CORREIO BRAZILIENSE - 26/08
Em política, muitas vezes os movimentos são provocados mais por protestos ou ódios acumulados do que propriamente posições ideológicas ou avaliações racionais. Seja da parte dos eleitores, seja pelos próprios políticos. No caso do eleitorado, atitudes passionais ajudaram, por exemplo, a levar Marina Silva a uma boa performance na sucessão presidencial.
Hoje, é possível verificar essa passionalidade relacionada à política em dois movimentos, um em São Paulo e outro em Brasília. O mais visível é o de São Paulo, onde Celso Russomanno, do PRB, aparece como favorito sem nunca ter administrado a cidade nem dispor de um grande “padrinho”. Para completar, tem um pequeno partido, o que lhe deixa com um tempo bem menor na tevê em relação aos demais.
Russomanno é a “Marina de São Paulo”, como bem definiu um amigo na última quinta-feira. Seu poder de sedução está diretamente relacionado a algo que embalou o fôlego da ex-senadora Marina Silva na campanha presidencial: a insatisfação e a rejeição de parte expressiva do eleitorado ao PT e ao candidato José Serra. Russomanno tem segurado a seu lado grande parte de votos do PT da mesma forma que Marina “pegou” muitos votos de Lula em 2010. Mas a onda Marina não foi suficiente para levá-la a um segundo turno, especialmente, porque não tinha tempo de tevê e nem a experiência administrativa que carregavam José Serra e Dilma Rousseff.
Resta saber o que os paulistanos escolherão: segurar o protesto até o fim, levando Russomanno a um segundo turno, ou voltarão ao embate PSDB versus PT, em outubro. No momento, qualquer aposta fechada num ou noutro caminho é um chute tão grande quanto jogar todas as fichas numa candidatura única a presidente da Câmara dos Deputados para substituir Marco Maia. Vem aí uma “Marina” para atrapalhar os planos do PMDB.
A “Marina” da Câmara
Enquanto o noticiário político em Brasília se mantém focado no desenrolar da Ação Penal 470, o mensalão, grupos de deputados aproveitam a calmaria do Congresso nos esforços concentrados para preparar o próximo embate, a disputa pelas presidências do Poder Legislativo. O primeiro movimento veio do PT, que, no início de agosto, fechou o apoio ao líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), para presidir a Câmara. Desde então, nem tudo tem sido festa para Henrique Alves em seus jantares em busca de votos.
Na última semana, por exemplo, Alves chegou a um encontro de deputados do PSD em Brasília acompanhado do vice-presidente Michel Temer e do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO) — companhia constante de Henrique ultimamente, interessadíssimo em herdar o comando da bancada do PMDB na Casa. O líder passou pelo constrangimento de ouvir de alguns deputados do PSD que o assunto só será decidido depois da eleição municipal. Houve quem mencionasse inclusive o possível surgimento de outros candidatos.
No dia seguinte ao jantar dos peemedebistas, o quarto secretário da Câmara, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), foi chamado para um almoço com um grupo de políticos. Juntos, começaram a analisar o futuro da Casa. Obviamente, essa inclusão de Júlio Delgado no jogo traz embutido o desejo de PSB e PSD de quebrar a aliança PT-PMDB para 2014 — como, aliás, já dissemos aqui.
Mas, além disso, da mesma forma que há entre os paulistanos uma rejeição ao embate PT versus PSDB, existe entre os deputados uma vontade de protestar contra o poder absoluto do PMDB e do PT no Legislativo federal. Esses dois partidos hoje definem tudo no Congresso. E é nesse sentido que Júlio Delgado desponta nesse universo de 513 eleitores como a “Marina da Câmara”. Se ganhar fôlego, dará trabalho ao PT e ao PMDB, como Marina deu em 2010, e Celso Russomanno, nesta eleição municipal.
Por falar em trabalho...
A decisão da presidente Dilma de chamar os grevistas “de sangue azul” e se mostrar firme na decisão de conceder apenas os 15,8% trouxe mais alguns pontinhos à sua popularidade. As pesquisas internas de alguns partidos confirmam a tendência de a população ficar ao lado de Dilma, contra os grevistas. Mais um limão que ela transformou em limonada.
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