O Estado de S.Paulo - 02/02
Uma nova pesquisa sobre sexualidade, feita pela Universidade Yale, com mil mulheres entre 18 e 40 anos nos Estados Unidos, e divulgada na semana passada pela agência de notícias AFP, mostra que muitas delas desconhecem informações básicas sobre sua saúde reprodutiva.
O estudo, publicado na revista Fertility and Sterility, do mês passado, aponta que, embora 40% das mulheres tenham preocupações sobre sua capacidade de conceber, 30% delas desconhecem os efeitos que doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), obesidade, ciclos irregulares e idade têm sobre sua possibilidade de engravidar. Metade das mulheres não conversa com seu médico sobre o assunto e 30% delas não fazem prevenção anual (Papanicolau). As mais jovens, de 18 a 24 anos, são as que têm menos informação sobre fertilidade e ovulação.
Outro estudo de grandes proporções (a terceira pesquisa nacional de atitudes sexuais e estilos de vida), realizado no Reino Unido a cada 10 anos e divulgado no fim do ano passado, entrevistou 15 mil adultos de 16 a 74 anos e trouxe conclusões importantes sobre a saúde sexual da população.
Os britânicos começam a fazer sexo mais cedo e mantêm vida sexual mais longa. A média de parceiras sexuais na vida aumentou para os homens de 8,6 (em 1990-1991) para 11,7 em (2010-2012). No mesmo período, as mulheres saltaram de 3,7 para 7,7 parceiros. Elas (e não eles) foram as que sofreram mudanças mais importantes em seu comportamento sexual.
Mesmo assim, só uma em cada quatro mulheres (24%) que disseram que problemas de saúde afetam sua vida sexual buscaram ajuda médica no ano anterior à pesquisa. Entre os homens, esse índice foi ainda menor (18%). Embora 40% de homens e mulheres tenham enfrentado algum problema recente em sua vida sexual, apenas 10% se preocupam com sua saúde sexual. Falta de desejo apareceu como a dificuldade sexual mais frequente na população britânica, afetando 15% dos homens e 30% das mulheres.
Entre as DSTs, a clamídia e o HPV são os agentes mais frequentes na população geral. A introdução da vacina contra HPV já parece diminuir a frequência do vírus na população feminina jovem - bom lembrar que, por aqui, a vacinação no SUS começa para as meninas de 11 a 13 anos em março.
Outra nova pesquisa de comportamento sexual, realizada por um fabricante de preservativos, divulgada há duas semanas, consultou 29 mil adultos, de 18 a 65 anos, em 37 países. No Brasil, foram mil entrevistados. Por aqui, 51% das pessoas disseram estar insatisfeitas com sua vida sexual. Para eles, problemas de ereção são a grande preocupação. Para elas, alcançar o orgasmo. Há uma grande barreira em se admitir uma dificuldade sexual, tanto para os homens quanto para as mulheres.
Na percepção dos brasileiros, a relação entre qualidade do sexo, bem-estar e redução do estresse parece estar clara. Apesar disso, o estudo, realizado anualmente, reforça a tendência da dificuldade de comunicação do casal quando o assunto é sexo.
Os resultados dos recentes trabalhos apontam para algumas tendências comuns, que refletem a realidade da vida sexual na maior parte do mundo ocidental. Embora haja diferenças regionais, a vida sexual hoje é mais precoce, mais variada (com maior número de parceiros) e mais duradoura. Também há uma percepção clara do sexo como um dos elementos fundamentais para uma melhor qualidade de vida.
Mas esse novo "status" da sexualidade ainda não parece ter se seguido de uma melhor comunicação entre os casais ou de uma busca mais frequente e menos envergonhada dos serviços de saúde. Para muita gente, tratar sobre sexo, fazer controles, checar e se informar sobre saúde sexual seguem como grandes tabus. Mas é justamente nessa "desinibição" em falar com médicos e parceiros sobre o corpo e o sexo que pode estar a grande chance para uma vida sexual mais tranquila, mais plena e com menos dificuldades. Escolas e famílias também prestariam um grande serviço se pudessem facilitar o acesso às informações e encurtar a distância entre os jovens e os serviços de saúde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário