores de escravos, legislando num país escravista. Mas era integrado por cavalheiros que assumiam o caráter sênior, senhoril e senhorial inerente ao cargo. Outro grande escritor brasileiro, Mário de Andrade, calvo notório e precoce, já aos 30 anos, escrevia: "Muito de indústria me fiz careca / Dei um salão aos meus pensamentos". Que ninguém se sinta ofendido, afinal há transplantados e transplantados, mas pela lógica do poeta, ao qual adere o colunista com o entusiasmo de irmão em cocoruto abandonado à própria sorte, Renan Calheiros fez o contrário: estreitou os cubículos pelos quais vagueiam seus pensamentos.

Dois pesos e duas medidas - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 20/01

Por qual razão seria incorreto fazer piadas sobre negros e gays, mas não sobre o cristianismo?


Não sou religioso, só frequento templos vazios. Tampouco considero o ateísmo prova de maior inteligência ou coragem intelectual. Dias atrás, nesta coluna, ataquei as dimensões picaretas das religiões.

Por que digo isso? Porque hoje em dia, em épocas de exigências de pureza ideológica (no mundo da cultura vivemos um fascismo descarado dos bonzinhos, baseado em difamação de quem não frequenta as ideias que eles frequentam), se faz necessário apresentar algumas "credenciais" quando se vai tratar de um assunto delicado que pode ofender a sensibilidade totalitária dos bonzinhos. Quando ofendidos, os bonzinhos passam à gritaria, principalmente nessa masmorra escura que são as redes sociais.

Apesar de não ser religioso, conheço o suficiente de algumas religiões para saber que muitas delas carregam um saber de valor inestimável, fato este que escapa a muitos dos críticos banais das religiões. Você identifica um ignorante quando ele diz que a Bíblia é um livro opressor.

Dito isso, vamos ao que interessa. Há alguns anos, um cartunista dinamarquês passou por poucas e boas quando fez piadas com Maomé. Lembro-me de muitos dos bonzinhos defenderem o direito dos muçulmanos de se ofenderem com a piada e jogarem a atitude do cartunista no saco indiferenciado do preconceito ocidental contra o Islã.

Fico feliz que no Brasil ainda se possa fazer humor com as religiões e que quem faz piada com Jesus (que acho um cabra-macho, mas não acho que seja Deus) possa fazê-lo, ganhar dinheiro com isso e não ser ameaçado de morte. Ou, quem sabe, perder o emprego. Pedir a cabeça de alguém é um pedido comum dos bonzinhos quando leem algo com que não concordam.

Acho que o humor deve ser livre porque ele é uma das dimensões por meio das quais o espírito humano sobrevive, se alimenta e reflete sobre sua condição. Não partilho da ideia de que o humor seja uma forma menor de cultura. Por isso, discordo da tentativa de qualquer grupo, religioso ou não, de querer barrar ou processar quem quer que seja por ter feito piada do que for.

Mas me pergunto uma coisa: por que alguns acham politicamente incorreto fazer piadas com negros, índios, gays e nordestinos (e julgam justificados processos legais contra quem faz tal tipo de piada), mas julgam correto fazer piada com os ícones do cristianismo?

Claro, quem pratica esse tipo de critério, com dois pesos e duas medidas, é gente boazinha e com opiniões corretas. Defendem a própria liberdade, mas negam imediatamente a liberdade de quem os aborrece. O nome disso é incoerência. A democracia só vale para quem nos irrita, mas os bonzinhos não pensam assim.

Não me surpreende a incoerência dos bonzinhos, porque o que faz alguém ser bonzinho hoje é a falta de caráter. Ser do "partido dos bonzinhos" hoje dá dinheiro, ganha editais, cargos no governo, fotos em colunas sociais, convites e prêmios culturais. Identificar um bonzinho hoje em dia como resistente ao poder é uma piada e tanto! Eles estão no poder até no RH das empresas e na magistratura.

Os cristãos têm todo o direito de ficar bravos com as piadas com Jesus (que aliás, costumam ser ótimas). Mas, acho "engraçado" (já que estamos falando de humor) alguém não perceber que vivemos num mundo em que tirar sarro de cristão pode, mas de outros grupos não. Por quê?

Fácil: porque ninguém precisa ter "cojones" para tirar sarro de cristão. No mundo da cultura, falar mal de religião (menos da indígena, afro e budista) é bater em bêbado na ladeira.

Proposta: que tal tirar sarro das pautas dos bonzinhos? Tipo fazer piada com as "jornadas de junho". Ou da moçadinha que quer salvar o Ártico. Ou de gente que vive falando mal da polícia, mas treme de medo e chama a polícia logo que sente sua propriedade privada em risco. Ou do movimento estudantil. Ou de intelectual que glamoriza os "rolezinhos". Ou das feministas. Ou de ateus militantes. Ou do exército da salvação PSOL e PSTU. Ou de quem diz que bandidos são vítimas sociais.

É isso aí: que tal fazer piadas com os preconceitos dos bonzinhos? Missão impossível?

A judicialização da saúde - LIGIA BAHIA

O GLOBO - 20/01

A Justiça tornou-se uma das vias, quase naturais, para resolver problemas de acesso a medicamentos, próteses e vagas para internação no SUS e hospitais privados. As demandas judiciais são dirigidas a dois endereços: empresas de planos de saúde e SUS. As tutelas aos planos privados de saúde não são inesperadas e têm sido interpretadas como estratégia de defesa de usuários contra a mesquinharia das empresas que os comercializam. Mas a aceitação e a legitimação da intervenção dos magistrados em assuntos do SUS tiveram um trajeto acidentado e ainda suscitam tensões. A ingerência direta e frequente de instituições e pessoas situadas fora das linhas de comandos habituais dos serviços de saúde perturba rotinas de trabalho, baseadas no atendimento similar a todos que se encontrem na mesma situação, e não pela prioridade imposta de fora. Por outro lado, defender a Constituição não é uma provocação e as ações judiciais para garantir o direito à saúde não passaram para a história como rolezinhos de juízes imaturos.

Nos últimos anos, as razões do Poder Judiciário e as das instituições que administram o SUS sobre as garantias assistenciais foram expostas e debatidas. Os aspectos mais polêmicos dos processos judiciais eram as imposições ao SUS para pagar medicamentos muito caros, off-label, eficácia questionável para doenças crônicas como cânceres, hepatites, diabetes e tratamentos onerosos ou controvertidos para casos situados nas fronteiras dos problemas estéticos, reprodutivos e sexuais. Ambos os lados se mexeram um pouco: o Judiciário organizou fóruns judiciais com especialistas da saúde pública para orientar as decisões dos magistrados, e o Ministério da Saúde formulou e aprovou uma legislação que procura ordenar mais efetivamente a incorporação de tecnologias no SUS. Esse ponto de acomodação responde às controvérsias sobre o Poder Judiciário ser visto como uma porta de entrada inadequada para a disseminação de tecnologias não testadas devidamente ou cujas indicações específicas não tenham sido observadas por quem as prescreveu.

Contudo, a corrida aos juízes para solicitar uma vaga em UTI, marcar cirurgias ou para conseguir determinado medicamento básico não diminuiu. O drama cotidiano de todas as instituições envolvidas com a saúde pública e com parte da privada no Brasil é o de tentar evitar a morte de uma pessoa e prejudicar tantas outras que também aguardam por cuidados emergenciais.

Para tentar proteger seus pacientes, os profissionais saúde passaram a sugerir a busca da Justiça. Enquanto as vias administrativas são lentas e a burocracia da saúde costuma mostrar-se insensível às necessidades individuais imediatas, o atendimento nos plantões judiciários é célere. Ainda assim, as ações judiciais direcionadas à ponta dos serviços também não conseguem romper determinadas barreiras assistenciais estruturais. A garantia de ações essenciais à manutenção da vida requer suficiência e boa gestão de recursos físicos, humanos e financeiros que não estão disponíveis. A elevação da carga tributária não redundou no incremento de investimentos na saúde pública. O orçamento estimado para o SUS em 2013 restringe os gastos por habitante a R$ 2,5 por dia. Pagar mais impostos e ter serviços públicos de má qualidade estabelece um circuito perverso que desqualifica os fundamentos de justiça e democracia.

