O GLOBO - 26/08
A tradicional loção feminina Leite de Rosas resolveu reabrir sua fábrica na Rua Ana Neri, grudada no Morro da Mangueira, no Rio.
A empresa, que tem outra unidade em Aracaju, avisou a Cabral que a volta é uma aposta na política de pacificação da UPP. Fundada em 1929, a marca já teve como garotos-propagandas Orlando Silva e Carmen Miranda.
Os nós de Dilma
Dilma ganhou do Instituto Mauá, do governo da Bahia, uma imagem de N. S. Desatadora dos Nós.
A presidente pôs a santa em sua sala de trabalho.
Lula é pop
Lula ganhou um pôster autografado de Lenny Kravitz, o cantor e multi-instrumentista americano.
Selo Pitanguy
Quem se hospeda no Hotel Carlton, em Cannes, na luxuosa Riviera Francesa, neste verão europeu, vê nos elevadores um anúncio curioso.
Diz que o spa do hotelzão mais famoso do Sul da França tem "selo de qualidade do cirurgião Ivo Pitanguy'.’
‘The book is on the table’
Veja como alguns cursos lá fora são disputados por brasucas.
Está com fila de espera um cursinho de inglês, nas férias de julho de 2013, em Harvard, a vetusta universidade americana. Custa US$ 4 mil por duas semanas de aulas.
No mais
O fato da semana, a meu ver, foi o voto de Ricardo Lewandowski, reconhecendo que dinheiro público abasteceu o mensalão do PT.
Vindo de quem veio, é um duro golpe no discurso lulista de que tudo não passou de uma prática comum na política, o caixa dois.
O DOMINGO É...
...de Luana Piovani, que completa 36 anos quarta-feira agora. A bela e polêmica atriz paulista vai voltar em breve à telinha. Luana começou, semana passada, a gravar suas primeiras cenas na nova versão da novela “Guerra dos sexos”, de Sílvio de Abreu, que entrará no ar no horário das 19h. Será Vânia, a sedutora e exuberante executiva da rede de lojas Charlo’s, que enlouquecerá os homens - especialmente Felipe, personagem de Edson Celulari. Que seja feliz.
Anos rebeldes
Bethy Lagardère, a milionária, quem diria?, também tem histórias para contar dos anos rebeldes da ditadura militar.
Procura em seu Facebook antigos amigos da turma de 1968 da Escola Estadual Helena Guerra, em Belo Horizonte, que, como ela, tenham sido expulsos ou convidados a se retirar.
Aliás...
Pelo visto, mestre Verissimo tem razão quando fala da existência de um grupo subversivo chamado "Socialites Socialistas’!
Com todo o respeito.
E a vida continua
Os filmes espíritas, que colecionaram sucessos de público, como "Chico Xavier” e "Nosso lar’,’ estão de volta ao país da fé.
"E a vida continua’,’ de Paulo Figueiredo, que estreia dia 14 de setembro, promete bombar.
Segue...
O longa, com Lima Duarte no elenco, é baseado em livro homônimo atribuído ao espírito André Luiz, psicografado por Chico Xavier.
Corrida do Rio
Em reunião sexta no Palácio da Cidade, Eduardo Paes, Sérgio Cabral e o francês Jean Todt, presidente da Federação Internacional de Automobolismo, acertaram que o Rio vai receber, em 2014, uma corrida de Formula E, só com carros elétricos, que chegam a 260 km/h.
A prova sustentável será no Aterro do Flamengo. Além do Rio, farão parte do circuito metrópoles como Paris e Nova York, entre outras.
PIB da eleição
Veja como a economia se mexe nestes dias de eleição. Uma produtora carioca queria cobrar R$ 1,5 milhão para gravar o miúdo horário eleitoral gratuito do noviço PSD.
O ex-deputado Índio da Costa, presidente local do partido, optou por contratar diretamente um cinegrafista e um iluminador.
A desequilibrada
A 2? Turma Recursal Criminal do Rio julga amanhã apelação da delegada Daniela Rebelo, derrotada, em primeira instância, numa ação por desacato e injúria movida contra Cristina Mortágua.
O conflito entre a policial e a ex-modelo ocorreu no dia 7 de fevereiro de 2011, na 16? DP, na Barra, quando um filho de Mortágua dava queixa contra a mãe.
Segue...
Cristina foi absolvida ao alegar que não estava bem da cabeça.
A Justiça aceitou a tese da defesa, segundo a qual a ex-modelo tomava "grande quantidade de remédios e se encontrava em total desequilíbrio, sem poder responder por seus atos”
Cofrinho da Monalisa
Heloísa Périssé, que faz sucesso como a Monalisa de "Avenida Brasil’,’ a novela da TV Globo, enche o cofrinho.
É a mais nova garota-propaganda da Embelleze, a indústria de produtos de beleza mais populares.
domingo, agosto 26, 2012
Monopólio indefensável - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 26/08
A seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) tenta transformar um direito essencial, o do acesso de cidadãos à defesa jurídica mesmo quando não tenham recursos para contratá-la, em um monopólio corporativista.
Durante anos uma lei estadual obrigou a Defensoria Pública de São Paulo, que deveria fazer esse atendimento, a manter um convênio exclusivo com a OAB para suprir advogados a cidadãos não atendidos pelo poder público.
É verdade que São Paulo implementou de maneira tardia e insuficiente sua Defensoria Pública. Até o início do ano, ela não atingia mais do que 10% das comarcas do Estado. Mas, obrigada a contratar profissionais indicados pela OAB, a Defensoria passou a gastar mais com eles do que com seus quadros.
Em março, o Supremo Tribunal Federal considerou inconstitucional o convênio obrigatório. Isso permitiu à Defensoria investir na própria ampliação e fazer acordos com universidades e escritórios, por exemplo, se necessário.
Em vez de acatarem a sensata decisão, advogados paulistas insistem na defesa de privilégios. Patrocinaram proposta de emenda constitucional que, aprovada, reestabeleceria -nacionalmente- o convênio exclusivo com a OAB.
A reserva de mercado para assistência jurídica aos "necessitados", como diz a proposta em tramitação no Congresso, também orienta normas internas da OAB-SP, que opõem obstáculos à advocacia gratuita, "pro bono": defender sem cobrar quem não tem recursos para contratar advogado representaria "concorrência desleal" e "captação de clientela" -a qual se quer manter vinculada a profissionais indicados pela OAB, de olho nos desembolsos da Defensoria.
A seção paulista da OAB não parece perceber o dano que causa à própria imagem com essa campanha para manter o monopólio de defesa dos desvalidos. Caso contrário, desistiria de solapar o fortalecimento da Defensoria Pública.
As “Marinas” de 2012 - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 26/08
Em política, muitas vezes os movimentos são provocados mais por protestos ou ódios acumulados do que propriamente posições ideológicas ou avaliações racionais. Seja da parte dos eleitores, seja pelos próprios políticos. No caso do eleitorado, atitudes passionais ajudaram, por exemplo, a levar Marina Silva a uma boa performance na sucessão presidencial.
Hoje, é possível verificar essa passionalidade relacionada à política em dois movimentos, um em São Paulo e outro em Brasília. O mais visível é o de São Paulo, onde Celso Russomanno, do PRB, aparece como favorito sem nunca ter administrado a cidade nem dispor de um grande “padrinho”. Para completar, tem um pequeno partido, o que lhe deixa com um tempo bem menor na tevê em relação aos demais.
Russomanno é a “Marina de São Paulo”, como bem definiu um amigo na última quinta-feira. Seu poder de sedução está diretamente relacionado a algo que embalou o fôlego da ex-senadora Marina Silva na campanha presidencial: a insatisfação e a rejeição de parte expressiva do eleitorado ao PT e ao candidato José Serra. Russomanno tem segurado a seu lado grande parte de votos do PT da mesma forma que Marina “pegou” muitos votos de Lula em 2010. Mas a onda Marina não foi suficiente para levá-la a um segundo turno, especialmente, porque não tinha tempo de tevê e nem a experiência administrativa que carregavam José Serra e Dilma Rousseff.
Resta saber o que os paulistanos escolherão: segurar o protesto até o fim, levando Russomanno a um segundo turno, ou voltarão ao embate PSDB versus PT, em outubro. No momento, qualquer aposta fechada num ou noutro caminho é um chute tão grande quanto jogar todas as fichas numa candidatura única a presidente da Câmara dos Deputados para substituir Marco Maia. Vem aí uma “Marina” para atrapalhar os planos do PMDB.
A “Marina” da Câmara
Enquanto o noticiário político em Brasília se mantém focado no desenrolar da Ação Penal 470, o mensalão, grupos de deputados aproveitam a calmaria do Congresso nos esforços concentrados para preparar o próximo embate, a disputa pelas presidências do Poder Legislativo. O primeiro movimento veio do PT, que, no início de agosto, fechou o apoio ao líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), para presidir a Câmara. Desde então, nem tudo tem sido festa para Henrique Alves em seus jantares em busca de votos.
Na última semana, por exemplo, Alves chegou a um encontro de deputados do PSD em Brasília acompanhado do vice-presidente Michel Temer e do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO) — companhia constante de Henrique ultimamente, interessadíssimo em herdar o comando da bancada do PMDB na Casa. O líder passou pelo constrangimento de ouvir de alguns deputados do PSD que o assunto só será decidido depois da eleição municipal. Houve quem mencionasse inclusive o possível surgimento de outros candidatos.
No dia seguinte ao jantar dos peemedebistas, o quarto secretário da Câmara, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), foi chamado para um almoço com um grupo de políticos. Juntos, começaram a analisar o futuro da Casa. Obviamente, essa inclusão de Júlio Delgado no jogo traz embutido o desejo de PSB e PSD de quebrar a aliança PT-PMDB para 2014 — como, aliás, já dissemos aqui.
Mas, além disso, da mesma forma que há entre os paulistanos uma rejeição ao embate PT versus PSDB, existe entre os deputados uma vontade de protestar contra o poder absoluto do PMDB e do PT no Legislativo federal. Esses dois partidos hoje definem tudo no Congresso. E é nesse sentido que Júlio Delgado desponta nesse universo de 513 eleitores como a “Marina da Câmara”. Se ganhar fôlego, dará trabalho ao PT e ao PMDB, como Marina deu em 2010, e Celso Russomanno, nesta eleição municipal.
Por falar em trabalho...
A decisão da presidente Dilma de chamar os grevistas “de sangue azul” e se mostrar firme na decisão de conceder apenas os 15,8% trouxe mais alguns pontinhos à sua popularidade. As pesquisas internas de alguns partidos confirmam a tendência de a população ficar ao lado de Dilma, contra os grevistas. Mais um limão que ela transformou em limonada.
Em Marte - LUIZ FERNANDO VERISSIMO
O ESTADÃO - 26/08
A Nasa está escondendo, mas a tal sonda-robô mandada a Marte já encontrou sinais de vida no planeta vermelho. Mais do que sinais de vida, encontrou um ser vivo. Mais do que um ser vivo, encontrou vários seres vivos, que, no momento, cercam o artefato que pousou entre eles de surpresa e tentam comunicar-se com ele. A Nasa tem censurado as fotos mandadas pelo robô em que aparecem os marcianos à sua volta e está tentando interpretar o que eles dizem, numa língua que parece o ídiche com mais consoantes.
Até agora os técnicos da Nasa conseguiram decifrar apenas alguns trechos do que os marcianos estão dizendo para o robô e comentando entre si. Já identificaram frases inteiras, como: “Alô, como é seu nome?”, “De onde você veio?” e “Quem vai pagar este estrago no meu quintal?”.
Os marcianos parecem amistosos, mas ficam cada vez mais impacientes com o laconismo do robô, que não responde nem a perguntas simples como “Você quer água?” ou “Tem fome?” ou “Precisa ir ao banheiro?”.
Os marcianos estão perto de concluir que o estranho em seu meio vem de um planeta em que ainda não desenvolveram a fala, o que dirá a boa educação. Comentam a aparência física do estranho.
– Rodas em vez de pernas. Interessante.
– Odiei a roupa.
– Como será que eles se reproduzem?
– Só você para pensar nisso...
– Curiosidade científica!
– Devem usar esta haste com uma bola na ponta.
– Não, isso é o olho.
– Vocês já notaram que até agora ele não piscou?
– Deve estar aterrorizado. Não sabe onde veio cair.
– Vamos fazer uma demonstração de paz, para ele sentir que está entre amigos. Atenção: abraço coletivo. Todo mundo. Iei!
– Cócegas não, que ele pode ficar irritado.
– Vocês viram só? Nenhuma reação.
– Ele parece uma máquina!
O consenso entre os marcianos é que o ser que caiu do céu vem daquele planeta azul que eles chamam de Schlops, que – isto é pura especulação dos tradutores da Nasa – também é a palavra deles para “titica”.
Os marcianos nunca tiveram muito interesse em conhecer melhor o planeta azul e agora, depois da experiência ruim com aquele seu antipático representante, têm menos interesse ainda. Não querem nem imaginar como são seus semelhantes.
Decidem levar o visitante para um hospital, para ele se recuperar do choque, se alimentar e, se possível, começar a se comportar com um pouco mais de civilidade. Só quem protesta é o dono do terreno onde o estranho pousou.
– Quero ver quem vai pagar os estragos no meu quintal!
A Nasa está escondendo, mas a tal sonda-robô mandada a Marte já encontrou sinais de vida no planeta vermelho. Mais do que sinais de vida, encontrou um ser vivo. Mais do que um ser vivo, encontrou vários seres vivos, que, no momento, cercam o artefato que pousou entre eles de surpresa e tentam comunicar-se com ele. A Nasa tem censurado as fotos mandadas pelo robô em que aparecem os marcianos à sua volta e está tentando interpretar o que eles dizem, numa língua que parece o ídiche com mais consoantes.
Até agora os técnicos da Nasa conseguiram decifrar apenas alguns trechos do que os marcianos estão dizendo para o robô e comentando entre si. Já identificaram frases inteiras, como: “Alô, como é seu nome?”, “De onde você veio?” e “Quem vai pagar este estrago no meu quintal?”.
Os marcianos parecem amistosos, mas ficam cada vez mais impacientes com o laconismo do robô, que não responde nem a perguntas simples como “Você quer água?” ou “Tem fome?” ou “Precisa ir ao banheiro?”.
Os marcianos estão perto de concluir que o estranho em seu meio vem de um planeta em que ainda não desenvolveram a fala, o que dirá a boa educação. Comentam a aparência física do estranho.
– Rodas em vez de pernas. Interessante.
– Odiei a roupa.
– Como será que eles se reproduzem?
– Só você para pensar nisso...
– Curiosidade científica!
– Devem usar esta haste com uma bola na ponta.
– Não, isso é o olho.
– Vocês já notaram que até agora ele não piscou?
– Deve estar aterrorizado. Não sabe onde veio cair.
– Vamos fazer uma demonstração de paz, para ele sentir que está entre amigos. Atenção: abraço coletivo. Todo mundo. Iei!
– Cócegas não, que ele pode ficar irritado.
– Vocês viram só? Nenhuma reação.
– Ele parece uma máquina!
O consenso entre os marcianos é que o ser que caiu do céu vem daquele planeta azul que eles chamam de Schlops, que – isto é pura especulação dos tradutores da Nasa – também é a palavra deles para “titica”.
Os marcianos nunca tiveram muito interesse em conhecer melhor o planeta azul e agora, depois da experiência ruim com aquele seu antipático representante, têm menos interesse ainda. Não querem nem imaginar como são seus semelhantes.
Decidem levar o visitante para um hospital, para ele se recuperar do choque, se alimentar e, se possível, começar a se comportar com um pouco mais de civilidade. Só quem protesta é o dono do terreno onde o estranho pousou.
– Quero ver quem vai pagar os estragos no meu quintal!
Público e privado - AMIR KHAIR
O Estado de S.Paulo - 26/08
Após sucessivos pacotes, o governo faz mais uma tentativa para ativar a economia, lançando o primeiro programa de estímulo à logística nos modais de transporte rodoviário e ferroviário. Em breve sai outro contemplando os modais portos e aeroportos.
Esses programas passam a execução de obras e a operação dos modais para empresas privadas sob a forma de concessão.
