O GLOBO - 08/05
A vida do Bruxo do Cosme Velho, como o chamou Carlos Drummond de Andrade, não foi fácil, mas, se ele vivesse no Brasil de hoje, seria ainda pior
Quando junho vier, antes de outubro chegar, milhões de leitores serão enganados por um falso Machado de Assis.
É que serão distribuídos seiscentos mil exemplares (600.000; você não leu errado!) de uma edição falsificada de “O alienista”, uma história de loucos, isto é, de médico e louco, dos quais todos nós temos um pouco, mas não na dose a ser administrada ao distinto público nas próximas semanas.
Machado de Assis foi o maior escritor brasileiro de todos os tempos. De seu livro roubado e mutilado foi produzida essa montanha de equívocos, com o seu, o meu, o nosso dinheiro, por meio de um recurso fabuloso, a renúncia fiscal, que, entretanto, tem resultado em projetos culturais tão louváveis, bonitos e importantes! Mas que vem se prestando também a algumas falcatruas.
A vida do Bruxo do Cosme Velho, como o chamou Carlos Drummond de Andrade, não foi fácil, mas, se ele vivesse no Brasil de hoje, seria ainda pior. Poucos entendem seus livros nos circuitos escolares, e a razão é muito simples. Basta olhar nossos indicadores de educação no mundo!
Mas o motivo é outro, segundo nos esclarece Patrícia Secco, a autora da “adaptação”.
“De onde menos se espera, daí é que não sai nada”, profetizou o lendário humorista gaúcho Barão de Itararé. “Entendo por que os jovens não gostam de Machado de Assis”, disse Patrícia Secco ao jornalista Chico Felitti. “Os livros dele têm cinco ou seis palavras que não entendem por frase. As construções são muito longas. Eu simplifico isso.”
Escreve o jornalista: “Ela simplifica mesmo: Patrícia lançará em junho uma versão de ‘O alienista’, obra de Machado lançada em 1882, em que as frases estão mais diretas e palavras são trocadas por sinônimos mais comuns (um ‘sagacidade’ virou ‘esperteza’, por exemplo).” (...) “A ideia não é mudar o que ele disse, só tornar mais fácil.”
Machado era órfão de mãe (de pai é uma coisa, de mãe é outra, o abandono é ainda maior!), descendente de negros, pobre, gago, epiléptico, casou com uma solteirona portuguesa que tinha comido a merenda antes do recreio, e não tiveram filhos para não transmitir a ninguém o legado da doença. Mas deixou-nos uma obra imortal!
Mais que gênio, oxigênio de nossas letras, Machado venceu preconceitos de raça, de cor, de dinheiro, de tudo. Mas não passou pela senhora dona Patrícia Secco, em breve “coberta de ouro e prata (600.000 exemplares!)”, mas que “descubra seu rosto”, “queremos ver a sua cara”.
Augusto Meyer disse que “quase toda a obra de Machado de Assis é um pretexto para o improviso de borboleteios maliciosos, digressões e parênteses felizes”.
Araripe Júnior também foi outro que se enganou: “Filho das próprias obras, ele (Machado) não deve o que é, nem o nome que tem, senão ao trabalho e a uma contínua preocupação de cultura literária.”
Astrojildo Pereira enganou-se ainda mais: “Machado de Assis é o mais universal dos nossos escritores; (...) ele é também o mais nacional, o mais brasileiro de todos.”
O francês Roger Bastide, destacando a paisagem carioca que poucos viam em Machado, concluiu: “Escrevi estas páginas de protesto contra os críticos literários que lhe negam essa qualidade: humilde homenagem de um estrangeiro a um mestre da literatura universal.”
Paro por aqui. A senhora dona Patrícia Secco não tem o direito de fazer o que fez. A obra de Machado de Assis não é dela. É patrimônio do povo brasileiro.
quinta-feira, maio 08, 2014
Amor à venda - CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SP - 08/05
Por que recusamos a ideia de que existem fantasias sexuais que envolvem a troca de dinheiro?
"Amante a Domicílio", de John Turturro, é um filme, como se diz, "delicioso". Nos Estados Unidos, uma série de artigos celebraram a "descoberta" de que existiria um "lado bom" da prostituição.
Em várias entrevistas, Turturro (que escreve, dirige e atua junto com Woody Allen, Sharon Stone, Vanessa Paradis e Sofia Vergara, todos notáveis) levou a conversa por esse lado: "Há coisas positivas no que fazem os trabalhadores do sexo". Por exemplo, Avigal, oprimida e entristecida pela viuvez e por sua própria tradição religiosa, redescobre a "magia" do amor graças a Fioravante, o gigolô. E é transando com ele que a dra. Parker se permite enfim mandar o retrato do marido à merda.
A consagração dessa visão do filme veio com um artigo de Karley Sciortino no "Guardian". Karley Sciortino escreve sobre sexo para "Vice" e para "Vogue", além de manter um (ótimo) blog, "Slutever" (sempreputa). Sciortino recorreu a Camille Paglia para lembrar que "moralismo e ignorância" são responsáveis por nossos estereótipos sinistros da prostituição e confirmar que Turturro nos mostrou o que há de positivo nela.
No Brasil, estranha-se menos que a prostituição possa ter algum lado "bom", mesmo que seja pela ideia machista e idiota de que ela serviria para a iniciação dos garotos (que, aliás, não precisam mais disso há tempos).
Mas, nos EUA, a coisa é diferente: com a exceção de Nevada, prostituir-se e contratar os serviços de uma ou de um prostituto são condutas punidas por prisão e multa. Isso, sem falar no que acontece com quem "promove a prostituição" (o que vai desde ser cafetão até alugar um apê a quem exerça a profissão). Enfim, em 2007, Eliot Spitzer se tornou governador do Estado de Nova York por ter sido um promotor severo contra as prostitutas e, em 2008, ele perdeu o governo por ter se relacionado, justamente, com prostitutas.
De fato, imaginar que a prostituição seja proibida em Nova York é uma piada. Mas a legislação reflete pensamentos comuns. Numa pesquisa-brincadeira de 2008, em Chicago, 200 clientes aceitaram falar de por que frequentavam prostitutas: 83% declararam que eles eram viciados e 40% afirmaram que só procuravam prostitutas quando estavam bêbados. A maioria acreditava que as prostitutas exercem sua profissão porque foram abusadas na infância. Em suma, clientes e prostitutas (ou prostitutos), todos doentes!
Não vale acusar o proverbial puritanismo dos EUA. Na própria França, ainda este ano, tem chances de ser aprovada uma lei que ("para acabar com a prostituição" —hello?) vai criminalizar o cliente.
Enfim, constata-se que existe um tabu sobre o sexo pago.
Uma hipótese, para explicá-lo, é o seguinte círculo vicioso: 1) recusamos a ideia de que exista uma fantasia sexual que envolve a troca de dinheiro, 2) concluímos que, portanto, a prostituição só acontece por necessidade absoluta de quem se prostitui, 3) queremos abolir a prostituição (de fato ou mentalmente) porque não queremos que existam diferenças econômicas que possam induzir alguém a vender sua intimidade.
O problema é o pressuposto: por que recusaríamos a ideia de que existam fantasias sexuais que envolvem a troca de dinheiro? Talvez por elas serem quase sempre fantasias de dominação, e muitos que gozam sonhando com a distribuição do poder preferem não saber exatamente do que eles estão gozando.
Em outras palavras, o dinheiro organiza fantasias eróticas, mas ele é presente demais na nossa vida social (inclusive nas relações de casal, entre parentes, amigos etc.) para que a gente se permita reconhecer esse efeito de sua circulação.
Nota: não é necessariamente quem paga que gosta de dominar. Certo, há os que curtem comprar amantes ou mulheres ou maridos. Mas também há os que pedem para ser explorados e, nas salas de bate-papo, se apresentam assim: acabe com a minha vida!, quero ser chantageado!
Achamos "Amante a Domicílio" "delicioso" porque ele confirma nossa crença (esperança?) de que a troca de dinheiro nas relações seja indiferente (no filme, apaixonamentos, renúncias, generosidades e pequenezas, tudo acontece como se ninguém estivesse pagando ninguém).
Será, então, que Turturro nos propõe uma ilusão? Talvez. Mas é a mesma ilusão na qual vivemos: nas nossas relações de cada dia, sempre tentamos esquecer o "erotismo" silencioso das trocas financeiras.
"Amante a Domicílio", de John Turturro, é um filme, como se diz, "delicioso". Nos Estados Unidos, uma série de artigos celebraram a "descoberta" de que existiria um "lado bom" da prostituição.
Em várias entrevistas, Turturro (que escreve, dirige e atua junto com Woody Allen, Sharon Stone, Vanessa Paradis e Sofia Vergara, todos notáveis) levou a conversa por esse lado: "Há coisas positivas no que fazem os trabalhadores do sexo". Por exemplo, Avigal, oprimida e entristecida pela viuvez e por sua própria tradição religiosa, redescobre a "magia" do amor graças a Fioravante, o gigolô. E é transando com ele que a dra. Parker se permite enfim mandar o retrato do marido à merda.
A consagração dessa visão do filme veio com um artigo de Karley Sciortino no "Guardian". Karley Sciortino escreve sobre sexo para "Vice" e para "Vogue", além de manter um (ótimo) blog, "Slutever" (sempreputa). Sciortino recorreu a Camille Paglia para lembrar que "moralismo e ignorância" são responsáveis por nossos estereótipos sinistros da prostituição e confirmar que Turturro nos mostrou o que há de positivo nela.
No Brasil, estranha-se menos que a prostituição possa ter algum lado "bom", mesmo que seja pela ideia machista e idiota de que ela serviria para a iniciação dos garotos (que, aliás, não precisam mais disso há tempos).
Mas, nos EUA, a coisa é diferente: com a exceção de Nevada, prostituir-se e contratar os serviços de uma ou de um prostituto são condutas punidas por prisão e multa. Isso, sem falar no que acontece com quem "promove a prostituição" (o que vai desde ser cafetão até alugar um apê a quem exerça a profissão). Enfim, em 2007, Eliot Spitzer se tornou governador do Estado de Nova York por ter sido um promotor severo contra as prostitutas e, em 2008, ele perdeu o governo por ter se relacionado, justamente, com prostitutas.
De fato, imaginar que a prostituição seja proibida em Nova York é uma piada. Mas a legislação reflete pensamentos comuns. Numa pesquisa-brincadeira de 2008, em Chicago, 200 clientes aceitaram falar de por que frequentavam prostitutas: 83% declararam que eles eram viciados e 40% afirmaram que só procuravam prostitutas quando estavam bêbados. A maioria acreditava que as prostitutas exercem sua profissão porque foram abusadas na infância. Em suma, clientes e prostitutas (ou prostitutos), todos doentes!
Não vale acusar o proverbial puritanismo dos EUA. Na própria França, ainda este ano, tem chances de ser aprovada uma lei que ("para acabar com a prostituição" —hello?) vai criminalizar o cliente.
Enfim, constata-se que existe um tabu sobre o sexo pago.
Uma hipótese, para explicá-lo, é o seguinte círculo vicioso: 1) recusamos a ideia de que exista uma fantasia sexual que envolve a troca de dinheiro, 2) concluímos que, portanto, a prostituição só acontece por necessidade absoluta de quem se prostitui, 3) queremos abolir a prostituição (de fato ou mentalmente) porque não queremos que existam diferenças econômicas que possam induzir alguém a vender sua intimidade.
O problema é o pressuposto: por que recusaríamos a ideia de que existam fantasias sexuais que envolvem a troca de dinheiro? Talvez por elas serem quase sempre fantasias de dominação, e muitos que gozam sonhando com a distribuição do poder preferem não saber exatamente do que eles estão gozando.
Em outras palavras, o dinheiro organiza fantasias eróticas, mas ele é presente demais na nossa vida social (inclusive nas relações de casal, entre parentes, amigos etc.) para que a gente se permita reconhecer esse efeito de sua circulação.
Nota: não é necessariamente quem paga que gosta de dominar. Certo, há os que curtem comprar amantes ou mulheres ou maridos. Mas também há os que pedem para ser explorados e, nas salas de bate-papo, se apresentam assim: acabe com a minha vida!, quero ser chantageado!
Achamos "Amante a Domicílio" "delicioso" porque ele confirma nossa crença (esperança?) de que a troca de dinheiro nas relações seja indiferente (no filme, apaixonamentos, renúncias, generosidades e pequenezas, tudo acontece como se ninguém estivesse pagando ninguém).
Será, então, que Turturro nos propõe uma ilusão? Talvez. Mas é a mesma ilusão na qual vivemos: nas nossas relações de cada dia, sempre tentamos esquecer o "erotismo" silencioso das trocas financeiras.
Ineficiência aprendiz e loquaz: 6ª antilei petista - JOSÉ SERRA
O Estado de S.Paulo - 08/05
Já se disse que a política requer duas habilidades. A primeira: é preciso prever o que vai acontecer amanhã, na semana que vem e no ano seguinte. A segunda: é preciso explicar depois por que as previsões não se cumpriram. Nisso, todos os países e partidos são iguais, mas o Brasil da era petista tem sido mais igual que os outros. Há um abismo angustiante entre o que o atual governo prevê e a capacidade de explicar por que as coisas não acontecem.
Entre as previsões megalômanas e os resultados pífios, há o reino das antileis petistas, cultivadas cuidadosamente pela presidente Dilma e sua equipe. A primeira delas, uma espécie de cláusula pétrea do petismo, prescreve a necessidade de utilizar o máximo de palavras para expressar um mínimo de pensamento. Querem um exemplo magnífico? Vejam o que a então candidata disse sobre e elevada carga tributária no Brasil num debate da campanha presidencial de 2010 (transcrevo como foi dito): "O Brasil sai também de um nível muito elevado de carga tributária, e, agora, eu acho que ele entra numa fase de com a reforma tributária de decréscimo. Houve muitas pessoas contrárias à reforma tributária nos últimos anos. Agora, seguramente, o crescimento do PIB e a redução dos juros permitirá um Brasil mais desenvolvido". Diga-se, a propósito, que essa "reforma tributária de decréscimo", seja lá o que for isso, conviveu com a elevação da carga de tributos durante o governo Dilma ao nível mais alto da história.
