ZERO HORA - 02/02
Quanto mais converso por aí, mais percebo que é inútil acreditar em verdades absolutas e fórmulas ideais de convivência. Cada pessoa tem familiares que influenciaram suas escolhas, medos herdados e medos adquiridos, sonhos altos demais ou mesmo nenhum, e um número incalculável de perguntas sem respostas, de desejos embaraçosos, de mágoas vitalícias. Quem vai decretar para mim o que é melhor para mim? E quem vai dizer o que é melhor para você? Com que topete?
A melhor vida não é aquela que atende os mandamentos universais, as ordens celestes e os clichês eternizados, mas a que se tornou possível, a que você vem construindo a despeito de todas as suas dúvidas.
A melhor vida seria a da Gisele Bündchen, pensa a menina feia. A melhor vida seria a da Dilma, pensa a vereadora de uma cidadezinha do interior. Enquanto isso, vivem a vida possível, sem perceber o quanto deveriam ser gratas por não precisarem arcar com consequências que desconhecem.
A melhor vida para mim é bem diferente da melhor vida para você. Reúna o planeta inteiro e não se encontrará duas pessoas que planejem possuir a mesma vida, porque uns não querem ter horário para nada, outros se envaidecem de ter suas atitudes comentadas por estranhos, há os que se paralisam à primeira frustração, os que estão sempre inventando novos desafios, e a vida possível de cada um torna-se impossível para os demais, o que não deixa de ser uma piada termos que conviver intimamente uns com os outros apesar desse tabuleiro inesgotável de escolhas e destinos.
Se eu almejar uma vida ideal, terei que me basear na vida dos outros, pois o ideal é fruto de uma racionalização coletiva e consagrada, enquanto que se eu me contentar com uma vida possível, volto a assumir algum controle sobre os royalties das minhas decisões.
O que não impede que ela seja ótima, a mais adequada para o fôlego que tenho, a mais realizável dentro de minhas ambições, a menos sofrida, já que regulada pelo autoconhecimento que adquiri até aqui. Tenho como manejar uma vida possível de um jeito que jamais teria de manejar uma vida perfeita, até porque vida perfeita não é deste mundo, e o sobrenatural é matéria que não domino.
A melhor vida não é a focada em suposições, fantasias, esperas, surpresas e demais previsões que raramente se confirmam. A melhor vida não é aquela que é cumprida feito um pagamento de dívida, como um acerto de contas com nossos antigos anseios juvenis.
A melhor vida não é a que desenhamos quando criança na folha do caderno, a casinha de venezianas abertas, a fumaça saindo pela chaminé e os girassóis protegidos por uma cerquinha branca, e tudo o que isso sugere de proteção e vizinhança com os desejos comuns a todos. A melhor vida possível é aquela que você ainda vem desenhando, mesmo já com algumas pontas de lápis quebradas.
domingo, fevereiro 02, 2014
O prazer de matar - FERREIRA GULLAR
FOLHA DE SP - 02/02
É a insensatez levada ao último grau, que só se explica pela cegueira a que leva o fanatismo religioso
Não passa uma semana sem que novos atentados matem dezenas de pessoas. Isso ocorre com mais frequência no Iraque, no Egito, no Afeganistão, na Síria, em países da África Central. Matar inocentes indiscriminadamente é difícil de entender. Toda vez que leio uma notícia dessas, surpreendo-me como se a lesse pela primeira vez.
Não há dúvida de que homicídio puro e simples não deixa de me espantar. De fato, tirar deliberadamente a vida de alguém é coisa que não compreendo nem aceito. Mas sei, como todo mundo, que, dependendo de seu temperamento, pode uma pessoa perder a cabeça e matar um suposto inimigo.
Há, porém, pessoas que têm o prazer de matar e, por isso mesmo, fazem isso com certa frequência. Lembro-me de um jovem que foi preso logo depois de liquidar um desafeto. Quando o policial lhe disse que no próximo ano seria maior de idade e, se voltasse a matar alguém, iria para a cadeia, ele respondeu: "Pois é, não posso perder tempo".
No que se refere aos atentados, há os motivados por razões políticas e religiosas e há os que, ao que tudo indica, têm causas psíquicas, ou seja, o cara é pirado. Esses são os atentados tipicamente norte-americanos. Com impressionante frequência, surge um sujeito empunhando um revólver ou um fuzil-metralhadora que começa a disparar a esmo dentro de um shopping ou de uma universidade. Ele sabe que vai morrer e, quase sempre, é abatido por policiais.
A loucura é certamente um componente desse desatino homicida. Não obstante, a gente se pergunta por que só acontece nos Estados Unidos. Será porque todo mundo lá tem armas em casa e aprende a atirar desde criancinha, no quintal de casa ou no porão? Os fabricantes de armas garantem que não, que não é por isso, mas tenho dificuldade de acreditar neles.
Esse tipo de atentado difere daqueles outros, cuja motivação é político-religiosa, e difere também, por seu resultado, não de um surto psicótico e, sim, pelo contrário, fruto de uma decisão tomada objetiva e friamente por um líder.
A afinidade que há entre eles é o propósito de assassinar pessoas inocentes. E é precisamente este ponto que tenho maior dificuldade de aceitar. Por exemplo, um terrorista, com o corpo coberto de bombas, entra num ônibus escolar do país inimigo, explode as bombas e a si mesmo, matando dezenas de crianças. Não vejo nenhum sentido nisso, a não ser mostrar seu ódio ao adversário; e, nesse caso, por se tratar de crianças, mostrar que sua fúria homicida desconhece limites. É outra modalidade de loucura.
Mas há ainda os casos em que a fúria homicida mata indiscriminadamente pessoas de outros países, que nada têm a ver com os propósitos do atentado. Exemplo disso foi o caso das Torres Gêmeas, em Nova York, onde morreram quase 3.000 pessoas. O atentado visava os norte-americanos, mas matou franceses, holandeses e até muçulmanos. Nem mesmo se pode excluir, dentre as vítimas daquele atentado, pessoas que possivelmente apoiavam a causa defendida pelos terroristas. É a insensatez levada ao último grau, que só se explica pela cegueira a que leva o fanatismo religioso.
O que torna mais absurdo tudo isso é o fato de que o atentado terrorista não traz nenhum benefício a quem o projeta e o faz acontecer, a não ser satisfazer seus desejos homicidas. De fato, o terrorismo é a expressão da derrota política de quem o promove, a reação desesperada de quem sabe que não tem qualquer possibilidade de vencer o adversário e chegar ao poder.
Mas, ao fim de tudo, não consigo na verdade entender tal desvario, mesmo porque, além do assassinato em massa de crianças e cidadãos quaisquer, que o terrorista nem sequer conhece ou sabe que matou, há fatos quase inacreditáveis.
Como o que ouvi da boca do chefe supremo do Hezbollah, na televisão. Ele afirmou que o menino-bomba, que praticou o atentado no ônibus escolar, em Israel, era seu filho e tinha 16 anos. E acrescentou: "O mais novo, que tem 12 anos, já está sendo preparado para se sacrificar por Alá". O curioso é que ele manda os filhos morrerem, mas ele, o pai, continua vivo.
É a insensatez levada ao último grau, que só se explica pela cegueira a que leva o fanatismo religioso
Não passa uma semana sem que novos atentados matem dezenas de pessoas. Isso ocorre com mais frequência no Iraque, no Egito, no Afeganistão, na Síria, em países da África Central. Matar inocentes indiscriminadamente é difícil de entender. Toda vez que leio uma notícia dessas, surpreendo-me como se a lesse pela primeira vez.
Não há dúvida de que homicídio puro e simples não deixa de me espantar. De fato, tirar deliberadamente a vida de alguém é coisa que não compreendo nem aceito. Mas sei, como todo mundo, que, dependendo de seu temperamento, pode uma pessoa perder a cabeça e matar um suposto inimigo.
Há, porém, pessoas que têm o prazer de matar e, por isso mesmo, fazem isso com certa frequência. Lembro-me de um jovem que foi preso logo depois de liquidar um desafeto. Quando o policial lhe disse que no próximo ano seria maior de idade e, se voltasse a matar alguém, iria para a cadeia, ele respondeu: "Pois é, não posso perder tempo".
No que se refere aos atentados, há os motivados por razões políticas e religiosas e há os que, ao que tudo indica, têm causas psíquicas, ou seja, o cara é pirado. Esses são os atentados tipicamente norte-americanos. Com impressionante frequência, surge um sujeito empunhando um revólver ou um fuzil-metralhadora que começa a disparar a esmo dentro de um shopping ou de uma universidade. Ele sabe que vai morrer e, quase sempre, é abatido por policiais.
A loucura é certamente um componente desse desatino homicida. Não obstante, a gente se pergunta por que só acontece nos Estados Unidos. Será porque todo mundo lá tem armas em casa e aprende a atirar desde criancinha, no quintal de casa ou no porão? Os fabricantes de armas garantem que não, que não é por isso, mas tenho dificuldade de acreditar neles.
Esse tipo de atentado difere daqueles outros, cuja motivação é político-religiosa, e difere também, por seu resultado, não de um surto psicótico e, sim, pelo contrário, fruto de uma decisão tomada objetiva e friamente por um líder.
A afinidade que há entre eles é o propósito de assassinar pessoas inocentes. E é precisamente este ponto que tenho maior dificuldade de aceitar. Por exemplo, um terrorista, com o corpo coberto de bombas, entra num ônibus escolar do país inimigo, explode as bombas e a si mesmo, matando dezenas de crianças. Não vejo nenhum sentido nisso, a não ser mostrar seu ódio ao adversário; e, nesse caso, por se tratar de crianças, mostrar que sua fúria homicida desconhece limites. É outra modalidade de loucura.
Mas há ainda os casos em que a fúria homicida mata indiscriminadamente pessoas de outros países, que nada têm a ver com os propósitos do atentado. Exemplo disso foi o caso das Torres Gêmeas, em Nova York, onde morreram quase 3.000 pessoas. O atentado visava os norte-americanos, mas matou franceses, holandeses e até muçulmanos. Nem mesmo se pode excluir, dentre as vítimas daquele atentado, pessoas que possivelmente apoiavam a causa defendida pelos terroristas. É a insensatez levada ao último grau, que só se explica pela cegueira a que leva o fanatismo religioso.
O que torna mais absurdo tudo isso é o fato de que o atentado terrorista não traz nenhum benefício a quem o projeta e o faz acontecer, a não ser satisfazer seus desejos homicidas. De fato, o terrorismo é a expressão da derrota política de quem o promove, a reação desesperada de quem sabe que não tem qualquer possibilidade de vencer o adversário e chegar ao poder.
Mas, ao fim de tudo, não consigo na verdade entender tal desvario, mesmo porque, além do assassinato em massa de crianças e cidadãos quaisquer, que o terrorista nem sequer conhece ou sabe que matou, há fatos quase inacreditáveis.
Como o que ouvi da boca do chefe supremo do Hezbollah, na televisão. Ele afirmou que o menino-bomba, que praticou o atentado no ônibus escolar, em Israel, era seu filho e tinha 16 anos. E acrescentou: "O mais novo, que tem 12 anos, já está sendo preparado para se sacrificar por Alá". O curioso é que ele manda os filhos morrerem, mas ele, o pai, continua vivo.
Porto alegre a pé - FABRÍCIO CARPINEJAR
ZERO HORA - 02/02
Eu voltava das festas a pé com os amigos.
Não tinha nem dinheiro para bebida, muito menos para o táxi.
Não interessava a distância. A ausência de opção resolvia a vida.
Enfrentávamos o perigo com o destemor da cumplicidade.
Ia caminhando com os amigos. Recapitulando as frustrações ou os namoros das reuniões dançantes.
Porto Alegre não é e nunca será uma cidade grande para o adolescente.
A distância se abreviava na conversa à toa, nas descobertas, na expectativa da opinião de meus confidentes.
Já caminhei de Ipanema a Petrópolis, de Cavalhada a Petrópolis. Se eu fosse um carro na juventude, ultrapassava os quinhentos mil quilômetros rodados.
Meus tênis cediam primeiro pelas solas, furavam nas pontas, marcas da herança dos paralelepípedos.
Era impressionante que não me cansava e não reclamava da lonjura. A amizade oferecia, além do fôlego extra, uma distração dos problemas.
Tomava carona nas vozes de meus amigos.
Avançava por ruelas escuras, por bairros apagados. A algazarra superava o medo do assalto. Quem estava perdido por ali é que ficava com medo da gente.
Não há sensação mais agradável do que percorrer a própria cidade ao clarão da lua, acompanhado da turma de sua confiança.
Ouvia os nossos passos nas calçadas, e os pássaros madrugando com seus piares.
A claridade chegava aos poucos, a fome pedia passagem, a felicidade era esperançosa e aguardava o futuro com cheiro de almoço pronto.
Falávamos sem parar, até entrar em nosso bairro.
Naquele momento, estranhamente nos calávamos.
Quatro quarteirões antes do portão de casa, fechávamos a matraca.
Bastava dobrar na rua Carazinho, que não trocávamos mais nenhuma mensagem.
A avenida representava o marco de nosso laconismo.
Sumiam as palavras. Como um código. Como um princípio ético.
Não é que faltava assunto, ou que acabara o filão dos segredos e dos espantos amorosos para serem repartidos.
O silêncio nos preparava para a despedida.
O silêncio, desde aquela época, diminui a angústia da separação.
O silêncio é quando a cumplicidade vira pensamento. É um respeito pela importância do que foi escutado.
É quando começamos a dormir devagar e atravessar a pé os nossos sonhos.
Já os sonhos precisam de solidão. É um trajeto isolado, por mais que tenhamos bons amigos.
Parafuso - CAETANO VELOSO
O GLOBO - 02/02
No dia 5 de fevereiro, na sede da Anistia Internacional, no Rio, haverá uma reunião para abrir o debate sobre a possibilidade de o Brasil finalmente dar asilo a Edward Snowden. Nosso país é sua escolha preferencial
Edward Snowden é uma figura forte. Sua presença pública tem o sabor das entradas individuais que desencadeiam coisas grandes na cena do mundo. Jovem, ele parece um pouco o garoto que, em “E la nave va”, deflagra, com um único gesto, a Primeira Guerra Mundial. Falo do personagem do filme e não do homem real que matou o arquiduque da Áustria porque é a captação poética do tipo de agente histórico que me interessa evocar. Snowden é a mostra de que vivemos um tempo cheio de presságios, esperanças, ameaças. O presidente do seu país de origem, Barack Obama, um mulato que é o primeiro negro eleito para o posto e que representa, não apenas por isso, todo um mundo de ideias opostas às forças conservadoras, diz sobre ele o mesmo que diria um representante dessas forças: tendo optado por fazer do que descobriu uma denúncia pública, em vez de uma queixa interna, Snowden pôs a segurança dos Estado Unidos em xeque. Mas não há no mundo quem não pense que só a denúncia externa seria eficiente contra o que Snowden achou moralmente inaceitável. Por uma volta caprichosa do parafuso da História, ele foi encontrar guarida num país em que o respeito às individualidades é oficialmente (e desde sempre) muito menos respeitado do que nos EUA: a Rússia. Não deixa de ser significativo — e, em grande medida, honroso — para nós que, vendo o tempo de refúgio temporário se esvair e querendo encontrar-se em ambiente mais confortável, ele tenha pensado no Brasil, começando a namorar-nos num texto vago, aparentemente escrito para sondar a reação das nossas autoridades, que poderá se traduzir em pedido oficial de asilo político caso exibamos simpatia. (Antes de conseguir o asilo temporário que a Rússia lhe concedeu, Snowden expediu pedido para 21 países, o Brasil entre eles, tendo sido atendido apenas por Bolívia, Venezuela e Nicarágua.)
No dia 5 de fevereiro, na sede da Anistia Internacional, no Rio, haverá uma reunião para abrir o debate sobre a possibilidade de o Brasil finalmente dar asilo ao americano. Glenn Greenwald, o jornalista a quem primeiro Snowden falou sobre os supergrampos da NSA, já disse que nosso país é sua escolha preferencial. E David Miranda, o namorado de Greenwald, é o autor da petição na Avaaz para que o governo brasileiro conceda o asilo a Snowden. Emocionalmente, é-me quase irresistível aderir à campanha de Miranda (que ficou horas preso no antipático aeroporto londrino de Heathrow sob suspeita de “terrorismo”). Não estou no Rio e não estarei lá no dia 5. Se estivesse, iria à Anistia para ouvir o debate e me sentir mais seguro para assinar a petição na Avaaz.