Algumas análises afirmam que, agora sim, o governo acertou na estratégia para o crescimento econômico, pois irá priorizar o investimento ao invés do consumo. E mais, sendo tocados pela iniciativa privada têm a vantagem de ser realizado a custo e prazo inferior e, suprir a falta de recursos do governo.
1. Sem ilusões. Esses programas, embora necessários, tem impacto no longo prazo, pois faltam atacar detalhes e realizar licitações. Assim, só começarão a aparecer no segundo semestre de 2013.
O governo já perdeu dois anos de crescimento por ser pautado em 2010 e 2011 pelas análises do mercado financeiro, que vivem ameaçando com o fantasma da inflação. Arrisca-se a errar de novo se ficar parado aguardando os resultados desses programas.
2. A saída imediata. O que interessa para garantir bom crescimento em 2013 e sua continuidade é o aproveitamento do potencial de consumo, que está emperrado pelas altas taxas de juros bancárias (nada a ver com a Selic). O que importa para destravar o consumo não é pedir aos bancos que ampliem a oferta de crédito, como fez o governo, mas sim induzi-los (sem pedir) a baixarem as ainda escorchantes taxas de juros para as pessoas e empresas. O governo sabe como fazer isso, mas ainda não fez: reduzir e tabelar as tarifas bancárias e até o fim do ano posicionar a Selic em 5% (nível dos países emergentes). Essas duas fontes de lucros dos bancos se reduzidas, os levam a compensar no aumento da oferta de crédito, com redução de juros que interessa.
Segundo a Anefac, que acompanha as taxas de juros praticadas pelos bancos, a taxa média à pessoa física em julho foi de 104,0% ao ano e à pessoa jurídica, 51,6%, sendo ambas as mais baixas da série histórica desde 1999 (!). Esse é o verdadeiro freio ao crescimento. É bom sempre repetir: se não for removido esse freio, adeus 2013 e 2014, mesmo com bons e necessários programas de logística e infraestrutura.
Vale analisar os argumentos de passar para a iniciativa privada o que antes é mal feito pelo governo, quanto à falta de recursos para investir e os maiores prazos e custos operados por ele.
Sem cair no debate ideológico que essa questão envolve, impõe-se considerações e informações do que vem caracterizando as realizações de responsabilidade pública entregues ou não à iniciativa privada.
3. Falta de recursos. O argumento da falta de recursos é válido para todas as áreas de atuação, especialmente para a social, onde o déficit é elevado e sacrifica a maioria da população. Mas, a falta de recursos é por pouco tempo, pois: a) a redução da Selic vai permitir economizar mais de R$ 100 bilhões por ano; b) com o crescimento acima de 4% ao ano, a arrecadação tende a crescer de 3% a 4% acima do PIB pela redução da inadimplência; c) a arrecadação cresce acima de 1% real devido à melhoria das máquinas fazendárias; e d) se usar corretamente suas estatais, sem os nefastos populismos na fixação de preços, como no caso da Petrobrás, os dividendos crescerão , contribuindo ainda mais para a ampliação dos recursos. Os recursos existem e não vão faltar e, só dependem do governo.
4. Prazos. O setor público trabalha com o freio de mão puxado. Leis, decretos e portarias amarram a ação governamental. Infringir qualquer dispositivo desse emaranhado de regras pode sujeitar o infrator a multas até penas de reclusão. O servidor, com receio da eventual punição, procura se defender não dando seu parecer no processo, encaminhando-o para outro órgão opinar. E assim vai...
O medo do erro e o cipoal legislativo são as principais razões para o atraso na tramitação burocrática de qualquer processo. Isso pode ser bastante aprimorado caso o governo dê importância ao combate ao excesso burocrático. Para isso deve adotar o princípio de que todo cidadão é honesto salve prova em contrário. É o princípio da desburocratização. Enquanto isso não for realidade é necessário estabelecer prazos máximos de tramitação para todo tipo de processo. Por exemplo: aprovação de planta para execução de obra: prazo 30 dias. Vencido o prazo está aprovada, ficando a fiscalização do cumprimento das regras a posteriori.
5. Custos. Podem ser para: compras de bens, prestação de serviços e obras. Para compras, os custos dependem da modalidade de aquisição. Se adotado o pregão eletrônico ou presencial (cada vez mais usado), os preços estão abaixo da média do mercado e, como em geral as quantidades adquiridas são grandes, os preços baixam mais ainda, permitindo preços até melhores que na iniciativa privada quando adquire quantidades menores que no setor público. Impõe-se avançar cada vez mais nessa direção.
A maior parte dos serviços é padronizada e passível de licitar pelo sistema de pregão. Para os demais casos o que determina é o custo da mão de obra, em geral cerca de 80% do total. Esse custo depende do salário e da produtividade. Para órgãos que adotam salários a nível de mercado e têm boa gestão de pessoal os custos podem se equiparar aos da iniciativa privada.
Os da iniciativa privada podem ser mais caros, caso o governo não fiscalize adequadamente o contrato, fato comum no setor público. A precária fiscalização é um convite à prática de superfaturamento. Infelizmente o governo não se equipa para fazer diretamente e contrata o setor privado sem fiscalizá-lo. Quem paga a conta dessa irresponsabilidade é o contribuinte. Nas obras, repete-se o mesmo que para serviços, quando predominam despesas com mão de obra, mas caso o peso dos materiais é determinante, o setor público pode ter custos competitivos, pois pode comprar a preços melhores dado o seu porte.
Em grandes obras há que se tomar cuidado, pois o setor privado opera com poucas empresas onde a ocorrência de superfaturamento é bem conhecida.
Diante dessas considerações creio que o avanço econômico irá se dar no interesse da sociedade, quando atribuição de interesse público entregue ao setor privado seja obrigatoriamente acompanhada de adequada fiscalização e seu custo de implantação e execução for melhor do que os do governo.
Para que a atribuição seja realizada diretamente pelo governo é necessário que ele esteja devidamente aparelhado para executá-la com custos e prazos melhores que os do setor privado. Infelizmente são raros os casos em que órgãos do setor público cumprem o que determina a Lei de Responsabilidade Fiscal, que é ter sistema de custos, o que permitiria as decisões que importam.
Finalmente chega de demonizar ou de endeusar o setor privado e o governo. Impõe-se aprofundar o debate para se obter o maior proveito do que cada um tem de melhor.
Após sucessivos pacotes, o governo faz mais uma tentativa para ativar a economia, lançando o primeiro programa de estímulo à logística nos modais de transporte rodoviário e ferroviário. Em breve sai outro contemplando os modais portos e aeroportos.
Esses programas passam a execução de obras e a operação dos modais para empresas privadas sob a forma de concessão.
Algumas análises afirmam que, agora sim, o governo acertou na estratégia para o crescimento econômico, pois irá priorizar o investimento ao invés do consumo. E mais, sendo tocados pela iniciativa privada têm a vantagem de ser realizado a custo e prazo inferior e, suprir a falta de recursos do governo.
1. Sem ilusões. Esses programas, embora necessários, tem impacto no longo prazo, pois faltam atacar detalhes e realizar licitações. Assim, só começarão a aparecer no segundo semestre de 2013.
O governo já perdeu dois anos de crescimento por ser pautado em 2010 e 2011 pelas análises do mercado financeiro, que vivem ameaçando com o fantasma da inflação. Arrisca-se a errar de novo se ficar parado aguardando os resultados desses programas.
2. A saída imediata. O que interessa para garantir bom crescimento em 2013 e sua continuidade é o aproveitamento do potencial de consumo, que está emperrado pelas altas taxas de juros bancárias (nada a ver com a Selic). O que importa para destravar o consumo não é pedir aos bancos que ampliem a oferta de crédito, como fez o governo, mas sim induzi-los (sem pedir) a baixarem as ainda escorchantes taxas de juros para as pessoas e empresas. O governo sabe como fazer isso, mas ainda não fez: reduzir e tabelar as tarifas bancárias e até o fim do ano posicionar a Selic em 5% (nível dos países emergentes). Essas duas fontes de lucros dos bancos se reduzidas, os levam a compensar no aumento da oferta de crédito, com redução de juros que interessa.
Segundo a Anefac, que acompanha as taxas de juros praticadas pelos bancos, a taxa média à pessoa física em julho foi de 104,0% ao ano e à pessoa jurídica, 51,6%, sendo ambas as mais baixas da série histórica desde 1999 (!). Esse é o verdadeiro freio ao crescimento. É bom sempre repetir: se não for removido esse freio, adeus 2013 e 2014, mesmo com bons e necessários programas de logística e infraestrutura.
Vale analisar os argumentos de passar para a iniciativa privada o que antes é mal feito pelo governo, quanto à falta de recursos para investir e os maiores prazos e custos operados por ele.
Sem cair no debate ideológico que essa questão envolve, impõe-se considerações e informações do que vem caracterizando as realizações de responsabilidade pública entregues ou não à iniciativa privada.
3. Falta de recursos. O argumento da falta de recursos é válido para todas as áreas de atuação, especialmente para a social, onde o déficit é elevado e sacrifica a maioria da população. Mas, a falta de recursos é por pouco tempo, pois: a) a redução da Selic vai permitir economizar mais de R$ 100 bilhões por ano; b) com o crescimento acima de 4% ao ano, a arrecadação tende a crescer de 3% a 4% acima do PIB pela redução da inadimplência; c) a arrecadação cresce acima de 1% real devido à melhoria das máquinas fazendárias; e d) se usar corretamente suas estatais, sem os nefastos populismos na fixação de preços, como no caso da Petrobrás, os dividendos crescerão , contribuindo ainda mais para a ampliação dos recursos. Os recursos existem e não vão faltar e, só dependem do governo.
4. Prazos. O setor público trabalha com o freio de mão puxado. Leis, decretos e portarias amarram a ação governamental. Infringir qualquer dispositivo desse emaranhado de regras pode sujeitar o infrator a multas até penas de reclusão. O servidor, com receio da eventual punição, procura se defender não dando seu parecer no processo, encaminhando-o para outro órgão opinar. E assim vai...
O medo do erro e o cipoal legislativo são as principais razões para o atraso na tramitação burocrática de qualquer processo. Isso pode ser bastante aprimorado caso o governo dê importância ao combate ao excesso burocrático. Para isso deve adotar o princípio de que todo cidadão é honesto salve prova em contrário. É o princípio da desburocratização. Enquanto isso não for realidade é necessário estabelecer prazos máximos de tramitação para todo tipo de processo. Por exemplo: aprovação de planta para execução de obra: prazo 30 dias. Vencido o prazo está aprovada, ficando a fiscalização do cumprimento das regras a posteriori.
5. Custos. Podem ser para: compras de bens, prestação de serviços e obras. Para compras, os custos dependem da modalidade de aquisição. Se adotado o pregão eletrônico ou presencial (cada vez mais usado), os preços estão abaixo da média do mercado e, como em geral as quantidades adquiridas são grandes, os preços baixam mais ainda, permitindo preços até melhores que na iniciativa privada quando adquire quantidades menores que no setor público. Impõe-se avançar cada vez mais nessa direção.
A maior parte dos serviços é padronizada e passível de licitar pelo sistema de pregão. Para os demais casos o que determina é o custo da mão de obra, em geral cerca de 80% do total. Esse custo depende do salário e da produtividade. Para órgãos que adotam salários a nível de mercado e têm boa gestão de pessoal os custos podem se equiparar aos da iniciativa privada.
Os da iniciativa privada podem ser mais caros, caso o governo não fiscalize adequadamente o contrato, fato comum no setor público. A precária fiscalização é um convite à prática de superfaturamento. Infelizmente o governo não se equipa para fazer diretamente e contrata o setor privado sem fiscalizá-lo. Quem paga a conta dessa irresponsabilidade é o contribuinte. Nas obras, repete-se o mesmo que para serviços, quando predominam despesas com mão de obra, mas caso o peso dos materiais é determinante, o setor público pode ter custos competitivos, pois pode comprar a preços melhores dado o seu porte.
Em grandes obras há que se tomar cuidado, pois o setor privado opera com poucas empresas onde a ocorrência de superfaturamento é bem conhecida.
Diante dessas considerações creio que o avanço econômico irá se dar no interesse da sociedade, quando atribuição de interesse público entregue ao setor privado seja obrigatoriamente acompanhada de adequada fiscalização e seu custo de implantação e execução for melhor do que os do governo.
Para que a atribuição seja realizada diretamente pelo governo é necessário que ele esteja devidamente aparelhado para executá-la com custos e prazos melhores que os do setor privado. Infelizmente são raros os casos em que órgãos do setor público cumprem o que determina a Lei de Responsabilidade Fiscal, que é ter sistema de custos, o que permitiria as decisões que importam.
Finalmente chega de demonizar ou de endeusar o setor privado e o governo. Impõe-se aprofundar o debate para se obter o maior proveito do que cada um tem de melhor.
Corpo interditado - MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 26/08
Estava num café esperando por uma amiga. Enquanto o tempo passava, fiquei observando o ambiente. Outra mulher estava sozinha a poucas mesas de distância, também esperando alguém atrasado. O atrasado dela chegou antes da minha. Vi quando ela se levantou para cumprimentá-lo. Deram-se dois beijinhos.
Os dois beijinhos mais vacilantes e constrangedores que podem ocorrer entre um casal. Talvez fosse delírio meu, mas tenho quase certeza de que eram ex-amantes, ex-namorados, ou um ex-marido e uma ex-esposa que haviam terminado a relação poucos dias atrás, no máximo alguns meses atrás.
É uma cena clássica. Depois de anos de amor e intimidade, a relação se desfaz. Os dois juram nunca mais se ver, odeiam-se por algumas semanas, até que um dia surge uma pendência para ser conversada, ou simplesmente resolvem tomar um drinque para provar ao mundo que a amizade prevaleceu, essas cenas aparentemente civilizadas que trazem significados ocultos.
Ou pior: encontram-se sem querer num estacionamento no centro da cidade, num corredor de shopping, num quiosque do mercado público. Você aqui? Que surpresa. E os dois beijinhos saem de uma forma tão desengonçada que seria motivo pra rir, não fosse de chorar. Eles não se possuem mais fisicamente.
Interdição do corpo. Um dos troços mais sofridos de um final de relacionamento, que só se vai experimentar depois de um tempo afastados. Uma coisa é você ficar racionalizando sobre o desenlace trancafiada no quarto, ele ficar ruminando sobre as razões do rompimento enquanto trabalha.
Uma coisa é você chorar durante o banho para disfarçar os olhos inchados, ele falar mal de você em bares, fingindo que se livrou da Dona Encrenca. Uma coisa é você consultar uma cartomante a fim de acreditar em dias mais promissores, ele sair com umas lacraias bonitinhas pra provar que te esqueceu.
Outra coisa é quando os dois se encontram, cara a cara, depois de semanas ou meses apenas se imaginando.
Ele está ali na sua frente. Mas você não pode agarrar seus cabelos, não pode passar a mão no seu peito, não pode rir de uma piada interna que só pertence aos dois, porque está oficializado que nada mais pertence aos dois.
Ela está ali na sua frente. Mas você não pode mais dar uma beliscadinha na sua bunda, não pode mais beijá-la na boca, não pode mais dizer uma bobagem em seu ouvido, porque está oficializado que ela agora é apenas uma amiga, e não se toma esse tipo de liberdade com amigas.
Depois de terem vivido, por anos, a proximidade mais libidinosa e abençoada que pode haver entre duas pessoas apaixonadas, vocês agora estão proibidos ao toque. Não se amam mais, é o que ficou decretado. Logo, os códigos de aproximação mudaram.
Você dará dois beijinhos na mulher que tantas vezes viu nua, como se ela fosse uma prima. Você dará dois beijinhos no homem para quem tanto se expôs, como se ele fosse um colega de escritório. Esses dois beijinhos doerão mais do que um soco do Mike Tyson.
O corpo interditado. Você não pode mais tocá-lo, você não pode mais tocá-la. O definitivo sinal de que o fim não era uma ilusão.
Estava num café esperando por uma amiga. Enquanto o tempo passava, fiquei observando o ambiente. Outra mulher estava sozinha a poucas mesas de distância, também esperando alguém atrasado. O atrasado dela chegou antes da minha. Vi quando ela se levantou para cumprimentá-lo. Deram-se dois beijinhos.