A segunda antilei viola o princípio de que a menor distância entre dois pontos é uma linha reta; para eles, é uma curva torta. Este passou a ser o critério dominante das ações de governo: sempre pelo caminho mais longo, incerto e penoso. A terceira antilei supõe que o sol e os planetas giram em torno da Terra, ou seja, a presidente e seu partido coordenam e comandam o universo da política, da economia e das instituições, de modo que as conspirações da mídia e da oposição para enfraquecê-los podem provocar algum Big Bang que vá explodir o País, ou algum buraco negro que o devore. Outra antilei, a quarta, prescreve a transformação contínua de facilidades em dificuldades. Nada que seja fácil de fazer deve ser feito. Por exemplo, cria-se um programa chamado "Ciência sem Fronteiras" para enviar bolsistas ao exterior, mas se deixa de lado o requisito prévio de que os estudantes devam dominar o idioma do país que os recebe. Eles chegam ao Canadá, não falam inglês e têm de ser repatriados ou de fazer curso de línguas em Toronto, com o dinheiro dos contribuintes brasileiros. Geram-se atritos e desperdícios, além de desmoralizar a ideia de proporcionar aos nossos jovens novos conhecimentos que os beneficiem e ao nosso país.
Há uma quinta antilei - essa, reconheço, do agrado especial de Dilma (se ela não existisse, a mandatária certamente a editaria como medida provisória): cada ministro deve saber menos do que a presidente sobre a sua área de responsabilidade. As ideias e a forma de execução dos projetos ficam por conta da chefe do Executivo, que exibe, entre seus principais atributos, precisamente a falta de conhecimento dos assuntos de governo e a baixa capacidade de gestão.
Finalmente, ao menos por ora, há uma sexta antilei, que é muito forte: chega-se ao governo não para administrar, mas para aprender, como se fosse um curso supletivo ou de graduação. Isso vale para toda a nação petista, nos três níveis da Federação - União, Estados e municípios. O exemplo mais recente e vistoso, sem dúvida, ocorre na cidade de São Paulo, cuja administração se dedica ao papo-cabeça e aos experimentos macrolaboratoriais, em que as cobaias são os paulistanos sofredores. É o caso, por exemplo, da devolução dos hotéis da Cracolândia aos traficantes de droga a fim de que recebam seus clientes e dos subsídios dados aos dependentes químicos para que paguem preços mais altos pelo crack.
Na esfera federal, é antológica uma confissão da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, feita numa boa, em 2011, sobre a dificuldade que estava encontrando na elaboração do Plano Plurianual (2012-2015): "Não é possível monitorar e muito menos ser efetivo com 360 programas. No PAC, todo mundo está reaprendendo a fazer obras de infraestrutura - nós, do setor público, e também o setor privado". Isso depois de oito anos de governo do PT e já sob a presidência de Dilma, anteriormente consagrada como genitora do PAC pelo então presidente Lula!
Outra preciosa declaração, em setembro do ano passado, da então ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, mostrou que, no 11.º ano de governo, o PT ainda não sabia o que fazer com as concessões de estradas: chegou a dizer que a concessão da BR-101, na Bahia, iria ficar por último "a fim de termos uma avaliação melhor". E continuou: "Se chegarmos à conclusão de que é impossível fazer concessão, vamos migrar para obra pública". Como escrevi na ocasião, "quantos anos já transcorreram e quantos ainda teremos pela frente até essa terapia infraestrutural de grupo chegar ao fim?".
Nesse emaranhado de antileis, vigilantemente aplicadas, pode-se vislumbrar a chama que tem derretido o prestígio de Dilma junto da população. Até porque as pessoas vão se dando conta, cada vez mais, da antilei n.º 1, que maximiza o palavrório e minimiza o pensamento, dificultando a explicação, já não diria convincente, mas, ao menos inteligível, da frustração das previsões originais e das que são refeitas a cada mês.
A mais reluzente das explicações carece de qualquer lógica: atribui-se à dobradinha entre imprensa e oposição a culpa pelas lambanças na Petrobrás, pela perda de mais da metade do patrimônio da empresa e pelo endividamento que bate o recorde mundial. Tudo isso faria parte de uma diabólica estratégia daquela dobradinha para privatizar a gigante do petróleo. De acordo com esse delírio, quanto mais desmoralizada ela estivesse, mais fácil seria sua privatização! Tenho a certeza de que tal disparate, em lugar de convencer, ofende as pessoas e aquece a chama do derretimento político não só da presidente, mas de um estilo de governo.
Já se disse que a política requer duas habilidades. A primeira: é preciso prever o que vai acontecer amanhã, na semana que vem e no ano seguinte. A segunda: é preciso explicar depois por que as previsões não se cumpriram. Nisso, todos os países e partidos são iguais, mas o Brasil da era petista tem sido mais igual que os outros. Há um abismo angustiante entre o que o atual governo prevê e a capacidade de explicar por que as coisas não acontecem.
Entre as previsões megalômanas e os resultados pífios, há o reino das antileis petistas, cultivadas cuidadosamente pela presidente Dilma e sua equipe. A primeira delas, uma espécie de cláusula pétrea do petismo, prescreve a necessidade de utilizar o máximo de palavras para expressar um mínimo de pensamento. Querem um exemplo magnífico? Vejam o que a então candidata disse sobre e elevada carga tributária no Brasil num debate da campanha presidencial de 2010 (transcrevo como foi dito): "O Brasil sai também de um nível muito elevado de carga tributária, e, agora, eu acho que ele entra numa fase de com a reforma tributária de decréscimo. Houve muitas pessoas contrárias à reforma tributária nos últimos anos. Agora, seguramente, o crescimento do PIB e a redução dos juros permitirá um Brasil mais desenvolvido". Diga-se, a propósito, que essa "reforma tributária de decréscimo", seja lá o que for isso, conviveu com a elevação da carga de tributos durante o governo Dilma ao nível mais alto da história.