Falta-me sobretudo pesar racionalmente a questão. No coração, desejo que Snowden venha morar no Rio e fique muito mais apaixonado pelo Brasil do que Ronald Biggs. Vivo num mundo de sonhos cor-de-rosa e ficaria feliz se um cara como o jovem americano se ligasse mais ao Jardim Botânico do que Brigitte Bardot se ligou a Búzios. Seja como for, sinto, sem piada, que seria um gesto bonito acolher Snowden. Claro que quero que as relações entre o Brasil e os Estados Unidos possam melhorar e não sou tão desinteressado assim do assento brasileiro no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Preferiria nada arriscar a perder oportunidades para o Brasil. Sou amalucadamente patriota. Mas é porque quero que se invente algo bom tendo o Brasil como pretexto. Claro que, num mundo ideal, eu teria meu Brasil acumulando poderes para redimensionar os valores por trás do Poder. Dessa perspectiva irrealista é que o asilo a Snowden me parece totalmente desejável. Mas não só. Há mil situações realistas entrelaçadas em diferentes instâncias dessa minha visão irreal. Faz uma semana, escrevi aqui uma série de maluquices sob a palavra “superstição”. Sou esse tipo de cara. Eu mesmo não estou certo de onde começa e onde acaba a ironia em minha ideias e em minhas frases. Deve ser o hábito da letra de música, coisa tão próxima à poesia. Basta-me que algumas palavras confusas cheguem a ser sugestivas. Aliás, nem é muito preciso dizer que isso me basta: não é que me baste, é que suponho que assim vou mais longe do que iria se me ativesse à prosa explicativa. Sonho que, se nós chegássemos a persuadir a presidente Dilma a conceder o asilo a Snowden, uma luz nova se insinuaria na Terra. Isso é vivido agora de modo um tanto supersticioso: se chegarmos a convencer o nosso governo, é porque as forças inexplicáveis estarão sinalizando que algo quase maravilhoso vai dar pé. Vejam aonde um convite para ir à sede da Anistia Internacional me trouxe. E um convite a que nem posso atender.
No dia 5 de fevereiro, na sede da Anistia Internacional, no Rio, haverá uma reunião para abrir o debate sobre a possibilidade de o Brasil finalmente dar asilo a Edward Snowden. Nosso país é sua escolha preferencial
Edward Snowden é uma figura forte. Sua presença pública tem o sabor das entradas individuais que desencadeiam coisas grandes na cena do mundo. Jovem, ele parece um pouco o garoto que, em “E la nave va”, deflagra, com um único gesto, a Primeira Guerra Mundial. Falo do personagem do filme e não do homem real que matou o arquiduque da Áustria porque é a captação poética do tipo de agente histórico que me interessa evocar. Snowden é a mostra de que vivemos um tempo cheio de presságios, esperanças, ameaças. O presidente do seu país de origem, Barack Obama, um mulato que é o primeiro negro eleito para o posto e que representa, não apenas por isso, todo um mundo de ideias opostas às forças conservadoras, diz sobre ele o mesmo que diria um representante dessas forças: tendo optado por fazer do que descobriu uma denúncia pública, em vez de uma queixa interna, Snowden pôs a segurança dos Estado Unidos em xeque. Mas não há no mundo quem não pense que só a denúncia externa seria eficiente contra o que Snowden achou moralmente inaceitável. Por uma volta caprichosa do parafuso da História, ele foi encontrar guarida num país em que o respeito às individualidades é oficialmente (e desde sempre) muito menos respeitado do que nos EUA: a Rússia. Não deixa de ser significativo — e, em grande medida, honroso — para nós que, vendo o tempo de refúgio temporário se esvair e querendo encontrar-se em ambiente mais confortável, ele tenha pensado no Brasil, começando a namorar-nos num texto vago, aparentemente escrito para sondar a reação das nossas autoridades, que poderá se traduzir em pedido oficial de asilo político caso exibamos simpatia. (Antes de conseguir o asilo temporário que a Rússia lhe concedeu, Snowden expediu pedido para 21 países, o Brasil entre eles, tendo sido atendido apenas por Bolívia, Venezuela e Nicarágua.)
No dia 5 de fevereiro, na sede da Anistia Internacional, no Rio, haverá uma reunião para abrir o debate sobre a possibilidade de o Brasil finalmente dar asilo ao americano. Glenn Greenwald, o jornalista a quem primeiro Snowden falou sobre os supergrampos da NSA, já disse que nosso país é sua escolha preferencial. E David Miranda, o namorado de Greenwald, é o autor da petição na Avaaz para que o governo brasileiro conceda o asilo a Snowden. Emocionalmente, é-me quase irresistível aderir à campanha de Miranda (que ficou horas preso no antipático aeroporto londrino de Heathrow sob suspeita de “terrorismo”). Não estou no Rio e não estarei lá no dia 5. Se estivesse, iria à Anistia para ouvir o debate e me sentir mais seguro para assinar a petição na Avaaz.
Falta-me sobretudo pesar racionalmente a questão. No coração, desejo que Snowden venha morar no Rio e fique muito mais apaixonado pelo Brasil do que Ronald Biggs. Vivo num mundo de sonhos cor-de-rosa e ficaria feliz se um cara como o jovem americano se ligasse mais ao Jardim Botânico do que Brigitte Bardot se ligou a Búzios. Seja como for, sinto, sem piada, que seria um gesto bonito acolher Snowden. Claro que quero que as relações entre o Brasil e os Estados Unidos possam melhorar e não sou tão desinteressado assim do assento brasileiro no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Preferiria nada arriscar a perder oportunidades para o Brasil. Sou amalucadamente patriota. Mas é porque quero que se invente algo bom tendo o Brasil como pretexto. Claro que, num mundo ideal, eu teria meu Brasil acumulando poderes para redimensionar os valores por trás do Poder. Dessa perspectiva irrealista é que o asilo a Snowden me parece totalmente desejável. Mas não só. Há mil situações realistas entrelaçadas em diferentes instâncias dessa minha visão irreal. Faz uma semana, escrevi aqui uma série de maluquices sob a palavra “superstição”. Sou esse tipo de cara. Eu mesmo não estou certo de onde começa e onde acaba a ironia em minha ideias e em minhas frases. Deve ser o hábito da letra de música, coisa tão próxima à poesia. Basta-me que algumas palavras confusas cheguem a ser sugestivas. Aliás, nem é muito preciso dizer que isso me basta: não é que me baste, é que suponho que assim vou mais longe do que iria se me ativesse à prosa explicativa. Sonho que, se nós chegássemos a persuadir a presidente Dilma a conceder o asilo a Snowden, uma luz nova se insinuaria na Terra. Isso é vivido agora de modo um tanto supersticioso: se chegarmos a convencer o nosso governo, é porque as forças inexplicáveis estarão sinalizando que algo quase maravilhoso vai dar pé. Vejam aonde um convite para ir à sede da Anistia Internacional me trouxe. E um convite a que nem posso atender.
Sexo sem informação - JAIRO BOUER
O Estado de S.Paulo - 02/02
Uma nova pesquisa sobre sexualidade, feita pela Universidade Yale, com mil mulheres entre 18 e 40 anos nos Estados Unidos, e divulgada na semana passada pela agência de notícias AFP, mostra que muitas delas desconhecem informações básicas sobre sua saúde reprodutiva.
O estudo, publicado na revista Fertility and Sterility, do mês passado, aponta que, embora 40% das mulheres tenham preocupações sobre sua capacidade de conceber, 30% delas desconhecem os efeitos que doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), obesidade, ciclos irregulares e idade têm sobre sua possibilidade de engravidar. Metade das mulheres não conversa com seu médico sobre o assunto e 30% delas não fazem prevenção anual (Papanicolau). As mais jovens, de 18 a 24 anos, são as que têm menos informação sobre fertilidade e ovulação.
Outro estudo de grandes proporções (a terceira pesquisa nacional de atitudes sexuais e estilos de vida), realizado no Reino Unido a cada 10 anos e divulgado no fim do ano passado, entrevistou 15 mil adultos de 16 a 74 anos e trouxe conclusões importantes sobre a saúde sexual da população.
Os britânicos começam a fazer sexo mais cedo e mantêm vida sexual mais longa. A média de parceiras sexuais na vida aumentou para os homens de 8,6 (em 1990-1991) para 11,7 em (2010-2012). No mesmo período, as mulheres saltaram de 3,7 para 7,7 parceiros. Elas (e não eles) foram as que sofreram mudanças mais importantes em seu comportamento sexual.
Mesmo assim, só uma em cada quatro mulheres (24%) que disseram que problemas de saúde afetam sua vida sexual buscaram ajuda médica no ano anterior à pesquisa. Entre os homens, esse índice foi ainda menor (18%). Embora 40% de homens e mulheres tenham enfrentado algum problema recente em sua vida sexual, apenas 10% se preocupam com sua saúde sexual. Falta de desejo apareceu como a dificuldade sexual mais frequente na população britânica, afetando 15% dos homens e 30% das mulheres.
Entre as DSTs, a clamídia e o HPV são os agentes mais frequentes na população geral. A introdução da vacina contra HPV já parece diminuir a frequência do vírus na população feminina jovem - bom lembrar que, por aqui, a vacinação no SUS começa para as meninas de 11 a 13 anos em março.
Outra nova pesquisa de comportamento sexual, realizada por um fabricante de preservativos, divulgada há duas semanas, consultou 29 mil adultos, de 18 a 65 anos, em 37 países. No Brasil, foram mil entrevistados. Por aqui, 51% das pessoas disseram estar insatisfeitas com sua vida sexual. Para eles, problemas de ereção são a grande preocupação. Para elas, alcançar o orgasmo. Há uma grande barreira em se admitir uma dificuldade sexual, tanto para os homens quanto para as mulheres.
Na percepção dos brasileiros, a relação entre qualidade do sexo, bem-estar e redução do estresse parece estar clara. Apesar disso, o estudo, realizado anualmente, reforça a tendência da dificuldade de comunicação do casal quando o assunto é sexo.
Os resultados dos recentes trabalhos apontam para algumas tendências comuns, que refletem a realidade da vida sexual na maior parte do mundo ocidental. Embora haja diferenças regionais, a vida sexual hoje é mais precoce, mais variada (com maior número de parceiros) e mais duradoura. Também há uma percepção clara do sexo como um dos elementos fundamentais para uma melhor qualidade de vida.
Mas esse novo "status" da sexualidade ainda não parece ter se seguido de uma melhor comunicação entre os casais ou de uma busca mais frequente e menos envergonhada dos serviços de saúde. Para muita gente, tratar sobre sexo, fazer controles, checar e se informar sobre saúde sexual seguem como grandes tabus. Mas é justamente nessa "desinibição" em falar com médicos e parceiros sobre o corpo e o sexo que pode estar a grande chance para uma vida sexual mais tranquila, mais plena e com menos dificuldades. Escolas e famílias também prestariam um grande serviço se pudessem facilitar o acesso às informações e encurtar a distância entre os jovens e os serviços de saúde.
Uma nova pesquisa sobre sexualidade, feita pela Universidade Yale, com mil mulheres entre 18 e 40 anos nos Estados Unidos, e divulgada na semana passada pela agência de notícias AFP, mostra que muitas delas desconhecem informações básicas sobre sua saúde reprodutiva.
O estudo, publicado na revista Fertility and Sterility, do mês passado, aponta que, embora 40% das mulheres tenham preocupações sobre sua capacidade de conceber, 30% delas desconhecem os efeitos que doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), obesidade, ciclos irregulares e idade têm sobre sua possibilidade de engravidar. Metade das mulheres não conversa com seu médico sobre o assunto e 30% delas não fazem prevenção anual (Papanicolau). As mais jovens, de 18 a 24 anos, são as que têm menos informação sobre fertilidade e ovulação.
Outro estudo de grandes proporções (a terceira pesquisa nacional de atitudes sexuais e estilos de vida), realizado no Reino Unido a cada 10 anos e divulgado no fim do ano passado, entrevistou 15 mil adultos de 16 a 74 anos e trouxe conclusões importantes sobre a saúde sexual da população.
Os britânicos começam a fazer sexo mais cedo e mantêm vida sexual mais longa. A média de parceiras sexuais na vida aumentou para os homens de 8,6 (em 1990-1991) para 11,7 em (2010-2012). No mesmo período, as mulheres saltaram de 3,7 para 7,7 parceiros. Elas (e não eles) foram as que sofreram mudanças mais importantes em seu comportamento sexual.
Mesmo assim, só uma em cada quatro mulheres (24%) que disseram que problemas de saúde afetam sua vida sexual buscaram ajuda médica no ano anterior à pesquisa. Entre os homens, esse índice foi ainda menor (18%). Embora 40% de homens e mulheres tenham enfrentado algum problema recente em sua vida sexual, apenas 10% se preocupam com sua saúde sexual. Falta de desejo apareceu como a dificuldade sexual mais frequente na população britânica, afetando 15% dos homens e 30% das mulheres.
Entre as DSTs, a clamídia e o HPV são os agentes mais frequentes na população geral. A introdução da vacina contra HPV já parece diminuir a frequência do vírus na população feminina jovem - bom lembrar que, por aqui, a vacinação no SUS começa para as meninas de 11 a 13 anos em março.
Outra nova pesquisa de comportamento sexual, realizada por um fabricante de preservativos, divulgada há duas semanas, consultou 29 mil adultos, de 18 a 65 anos, em 37 países. No Brasil, foram mil entrevistados. Por aqui, 51% das pessoas disseram estar insatisfeitas com sua vida sexual. Para eles, problemas de ereção são a grande preocupação. Para elas, alcançar o orgasmo. Há uma grande barreira em se admitir uma dificuldade sexual, tanto para os homens quanto para as mulheres.
Na percepção dos brasileiros, a relação entre qualidade do sexo, bem-estar e redução do estresse parece estar clara. Apesar disso, o estudo, realizado anualmente, reforça a tendência da dificuldade de comunicação do casal quando o assunto é sexo.
Os resultados dos recentes trabalhos apontam para algumas tendências comuns, que refletem a realidade da vida sexual na maior parte do mundo ocidental. Embora haja diferenças regionais, a vida sexual hoje é mais precoce, mais variada (com maior número de parceiros) e mais duradoura. Também há uma percepção clara do sexo como um dos elementos fundamentais para uma melhor qualidade de vida.
Mas esse novo "status" da sexualidade ainda não parece ter se seguido de uma melhor comunicação entre os casais ou de uma busca mais frequente e menos envergonhada dos serviços de saúde. Para muita gente, tratar sobre sexo, fazer controles, checar e se informar sobre saúde sexual seguem como grandes tabus. Mas é justamente nessa "desinibição" em falar com médicos e parceiros sobre o corpo e o sexo que pode estar a grande chance para uma vida sexual mais tranquila, mais plena e com menos dificuldades. Escolas e famílias também prestariam um grande serviço se pudessem facilitar o acesso às informações e encurtar a distância entre os jovens e os serviços de saúde.
Kafkalifórnia - TONY BELLOTTO
O GLOBO - 02/02
Cenas de uma viagem em família a São Francisco
1. Ao chegar em Los Angeles constatamos que nossas quatro malas sumiram. A empresa aérea americana, com o mau humor típico de seus funcionários, não nos fornece maiores explicações. Abrimos um protocolo. Seguimos no voo de conexão para São Francisco cientes de que só contamos com as roupas do corpo para a primeira fase de nossa viagem de férias. Pela janela do jato avistamos uma nuvem em forma de interrogação. Na minha mochila, atestando uma irônica sincronicidade, um livro de Franz Kafka*.
2. Kafka, o escritor tcheco de língua alemã, é célebre por sua prosa enigmática e perturbadora, sobre a qual o crítico alemão Günther Anders disserta: “A fisionomia do mundo kafkiano parece desloucada (trocadilho entre verrückt, particípio passado de verrücken, ‘deslocar’, e o adjetivo verrückten, que significa ‘louco’). Mas Kafka deslouca a aparência aparentemente normal do nosso mundo louco, para tornar visível sua loucura. Manipula, contudo, essa aparência louca como algo muito normal e, com isso, descreve até mesmo o fato louco de que o mundo louco seja considerado normal.”