Os dois beijinhos mais vacilantes e constrangedores que podem ocorrer entre um casal. Talvez fosse delírio meu, mas tenho quase certeza de que eram ex-amantes, ex-namorados, ou um ex-marido e uma ex-esposa que haviam terminado a relação poucos dias atrás, no máximo alguns meses atrás.
É uma cena clássica. Depois de anos de amor e intimidade, a relação se desfaz. Os dois juram nunca mais se ver, odeiam-se por algumas semanas, até que um dia surge uma pendência para ser conversada, ou simplesmente resolvem tomar um drinque para provar ao mundo que a amizade prevaleceu, essas cenas aparentemente civilizadas que trazem significados ocultos.
Ou pior: encontram-se sem querer num estacionamento no centro da cidade, num corredor de shopping, num quiosque do mercado público. Você aqui? Que surpresa. E os dois beijinhos saem de uma forma tão desengonçada que seria motivo pra rir, não fosse de chorar. Eles não se possuem mais fisicamente.
Interdição do corpo. Um dos troços mais sofridos de um final de relacionamento, que só se vai experimentar depois de um tempo afastados. Uma coisa é você ficar racionalizando sobre o desenlace trancafiada no quarto, ele ficar ruminando sobre as razões do rompimento enquanto trabalha.
Uma coisa é você chorar durante o banho para disfarçar os olhos inchados, ele falar mal de você em bares, fingindo que se livrou da Dona Encrenca. Uma coisa é você consultar uma cartomante a fim de acreditar em dias mais promissores, ele sair com umas lacraias bonitinhas pra provar que te esqueceu.
Outra coisa é quando os dois se encontram, cara a cara, depois de semanas ou meses apenas se imaginando.
Ele está ali na sua frente. Mas você não pode agarrar seus cabelos, não pode passar a mão no seu peito, não pode rir de uma piada interna que só pertence aos dois, porque está oficializado que nada mais pertence aos dois.
Ela está ali na sua frente. Mas você não pode mais dar uma beliscadinha na sua bunda, não pode mais beijá-la na boca, não pode mais dizer uma bobagem em seu ouvido, porque está oficializado que ela agora é apenas uma amiga, e não se toma esse tipo de liberdade com amigas.
Depois de terem vivido, por anos, a proximidade mais libidinosa e abençoada que pode haver entre duas pessoas apaixonadas, vocês agora estão proibidos ao toque. Não se amam mais, é o que ficou decretado. Logo, os códigos de aproximação mudaram.
Você dará dois beijinhos na mulher que tantas vezes viu nua, como se ela fosse uma prima. Você dará dois beijinhos no homem para quem tanto se expôs, como se ele fosse um colega de escritório. Esses dois beijinhos doerão mais do que um soco do Mike Tyson.
O corpo interditado. Você não pode mais tocá-lo, você não pode mais tocá-la. O definitivo sinal de que o fim não era uma ilusão.
E a CPI do Cachoeira? - DANUZA LEÃO
FOLHA DE SP - 26/08
É inacreditável: alguns, assim que convocados, já entram com pedido de habeas corpus
O JULGAMENTO do mensalão demarrou -enfim-, mas a CPI do Cachoeira continua em ponto morto. Não é segredo para ninguém que há uma blindagem para que ela não prossiga, com o propósito claro de não salpicar lama no governador Sérgio Cabral. Mas já salpicou.
No Brasil com tantas leis, tantas brechas, tantas filigranas que qualquer advogado de porta de xadrez encontra para proteger seus clientes ou postergar os julgamentos, será que não existe nenhuma possibilidade que impeça os convocados de ficarem calados quando interrogados, como permite a Constituição?
É inacreditável: alguns, assim que convocados, já entram com pedido de habeas corpus antes do comparecimento, para ter o direito de não falar; e se ninguém fala, não há CPI que prospere.
Se os convocados tivessem que jurar sobre a Bíblia, como se vê nos filmes americanos, também não adiantaria: eles mentiriam com a cara mais limpa, como aliás fizeram todos os réus do mensalão. E como o mensalão é a grande novela do momento, fala-se pouco da CPI do Cachoeira.
Com a abertura do sigilo bancário da Delta, de muita coisa vai se saber, mas como os interessados em que nada apareça são maioria na CPI -afinal, o governador do Rio é assim, ó, com a presidente Dilma-, já se sabe que, quando Cavendish aparecer para depor, vai fazer como todos os outros fizeram até agora, isto é, vai entrar mudo e sair calado; se ele for, claro. Isso é um escárnio, seja o convocado do PT, do PSDB ou do PMDB. É simples: eles têm que falar.
Será que não há um jurista, um advogado, um senador, uma autoridade, enfim, que encontre uma maneira de obrigá-los a responder às perguntas? Eles pensam que o episódio grotesco da dança em Paris, com os guardanapos na cabeça, já foi esquecido, e o governador segue a linha Lula: se esconde e não diz uma só palavra.
Pensa que os eleitores se esquecem, e vai ver, tem razão. Vide Maluf; não tem gente que ainda vota nele? E por que não abrem as contas bancárias da Delta, como forçar para que isso aconteça?
Afinal, nunca se ouviu falar de uma empreiteira que tenha conseguido fazer tantas obras em tantos Estados do país.
Cavendish sumiu do mapa, ninguém sabe, ninguém viu. Não é mais presidente da Delta, não é mais visto em lugar algum.
Se ele não falar, como os outros fizeram até agora, vai dar razão a quem diz que trata-se de uma máfia, cujo código de honra é o silêncio, a famosa "omertá". É só lembrar de Don Corleone, no "Poderoso Chefão". Quem será o "capo"?
Enquanto escrevo, acompanho pela televisão o voto do ministro Ricardo Lewandowski, ex-vice-diretor da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, com sua toga de veludo, que já absolveu João Paulo Cunha, até agora, de dois crimes.
Nenhuma surpresa: o Brasil inteiro já intuía como seria o voto do ministro.
Voltando à CPI do Cachoeira: não é possível que se ouça, também de Cavendish, o que já virou chavão: "Segundo a Constituição, vou usar do meu direito para não responder".
Não pode, ou melhor, não deveria poder. Tem que responder.
É inacreditável: alguns, assim que convocados, já entram com pedido de habeas corpus
O JULGAMENTO do mensalão demarrou -enfim-, mas a CPI do Cachoeira continua em ponto morto. Não é segredo para ninguém que há uma blindagem para que ela não prossiga, com o propósito claro de não salpicar lama no governador Sérgio Cabral. Mas já salpicou.
No Brasil com tantas leis, tantas brechas, tantas filigranas que qualquer advogado de porta de xadrez encontra para proteger seus clientes ou postergar os julgamentos, será que não existe nenhuma possibilidade que impeça os convocados de ficarem calados quando interrogados, como permite a Constituição?
É inacreditável: alguns, assim que convocados, já entram com pedido de habeas corpus antes do comparecimento, para ter o direito de não falar; e se ninguém fala, não há CPI que prospere.
Se os convocados tivessem que jurar sobre a Bíblia, como se vê nos filmes americanos, também não adiantaria: eles mentiriam com a cara mais limpa, como aliás fizeram todos os réus do mensalão. E como o mensalão é a grande novela do momento, fala-se pouco da CPI do Cachoeira.
Com a abertura do sigilo bancário da Delta, de muita coisa vai se saber, mas como os interessados em que nada apareça são maioria na CPI -afinal, o governador do Rio é assim, ó, com a presidente Dilma-, já se sabe que, quando Cavendish aparecer para depor, vai fazer como todos os outros fizeram até agora, isto é, vai entrar mudo e sair calado; se ele for, claro. Isso é um escárnio, seja o convocado do PT, do PSDB ou do PMDB. É simples: eles têm que falar.
Será que não há um jurista, um advogado, um senador, uma autoridade, enfim, que encontre uma maneira de obrigá-los a responder às perguntas? Eles pensam que o episódio grotesco da dança em Paris, com os guardanapos na cabeça, já foi esquecido, e o governador segue a linha Lula: se esconde e não diz uma só palavra.
Pensa que os eleitores se esquecem, e vai ver, tem razão. Vide Maluf; não tem gente que ainda vota nele? E por que não abrem as contas bancárias da Delta, como forçar para que isso aconteça?
Afinal, nunca se ouviu falar de uma empreiteira que tenha conseguido fazer tantas obras em tantos Estados do país.
Cavendish sumiu do mapa, ninguém sabe, ninguém viu. Não é mais presidente da Delta, não é mais visto em lugar algum.
Se ele não falar, como os outros fizeram até agora, vai dar razão a quem diz que trata-se de uma máfia, cujo código de honra é o silêncio, a famosa "omertá". É só lembrar de Don Corleone, no "Poderoso Chefão". Quem será o "capo"?
Enquanto escrevo, acompanho pela televisão o voto do ministro Ricardo Lewandowski, ex-vice-diretor da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, com sua toga de veludo, que já absolveu João Paulo Cunha, até agora, de dois crimes.
Nenhuma surpresa: o Brasil inteiro já intuía como seria o voto do ministro.
Voltando à CPI do Cachoeira: não é possível que se ouça, também de Cavendish, o que já virou chavão: "Segundo a Constituição, vou usar do meu direito para não responder".
Não pode, ou melhor, não deveria poder. Tem que responder.
Cenas da miséria americana - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 26/08
De cada sete americanos, um tem ajuda federal para comer; pedidos de auxílio cresceram 70% desde 2007
A MOÇA bonita anuncia na TV empréstimos de até US$ 10 mil, "sem burocracia". Tem uma trança única jogada sobre o peito. Pocahontas. De certo modo, é mesmo Pocahontas: a agência de empréstimos é a "primeira firma financeira 100% 'native-american'" (como se chamam os índios por aqui).
A bela Pocahontas chama a atenção na torrente de anúncios de negócios que veem oportunidade na miséria americana, quase todos iguais. Um comercial de TV atrás do outro oferece dinheiro fácil para remendar o orçamento das famílias.
Disputam lugar com os tradicionais anúncios de firmas de advogados que oferecem vitórias e dinheiro em casos de acidentes de trânsito, erros médicos, remédios podres e coisas assim.
Agora há uma série de empresas a oferecer empréstimos e/ou advogados a fim de evitar despejos, epidemia que explodiu com a bolha imobiliária.
Outras oferecem seguros para cobrir despesas que o seguro saúde não cobre (sim, é o seguro do seguro). Ou para cobrir despesas descobertas pela assistência estatal à saúde de velhos e crianças deficientes (o Medicare).
Mais ou menos um de cada sete americanos depende de assistência do governo federal para comer.
São cerca de 46,5 milhões de pessoas no programa "Food Stamps" (cupons de comida), uma espécie de Fome Zero criado pelo governo Roosevelt (Democrata) em 1939. O número de americanos no Fome Zero cresceu cerca de 70% desde 2007.
O Partido Republicano quer dar cabo do que puder em termos de assistência pública à saúde (Medicare, Medicaid) e do Food Stamps. Barack Obama, o fraco, aprovou um modesto plano de saúde oficial para os mais pobres. Mas quase metade dos americanos quer que os mais pobres se estrepem.
Parlamentares republicanos já pediram o corte de metade da despesa do programa de alimentação, que foi de US$ 76 bilhões no ano passado (custo de oito Bolsas Família).
Os republicanos querem menos impostos para ricos. Os anúncios eleitorais de Obama martelam o fato de que Mitt Romney, candidato dos republicanos, pagou apenas 14% em Imposto de Renda em 2010.
Os americanos comuns, classe média, pagam muito mais, para lá de 20%. Isso quando têm dinheiro: a TV também está cheia de anúncios de firmas que oferecem serviços de acertos de contas com IRS, a Receita Federal daqui.
A renda média das famílias que recebem Food Stamps é de (aqui) miseráveis US$ 783. A linha de pobreza oficial americana é US$ 1.542 por mês para uma família de três pessoas.
Uma empregada doméstica brasileira aqui na região de Boston consegue ganhar mais do que isso por mês -isto é, pode receber uns US$ 12 por hora. Um caixa do Walmart ganha, em média, US$ 8,50.
O salário médio americano no setor privado é de US$ 23,50 por hora. Está quase estagnado faz cinco anos. A desigualdade cresce faz mais de duas décadas.
Quase metade dos americanos acha que Obama, o fraco, é socialista, ou coisa pior. Logo ele, com seus economistas de Wall Street.
De cada sete americanos, um tem ajuda federal para comer; pedidos de auxílio cresceram 70% desde 2007
A MOÇA bonita anuncia na TV empréstimos de até US$ 10 mil, "sem burocracia". Tem uma trança única jogada sobre o peito. Pocahontas. De certo modo, é mesmo Pocahontas: a agência de empréstimos é a "primeira firma financeira 100% 'native-american'" (como se chamam os índios por aqui).
A bela Pocahontas chama a atenção na torrente de anúncios de negócios que veem oportunidade na miséria americana, quase todos iguais. Um comercial de TV atrás do outro oferece dinheiro fácil para remendar o orçamento das famílias.
Disputam lugar com os tradicionais anúncios de firmas de advogados que oferecem vitórias e dinheiro em casos de acidentes de trânsito, erros médicos, remédios podres e coisas assim.
Agora há uma série de empresas a oferecer empréstimos e/ou advogados a fim de evitar despejos, epidemia que explodiu com a bolha imobiliária.
Outras oferecem seguros para cobrir despesas que o seguro saúde não cobre (sim, é o seguro do seguro). Ou para cobrir despesas descobertas pela assistência estatal à saúde de velhos e crianças deficientes (o Medicare).
Mais ou menos um de cada sete americanos depende de assistência do governo federal para comer.
São cerca de 46,5 milhões de pessoas no programa "Food Stamps" (cupons de comida), uma espécie de Fome Zero criado pelo governo Roosevelt (Democrata) em 1939. O número de americanos no Fome Zero cresceu cerca de 70% desde 2007.
O Partido Republicano quer dar cabo do que puder em termos de assistência pública à saúde (Medicare, Medicaid) e do Food Stamps. Barack Obama, o fraco, aprovou um modesto plano de saúde oficial para os mais pobres. Mas quase metade dos americanos quer que os mais pobres se estrepem.
Parlamentares republicanos já pediram o corte de metade da despesa do programa de alimentação, que foi de US$ 76 bilhões no ano passado (custo de oito Bolsas Família).
Os republicanos querem menos impostos para ricos. Os anúncios eleitorais de Obama martelam o fato de que Mitt Romney, candidato dos republicanos, pagou apenas 14% em Imposto de Renda em 2010.
Os americanos comuns, classe média, pagam muito mais, para lá de 20%. Isso quando têm dinheiro: a TV também está cheia de anúncios de firmas que oferecem serviços de acertos de contas com IRS, a Receita Federal daqui.
A renda média das famílias que recebem Food Stamps é de (aqui) miseráveis US$ 783. A linha de pobreza oficial americana é US$ 1.542 por mês para uma família de três pessoas.
Uma empregada doméstica brasileira aqui na região de Boston consegue ganhar mais do que isso por mês -isto é, pode receber uns US$ 12 por hora. Um caixa do Walmart ganha, em média, US$ 8,50.
O salário médio americano no setor privado é de US$ 23,50 por hora. Está quase estagnado faz cinco anos. A desigualdade cresce faz mais de duas décadas.
Quase metade dos americanos acha que Obama, o fraco, é socialista, ou coisa pior. Logo ele, com seus economistas de Wall Street.
Tigres & onças - HUMBERTO WERNECK
O Estado de S.Paulo - 26/08
Em mais de uma ocasião já desfiei (se você perdeu, dou-lhe uma segunda chance nas páginas de O Espalhador de passarinhos & Outras crônicas) lembranças da minha boa vida de Playboy, a mais manuseada revista brasileira.
Entre outros excitantes temas, falei da massa de literatura pretensamente erótica que na qualidade de redator-chefe me cabia desbastar, e em meio à qual certa vez me deparei com um relato torrencial - exaustivo (em todos os sentidos) Kama Sutra enviado à redação, sob pseudônimo, evidentemente, por uma senhora acima de qualquer suspeita que morava no meu prédio. (Não, não foi publicado, nem a autora passou pela vergonha de saber que sua prosa fora lida pelo vizinho do segundo andar.)
