O GLOBO - 20/01
Apesar das disparidades, com certa periodicidade, nos é dada a oportunidade de avançar. Hoje, 32% dos brasileiros são carentes em serviços básicos e 26% têm renda mensal per capita menor que meio salário mínimo. São 50 milhões aguardando trabalho, saúde, educação, cultura e lazer.
Mas há previsões de que o nosso PIB ultrapassará o francês em 2016. Portanto, se vinculado ao acesso à cidadania e aos bens da civilização, o crescimento virá com expansão de consumo e infraestrutura, ambos dependentes de insumos intensivos em energia.
A importante questão é: quais ações estruturantes deve haver em prol do crescimento sustentável? Em particular, estamos preparados para fornecer a energia necessária ao país? A intensidade de uso de energia no mundo hoje é de 1,8 tonelada equivalente de petróleo (TEP) por habitante, incluindo combustíveis e eletricidade. O Brasil e a América do Sul apresentam 1,4. Quanto deverá crescer a intensidade energética nos próximos anos? As estimativas para 2020, segundo a International Energy Agency (IEA), apontam para uma média mundial acima de 2,1 toneladas equivalentes de petróleo (TEPs) por habitante/ ano. Consideremos que as nossas ações conservacionistas sejam eficazes e que a intensidade brasileira cresça para 1,9.
Dada a projeção de aumento da população, precisaríamos de mais 320 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (TEPs) por habitante por ano de energia na América do Sul em relação a 2012, principalmente oriunda dos combustíveis. Hoje, 85% da energia estão associados a processos de combustão e só 15 % à energia elétrica. Para apreciar a magnitude desse número, ela é equivalente a 38 vezes a energia gerada pela usina de Itaipu em um ano de geração recorde. É igual à energia primária total gerada em 2010 pela França e pela Alemanha juntas. Para o Brasil, o acréscimo em relação a 2012 corresponderia a 13 Itaipus. Parte dessa energia, cerca de seis Itaipus, poderia vir do aumento da eficiência energética em processos térmicos na indústria, segundo a Confederação Nacional da Indústria.
O restante viria dos combustíveis fósseis e renováveis. Poderemos importar tecnologia, ao contrário do que fizeram a Alemanha, Japão e Coreia do Sul. Ou poderemos inovar a partir do conhecimento local, nas ações em rede, envolvendo empresas e Instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação e na formação de recursos humanos especializados.
O investimento não fragmentado e focando nichos laterais tecnológicos - mas direcionado à geração energética na indústria, visando ao uso de combustíveis renováveis, novas tecnologias de combustão e aproveitamento de calor, aumento da integração/eficiência de equipamentos e nos processos em ciclo fechado, com recuperação de resíduos, além da própria economia - resultaria na criação de cadeias de serviços e equipamentos, gerando emprego, contribuindo para a competitividade e estabilidade da balança comercial e viabilizando o crescimento. Para tanto, basta acreditar no escritor Victor Hugo: "Para os valentes, o futuro é oportunidade."
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