3. A falta das malas em nada — ou quase nada — atrapalha os passeios da família pela mais bela e liberal das cidades americanas no primeiro dia da viagem. Lembramos que o santo que nomeia a cidade é o mais desapegado dos santos e que devemos tomar o extravio das malas como uma sugestão de aprimoramento espiritual. O fato de ainda vestirmos as mesmas roupas com que saímos do Rio nos ajuda a vivenciar com mais intensidade as horas passadas na livraria City Lights, onde nasceu o movimento beat e, de certa forma, o movimento hippie. Na imensa loja de discos Amoeba — um supermercado em que só se vende música —, talvez a última grande loja exclusiva de discos do mundo, podemos, com nossas roupas surradas, nos deliciar como monges freaks por corredores lotados de discos. Como uma recompensa à nossa resignação, duas das malas — as malas do casal — aportam no hotel durante a madrugada com a aparência de aves cansadas.
4. Ao acordar de sonhos intranquilos, volto a Kafka, que me espreita da mesa de cabeceira do quarto do hotel: no texto de introdução de “A metamorfose”, o escritor Modesto Carone, também tradutor do livro, cita uma tirada de Roberto Schwarcz sobre a novela perfeita, considerada a obra-prima do tcheco de afiada língua alemã: “É uma história que começa mal e termina pior ainda”.
5. No dia em que partimos de carro pela Highway One em direção a Los Angeles, a terceira mala já retornou à órbita familiar, apesar de inapelavelmente danificada, pois alguém se incumbiu de arrebentar-lhe a trava de segurança. Seu conteúdo, porém, permanece intacto. A quarta mala, entretanto, continua desaparecida em algum ponto do quadrilátero formado, em suas linhas horizontais, por México e Canadá, e pelos oceanos Atlântico e Pacífico nas verticais. As paisagens deslumbrantes da costa californiana são suficientes para afugentar momentaneamente a comparação de nossa família com a família Griswold, de “Férias frustradas”, a comédia de 1983 que mostra a odisseia dos Griswold em busca do Walley Park.
6. O rádio no carro desfila clássicos do rock de todos os tempos. Leões marinhos nos acenam das pedras à beira-mar. Em Big Sur, uma placa no acostamento da estrada nos lembra de que o escritor Henry Miller viveu ali por muitos anos. Esqueço Kafka por algumas horas e me deixo levar pela surf music de Dick Dale. O sol da Califórnia se parece com o sol dos incas.
7. Só em Los Angeles, uma semana após nossa chegada aos Estados Unidos, a quarta mala é devolvida. Estávamos a ponto de começar a preencher o relatório final, aquele que dava a mala como irremediavelmente perdida, quando a última mala adentrou o quarto do hotel com passo claudicante e aspecto de alienígena de Roswell. Comemoramos abraçados, dando pulos. Seria o extravio das malas apenas uma estratégia da companhia aérea para, ao devolvê-las, proporcionar um júbilo não programado aos seus clientes?
8. A viagem, ao contrário de “A metamorfose”, termina com um final feliz no Havaí. Outros membros da família juntam-se a nós num grande luau afetivo. Para alguém que na adolescência descia de skate as ladeiras da Avenida Ruy Barbosa em Assis, interior de São Paulo, fantasiando que dropava uma onda de Pipeline, conhecer as praias míticas do north shore de Oahu tem o sabor de uma revelação. Nas areias de Waimea, como num cinema transcendental de Caetano Veloso, volto a Kafka interrompendo a leitura de vez em quando para observar as manobras agudas dos surfistas poetas: “Na luta entre você e o mundo, apoie o mundo”, ensina o mestre tcheco. Aloha.
* Essencial Franz Kafka, Companhia das Letras/Penguin Classics. Seleção, introdução e tradução de Modesto Carone.
Cenas de uma viagem em família a São Francisco
1. Ao chegar em Los Angeles constatamos que nossas quatro malas sumiram. A empresa aérea americana, com o mau humor típico de seus funcionários, não nos fornece maiores explicações. Abrimos um protocolo. Seguimos no voo de conexão para São Francisco cientes de que só contamos com as roupas do corpo para a primeira fase de nossa viagem de férias. Pela janela do jato avistamos uma nuvem em forma de interrogação. Na minha mochila, atestando uma irônica sincronicidade, um livro de Franz Kafka*.
2. Kafka, o escritor tcheco de língua alemã, é célebre por sua prosa enigmática e perturbadora, sobre a qual o crítico alemão Günther Anders disserta: “A fisionomia do mundo kafkiano parece desloucada (trocadilho entre verrückt, particípio passado de verrücken, ‘deslocar’, e o adjetivo verrückten, que significa ‘louco’). Mas Kafka deslouca a aparência aparentemente normal do nosso mundo louco, para tornar visível sua loucura. Manipula, contudo, essa aparência louca como algo muito normal e, com isso, descreve até mesmo o fato louco de que o mundo louco seja considerado normal.”
3. A falta das malas em nada — ou quase nada — atrapalha os passeios da família pela mais bela e liberal das cidades americanas no primeiro dia da viagem. Lembramos que o santo que nomeia a cidade é o mais desapegado dos santos e que devemos tomar o extravio das malas como uma sugestão de aprimoramento espiritual. O fato de ainda vestirmos as mesmas roupas com que saímos do Rio nos ajuda a vivenciar com mais intensidade as horas passadas na livraria City Lights, onde nasceu o movimento beat e, de certa forma, o movimento hippie. Na imensa loja de discos Amoeba — um supermercado em que só se vende música —, talvez a última grande loja exclusiva de discos do mundo, podemos, com nossas roupas surradas, nos deliciar como monges freaks por corredores lotados de discos. Como uma recompensa à nossa resignação, duas das malas — as malas do casal — aportam no hotel durante a madrugada com a aparência de aves cansadas.
4. Ao acordar de sonhos intranquilos, volto a Kafka, que me espreita da mesa de cabeceira do quarto do hotel: no texto de introdução de “A metamorfose”, o escritor Modesto Carone, também tradutor do livro, cita uma tirada de Roberto Schwarcz sobre a novela perfeita, considerada a obra-prima do tcheco de afiada língua alemã: “É uma história que começa mal e termina pior ainda”.
5. No dia em que partimos de carro pela Highway One em direção a Los Angeles, a terceira mala já retornou à órbita familiar, apesar de inapelavelmente danificada, pois alguém se incumbiu de arrebentar-lhe a trava de segurança. Seu conteúdo, porém, permanece intacto. A quarta mala, entretanto, continua desaparecida em algum ponto do quadrilátero formado, em suas linhas horizontais, por México e Canadá, e pelos oceanos Atlântico e Pacífico nas verticais. As paisagens deslumbrantes da costa californiana são suficientes para afugentar momentaneamente a comparação de nossa família com a família Griswold, de “Férias frustradas”, a comédia de 1983 que mostra a odisseia dos Griswold em busca do Walley Park.
6. O rádio no carro desfila clássicos do rock de todos os tempos. Leões marinhos nos acenam das pedras à beira-mar. Em Big Sur, uma placa no acostamento da estrada nos lembra de que o escritor Henry Miller viveu ali por muitos anos. Esqueço Kafka por algumas horas e me deixo levar pela surf music de Dick Dale. O sol da Califórnia se parece com o sol dos incas.
7. Só em Los Angeles, uma semana após nossa chegada aos Estados Unidos, a quarta mala é devolvida. Estávamos a ponto de começar a preencher o relatório final, aquele que dava a mala como irremediavelmente perdida, quando a última mala adentrou o quarto do hotel com passo claudicante e aspecto de alienígena de Roswell. Comemoramos abraçados, dando pulos. Seria o extravio das malas apenas uma estratégia da companhia aérea para, ao devolvê-las, proporcionar um júbilo não programado aos seus clientes?
8. A viagem, ao contrário de “A metamorfose”, termina com um final feliz no Havaí. Outros membros da família juntam-se a nós num grande luau afetivo. Para alguém que na adolescência descia de skate as ladeiras da Avenida Ruy Barbosa em Assis, interior de São Paulo, fantasiando que dropava uma onda de Pipeline, conhecer as praias míticas do north shore de Oahu tem o sabor de uma revelação. Nas areias de Waimea, como num cinema transcendental de Caetano Veloso, volto a Kafka interrompendo a leitura de vez em quando para observar as manobras agudas dos surfistas poetas: “Na luta entre você e o mundo, apoie o mundo”, ensina o mestre tcheco. Aloha.
* Essencial Franz Kafka, Companhia das Letras/Penguin Classics. Seleção, introdução e tradução de Modesto Carone.
Logicamente impecável - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 02/02
SÃO PAULO - Por ocasião do Dia do Holocausto, o rabino Michel Schlesinger e o cardeal dom Odilo Scherer publicaram na edição de segunda desta Folha um interessante artigo em que levantam uma questão que há séculos atormenta religiosos: como conciliar a ideia de um deus bom com o sofrimento de inocentes. "Como se pode ainda acreditar em Deus depois de Auschwitz?", escreveram.
Schlesinger e Scherer concluem que o Holocausto não foi obra de Deus, mas de homens e suas ideologias. Como não acredito em Deus, concordo, mas, para os que creem, receio que não seja tão fácil assim limpar a barra do Criador. O problema do mal, conhecido como teodiceia, constitui uma dificuldade filosófica real, e as respostas até hoje oferecidas deixam muito a desejar.
O argumento antiteísta é simples. Se há um deus onisciente, onipotente e benevolente, então não existe mal. Ora, há mal no mundo. Portanto, um deus onisciente, onipotente e benevolente não existe. A forma lógica do raciocínio, "modus tollens", é impecável. Se as premissas são verdadeiras, a conclusão necessariamente também o é. Daí que, para esboçar uma resposta, é preciso negar a onipotência/onisciência de Deus, sua benevolência ou a existência do mal.
Todas foram tentadas. Especialmente os cristãos gostam de afirmar que Deus renunciou a interferir em ações humanas para nos dar o livre-arbítrio. Outra saída popular é dizer que, ao contrário de Deus, nós não temos todas as informações e é possível que o que nos pareça um mal ou uma injustiça sejam, na verdade, um meio para produzir um bem maior.
Tais respostas permitem um rico debate filosófico, mas não me convencem. Por que então Deus não criou homens incapazes de fazer o mal, para início de conversa? A hipótese mais simples, de que não há um deus com os três atributos, me parece infinitamente mais plausível. E também torna mais fácil responsabilizar os homens por suas ações.
SÃO PAULO - Por ocasião do Dia do Holocausto, o rabino Michel Schlesinger e o cardeal dom Odilo Scherer publicaram na edição de segunda desta Folha um interessante artigo em que levantam uma questão que há séculos atormenta religiosos: como conciliar a ideia de um deus bom com o sofrimento de inocentes. "Como se pode ainda acreditar em Deus depois de Auschwitz?", escreveram.
Schlesinger e Scherer concluem que o Holocausto não foi obra de Deus, mas de homens e suas ideologias. Como não acredito em Deus, concordo, mas, para os que creem, receio que não seja tão fácil assim limpar a barra do Criador. O problema do mal, conhecido como teodiceia, constitui uma dificuldade filosófica real, e as respostas até hoje oferecidas deixam muito a desejar.
O argumento antiteísta é simples. Se há um deus onisciente, onipotente e benevolente, então não existe mal. Ora, há mal no mundo. Portanto, um deus onisciente, onipotente e benevolente não existe. A forma lógica do raciocínio, "modus tollens", é impecável. Se as premissas são verdadeiras, a conclusão necessariamente também o é. Daí que, para esboçar uma resposta, é preciso negar a onipotência/onisciência de Deus, sua benevolência ou a existência do mal.
Todas foram tentadas. Especialmente os cristãos gostam de afirmar que Deus renunciou a interferir em ações humanas para nos dar o livre-arbítrio. Outra saída popular é dizer que, ao contrário de Deus, nós não temos todas as informações e é possível que o que nos pareça um mal ou uma injustiça sejam, na verdade, um meio para produzir um bem maior.
Tais respostas permitem um rico debate filosófico, mas não me convencem. Por que então Deus não criou homens incapazes de fazer o mal, para início de conversa? A hipótese mais simples, de que não há um deus com os três atributos, me parece infinitamente mais plausível. E também torna mais fácil responsabilizar os homens por suas ações.
Um artista do convívio - HUMBERTO WERNECK
O Estado de S.Paulo - 02/02
Tudo, daqui por diante, me fará lembrar de Donizete Galvão, bruscamente desaparecido na madrugada de quinta-feira passada, aos 58 anos de idade. A poesia, é claro, a um tempo delicada e forte, que ele destilou em livros ao longo de um quarto de século, sete magros porém substanciosos volumes a que volto sempre, e aos quais, a partir de agora, voltarei também pela falta que já me faz o autor.
Mas não é só a poesia que me fará lembrar de Donizete. Foi nisso que pensei quando, no velório, ao topar com dois, com seis, com dez ou mais amigos comuns, repassei a genealogia de minhas relações para constatar que a ele devo aquelas e outras tantas amizades, e seus desdobramentos. Pois o Doni, mineiro de Borda da Mata transplantado para São Paulo em meados dos anos 70, foi um tremendo agregador de afetos. Como esquecer os "sabadônis", forrobodós que ele, ao lado da mulher, Ana Tereza, e dos filhos, Bruno e Anna Lívia, promovia em sábados tornados ainda mais especiais por prosa e mesa genuinamente mineiras?
Foi ali, na rua Anatalícia Ferreira da Silva (quem terá sido essa criatura, brincava eu numa reiterada sem-gracice, cujo prenome sugere desaniversários?), foi ali que, mesmo não sendo dos mais assíduos, conheci os romancistas Luiz Ruffato e Ricardo Lísias, e todo um time de poetas: Carlos Machado, Esio Macedo Ribeiro, Fabio Weintraub, Ruy Proença, Sérgio Alcides, Sônia Barros, Tarso de Melo. Foi também à sombra de Donizete Galvão que vi pela primeira vez a Eltânia André, o Ivan Marques, a Leusa Araujo, o Mario Rui Feliciani e o Ronaldo Cagiano. Faltou alguém? São tantos. Tinha, o Doni, ótimo faro para gente boa, e habilidade para combinar achados.
Melhor pôr sob reserva o "gente boa", pois também eu fui, faz quase 20 anos, fagocitado pelo carinho nunca estridente desse garimpeiro de camaradagens. Já não poderei dizer a ele o quanto lhe fiquei devendo pela suave insistência com que bateu à minha porta, num instante em que o sofrimento ameaçava fazer de mim um ser inóspito.
Até aí nos conhecíamos de raspão, e o Donizete, com livro novo, Do Silêncio da Pedra, veio para perto. Não, não era um autor a mais em busca de mãozinha na divulgação. Dentro do exemplar que me enviou, este bilhete: "A rapaziada mineira (alguns não tão rapazes assim) continuada desatinada. Um dos desatinos é insistir em publicar poesia. Não é uma coisa de louco? No caso dos mineiros, loucos mansos".
Quando vi, lá estava eu, tão prosa, infiltrado por ele num debate em torno de poesia. Na saída, um disco de Nina Simone e um toque em versos despretensiosos: "A música é um ímã da poesia / Ora faz com que a gente se desespere / quando com nota pontiaguda nos fere / Ora da imperfeição humana nos isola / quando feito um bálsamo nos consola". Daí em diante, ainda que sem grandes efusões (numa "não muito estouvada confraternização", diria melhor Carlos Drummond), seguimos encontrados.
Ao menor pretexto, ou a pretexto algum, Donizete se fazia presente também com agrados sempre certeiros. A gravura de tiragem baixa de Amilcar de Castro (era ligadíssimo nas artes visuais) aqui nesta parede. Este exemplar de Lições de Abismo, de Gustavo Corção, na edição da Agir ilustrada por Oswaldo Goeldi. Um volume de 1914 sobre Mantegna. Poemas de Paul Celan. O soneto que ele, Donizete Galvão, me dedicou nas páginas de seu terceiro livro, A Carne e o Tempo, para o qual teve a temerária generosidade adicional de me pedir um texto de apresentação.
Nos últimos tempos, era mais por e-mail que a gente se falava, ou pelo Facebook, onde eu não perdia os agridoces comentários com que Doni, cético mas apaixonado, pontuava o nem sempre edificante andamento das coisas neste mundo. Houve um dia, não faz muito, em que o assunto sendo os rarefeitos encantos físicos da capital paulista, ele cravou: "A feiura de São Paulo tem suas vantagens. Quando nos visitam, não temos muita coisa bonita pra mostrar. Então temos de conversar".
Lamento informar aos visitantes que sem este tenaz artista do convívio o papo por aqui ficou mais pobre.