Contei também da peleja que podiam ser as tratativas com uma entidade comparável à "mãe de miss": o marido da mulher pelada. Nessa refrega, benza Deus, pouco me envolvi. Houve um episódio que deixei de fora. Por determinação do Juca Kfouri, então meu chefe, liguei para a Thereza Collor, com quem acabara de fazer reportagem de capa para a revista Elle - e, constrangido, convidei a cunhada do presidente a desvelar prendas recônditas nas páginas da Playboy. Desconfio que Pedro, o maridão, pagou o mico de ouvir minha proposta pelo viva-voz.
- Tô pensando nisso não, Humberto... - encerrou com voz molenga a ainda hoje linda Thereza.
Mais sorte tive com a não tão bela Alina Fernández - até porque a moça, que se casava muito, surpreendentemente estava sem marido, além de brigada (como continua) com papai Fidel Castro. Mas já se falou demais desse ensaio, feito pelo Duran em Roma e, para meu desgosto, abortado em nossa redação.
A quem não gostou daqueles meus relatos, lamento informar que estou longe de ter esgotado o assunto. Até agora não tratei, por exemplo, do destampatório que aprontou comigo, pelo telefone, um advogado de Joinville (ou Chapecó?) por causa de um acidente editorial que de todos passou despercebido, menos daquele atento causídico: a inversão de uma imagem fez com que uma pinta de uma louraça americana migrasse para o outro seio. "Um desrespeito!" - perorou o irado consumidor, sem se dar conta do involuntário trocadilho. Tive que me conter para não lhe sugerir que aproveitasse a mudança de lado para explorar aptidões de ambidestro.
Igualmente não falei das cartas, mais adiante e-mails, que a nós chegavam. Não eram poucas, longe disso, mas na hora de selecionar algumas para publicação, a gente penava. A cada mês eu via confirmar-se minha impressão de que, na imprensa em geral, o leitor não o é. No caso da Playboy, então, mais próprio seria falar em "vedor".
Nossa caprichada ração mensal de mulher nua suscitava uma quantidade razoável de manifestações escritas - bem poucas, porém, vazadas em linguajar publicável. O que me levou, devo agora confessar, a duas ou três vezes escrever eu próprio uma cartinha, sob pseudônimo, é claro, que nem a minha vizinha erótica. Se bem me lembro, cheguei mesmo a estabelecer uma discussão, em edições consecutivas, entre dois leitores fictícios. Mais um pouco e teria sido obrigado a apartar uma briga entre eles.
Boa parte da correspondência, invariavelmente assinada com iniciais e portadora de súplicas para que nada se publicasse, vinha de moços inconformados com as dimensões, que consideravam insuficientes, daquela porção crucial de sua anatomia. Não era difícil imaginar a desolação com que eles confrontavam o espelho, depois de terem se esbaldado em filmes ou revistas onde se exibem garanhões desmesurados.
De nada adiantaria argumentar que o tamanho etc. etc. etc. (chegamos a fazer matéria em tom próximo da autoajuda), até porque muitos de nossos aflitos vedores já começavam pedindo que não viéssemos com essa conversa. Que fazer? - diria Lênin. Tocar um tango argentino, como no poema de Manuel Bandeira? Até hoje não sei como o exasperado redator-chefe resistiu à tentação de recomendar à tigrada que fosse cutucar uma onça com o que tivesse à mão.
Conversa fiada - FERREIRA GULLAR
FOLHA DE SP - 26/08
Como privatização é "crime", Dilma pôs o nome de "concessão" e impôs uma série de exigências
Sabe a razão pela qual a empresa estatal dificilmente alcança alto rendimento? Porque o dono dela -que é o povo- está ausente, não manda nela, não decide nada. Claro que não pode dar certo.
Já a empresa privada, não. Quem manda nela é o dono, quem decide o que deve ser feito -quais salários pagar, que preço dar pela matéria-prima, por quanto vender o que produz-, tudo é decidido pelo dono.
E mais que isso: é a grana dele que está investida ali. Se a empresa der lucro, ele ganha, fica mais rico e a amplia; se der prejuízo, ele perde, pode até ir à falência.
Por tudo isso e por muitas outras razões mais, a empresa privada tem muito maior chance de dar certo do que uma empresa dirigida por alguém que nada (ou quase nada) ganhará se ela der lucro, e nada (ou quase nada) perderá se ela der prejuízo.
Sem dúvida, pode haver, e já houve, casos em que o dirigente de uma empresa estatal se revelou competente e dedicado, logrando com isso dirigi-la com êxito. Mas é exceção. Na maioria dos casos, indicam-se para dirigir essas empresas pessoas que atendem antes a interesses políticos que empresariais.
Isso sem falar nos casos -atualmente muito frequentes- de gerentes que estão ali para atender a demandas partidárias.
Tais coisas dificilmente ocorrem nas empresas privadas, onde cada um que ali está sabe que sua permanência depende fundamentalmente da qualidade de seu desempenho. Ao contrário da empresa estatal que, por razões óbvias, tende a se tornar cabide de empregos, a empresa privada busca o menor gasto em tudo, seja em pessoal, seja em equipamentos ou publicidade.
E não é por que na empresa
privada reine a ética e a probidade. Nada disso, é só porque o capitalista quer sempre despender menos e lucrar mais. Não é por ética, é por ganância.
A empresa pública, por não ser de ninguém -já que o dono está ausente- é "nossa", isto é, de quem a dirige, e muitas vezes ali se forma uma casta que passa a sugá-la em tudo o que pode.
A Petrobras pagava a funcionários seus, se não me engano, 17 salários por ano e o Banco do Brasil, 15. Os funcionários da Petrobras gozavam também de um fundo de pensão (afora a aposentadoria do INSS), instituído da seguinte maneira: cada funcionário contribuía com uma parte e a empresa, com quatro partes.
Conheci um desses funcionários que, depois que se aposentou, passou a ganhar mais do que quando estava na ativa. Numa empresa privada, isso jamais acontece, não é? No governo Fernando Henrique aquelas mamatas acabaram, mas outras continuam.
Não obstante, o PT sempre foi contra a privatização de empresas estatais, "et pour cause". Lembram-se da privatização da telefonia? Os petistas foram para a rua denunciar o crime que o governo praticava contra o patrimônio público.
Naquela época, telefone era um bem tão precioso que se declarava no Imposto de Renda. Hoje, graças àquele "crime", todo mundo tem telefone, e a preço de banana.
Mas o preconceito ideológico se mantém. Os governos petistas nada fizeram para resolver os graves problemas estruturais que comprometem a competitividade do produto brasileiro e impedem o crescimento econômico, já que teriam de recorrer à privatização de rodovias e ferrovias.
Dilma fez o que pôde para adiá-la, lançando mão de medidas paliativas que estimulassem o consumo, mas chegou a um ponto em que não dava mais.
O PIB vem caindo a cada mês, o que a levou à hilária afirmação de que, mais importante, era o amparo a crianças e jovens... Disse isso mas, ao mesmo tempo, mandou que seu pessoal preparasse às pressas -já que as eleições estão chegando- um plano para a recuperação da infraestrutura: investimentos que somarão R$ 133 bilhões em 25 anos. Ótimo.
Como privatização é "crime", pôs o nome de "concessão" e impôs uma série de exigências que limitam o lucro dos que investirem nos projetos e, devido a isso, podem comprometê-los.
Nessa mesma linha de atitude, afirmou que não está, como outros, alienando o patrimônio público. Conversa fiada. A Vale do Rio Doce, depois de privatizada, tornou-se a maior empresa de minério do mundo e das que mais contribuem para o PIB nacional. Uma coisa, porém, é verdade: cabe ao Estado trazer a empresa privada em rédea curta.
Como privatização é "crime", Dilma pôs o nome de "concessão" e impôs uma série de exigências
Sabe a razão pela qual a empresa estatal dificilmente alcança alto rendimento? Porque o dono dela -que é o povo- está ausente, não manda nela, não decide nada. Claro que não pode dar certo.
Já a empresa privada, não. Quem manda nela é o dono, quem decide o que deve ser feito -quais salários pagar, que preço dar pela matéria-prima, por quanto vender o que produz-, tudo é decidido pelo dono.
E mais que isso: é a grana dele que está investida ali. Se a empresa der lucro, ele ganha, fica mais rico e a amplia; se der prejuízo, ele perde, pode até ir à falência.
Por tudo isso e por muitas outras razões mais, a empresa privada tem muito maior chance de dar certo do que uma empresa dirigida por alguém que nada (ou quase nada) ganhará se ela der lucro, e nada (ou quase nada) perderá se ela der prejuízo.
Sem dúvida, pode haver, e já houve, casos em que o dirigente de uma empresa estatal se revelou competente e dedicado, logrando com isso dirigi-la com êxito. Mas é exceção. Na maioria dos casos, indicam-se para dirigir essas empresas pessoas que atendem antes a interesses políticos que empresariais.
Isso sem falar nos casos -atualmente muito frequentes- de gerentes que estão ali para atender a demandas partidárias.
Tais coisas dificilmente ocorrem nas empresas privadas, onde cada um que ali está sabe que sua permanência depende fundamentalmente da qualidade de seu desempenho. Ao contrário da empresa estatal que, por razões óbvias, tende a se tornar cabide de empregos, a empresa privada busca o menor gasto em tudo, seja em pessoal, seja em equipamentos ou publicidade.
E não é por que na empresa
privada reine a ética e a probidade. Nada disso, é só porque o capitalista quer sempre despender menos e lucrar mais. Não é por ética, é por ganância.
A empresa pública, por não ser de ninguém -já que o dono está ausente- é "nossa", isto é, de quem a dirige, e muitas vezes ali se forma uma casta que passa a sugá-la em tudo o que pode.
A Petrobras pagava a funcionários seus, se não me engano, 17 salários por ano e o Banco do Brasil, 15. Os funcionários da Petrobras gozavam também de um fundo de pensão (afora a aposentadoria do INSS), instituído da seguinte maneira: cada funcionário contribuía com uma parte e a empresa, com quatro partes.
Conheci um desses funcionários que, depois que se aposentou, passou a ganhar mais do que quando estava na ativa. Numa empresa privada, isso jamais acontece, não é? No governo Fernando Henrique aquelas mamatas acabaram, mas outras continuam.
Não obstante, o PT sempre foi contra a privatização de empresas estatais, "et pour cause". Lembram-se da privatização da telefonia? Os petistas foram para a rua denunciar o crime que o governo praticava contra o patrimônio público.
Naquela época, telefone era um bem tão precioso que se declarava no Imposto de Renda. Hoje, graças àquele "crime", todo mundo tem telefone, e a preço de banana.
Mas o preconceito ideológico se mantém. Os governos petistas nada fizeram para resolver os graves problemas estruturais que comprometem a competitividade do produto brasileiro e impedem o crescimento econômico, já que teriam de recorrer à privatização de rodovias e ferrovias.
Dilma fez o que pôde para adiá-la, lançando mão de medidas paliativas que estimulassem o consumo, mas chegou a um ponto em que não dava mais.
O PIB vem caindo a cada mês, o que a levou à hilária afirmação de que, mais importante, era o amparo a crianças e jovens... Disse isso mas, ao mesmo tempo, mandou que seu pessoal preparasse às pressas -já que as eleições estão chegando- um plano para a recuperação da infraestrutura: investimentos que somarão R$ 133 bilhões em 25 anos. Ótimo.
Como privatização é "crime", pôs o nome de "concessão" e impôs uma série de exigências que limitam o lucro dos que investirem nos projetos e, devido a isso, podem comprometê-los.
Nessa mesma linha de atitude, afirmou que não está, como outros, alienando o patrimônio público. Conversa fiada. A Vale do Rio Doce, depois de privatizada, tornou-se a maior empresa de minério do mundo e das que mais contribuem para o PIB nacional. Uma coisa, porém, é verdade: cabe ao Estado trazer a empresa privada em rédea curta.
A lei acima de tudo - CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SP - 26/08
RIO DE JANEIRO - Amanhã, teremos tempo quente no Supremo, com relator e revisor do mensalão numa saia justa, o primeiro condenando e o segundo absolvendo os mesmos réus e pelos mesmos motivos. Os pareceres até agora apresentados parecem perfeitos -leis, decretos, parágrafos, incisos, páginas e páginas citadas-, só as conclusões são opostas. Isso me faz lembrar Jonathan Swift, que citei em crônica da semana que encerrou.
Gulliver foi dar numa ilha estranha, habitada por liliputianos, pigmeus divididos em duas tribos que viviam uma guerra feroz, sanguinária. O rei de uma das tribos queria que o gigante (para eles) lutasse contra os seus inimigos. Gulliver quis saber o motivo da guerra.
O rei explicou: "Nós todos comemos um ovo quente no café da manhã. Acontece que o meu povo corta os ovos pela parte de cima, a mais estreita; nossos inimigos cortam os ovos pela parte de baixo, a mais grossa. Uma afronta que dura 800 anos!".
O "gigante" perguntou: "Mas não há uma lei que estabeleça como os ovos devem ser cortados?".
O rei pareceu indignado: "Mas claro que há! Está no primeiro artigo de nossa Constituição!".
E informou, com real autoridade: "O artigo é claro. Há 800 anos ninguém ousou reformá-lo. Nele está escrito com todas as letras: 'Os ovos devem ser cortados de maneira certa!'".
Swift foi deão da catedral de Dublin. O livro "Viagens de Gulliver" marca um momento da língua inglesa e é considerado uma das dez maiores obras-primas da literatura universal. Machado de Assis o lia todos os anos e lhe herdou o estilo e a sátira.
Os ministros do STF são homens de "notável saber jurídico". Bem podiam, nas horas vagas, saber como as coisas se passavam numa terra de pigmeus, onde a lei estava acima de tudo.
RIO DE JANEIRO - Amanhã, teremos tempo quente no Supremo, com relator e revisor do mensalão numa saia justa, o primeiro condenando e o segundo absolvendo os mesmos réus e pelos mesmos motivos. Os pareceres até agora apresentados parecem perfeitos -leis, decretos, parágrafos, incisos, páginas e páginas citadas-, só as conclusões são opostas. Isso me faz lembrar Jonathan Swift, que citei em crônica da semana que encerrou.
Gulliver foi dar numa ilha estranha, habitada por liliputianos, pigmeus divididos em duas tribos que viviam uma guerra feroz, sanguinária. O rei de uma das tribos queria que o gigante (para eles) lutasse contra os seus inimigos. Gulliver quis saber o motivo da guerra.
O rei explicou: "Nós todos comemos um ovo quente no café da manhã. Acontece que o meu povo corta os ovos pela parte de cima, a mais estreita; nossos inimigos cortam os ovos pela parte de baixo, a mais grossa. Uma afronta que dura 800 anos!".
O "gigante" perguntou: "Mas não há uma lei que estabeleça como os ovos devem ser cortados?".
O rei pareceu indignado: "Mas claro que há! Está no primeiro artigo de nossa Constituição!".
E informou, com real autoridade: "O artigo é claro. Há 800 anos ninguém ousou reformá-lo. Nele está escrito com todas as letras: 'Os ovos devem ser cortados de maneira certa!'".
Swift foi deão da catedral de Dublin. O livro "Viagens de Gulliver" marca um momento da língua inglesa e é considerado uma das dez maiores obras-primas da literatura universal. Machado de Assis o lia todos os anos e lhe herdou o estilo e a sátira.
Os ministros do STF são homens de "notável saber jurídico". Bem podiam, nas horas vagas, saber como as coisas se passavam numa terra de pigmeus, onde a lei estava acima de tudo.
Tempo para entender - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 26/08
Foi na fronteira entre dois países europeus. Uma família brasileira parou e entregou uma série de passaportes do casal e de seus filhos de vários casamentos. Ela estava no segundo, e ele, no terceiro. O policial perguntou à mulher: “Você diz que é a mesma família, mas cada um tem um nome. Você pode me explicar?” Ela respondeu: “Sim, posso. O senhor tem tempo?”