A segunda antilei viola o princípio de que a menor distância entre dois pontos é uma linha reta; para eles, é uma curva torta. Este passou a ser o critério dominante das ações de governo: sempre pelo caminho mais longo, incerto e penoso. A terceira antilei supõe que o sol e os planetas giram em torno da Terra, ou seja, a presidente e seu partido coordenam e comandam o universo da política, da economia e das instituições, de modo que as conspirações da mídia e da oposição para enfraquecê-los podem provocar algum Big Bang que vá explodir o País, ou algum buraco negro que o devore. Outra antilei, a quarta, prescreve a transformação contínua de facilidades em dificuldades. Nada que seja fácil de fazer deve ser feito. Por exemplo, cria-se um programa chamado "Ciência sem Fronteiras" para enviar bolsistas ao exterior, mas se deixa de lado o requisito prévio de que os estudantes devam dominar o idioma do país que os recebe. Eles chegam ao Canadá, não falam inglês e têm de ser repatriados ou de fazer curso de línguas em Toronto, com o dinheiro dos contribuintes brasileiros. Geram-se atritos e desperdícios, além de desmoralizar a ideia de proporcionar aos nossos jovens novos conhecimentos que os beneficiem e ao nosso país.
Há uma quinta antilei - essa, reconheço, do agrado especial de Dilma (se ela não existisse, a mandatária certamente a editaria como medida provisória): cada ministro deve saber menos do que a presidente sobre a sua área de responsabilidade. As ideias e a forma de execução dos projetos ficam por conta da chefe do Executivo, que exibe, entre seus principais atributos, precisamente a falta de conhecimento dos assuntos de governo e a baixa capacidade de gestão.
Finalmente, ao menos por ora, há uma sexta antilei, que é muito forte: chega-se ao governo não para administrar, mas para aprender, como se fosse um curso supletivo ou de graduação. Isso vale para toda a nação petista, nos três níveis da Federação - União, Estados e municípios. O exemplo mais recente e vistoso, sem dúvida, ocorre na cidade de São Paulo, cuja administração se dedica ao papo-cabeça e aos experimentos macrolaboratoriais, em que as cobaias são os paulistanos sofredores. É o caso, por exemplo, da devolução dos hotéis da Cracolândia aos traficantes de droga a fim de que recebam seus clientes e dos subsídios dados aos dependentes químicos para que paguem preços mais altos pelo crack.
Na esfera federal, é antológica uma confissão da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, feita numa boa, em 2011, sobre a dificuldade que estava encontrando na elaboração do Plano Plurianual (2012-2015): "Não é possível monitorar e muito menos ser efetivo com 360 programas. No PAC, todo mundo está reaprendendo a fazer obras de infraestrutura - nós, do setor público, e também o setor privado". Isso depois de oito anos de governo do PT e já sob a presidência de Dilma, anteriormente consagrada como genitora do PAC pelo então presidente Lula!
Outra preciosa declaração, em setembro do ano passado, da então ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, mostrou que, no 11.º ano de governo, o PT ainda não sabia o que fazer com as concessões de estradas: chegou a dizer que a concessão da BR-101, na Bahia, iria ficar por último "a fim de termos uma avaliação melhor". E continuou: "Se chegarmos à conclusão de que é impossível fazer concessão, vamos migrar para obra pública". Como escrevi na ocasião, "quantos anos já transcorreram e quantos ainda teremos pela frente até essa terapia infraestrutural de grupo chegar ao fim?".
Nesse emaranhado de antileis, vigilantemente aplicadas, pode-se vislumbrar a chama que tem derretido o prestígio de Dilma junto da população. Até porque as pessoas vão se dando conta, cada vez mais, da antilei n.º 1, que maximiza o palavrório e minimiza o pensamento, dificultando a explicação, já não diria convincente, mas, ao menos inteligível, da frustração das previsões originais e das que são refeitas a cada mês.
A mais reluzente das explicações carece de qualquer lógica: atribui-se à dobradinha entre imprensa e oposição a culpa pelas lambanças na Petrobrás, pela perda de mais da metade do patrimônio da empresa e pelo endividamento que bate o recorde mundial. Tudo isso faria parte de uma diabólica estratégia daquela dobradinha para privatizar a gigante do petróleo. De acordo com esse delírio, quanto mais desmoralizada ela estivesse, mais fácil seria sua privatização! Tenho a certeza de que tal disparate, em lugar de convencer, ofende as pessoas e aquece a chama do derretimento político não só da presidente, mas de um estilo de governo.