Tudo, daqui por diante, me fará lembrar de Donizete Galvão, bruscamente desaparecido na madrugada de quinta-feira passada, aos 58 anos de idade. A poesia, é claro, a um tempo delicada e forte, que ele destilou em livros ao longo de um quarto de século, sete magros porém substanciosos volumes a que volto sempre, e aos quais, a partir de agora, voltarei também pela falta que já me faz o autor.
Mas não é só a poesia que me fará lembrar de Donizete. Foi nisso que pensei quando, no velório, ao topar com dois, com seis, com dez ou mais amigos comuns, repassei a genealogia de minhas relações para constatar que a ele devo aquelas e outras tantas amizades, e seus desdobramentos. Pois o Doni, mineiro de Borda da Mata transplantado para São Paulo em meados dos anos 70, foi um tremendo agregador de afetos. Como esquecer os "sabadônis", forrobodós que ele, ao lado da mulher, Ana Tereza, e dos filhos, Bruno e Anna Lívia, promovia em sábados tornados ainda mais especiais por prosa e mesa genuinamente mineiras?
Foi ali, na rua Anatalícia Ferreira da Silva (quem terá sido essa criatura, brincava eu numa reiterada sem-gracice, cujo prenome sugere desaniversários?), foi ali que, mesmo não sendo dos mais assíduos, conheci os romancistas Luiz Ruffato e Ricardo Lísias, e todo um time de poetas: Carlos Machado, Esio Macedo Ribeiro, Fabio Weintraub, Ruy Proença, Sérgio Alcides, Sônia Barros, Tarso de Melo. Foi também à sombra de Donizete Galvão que vi pela primeira vez a Eltânia André, o Ivan Marques, a Leusa Araujo, o Mario Rui Feliciani e o Ronaldo Cagiano. Faltou alguém? São tantos. Tinha, o Doni, ótimo faro para gente boa, e habilidade para combinar achados.
Melhor pôr sob reserva o "gente boa", pois também eu fui, faz quase 20 anos, fagocitado pelo carinho nunca estridente desse garimpeiro de camaradagens. Já não poderei dizer a ele o quanto lhe fiquei devendo pela suave insistência com que bateu à minha porta, num instante em que o sofrimento ameaçava fazer de mim um ser inóspito.
Até aí nos conhecíamos de raspão, e o Donizete, com livro novo, Do Silêncio da Pedra, veio para perto. Não, não era um autor a mais em busca de mãozinha na divulgação. Dentro do exemplar que me enviou, este bilhete: "A rapaziada mineira (alguns não tão rapazes assim) continuada desatinada. Um dos desatinos é insistir em publicar poesia. Não é uma coisa de louco? No caso dos mineiros, loucos mansos".
Quando vi, lá estava eu, tão prosa, infiltrado por ele num debate em torno de poesia. Na saída, um disco de Nina Simone e um toque em versos despretensiosos: "A música é um ímã da poesia / Ora faz com que a gente se desespere / quando com nota pontiaguda nos fere / Ora da imperfeição humana nos isola / quando feito um bálsamo nos consola". Daí em diante, ainda que sem grandes efusões (numa "não muito estouvada confraternização", diria melhor Carlos Drummond), seguimos encontrados.
Ao menor pretexto, ou a pretexto algum, Donizete se fazia presente também com agrados sempre certeiros. A gravura de tiragem baixa de Amilcar de Castro (era ligadíssimo nas artes visuais) aqui nesta parede. Este exemplar de Lições de Abismo, de Gustavo Corção, na edição da Agir ilustrada por Oswaldo Goeldi. Um volume de 1914 sobre Mantegna. Poemas de Paul Celan. O soneto que ele, Donizete Galvão, me dedicou nas páginas de seu terceiro livro, A Carne e o Tempo, para o qual teve a temerária generosidade adicional de me pedir um texto de apresentação.
Nos últimos tempos, era mais por e-mail que a gente se falava, ou pelo Facebook, onde eu não perdia os agridoces comentários com que Doni, cético mas apaixonado, pontuava o nem sempre edificante andamento das coisas neste mundo. Houve um dia, não faz muito, em que o assunto sendo os rarefeitos encantos físicos da capital paulista, ele cravou: "A feiura de São Paulo tem suas vantagens. Quando nos visitam, não temos muita coisa bonita pra mostrar. Então temos de conversar".
Lamento informar aos visitantes que sem este tenaz artista do convívio o papo por aqui ficou mais pobre.
Demagogia inclusiva - ASTOR WARTCHOW
ZERO HORA - 02/02
Essa onda do politicamente correto criou algumas preciosidades patéticas
“Boa noite a todos e todas. Quero saudar a presença de todos e todas”. Com certeza, você já ouviu, ultimamente, essas expressões em solenidades político-partidário-governamentais ou acadêmico-universitárias. Se não ouviu, com certeza, ouvirá!
Trata-se de um modismo denominado “linguagem inclusiva”. Sua utilização massiva teria se originado de reivindicação de movimento feminino. No entender das militantes, a gramática nacional torna as mulheres “invisíveis”. Entendem que a denominação genérica “todos” consolida e mantém uma supremacia masculina do cotidiano político, social e familiar.
Essa expressão é apenas mais uma apropriação linguística entre centenas que surfam na onda do politicamente correto, uma praga que multiplicou seus fiéis. E que acreditam que a linguagem pode mudar a realidade.
Ora, ora, no máximo, conseguem influenciar a linguagem, mas não mudam a realidade. Consulte qualquer professor de português. São expressões redundantes. O português é uma língua que não tem o gênero neutro. De modo que o gênero masculino (todos!) ocupa esse papel.
E isso não tem nada a ver com machismo e exclusão social. Se pretendem de fato valorizar as mulheres devem encontrar outras soluções. Na vida real, não no campo da retórica. Aliás, é até um desrespeito tratar as pessoas assim, subestimando sua inteligência e sua percepção da realidade. E, sem dúvida, um desrespeito à gramática.
Essa onda do politicamente correto criou algumas preciosidades patéticas. Um exemplo é o tratamento verbal dispensado aos idosos. Velhice passou a ser chamada de “terceira idade”. Ou como dizem alguns mais exagerados e abusados: “melhor idade”.
Até parece que nunca conversaram com idosos sobre os inúmeros problemas e transtornos que decorrem da chegada ou do avanço da idade. São eufemismos ofensivos à realidade que as pessoas enfrentam na vida cotidiana.
Não vai demorar muito e veremos campanhas para
“abolir” expressões e/ou “domar” palavras tidas como perniciosas (sic) ao convívio social. Como se a língua fosse um “animal domesticável”.
Uma coisa são campanhas de esclarecimento e conscientização educacional e política, ou políticas públicas antidiscriminatórias e de transformação social. Outra coisa é manipular palavras.
“Todos e todas” é apenas mais uma das dezenas (ou serão centenas?) de bobagens com que o populismo e a demagogia nos brindam de tempos em tempos. E continuarão brindando.
Ou já esqueceram aquela ação de um procurador do Ministério Público Federal que tentou tirar de circulação o dicionário Houaiss, ou, a edição de lei que manda nominar bacharel mulher de bacharela e, ou, a recente perseguição judicial às obras de Monteiro Lobato?
A atleta que disse ‘não’ ao sistema - DORRIT HARAZIM
O GLOBO - 02/02
A tenista chinesa Li Na sempre foi espirituosa, ao contrário de seus camaradas-atletas menos afeitos a entrevistas coletivas. Mas, depois de vencer o Grand Slam da Austrália no último dia 25 em Melbourne, ela se superou.
“Agradeço a meu agente Max, que me tornou rica”, disse a esportista-ícone do país de regime comunista. Li acabara de embolsar US$ 2,3 milhões pela vitória. E o prêmio vai engordar o cofrinho de US$ 40 milhões que a terceira atleta mais bem paga do mundo vem alimentando com contratos desde 2010.
Agradeceu em seguida ao marido também tenista, que namora desde a adolescência. “Meu saco de pancada, meu faz-tudo. Muito obrigada. Você é um cara muito bacana. Teve muita sorte de me encontrar.”
Agradeceu por fim à legião de fãs, que a idolatram como Grande Irmã Na. Só no Weibo, o Twitter local, Li tem 21 milhões de seguidores. Três anos atrás, quando ela disputou a primeira conquista de Grand Slam, 116 milhões de compatriotas acompanharam o jogo pela televisão — audiência maior do que a do Super Bowl do ano passado.
Mais uma vez, a ausência de qualquer referência à pátria e ao sistema chinês de incentivo ao esporte foi gritante. Já em 2011, ao se tornar a primeira e até hoje única tenista da Ásia a vencer um torneio Grand Slam, Li fizera questão de não se declarar devedora da máquina estatal de produzir atletas.
Para o regime de Beijing o caso Li Na representa um teste delicado numa seara pouco testada da evolução política do país. Há vezes em que a mídia estatal aproveita as frequentes oscilações de desempenho da tenista na quadra para intensificar seus ataques contra o que chama de individualismo nocivo da atleta. Não tem dado certo.
Após o colapso da tenista no Aberto da França no ano passado, por exemplo, um repórter da agência Xinhua instou-a a explicar “aos fãs na pátria mãe” o motivo de resultado tão decepcionante. A resposta veio cortante: “Perdi uma partida, foi isso. Devo ficar de joelhos e me prostrar?”
Em 64 anos de autoridade comunista, a China jamais ouvira um atleta responder de forma tão insolente a um meio de comunicação oficial.
Desta vez, a Xinhua preferiu se fazer de surda e bateu tambor sozinha. Em editorial comemorativo à vitória da coqueluche nacional na Austrália a agência publicou um editorial intitulado “Por que Li teve êxito?”. A resposta: “O país cuidou de Li e a cultivou. O Estado é seu patrocinador.”
Na verdade, a interessante tenista de 31 anos é uma espécie de autoalforriada do sistema que vigora no país.
Fora empurrada a se especializar em badminton aos 5 anos de idade, para compensar a carreira de atleta do pai, abortada pela Revolução Cultural. Mas a precisão dos exames biométricos da escola de esportes local detectou a inadequação dos punhos e ombros da menina para o badminton. Ficou decidido que ela deveria se especializar em tênis, modalidade que poucos chineses praticavam ou sequer conheciam à época.
A partir daí sua rotina seguiu a engrenagem que há gerações testa, treina, forma e submete levas de jovens a duros limites físicos e mentais. Dia sim, outro também. Entra ano, sai ano. Li tinha 11 anos quando se rebelou pela primeira vez. Surtada de exaustão, recusara-se a prosseguir com um treino. Como castigo permaneceu de pé, imóvel, durante três dias de treinamento, ao cabo dos quais pediu desculpas. Só então foi autorizada a se mover.
Prevaleceu o talento. Após conquistar seu primeiro título nacional juvenil, Li passou dez meses imersa num centro de treinamento do Texas a convite da Nike. Ao voltar para casa, parecia destinada a ser a atleta-modelo da máquina chinesa de produzir campeões: aos 20 anos de idade, ela se tornara a nº 1 do país e seu nome já se aproximava da lista das 100 melhores tenistas do mundo.
Segundo um exaustivo perfil da tenista publicado no “New York Times”em agosto passado, foi então que Li Na simplesmente desapareceu.
“Sem avisar nenhum dos técnicos, Li escapuliu do centro de treinamento”, apurou o jornalista Brook Larmer. Para não levantar suspeitas, ela levou consigo apenas um pequeno nécessaire. E deixou na mesa do dormitório uma carta endereçada à diretoria anunciando sua aposentadoria precoce... Poucas horas depois, estava em Wuhan, sua cidade natal, com Jiang (o tenista Jiang Shan, seu namorado desde a adolescência e hoje marido, com quem era obrigada a se encontrar às escondidas). “Recomeçaram a vida como estudantes universitários.”
Um belo dia de 2006, passado mais de um ano desde a estrepitosa fuga, Li recebeu a visita-surpresa da nova responsável pelo programa nacional de tênis. Com a China mobilizada até o pescoço para brilhar nos Jogos Olímpicos de Beijing, a ex-tenista foi convidada a voltar com promessas de um futuro menos sufocante.
Li aceitou, só que o regime mudou menos do que o prometido.
Assim, logo que o país parou de festejar a supremacia de seu sistema esportivo (conquistou 51 medalhas de ouro em 2008 contra 36 dos Estados Unidos), Li Na anunciou que queria a alforria. Já conseguira chegar ao seleto grupo das 20 melhores tenistas do mundo e precisava de maior liberdade.
Para não perder a maior e mais celebrada atleta do país, o regime criou um programa biônico chamado danfei, ou “voo solo”, do qual já fazem parte também duas outras tenistas. Por esse sistema, Li treina como e com quem quer; faz a própria agenda de competições e repassa ao Estado apenas 15% do que ganha, em invés dos 65% que o regime garfa dos demais atletas. Tem por dever cumprir apenas um calendário básico de torneios nacionais e regionais.
Locomotiva de um esporte praticamente inexistente na China uma geração atrás, o fenômeno Li Na já tornou comercialmente viável a programação de oito torneios internacionais em 2014 só na cidade de Wuhan.
Contudo, como polo de um debate mais espinhoso sobre o papel da liberdade e do patriotismo no esporte, a tenista não quer abrir mão do que acredita ser sua maior conquista: “Só consigo representar a mim mesma.”
A tenista chinesa Li Na sempre foi espirituosa, ao contrário de seus camaradas-atletas menos afeitos a entrevistas coletivas. Mas, depois de vencer o Grand Slam da Austrália no último dia 25 em Melbourne, ela se superou.
“Agradeço a meu agente Max, que me tornou rica”, disse a esportista-ícone do país de regime comunista. Li acabara de embolsar US$ 2,3 milhões pela vitória. E o prêmio vai engordar o cofrinho de US$ 40 milhões que a terceira atleta mais bem paga do mundo vem alimentando com contratos desde 2010.
Agradeceu em seguida ao marido também tenista, que namora desde a adolescência. “Meu saco de pancada, meu faz-tudo. Muito obrigada. Você é um cara muito bacana. Teve muita sorte de me encontrar.”
Agradeceu por fim à legião de fãs, que a idolatram como Grande Irmã Na. Só no Weibo, o Twitter local, Li tem 21 milhões de seguidores. Três anos atrás, quando ela disputou a primeira conquista de Grand Slam, 116 milhões de compatriotas acompanharam o jogo pela televisão — audiência maior do que a do Super Bowl do ano passado.
Mais uma vez, a ausência de qualquer referência à pátria e ao sistema chinês de incentivo ao esporte foi gritante. Já em 2011, ao se tornar a primeira e até hoje única tenista da Ásia a vencer um torneio Grand Slam, Li fizera questão de não se declarar devedora da máquina estatal de produzir atletas.
Para o regime de Beijing o caso Li Na representa um teste delicado numa seara pouco testada da evolução política do país. Há vezes em que a mídia estatal aproveita as frequentes oscilações de desempenho da tenista na quadra para intensificar seus ataques contra o que chama de individualismo nocivo da atleta. Não tem dado certo.
Após o colapso da tenista no Aberto da França no ano passado, por exemplo, um repórter da agência Xinhua instou-a a explicar “aos fãs na pátria mãe” o motivo de resultado tão decepcionante. A resposta veio cortante: “Perdi uma partida, foi isso. Devo ficar de joelhos e me prostrar?”
Em 64 anos de autoridade comunista, a China jamais ouvira um atleta responder de forma tão insolente a um meio de comunicação oficial.
Desta vez, a Xinhua preferiu se fazer de surda e bateu tambor sozinha. Em editorial comemorativo à vitória da coqueluche nacional na Austrália a agência publicou um editorial intitulado “Por que Li teve êxito?”. A resposta: “O país cuidou de Li e a cultivou. O Estado é seu patrocinador.”
Na verdade, a interessante tenista de 31 anos é uma espécie de autoalforriada do sistema que vigora no país.
Fora empurrada a se especializar em badminton aos 5 anos de idade, para compensar a carreira de atleta do pai, abortada pela Revolução Cultural. Mas a precisão dos exames biométricos da escola de esportes local detectou a inadequação dos punhos e ombros da menina para o badminton. Ficou decidido que ela deveria se especializar em tênis, modalidade que poucos chineses praticavam ou sequer conheciam à época.
A partir daí sua rotina seguiu a engrenagem que há gerações testa, treina, forma e submete levas de jovens a duros limites físicos e mentais. Dia sim, outro também. Entra ano, sai ano. Li tinha 11 anos quando se rebelou pela primeira vez. Surtada de exaustão, recusara-se a prosseguir com um treino. Como castigo permaneceu de pé, imóvel, durante três dias de treinamento, ao cabo dos quais pediu desculpas. Só então foi autorizada a se mover.