A judicialização da saúde veio para ficar. Poderá consolidar-se apenas como um estuário para as insatisfações, aprimorando os critérios técnicos de suas decisões, ou estender sua força para a abertura de um processo de compreensão e operacionalização da saúde como um direito expansivo. A indeterminação do direito à saúde requer a criação de uma arena pública na qual os poderes Executivo e Legislativo sejam interpelados por entidades da sociedade civil que procuram completar o sentido de proposições ainda incipientes, como as voltadas ao desenvolvimento industrial e cientifico do setor, e explicitar e se opor a normas legais contrárias ao SUS. Cabe aos órgãos públicos indicar de modo transparente e compreensível as reais possibilidades de atendimento de necessidades básicas de saúde. A atual legislação autoriza e materializa o desvio de receitas do SUS, como o não pagamento do ressarcimento e outros subsídios públicos, e torna letra morta as diretrizes para a organização de uma rede de serviços suficiente e adequada ao cumprimento dos preceitos constitucionais.

Como as ações judiciais na saúde não buscam o pagamento pecuniário de danos, e sim uma solução administrativa para o atendimento de agravos e doenças, a marca da presença do Judiciário no SUS, não é a punição. Magistrados podem, no máximo, mandar prender quem não cumpre suas sentenças e alegar que as verbas para propaganda (não voltada a informações sobre saúde) do ministério e secretarias de Saúde podem ser arrestadas para o pagamento de internações e medicamentos. Entretanto, ações exemplares não conferem estabilidade e segurança aos princípios do direito à saúde. As características singulares da saúde aproximam o Poder Judiciário e o Ministério Público do sofrimento da população que precisa assistência e do compartilhamento das tarefas de formulação e implementação de políticas baseadas na migração das necessidades dos cidadãos comuns ao centro do poder político. A superação ou pelo menos arrefecimento da fase das discussões sobre a pertinência ou não da interveniência do Judiciário na saúde permite compreender que o papel inovador dos magistrados pode ser estratégico para a reconstituição de valores, deduzidos de interesses divergentes, mas que recomponham a noção de bem comum, devolvendo alento à vida.

Feudalismo digital - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 20/01

Considere este cenário: A operadora da linha de telefone fixo da sua casa passa a lhe cobrar extra para telefonar para certos Estados. Ou simplesmente corta a discagem direta para certos países, o que lhe obriga a pagar mais, via operadora. A Anatel e o Procon seriam inundados de protestos e as operadoras seriam alvo de ações legais.

Ou este outro: quando você quer falar com a sua mãe pelo Skype, a conexão é tão ruim que nem o amor materno resiste a cinco minutos de papo. Mas seu vizinho fala com a mãe dele à vontade, com imagem e som ótimos.

Pois cenários semelhante, que afetam gravemente a maneira como trabalhamos e nos comunicamos, podem se tornar possíveis graças à decisão de um tribunal federal em Washington na semana passada. O governo Obama foi derrotado pelo tribunal de apelações na questão da neutralidade da net. (Pausa para bocejo.)

Sim, o assunto é árido e peço paciência porque uma internet menos democrática nos Estados Unidos afeta todos nós. Se a decisão não for contestada, encerram-se aqui os primeiros 20 anos relativamente anárquicos e democráticos da web mundial. Tem início uma oligarquia em que as operadoras vão se colocar entre o internauta e o conteúdo que ele quer acessar.

Assim que saiu a decisão judicial, caíram as ações da Netflix, o típico serviço que depende da banda larga para o streaming de filmes. Minha conta mensal de Netflix só terá uma direção a tomar, o Norte. Mas o cada vez mais fraco menu de filmes da Netflix não é a maior dor de cabeça. Qualquer pessoa que trabalhe com informações online pode ter seu acesso a websites bloqueado ou encarecido. Um site como o YouTube pode se tornar um serviço premium.

O que está em jogo, dizem os defensores da neutralidade, é a liberdade de expressão. Imagine se, na década de 1990, os primeiros serviços de busca fizessem um pacto de exclusão com as operadoras americanas. Não haveria Google nem Facebook, gigantes intrusivos que hoje não podem ser acusados de bastiões democráticos mas ao menos não restringem os endereços virtuais que frequentamos.

A internet rápida é um elemento tão essencial à economia do século 21, que deixar o poder sobre o tráfego exclusivamente nas mãos do mercado é como deixar o mercado cobrar mais para sair água tratada da sua torneira.

O termo "net neutrality" foi cunhado em 2003 por Tim Wu, professor da Escola de Direito da Universidade de Columbia. Em dezembro de 2012, numa entrevista ao Estado, ele me disse que o Partido Republicano, em sua obsessão com qualquer interferência do governo para regular, distorceu a questão da neutralidade para reduzi-la a um problema ideológico.

Mas Tim Wu compara o fim da neutralidade da net à reserva de pistas de uma estrada para motoristas que pagarem mais pedágio. O professor critica, sim, o governo Obama, especificamente a FCC, Comissão Federal de Comunicações, por inabilidade jurídica, ao usar argumentos técnicos fadados à derrota no tribunal. Numa entrevista ao Washington Post em que declarou "entramos em território desconhecido agora", Tim Wu lembra que o conceito de "common carriage" - o transporte público de bens ou serviços, existe desde a Idade Média. De fato, a comparação cai bem porque críticos da decisão estão prevendo um novo feudalismo digital em que a inovação será outra vítima certa. Para start ups, a ladeira se tornou mais íngreme ou a estrada intransitável. Como vender uma nova ideia como, por exemplo, o Skype, sem acesso preferencial à banda larga?

A Associação de Bibliotecas Americanas disse, num comunicado, que a decisão do tribunal dá a empresas comerciais uma autoridade legal sem precedentes sobre o tráfego na internet além de desviar usuários como um rebanho para websites que atendam a interesses comerciais específicos.

Milhões de jovens de menos de 30 anos foram atraídos para a candidatura de Barack Obama em 2008 quando ele prometeu lutar por uma internet livre. A derrota da FCC não martela o último prego no caixão da neutralidade da net e foi um susto que pode dar maior energia a iniciativas ironicamente convocadas por meio das operadoras que preferem um futuro de controle de seus latifúndios. Especialistas como Marvin Ammori da New America Foundation, acreditam que a própria FCC pode se levantar do tombo com outras iniciativas dentro do terreno de sua autoridade, já que o Congresso nada fez e é amestrado para obedecer a interesses especiais.

Todas as inovações tecnológicas de comunicação passam pelo estágio da concentração de poder. Se os americanos não reagirem, do rolezinho no shopping ao fórum científico, da educação a distância ao acesso a informações cruciais como a chegada de uma tempestade, vamos ficar à mercê dos ventos caprichosos de um punhado de senhores dos nossos movimentos digitais.

Sentença de morte - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 20/01

RIO DE JANEIRO - O Rio vai perder uma instituição de 78 anos: a Livraria São José. Seus proprietários não têm como atender ao reajuste do aluguel do predinho na rua Primeiro de Março, de R$ 8.000 para R$ 20 mil. Um valor dessa monta só pode ser honrado por bancos, farmácias ou lojas de colchões. Não por um sebo de livros --nem mesmo um com a história, desde 1935, da Livraria São José.

Foi o sebo mais importante do Rio no século 20. Suas lojas originais, nos números 38, 40 e 42 da própria rua São José, no Castelo, formaram mais leitores e escritores do que qualquer outra. Eu próprio me considero um deles. Em meados dos anos 60, matei incontáveis aulas na Faculdade Nacional de Filosofia para passar as manhãs entre suas bancadas, lambendo com os olhos os livros que ninguém conseguiria ler no espaço de uma vida.

O homem por trás da São José chamava-se Carlos Ribeiro. Foi dele a ideia de formar balconistas e familiarizá-los com autores, estilos e escolas --vender livro não era vender biscoito. Foi também quem lançou no Brasil as então tardes de autógrafos, com madrinha e belisquetes. Mas não era preciso ir a uma delas para ver Drummond, Lispector ou Bandeira entre seus clientes --eles iam lá quase todos os dias.

Nos anos 80, com a pressão imobiliária, a São José foi para a rua do Carmo. Cansado, Carlos Ribeiro repassou-a a seus funcionários mais antigos. Que, por sua vez, tiveram de levá-la, já reduzida a livros jurídicos, para a Primeiro de Março. Era o começo do fim.

Deu a louca nos preços do Rio, e isso é uma sentença de morte para qualquer comércio mais delicado. A São José é só o primeiro de outros sebos que, para desgraça da cidade, também ameaçam fechar. As ruas que, por décadas, beneficiaram-se do seu charme agora os enxotam, como se eles não tivessem mais o direito de existir.

ÁGUA NO SERTÃO - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 20/01

A transposição do rio São Francisco, cuja obra emprega hoje 8.135 trabalhadores, tem previsão de inauguração mantida para 2015, segundo o ministro Francisco Teixeira, da Integração Nacional. "Houve um hiato, com uma mobilização menor [de operários], mas parada totalmente a obra nunca ficou", diz. O projeto começou em 2008 e deveria ter terminado em 2012. Para Teixeira, o novo prazo é "perfeitamente compatível" com o porte da construção.

