segunda-feira, janeiro 20, 2014

Um cenário inflacionário preocupante - SILVIA MATOS

O GLOBO - 20/01

Uma taxa de 5,6% é bastante elevada se levarmos em conta que os preços administrados tiveram um papel relevante para manter este valor abaixo do teto da meta de 6,5%



Ao longo do segundo semestre de 2013, a economia brasileira desacelerou. Após registrar uma contração de 0,5% no terceiro trimestre em relação ao segundo, a economia deve ter crescido apenas 0,6% no último trimestre, segundo projeções do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). Com isto, nossa previsão é que o PIB tenha crescido 2,3% no ano passado.

No entanto, mesmo com a economia andando de lado, a inflação continuou firme e forte. Em 2013, ela bateu na casa dos 5,91%, acima dos 5,84% de 2012. E não podemos culpar a inflação de alimentos por esse resultado ruim, pois, se excluirmos o grupo alimentação domiciliar do índice geral, a inflação seria de 5,6% no ano passado. Ou seja: uma aceleração em relação aos 5,1% registrados no ano anterior.

Mesmo assim, uma inflação de 5,6% é bastante elevada se levarmos em conta que os preços administrados tiveram um papel relevante para manter este valor abaixo do teto da meta de 6,5%. A inflação dos administrados foi de apenas 1,5%, ante 3,7% em 2012.

Então, para elaborarmos um diagnóstico mais apurado sobre a dinâmica dos preços, é necessário analisar outras medidas de inflação. Uma primeira é expurgar os principais itens relacionados a choque de oferta (alimentação domiciliar), bem como itens que sofreram alguma desoneração tributária temporária (mobiliário, refrigerador, máquina de lavar roupa, fogão, automóvel novo, automóvel usado) ou que ainda estão com seus preços “desalinhados” (gasolina, óleo diesel, ônibus urbano e energia elétrica residencial). Considerando essas premissas, a inflação ficou acima do teto da meta em 2013, fechando em 6,9%, acima dos 6,6% de 2012. Com base nisso, podemos afirmar que a inflação superou o teto da meta nos primeiros três anos do governo Dilma (6,7%), o que indica uma aceleração inflacionária expressiva em relação à média registrada entre 2008 e 2010, de 5,7%.

Outra medida que reflete a piora do quadro inflacionário refere-se à proporção de bens e serviços que têm sofrido reajustes em 12 meses acima do centro e do teto da meta de inflação: em 2013 estes valores foram 66% e 53%, respectivamente, ante 60% e 45% em 2012. Ou seja, quase 70% dos 365 subitens que compõem a cesta do IPCA foram reajustados em 2013 acima da meta inflacionária.

Sem dúvida, o quadro inflacionário é bastante preocupante, pois os preços têm sofrido aumentos elevados e persistentes. E estes aumentos estão espalhados por todos os lados. Não há apenas alguns vilões.

Com esse quadro, será necessário um pouco mais de aperto monetário este ano. Nossa previsão é que a taxa de juros atinja 10,75% e que a inflação seja similar à de 2013. Porém, não descartamos a necessidade de aumentos adicionais da taxa de juros se a inflação permanecer mais resistente neste começo de ano. Mesmo esperando um alívio nos preços dos alimentos, uma maior persistência da inflação de serviços, bem como a recomposição de alguns preços administrados devem manter a inflação ainda em patamar elevado.

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