Miséria da diplomacia - DEMÉTRIO MAGNOLI
O GLOBO - 08/05
Estado se converte numa ferramenta de realização dos desígnios dos ocupantes eventuais do governo
‘Respeito instruções, respeito leis, mas não respeito caprichos nem ordens manifestadamente ilegais.” A declaração, concedida ao jornal “A Tribuna”, de Vitória (4/5), deveria constar no alto de um manual de conduta dos funcionários públicos. É do diplomata Eduardo Saboia e tem endereço certo. Saboia chefiava a embaixada brasileira em La Paz até a sexta-feira, 23 de agosto de 2013, quando decidiu que um limite ético fora ultrapassado e orquestrou a fuga do ex-senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil. Hoje, o diplomata sofre a covarde punição tácita do ostracismo: a comissão de sindicância aberta no Itamaraty, com prazo previsto de 30 dias, segue sem uma resolução depois de oito meses.
O cineasta Dado Galvão prepara um importante documentário sobre a saga de Molina e Saboia. Será uma história incompleta, pois uma longa série de detalhes sórdidos permanece soterrada pela lápide do sigilo que recobre tanto as comunicações entre a embaixada e Brasília quanto os autos do processo administrativo contra Saboia. Mas o que agora se sabe já é de enrubescer cafetões.
Depois de receber asilo diplomático do governo brasileiro, Molina permaneceu confinado na embaixada em La Paz durante 15 meses. Enquanto o governo boliviano negava a concessão de salvo-conduto para que deixasse o país, ele não teve direito a banho de sol ou a visitas íntimas. A infâmia atingiu um ápice em março de 2013, quando emissários de Brasília reuniram-se, em Cochabamba, com representantes do governo boliviano para articular a entrega do asilado aos cuidados da Venezuela. A “solução final” só não se concretizou devido à crise desencadeada nas semanas finais da agonia de Hugo Chávez. No lugar dela, adotou-se a política da protelação infinita, que buscava quebrar a resistência de Molina, compelindo-o a render-se às autoridades bolivianas.
Cochabamba é um marco no declínio moral da diplomacia brasileira. A embaixada em La Paz ficou à margem das negociações. O embaixador Marcel Biato, que solicitava uma solução legal e decente para o impasse, foi sumariamente afastado do cargo. (De lá para cá, circulando sem funções pelos corredores do Itamaraty, Biato experimenta um prolongado ostracismo.) Molina, por sua vez, teve o direito a visitas restringido a seu advogado e sua filha. Uma ordem direta de Brasília proibiu a transferência do asilado para a residência diplomática, conservando-o num cubículo da chancelaria. Naqueles dias, vergonhosamente, o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, chegou a flertar com a ideia de confisco do celular e do laptop do asilado.
Convicções, crenças, valores? Nada disso. Dilma Rousseff conduziu todo o episódio premida pelo temor — ou melhor, por dois temores conflitantes. No início, por sugestão de Patriota, concedeu o asilo diplomático temendo a crítica doméstica — e, pelo mesmo motivo, não o revogou na hora da reunião de Cochabamba. Depois, a cada passo, temendo desagradar a Evo Morales, violou os direitos legais de Molina, entregou à Bolívia o escalpo do embaixador Biato e converteu Saboia em carcereiro do asilado. As concessões só estimularam o governo boliviano a endurecer sua posição. A prorrogação abusiva da prisão dos 12 torcedores corintianos em Oruro foi uma represália direta da Bolívia contra o Brasil. O patente desinteresse de Brasília pela sorte dos cidadãos brasileiros encarcerados representou uma nova — e abjeta — tentativa de apaziguamento.
Saboia assumiu o comando da embaixada após o afastamento de Biato, e tentou, inutilmente, acelerar a valsa farsesca das negociações conduzidas por uma comissão Brasil/Bolívia formada à margem da representação diplomática em La Paz. Cinco meses depois, rompeu o impasse, aceitando os riscos de transferir Molina para o Brasil. Em tempos normais, o diplomata que fez valer a prerrogativa brasileira de concessão de asilo seria recepcionado de braços abertos pelo governo brasileiro. Mas, em “tempos de Dilma”, o mundo está virado do avesso. Antes que os familiares de Saboia pudessem deixar a Bolívia, o governo transmitiu à imprensa o nome do responsável pela fuga do asilado. Na sequência, reservou-se a Saboia um lugar permanente na cadeira dos réus.
Tempos de Dilma, uma era de “ordens ilegais” e “caprichos”. A presidente expressou, em público e pela imprensa, sua condenação prévia de Saboia antes da abertura da investigação oficial. Pela primeira vez na História (e isso abrange a ditadura militar!), uma comissão de sindicância do Itamaraty não é presidida por um diplomata, mas por um assessor da Controladoria-Geral da União que opera como interventor direto da Presidência da República. “É evidente que existe uma pressão política”, denuncia Saboia. “Há uma sindicância que não está, pelo visto, apurando os fatos que levaram uma pessoa a ficar confinada 15 meses; está voltada para me punir.” Em março, emanou da comissão um termo provisório de indiciação que omite os argumentos da defesa e cristaliza as mais insólitas acusações — inclusive a de que Saboia violou os “usos e costumes” (!!!) da Bolívia.
