FOLHA DE SP - 20/01
SÃO PAULO - A estratégia de governos para lidar com o vício de seus cidadãos sempre se dividiu em duas: largar mão ou sentar a mão. Deixar drogados ou alcoólatras entregues ao problema, ou usar de força policial para tentar resolver a situação na marra.
Haveria uma terceira via? Em São Paulo, na semana passada, a prefeitura começou a pagar R$ 15 diários a usuários de crack para que varram ruas. Em Amsterdã, na Holanda, a administração faz algo parecido com dependentes de álcool. Só que lá é mais direta: paga em latas de cerveja para que recolham lixo de locais públicos.
"Vim pela cerveja. Se não houvesse cerveja, por que eu viria?", disse, com crua franqueza, um dos participantes do programa holandês à rede britânica BBC.
Pode parecer chocante usar dinheiro público para incentivar o vício, mas a lógica da iniciativa é assumida: comprar (a palavra é essa) a atenção de pessoas que só se relacionavam com o Estado para fugir da polícia. Atraí-los usando suas próprias armas para, num segundo momento, dar a eles algum sentido de responsabilidade e tentar gradativamente reduzir, com acompanhamento especializado, a dependência.
Desde que o programa holandês foi implantado, há 12 meses, a policia percebeu uma queda no índice de roubos na região onde os alcoólatras-catadores atuam.
Em São Paulo, ainda é impossível ter um diagnóstico da ousada iniciativa. No primeiro dia, os novos garis terminaram o expediente como fazem milhões de trabalhadores mundo afora, acendendo um cigarrinho para relaxar. A diferença é que era de crack. Não que se esperasse algo diferente, num dos vícios mais escravizantes de que se tem notícia.
Mas os sinais desanimadores não deveriam deter a prefeitura. Se não esmorecer, o prefeito Fernando Haddad tem a chance de criar uma rara marca positiva numa gestão desesperada por mostrar algo de bom.
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