ÁGUA 2
O ministro rebate declarações de George Moura, autor de "Amores Roubados", que em entrevista à coluna criticou o "estado de abandono" e "a sensação de desperdício de dinheiro". "Respeito a opinião dele, mas a impressão é incorreta", diz Teixeira, que viu a cena da série da TV Globo na qual a personagem de Isis Valverde reclamou do "esquecimento" da obra. O projeto de R$ 8,2 bilhões deve atender 12 milhões de pessoas em quatro Estados do Nordeste.

ÁGUA 3
Sobre o "cenário desolador, um canal seco e semidestruído antes mesmo de ser totalmente construído" em Pernambuco descrito por Moura, o ministro diz que o roteirista viu "um trecho de obras em que uma empresa havia saído e outra estava entrando". O ministério também encaminhou as informações ao roteirista. Moura não quis comentar mais o assunto.

ALERTA
O número de idosos com Aids quadruplicou nos últimos quatro anos no Hospital do Servidor Público Estadual de SP. Em 2009, os infectados pelo HIV com 60 anos ou mais totalizavam 3% dos atendimentos no setor de moléstias infecciosas (230 pacientes). No ano passado, o índice saltou para 18% (950 casos atendidos).

O aumento é atribuído à vida sexual mais ativa e sem camisinha nessa faixa etária.

VAQUINHA
Enquanto 64% dos usuários do site de financiamento Catarse aprovam que empresas privadas apoiem projetos coletivos, 82% se dizem contrários à participação do governo no modelo. O levantamento ouviu 3.336 pessoas sobre "crowdfunding" no país.

BILHETE
Em carta, o Spot pediu desculpas à artista plástica Maria Bonomi, agredida por um cliente na unidade do shopping JK Iguatemi, em SP, na terça passada. Os sócios Maria Helena Guimarães e Sergio Kalil afirmam ter ficado "muito chateados" e prometem orientar melhor a equipe.

CADA UM NA SUA
Monica Bellucci falou pela primeira vez sobre o fim do casamento de 18 anos com Vincent Cassel. Em entrevista ao jornal "Corriere della Sera", a atriz italiana contou que se separou do astro francês há seis meses. "Pela primeira vez na vida não tenho um homem ao lado." Cassel tem casa no Rio e teria sido visto com uma jovem, que seria moradora do Vidigal. "Não sei se ele tem outra. Eu estou sozinha", disse a ex.

PRAIA DE PAULISTA
O artista plástico Hilton Alves iniciou a pintura de um mural de 120 m² reproduzindo um cenário praiano no parque Ibirapuera. A obra será inaugurada no dia 25, aniversário de SP, e ficará exposta na lateral externa do Pavilhão das Culturas Brasileiras. Em outubro, o brasileiro pintou o maior mural do mundo, com 6.000 m², no Havaí.

TURISTA PROFISSIONAL
O apresentador Bruno de Luca e o ator Thiago Rodrigues lançaram uma rede social especializada em viagens, a Trippics. Com investimento de R$ 800 mil, a página reúne dicas, álbuns de fotos de usuários e roteiros. "Nosso principal objetivo não é dinheiro, mas criar a melhor ferramenta de viagens", diz Bruno, que comanda o "Vai pra Onde", programa de turismo no Multishow.

SESSÃO SOLENE
As atrizes Laura Cardoso, Nívea Maria, Miriam Mehler e Etty Fraser receberam convidados como o governador Geraldo Alckmin na estreia da peça "A Última Sessão", no Teatro Frei Caneca. Os atores Odilon Wagner e Tony Ramos, com a mulher, Lidiane Barbosa, e a escritora Maria Adelaide Amaral também estiveram na plateia.

CORPO ESTRANHO
Regina Duarte reestreou a peça "Bem-Vindo, Estranho", no Teatro Vivo. O estilista Dudu Bertholini, o ex-governador Alberto Goldman e Expedito Araujo, curador artístico do programa Vivo EnCena, estiveram lá.

CURTO-CIRCUITO
A peça "Ontem Eu Te Amo...", de Denis Antunes, estreia hoje, às 20h, no Sesc Consolação. 12 anos.

A Apadep (Associação Paulista de Defensores Públicos) oferece curso para quem quer entrar na carreira. Inscrições até 27/1 pelo site da entidade.

O 4º Festival Cinerama.BC, em Balneário Camboriú (SC), recebe inscrições de curtas e longas até 31/1. Barbara Sturm é a curadora.

Peças de tricô da grife Doisélles, feitas por presos que participam de programa do governo de Minas, serão expostas em Nova York.

Conta oficial da Rio 2016 - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 20/01

Os Jogos Olímpicos Rio 2016 vão custar cerca de R$ 7 bilhões. Isto para botar o circo em funcionamento. O objetivo é que estes recursos sejam basicamente privados, oriundos de patrocínios e venda de ingressos.

Segue...
O orçamento não inclui gastos, combinados pelo COI, das três esferas de governo na construção de infraestrutura, alguns equipamentos esportivos e despesas com segurança externa. Na sua elaboração, ficou decidido que o novo presidente da Autoridade Pública Olímpica, general Fernando de Azevedo e Silva, vai integrar o Conselho Diretor, responsável pela autorização de despesas acima de R$ 500 mil.

Galvão de saias
Hoje encerram-se as inscrições para novos narradores do SporTV. Veja só: até agora, dos 10.500 inscritos no projeto “Talentos da Narração”, 1.320 são mulheres. O canal começa a seleção em março, de olho nos Jogos de 2016.

De volta à tribo
Alexandre Padilha vai hoje até a tribo Zoé, no Pará, para assinar portaria com diretrizes de saúde voltadas para os índios que não têm contatos com a civilização. Há dez anos, o ministro trabalhou com os Zoé, ameaçados, na época, de extinção pela pneumonia e malária.

Pura maldade
Maldade do senador João Alberto Capiberibe, adversário de José Sarney, no Amapá, e que fez parte do grupo que visitou o presídio de Pedrinhas, no Maranhão: — Quando cheguei a São Luís comecei a ser atacado por uma dor lombar que me fez parar no médico. Sou agnóstico, mas dá para ficar cabreiro, né?

Livro com ketchup
Por um tempo, as lojas do McDonald’s vão se transformar na maior rede de livrarias do país. A partir do fim do mês, a lanchonete vai distribuir, como parte do McLanche Feliz, livros infantis de, entre outros, autores como Ana Maria Machado, Marcio Vassallo e Caio Ritter. A tiragem por autor beira 2 milhões.

Muitas margens
O escritor Miguel Sanches Neto, que este ano lança pela Companhia das Letras o livro “O móvel mundo”, parte amanhã a bordo de um furgão-escritório para uma viagem diferente. Ele ficará uma semana às margens da RodoNorte, estrada que liga Apucarana a Curitiba, no Paraná, colhendo depoimentos de viajantes.

O livro que sairá da experiência intitula-se “Muitas margens”, patrocinado pela CCR, concessionária da Rodovia do Café.

Aliás...
O trabalho é inspirado em “Os autonautas da cosmopista”, do argentino Júlio Cortázar (1914-1984), que em ritmo lento (demorou quase dois meses) fez uma viagem com a mulher, Carol Dunlop, entre Paris e Marselha, em 1982.

Leonel Brizola
Criação do artista plástico carioca Otto Dumovich, autor de obras como Pixinguinha e Dorival Caymmi, será inaugurada quarta agora, dia 22, estátua de Leonel Brizola (1922-2004), em Porto Alegre. Ficará perto do Palácio Piratini, sede do governo do Rio Grande do Sul, onde o gaúcho comandou a Campanha da Legalidade, pela posse de João Goulart, após a renúncia de Jânio, em 1961.

Mãos ao alto!
Só nesse fim de semana a Operação Lapa Presente — que foi lançada dia 1º — prendeu 60 pessoas em flagrantes de drogas e roubos.

Anarrié na Sapucaí
A Quadrilha do Sampaio, do Rio, uma das mais antigas do Brasil, vai desfilar na Mangueira. Serão cem componentes em uma ala e outros 16 no carro alegórico “Festas juninas do Nordeste”, com coreografia criada pelos próprios quadrilheiros. O enredo da verde e rosa é “A festança brasileira cai no samba da Mangueira”.

Feirinha da Pavuna
Imortalizada pela cantora Jovelina Pérola Negra (1944-1998) no samba que diz “na Feirinha da Pavuna, houve uma grande confusão...”, a Feira de Artes da Pavuna briga para se tornar patrimônio imaterial da cidade. O lançamento da campanha é dia 26, com show de Cassiana Belfort, filha de Jovelina.

Em tempo...
A feirinha acontece há mais de 55 anos no bairro carioca e vende de tudo, de comida a sapato.