A mesquinha perseguição a Biato e Saboia não é um caso isolado, mas a ponta saliente de uma profunda deterioração institucional: pouco a pouco, o Estado se converte numa ferramenta de realização dos desígnios dos ocupantes eventuais do governo. Não é mais segredo para ninguém que o governo ignora solenemente as violações de direitos humanos em Cuba e na Venezuela. Menos divulgado, porém, é o fato de que a política externa do lulopetismo tem perigosas repercussões internas: no Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), um órgão presidido pelo Ministério da Justiça, as solicitações de refúgio político de dezenas de bolivianos dormem no limbo.
“Não respeito caprichos nem ordens manifestadamente ilegais.” No Brasil de Dilma, quem diz isso é réu. A presidente exige obediência cega. Vergonha.
Vinte mil éguas sobre Marina - MARIO SERGIO CONTI
O GLOBO - 08/05
Historieta sobre como Lula convenceu Marina a ficar no governo é tão boa que parece piada
A maneta e o maneta se casaram, ela ficou grávida e o filho nasceu. Qual o nome do filme? “Ninguém segura esse bebê.” Odete e Célia, duas galinhas, comeram milho e explodiram. Como chama o filme? “Dois milhos e bum! Odete e Célia no espaço.” Marina passeava pelo seringal acreano, vieram vinte mil éguas e a atropelaram. Qual é o filme? “Vinte mil éguas sobre Marina.”
Não bastassem o linchamento no Guarujá, a alta da inflação, os estádios que não ficam prontos, a madrasta que matou o menino, a gatunagem em Pasadena, o sertanejo-universitário, o racionamento que vem aí, a volta da vaca louca, a anexação da Crimeia, o assassinato do dançarino, o doleiro com jatinho, as propagandas com Felipão e o Porta dos Fundos, esse papa que não para de assustar nenês, gente que conversa alto no cinema, o aparelhamento do COI, a dorzinha nas costas, o implante de Renan e a peruca de Paulo Skaf, os marmanjos de bermuda nos aeroportos, o tiozinho que insiste em perguntar “tá ligado?”, a ameaça de Sarney de voltar à presidência do Senado, o preço exorbitante da maconha uruguaia, as frases longas nas colunas e a anestesiante indignação que tudo isso provoca, o Brasil anda carente de boas piadas. No máximo se escutam trocadalhos do carilho. Para bom entendedor meia palavra bos. Isso o governo não vê. Imagina na Copa.
Por essas e por outras, muitas outras, surgiu o movimento Volta, Lula. Na segunda-feira passada, a jornalista Mônica Bergamo, uma abelhuda em tempo integral, contou como se deu a saída de Marina Silva do governo. A história, espalhada pelo próprio presidente (a repórter entrevistou três ex-ministros e um auxiliar direto dele), é tão boa que parece uma piada.
Estava Lula no gabinete, apoquentado por uma dessas chuvas de abacaxis que costumam cair sobre o Planalto, quando um estafeta veio dizer que Marina queria lhe falar com urgência. O presidente mal se lembrava da ministra do Meio Ambiente, uma das raras que não causava problemas. No entanto, ela lhe disse que sairia do governo. Lula quase caiu da cadeira. Tentou demovê-la por todos os meios. Não queria de jeito nenhum que a estrela verde sumisse da Esplanada. Marina remanchou, explicou, contra-argumentou. Lula negaceou, não se rendia. Até que a rainha deu o xeque-mate: “Presidente, eu conversei com Deus. E é o momento de eu sair”.
Frente à irretorquível palavra divina, Lula pediu um tempo, até que arrumasse um novo ministro. Mas voltou à rotina de catástrofes intratáveis e deixou o assunto de lado. Marina, não. Pediu outro encontro. Queria formalizar a saída do governo. O presidente cofiou a barba e matutou. Recebeu Marina e lhe disse que Deus também havia lhe falado, num sonho. “Ele me disse que ainda não está na hora de você sair do meu governo”, contou Lula à ministra. “Você ainda tem muito o que fazer na nossa equipe.”
Foi a vez de Marina quase cair da cadeira, desconcertada. Numa das versões contadas pelo presidente, a ministra teria sido acompanhada nas duas audiências por um pastor. Quando Deus apareceu na conversa pela segunda vez, o santo homem disse: “Então empatou”. Com o empate, Marina titubeou e, vai que Deus tenha mesmo falado a Lula, continuou no governo. Só veio a deixá-lo meses depois.
Mais chato que quem conta piadas sem parar é quem as analisa. Mas como nada menos que 15 músculos são acionados no desfecho de uma boa anedota, sem contar os envolvidos na inversão da respiração, note-se que Marina se irritou quando foi entrevistada sobre a historieta. E que Lula mandou dizer que não queria falar do assunto. Por que o desconforto?