Prevaleceu o talento. Após conquistar seu primeiro título nacional juvenil, Li passou dez meses imersa num centro de treinamento do Texas a convite da Nike. Ao voltar para casa, parecia destinada a ser a atleta-modelo da máquina chinesa de produzir campeões: aos 20 anos de idade, ela se tornara a nº 1 do país e seu nome já se aproximava da lista das 100 melhores tenistas do mundo.
Segundo um exaustivo perfil da tenista publicado no “New York Times”em agosto passado, foi então que Li Na simplesmente desapareceu.
“Sem avisar nenhum dos técnicos, Li escapuliu do centro de treinamento”, apurou o jornalista Brook Larmer. Para não levantar suspeitas, ela levou consigo apenas um pequeno nécessaire. E deixou na mesa do dormitório uma carta endereçada à diretoria anunciando sua aposentadoria precoce... Poucas horas depois, estava em Wuhan, sua cidade natal, com Jiang (o tenista Jiang Shan, seu namorado desde a adolescência e hoje marido, com quem era obrigada a se encontrar às escondidas). “Recomeçaram a vida como estudantes universitários.”
Um belo dia de 2006, passado mais de um ano desde a estrepitosa fuga, Li recebeu a visita-surpresa da nova responsável pelo programa nacional de tênis. Com a China mobilizada até o pescoço para brilhar nos Jogos Olímpicos de Beijing, a ex-tenista foi convidada a voltar com promessas de um futuro menos sufocante.
Li aceitou, só que o regime mudou menos do que o prometido.
Assim, logo que o país parou de festejar a supremacia de seu sistema esportivo (conquistou 51 medalhas de ouro em 2008 contra 36 dos Estados Unidos), Li Na anunciou que queria a alforria. Já conseguira chegar ao seleto grupo das 20 melhores tenistas do mundo e precisava de maior liberdade.
Para não perder a maior e mais celebrada atleta do país, o regime criou um programa biônico chamado danfei, ou “voo solo”, do qual já fazem parte também duas outras tenistas. Por esse sistema, Li treina como e com quem quer; faz a própria agenda de competições e repassa ao Estado apenas 15% do que ganha, em invés dos 65% que o regime garfa dos demais atletas. Tem por dever cumprir apenas um calendário básico de torneios nacionais e regionais.
Locomotiva de um esporte praticamente inexistente na China uma geração atrás, o fenômeno Li Na já tornou comercialmente viável a programação de oito torneios internacionais em 2014 só na cidade de Wuhan.
Contudo, como polo de um debate mais espinhoso sobre o papel da liberdade e do patriotismo no esporte, a tenista não quer abrir mão do que acredita ser sua maior conquista: “Só consigo representar a mim mesma.”
Decisões e crises políticas que nos afetam - JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS
O Estado de S.Paulo - 02/02
Todas as projeções disponíveis revelam que o crescimento global deste ano será maior que o de 2013. Mostram também que o mundo desenvolvido, liderado pelos EUA, é que vai puxar a expansão. Em vista disso, a política monetária americana está em pleno processo de ajuste, detonando um reposicionamento de fluxos de capitais que provocam impacto em diferentes países, especialmente aqueles onde problemas políticos se somam às fragilidades econômicas.
Gostaria de chamar a atenção, inicialmente, para duas questões importantes. Foi pouco observada uma decisão tomada após a reeleição da chanceler alemã, Angela Merkel, e da formação do novo governo: o país não vai mais alocar novos recursos para financiar Tesouros ou bancos de outros países da zona do euro, além do que já se comprometeu. Como consequência, a sonhada união bancária não acontecerá na dimensão imaginada e não haverá nenhuma mutualização da dívida pública (o bônus europeu) que alivie em parte as finanças dos grandes devedores.
A recuperação modesta do crescimento europeu obscureceu a decisão alemã. Entretanto, não tenho dúvida de que, se o cenário é melhor para 2014, as condições fundamentais para a manutenção do euro como moeda global ainda estão longe de ser atendidas.
A segunda decisão importante é a que parece ter feito o Partido Republicano dos EUA. Tudo indica que, após o extraordinário desgaste sofrido com o público, por sua responsabilidade no fechamento do governo americano por quase três semanas, os republicanos teriam decidido não obstruir, a qualquer custo, a resolução que permite a elevação do limite da dívida pública federal, que tem de ser votada neste mês de fevereiro. Caso isso ocorra, as otimistas projeções de crescimento para este ano podem se materializar. Bom para o mundo e para o Brasil.
Por outro lado, chamo a atenção para o grande número de países emergentes, de certa relevância, que estão enfrentando sérios problemas políticos e econômicos. Nessa lista teríamos de incluir pelo menos Turquia, Índia, África do Sul, Ucrânia, Tailândia (um país que pode se partir em dois) e, na América do Sul, Argentina e Venezuela. Os três primeiros da lista terão eleições neste ano. Os países são, naturalmente, bastante diversos e não estritamente comparáveis. Alguns deles estão em estágios medianos de crise política ou econômica, outros em estados muito avançados, quase terminais, como Tailândia e Venezuela nas áreas política e econômica, respectivamente. Entretanto, apenas a menção do conjunto já é suficiente para contaminar o ambiente econômico internacional, levando a um movimento de depreciação de ativos no mundo emergente, saída de capital e a movimentos defensivos de elevação de juros por parte das autoridades monetárias, como fizeram Índia, Turquia e África do Sul nesta semana.
Embora a situação atual seja muito menos grave que a de 2008/09, é claro que estamos vendo um movimento bastante sério, quando se considera que a reversão da política monetária americana ainda está nos estágios iniciais e o tamanho dos desequilíbrios acumulados em várias nações.
Nesse sentido, dois países são de particular importância em termos de seus impactos sobre o Brasil: a Turquia, pelo tamanho de seu desequilíbrio externo, e a Argentina, por seus laços com nosso país.
A Turquia teve nos anos recentes uma trajetória de crescimento muito positiva, atraindo a atenção dos investidores no mundo como um todo. Seu papel estratégico e a possibilidade de entrar para a Comunidade Europeia também contaram pontos nesse caminho. Entretanto, desde 2012 começou a tomar forma uma forte crise política. O primeiro-ministro Erdogan, líder do partido muçulmano (AK) que está há mais de dez anos no poder, iniciou um processo de islamização da sociedade turca, encontrando forte resistência de parte dela, especialmente de suas classes médias e profissionais, que cresceram na tradição laica que vem desde a fundação da república por Attaturk nos anos 20. Além disso, o primeiro-ministro se desentendeu com o grupo liderado pelo religioso Gullen, muito influente na polícia e no Poder Judiciário. Com isso, desde o ano passado, intensas reações aos projetos do primeiro-ministro tomaram conta das ruas. Finalmente, o ponto de ebulição foi atingido com denúncias de corrupção contra os filhos de três ministros importantes no governo. O premiê reagiu com extrema violência, radicalizando a crise e pondo dúvidas quanto aos resultados das eleições que deverão ocorrer neste ano.
Ao mesmo tempo, a posição do balanço de pagamentos turco é bastante frágil: em 2013 o déficit de conta corrente atingiu 7,4% do PIB, em boa parte financiado por movimentos de capital de curto prazo. O início da mudança da política monetária americana pegou, portanto, o país numa situação de extrema fragilidade, resultando numa forte desvalorização da lira turca até recentemente. O Banco Central do país reagiu com um enorme choque de juros, o que travou temporariamente o processo de desvalorização, mas não reduziu nem reduzirá a fragilidade do país, até que algo mais consistente se mostre no plano político e econômico.
Com relação à Argentina, a situação é mais simples, porém muito mais grave. O país vem enfrentando uma restrição cambial crescente, que se transformou numa crise aberta nestes últimos dias. Além da falta aguda de moeda estrangeira, há que se lembrar que a inflação está na faixa de 30% ao ano. A situação fiscal é ruinosa, especialmente pelo gigantesco volume de subsídios dados à área energética e pela expansão desordenada de custeio e transferências.
A gota d'água, a meu juízo, veio da parte política: por razões ainda não totalmente claras, a presidente Cristina está afastada da primeira linha da gestão governamental há mais de 45 dias. O governo está sendo tocado por um novo chefe da Casa Civil e pelo novo ministro da Economia, Kicillof, tão arrogante, quanto fraco e inconsequente. O ministro patrocinou uma desvalorização do câmbio superior a 25%, num país com uma inflação na casa de 30%, sem nenhum programa organizado na área macroeconômica, além de muita ameaça e um débil congelamento de preços.
A esta altura, não tenho dúvida, que o país tão admirado por alguns de nossos eminentes economistas (como aquele que aprendeu a lidar com a doença holandesa) mais uma vez vai bater no muro, em algum momento não muito distante de hoje.
Não é bom para o Brasil.
Todas as projeções disponíveis revelam que o crescimento global deste ano será maior que o de 2013. Mostram também que o mundo desenvolvido, liderado pelos EUA, é que vai puxar a expansão. Em vista disso, a política monetária americana está em pleno processo de ajuste, detonando um reposicionamento de fluxos de capitais que provocam impacto em diferentes países, especialmente aqueles onde problemas políticos se somam às fragilidades econômicas.
Gostaria de chamar a atenção, inicialmente, para duas questões importantes. Foi pouco observada uma decisão tomada após a reeleição da chanceler alemã, Angela Merkel, e da formação do novo governo: o país não vai mais alocar novos recursos para financiar Tesouros ou bancos de outros países da zona do euro, além do que já se comprometeu. Como consequência, a sonhada união bancária não acontecerá na dimensão imaginada e não haverá nenhuma mutualização da dívida pública (o bônus europeu) que alivie em parte as finanças dos grandes devedores.
A recuperação modesta do crescimento europeu obscureceu a decisão alemã. Entretanto, não tenho dúvida de que, se o cenário é melhor para 2014, as condições fundamentais para a manutenção do euro como moeda global ainda estão longe de ser atendidas.
A segunda decisão importante é a que parece ter feito o Partido Republicano dos EUA. Tudo indica que, após o extraordinário desgaste sofrido com o público, por sua responsabilidade no fechamento do governo americano por quase três semanas, os republicanos teriam decidido não obstruir, a qualquer custo, a resolução que permite a elevação do limite da dívida pública federal, que tem de ser votada neste mês de fevereiro. Caso isso ocorra, as otimistas projeções de crescimento para este ano podem se materializar. Bom para o mundo e para o Brasil.
Por outro lado, chamo a atenção para o grande número de países emergentes, de certa relevância, que estão enfrentando sérios problemas políticos e econômicos. Nessa lista teríamos de incluir pelo menos Turquia, Índia, África do Sul, Ucrânia, Tailândia (um país que pode se partir em dois) e, na América do Sul, Argentina e Venezuela. Os três primeiros da lista terão eleições neste ano. Os países são, naturalmente, bastante diversos e não estritamente comparáveis. Alguns deles estão em estágios medianos de crise política ou econômica, outros em estados muito avançados, quase terminais, como Tailândia e Venezuela nas áreas política e econômica, respectivamente. Entretanto, apenas a menção do conjunto já é suficiente para contaminar o ambiente econômico internacional, levando a um movimento de depreciação de ativos no mundo emergente, saída de capital e a movimentos defensivos de elevação de juros por parte das autoridades monetárias, como fizeram Índia, Turquia e África do Sul nesta semana.
Embora a situação atual seja muito menos grave que a de 2008/09, é claro que estamos vendo um movimento bastante sério, quando se considera que a reversão da política monetária americana ainda está nos estágios iniciais e o tamanho dos desequilíbrios acumulados em várias nações.
Nesse sentido, dois países são de particular importância em termos de seus impactos sobre o Brasil: a Turquia, pelo tamanho de seu desequilíbrio externo, e a Argentina, por seus laços com nosso país.
A Turquia teve nos anos recentes uma trajetória de crescimento muito positiva, atraindo a atenção dos investidores no mundo como um todo. Seu papel estratégico e a possibilidade de entrar para a Comunidade Europeia também contaram pontos nesse caminho. Entretanto, desde 2012 começou a tomar forma uma forte crise política. O primeiro-ministro Erdogan, líder do partido muçulmano (AK) que está há mais de dez anos no poder, iniciou um processo de islamização da sociedade turca, encontrando forte resistência de parte dela, especialmente de suas classes médias e profissionais, que cresceram na tradição laica que vem desde a fundação da república por Attaturk nos anos 20. Além disso, o primeiro-ministro se desentendeu com o grupo liderado pelo religioso Gullen, muito influente na polícia e no Poder Judiciário. Com isso, desde o ano passado, intensas reações aos projetos do primeiro-ministro tomaram conta das ruas. Finalmente, o ponto de ebulição foi atingido com denúncias de corrupção contra os filhos de três ministros importantes no governo. O premiê reagiu com extrema violência, radicalizando a crise e pondo dúvidas quanto aos resultados das eleições que deverão ocorrer neste ano.
Ao mesmo tempo, a posição do balanço de pagamentos turco é bastante frágil: em 2013 o déficit de conta corrente atingiu 7,4% do PIB, em boa parte financiado por movimentos de capital de curto prazo. O início da mudança da política monetária americana pegou, portanto, o país numa situação de extrema fragilidade, resultando numa forte desvalorização da lira turca até recentemente. O Banco Central do país reagiu com um enorme choque de juros, o que travou temporariamente o processo de desvalorização, mas não reduziu nem reduzirá a fragilidade do país, até que algo mais consistente se mostre no plano político e econômico.
Com relação à Argentina, a situação é mais simples, porém muito mais grave. O país vem enfrentando uma restrição cambial crescente, que se transformou numa crise aberta nestes últimos dias. Além da falta aguda de moeda estrangeira, há que se lembrar que a inflação está na faixa de 30% ao ano. A situação fiscal é ruinosa, especialmente pelo gigantesco volume de subsídios dados à área energética e pela expansão desordenada de custeio e transferências.
A gota d'água, a meu juízo, veio da parte política: por razões ainda não totalmente claras, a presidente Cristina está afastada da primeira linha da gestão governamental há mais de 45 dias. O governo está sendo tocado por um novo chefe da Casa Civil e pelo novo ministro da Economia, Kicillof, tão arrogante, quanto fraco e inconsequente. O ministro patrocinou uma desvalorização do câmbio superior a 25%, num país com uma inflação na casa de 30%, sem nenhum programa organizado na área macroeconômica, além de muita ameaça e um débil congelamento de preços.
A esta altura, não tenho dúvida, que o país tão admirado por alguns de nossos eminentes economistas (como aquele que aprendeu a lidar com a doença holandesa) mais uma vez vai bater no muro, em algum momento não muito distante de hoje.
Não é bom para o Brasil.
Aquela bola - LUIS FERNANDO VERISSIMO
O Estado de S.Paulo - 02/02
Na volta do jogo, o pai dirigindo o carro, a mãe ao seu lado, o garoto no banco de trás, ninguém dizia nada. Finalmente o pai não se aguentou e falou:
- Você não podia ter perdido aquela bola, Rogério.
- Luiz Otávio... - começou a dizer a mãe, mas o pai continuou:
- Foi a bola do jogo. Você não dividiu, perdeu a bola e eles fizeram o gol.
- Deixa o menino, Luiz Otávio.
- Não. Deixa o menino não. Ele tem que aprender que, numa bola dividida como aquela, se entra pra rachar. O outro, o loirinho, que é do mesmo tamanho dele, dividiu, ficou com a bola, fez o passe para o gol e eles ganharam o jogo.
- O loirinho se chama Rubem. É o melhor amigo dele.
- Não interessa, Margarete. Nessas horas não tem amigo. Em bola dividida, não existe amigo.
- E se ele machucasse o Rubem?
- E se machucasse? O Rubem teve medo de machucar ele? Não teve. Entrou mais decidido do que ele na bola, ficou com ela e eles ganharam o jogo.
- Você está dizendo para o seu filho que é mais importante ficar com a bola do que não machucar um amigo?
- Estou dizendo que em bola dividida ganha quem entra com mais decisão. Amigo ou não.
- Vale rachar a canela de um amigo pra ficar com a bola?
- Vale entrar com firmeza, só isso. Pé de ferro. Doa a quem doer.
- É apenas futebol, Luiz Otávio.
- Aí é que você se engana. Não é apenas futebol. É a vida. Ele tem que aprender que na vida dele haverão várias ocasiões em que ele terá que dividir a bola pra rachar e....
- Haverá - disse Rogério, no banco de trás.