Ponto Final
Já que todo mundo tem uma tese sobre “rolezinho”, aqui vai mais uma: uma pesquisa com shoppings de Rio, São Paulo, Nova York, Lisboa, Paris e Roma, já mostrou que os shoppings brasileiros são os que mais usam palavras estrangeiras nos nomes das lojas e nas marcas dos produtos. A simbiose deste complexo de vira-lata com a atual onda dos “rolezinhos” é... nenhuma.

A regra é nossa - BERNARDO MELLO FRANCO - PAINEL

FOLHA DE SP - 20/01


O PMDB definiu nova tática para pressionar o PT de Dilma Rousseff. O partido vai antecipar sua convenção para abril e anunciar duas condições em troca do apoio à reeleição da presidente. São elas: liberação de diretórios que queiram fechar com a oposição, como o da Bahia, e aliança em Estados estratégicos, como Rio e Ceará. Peemedebistas dizem que o presidente do PT, Rui Falcão, "agrediu" o partido no sábado ao marcar data para romper com Sérgio Cabral (PMDB) no Rio.

Muita calma Líderes do PMDB que estão à frente da estratégia dizem que a disputa por palanques não influi no debate das mudanças na Esplanada, em que a sigla reivindica mais um ministério.

Mapa das minas A presidente tem chegado às reuniões com aliados munida com o mapa dos cargos de cada partido no segundo escalão. Na conversa com o PMDB, ela surpreendeu o vice, Michel Temer, ao citar os indicados da legenda no Dnocs, Transpetro e Conab.

Consulta Dilma receberá o ex-presidente Lula hoje no Palácio da Alvorada para discutir os pleitos de aliados por mais espaço na Esplanada.

Na fila O PP de Paulo Maluf espera ser chamado pelo Planalto para discutir a reforma ministerial. O partido dirá que tinha menos deputados no governo Lula, e mesmo assim ocupava diretorias na Anvisa e na Petrobras, além do Ministério das Cidades.

Caso sério Dilma indicou a Luiz Marinho que Arthur Chioro não será um "ministro-tampão" na Saúde. Ele continuaria no cargo em 2015, caso a petista se reeleja.

Começou ali A presidente teria se impressionado com Chioro na inauguração do Hospital de Clínicas de São Bernardo, em 13 de dezembro. O secretário mostrou como tem aplicado programas federais no município.

Que tal? O governo americano convidou o ministro Luiz Figueiredo (Relações Exteriores) para ir a Washington em fevereiro e conhecer as novas regras de ação da espionagem americana.

Reação O convite veio depois da resposta do Planalto, ontem, de que vai aguardar os "desdobramentos práticos" do discurso de Barack Obama. Na sexta, ele anunciou que limitará espionagem de líderes aliados.

A postos O ministro Ricardo Lewandowski, que assume hoje interinamente a presidência do Supremo Tribunal Federal, não pretende desfazer decisões monocráticas de Joaquim Barbosa. Mas vai deliberar a respeito de pedidos novos que chegarem à corte, incluindo temas relacionados ao mensalão.

Aquecimento Em novembro, com o fim do mandato de Joaquim Barbosa, Lewandowski assumirá a presidência do STF por dois anos. Ele poderá comandar o julgamento do mensalão tucano em Minas Gerais.

Troca-troca O ano terá mais mudanças na cúpula do Judiciário. Em fevereiro, Barros Levenhagen vira presidente do TST. Em abril, Dias Toffoli assume o TSE. Em setembro, Francisco Falcão toma posse no STJ.

O S do Skaf O PSDB pedirá hoje à Justiça Eleitoral que investigue Paulo Skaf por campanha antecipada. Os tucanos acusam o presidente da Fiesp, que é candidato do PMDB ao governo de São Paulo, de usar recursos públicos, do Sistema S, para se promover na televisão.

Veja bem A assessoria de Skaf diz que ele não tem nada a temer porque não faz campanha antecipada: cumpre sua função à frente da Fiesp.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Depois de tanta contabilidade criativa, não vai ser um passeio tardio a Davos que irá recuperar a credibilidade do governo."

DO DEPUTADO FEDERAL MARCUS PESTANA (PSDB-MG), sobre visita de Dilma Rousseff e de seus ministros ao Fórum Econômico Mundial, nesta semana.

contraponto
Não é comigo
Na semana passada, o ministro Alexandre Padilha (PT) participava de uma agenda do Ministério da Saúde, em Brasília, quando foi abordado por jornalistas que queriam saber quando ele deixaria o cargo para se dedicar à campanha pela sucessão ao governo estadual de São Paulo. Em seguida, perguntaram a Padilha sua opinião sobre os "rolezinhos".

O auxiliar de Dilma Rousseff tentou se esquivar, explicando que era ministro da Saúde e não comentaria o tema. E brincou:

-- Vou sair desta pergunta de rolezinho!

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 20/01

Venda de eletroeletrônicos para os EUA cai 34%
As vendas de produtos eletroeletrônicos para os Estados Unidos despencaram 34% nos nove primeiros meses de 2013.

Dados da Abinee (associação da indústria) mostram que as exportações passaram de US$ 1,3 bilhão de janeiro a setembro de 2012 para US$ 863 milhões no ano passado.

"O resultado é consequência da perda de competitividade da indústria", afirma o presidente da entidade, Humberto Barbato.

"O mercado americano é o mais cobiçado do mundo. Lá os preços alcançam os menores patamares por causa da disputa. Tem que ser competitivo para conseguir espaço."

A retração total dos embarques do setor ficou em 5,9% no período, com países asiáticos suavizando as perdas.

Componentes para equipamentos industriais foram os produtos que registraram a maior queda (-64%). "Possivelmente foi um contrato encerrado", diz Barbato.

"Se fossem aparelhos celulares, por exemplo, poderíamos falar em problema de um segmento específico, mas não é o caso", acrescenta.

A previsão para 2014 é que não haja recuperação nas vendas para o exterior. O dólar precisaria ficar ao redor de R$ 2,70 para elevar os embarques, segundo o executivo.

"Mas, mesmo se tivermos um câmbio favorável, será difícil recuperar mercado. Depois que se perde um cliente, conseguir cativá-lo novamente é complicado, pois ele teve um custo para encontrar um fornecedor quando você deixou de atendê-lo."

PREVISÕES
Os setores manufatureiro e de óleo e gás são as grandes apostas para este ano, de acordo com executivos ouvidos pela EIU (Economist Intelligence Unit) a pedido da consultoria Accenture.

Cerca de um terço dos entrevistados afirmou que essas áreas terão o maior crescimento em 2014. Agricultura (8%) e indústria aeroespacial e de defesa (6%) foram as menos citadas.

O levantamento também mostra que grande parte dos executivos pretende gastar mais do que no ano passado: 64% em investimentos totais e 75% em capital humano (contratações e treinamento).

Em relação aos temores, entrada de novos competidores no mercado e recessão em países importantes ocupam o topo, com 30%.
Foram ouvidas 1.041 pessoas em 20 países.

CORREDOR NORDESTINO
A Damha Urbanizadora, que atua com condomínios residenciais, vai construir seu primeiro empreendimento na Paraíba, na região metropolitana de João Pessoa.

Com investimento de R$ 30 milhões, o local terá 637 lotes em uma área de 466 mil metros quadrados.

O projeto faz parte dos planos de ampliação da companhia na região Nordeste, segundo José Paranhos, principal executivo do grupo.

"É o nosso quinto empreendimento no Nordeste. A região é carente de projetos com esse perfil, por isso é um mercado muito fértil."
O condomínio na Paraíba ficará ao sul da capital, no município de Conde.

"Esse corredor entre João Pessoa e Recife está em franca expansão industrial em vários segmentos, como o automobilístico, com a fábrica da Fiat", afirma Paranhos.

A montadora constrói a nova planta em Goiana (PE), na divisa com a Paraíba.

Com a previsão de lançar 12 residenciais neste ano, a Damha estima um VGV (Valor Geral de Vendas) de R$ 840 milhões -alta de 20% em relação a 2013.

MODA ÍNTIMA
A rede de lojas de moda íntima Puket planeja abrir mais 40 unidades em todo o Brasil neste ano.
A expansão prevê 30 franquias da marca e 10 lojas compartilhadas com as redes Imaginarium, de objetos de design, e Balonè, de acessórios femininos.

"Esse modelo viabiliza a expansão em cidades do interior, que ainda não conhecem as marcas, e torna o ponto mais barato", afirma um dos sócios da Puket Adolfo Bobrow.

Em um ano e meio de parceria, foram abertas 28 lojas compartilhadas.

A rede pretende também ampliar sua atuação no exterior. Hoje, são apenas duas lojas na Venezuela.