Hoje é preciso tempo para entender as famílias. Uma revolução aconteceu nas últimas décadas dentro dos lares brasileiros. Os demógrafos José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi fizeram um estudo recente, com base no Censo de 2010, e confirmam “a complexidade e a diversidade das relações familiares do Brasil contemporâneo”.
O Brasil tem mudado de forma espantosa. Desde o primeiro Censo, em 1872, a população aumentou 20 vezes. Em 1950, havia apenas 19 milhões de brasileiros morando nas cidades. Antes de 1970, o número de filhos por mulher era mais de seis, agora está abaixo de dois, menos que a taxa de reposição. Até 1940, havia mais homens que mulheres no Brasil. Hoje, o superávit de mulheres aumenta a cada pesquisa. Em 20 ou 30 anos, a população brasileira vai parar de crescer. Depois, diminuir.
O conceito de família está no meio de um redemoinho. Ao longo das décadas, caiu o índice de casamentos civil e religioso, e aumentou o número de uniões consensuais e os outros arranjos. A queda da fecundidade da mulher ocorreu em todas as décadas até os anos 1990. Naquela década aumentou em apenas uma faixa: de 15 a 19 anos. Já voltou a cair, mesmo assim a maternidade na adolescência é muito maior no Brasil do que em inúmeros países, como Estados Unidos, Irã, Arábia Saudita. É preocupante. A maternidade precoce costuma sacrificar mãe e filho.
O estudo conta que em algumas pesquisas feitas para se avaliar o comportamento sexual brasileiro encontram-se fatos como: a proporção de homens que dizem ter mais de uma parceira é cinco vezes maior do que a de mulheres.
Comparando-se os censos, o percentual de domicílios com casal com filhos caiu. Já o de sem filhos aumentou. Subiu o número de famílias com apenas a mãe no comando. Crescem também os casos de apenas o pai no comando, mas são mais raros.
Todo arranjo familiar tradicional tem caído; todas as novas formas de organização familiar têm aumentado. Crescem os casos em que ambos trabalham e decidem não ter filhos. Em inglês, esse tipo de casal é chamado de Dink (Double Income, No Kids). Em português, Dinc (Duplo Ingresso, Nenhuma Criança).
As estatísticas estudadas por Suzana e José Eustáquio mostram coisas estranhíssimas. Por exemplo: quanto maior o número de filhos, menor o tempo que os maridos dedicam aos afazeres domésticos. O peso recai inteiramente sobre a mulher. Nos casais Dinc, eles assumem mais as tarefas do lar.
Os dois demógrafos, autores do estudo que li para esta coluna, são casados. Ela não tem filhos; ele tem dois, do primeiro casamento. Como nas pesquisas a pergunta sobre filhos é feita à mulher, eles entram na estatística como casal em que ambos trabalham e não tem filhos. “Somos o falso Dinc”, brinca José Eustáquio.
O meu neto do meio, Daniel, de dois anos, anda se esforçando para entender as relações humanas. Outro dia me perguntou pelo “meu avô”. Eu disse que ele queria se referir ao avô dele — meu marido. “Vovô é o pai do tio Vla?”, perguntou de novo. Disse que não, que é o padrasto. Isso o confundiu, e ele fez mais uma pergunta: “Você é irmã do tio Vla?”
Respondi que não, que sou a mãe. Daniel continua intrigado. Precisa de tempo para entender.
Os pontos-chave
O percentual de domicílios com casal com filhos caiu; subiu o de famílias com apenas a mãe no comando
Caiu o índice de casamento civil e religioso, aumentou o de uniões consensuais e os outros arranjos
A proporção de homens que dizem ter mais de uma parceira é cinco vezes maior que a de mulheres
Foi na fronteira entre dois países europeus. Uma família brasileira parou e entregou uma série de passaportes do casal e de seus filhos de vários casamentos. Ela estava no segundo, e ele, no terceiro. O policial perguntou à mulher: “Você diz que é a mesma família, mas cada um tem um nome. Você pode me explicar?” Ela respondeu: “Sim, posso. O senhor tem tempo?”
Hoje é preciso tempo para entender as famílias. Uma revolução aconteceu nas últimas décadas dentro dos lares brasileiros. Os demógrafos José Eustáquio Diniz Alves e Suzana Cavenaghi fizeram um estudo recente, com base no Censo de 2010, e confirmam “a complexidade e a diversidade das relações familiares do Brasil contemporâneo”.
O Brasil tem mudado de forma espantosa. Desde o primeiro Censo, em 1872, a população aumentou 20 vezes. Em 1950, havia apenas 19 milhões de brasileiros morando nas cidades. Antes de 1970, o número de filhos por mulher era mais de seis, agora está abaixo de dois, menos que a taxa de reposição. Até 1940, havia mais homens que mulheres no Brasil. Hoje, o superávit de mulheres aumenta a cada pesquisa. Em 20 ou 30 anos, a população brasileira vai parar de crescer. Depois, diminuir.
O conceito de família está no meio de um redemoinho. Ao longo das décadas, caiu o índice de casamentos civil e religioso, e aumentou o número de uniões consensuais e os outros arranjos. A queda da fecundidade da mulher ocorreu em todas as décadas até os anos 1990. Naquela década aumentou em apenas uma faixa: de 15 a 19 anos. Já voltou a cair, mesmo assim a maternidade na adolescência é muito maior no Brasil do que em inúmeros países, como Estados Unidos, Irã, Arábia Saudita. É preocupante. A maternidade precoce costuma sacrificar mãe e filho.
O estudo conta que em algumas pesquisas feitas para se avaliar o comportamento sexual brasileiro encontram-se fatos como: a proporção de homens que dizem ter mais de uma parceira é cinco vezes maior do que a de mulheres.
Comparando-se os censos, o percentual de domicílios com casal com filhos caiu. Já o de sem filhos aumentou. Subiu o número de famílias com apenas a mãe no comando. Crescem também os casos de apenas o pai no comando, mas são mais raros.
Todo arranjo familiar tradicional tem caído; todas as novas formas de organização familiar têm aumentado. Crescem os casos em que ambos trabalham e decidem não ter filhos. Em inglês, esse tipo de casal é chamado de Dink (Double Income, No Kids). Em português, Dinc (Duplo Ingresso, Nenhuma Criança).
As estatísticas estudadas por Suzana e José Eustáquio mostram coisas estranhíssimas. Por exemplo: quanto maior o número de filhos, menor o tempo que os maridos dedicam aos afazeres domésticos. O peso recai inteiramente sobre a mulher. Nos casais Dinc, eles assumem mais as tarefas do lar.
Os dois demógrafos, autores do estudo que li para esta coluna, são casados. Ela não tem filhos; ele tem dois, do primeiro casamento. Como nas pesquisas a pergunta sobre filhos é feita à mulher, eles entram na estatística como casal em que ambos trabalham e não tem filhos. “Somos o falso Dinc”, brinca José Eustáquio.
O meu neto do meio, Daniel, de dois anos, anda se esforçando para entender as relações humanas. Outro dia me perguntou pelo “meu avô”. Eu disse que ele queria se referir ao avô dele — meu marido. “Vovô é o pai do tio Vla?”, perguntou de novo. Disse que não, que é o padrasto. Isso o confundiu, e ele fez mais uma pergunta: “Você é irmã do tio Vla?”
Respondi que não, que sou a mãe. Daniel continua intrigado. Precisa de tempo para entender.
Os pontos-chave
O percentual de domicílios com casal com filhos caiu; subiu o de famílias com apenas a mãe no comando
Caiu o índice de casamento civil e religioso, aumentou o de uniões consensuais e os outros arranjos
A proporção de homens que dizem ter mais de uma parceira é cinco vezes maior que a de mulheres
É o Mensalame! Tudo fatiado! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 26/08
E o Adriano voltando pro Barmengo? Não joga aos fins de semana pra não atrapalhar o desempenho na baladas!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Novidades no mundo do futebol! "Corinthians quer espaço eterno à torcida e negocia criação de cemitério particular." É o PRESUNTÃO! E uma dúvida: O cemitério é só pra manos ou pra humanos também? Rarará! Epitáfio coletivo: Aqui jazz um bando de mortos!
E esta: "São Paulo quer contratar o Ganso". Um ganso só não vai dar conta! Rarará! E diz que o Ganso vai virar Cisne! Ô esculhambação!
E o Adriano? Voltando pro Barmengo! Mas não joga nos fins de semana. Pra não atrapalhar o desempenho na baladas! E a camisa 10 é uma barraca de camping!
E o site Futirinhas revela as proibições impostas pelo Flamengo. Cláusulas: 1) Proibido feijoada todos os dias. 2) Proibido amarrar mulher em árvore. 3) Proibido participar de festas com jegues e anões. E por último: Proibido jogar!
E o mensalão, mensonão, mensoneca? Tô adorando essa história de julgamento fatiado! O Zé Dirceu vai virar presunto fatiado. Eu acho que ele vai ser fatiado e esquartejado. Rarará! Parece fila dos frios: "Eu quero 100 gramas de Zé Dirceu e 200 gramas de Marcos Valério bem fininho". E os tiozinhos do Supremo só fatiam ou moem também? Porque eu quero 1 kg de mensalão moído! Na hora! À vista do freguês!
E o chargista Mario mudou o nome de mensalão pra mensalame! E finalmente apareceu um predestinado do mensalão: "Relator pede condenação do ex-diretor do BB, Henrique PIZZOLATO". Pizzolato no mensalão!
E a Xuxa pintou o cabelo de preto e ficou a cara da Nina! E a Dilma na capa da revista "Forbes"? Tá parecendo o "Kung Fu Panda"! Rarará! E votem em mim. Prometo fazer o Neymar parar de cair! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
A Galera Medonha! A Turma da Tarja Preta! A força do eleitorado feminino! Tem pinto pra tudo que é gosto. Direto de Carazinho, RS: "Pinto Pequeno". Com o slogan: "Só o pinto é pequeno. A vontade é grande". Ou seja, fica só na vontade!
E direto de Varzedo, BA: "Pinto de Playboy". E o Pinto de Playboy aparece com uma polo rosa. Só falta levantar a gola. Como o Iran, da novela! E direto de Mamborê, PR: "Cacetinho". Como diz uma amiga minha: não gosto de miséria!
A situação tá ficando psicodélica. Eu acho que o Brasil tomou um ácido no café da manhã! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E o Adriano voltando pro Barmengo? Não joga aos fins de semana pra não atrapalhar o desempenho na baladas!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Novidades no mundo do futebol! "Corinthians quer espaço eterno à torcida e negocia criação de cemitério particular." É o PRESUNTÃO! E uma dúvida: O cemitério é só pra manos ou pra humanos também? Rarará! Epitáfio coletivo: Aqui jazz um bando de mortos!
E esta: "São Paulo quer contratar o Ganso". Um ganso só não vai dar conta! Rarará! E diz que o Ganso vai virar Cisne! Ô esculhambação!
E o Adriano? Voltando pro Barmengo! Mas não joga nos fins de semana. Pra não atrapalhar o desempenho na baladas! E a camisa 10 é uma barraca de camping!
E o site Futirinhas revela as proibições impostas pelo Flamengo. Cláusulas: 1) Proibido feijoada todos os dias. 2) Proibido amarrar mulher em árvore. 3) Proibido participar de festas com jegues e anões. E por último: Proibido jogar!
E o mensalão, mensonão, mensoneca? Tô adorando essa história de julgamento fatiado! O Zé Dirceu vai virar presunto fatiado. Eu acho que ele vai ser fatiado e esquartejado. Rarará! Parece fila dos frios: "Eu quero 100 gramas de Zé Dirceu e 200 gramas de Marcos Valério bem fininho". E os tiozinhos do Supremo só fatiam ou moem também? Porque eu quero 1 kg de mensalão moído! Na hora! À vista do freguês!
E o chargista Mario mudou o nome de mensalão pra mensalame! E finalmente apareceu um predestinado do mensalão: "Relator pede condenação do ex-diretor do BB, Henrique PIZZOLATO". Pizzolato no mensalão!
E a Xuxa pintou o cabelo de preto e ficou a cara da Nina! E a Dilma na capa da revista "Forbes"? Tá parecendo o "Kung Fu Panda"! Rarará! E votem em mim. Prometo fazer o Neymar parar de cair! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
A Galera Medonha! A Turma da Tarja Preta! A força do eleitorado feminino! Tem pinto pra tudo que é gosto. Direto de Carazinho, RS: "Pinto Pequeno". Com o slogan: "Só o pinto é pequeno. A vontade é grande". Ou seja, fica só na vontade!
E direto de Varzedo, BA: "Pinto de Playboy". E o Pinto de Playboy aparece com uma polo rosa. Só falta levantar a gola. Como o Iran, da novela! E direto de Mamborê, PR: "Cacetinho". Como diz uma amiga minha: não gosto de miséria!
A situação tá ficando psicodélica. Eu acho que o Brasil tomou um ácido no café da manhã! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 26/08
Bairros atingem limite de construção em São Paulo
Quase 20 distritos em São Paulo estão hoje sem mais espaço para a construção de grandes empreendimentos.
Áreas como Ipiranga, Mooca e Lapa esgotaram seus estoques de outorga onerosa, possibilidade de os empreendedores pagarem valor adicional à prefeitura para terem direito a construir acima do limite básico de cada região.
A Vila Leopoldina, que tem estoque regulamentado de 190 mil m², chegou ao nível máximo, enquanto em Moema foram usados pouco mais de 50 mil, segundo o Secovi.
Fora do estoque de outorga ainda é permitido construir um espaço básico, pouco atraente aos investidores.
"Essa discrepância ocorre porque quando o Plano Diretor foi elaborado, há cerca de dez anos, usou-se como base a produção imobiliária dos anos 90", diz Claudio Bernardes, presidente do Secovi-SP.
Muitos distritos ganharam perfil mais residencial, segundo Eduardo Della Manna, executivo do entidade, especialista no tema. Outros, como Moema, já tinham alta concentração de edifícios.
Nos bairros em que o estoque está perto do fim pode haver "descasamento", segundo incorporadores.
"Fomos contratados para executar um projeto. Depois que tivemos aprovação na prefeitura, o estoque da região havia acabado. Houve prejuízo pelo valor do terreno e pela engenharia", diz Arnaldo Halpern, da Halna.
"Fazemos constantemente estudos. Em algum momento os estoques serão revistos", diz Miguel Bucalem (Desenvolvimento Urbano).
"O modelo permitiu o crescimento de forma planejada, qualificou áreas, aproveitando o transporte público, e alocou recursos", afirma.
Construção em série
Em um dos setores que começam a reagir, com o reaquecimento do consumo, a Dicico abre neste semestre uma nova loja própria em São José dos Campos e cinco franquias em SP.
A empresa, que passou o primeiro semestre sem inaugurar unidades, completou nos últimos meses uma reforma em suas mais de 50 lojas no Estado, quase todas próprias.
A expansão para outros Estados deve ficar só para 2014, segundo Jorge Letra, copresidente da Dicico.
"Para elevar a distância precisaremos ter estrutura."
Neste ano, a companhia inaugurou um centro em Limeira e se prepara para abrir outro, em Santos.
O que eu estou lendo
Danilo S. Miranda, diretor do Sesc-SP
"Estive na Turquia no ano passado e gostei muito da capital, situada entre o Ocidente e o Oriente. Agora estou acabando de ler "Istambul", de Orhan Pamuk (ed.Cia das Letras), que revela os acontecimentos, desde a infância do escritor, que o marcaram na vida", diz Danilo Santos Miranda, diretor do Sesc -SP.
Administrador de um orçamento anual de cerca de R$ 1,5 bilhão na entidade, Miranda começou a ler também "O Círculo dos Mentirosos - Contos Filosóficos do Mundo Inteiro" (ed. Conex), de Jean-Claude Carrière e "Passagens de Tempo", de Mauro Maldonato (ed. Sesc SP).
Com que roupa
Novo Estilo no Élysée
Os holofotes franceses parecem não sentir falta de Carla Bruni, esposa do ex-presidente Nicolas Sarkozy.
A administração Hollande dá mostras de que as diferenças não são apenas políticas, como se vê no novo gabinete, metade dele composto por 17 mulheres.