- O quê?
- Acho que não é "haverão". É "haverá". O verbo haver não...
- Ah, agora estão corrigindo meu português. Muito bem! Eu não sou apenas o pai insensível, que quer ver o filho quebrando pernas pra vencer na vida. Também não sei gramática.
- Luiz Otávio...
- Pois fiquem sabendo que o que se aprende na vida é muito mais importante do que o que se aprende na escola. Está me ouvindo, Rogério? Um dia você ainda vai agradecer ao seu pai por ter lhe ensinado que na vida vence quem entra nas divididas pra valer.
- Como você, Luiz Otávio?
- O quê?
- Você dividiu muitas bolas pra subir na vida, Luiz Otávio? Não parece, porque não subiu.
- Ora, Margarete...
- Conta pro Rogério em quantas divididas você entrou na sua vida. Conta por que o Simão acabou chefe da sua seção enquanto você continuou onde estava. Conta!
- Margarete...
- Conta!
- Eu estava falando em tese...
Na volta do jogo, o pai dirigindo o carro, a mãe ao seu lado, o garoto no banco de trás, ninguém dizia nada. Finalmente o pai não se aguentou e falou:
- Você não podia ter perdido aquela bola, Rogério.
- Luiz Otávio... - começou a dizer a mãe, mas o pai continuou:
- Foi a bola do jogo. Você não dividiu, perdeu a bola e eles fizeram o gol.
- Deixa o menino, Luiz Otávio.
- Não. Deixa o menino não. Ele tem que aprender que, numa bola dividida como aquela, se entra pra rachar. O outro, o loirinho, que é do mesmo tamanho dele, dividiu, ficou com a bola, fez o passe para o gol e eles ganharam o jogo.
- O loirinho se chama Rubem. É o melhor amigo dele.
- Não interessa, Margarete. Nessas horas não tem amigo. Em bola dividida, não existe amigo.
- E se ele machucasse o Rubem?
- E se machucasse? O Rubem teve medo de machucar ele? Não teve. Entrou mais decidido do que ele na bola, ficou com ela e eles ganharam o jogo.
- Você está dizendo para o seu filho que é mais importante ficar com a bola do que não machucar um amigo?
- Estou dizendo que em bola dividida ganha quem entra com mais decisão. Amigo ou não.
- Vale rachar a canela de um amigo pra ficar com a bola?
- Vale entrar com firmeza, só isso. Pé de ferro. Doa a quem doer.
- É apenas futebol, Luiz Otávio.
- Aí é que você se engana. Não é apenas futebol. É a vida. Ele tem que aprender que na vida dele haverão várias ocasiões em que ele terá que dividir a bola pra rachar e....
- Haverá - disse Rogério, no banco de trás.
- O quê?
- Acho que não é "haverão". É "haverá". O verbo haver não...
- Ah, agora estão corrigindo meu português. Muito bem! Eu não sou apenas o pai insensível, que quer ver o filho quebrando pernas pra vencer na vida. Também não sei gramática.
- Luiz Otávio...
- Pois fiquem sabendo que o que se aprende na vida é muito mais importante do que o que se aprende na escola. Está me ouvindo, Rogério? Um dia você ainda vai agradecer ao seu pai por ter lhe ensinado que na vida vence quem entra nas divididas pra valer.
- Como você, Luiz Otávio?
- O quê?
- Você dividiu muitas bolas pra subir na vida, Luiz Otávio? Não parece, porque não subiu.
- Ora, Margarete...
- Conta pro Rogério em quantas divididas você entrou na sua vida. Conta por que o Simão acabou chefe da sua seção enquanto você continuou onde estava. Conta!
- Margarete...
- Conta!
- Eu estava falando em tese...
Listas - FÁBIO PORCHAT
O Estado de S.Paulo - 02/02
Nunca tinha feito uma lista. Dessas que a gente vê em revista das mais mais coisas e tal. Parece que é fácil. Quer queira quer não, quando a gente tá no barzinho batendo papo e começa a falar de filmes, por exemplo, a gente sempre se empolga e lembra de vários que gosta. Mas experimenta botar no papel. Vem uns três, quatro nomes e acabou.
Eu pensei em fazer, como solução, uma lista dos top 3. Mas aí ia virar uma lista muito da safada.
Passei três dias pra conseguir fazer as listas. Mas não adianta, a gente sempre esquece alguma coisa. Lista de casamento, sempre falta um primo, lista de compras sempre falta um detergente, lista pro papai-noel sempre falta uma bicicleta. E fazer uma lista com as coisas preferidas é praticamente suicídio. Talvez seja difícil por poder escolher entre todas as opções do mundo. Aí com tanta opção, escolher 50 já virou uma luta.
Tentei fazer as minhas listinhas. Estão por ordem de lembrança e não de preferência. Tenho certeza que quando relê-las já publicadas, vou me lembrar de outros tantos que esqueci. Mas aí vai a minha lista de melhores coisas que eu me lembrei enquanto escrevia.
Melhores livros que já li:
1 - A Revolução dos Bichos
2 - O Amor nos Tempos do Cólera
3 - O Evangelho Segundo Jesus Cristo
4 - Ensaio Sobre a Cegueira
5 - O Processo
6 - Esperando Godot
7 - Um Bonde Chamado Desejo
8 - O Senhor dos Anéis
9 - Hamlet
10 - Crime e Castigo
Melhores filmes que já vi:
1 - O Iluminado
2 - Laranja Mecânica
3 - Quem Tem Medo de Virginia Woolf?
4 - Cidade de Deus
5 - A Primeira Noite de Um Homem
6 - Chicago
7 - Fale com Ela
8 - Chega de Saudade
9 - O Que Terá Acontecido
a Baby Jane?
10 - Um Bonde Chamado Desejo
Cidades mais incríveis que já visitei:
1 - Marrakesh
2 - Rio de Janeiro
3 - Angkor Wat
4 - Masai Mara
5 - Nova York
6 - Paris
7 - Dubrovnik
8 - São Paulo (sim, São Paulo)
9 - Kyoto
10 - Ho Chi Minh
Lugares que ainda vou visitar na minha vida nem que eu tenha que vender o meu corpo:
1 - Rússia
2 - Polinésia Francesa
3 - Turquia
4 - Praga
5 - Amsterdã
6 - Fernando de Noronha
7 - Alasca
8 - Machu Picchu
9 - China
10 - Índia
Quero saber de você, quais são as suas listas?
Nunca tinha feito uma lista. Dessas que a gente vê em revista das mais mais coisas e tal. Parece que é fácil. Quer queira quer não, quando a gente tá no barzinho batendo papo e começa a falar de filmes, por exemplo, a gente sempre se empolga e lembra de vários que gosta. Mas experimenta botar no papel. Vem uns três, quatro nomes e acabou.
Eu pensei em fazer, como solução, uma lista dos top 3. Mas aí ia virar uma lista muito da safada.
Passei três dias pra conseguir fazer as listas. Mas não adianta, a gente sempre esquece alguma coisa. Lista de casamento, sempre falta um primo, lista de compras sempre falta um detergente, lista pro papai-noel sempre falta uma bicicleta. E fazer uma lista com as coisas preferidas é praticamente suicídio. Talvez seja difícil por poder escolher entre todas as opções do mundo. Aí com tanta opção, escolher 50 já virou uma luta.
Tentei fazer as minhas listinhas. Estão por ordem de lembrança e não de preferência. Tenho certeza que quando relê-las já publicadas, vou me lembrar de outros tantos que esqueci. Mas aí vai a minha lista de melhores coisas que eu me lembrei enquanto escrevia.
Melhores livros que já li:
1 - A Revolução dos Bichos
2 - O Amor nos Tempos do Cólera
3 - O Evangelho Segundo Jesus Cristo
4 - Ensaio Sobre a Cegueira
5 - O Processo
6 - Esperando Godot
7 - Um Bonde Chamado Desejo
8 - O Senhor dos Anéis
9 - Hamlet
10 - Crime e Castigo
Melhores filmes que já vi:
1 - O Iluminado
2 - Laranja Mecânica
3 - Quem Tem Medo de Virginia Woolf?
4 - Cidade de Deus
5 - A Primeira Noite de Um Homem
6 - Chicago
7 - Fale com Ela
8 - Chega de Saudade
9 - O Que Terá Acontecido
a Baby Jane?
10 - Um Bonde Chamado Desejo
Cidades mais incríveis que já visitei:
1 - Marrakesh
2 - Rio de Janeiro
3 - Angkor Wat
4 - Masai Mara
5 - Nova York
6 - Paris
7 - Dubrovnik
8 - São Paulo (sim, São Paulo)
9 - Kyoto
10 - Ho Chi Minh
Lugares que ainda vou visitar na minha vida nem que eu tenha que vender o meu corpo:
1 - Rússia
2 - Polinésia Francesa
3 - Turquia
4 - Praga
5 - Amsterdã
6 - Fernando de Noronha
7 - Alasca
8 - Machu Picchu
9 - China
10 - Índia
Quero saber de você, quais são as suas listas?
Vai ter Copa! Nóis é Tóis! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 02/02
O Fernando Henrique quando viajava só comia no rodízio. Rodízio de trufas e Cabernet Sauvignon
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E o predestinado da semana! Candidato a presidente da Fifa: Jérôme CHAMPAGNE! Tá eleito! Fifa combina com champanhe.
E o peso argentino está tão desvalorizado que virou peso morto!
E a Cristina Kirchner tá a cara da Gretchen, com aquela boca de bico de tênis Conga. Com aquela boca de "VOU TE BEIJAR!". Rarará!
E aí um argentino botou esse cartaz na porta da loja: "Vendo todo, me voy a la mierda". Rarará! Um amigo tá indo pra Buenos Aires e vai levar uma caixa de Miojo.
E atenção, Black Brócolis! Vai ter Copa e a Argentina vai ganhar!
E essa: Jennifer Lopez, Pitbull e Claudia Leitte cantarão a música-tema da Copa, "We Are One"! Então #naovaitercopa! Esse é o único motivo pra não ter Copa: Claudia Leitte. Rarará!
E a versão tupiniquim da música "We Are One": "Nóis é Um!". Ops, "Nóis é Tóis!". Música-tema da Copa: "Nóis é Tóis!". Rarará!
E a Turma do Contra: Não Vai Ter Copa, Não Vai Ter Carnaval, Não Vai Ter Verão, Não Vai Ter Feriado, Não Vai Ter Praia, Não Vai Ter Pipoca. Não Vai Ter Piroca! Rarará!
E a escala da Dilma, a Granda Chefa Toura Sentada, em Lisboa? O PSDB quer que a Dilma, na próxima viagem, durma em camping e coma no quilo! No dogão! No dogão do Félix e da Tetê Paralama Parachoque!
E o Fernando Henrique quando viajava só comia no rodízio. Rodízio de trufas e Cabernet Sauvignon. Rarará! E PAC agora quer dizer Pograma de Ajuda a Cuba! E Cuba é boa em três coisas: saúde, educação e gambiarra. Eles pegam uma batedeira anos 30 e transformam num Chevrolet anos 60.
E a Dilma com o Fidel? Bob Esponja e El Coma Andante! Fidel: "Lula, raspate la barba". "Non, comandante, yo soy Dilma, nel Brasil hay eleciones." "O que? Vacaciones?" "Non, comandante, ELECIONES." "Non compreendo." Rarará.
E a Dilma tuitou de Cuba: "Estou numa ilha aqui em cima governada pela mesma família há 50 anos". SÃO LUÍS! Ela estava em São Luís! Rarará!
E o Fidel todo dia acorda gritando: "Médicos, yo quiero médicos". "Non tienen, foran todos pro Brasil!" A Dilma roubou o médico do Fidel! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
O Fernando Henrique quando viajava só comia no rodízio. Rodízio de trufas e Cabernet Sauvignon
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E o predestinado da semana! Candidato a presidente da Fifa: Jérôme CHAMPAGNE! Tá eleito! Fifa combina com champanhe.
E o peso argentino está tão desvalorizado que virou peso morto!
E a Cristina Kirchner tá a cara da Gretchen, com aquela boca de bico de tênis Conga. Com aquela boca de "VOU TE BEIJAR!". Rarará!
E aí um argentino botou esse cartaz na porta da loja: "Vendo todo, me voy a la mierda". Rarará! Um amigo tá indo pra Buenos Aires e vai levar uma caixa de Miojo.
E atenção, Black Brócolis! Vai ter Copa e a Argentina vai ganhar!
E essa: Jennifer Lopez, Pitbull e Claudia Leitte cantarão a música-tema da Copa, "We Are One"! Então #naovaitercopa! Esse é o único motivo pra não ter Copa: Claudia Leitte. Rarará!
E a versão tupiniquim da música "We Are One": "Nóis é Um!". Ops, "Nóis é Tóis!". Música-tema da Copa: "Nóis é Tóis!". Rarará!
E a Turma do Contra: Não Vai Ter Copa, Não Vai Ter Carnaval, Não Vai Ter Verão, Não Vai Ter Feriado, Não Vai Ter Praia, Não Vai Ter Pipoca. Não Vai Ter Piroca! Rarará!
E a escala da Dilma, a Granda Chefa Toura Sentada, em Lisboa? O PSDB quer que a Dilma, na próxima viagem, durma em camping e coma no quilo! No dogão! No dogão do Félix e da Tetê Paralama Parachoque!
E o Fernando Henrique quando viajava só comia no rodízio. Rodízio de trufas e Cabernet Sauvignon. Rarará! E PAC agora quer dizer Pograma de Ajuda a Cuba! E Cuba é boa em três coisas: saúde, educação e gambiarra. Eles pegam uma batedeira anos 30 e transformam num Chevrolet anos 60.
E a Dilma com o Fidel? Bob Esponja e El Coma Andante! Fidel: "Lula, raspate la barba". "Non, comandante, yo soy Dilma, nel Brasil hay eleciones." "O que? Vacaciones?" "Non, comandante, ELECIONES." "Non compreendo." Rarará.
E a Dilma tuitou de Cuba: "Estou numa ilha aqui em cima governada pela mesma família há 50 anos". SÃO LUÍS! Ela estava em São Luís! Rarará!
E o Fidel todo dia acorda gritando: "Médicos, yo quiero médicos". "Non tienen, foran todos pro Brasil!" A Dilma roubou o médico do Fidel! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
À beira do abismo - LUIS FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 02/02
Pensei: só falta o freio falhar para isto se transformar num filme de suspense. Um filme que eu decididamente não queria ver
Até hoje penso naquela viagem como uma experiência surreal. Talvez, com o tempo, eu tenha exagerado seus perigos e seus mistérios, mas na minha memória ela ficou como uma passagem estreita entre tragédia e encanto, que tanto poderia terminar em reminiscências indolores como esta, muitos anos depois, quanto no fundo de um abismo.
Tínhamos alugado um carro em Los Angeles para irmos a San Francisco pela estrada da costa. Depois de passar pela praia de Malibu, rumo ao Norte, a estrada começa a subir e em pouco tempo nos vimos numa via de apenas duas pistas, contornando as montanhas, com uma magnifica vista do pôr do sol no Pacifico à nossa esquerda. Até aí, tudo ótimo. Curvas sinuosas atrás de curvas sinuosas, mas nada que um motorista experiente, de vida limpa e confiante no seu braço, não pudesse enfrentar. Mas com a noite veio a cerração, e dentro da cerração a chuva. E eu passei a não ver nada, a só enxergar a curva sinuosa seguinte quando já estava em cima dela, obrigado a frear, com o risco de levar uma bangornada (termo de origem obscura, não encontrado em dicionários, o mesmo que chapuletada, só mais forte) de algum carro que viesse de trás, às cegas como eu, e ser atirado para a pista da esquerda, onde um caminhão gigantesco nos pegaria e nos lançaria no Pacifico, em chamas. Pensei: só falta o freio falhar para isto se transformar num filme de suspense. Um filme que eu decididamente não queria ver.
Vislumbrei, no meio da bruma letal, o anúncio de um motel. Salvação! Entramos na recepção do motel — que não era a recepção de um motel, ou pelo menos de um motel convencional. Um enorme salão atapetado e mal iluminado. Um clima fantasmagórico. Parecia que tínhamos interrompido um coquetel. Pessoas jovens e elegantes, segurando drinques coloridos, nos examinaram com divertida curiosidade. O que era aquilo? Cheguei a pensar que o acidente tinha acontecido, que o caminhão tinha mesmo nos jogado no abismo, e que estávamos no céu, ou no mínimo numa antessala. Uma moça nos sorria de trás de uma mesa que, deduzi, era onde deveríamos nos registrar. Recuamos, cautelosamente, e saímos pela porta com alguma pressa. O risco da estrada parecia menor comparado ao que nos esperava naquele saguão lúgubre — que até hoje eu não imagino o que seria.