"Estamos em negociação com três grupos que querem abrir franquias na Coreia do Sul", diz Claudio Bobrow, sócio da Puket.

O plano abrange países da América do Sul e da Europa, em especial Rússia, Grécia e França, principais importadores dos produtos.

126
é o número total de lojas da marca hoje

20%
é o crescimento no faturamento estimado para este ano

Para além da inveja do tênis - RENATO JANINE RIBEIRO

VALOR ECONÔMICO - 20/01
Na década de 1990, um sintoma aterrorizou o país: cresciam relatos de meninos que agrediam ou até matavam outros, um pouco mais ricos, para roubar um par de tênis de grife, no que parecia ser o paradigma do crime por motivo fútil. Cunhei a expressão "inveja do tênis", para explicar por que algo tão supérfluo, vaidoso ou vão quanto um item de conforto pode mobilizar paixões que a luta por grandes necessidades da vida nem sempre desperta. Sustentei que as "causas nobres", como a educação, a saúde, a segurança, o transporte, o emprego, não conseguiam gerar o investimento psicológico que um artigo de grife suscita. O caso dos rolezinhos traz de novo à tona esse tema, mas numa chave bem diferente.

Lembremos as manifestações de 2013. Em julho de 2011, Juan Arias, que há anos cobre com competência para o jornal espanhol "El país" o que acontece no Brasil, lamentava: por que investimos tanta energia na Parada Gay - que hoje, em São Paulo, rivaliza com o carnaval carioca em mobilização de libido - e não depositamos sequer uma parcela disso na luta por questões prementes, como poderiam ser as que mencionei acima? Pois as manifestações de maio e junho de 2013 devem ter realizado alguns sonhos do correspondente espanhol. Elas marcaram uma grande novidade em nosso país, com multidões indo às ruas para traduzir suas carências, suas necessidades, em direitos, em exigências, em política. Ponto para o Brasil.

Já os rolezinhos parecem voltar à lógica do tênis. O que os jovens pobres vão fazer nos shoppings é clamar por sua integração na sociedade de consumo. Querem, como todos os de sua idade, desfrutar do prazer. Há um charme nisso, que inclui o uso do verbo "pegar" (que na sua polissemia herda o lugar de outra palavra ambígua, que os mais velhos não entendiam, o "ficar" de dez anos atrás) nas convocações que circulam no Face. Mas algumas grandes mudanças precisam ser apontadas - e celebradas.

Primeira: os rolês não são ações individuais, mas coletivas. A ação coletiva tem mais chances de construir o futuro, de mudar o mundo. Segunda: as convocações claramente repudiam o crime. Os rolês são chamados para serem atos não-violentos.

Recomendo o fascinante filme "O mordomo da Casa Branca" (2013), que mostra décadas de Preconceito Racial vistos por um mordomo que serve a sucessivos presidentes dos Estados Unidos. Destaco uma cena. Em 1960, vários jovens negros entram numa lanchonete do Sul, sentam-se do lado proibido para os "de cor" e pedem para serem atendidos. Não o são. Acabam espancados por brancos da elite local. O pedido - educadíssimo, sem violência alguma - para "ser atendido" num lugar em que eles não são bem-vindos aproxima o caso norte-americano do brasileiro. Uma diferença é que no Brasil a segregação não é legal - mas mesmo assim existe. Outra é que nossos jovens pobres estão indo aos shoppings para rir, brincar, ocupar o espaço com sua alegria.

Daí, terceira característica: os rolezinhos são atos políticos. Com ou sem consciência disso, os participantes se reúnem - em vez de atuar sozinhos - para exigir direitos. É incrível o poder da união. Longe do que o pensamento mais conservador teme, unir forças não leva ao crime, mas afasta dele. Soluções individuais, para problemas coletivos, são as piores. São elas que levam alguns a roubar, sonegar, fraudar para resolver um problema que não é apenas deles. Já, quando a solução se torna coletiva, pode até haver a opção quadrilha; mas esta é sempre limitada: a união de bandidos não resolve problemas sociais, apenas melhora a vida de parte deles. Quando se ganha escala numa mobilização, a tendência é reivindicar soluções para todos. Não há dúvida de que a escala, como o elefante da cantiga, incomoda muita gente. Mas é esse incômodo que coloca as questões na agenda política.

Tenho plena compreensão do medo que muitos sentem quando veem entrar uma multidão de desconhecidos no shopping. Posso me colocar no lugar deles. Mas o ser humano é dotado de razão. Não pode pensar com base só no medo. A questão não é mais, apenas, a desigualdade social clamorosa, a intensa exclusão dos mais pobres, aquilo que Cristovam Buarque chama há décadas de "apartheid social". Até aí, trata-se de fatos da realidade. A questão é que, desde a democratização de 1985, essa desigualdade foi-se tornando injustificável e intolerável. Amélia, "que achava bonito não ter o que comer" (1942), é hoje apenas um verso do passado. O playboy brasileiro da opereta "La vie parisienne" (1866), ladrão e corrupto no país, homem fino na Europa, não faz mais rir. Pobres, negros, mulheres, indígenas e gays querem a plenitude de direitos, já. Passou o tempo de qualquer discurso que lhes peça paciência. Eles não acreditam mais em promessas para o futuro. Por isso é tão significativo que a bola da vez sejam os rolês. Se há algo que caracteriza o prazer, é sua imediatez. Quer-se prazer já, não daqui a dez anos. A diversão que não rolar hoje, não é a mesma que poderá rolar sábado que vem - menos ainda, quando estiverem casados, empregados, com filhos.

Um mundo acabou. Durante décadas, nos protegemos dele atrás de grades - no prédio ou no shopping, ou as grades simbólicas da escola, do hospital e do carro melhores. Isso não tem mais como durar. A boa nova é que a exigência de que isso mude, seja em junho de 2013, seja em janeiro de 2014, tem-se feito dentro da lei e com nenhuma ou pouquíssima violência. Mas o tempo urge. A brincadeira de injustiça social terminou. Quem quiser continuar jogando esse jogo só vai gerar problemas - para si e para os outros.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

Emenda parlamentar é só um cheque sem fundos

Para mostrar prestígio em Brasília, anualmente senadores e deputados trombeteiam a destinação de emendas ao Orçamento da União para sua base eleitoral, dinheiro “carimbado” para obras de pequeno vulto, como escola, ponte, uma pequena estrada, desde que não ultrapasse o limite de R$ 15 milhões. Mas é tudo jogo de cena: a maioria das emendas jamais é executada, como cheque pré-datado sem cobertura.

Merreca. 

Dos R$ 232,9 milhões em emendas da bancada do Distrito Federal, em 2013, somente 11% (ou R$ 26,9 milhões) foram executados e pagos.

Aliado?
 Ser governista não garante liberação de emenda: o deputado Policarpo presidente do PT-DF, não executou nenhum tostão no ano passado.

Zero.
 Estado de políticos influentes, como senador Renan Calheiros, Alagoas não viu um só centavo dos R$ 500 milhões destinados por emendas.

Enganação.
 Nesse faz-de-conta, políticos fingem nos palanques que têm a ver com recursos previstos no orçamento e liberados sem a intervenção deles.

‘PEC do FBI’ divide agentes e delegados da PF
A Câmara analisa proposta de emenda criando a carreira única para a Polícia Federal. A proposta é chamada pelos agentes federais de “PEC do FBI”, porque tornaria a PF parecida com a norte-americana. Já os delegados da PF batizaram a proposta de “PEC do Trem da Alegria”, porque abre caminho para agentes virarem delegados federais sem se submeter a concurso público específico para ingresso na carreira.

Nove cargos. 
O FBI não tem uma carreira única. A famosa agência americana possui mais de 9 cargos diferenciados e não “carreira” ou cargo único policial.

Sabonete. 
O presidente do PMDB, Valdir Raupp (RO), se esquiva quando o tema é eleição ao governo fluminense: “O Rio de Janeiro continua lindo...”

Topo do ranking.
 Para Lincoln Portela (PR), o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), ainda é o nome mais forte para disputar o governo de Minas.

Dois coelhos. 
Dilma atendeu às preces diretas do governador Sérgio Cabral (PMDB), aprovando o procurador Flávio Willeman para juiz efetivo do Tribunal Regional Eleitoral do Rio. E reconduziu à suplência o juiz relator dos recursos envolvendo Cabral e o vice, Pezão, candidato a governador.

Haja cargo. 
Para acalmar o apetite de aliados como PTB, PMDB, Pros e PSD, a presidenta Dilma conta não apenas com os ministérios, mas também com o segundo escalão, estatais de pe$o, nas negociações.