Entre os diferentes estilos, sobressaem-se as ministras Filippetti (Cultura e Comunicação), Belkacem, (Direitos das Mulheres e porta-voz do governo), nascida no Marrocos, e Pellerin, (Pequenas e Médias Empresas/ Inovação), natural da Coreia do Sul.
Bairros atingem limite de construção em São Paulo
Quase 20 distritos em São Paulo estão hoje sem mais espaço para a construção de grandes empreendimentos.
Áreas como Ipiranga, Mooca e Lapa esgotaram seus estoques de outorga onerosa, possibilidade de os empreendedores pagarem valor adicional à prefeitura para terem direito a construir acima do limite básico de cada região.
A Vila Leopoldina, que tem estoque regulamentado de 190 mil m², chegou ao nível máximo, enquanto em Moema foram usados pouco mais de 50 mil, segundo o Secovi.
Fora do estoque de outorga ainda é permitido construir um espaço básico, pouco atraente aos investidores.
"Essa discrepância ocorre porque quando o Plano Diretor foi elaborado, há cerca de dez anos, usou-se como base a produção imobiliária dos anos 90", diz Claudio Bernardes, presidente do Secovi-SP.
Muitos distritos ganharam perfil mais residencial, segundo Eduardo Della Manna, executivo do entidade, especialista no tema. Outros, como Moema, já tinham alta concentração de edifícios.
Nos bairros em que o estoque está perto do fim pode haver "descasamento", segundo incorporadores.
"Fomos contratados para executar um projeto. Depois que tivemos aprovação na prefeitura, o estoque da região havia acabado. Houve prejuízo pelo valor do terreno e pela engenharia", diz Arnaldo Halpern, da Halna.
"Fazemos constantemente estudos. Em algum momento os estoques serão revistos", diz Miguel Bucalem (Desenvolvimento Urbano).
"O modelo permitiu o crescimento de forma planejada, qualificou áreas, aproveitando o transporte público, e alocou recursos", afirma.
Construção em série
Em um dos setores que começam a reagir, com o reaquecimento do consumo, a Dicico abre neste semestre uma nova loja própria em São José dos Campos e cinco franquias em SP.
A empresa, que passou o primeiro semestre sem inaugurar unidades, completou nos últimos meses uma reforma em suas mais de 50 lojas no Estado, quase todas próprias.
A expansão para outros Estados deve ficar só para 2014, segundo Jorge Letra, copresidente da Dicico.
"Para elevar a distância precisaremos ter estrutura."
Neste ano, a companhia inaugurou um centro em Limeira e se prepara para abrir outro, em Santos.
O que eu estou lendo
Danilo S. Miranda, diretor do Sesc-SP
"Estive na Turquia no ano passado e gostei muito da capital, situada entre o Ocidente e o Oriente. Agora estou acabando de ler "Istambul", de Orhan Pamuk (ed.Cia das Letras), que revela os acontecimentos, desde a infância do escritor, que o marcaram na vida", diz Danilo Santos Miranda, diretor do Sesc -SP.
Administrador de um orçamento anual de cerca de R$ 1,5 bilhão na entidade, Miranda começou a ler também "O Círculo dos Mentirosos - Contos Filosóficos do Mundo Inteiro" (ed. Conex), de Jean-Claude Carrière e "Passagens de Tempo", de Mauro Maldonato (ed. Sesc SP).
Com que roupa
Novo Estilo no Élysée
Os holofotes franceses parecem não sentir falta de Carla Bruni, esposa do ex-presidente Nicolas Sarkozy.
A administração Hollande dá mostras de que as diferenças não são apenas políticas, como se vê no novo gabinete, metade dele composto por 17 mulheres.
Entre os diferentes estilos, sobressaem-se as ministras Filippetti (Cultura e Comunicação), Belkacem, (Direitos das Mulheres e porta-voz do governo), nascida no Marrocos, e Pellerin, (Pequenas e Médias Empresas/ Inovação), natural da Coreia do Sul.
A balbúrdia e o papel do Banco Central - VITOR PINTO CHAVES
O GLOBO - 26/08
Uma balbúrdia. Assim foi definida a Diretoria de Marketing e Propaganda do Banco do Brasil, na gestão de Henrique Pizzolato, pelo ministro Ricardo Lewandowski. Aproximadamente R$ 74 milhões teriam sido desviados para a empresa DNA Propaganda de Marcos Valério. A origem do dinheiro? Fundo de Incentivo Visanet, gerido pela empresa CBMP Visanet. O Banco do Brasil, instituição financeira pública, era um de seus principais acionistas.
Não deveria haver fiscalização do Banco Central? O Bacen entende que não. Sua fiscalização estaria restrita, por exemplo, aos recursos investidos pelo Banco do Brasil na empresa. O dinheiro oriundo do Fundo Visanet não seria de sua atribuição. Credenciadora de cartões de crédito, em sua interpretação, não é instituição financeira. Há controvérsias.
O Superior Tribunal de Justiça tem súmula entendendo que as empresas administradoras de cartão de crédito são instituições financeiras. Podem, em razão disso, cobrar juros remuneratórios sem os limites da lei da usura. Porém, não trata sobre o papel de fiscalização do Bacen.
Com base nesse raciocínio, o Ministério Público Federal em
São Paulo ingressou, em 2006, com ação civil pública questionando o papel do Bacen e do Conselho Monetário Nacional. Além da jurisprudência do STJ, o MPF ressaltou que o papel dessas instituições, de acordo com a Lei do Sistema Financeiro Nacional, seria o de disciplinar e exercer o controle de todas as modalidades de crédito. Em 2010, o Tribunal Regional Federal da 3? Região deu razão ao MPF. A questão, entretanto, ainda está em aberto.
Após estudo sobre o setor, o Bacen editou, no final de 2010, resolução com regras acerca do cartão de crédito. Porém, tais regras servem apenas para as instituições bancárias por ele fiscalizadas. Não servem, ainda, para a fiscalização de situações como a ocorrida no
processo do mensalão.
Os especialistas divergem. Para uns, as credenciadoras, de fato, não fariam parte do sistema financeiro nacional. Não ofereceriam risco sistêmico. Para outros, todavia, a fiscalização serviria para facilitar o acesso a informações para o fisco e para coibir sua eventual utilização para lavagem de dinheiro.
O assunto é interessante. Quais os limites e a responsabilidade do Banco Central diante das inúmeras operações financeiras, bancárias ou não, que supostamente viabilizaram o mensalão? Essa é outra questão até agora ainda não explicitada. •
Uma balbúrdia. Assim foi definida a Diretoria de Marketing e Propaganda do Banco do Brasil, na gestão de Henrique Pizzolato, pelo ministro Ricardo Lewandowski. Aproximadamente R$ 74 milhões teriam sido desviados para a empresa DNA Propaganda de Marcos Valério. A origem do dinheiro? Fundo de Incentivo Visanet, gerido pela empresa CBMP Visanet. O Banco do Brasil, instituição financeira pública, era um de seus principais acionistas.
Não deveria haver fiscalização do Banco Central? O Bacen entende que não. Sua fiscalização estaria restrita, por exemplo, aos recursos investidos pelo Banco do Brasil na empresa. O dinheiro oriundo do Fundo Visanet não seria de sua atribuição. Credenciadora de cartões de crédito, em sua interpretação, não é instituição financeira. Há controvérsias.
O Superior Tribunal de Justiça tem súmula entendendo que as empresas administradoras de cartão de crédito são instituições financeiras. Podem, em razão disso, cobrar juros remuneratórios sem os limites da lei da usura. Porém, não trata sobre o papel de fiscalização do Bacen.
Com base nesse raciocínio, o Ministério Público Federal em
São Paulo ingressou, em 2006, com ação civil pública questionando o papel do Bacen e do Conselho Monetário Nacional. Além da jurisprudência do STJ, o MPF ressaltou que o papel dessas instituições, de acordo com a Lei do Sistema Financeiro Nacional, seria o de disciplinar e exercer o controle de todas as modalidades de crédito. Em 2010, o Tribunal Regional Federal da 3? Região deu razão ao MPF. A questão, entretanto, ainda está em aberto.
Após estudo sobre o setor, o Bacen editou, no final de 2010, resolução com regras acerca do cartão de crédito. Porém, tais regras servem apenas para as instituições bancárias por ele fiscalizadas. Não servem, ainda, para a fiscalização de situações como a ocorrida no
processo do mensalão.
Os especialistas divergem. Para uns, as credenciadoras, de fato, não fariam parte do sistema financeiro nacional. Não ofereceriam risco sistêmico. Para outros, todavia, a fiscalização serviria para facilitar o acesso a informações para o fisco e para coibir sua eventual utilização para lavagem de dinheiro.
O assunto é interessante. Quais os limites e a responsabilidade do Banco Central diante das inúmeras operações financeiras, bancárias ou não, que supostamente viabilizaram o mensalão? Essa é outra questão até agora ainda não explicitada. •
O custoso Legislativo municipal - GAUDÊNCIO TORQUATO
O Estado de S.Paulo - 26/08
A democracia custa caro. A conhecida sentença, sempre pinçada para explicar o elevado e crescente custo das instituições democráticas, nunca foi tão procedente quanto neste ciclo eleitoral que estamos vivenciando. Os custos do espetáculo democrático, que entrou na fase da programação eleitoral na mídia, baterão um recorde, ultrapassando limites de gastos de campanhas anteriores, fato que se ampara na decisão dos comitês partidários de nivelar por cima as planilhas financeiras como artifício para estreitar os subterrâneos do chamado caixa 2. Pelas contas do Tribunal Superior Eleitoral, os gastos de 194 candidatos a prefeito nas 26 capitais chegarão a R$ 1,26 bilhão.
Ao lado da expansão dos cofres eleitorais, vale destacar a forte participação de figurantes na disputa para a representação legislativa. O número de candidatos a vereador registra um aumento de 87 mil em relação a 2008, chegando aos 435,8 mil. Em razão de mudança constitucional, em 2009, o Congresso Nacional ampliou o número de cadeiras nas Câmaras Municipais e este ano serão eleitos mais 5.405 vereadores, o que explica em parte o incremento de candidaturas.
A motivação para ingresso na política, convenhamos, é um fenômeno que deve ser comemorado. Afinal, o melhor oxigênio para renovar os pulmões da política é o que entra pelos poros dos Legislativos municipais, no entendimento de que a democracia representativa assenta neles a sua base. Mas o desejo cívico de representar parcelas da população explica, por si só, o aumento do número de candidatos a vereador?
A resposta implica, inicialmente, saber o que faz um vereador. Sob sua responsabilidade se abrigam as tarefas de fazer leis em defesa da comunidade, acompanhar e fiscalizar os atos e decisões do Poder Executivo municipal. Tal atividade exige pleno conhecimento das demandas comunitárias e monitoramento dos atos do prefeito. Mas a realidade tem feito do vereador um despachante da população ou, no caso das grandes cidades, dos moradores de bairros e regiões. É ele que ajuda o eleitorado a ter acesso aos serviços públicos. Ressalte-se o caráter de servir à polis, ideal cívico que Aristóteles identificava nos cidadãos. A primeira imagem da política é, portanto, a simbolizada pela praça central de Atenas, a Ágora, onde os senadores da Antiguidade se reuniam com o povo para ouvir demandas e clamores. Os desvios no caminho da política ocorreram e se multiplicaram, ao longo da História das nações, no embate entre valores da vida pública e conveniências da vida privada. A imbricação de interesses de uns e outros acabou por afastar o DNA da política do berço original e semear o vírus da corrupção na teia construída pelos Estados.
De missão a política virou profissão. Os políticos tornaram-se profissionais. Foi assim que a representação popular passou a ser um negócio vantajoso. A democracia como o governo do povo, pelo povo e para o povo, como ensinava Abraham Lincoln, abriu espaço para o aditivo "e o governo para mim, também". Dando cobertura à nova ordem, armou-se um novo triângulo do poder, constituído pela burocracia estatal (administradores públicos), pela representação popular (mandatários) e por grupos de negócios (empresas e grupos privados). O processo decisório passou a ganhar uma taxa de compartilhamento.
A complexidade da vida moderna, as crescentes demandas de comunidades comprimidas nos espaços urbanos, a superposição da coisa privada à res publica, na esteira do definhamento dos mecanismos clássicos da democracia, ajudaram a plasmar o novo território da política. Que no Brasil floresce de maneira avassaladora graças ao fertilizante patrimonialista, abundante entre nós.
Sob essas curvas entramos nos plenários e corredores da representação legislativa municipal. O mandato de vereador passou a ser um negócio que custa, hoje, R$ 10 bilhões anuais ao País. Ao Rio de Janeiro, por exemplo, quase R$ 8 milhões e a Natal, mais de R$ 2,2 milhões por ano. Nessas duas capitais os salários de vereador batem no teto, ou seja, mais de R$ 15 mil, o máximo permitido pela emenda constitucional que autoriza um salário de até 75% do auferido pelos deputados estaduais.
Como se pode aduzir, mais que legislar e fiscalizar em prol da causa coletiva, muitos detentores de mandato começaram a enxergar a política como escada de ascensão pessoal. Pior, agora, é constatar o desfile de caras, bocas, vestes e gestos dos nossos futuros e legítimos representantes nos Legislativos. A amostra que vimos em São Paulo (metrópole desenvolvida) na última semana é de causar arrepios. Imaginem os desfiles canhestros em plagas atrasadas...
A dúvida assoma: como essas pessoas nos vão representar? Muitos clonam suas aparições na performance de Sua Excelência o palhaço Tiririca, na crença - até razoável - de que o conteúdo semântico que se pode extrair de duas frases gritadas velozmente será suplantado pela estética de jegues, galos, cachorros, chapéus, paletó vermelho, braços enfaixados, caras mascaradas ou por uma fonética que descamba em estribilho.
Pois bem, a esdrúxula coreografia eleitoral dos postulantes à vereança é a mais desabusada demonstração de inutilidade da comunicação eleitoral no País. Perfis sérios, confiáveis, dignos de crédito e mérito acabam, infelizmente, contaminados e engolidos pela expressão extravagante da imensa maioria dos parceiros. É uma faceta do custo Brasil do desperdício. Parcela substantiva dos bilhões de que o País carece para reequipar suas estruturas de segurança, saúde e educação é jogada no lixo de uma programação de péssimo gosto.
O Brasil precisa muito da missão dos vereadores. A instituição política que os abriga deve ser respeitada e defendida. Sua força e seu prestígio dependem, porém, de um lume ético e moral para iluminar as Câmaras Municipais e evitar que os candidatos mais se assemelhem a bufões da corte eleitoral.
Os autos e a vida - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 26/08
Amanhã começa uma semana em que o processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal terá duas definições: o primeiro veredicto do plenário, com os votos dos ministros sobre as acusações do item "desvio de dinheiro público", e a definição sobre o voto do ministro Cezar Peluso, que poderá pedir para antecipá-lo integralmente quando chegar sua hora de votar ou dar apenas seu parecer sobre o tema em julgamento nessa primeira "fatia" do processo. Cabe a ele, e somente a ele, decidir se pede essa exceção ou não. Ao presidente do Supremo, ministro Ayres Britto, o regimento interno permite que autorize o pedido, sem consultar o plenário.
O mais provável é que, se Cezar Peluso se decidir a votar integralmente, já terá a certeza de que a maioria do plenário é favorável.
Por sua experiência e saber jurídico, o ministro Peluso é considerado capaz de dar o "voto médio" do Supremo, isto é, aquele voto que pode dar um balizamento no julgamento.
As circunstâncias criaram uma pressão extra sobre sua decisão, pois a próxima quinta-feira deverá ser sua última sessão no Supremo, obrigado que está por lei a se aposentar quando faz 70 anos, no dia 3 de setembro.
Com um sentido distinto daquele que o prefeito petista de São Bernardo Luiz Marinho disse sobre o ministro José Dias Toffoli, muitos consideram que Peluso "não tem o direito de não participar".
Isso por que estaria privando o STF de seu veredicto, que não se sabe qual será, mas é temido pelos réus, além de provocar uma situação que pode ser explorada por quem quer melar o julgamento.