A poucos quilômetros dali encontramos outro motel, simples e nada ameaçador. Dormimos bem e na manhã seguinte retomamos a estrada, agora sem cerração ou chuva. O Pacífico continuava no lugar, à nossa frente estavam Big Sur, Carmel, Monterrey e a bela San Francisco. A volta de carro para Los Angeles foi pelo interior, longe dos abismos, por uma estrada reconfortadoramente reta.
Pensei: só falta o freio falhar para isto se transformar num filme de suspense. Um filme que eu decididamente não queria ver
Até hoje penso naquela viagem como uma experiência surreal. Talvez, com o tempo, eu tenha exagerado seus perigos e seus mistérios, mas na minha memória ela ficou como uma passagem estreita entre tragédia e encanto, que tanto poderia terminar em reminiscências indolores como esta, muitos anos depois, quanto no fundo de um abismo.
Tínhamos alugado um carro em Los Angeles para irmos a San Francisco pela estrada da costa. Depois de passar pela praia de Malibu, rumo ao Norte, a estrada começa a subir e em pouco tempo nos vimos numa via de apenas duas pistas, contornando as montanhas, com uma magnifica vista do pôr do sol no Pacifico à nossa esquerda. Até aí, tudo ótimo. Curvas sinuosas atrás de curvas sinuosas, mas nada que um motorista experiente, de vida limpa e confiante no seu braço, não pudesse enfrentar. Mas com a noite veio a cerração, e dentro da cerração a chuva. E eu passei a não ver nada, a só enxergar a curva sinuosa seguinte quando já estava em cima dela, obrigado a frear, com o risco de levar uma bangornada (termo de origem obscura, não encontrado em dicionários, o mesmo que chapuletada, só mais forte) de algum carro que viesse de trás, às cegas como eu, e ser atirado para a pista da esquerda, onde um caminhão gigantesco nos pegaria e nos lançaria no Pacifico, em chamas. Pensei: só falta o freio falhar para isto se transformar num filme de suspense. Um filme que eu decididamente não queria ver.
Vislumbrei, no meio da bruma letal, o anúncio de um motel. Salvação! Entramos na recepção do motel — que não era a recepção de um motel, ou pelo menos de um motel convencional. Um enorme salão atapetado e mal iluminado. Um clima fantasmagórico. Parecia que tínhamos interrompido um coquetel. Pessoas jovens e elegantes, segurando drinques coloridos, nos examinaram com divertida curiosidade. O que era aquilo? Cheguei a pensar que o acidente tinha acontecido, que o caminhão tinha mesmo nos jogado no abismo, e que estávamos no céu, ou no mínimo numa antessala. Uma moça nos sorria de trás de uma mesa que, deduzi, era onde deveríamos nos registrar. Recuamos, cautelosamente, e saímos pela porta com alguma pressa. O risco da estrada parecia menor comparado ao que nos esperava naquele saguão lúgubre — que até hoje eu não imagino o que seria.
A poucos quilômetros dali encontramos outro motel, simples e nada ameaçador. Dormimos bem e na manhã seguinte retomamos a estrada, agora sem cerração ou chuva. O Pacífico continuava no lugar, à nossa frente estavam Big Sur, Carmel, Monterrey e a bela San Francisco. A volta de carro para Los Angeles foi pelo interior, longe dos abismos, por uma estrada reconfortadoramente reta.
Até a Copa - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 02/02
No dia 15, viaja para a cúpula do Mercosul, na Venezuela, e, no dia 22, acompanha a cerimônia em que Dom Orani Tempesta será ordenado cardeal, no Vaticano.
E por falar...
Mais de 300 pessoas do Rio já confirmaram presença em Roma para cumprimentar pessoalmente Dom Orani.
No dia seguinte à cerimônia, um almoço de confraternização com o novo cardeal vai reunir cem pessoas em um restaurante de Roma.
Cada convidado pagará 80 euros.
Comida de grife
Nobu Matsuhisa, chef japonês dono do famoso Nobu, em Nova York, virá ao Brasil durante a Copa.
Na véspera da final no Maracanã, ele vai preparar um jantar na festa de um dos patrocinadores da Fifa.
Vende-se
Veja como o mercado de imóveis continua enlouquecido no Rio.
Está à venda uma cobertura duplex, de 550 metros quadrados, na Lagoa, ali pertinho da Rua Garcia D’Ávila, por R$ 27 milhões.
A vida na terceira idade
A atriz Vera Fischer acaba de escrever uma peça. Seu sonho é também dirigir “Como ser feliz aos 80 anos” com Fernanda
Montenegro no papel principal.
No mais
Quem chama a atenção é a historiadora Mary del Priore.
De Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, que fazia pesadas críticas às despesas do governo em 1877:
“Neste país, os padrinhos fazem verdadeiros milagres!”
A suburbana
Caetano Veloso e Tom Zé acabaram de fazer uma música juntos.
“A pequena suburbana” vai entrar no próximo CD de Tom Zé.
Sucesso cubano
“O homem que amava os cachorros”, do cubano Leonardo Padura, lançado aqui pela Boitempo, vai ganhar nova edição.
A primeira, com quatro mil exemplares, esgotou em um mês. A segunda, com seis mil, chega esta semana às livrarias.
O romance conta a história do assassinato de Leon Trotski por Ramón Mercader.
Bilhetes de Jânio
O CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas, acaba de digitalizar, e colocar na internet, todo o arquivo de Clemente Mariani, ministro da Fazenda de Jânio Quadros.
São mais de 70 mil imagens, como uma foto dele ao lado da Miss Martha Rocha, além de documentos. Estão lá, por exemplo, bilhetes de Jânio escritos cinco dias antes da renúncia.
Veta não, gente
Um grupo de sócios do Country Club enviou carta aberta ao presidente.
Pedem, além de melhorias no clube que reconsidere o veto a Guilhermina Guinle. Alegam que a atriz faz parte da aristocrática família Guinle.
Como se sabe...
A atriz teve o seu ingresso negado duas vezes por ser casada com o irmão da atriz Giovanna Antonelli, Leonardo
Pena alternativa
O delegado Fábio Ferreira, da 16ª DP, e o promotor Márcio Almeida, do Jecrim da Barra, firmaram uma parceria inédita parte das penas pagas em dinheiro também será destinada à delegacia.
A grana das penas, geralmente, vai para instituições de caridade.
É assim...
Este mês, uma pessoa condenada por lesão corporal recebeu pena de R$ 1.300 Vai comprar materiais de construção para uma obra de melhoria na DP.
Segura o passageiro
Cooperativas de taxistas no Rio estã se unindo para entrar na Justiça contr os aplicativos de serviços de táxi.
Reclamam que a concorrência paga menos imposto e está desvalorizando as cooperativas. Veja só. Um título destas empresas custava, até o ano passado, un R$ 17 mil. Hoje não passa de R$ 3 mil.
Tom em inglês - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 02/02
Para cavar espaço em Hollywood, Tom Cavalcante banca e atua em um curta em inglês, contrata a mesma relações-públicas de Jim Carrey e coleciona autógrafos de celebridades
Quando se mudou para Los Angeles, há um ano, o humorista Tom Cavalcante tinha uma ideia fixa: "Foi um insight. Chegar à terra de Brad Pitt, comprar um schnauzer e colocar o nome de Brad Pet".
A homenagem canina ao astro de Hollywood e o trocadilho com animal de estimação em inglês causaram o impacto desejado. "Você precisa ver o sucesso que ele faz no banho e tosa, no veterinário. Todo mundo o conhece."
O cãozinho recebeu com festa a repórter Eliane Trindade no apartamento que o comediante mantém em Higienópolis, em SP. Tom, 51, está no Brasil para uma série de shows, incluindo dois no Pikadero, na Vila Olímpia, ontem e hoje. Depois, retoma a vida nos EUA, onde almeja ter a fama já conquistada por seu cachorro. "Quero dicas do Brad Pet pra chegar lá."
"Depois de 21 anos, eu me sentia saturado", diz o cearense ao narrar a decisão de deixar o país por um tempo para tentar a sorte na Meca do cinema. Após sete anos na Record e um antes do fim do contrato, diz ter procurado os bispos em 2012 para fazer um acordo e deixar a emissora. "Escrevia, atuava e dirigia, um trabalho muito duro. E ainda tinha que dar conta dos shows pelo Brasil."
A ruptura foi radical. Deu um tempo em tudo. Antes de carimbar o passaporte, organizou a vida. "Só uma coisa me irritou: o montante de cheques que tive de fazer para sair daqui. O Brasil é quase uma prisão fiscal, sabia?"
Deixou os dois filhos mais velhos --Ivete, 29, e Ives, 26--que fazem faculdade em São Paulo. Desembarcou em West Hollywood com a mulher e a filha mais nova, Maria, 14. E logo a família cresceu com a chegada de Brad Pet.
Matriculou-se em um intensivo de inglês. Em alguns períodos, chegou a encarar oito horas diárias de aulas. Tinha certa fluência, mas o propósito é dominar o sotaque californiano. "É o que quero aprender para trabalhar no cinema. Corresponde ao acento carioca que vai para as novelas, entende?"
Conta que não demorou a entender expressões como "have a good one", o corriqueiro "tenha um bom dia", menos literal. Fez workshops na New York Film Academy e contratou profissionais norte-americanos para atuar ao seu lado em "seu cartão de visitas" em Hollywood: um curta-metragem que bancou com seu próprio dinheiro.
Em "Pizza me Mafia", Tom faz três papéis (Joe, Mamma e Tom Calzone) para contar uma história de amor e traição envolvendo mafiosos. A première, para 500 convidados, foi no principal teatro da Paramount, um dos maiores estúdios do mundo.
Coisa de nordestino atrevido. "Foi um acontecimento. Tenho sangue do Chateaubriand, que dava festa no palácio de Buckingham." Refere-se a Assis Chateaubriand, o Chatô, empresário e jornalista brasileiro conhecido pela ousadia.
"Causou espanto encher um teatro em Hollywood que até os americanos têm dificuldade para lotar", testemunha Patrícia, mulher de Tom e produtora do curta. O marido não revela quanto gastou. Patrícia solta apenas um dos custos: o aluguel de duas câmeras e técnicos que trabalharam em "Transformers", por US$ 15 mil (R$ 36 mil).
Tom não economiza no seu sonho. Preparou um "resumé", seu currículo em inglês. Projeta o vídeo de 12 minutos em uma das salas de seu apê convertida em cinema. Logo abaixo da telona, estão seus quatro troféus Imprensa, prêmio conferido pelo SBT. "São meus Oscars." Três por "Sai de Baixo" (Globo) e um de humorista do ano.
Na edição dos seus melhores momentos para gringo ver, selecionou "Bofe de Elite", paródia de "Tropa de Elite". Tudo com legendas em inglês. A mais divertida é a tradução do quadro "Bruna Cachoeirinha", inspirado em Bruna Surfistinha. Travestido da garota de programa, Tom recebe clientes com frases como "Prepare-se, a Jiripoca vai piar" traduzida livremente para "Get ready, the snake will smoke [a cobra vai fumar]".
Na tela, desfilam celebridades com as quais cruzou nos estúdios da vida, como Julio Iglesias e Roberto Carlos, que conheceu quando era radialista. Reencontraram-se na Globo. Já famoso, o cearense participou do especial de fim de ano do cantor.
Em seu aniversário de 50 anos, Tom ganhou um presentão do Rei: um Corvette importado. O esportivo americano (2012) é avaliado em mais de R$ 300 mil. "Só tinha ganhado carrinho de plástico quando era pequeno", diverte-se. Na mudança para L.A., a preocupação era deixar o carrão na mão do filho. "O menino é proibido de aterrorizar nas curvas da estrada de Santos."
É grato a Roberto também pelo encontro com Patrícia, com quem está casado há 18 anos. Os dois se conheceram na gravação de um especial do cantor. "De certa forma, ele me deu a Patrícia e um carro. Agora só falta a casa", brinca. O casal vai se reencontrar agora com o padrinho nos dez anos do Cruzeiro Emoções, dias 8 e 9. Tom também fará shows no navio.
Em Los Angeles, coleciona autógrafos. Levou a filha ao lançamento do livro de Jim Carrey, o comediante estrangeiro com o qual mais se identifica. "Ele foi simpaticíssimo", diz sobre o astro de "O Máscara" e "Debi & Loide". Tietou Adam Sandler, outro nome quente da comédia por lá. "Curti isso de ver um artista e ir lá falar. Dar uma de fã."
Já foi esnobado. Madeleine Stowe, a Victoria Grayson da série "Revenge", recusou-se a tirar foto, com a desculpa de estar sem maquiagem. "Quando tenho oportunidade conto que sou humorista e ator. Imediatamente, eles mostram respeito."
É vizinho de Seu Jorge, que também passa temporada em Los Angeles, e com quem costuma tomar vinho. Sérgio Mendes, outro brasileiro famoso na área, vai virar parceiro. Os três pretendem subir ao palco juntos. "Eles toparam. Sérgio começa tocando, passa a bola pra Seu Jorge e eu entro no final imitando Sinatra." A ideia é estrear o espetáculo em setembro.
Hollywood é um recomeço. "Tô chegando humilde. É como sair do Ceará pro Rio e ir bater na porta da Globo." Já foi aceito por uma empresa de relações públicas que trabalha com bambambãs como Jim Carrey. "Por enquanto, é tudo no vamos ver. É como aparecer um menino do Maranhão e dizer: Tom, deixa eu trabalhar contigo?"
Ele corre atrás de um Chico Anysio, mestre que lhe deu a primeira chance na TV, de lá. Ficou dez anos na cola do conterrâneo pioneiro até ter uma oportunidade como redator. "Não tem essa de chegar e logo trabalhar. Funciona assim: o cabra tá lá no set e o cara que ia carregar bandeja na cena não apareceu. O diretor, então, te manda vestir a roupa de garçom."
O investimento é de longo prazo. "Primeiro, queria entender a engrenagem e atuar com os caras lá." Em paralelo, começa a desenhar seu primeiro longa, em português mesmo, de olho no boom das comédias nacionais. "Quero começar minha vida no cinema imitando o Renato Aragão, um vencedor nessa história."
Será uma coprodução Brasil/EUA. E, com os compromissos de Tom, o cãozinho Brad Pet já está se adaptando à ponte aérea. Deu uns rolês pelo shopping Pátio Higienópolis e já obedece a ordens em português. É um sucesso também na Pauliceia, of course.
Para cavar espaço em Hollywood, Tom Cavalcante banca e atua em um curta em inglês, contrata a mesma relações-públicas de Jim Carrey e coleciona autógrafos de celebridades
Quando se mudou para Los Angeles, há um ano, o humorista Tom Cavalcante tinha uma ideia fixa: "Foi um insight. Chegar à terra de Brad Pitt, comprar um schnauzer e colocar o nome de Brad Pet".
A homenagem canina ao astro de Hollywood e o trocadilho com animal de estimação em inglês causaram o impacto desejado. "Você precisa ver o sucesso que ele faz no banho e tosa, no veterinário. Todo mundo o conhece."
O cãozinho recebeu com festa a repórter Eliane Trindade no apartamento que o comediante mantém em Higienópolis, em SP. Tom, 51, está no Brasil para uma série de shows, incluindo dois no Pikadero, na Vila Olímpia, ontem e hoje. Depois, retoma a vida nos EUA, onde almeja ter a fama já conquistada por seu cachorro. "Quero dicas do Brad Pet pra chegar lá."
"Depois de 21 anos, eu me sentia saturado", diz o cearense ao narrar a decisão de deixar o país por um tempo para tentar a sorte na Meca do cinema. Após sete anos na Record e um antes do fim do contrato, diz ter procurado os bispos em 2012 para fazer um acordo e deixar a emissora. "Escrevia, atuava e dirigia, um trabalho muito duro. E ainda tinha que dar conta dos shows pelo Brasil."
A ruptura foi radical. Deu um tempo em tudo. Antes de carimbar o passaporte, organizou a vida. "Só uma coisa me irritou: o montante de cheques que tive de fazer para sair daqui. O Brasil é quase uma prisão fiscal, sabia?"
Deixou os dois filhos mais velhos --Ivete, 29, e Ives, 26--que fazem faculdade em São Paulo. Desembarcou em West Hollywood com a mulher e a filha mais nova, Maria, 14. E logo a família cresceu com a chegada de Brad Pet.