Viva o roquefort.
 O acordo mais relevante fechado por François Hollande no Brasil, em dezembro, libera a importação de queijos do tipo roquefort. Beócios da burocracia brasileira proibiam a importação por não ser “pausterizado”.

Milagre, não. 
O PMDB tenta convencer o PT de que, ao assumir em março, o vice Luiz Fernando Pezão ganhará de 25% a 30% nas pesquisas para o governo do Rio. Mas em política não há espaço para milagres.

Assunto de jerico. 
Os branquelos da Noruega, da Dinamarca e da Inglaterra devem estar pensando em se pintar de preto para vir à Copa, com o atual esforço de ministros oportunistas para abrir uma perigosa guerra racial.

Novo líder. 
Preocupado em fazer cirurgia de desvio de septo antes de pegar fogo a campanha ao governo do Rio, o líder do PR, Anthony Garotinho, pediu para Bernardo Santana (MG) assumir a liderança em 15 de fevereiro.

Convivência.
 Para Jô Moares (PCdoB), maior prova do “federalismo de cooperação” defendido pelo governador Anastasia (PSDB-MG) é que ninguém foi vaiado nem ovacionado em evento com Dilma e Márcio Lacerda (PSB).

Assédio. 
Em meio ao assédio após anunciar verba para mobilidade urbana em Minas, a presidente Dilma pediu a prefeitos que enviassem ao Planalto as demandas: “São tantas cobranças que não vou me lembrar depois”.

Pensando bem...
...Dilma, que vai à Suíça nos próximos dias, poderia dar um “rolê” na conta secreta do mensaleiro condenado fugitivo Henrique Pizzolato.

O PODER SEM PUDOR

Tancredo e as namoradas

Tancredo Neves articulava apoio à sua candidatura presidencial, em agosto de 1983, e saía do seu escritório com Ulysses Guimarães para um encontro secreto na casa do importante político, na QL 8 do Lago Sul. Tancredo brincou com a curiosidade dos jornalistas:
- Arranjamos umas namoradas e vamos encontrá-las secretamente...
- Aonde? – perguntou uma repórter.
- Na QL 8 do Lago Sul, ora – respondeu, para espanto do dr. Ulysses.
Ninguém acreditou e eles seguiram para a reunião. Na QL 8 do Lago Sul.

É preciso repensar a Zona Franca - WILSON PÉRICO

CORREIO BRAZILIENSE - 20/01

A cantilena do "é preciso repensar a Zona Franca de Manaus" não dá refresco nem trégua, apenas muda cores, humores e abordagens. A começar pelo boicote articulado por interesses políticos para protelar a liberação do Processo Produtivo Básico (PPB). O prazo chega a superar quatro anos de espera, afeta o aporte de novos investimentos à região e fica por isso mesmo. Boicote semelhante acontece na distribuição dos recursos de P&D, recolhidos pelas empresas da Zona Franca de Manaus no setor de informática. Um boicote sombrio, de servidores de terceiro escalão, que se consideram mais reais do que o rei e mais legais do que a lei. Mais de R$ 120 milhões que seriam destinados a projetos de inovação em biotecnologia e tecnologia da informação foram para uma atividade totalmente alheia ao desenvolvimento da região: o agronegócio.

Não há custeio público na ZFM. Há renúncia, em que o governo deixa escapar por um lado sua compulsão arrecadatória, e ganha por outro, fazendo dela medida compensatória aos próprios cofres, numa operação fácil e tecnicamente demonstrável. A maior parte, quase 55% dos resultados alcançados pelos benefícios fiscais, volta para os cofres da União. De tudo que é produzido pelas empresas da ZFM, a fatia do leão é destinada ao governo. Em pesquisa feita pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA) - na qual a defesa da manutenção da floresta em pé é um axioma indiscutível e bandeira inegociável -, foram analisados os efeitos que os incentivos fiscais concedidos a indústrias instaladas na região têm na distribuição de riquezas entre funcionários, proprietários e governo.

Segundo dados obtidos pelo pesquisador Jorge de Souza Bispo, autor da tese "Criação e distribuição de riqueza pela Zona Franca de Manaus", de toda a riqueza produzida por indústrias da ZFM, 54,42% vão para o governo; 27,28% são distribuídos entre os empregados; e apenas 1,82% fica com os empresários. Em compensação, no restante do país o governo recebe 41,54% de toda a produção, os empregados ficam com 36,31% e os empresários, com 6,44%. Para o autor, foi uma conclusão surpreendente, pois mesmo com os incentivos fiscais, as empresas locais geram, em média, 31% de riqueza sobre o faturamento, enquanto as outras criam aproximadamente 50%.

Pressionado para repensar seu modelo, Manaus comparece com quase 60% dos impostos recolhidos pela União na Região Norte. E o Amazonas é um dos oito estados da Federação que mais recolhem do que recebem recursos. A exportação de recursos para a União somou, em 2012, R$ 8,958 bilhões; no caminho de volta, o total foi de apenas R$ 2,535 bilhões, uma informação que escapa aos desafetos da ZFM. A rigor, a renúncia fiscal real seria de apenas R$ 6 bilhões.

A ZFM não beneficia só o Amazonas, mas o Brasil, os brasileiros que consomem os produtos fabricados aqui. Portanto, é preciso rever o discurso raivoso da renúncia e olhar de outro prisma a paranoia da prorrogação. E se as empresas aqui instaladas, comprovadamente, arrecadam menos que em outros arranjos industriais do país, elas patrocinam duas vezes o orçamento da Universidade do Estado do Amazonas, no fundo criado para sua manutenção, pagam os programas regionais de pesquisa e desenvolvimento e os fundos estaduais de turismo e fomento municipal, que permitiram, por exemplo, financiar os projetos de cadeias produtivas no interior. São mais de R$ 2,3 bilhões de investimentos, entre P&D, universidade, turismo e programas de agroindústria para a população ribeirinha.

Com 98% de sua floresta original conservados, é mais barato prorrogar a ZFM e agregar infraestrutura e recursos de P&D para criar outras matrizes econômicas, adensar, diversificar e interiorizar alternativas, coerentes com a biodiversidade, aquicultura, polo gás químico. O contraponto é devastar as matas, ou entregar a região ao narcotráfico, ou, quem sabe, financiar megaestrutura militar para vigiar as fronteiras e proteger seu patrimônio genético.

O Amazonas convida o Brasil a conhecer suas matas, sua história, os pioneiros que recriaram a economia com a queda do ciclo da borracha e apostaram na viabilidade de suas utopias. Conhecer 60% do país, ou seja, nossa fantástica floresta, a Amazônia, que o Brasil, a maioria dos brasileiros, desconhece. Está na Constituição brasileira: existimos para guardar essa floresta, na qual brota um quinto de todos os seres vivos do planeta. Um patrimônio cobiçado por toda a humanidade, que o Brasil precisa olhar com inteligência e sabedoria, para produzir remédios, cosméticos, alimentos e energia limpa, sem destruir as matas. Assim, somos obrigados a concordar: é hora de repensar o modelo ZFM.

O governo Dilma e os mercados - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

VALOR ECONÔMICO - 20/01

Um analista de economia precisa ter uma combinação pouco comum de dons. Precisa ter conhecimento profundo de vários domínios e combinar talentos que não se encontram em um mesmo homem com frequência. Precisa entender de matemática, história, pensar como homem de Estado e ser filósofo em certa medida. Precisa compreender os símbolos e se exprimir por palavras. Precisa pensar no particular, mas nos termos do geral e abordar o abstrato e o concreto dentro do mesmo processo de pensar. Deve estudar o presente à luz do passado e com vista para o futuro. Nada na natureza do homem ou de suas instituições pode escapar de sua atenção. Ele precisa ser ao mesmo tempo resoluto e desinteressado; ele deve ser distante e incorruptível como um artista e, ao mesmo tempo, algumas vezes tão terra a terra como um político. John Maynard Keynes, 1930

O texto acima foi escrito há 84 anos e faz parte de um pequeno livro editado recentemente na França. Lido na fria e quase deserta Cidade Luz na primeira semana de um ano novo, ele teve um impacto muito forte em mim. Trouxe uma quase necessidade de voltar a ler alguns dos textos mais importantes deste extraordinário economista que moldou minha forma de pensar as questões econômicas. Mas, voltei bruscamente ao mundo de hoje quando de maneira surpreendente o presidente da República Francesa - François Hollande - fez declarações públicas comunicando que iria mudar de forma estrutural sua política econômica. Algo na linha do Choque de Capitalismo do governador Mario Covas e que lançado de maneira inesperada - quando ainda era governador do Estado de São Paulo - causou perplexidade na ala mais à esquerda do PSDB.