Como é possível um juiz condenar sem dar penas, perguntam alguns, já que Peluso estará aposentado quando o STF decidir as penas.
Alguns réus serão julgados por um plenário de 11 ministros e outros com um de 10, e os que desejam criar um ambiente de descrédito no julgamento colocam isso como uma falha. Não há nada de anormal nesse fato, e outras circunstâncias, além da aposentadoria, poderiam provocar esse desfalque, que não afeta a capacidade de julgamento do STF, cujo quorum mínimo é de seis ministros.
Peluso só faz um comentário a respeito: "Vocês saberão no momento próprio". É natural que ele pese bastante sua atitude, que ficará na história do Supremo e, sobretudo, na sua biografia.
Existe uma máxima dos julgamentos, usada por um dos advogados dos réus, de que "o que não está nos autos não está na vida", a justificar os julgamentos puramente técnicos, como o alegadamente proferido pelo ministro Ricardo Lewandowski ao absolver o deputado petista João Paulo Cunha.
Ele diz que, nos julgamentos, cada juiz tem uma valoração sobre as provas e uma maneira diferente de interpretar a lei.
Para justificar não ter ligado o desvio de dinheiro público do Banco do Brasil, que ele condenou, à distribuição do dinheiro que Marcos Valério realizou, ele diz que não é possível fazer-se essa ligação nos autos.
Assim como quando alega que a mulher do deputado assinou um recibo no Banco Rural, não leva em conta que os recibos não eram papéis formais que seriam enviados aos órgãos fiscalizadores, mas uma contabilidade interna não oficial, quase uma "prestação de contas" do Banco Rural a Marcos Valério sobre quem pegou o dinheiro.
Esses recibos só foram descobertos anos depois das denúncias, nos arquivos do banco, sendo que o que foi para o Banco Central se referia aos saques como "pagamentos para fornecedores" da SMP&B.
Mas há outros juízes que pensam o contrário, que a vida deve influenciar a interpretação dos autos. Por isso, juízes encontrarão vários depoimentos de petistas ilustres e políticos aliados do governo dizendo que o então chefe da Casa Civil, José Dirceu, não interferia nas coisas do PT.
Mas todos eles acompanharam os primeiros anos do governo Lula e sabem o poder de que Dirceu desfrutava na máquina governamental.
No caso de João Paulo, haverá juízes que saberão fazer o nexo entre causa e efeito, e não considerarão coincidência a presença de Marcos Valério nas duas pontas. O grande teatrólogo Nelson Rodrigues, cujo centenário de nascimento comemora-se este mês, dizia que "Deus está nas coincidências".
Matando com eficácia - JOÃO UBALDO RIBEIRO
O Estado de S.Paulo - 26/08
A vida cada vez vale menos, como se vê a todo instante. No Brasil, não vale nada, ou quase nada. Vale em nossas leis, se bem que cada vez mais desdentadas e avacalhadas pelas chicanas processuais que propiciam, notadamente para os ricos. Na prática, o que vemos é gente agonizando abandonada nos hospitais públicos e mortes violentas por todos os lados. O jovem delinquente compra sua primeira pistola e, para experimentá-la, mata alguém na primeira oportunidade. Um homem, como aconteceu não faz muito em Brasília, mata a namorada e, no dia seguinte, comparece a uma delegacia, revela o crime, entrega o corpo da vítima e a arma, e é também solto na hora.
Matar, no Brasil, é muito mais banal do que qualquer um de nós gosta de admitir. É muito fácil também. Como têm podido observar os que leem jornais e assistem a noticiários, há cidades (basta procurar no Google com jeito) onde é fácil contratar um pistoleiro e mandar matar um desafeto, contando ainda com a conveniente circunstância de que a grande maioria dos homicídios não é esclarecida. Para os casos mais triviais, dizem que sai muito em conta, valendo de sobra uma herança em disputa ou até um mero desagravo. E tem o carro, o método mais fácil e seguro. Qualquer um pode tomar umas talagadas, pegar o carro e matar quem desejar. A relação custo-benefício é incalculavelmente a favor do assassino e a embriaguez, em certas subculturas nacionais, é até atenuante. Em suma, entre nós há pouca diferença entre matar um rato e uma pessoa. Para não falar em matar um bicho do mato, mesmo em caso de necessidade, porque o Ibama prende e o crime é inafiançável.
Mas, mesmo onde matar não é tão fácil e não há tamanha impunidade, eliminar gente continua uma atividade prioritária em boa parte do mundo e há quem faça disso o grande objetivo de sua existência. Um carro-bomba ou avião explodido ali, um massacre acolá, um genocídio alhures. Ninguém mais, com exceção dos atingidos, dá muita importância a notícias sobre esse tipo de ocorrência, é tudo estatística. Dezenas de mortos, centenas de feridos, centenas de mortos, milhares de feridos, acaba tudo misturado e esquecido.
Na verdade, matar o semelhante é tão importante para os humanos que sempre houve um próspero mercado para os fornecedores dos meios para a eliminação do outro. É interessante que, quando pensamos em marcianos de ficção científica antiga, achamos que esses marcianos, habitantes de um planeta apenas um pouco menor que o nosso, seriam um todo homogêneo e não, como nós, divididos ferozmente entre territórios e categorias as mais disparatadas e arbitrárias e indo às fuças uns dos outros o tempo todo. Quer dizer, achamos que o certo seria vivermos harmoniosamente, como seres do mesmo planeta, que morrem imediatamente, se não mantiverem contato direto com o que os circunda, a começar pelo ar e o alimento. Mas, apesar disso, matamos os semelhantes a torto e a direito e frequentemente consideramos nobres os motivos, mesmo que saibamos que essa nobreza está no olho de quem mata.
Mas, não sei por que, o que mais me intriga são os fabricantes da morte, agora mais vivamente, com as notícias de armas químicas e biológicas na Síria. Muitos venenos foram descobertos por acaso, assim como cepas virulentas de micro-organismos, mas há cientistas dedicados a criar os mais devastadores agentes de morticínio e sofrimento em massa. Dizem-nos que os mocinhos não estocam essas armas, só os bandidos - ao que manda a sensatez responder com um "morda aqui". Ninguém sabe que pestes e pragas diabólicas estão encapsuladas nos arsenais, ou quando algum desatinado fará uso delas.
Uma dessas doenças, já se divulgou faz tempo, é o antraz, também conhecido como carbúnculo, tão brabo que, no Nordeste, virou palavrão, através da corruptela "cabrunco". Normalmente só contraído por contato direto com material infectado, em sua forma "evoluída" deve pegar até pelo pensamento. A intenção é matar, mas já li que não se despreza o importante "efeito moral", obtido pela reação dos contaminados, ao perceberem, a si mesmos e aos circundantes, cobertos de pústulas e chagas repulsivas.
Está bem, não se deve julgar o próximo, mas o que é que faz o sujeito trabalhar numa coisa dessas e chegar intencionalmente a esses resultados? Dizer que a ciência, como a justiça, é cega e, portanto, se desenvolver uma forma altamente letal de uma doença está nos limites da ciência, ela deve ser desenvolvida é a mesma coisa que saber que está nos limites da ciência projetar uma única bomba que destruirá a Terra e fazer essa bomba. Não era necessário o antraz de laboratório. Equipes de cientistas trabalharam sabe-se lá quanto tempo para desenvolvê-lo, sabendo perfeitamente para que serviria e como poderia ser empregado. Será que nem um só desses caras se detém para pensar na monstruosidade que está ajudando a gerar? Como será que eles fazem os cálculos para estimar o número de infectados por hora, o número de óbitos por dia e assim por diante, sem imaginar o sofrimento causado?
Estive assistindo a um vídeo interessante, na internet. Um químico fazia uma palestra sobre uma bela rãzinha alaranjada, nativa da América Central, do tamanho da unha do polegar. A rãzinha é predada por pássaros e precisa de uma defesa eficaz. Aí produz na pele um dos venenos mais potentes já descobertos, que atua em doses infinitesimais. Não dá nem para abrir o bico direito. Com o sistema nervoso bloqueado em milissegundos, o pássaro cai duro para trás e a rãzinha salta fora. Ainda não sintetizaram o veneno, mas é inevitável pensar que alguém pode estar se dedicando a isso, para legar ao futuro a possibilidade de, com uma ampolazinha jogada do alto, extinguir toda a vida animal numa área qualquer. Pode, não; deve estar, nossa espécie não falha.
Primavera Árabe e inverno no Itamaraty - MARCELO COUTINHO
Folha de S.Paulo, 26/08
Vacilantes, tropeçamos demais, apoiamos ditadores em queda, perdemos parceiros, dinheiro, valores. Nos livros, seremos só nota de rodapé. Do lado errado
A Primavera Árabe aconteceu e o Itamaraty não viu. Os nossos diplomatas não souberam lidar com a situação, não apoiaram os movimentos democráticos e perderam o espaço no Oriente Médio conquistado ao longo de décadas.
Seja qual for o nome que se queira dar, trata-se do maior acontecimento mundial desde o fim da Guerra Fria. Ninguém previu. As teorias civilizacionais que existiam até então, como as de Bernard Lewis e Samuel Huntington, afirmavam ser impossível esse tipo de coisa acontecer nas sociedades muçulmanas.
Mas depois que o processo começou, todas as chancelarias no mundo afora revisitaram seus conceitos, ajustaram suas equações e adaptaram as suas políticas externas para a região, menos o Brasil.
Nós demoramos muito a tomar uma posição. E até hoje nossa posição continua pouco clara. Vacilamos repetidas vezes. Em mais de um momento, ficamos do lado de ditadores em declínio. Assim pelo menos é como nos veem o Ocidente e os próprios revolucionários.
Os votos do Brasil no Conselho de Segurança da ONU falam muito mais alto do que qualquer palavra diplomática. Fomos tímidos em relação à Tunísia e Egito. Fomos contra a intervenção na Líbia, mesmo Gaddafi dizendo que trucidaria a população de Benghazi.
Aludimos à possibilidade de uma tragédia maior se o mundo se metesse, como se ela já não estivesse suficientemente clara. O Ministério das Relações Exteriores comprou a ideia de que a Líbia se tornaria um caos, quase que como justificando o governo de força.
Pois bem, os líbios foram às urnas e elegeram um governo moderado. Os problemas estão longe de serem resolvidos, e muita instabilidade ainda está por vir, mas a vida naquele país está significativamente melhor. Ao menos o povo tem o próprio destino nas mãos, e começa a criar suas instituições.
Em agosto de 2011, enquanto as tropas do Conselho Nacional de Transição se lançavam sobre Trípoli, conquistando a capital, não muito longe dali apoiávamos outro ditador.
Chegamos a ponto de mandar uma missão à Síria que na prática respaldou o governo de Assad. Àquela altura já eram 2.000 civis mortos pela repressão, e Brasília dividiu as responsabilidades com os movimentos pela democracia. Hoje, calcula-se já 20 mil mortos.
O Brasil perdeu "parceiros", credenciais e até dinheiro investido de empresas nacionais. O pior, no entanto, foi ter aberto mão de suas virtudes como nação democrática não colonial, signatária da Declaração Universal dos Direitos Humanos, para defender um velho cenário no Oriente Médio em ruínas.
Na foto, junto aos revolucionários e movimentos democráticos, posaram europeus e americanos.
O discurso do Itamaraty nesses casos foi o de não intervenção. Nem mesmo diplomatas antigos confiam mais apenas nesse princípio para a ordem internacional. Em Angola, Haiti ou Honduras, para citar alguns exemplos, esqueceram-se dele, lembrando a necessidade de não ser indiferente às conjunções críticas.
O Itamaraty tropeçou demais. Daqui a cem anos, os livros de história vão falar dos eventos que mudaram uma parte central do mundo. O Brasil vai aparecer em uma nota de roda pé do lado errado dessas transformações.
Primavera lá. Inverno de ideias aqui.
Vacilantes, tropeçamos demais, apoiamos ditadores em queda, perdemos parceiros, dinheiro, valores. Nos livros, seremos só nota de rodapé. Do lado errado
A Primavera Árabe aconteceu e o Itamaraty não viu. Os nossos diplomatas não souberam lidar com a situação, não apoiaram os movimentos democráticos e perderam o espaço no Oriente Médio conquistado ao longo de décadas.
Seja qual for o nome que se queira dar, trata-se do maior acontecimento mundial desde o fim da Guerra Fria. Ninguém previu. As teorias civilizacionais que existiam até então, como as de Bernard Lewis e Samuel Huntington, afirmavam ser impossível esse tipo de coisa acontecer nas sociedades muçulmanas.
Mas depois que o processo começou, todas as chancelarias no mundo afora revisitaram seus conceitos, ajustaram suas equações e adaptaram as suas políticas externas para a região, menos o Brasil.
Nós demoramos muito a tomar uma posição. E até hoje nossa posição continua pouco clara. Vacilamos repetidas vezes. Em mais de um momento, ficamos do lado de ditadores em declínio. Assim pelo menos é como nos veem o Ocidente e os próprios revolucionários.
Os votos do Brasil no Conselho de Segurança da ONU falam muito mais alto do que qualquer palavra diplomática. Fomos tímidos em relação à Tunísia e Egito. Fomos contra a intervenção na Líbia, mesmo Gaddafi dizendo que trucidaria a população de Benghazi.
Aludimos à possibilidade de uma tragédia maior se o mundo se metesse, como se ela já não estivesse suficientemente clara. O Ministério das Relações Exteriores comprou a ideia de que a Líbia se tornaria um caos, quase que como justificando o governo de força.
Pois bem, os líbios foram às urnas e elegeram um governo moderado. Os problemas estão longe de serem resolvidos, e muita instabilidade ainda está por vir, mas a vida naquele país está significativamente melhor. Ao menos o povo tem o próprio destino nas mãos, e começa a criar suas instituições.
Em agosto de 2011, enquanto as tropas do Conselho Nacional de Transição se lançavam sobre Trípoli, conquistando a capital, não muito longe dali apoiávamos outro ditador.
Chegamos a ponto de mandar uma missão à Síria que na prática respaldou o governo de Assad. Àquela altura já eram 2.000 civis mortos pela repressão, e Brasília dividiu as responsabilidades com os movimentos pela democracia. Hoje, calcula-se já 20 mil mortos.
O Brasil perdeu "parceiros", credenciais e até dinheiro investido de empresas nacionais. O pior, no entanto, foi ter aberto mão de suas virtudes como nação democrática não colonial, signatária da Declaração Universal dos Direitos Humanos, para defender um velho cenário no Oriente Médio em ruínas.
Na foto, junto aos revolucionários e movimentos democráticos, posaram europeus e americanos.
O discurso do Itamaraty nesses casos foi o de não intervenção. Nem mesmo diplomatas antigos confiam mais apenas nesse princípio para a ordem internacional. Em Angola, Haiti ou Honduras, para citar alguns exemplos, esqueceram-se dele, lembrando a necessidade de não ser indiferente às conjunções críticas.
O Itamaraty tropeçou demais. Daqui a cem anos, os livros de história vão falar dos eventos que mudaram uma parte central do mundo. O Brasil vai aparecer em uma nota de roda pé do lado errado dessas transformações.
Primavera lá. Inverno de ideias aqui.
Tô focado - LUIS FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 26/08
Como a matéria do Universo, uma carreira política também se forma do nada. Há casos de vocações políticas claras – líderes comunitários com credenciais indiscutíveis para pleitear cargo eletivo, por exemplo –, mas em muitos outros casos quem pede votos para começar uma carreira política só tem, como credencial, sua vontade – e sua coragem. Daí esse patético desfile de candidatos no horário eleitoral, com poucos segundos para se apresentar ao eleitor, tentando arrancar do nada uma justificativa para querer entrar, ou continuar, na política.
É fácil fazer pouco de candidatos folclóricos que buscam desesperadamente se destacar dos outros com um apelido ou um slogan pitorescos (lembro de um gordinho que só ficava sorrindo para a câmera enquanto aparecia na tela sua razão para estar ali: “Bom filho”) ou, sem nenhum jeito para aquilo, explorando a notoriedade alcançada em outra atividade, como o futebol. Mas não se queixe. O que você está vendo é a democracia no seu estágio primitivo, ainda na forma gasosa que precede a criação. E os folclóricos podem
surpreender. O Tiririca eu não sei, mas o Romário se revelou um bom e ativo congressista.
