FOLHA DE SP - 20/01
RIO DE JANEIRO - O Rio vai perder uma instituição de 78 anos: a Livraria São José. Seus proprietários não têm como atender ao reajuste do aluguel do predinho na rua Primeiro de Março, de R$ 8.000 para R$ 20 mil. Um valor dessa monta só pode ser honrado por bancos, farmácias ou lojas de colchões. Não por um sebo de livros --nem mesmo um com a história, desde 1935, da Livraria São José.
Foi o sebo mais importante do Rio no século 20. Suas lojas originais, nos números 38, 40 e 42 da própria rua São José, no Castelo, formaram mais leitores e escritores do que qualquer outra. Eu próprio me considero um deles. Em meados dos anos 60, matei incontáveis aulas na Faculdade Nacional de Filosofia para passar as manhãs entre suas bancadas, lambendo com os olhos os livros que ninguém conseguiria ler no espaço de uma vida.
O homem por trás da São José chamava-se Carlos Ribeiro. Foi dele a ideia de formar balconistas e familiarizá-los com autores, estilos e escolas --vender livro não era vender biscoito. Foi também quem lançou no Brasil as então tardes de autógrafos, com madrinha e belisquetes. Mas não era preciso ir a uma delas para ver Drummond, Lispector ou Bandeira entre seus clientes --eles iam lá quase todos os dias.
Nos anos 80, com a pressão imobiliária, a São José foi para a rua do Carmo. Cansado, Carlos Ribeiro repassou-a a seus funcionários mais antigos. Que, por sua vez, tiveram de levá-la, já reduzida a livros jurídicos, para a Primeiro de Março. Era o começo do fim.
Deu a louca nos preços do Rio, e isso é uma sentença de morte para qualquer comércio mais delicado. A São José é só o primeiro de outros sebos que, para desgraça da cidade, também ameaçam fechar. As ruas que, por décadas, beneficiaram-se do seu charme agora os enxotam, como se eles não tivessem mais o direito de existir.
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