A diferença principal entre estes dois momentos é, entretanto, muito grande e, na linha do que escreveu Keynes nos anos 30, precisa ser devidamente qualificada. O Partido Socialista Francês é uma das referências da esquerda democrática por sua história de lutas e pela rigidez de sua ideologia econômica. Para ele o Estado deve ser a grande força condutora da economia, reservando ao setor privado e aos mercados um papel subsidiário e menor. E o presidente francês fez sua carreira política em um dos grupos mais à esquerda do espectro político do PS francês. Vivendo hoje um momento de muita fragilidade na opinião pública, e convencido de que o caminho trilhado até agora não levará a uma recuperação sustentada da economia, decidiu por uma saída quase revolucionária. Uma repetição clara do chamado cavalo de pau na economia anunciado pelo então todo poderoso chefe da Casa Civil do presidente Lula em 2003.

A diferença principal é que no caso do PT em 2003 havia um modelo alternativo e pronto a ser seguido. François Hollande terá que recuar ainda mais no tempo e buscar na Alemanha de Helmut Schmidt, o chanceler socialista nos anos noventa do século anterior, uma fonte de inspiração. Mas o maior obstáculo que o presidente francês encontrará serão as diferenças históricas entre seu povo francês e o alemão. Lula, no Brasil de 11 anos atrás, lidava com o mesmo povo.

Mas não quero aqui tratar das questões francesas e alemãs. Temos no nosso Brasil desafios suficientes para que eu gaste este meu espaço para refletir sobre os problemas de outras sociedades. As palavras de Keynes na abertura desta coluna - o analista precisa pensar no particular mas nos termos do geral - abrem, no meu entender, o caminho para trazer ao leitor algumas reflexões para o futuro usando o cavalo de pau francês como referência. A questão de fundo sobre a qual devemos refletir é qual deve ser o equilíbrio entre Estado e mercados em uma sociedade como a brasileira neste início de século.

Qual a função de um e do outro? Quais os limites de intervenção do Estado na economia e como organizar a liberdade dos mercados para que funcionem com eficiência sem excessiva concentração de renda? Quais são os exemplos exitosos nos quais devemos nos inspirar? Na Alemanha dos sindicatos poderosos ou nos Estados Unidos da liberdade total dos contratos de trabalho privados? A China, de um comunismo hoje apenas virtual e em desmonte acelerado, pode ou não trazer algum ensinamento a nós brasileiros? E os anos Lula de Meirelles vis a vis o governo bem mais centrado na intervenção do Estado da presidente Dilma, pode ele nos ensinar alguma coisa? Vale a pena o governo fazer luta de classes na sua relação com o mercado como vêm pregando alguns membros mais radicais do PT?

Estas são questões que trouxe na minha bagagem de analista das coisas da economia e que pretendo desenvolver este ano. Afinal, se ocorrer a reeleição da presidente Dilma para mais um mandato de quatro anos, não está claro qual caminho dos citados acima ela vai trilhar. As hipóteses são duas: tomar o exemplo francês como referência e refazer o equilíbrio dos anos Lula ou manter os conflitos que hoje separam a política econômica do Palácio do Planalto dos mercados.

Apenas uma última palavra aos leitores, principalmente aos mais agitados com o estado atual da economia brasileira: leiam com profundidade o relatório de 33 páginas da agência de rating Fitch sobre a economia brasileira e que manteve inalterado o rating BBB da dívida externa.

A estranha manobra contábil da Caixa - JORGE J. OKUBARO

O Estado de S.Paulo - 20/01

Por que, em um ano de resultados excepcionalmente bons, a Caixa Econômica Federal (CEF) lançou mão de uma manobra contábil que engordou ainda mais seus lucros e aumentou os pagamentos de dividendos ao governo federal, mas acabou provocando desconfianças a respeito de seus métodos de gestão e dúvidas sobre a confiabilidade da caderneta de poupança, a aplicação mais popular do País?

Essa pergunta, que continua sem resposta, foi suscitada pela decisão, tomada pela instituição em 2012, de encerrar cerca de 500 mil contas de caderneta de poupança que apresentavam irregularidades - e não eram movimentadas havia vários anos - e lançar todo o saldo existente, de R$ 719 milhões, como resultado. Descontado o Imposto de Renda, a manobra resultou em lucro líquido de R$ 420 milhões. Por determinação do Banco Central (BC), no entanto, esse valor terá de ser abatido nas demonstrações contábeis de 2013.

A divulgação dessa manobra pela revista IstoÉ, que a chamou de "o confisco secreto da Caixa", e a repercussão que ela alcançou em outros veículos de comunicação teriam levado a presidente Dilma Rousseff a, em pleno fim de semana, cobrar explicações do BC. A rápida reação da presidente teria o objetivo de evitar que o temor de novos "confiscos" provocasse uma corrida aos bancos, como a que ocorreu no ano passado, quando houve uma onda de boatos a respeito da suspensão de pagamentos do programa Bolsa Família.

Além disso, havia o risco de o episódio comprometer a confiabilidade da caderneta de poupança, que continua sendo a aplicação preferida por milhões de brasileiros. Coincidentemente, poucos dias antes da publicação da reportagem sobre a manobra da CEF, o BC tinha divulgado os extraordinários resultados das cadernetas de poupança em 2013. No ano passado, a captação líquida (depósitos menos saques) alcançou o valor recorde de R$ 71 bilhões, 43% mais do que em 2012, o que elevou o saldo para R$ 597,9 bilhões, também um recorde, e resultou no pagamento de R$ 30,6 bilhões em rendimentos.

Numa nota de esclarecimento inusitadamente divulgada numa tarde de domingo (12/1), o BC informou que não se tratou de "confisco", pois não haverá prejuízo para os poupadores, e que os regulamentos do sistema financeiro determinam o encerramento de contas irregulares, assegurado o direito dos clientes de, a qualquer tempo, sacar o saldo existente, desde que regularizem sua situação. O BC explicou ainda que a Caixa "está providenciando a regularização de alguns dos procedimentos internos utilizados no encerramento de contas irregulares, bem como ajustes contábeis no seu balanço". Ainda não se sabe como ficará o imposto recolhido sobre esse lucro que, na realidade, nunca existiu, porque a CEF não podia lançar como resultado um dinheiro que não é seu.

A diretoria da Caixa argumenta que, com base nos regulamentos em vigor, deveria encerrar as contas nas quais detectou a existência de irregularidades. Em nota que divulgou antes da publicação da reportagem pela revista, informou que, das 496.776 contas encerradas, quase 86% estavam sem movimentação há mais de dez anos e apenas 1,55% tinha alguma movimentação nos últimos cinco anos.

Assim, "considerando-se que a obrigação é remota, ante a baixa probabilidade de saída do recurso, os valores reconhecidos como um passivo referente às contas de depósitos com irregularidades cadastradas foram levados a resultado". Ou seja, como a baixa movimentação dessas contas sugeria que era pequena a probabilidade de seus titulares sacarem o saldo existente, a instituição transformou em lucro o que, de fato, é um passivo.

A legislação obriga a instituição a encerrar contas com irregularidades, mas não diz o que ela deve fazer com o saldo dessas contas. A Caixa, nesse caso, entendeu que poderia lançá-lo como resultado, sem, no entanto, deixar de reconhecer o direito do titular, pois o dinheiro continuaria registrado como sendo dele.

Alguns interpretaram a decisão da instituição como parte das práticas do governo Dilma de, por meio de manobras contábeis, inflar os resultados fiscais - que têm sido criticados justamente porque boa parte deles resulta de criatividade contábil, não de efetivo controle de despesas. A exclusão de determinadas despesas dos gastos totais, a apropriação antecipada de dividendos de empresas estatais, o adiamento do lançamento de outras despesas para que elas só sejam quitadas no exercício seguinte - quando então serão efetivamente contabilizadas -, a isenção do governo federal da responsabilidade de cobrir os eventuais maus resultados fiscais dos Estados e dos municípios estão entre as muitas práticas que distorcem a política fiscal, mascaram seus resultados e a tornam menos confiável. Tendo lançado mão de tantas artimanhas, por que o governo não usaria mais uma?

É possível, mas não parece muito provável que o governo tenha agido desse modo, pois os ganhos decorrentes dessa operação foram pouco expressivos. Em 2012, a Caixa registrou o maior lucro de sua história, de R$ 6,06 bilhões. Os R$ 420 milhões adicionais proporcionados pela apropriação contábil do saldo das cadernetas irregulares representam 7% do lucro total. Mesmo sem esse acréscimo o lucro teria sido recorde. Além disso, no exercício de 2012, a CEF pagou para o Tesouro dividendos recordes de R$ 7,49 bilhões, referentes a diversos exercícios. O que coube ao governo dos R$ 420 milhões é muito pouco, se comparado com esses números.

