FOLHA DE SP - 20/01
Ordem e contenção nos gastos são medidas que o governo deveria adotar a fim de interromper ciclo de expectativas negativas
O Banco Central elevou a taxa básica de juros da economia mais do que o previsto pela média dos economistas de instituições financeiras e consultorias.
Por ora, o incremento além das expectativas não deve ter peso relevante na perspectiva de crescimento para o ano. Acrescenta logo de início, porém, fator negativo à equação da economia para 2014, que já não era alentadora. Note-se que o aumento dos juros era inevitável, dada a alta da inflação.
Outras notícias indicam que entraves de curto prazo ao crescimento se acumulam mal o ano se inicia.
Aos poucos, grandes bancos revisam para cima suas estimativas de desvalorização do real. A moeda mais desvalorizada alimenta expectativas de inflação e, portanto, de juros maiores. Além do mais, encarece investimentos.
Dadas as circunstâncias econômicas do país, a alta de preços tende a desestimular a expansão e a renovação de empresas e negócios. O volume de aquisição de máquinas e equipamentos já foi decepcionante no final do ano passado.
Apesar da recuperação durante 2013, as vendas do varejo acomodam-se em novo patamar de crescimento. Em vez do avanço anual médio de quase 8% de 2004 a 2012, o ritmo desacelera para a casa dos 4%, acompanhando o passo mais vagaroso do crédito e dos salários.
Tais índices decerto não alteram de modo sensível a estimativa de que o crescimento brasileiro vá ficar entre 2% e 3% ao ano em 2014 e 2015. Não obstante, é possível tentar evitar o pior.
Os indicadores de confiança e de inflação, a taxa de câmbio e as taxas de juros de prazo mais longo tendem a se degradar tanto menos quanto mais cedo o governo anunciar uma meta clara e relevante de controle de gastos.
Outras mudanças, como dar cabo de intervenções equivocadas na economia ou acelerar as concessões de infraestrutura, podem desanuviar o clima de pessimismo, sem dúvida. Será imediatamente mais decisiva, no entanto, uma afirmação de que haverá mais ordem e comedimento nos gastos.
Assim, poderia ser atenuado o pessimismo no mercado financeiro, que se expressa concretamente em altas de juros e desvalorizações exageradas da moeda, contagiando o restante da economia.
Está claro que tais providências são necessárias para baixar a febre das expectativas negativas. Não são suficientes para evitar eventuais acidentes devidos, por exemplo, a uma transição tumultuada da política econômica americana ou a repercussões dos eventos de um ano eleitoral. Mas ordem e contenção nos gastos são um seguro necessário --o único que, no momento, o país pode pagar.
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