Matriculou-se em um intensivo de inglês. Em alguns períodos, chegou a encarar oito horas diárias de aulas. Tinha certa fluência, mas o propósito é dominar o sotaque californiano. "É o que quero aprender para trabalhar no cinema. Corresponde ao acento carioca que vai para as novelas, entende?"
Conta que não demorou a entender expressões como "have a good one", o corriqueiro "tenha um bom dia", menos literal. Fez workshops na New York Film Academy e contratou profissionais norte-americanos para atuar ao seu lado em "seu cartão de visitas" em Hollywood: um curta-metragem que bancou com seu próprio dinheiro.
Em "Pizza me Mafia", Tom faz três papéis (Joe, Mamma e Tom Calzone) para contar uma história de amor e traição envolvendo mafiosos. A première, para 500 convidados, foi no principal teatro da Paramount, um dos maiores estúdios do mundo.
Coisa de nordestino atrevido. "Foi um acontecimento. Tenho sangue do Chateaubriand, que dava festa no palácio de Buckingham." Refere-se a Assis Chateaubriand, o Chatô, empresário e jornalista brasileiro conhecido pela ousadia.
"Causou espanto encher um teatro em Hollywood que até os americanos têm dificuldade para lotar", testemunha Patrícia, mulher de Tom e produtora do curta. O marido não revela quanto gastou. Patrícia solta apenas um dos custos: o aluguel de duas câmeras e técnicos que trabalharam em "Transformers", por US$ 15 mil (R$ 36 mil).
Tom não economiza no seu sonho. Preparou um "resumé", seu currículo em inglês. Projeta o vídeo de 12 minutos em uma das salas de seu apê convertida em cinema. Logo abaixo da telona, estão seus quatro troféus Imprensa, prêmio conferido pelo SBT. "São meus Oscars." Três por "Sai de Baixo" (Globo) e um de humorista do ano.
Na edição dos seus melhores momentos para gringo ver, selecionou "Bofe de Elite", paródia de "Tropa de Elite". Tudo com legendas em inglês. A mais divertida é a tradução do quadro "Bruna Cachoeirinha", inspirado em Bruna Surfistinha. Travestido da garota de programa, Tom recebe clientes com frases como "Prepare-se, a Jiripoca vai piar" traduzida livremente para "Get ready, the snake will smoke [a cobra vai fumar]".
Na tela, desfilam celebridades com as quais cruzou nos estúdios da vida, como Julio Iglesias e Roberto Carlos, que conheceu quando era radialista. Reencontraram-se na Globo. Já famoso, o cearense participou do especial de fim de ano do cantor.
Em seu aniversário de 50 anos, Tom ganhou um presentão do Rei: um Corvette importado. O esportivo americano (2012) é avaliado em mais de R$ 300 mil. "Só tinha ganhado carrinho de plástico quando era pequeno", diverte-se. Na mudança para L.A., a preocupação era deixar o carrão na mão do filho. "O menino é proibido de aterrorizar nas curvas da estrada de Santos."
É grato a Roberto também pelo encontro com Patrícia, com quem está casado há 18 anos. Os dois se conheceram na gravação de um especial do cantor. "De certa forma, ele me deu a Patrícia e um carro. Agora só falta a casa", brinca. O casal vai se reencontrar agora com o padrinho nos dez anos do Cruzeiro Emoções, dias 8 e 9. Tom também fará shows no navio.
Em Los Angeles, coleciona autógrafos. Levou a filha ao lançamento do livro de Jim Carrey, o comediante estrangeiro com o qual mais se identifica. "Ele foi simpaticíssimo", diz sobre o astro de "O Máscara" e "Debi & Loide". Tietou Adam Sandler, outro nome quente da comédia por lá. "Curti isso de ver um artista e ir lá falar. Dar uma de fã."
Já foi esnobado. Madeleine Stowe, a Victoria Grayson da série "Revenge", recusou-se a tirar foto, com a desculpa de estar sem maquiagem. "Quando tenho oportunidade conto que sou humorista e ator. Imediatamente, eles mostram respeito."
É vizinho de Seu Jorge, que também passa temporada em Los Angeles, e com quem costuma tomar vinho. Sérgio Mendes, outro brasileiro famoso na área, vai virar parceiro. Os três pretendem subir ao palco juntos. "Eles toparam. Sérgio começa tocando, passa a bola pra Seu Jorge e eu entro no final imitando Sinatra." A ideia é estrear o espetáculo em setembro.
Hollywood é um recomeço. "Tô chegando humilde. É como sair do Ceará pro Rio e ir bater na porta da Globo." Já foi aceito por uma empresa de relações públicas que trabalha com bambambãs como Jim Carrey. "Por enquanto, é tudo no vamos ver. É como aparecer um menino do Maranhão e dizer: Tom, deixa eu trabalhar contigo?"
Ele corre atrás de um Chico Anysio, mestre que lhe deu a primeira chance na TV, de lá. Ficou dez anos na cola do conterrâneo pioneiro até ter uma oportunidade como redator. "Não tem essa de chegar e logo trabalhar. Funciona assim: o cabra tá lá no set e o cara que ia carregar bandeja na cena não apareceu. O diretor, então, te manda vestir a roupa de garçom."
O investimento é de longo prazo. "Primeiro, queria entender a engrenagem e atuar com os caras lá." Em paralelo, começa a desenhar seu primeiro longa, em português mesmo, de olho no boom das comédias nacionais. "Quero começar minha vida no cinema imitando o Renato Aragão, um vencedor nessa história."
Será uma coprodução Brasil/EUA. E, com os compromissos de Tom, o cãozinho Brad Pet já está se adaptando à ponte aérea. Deu uns rolês pelo shopping Pátio Higienópolis e já obedece a ordens em português. É um sucesso também na Pauliceia, of course.
Cada um por si - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 02/02
Previsão de tempo bom
O comando da campanha da presidente Dilma continua apostando numa vitória no primeiro turno em outubro. Sustenta que a presidente mantém a curva de crescimento nas pesquisas e que os eleitores desejam mudanças, mas o sentimento predominante seria o de que "é mais factível mudar com a Dilma". Como a campanha será curta devido à Copa, considera que não há espaço, nos 45 dias da reta final, quando o debate eleitoral chega à televisão, para o que chamam de "efeito avalanche". Um comandante político da reeleição chega a afirmar: "é mais provável uma morte súbita (de um dos candidatos da oposição) do que um crescimento súbito (de um deles)".
"O PT ficou no governo Cabral até mais não poder, e agora vai 'mudar' o lado do disco, criticando a gestão da qual participou. Isso é repudiado pelas 'tribos' inquietas das ruas"
Chico Alencar Deputado federal (PSOL-RJ)
Remanejando
A ministra Eleonora Menicucci (Mulheres) é forte candidata para a Secretaria de Direitos Humanos. Tem apoio dos movimentos sociais, além de ser amiga da presidente Dilma.
Baixou o santo
Vacinado pelo mensalão, o tesoureiro do PT, João Vaccari, está sendo cauteloso diante de pedidos antecipados de recursos por conta da campanha de reeleição da presidente Dilma. Esses gastos têm um período legal para serem feitos e só podem ser pagos pelo comitê financeiro da candidatura. Contam que ele anda dizendo "não".
Plano de voo
Políticos do PROS contam que o projeto do governador Cid Gomes (CE) é ser indicado pela presidente Dilma para uma vice-presidência do Banco Mundial porque quer ficar um período no exterior. A sede do banco é em Washington.
O placar da convenção
Um dirigente do PMDB, experiente nos embates partidários, fez as contas sobre o resultado de uma convenção sobre o apoio à presidente Dilma. Seu prognóstico é o de que a aliança com o PT pela reeleição teria hoje cerca de 564 votos, a bancada da oposição teria por volta de 202 votos, e 92 convencionais estariam indefinidos.
Na lista de espera
O PMDB só espera a presidente Dilma definir o perfil do ministro da Agricultura para apresentar seu nome. A preferência é pelo secretário de Política Agrícola, Neri Geller. Corre por fora Tereza Costa Dias, do Mato Grosso do Sul.
Marcando de cima
A direção petista reafirmou que todas as resoluções eleitorais estaduais terão de ser chanceladas pela Executiva Nacional. Segundo um dirigente: "Se deixar solto, o partido vai ter 27 candidatos a governador". Hoje, há 12 candidatos.
O DEPUTADO BETO ALBUQUERQUE (PSB-RS) será reeleito líder da bancada do partido na Câmara. Eduardo Campos pediu para o PSB evitar disputas.
Nas asas do Senado - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 02/02
Três senadores do PSB usaram verbas de seus gabinetes para viajar a São Paulo em outubro para um evento partidário. Antonio Carlos Valadares (SE), João Capiberibe (AP) e Lídice da Mata (BA) participaram do encontro que discutiu as diretrizes da aliança entre a sigla e a Rede, no dia 28. Os três pediram reembolso pelas passagens de ida e volta, que custaram R$ 5.248,56. A cota do Senado se aplica a atividades "exclusivamente relacionadas ao exercício da função parlamentar".
Outro lado 1 Capiberibe disse entender que encontros partidários "correspondem ao exercício da atividade parlamentar". "Sem partido, não há mandato", afirmou.
Outro lado 2 O gabinete de Lídice da Mata justificou que ela "fez o deslocamento de sua base (Salvador), via São Paulo, com destino a Brasília para cumprir suas atividades no Senado". A equipe de Valadares não respondeu.
Brecha O ato que regulamenta a verba não estabelece regras específicas para o uso das passagens. Em caráter reservado, parlamentares dizem ter sido incentivados pela direção do PSB a usar a verba de gabinete para ir a eventos partidários, já que o caixa do partido estava baixo.
Diga 'xis' Na sexta-feira, a Casa Civil foi tomada por uma fila de funcionários da pasta que queriam tirar foto com Gleisi Hoffmann. A senadora deixa o ministério amanhã para se dedicar à campanha ao governo do Paraná.
Reembolso O Ministério do Esporte confirma que a Kaionina-Presença Ecumênica, ONG da qual Anivaldo Padilha, pai de Alexandre Padilha (Saúde) é fundador, devolveu R$ 301,2 mil por não não ter cumprido convênio de R$ 400 mil para atender 1.600 pessoas em Duque de Caxias.
Histórico A decisão de rescindir o contrato, de 2010, partiu da própria entidade, que diz ter enfrentado dificuldades com fornecedores.
Em série A campanha do PT no Rio deve contar com modelo similar à de São Paulo na área de comunicação. O marqueteiro de Dilma Rousseff, João Santana, deve ajudar Lindbergh Farias a definir o tom do discurso e montar uma equipe de marketing.
Inconfidência... Ala do PMDB de Minas capitaneada por Clésio Andrade e pelo presidente regional da sigla, Saraiva Felipe, insatisfeita com a falta de protagonismo na negociação com Fernando Pimentel, articula alternativas à aliança com o PT.
... mineira As opções do grupo, que pode enfrentar o do ministro Antonio Andrade (Agricultura) na convenção caso a ruptura se confirme, vão de candidatura própria até uma composição com o PSDB de Aécio Neves.
Clube O ex-presidente Lula viaja a Nova York no dia 10 para um encontro com o ex-presidente norte-americano Bill Clinton. O brasileiro vai visitar a fundação do democrata, que sempre teve boa relação com o tucano Fernando Henrique Cardoso.
Congelado O governo paulista não pretende autorizar o reajuste dos pedágios das estradas estaduais neste ano. A cobrança nas rodovias foi uma das principais armas dos rivais de Geraldo Alckmin (PSDB) na campanha de 2010 e deve voltar à pauta.
Jurisprudência 1 A Técnica Construções, subsidiária da Delta, acionou a Justiça paulista para tentar garantir contratos de uma concorrência de R$ 60 milhões para obras em rodovias estaduais.
Jurisprudência 2 A empresa sustenta que o STJ suspendeu uma medida do governo federal que a declarou inidônea, o que impediria sua contratação no Estado.
tiroteio
Esses 51 a 1 são a diferença entre um prefeito feito por Lula em laboratório e um político com talento e competência administrativa.
DE MENDONÇA FILHO (PE), líder do DEM na Câmara, comparando a aprovação recorde do prefeito de Salvador, ACM Neto, com a de Fernando Haddad (SP).
Contraponto
Famoso quem?
Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) precisou ir ao Senado para participar de uma reunião no dia 6 de janeiro, em pleno recesso parlamentar. Chegou ao Congresso dirigindo seu carro particular, vestindo calça jeans, camisa sem paletó e tênis. O senador, que tem 41 anos, mas parece ser mais jovem, estacionou próximo à chapelaria do Congresso e foi barrado por um segurança.
-Mas eu trabalho aqui -justificou.
-O acesso é só para senadores -disse o segurança.
Randolfe só conseguiu entrar na garagem quando outro funcionário do Senado o reconheceu.
Antes do carnaval - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 02/02
O ex-presidente do Banco Central e atual presidente da holding J&F Participações Financeiras (que dirige, entre outras empresas, a JBS Friboi), Henrique Meirelles, prometeu para o fim de fevereiro a resposta se concorrerá ao Senado pelo PSD de São Paulo. Esse é o desejo da direção pessedista, principalmente, do presidente da legenda, Gilberto Kassab.
Deputado federal mais votado pelo PSDB goiano em 2002, Meirelles abandonou o partido para tornar-se presidente do Banco Central em 2003, durante o governo Lula. Não disputou mais eleições desde então, mas sempre demonstrou interesse em manter-se na política.
A representantes do mercado financeiro, Meirelles tem demonstrado pouca disposição para aceitar a empreitada. O PT torce contra, porque, em outubro, só haverá uma vaga em disputa. E, apesar de tudo, os petistas querem reeleger Eduardo Suplicy.
Waiting for you
O PMDB acha que Dilma chamará o partido para conversar semana que vem. Ela prometeu que faria isso quando voltasse da viagem à Davos (Suíça) e Havana (Cuba). Por enquanto, nada. “Uma semana a mais, uma a menos, tudo bem”. Mas lembram: “estamos esperando uma definição desde setembro. Temos um limite de paciência.”
Inimigo meu
Estrategistas da pré-campanha de Dilma Rousseff ao Planalto consideram um erro de setores do PT comprar briga com Eduardo Campos (PSB-PE). Para os analistas, o adversário é Aécio Neves (PSDB-MG). “Se Eduardo tiver 60% dos votos em Pernambuco e Aécio, 60% em Minas, quem vai para o segundo turno?”, indagou o aliado de Dilma. “Se quiser ter chances, Eduardo terá de ter votos no Sudeste, algo que ele ainda não tem”, completou o estrategista.
Águas de março
Os tucanos juram que não é provocação e, sim, a escolha de um prazo confortável no calendário eleitoral. Mas o ato político para definição da pré-candidatura de Aécio Neves ao Planalto será em março, mesma data em que José Serra defendia a realização de prévias internas.
Tucano de pirata
Tasso Jereissatti, do PSDB-CE, explicou à cúpula tucana porque quer ser candidato ao Senado. “Quero estar quietinho, na foto oficial, quando Aécio Neves entrar no Congresso como presidente eleito”. Por sinal, Tasso lidera as pesquisas de intenção de voto.
Fazenda
Pessoas próximas a Meirelles dizem que ele gostaria de retornar para a equipe econômica, mas como o comandante da barca. O ex-presidente Lula defendeu que ele substituísse Guido Mantega ainda durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff. A presidente resolveu manter o ministro no posto, pelo menos até dezembro.
Só que não
Não se tem certeza se Dilma concordará em ter Meirelles em sua equipe em um eventual segundo mandato, caso seja reeleita. Ao longo dos primeiros quatro anos, Dilma tem demonstrado claramente que ela pensa e decide a execução das políticas econômicas. Não delega. Meirelles tem dificuldades em ser tutelado. Um casamento difícil de dar certo.
Deixa para depois
Aliados de Gilberto Kassab defendem que o ex-prefeito não indique nenhum nome na atual reforma ministerial. Querem evitar o discurso, caso Dilma seja eleita, de que já foram contemplados com duas pastas. O partido atualmente comanda o Ministério da Micro e Pequena Empresa.
Por via das dúvidas
Mesmo assim, Kassab procura um bom quadro na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Falou-se que o PSD poderia herdar o Ministério de Ciência e Tecnologia. mas que não deveria apresentar um nome político. Dilma quer um técnico para substituir o atual ministro, Marco Antonio Raupp.
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