Se não foi para melhorar os resultados fiscais, por que terá a Caixa feito essa operação contábil em 2012?

Como não se sabe a resposta, o episódio recomenda que, como a regulamentação atual não diz claramente o que deve ser feito com o saldo das contas com irregularidades, o depositante acompanhe com atenção o que ocorre com a sua - mesmo que não seja na Caixa, pois há informações de que outras instituições de grande porte fizeram a mesma coisa.

Um cenário inflacionário preocupante - SILVIA MATOS

O GLOBO - 20/01

Uma taxa de 5,6% é bastante elevada se levarmos em conta que os preços administrados tiveram um papel relevante para manter este valor abaixo do teto da meta de 6,5%



Ao longo do segundo semestre de 2013, a economia brasileira desacelerou. Após registrar uma contração de 0,5% no terceiro trimestre em relação ao segundo, a economia deve ter crescido apenas 0,6% no último trimestre, segundo projeções do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). Com isto, nossa previsão é que o PIB tenha crescido 2,3% no ano passado.

No entanto, mesmo com a economia andando de lado, a inflação continuou firme e forte. Em 2013, ela bateu na casa dos 5,91%, acima dos 5,84% de 2012. E não podemos culpar a inflação de alimentos por esse resultado ruim, pois, se excluirmos o grupo alimentação domiciliar do índice geral, a inflação seria de 5,6% no ano passado. Ou seja: uma aceleração em relação aos 5,1% registrados no ano anterior.

Mesmo assim, uma inflação de 5,6% é bastante elevada se levarmos em conta que os preços administrados tiveram um papel relevante para manter este valor abaixo do teto da meta de 6,5%. A inflação dos administrados foi de apenas 1,5%, ante 3,7% em 2012.

Então, para elaborarmos um diagnóstico mais apurado sobre a dinâmica dos preços, é necessário analisar outras medidas de inflação. Uma primeira é expurgar os principais itens relacionados a choque de oferta (alimentação domiciliar), bem como itens que sofreram alguma desoneração tributária temporária (mobiliário, refrigerador, máquina de lavar roupa, fogão, automóvel novo, automóvel usado) ou que ainda estão com seus preços “desalinhados” (gasolina, óleo diesel, ônibus urbano e energia elétrica residencial). Considerando essas premissas, a inflação ficou acima do teto da meta em 2013, fechando em 6,9%, acima dos 6,6% de 2012. Com base nisso, podemos afirmar que a inflação superou o teto da meta nos primeiros três anos do governo Dilma (6,7%), o que indica uma aceleração inflacionária expressiva em relação à média registrada entre 2008 e 2010, de 5,7%.

Outra medida que reflete a piora do quadro inflacionário refere-se à proporção de bens e serviços que têm sofrido reajustes em 12 meses acima do centro e do teto da meta de inflação: em 2013 estes valores foram 66% e 53%, respectivamente, ante 60% e 45% em 2012. Ou seja, quase 70% dos 365 subitens que compõem a cesta do IPCA foram reajustados em 2013 acima da meta inflacionária.

Sem dúvida, o quadro inflacionário é bastante preocupante, pois os preços têm sofrido aumentos elevados e persistentes. E estes aumentos estão espalhados por todos os lados. Não há apenas alguns vilões.

Com esse quadro, será necessário um pouco mais de aperto monetário este ano. Nossa previsão é que a taxa de juros atinja 10,75% e que a inflação seja similar à de 2013. Porém, não descartamos a necessidade de aumentos adicionais da taxa de juros se a inflação permanecer mais resistente neste começo de ano. Mesmo esperando um alívio nos preços dos alimentos, uma maior persistência da inflação de serviços, bem como a recomposição de alguns preços administrados devem manter a inflação ainda em patamar elevado.

Adeus ao pleno emprego - GUSTAVO PATU

FOLHA DE SP - 20/01

BRASÍLIA - No começo de seu segundo mandato, Lula foi abençoado por uma mudança na metodologia utilizada pelo IBGE para medir o crescimento da economia do país, com revisão dos resultados apurados nos anos anteriores.

De um dia para o outro, o Brasil estava melhor do que se imaginava. Anos tidos como fracos se tornaram razoáveis, e os medíocres passaram a bons; o presente, que de fato mostrava progressos, já estava ótimo.

Era apenas, obviamente, uma nova métrica --ninguém havia ficado mais rico ou mais pobre. Mas imagem não é pouca coisa: os indicadores mais favoráveis facilitaram a obtenção do ambicionado grau de investimento, atestado de solidez concedido por agências especializadas. A retomada econômica ficou mais evidente e virou trunfo político.

Passados os anos de bonança, com Dilma Rousseff a caminho de sua campanha reeleitoral, o IBGE inaugurou uma nova e mais completa medição dos índices de desemprego. Desde a manhã da última sexta-feira, o mercado de trabalho não é mais tão favorável como parecia.

Apurado em todo o país, o percentual de desocupados não está mais abaixo dos 6%, patamar que encorajou especialistas e propagandistas a falar em pleno emprego --e tratado por Dilma, nos momentos de maior entusiasmo, como a menor taxa do mundo (uma das menores, ao menos) ou de nossa história.

O índice divulgado foi de 7,4%, numa diferença grande o bastante para levar o desemprego nacional a superar, por exemplo, o dos Estados Unidos, que mal e mal se recuperam de uma crise de raras proporções.

A fotografia mais ampla mostra ainda o que o Brasil tem de precário e desigual: 61 milhões em idade de trabalhar estão fora do mercado; no Nordeste, um em cada dez busca uma vaga sem conseguir.

De novo, apenas uma nova métrica. Mas imagem não é pouca coisa, ainda mais perto da eleição.

As 13 Itaipus que precisaremos - LUÍS FERNANDO FIGUEIRA DA SILVA E AMIR OLIVEIRA

O GLOBO - 20/01

Apesar das disparidades, com certa periodicidade, nos é dada a oportunidade de avançar. Hoje, 32% dos brasileiros são carentes em serviços básicos e 26% têm renda mensal per capita menor que meio salário mínimo. São 50 milhões aguardando trabalho, saúde, educação, cultura e lazer.

Mas há previsões de que o nosso PIB ultrapassará o francês em 2016. Portanto, se vinculado ao acesso à cidadania e aos bens da civilização, o crescimento virá com expansão de consumo e infraestrutura, ambos dependentes de insumos intensivos em energia.

A importante questão é: quais ações estruturantes deve haver em prol do crescimento sustentável? Em particular, estamos preparados para fornecer a energia necessária ao país? A intensidade de uso de energia no mundo hoje é de 1,8 tonelada equivalente de petróleo (TEP) por habitante, incluindo combustíveis e eletricidade. O Brasil e a América do Sul apresentam 1,4. Quanto deverá crescer a intensidade energética nos próximos anos? As estimativas para 2020, segundo a International Energy Agency (IEA), apontam para uma média mundial acima de 2,1 toneladas equivalentes de petróleo (TEPs) por habitante/ ano. Consideremos que as nossas ações conservacionistas sejam eficazes e que a intensidade brasileira cresça para 1,9.

Dada a projeção de aumento da população, precisaríamos de mais 320 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (TEPs) por habitante por ano de energia na América do Sul em relação a 2012, principalmente oriunda dos combustíveis. Hoje, 85% da energia estão associados a processos de combustão e só 15 % à energia elétrica. Para apreciar a magnitude desse número, ela é equivalente a 38 vezes a energia gerada pela usina de Itaipu em um ano de geração recorde. É igual à energia primária total gerada em 2010 pela França e pela Alemanha juntas. Para o Brasil, o acréscimo em relação a 2012 corresponderia a 13 Itaipus. Parte dessa energia, cerca de seis Itaipus, poderia vir do aumento da eficiência energética em processos térmicos na indústria, segundo a Confederação Nacional da Indústria.

O restante viria dos combustíveis fósseis e renováveis. Poderemos importar tecnologia, ao contrário do que fizeram a Alemanha, Japão e Coreia do Sul. Ou poderemos inovar a partir do conhecimento local, nas ações em rede, envolvendo empresas e Instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação e na formação de recursos humanos especializados.

O investimento não fragmentado e focando nichos laterais tecnológicos - mas direcionado à geração energética na indústria, visando ao uso de combustíveis renováveis, novas tecnologias de combustão e aproveitamento de calor, aumento da integração/eficiência de equipamentos e nos processos em ciclo fechado, com recuperação de resíduos, além da própria economia - resultaria na criação de cadeias de serviços e equipamentos, gerando emprego, contribuindo para a competitividade e estabilidade da balança comercial e viabilizando o crescimento. Para tanto, basta acreditar no escritor Victor Hugo: "Para os valentes, o futuro é oportunidade."