domingo, fevereiro 02, 2014

A inflação "ocultada" pelo governo - SACHA CALMON

CORREIO BRAZILIENSE - 02/02

Os preços livres estão rodando de 7,5% a 8,5% ao ano, pois os aumentos do mínimo e dos salários acima da produtividade - um erro clássico de política econômica - que os petistas ingênuos chamam de aumento da "renda real dos trabalhadores", são concausa poderosa da inflação, a desencadear a corrida dos preços dos serviços e dos produtos livres para "abocanharem" o excesso de oferta que os salários artificiais, o crédito subsidiado e o gasto estéril do governo provocam na economia.
Não será fácil combater as contradições acumuladas pela política econômica de Dilma, sob o enorme e crescente peso do contingente de dependentes do Estado, 76 milhões apenas entre os beneficiários de políticas sociais (Minha Casa, Minha Vida, Bolsa Família, etc). O Banco Central alerta para a defasagem entre preços administrados e livres formados no mercado, o que leva ao "natural e esperado" desalinhamento dos preços relativos.
No outro lado do problema, o governo desorganiza o setor de energia, petróleo e transportes, segurando os "preços públicos" (as tarifas). São os preços administrados pelo Estado, cujos valores, ao invés de serem fixados pela lei da oferta e da procura, são escamoteados pela presidente da República, a czarina da economia. No mundo civilizado tal não há. Somente nos países "bolivarianos" tem gente que acredita em "controle de preços". Tanto que a diarreia inflacionária na Venezuela e na Argentina continuam. É isso que desejamos para nós?
Os preços livres a 8,5% e os administrados a 2,5% formam um mix que leva a uma "inflação oficial" de 5,90%.
O povo, no entanto, está achando os preços elevados. E de fato estão, porque de 40% a 60% dos preços são tributos. Vejamos os percentuais embutidos nos preços correntes de mercado: almoço ou jantar no restaurante, 32,31%; notebook, 32,62%; celular, 33,08%; carro 1.0, 33,81%; carro 2.0, 38,70%; árvore de Natal, 39,23%; brinquedo, 39,70%; tênis, 44%; óculos de sol, 44,18%; tevê, 44,94%; bicicleta, 45,93%; bola de futebol, 46,49%; refrigerante em lata, 46,47%; joias, 50,44%; maquiagem, 51,04%; chope, 62,20%; moto 250cc, 64,65%; perfume nacional, 69,13%; Playstation, 72,18%.
Não é à toa - e certamente estão cobertas de razão - que as classes A e B viajam de malas vazias para os EUA, onde tudo é de 60% a 50% mais barato, mesmo com o dólar a R$ 2,50 (paralelo), desprezando a indústria e o comércio no Brasil. Enquanto isso, as classes pobres mantêm o emprego (e a miséria também), sacrificando-se no crediário. É uma covardia.
Para se ter ideia, com impostos incluídos, vejamos um item bem marcante: o videogame XBox One no Brasil (R$ 2.299) é o mais caro do mundo. Na Inglaterra, sai por R$ 1.573; na União Europeia, R$ 1.524; no México, R$ 1.480; na Nova Zelândia, R$ 1.428; na Austrália, R$ 1.297; nos Estados Unidos, R$ 1.141; e no Canadá, R$ 1.093. Sem os impostos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), ele sairia por aproximadamente R$ 1.100 aqui.
Na hora de consertar a economia, vai ser duro de aguentar. Antes cedo do que tarde. Mas qual é o tempo da economia e o tempo da política? Não se enganem. A presidente está empolgada pelo poder antes que pelo bem do país. Após as eleições, seja lá qual for o vencedor, virá o ajuste. Garanto que vai doer. É melhor - pelo que se vê na Venezuela e na Argentina - que seja alguém da oposição.
Quais as razões de ser da oposição? São várias. Primeiro: o período petista já dura 12 anos praticamente. "Aparelharam" o Estado. Estão por toda parte, mandando nos mais de 30 ministérios e secretarias do governo federal, nas ONGs e movimentos sociais. O PT e aliados se "adonaram" do poder, como dizia Brizola. Isso não é bom, cria vícios.
Segundo: o "presidencialismo de coalizão" gera a gravitação - na órbita federal - de todos os partidos da "base". Oitenta por cento dos congressistas são da situação, a exigir benesses, cargos, dinheiro, emendas, empregos, inchando o aparato estatal, incluídas as fundações, autarquias, bancos e empresas estatais, casos da Petrobras e da Eletrobras, da Infraero, do Dnit e por aí vai.
Terceiro: essa gente do PT, no fundo, é estatizante, socialista, sindicalista e muito parecida com o pessoal da ditadura militar, no que diz respeito ao papel do Estado. Tirá-la do governo é de bom alvedrio. A rotatividade no poder faz parte da democracia. É desejável mormente no Brasil. Na Europa e nos EUA, não há tantos cargos em confiança para serem distribuídos como aqui.

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