Numa eleição passada, numa cidade do interior, um candidato fez campanha com uma única frase. Era um fotógrafo que ganhara uma boa reputação na cidade retratando a sociedade local – reuniões de família,formaturas, debutantes, etc – e decidira ser vereador. Seu slogan era “Tô focado”. A frase aparecia em cartazes e banners do candidato e ele a repetia em comícios – “Tô focado! Tô focado!” – querendo dizer que estava concentrado nos problemas da cidade, que os enquadraria, na câmara dos vereadores, como enquadrava seus retratos na câmera fotográfica. Gastou todo o seu dinheiro na campanha, mas perdeu a eleição. E o pior é que depois não faltaram pichadores que percorreram a cidade fazendo pequenas alterações na frase “Tô focado”, entre o “fo” e o “do”, impiedosamente.
Apesar dos desgostos e dos ridículos não existe outra maneira da democracia começar a não ser nesse nível, com o risco de elegermos palhaços e apenas bons filhos. Sempre há a esperança que, no cargo, eles se mostrem bem focados.
surpreender. O Tiririca eu não sei, mas o Romário se revelou um bom e ativo congressista.
Apesar dos desgostos e dos ridículos não existe outra maneira da democracia começar a não ser nesse nível, com o risco de elegermos palhaços e apenas bons filhos. Sempre há a esperança que, no cargo, eles se mostrem bem focados.
Hipocrisia na discussão do aborto - LEE SIEGEL
O ESTADÃO - 26/08
NOVA JERSEY - O aborto foi explicitamente colocado no centro da disputa presidencial americana. Uma grande fogueira irrompeu depois que Todd Akin, um congressista republicano do Missouri que está concorrendo ao Senado, respondeu a uma pergunta sobre se o aborto devia ser legal para mulheres que haviam engravidado durante um estupro dizendo que "se for um legítimo estupro, o corpo da mulher tem meios para bloquear essa coisa toda". Em outras palavras, o congressista Akin, assim como outros membros do establishment republicano, acredita que corpo de uma mulher, como certos carros que automaticamente desligam o motor numa colisão, não se permitirá ser engravidado pelo estuprador.
Os liberais ficaram possessos, é claro, pintando Akin como um débil mental. E alguns dos mais destacados políticos republicanos - incluindo Mitt Romney e seu colega de chapa, Paul Ryan - denunciaram imediatamente Akin eles próprios.
Os dois lados estavam sendo insinceros. Não houve nenhuma debilidade mental na proposição medicamente infundada, mas fascinante, de Akin. Ele e outras pessoas "pró-vida" simplesmente não querem que mulheres recorram ao aborto sob o falso pretexto de terem sido estupradas. E Akin não destoa em nada do pensamento republicano dominante sobre o assunto - tanto Romney como Ryan são passionalmente contrários ao aborto, e Ryan tem se oposto a ele mesmo em casos de estupro. Os republicanos indignados que estão denunciando Akin não querem perder o voto das mulheres nas eleições de novembro.
Seja qual for a posição sobre o aborto - e toda sociedade aberta tem sua própria abordagem com frequência debatida acaloradamente -, a ideia de que o aborto está despontando pela primeira vez no centro do discurso americano nesta temporada eleitoral é ingênua. Desde 1973, quando a decisão da Suprema Corte conhecida como Roe vs. Wade legalizou o aborto, este tem sido questão fundamental na política americana, ponto. Enquanto pessoas pró-vida conhecem e compreendem as emoções ferozes que mobilizam seus oponentes "pró-escolha", a maioria dos liberais pró-escolha não consegue captar a profundidade do sentimento por trás da posição pró-vida. Eles não compreendem que se você acredita que a vida começa na concepção, então a ideia de milhões de seres humanos sendo assassinados a cada ano é insuportável. Por admiráveis que sejam muitos aspectos do liberalismo, é uma característica da mentalidade liberal não conseguir compreender aquilo de que discorda.
O aborto tem um nível simbólico, também. A forte acrimônia que cerca a questão nos Estados Unidos tem muito a ver com as ideias radicalmente diferentes sobre o prazer. O debate sobre reprodução é também um debate sobre sexo. É um debate sobre até onde pessoas iriam para se satisfazer. As dimensões de vida e morte e sexuais da questão do aborto tornam impossível se chegar a um consenso social sobre ela.
É por isso que Roe vs Wade acabará sendo derrubada. Cedo ou tarde, a Suprema Corte se tornará um tribunal dominantemente conservador, e os magistrados reverterão a decisão da Corte sobre o aborto. A questão se uma mulher tem o direito de abortar será remetida então aos Estados, e cada um a decidirá à sua maneira.
Os Estados Unidos tiveram uma guerra civil e nenhum golpe de Estado. Quando Roe vs Wade for derrubada, poderá haver perfeitamente um golpe e uma guerra civil. Não foi por acaso que o furor atual sobre o aborto começou no Missouri. O chamado "Acordo do Missouri" de 1820 permitia a escravidão no Estado, mas - para simplificar um acordo complicado - a proibia em áreas circundantes, e o resultado é que o país ficou dividido em Estados escravistas e Estados livres. Essa solução fatídica de um problema trágico foi um dos fatores que precipitaram a Guerra Civil. Num mundo pós-Roe vs Wade, os EUA também ficarão divididos em duas regiões: Estados pró-vida e Estados pró-escolha.
Quase dá para ver a distopia resultante se desenrolando em nossa imaginação. Os Estados pró-vida terão uma profusão de orfanatos controlados pelo Estado para as mulheres que foram engravidadas por estupro ou incesto, ou são simplesmente pobres demais para criar um filho em segurança. As crianças mais dotadas talvez sejam dadas de presente aos membros mais piedosos da comunidade. As mães que os derem serão levadas a trabalhar nas fronteiras em pé de guerra da região, servindo aos soldados que ali estão estacionados permanentemente.
Na região pró-escolha, os privilégios reprodutivos das mulheres serão determinados pela qualidade genética da mãe e do pai. Visto que os liberais americanos são discretamente fascinados pela eugenia - sob o disfarce "respeitável" de sociobiologia e psicologia evolucionista -, eles não sentirão nenhuma culpa de permitir que mães de "alta qualidade" tenham dois filhos, enquanto mães de "nível médio" só poderão ter um. Mães que pontuarem mal nos testes padronizados que asseguram a ordem social serão enviadas às fronteiras pró-escolha, onde também servirão às tropas e lançarão olhares noturnos furtivos a suas congêneres, as mães pró-vida que entregaram seus filhos ao Estado.
Ambos os lados serão regidos por uma ilógica monstruosamente desumana. Mas numa sociedade que nem consegue tornar ilegal a posse individual de rifles de assalto semiautomáticos, ou decidir por um acordo sobre o sistema de saúde que proteja seus cidadãos, o pesadelo pós- Roe vs Wade provavelmente parecerá racional.
CLAUDIO HUMBERTO
“Meu pai já foi condenado, destruíram a imagem dele”
Deputado Zeca Dirceu (PT-PR), sobre as acusações contra José Dirceu no mensalão
PSDB TENTA DE PAGOT CONFISSÕES CONTRA GOVERNO
Os membros do PSDB na CPI mista do Cachoeira tentarão arrancar do depoimento de Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Dnit, afirmações que possam comprometer o governo federal. Em reunião na quarta, os tucanos decidiram tentar aproveitar possíveis mágoas de Pagot, defenestrado do Dnit após denúncias de corrupção supostamente plantadas por Cachoeira, para desgastar o PT nas eleições municipais.
EM BOCA FECHADA...
Pagot disse a amigos que negará qualquer acusação contra o governo, o PT e o próprio PSDB em seu depoimento na CPI do Cachoeira.
...NÃO ENTRA MOSCA
Por outro lado, o ex-diretor do Dnit vai confirmar que arrecadou dinheiro para financiar campanhas do PT. Segundo ele, tudo legal.
QUEM CALA, CONSENTE
PSDB usará a fala do líder e questões de ordem para interrogar Fernando Cavendish, da Delta. Mas terá o silêncio como resposta.
TORMENTO SEM FIM
O ex-ministro José Dirceu torce para que o julgamento do mensalão acabe logo. Manobras protelatórias só atormentam os réus, diz.
POLÍTICA DE ALIANÇAS ESPANTA PERNAMBUCANOS
Em Pernambuco, muita gente mal acredita na aliança costurada por Eduardo Campos (PSB), atual governador, com inimigos do avô dele Miguel Arraes, como Jarbas Vasconcelos (PMDB), senador que também tem diferenças inconciliáveis com o ex-presidente Lula. Jarbas levou para aliança Antonio Lavareda, o marqueteiro que o ajudou na implacável oposição ao então governador Arraes e ao seu neto.
CONTÁGIO
Virou bagunça: o consulado dos Estados Unidos avisou a uma leitora, com visto obtido há dois meses, que a DHL vai entregar o documento.
CAIXA FORRADO
Ultrapassou R$ 1 bilhão a arrecadação em royalties do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), no primeiro semestre de 2012.
LETRA MORTA
O bufão da Venezuela, Hugo Chávez, e o ditador aposentado de Cuba, Fidel Castro, vão escrever um livro. Lula se oferecerá como revisor.
CONSTRANGIMENTO
As gargalhadas de advogados de mensaleiros, quinta, no plenário do Supremo Tribunal Federal, deixaram os ministros indignados e também envergonhados, quando viram o flagrante estampado nos jornais.
QUEM RI MELHOR?
Para um polêmico ministro do Supremo, que pediu para não ter seu nome informado, as gargalhadas dos advogados causaram mais estragos aos réus que a denúncia da Procuradoria-Geral da República.
NA MOITA
O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), decidiu dar um pausa na campanha pela presidência da Câmara: “Vou esperar o resultado das eleições municipais, para então buscar o voto de cada deputado”.
PARTE SENSÍVEL
Réu no mensalão, o ex-deputado Roberto Jefferson comemorou em seu blog o acordo que obriga Luiz Estevão a devolver meio milhão ao erário: “É aplicar o castigo no bolso, parte sensível do ser humano”.
DIA-A-DIA
Para o advogado do publicitário Duda Mendonça no mensalão, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, “não há nada de incomum” nas divergências entre o relator Joaquim Barbosa e o revisor Lewandowski.
CATARINENSE NO STF
O ministro Teori Zavascki, o primeiro que Lula nomeou para o Superior Tribunal de Justiça, é cotado para uma das vagas a serem abertas este ano no Supremo Tribunal Federal. Santa Catarina, seu Estado, até hoje somente emplacou um ministro no STF, Luís Gallotti, em 1949.
QUALIFICAÇÃO
Em assembleia, esta semana, grevistas da Polícia Federal apoiavam a paralisação de todas as atividades, enfrentando as consequências. Só não queriam interromper as aulas e cursos de formação.
É A LEI
É inédito na história do Itamaraty, desde o barão do Rio Branco, o corte do ponto dos servidores em greve no Itamaraty nas embaixadas, consulados e delegações mundo afora. Dura Lex, sed Lex.
PENSANDO BEM...
...todos os Cunha são iguais, mas há Cunha mais iguais que os outros.
PODER SEM PUDOR
BARRINHAS NO DISCURSO
Ao defender seu cliente Duda Mendonça na tribuna do Supremo Tribunal Federal, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro (Kakay) reclamou da dificuldade de enfrentar o procurador-geral da República, destacando que enquanto Roberto Gurgel toma cafezinho com os ministros, ele não tem acesso nem mesmo a barrinha de cereais. Assistentes do colega dele José Luís de Oliveira Lima, que defende José Dirceu, não resistiram à brincadeira: compraram-lhe uma barrinha de cereais. Mas, ao entregá-la, Kakay agradeceu e recusou:
- Eu não gosto de barrinhas de cereais...
Deputado Zeca Dirceu (PT-PR), sobre as acusações contra José Dirceu no mensalão
PSDB TENTA DE PAGOT CONFISSÕES CONTRA GOVERNO
Os membros do PSDB na CPI mista do Cachoeira tentarão arrancar do depoimento de Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Dnit, afirmações que possam comprometer o governo federal. Em reunião na quarta, os tucanos decidiram tentar aproveitar possíveis mágoas de Pagot, defenestrado do Dnit após denúncias de corrupção supostamente plantadas por Cachoeira, para desgastar o PT nas eleições municipais.
EM BOCA FECHADA...
Pagot disse a amigos que negará qualquer acusação contra o governo, o PT e o próprio PSDB em seu depoimento na CPI do Cachoeira.
...NÃO ENTRA MOSCA
QUEM CALA, CONSENTE
PSDB usará a fala do líder e questões de ordem para interrogar Fernando Cavendish, da Delta. Mas terá o silêncio como resposta.
TORMENTO SEM FIM
O ex-ministro José Dirceu torce para que o julgamento do mensalão acabe logo. Manobras protelatórias só atormentam os réus, diz.
Em Pernambuco, muita gente mal acredita na aliança costurada por Eduardo Campos (PSB), atual governador, com inimigos do avô dele Miguel Arraes, como Jarbas Vasconcelos (PMDB), senador que também tem diferenças inconciliáveis com o ex-presidente Lula. Jarbas levou para aliança Antonio Lavareda, o marqueteiro que o ajudou na implacável oposição ao então governador Arraes e ao seu neto.
CONTÁGIO
CAIXA FORRADO
LETRA MORTA
O bufão da Venezuela, Hugo Chávez, e o ditador aposentado de Cuba, Fidel Castro, vão escrever um livro. Lula se oferecerá como revisor.
CONSTRANGIMENTO
As gargalhadas de advogados de mensaleiros, quinta, no plenário do Supremo Tribunal Federal, deixaram os ministros indignados e também envergonhados, quando viram o flagrante estampado nos jornais.
QUEM RI MELHOR?
Para um polêmico ministro do Supremo, que pediu para não ter seu nome informado, as gargalhadas dos advogados causaram mais estragos aos réus que a denúncia da Procuradoria-Geral da República.
NA MOITA
O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), decidiu dar um pausa na campanha pela presidência da Câmara: “Vou esperar o resultado das eleições municipais, para então buscar o voto de cada deputado”.
PARTE SENSÍVEL
Réu no mensalão, o ex-deputado Roberto Jefferson comemorou em seu blog o acordo que obriga Luiz Estevão a devolver meio milhão ao erário: “É aplicar o castigo no bolso, parte sensível do ser humano”.
DIA-A-DIA
Para o advogado do publicitário Duda Mendonça no mensalão, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, “não há nada de incomum” nas divergências entre o relator Joaquim Barbosa e o revisor Lewandowski.
CATARINENSE NO STF
O ministro Teori Zavascki, o primeiro que Lula nomeou para o Superior Tribunal de Justiça, é cotado para uma das vagas a serem abertas este ano no Supremo Tribunal Federal. Santa Catarina, seu Estado, até hoje somente emplacou um ministro no STF, Luís Gallotti, em 1949.
QUALIFICAÇÃO
Em assembleia, esta semana, grevistas da Polícia Federal apoiavam a paralisação de todas as atividades, enfrentando as consequências. Só não queriam interromper as aulas e cursos de formação.
É A LEI
É inédito na história do Itamaraty, desde o barão do Rio Branco, o corte do ponto dos servidores em greve no Itamaraty nas embaixadas, consulados e delegações mundo afora. Dura Lex, sed Lex.
PENSANDO BEM...
...todos os Cunha são iguais, mas há Cunha mais iguais que os outros.
PODER SEM PUDOR
BARRINHAS NO DISCURSO
Ao defender seu cliente Duda Mendonça na tribuna do Supremo Tribunal Federal, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro (Kakay) reclamou da dificuldade de enfrentar o procurador-geral da República, destacando que enquanto Roberto Gurgel toma cafezinho com os ministros, ele não tem acesso nem mesmo a barrinha de cereais. Assistentes do colega dele José Luís de Oliveira Lima, que defende José Dirceu, não resistiram à brincadeira: compraram-lhe uma barrinha de cereais. Mas, ao entregá-la, Kakay agradeceu e recusou:
- Eu não gosto de barrinhas de cereais...
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