A zanga de Marina não é para menos: ela se sai mal na piada. Aparece simultaneamente como ingênua e pretensiosa, uma crente com quem o Criador de Todas as Coisas — inclusive do vírus da dengue — se entretém num tête-à-tête. (Freud, que colecionava piadas e escreveu um livro sobre elas, nele usou o infame trocadilho tête-à-bête). Marina deve ter o superego do tamanho do Amazonas, capaz de recalcar qualquer energia marota que fermente num igarapé do id. Não se brinca com religião. Quem tem canal direto com o Pai sabe disso.
Já a quietude de Lula foi safa. Além de malandro, ele sai da historieta como um pai benigno. Gosta da ministra e precisa dela no governo. É um pragmático astuto que, para mantê-la no cargo, desce ao seu nível, fala a sua linguagem, apela ao outro Pai. Ela ficou no ministério e o seu narcisismo foi recompensado. E é novamente recompensado toda vez que conta o caso e os outros gargalham. Como não existe riso sem cumplicidade (cócegas em si mesmo não funcionam), Lula precisa de uma plateia para provar a si mesmo o quanto está acima dos outros. Daí o seu carisma. Conta outra, Lula!
Historieta sobre como Lula convenceu Marina a ficar no governo é tão boa que parece piada
A maneta e o maneta se casaram, ela ficou grávida e o filho nasceu. Qual o nome do filme? “Ninguém segura esse bebê.” Odete e Célia, duas galinhas, comeram milho e explodiram. Como chama o filme? “Dois milhos e bum! Odete e Célia no espaço.” Marina passeava pelo seringal acreano, vieram vinte mil éguas e a atropelaram. Qual é o filme? “Vinte mil éguas sobre Marina.”
Não bastassem o linchamento no Guarujá, a alta da inflação, os estádios que não ficam prontos, a madrasta que matou o menino, a gatunagem em Pasadena, o sertanejo-universitário, o racionamento que vem aí, a volta da vaca louca, a anexação da Crimeia, o assassinato do dançarino, o doleiro com jatinho, as propagandas com Felipão e o Porta dos Fundos, esse papa que não para de assustar nenês, gente que conversa alto no cinema, o aparelhamento do COI, a dorzinha nas costas, o implante de Renan e a peruca de Paulo Skaf, os marmanjos de bermuda nos aeroportos, o tiozinho que insiste em perguntar “tá ligado?”, a ameaça de Sarney de voltar à presidência do Senado, o preço exorbitante da maconha uruguaia, as frases longas nas colunas e a anestesiante indignação que tudo isso provoca, o Brasil anda carente de boas piadas. No máximo se escutam trocadalhos do carilho. Para bom entendedor meia palavra bos. Isso o governo não vê. Imagina na Copa.
Por essas e por outras, muitas outras, surgiu o movimento Volta, Lula. Na segunda-feira passada, a jornalista Mônica Bergamo, uma abelhuda em tempo integral, contou como se deu a saída de Marina Silva do governo. A história, espalhada pelo próprio presidente (a repórter entrevistou três ex-ministros e um auxiliar direto dele), é tão boa que parece uma piada.
Estava Lula no gabinete, apoquentado por uma dessas chuvas de abacaxis que costumam cair sobre o Planalto, quando um estafeta veio dizer que Marina queria lhe falar com urgência. O presidente mal se lembrava da ministra do Meio Ambiente, uma das raras que não causava problemas. No entanto, ela lhe disse que sairia do governo. Lula quase caiu da cadeira. Tentou demovê-la por todos os meios. Não queria de jeito nenhum que a estrela verde sumisse da Esplanada. Marina remanchou, explicou, contra-argumentou. Lula negaceou, não se rendia. Até que a rainha deu o xeque-mate: “Presidente, eu conversei com Deus. E é o momento de eu sair”.
Frente à irretorquível palavra divina, Lula pediu um tempo, até que arrumasse um novo ministro. Mas voltou à rotina de catástrofes intratáveis e deixou o assunto de lado. Marina, não. Pediu outro encontro. Queria formalizar a saída do governo. O presidente cofiou a barba e matutou. Recebeu Marina e lhe disse que Deus também havia lhe falado, num sonho. “Ele me disse que ainda não está na hora de você sair do meu governo”, contou Lula à ministra. “Você ainda tem muito o que fazer na nossa equipe.”
Foi a vez de Marina quase cair da cadeira, desconcertada. Numa das versões contadas pelo presidente, a ministra teria sido acompanhada nas duas audiências por um pastor. Quando Deus apareceu na conversa pela segunda vez, o santo homem disse: “Então empatou”. Com o empate, Marina titubeou e, vai que Deus tenha mesmo falado a Lula, continuou no governo. Só veio a deixá-lo meses depois.
Mais chato que quem conta piadas sem parar é quem as analisa. Mas como nada menos que 15 músculos são acionados no desfecho de uma boa anedota, sem contar os envolvidos na inversão da respiração, note-se que Marina se irritou quando foi entrevistada sobre a historieta. E que Lula mandou dizer que não queria falar do assunto. Por que o desconforto?
A zanga de Marina não é para menos: ela se sai mal na piada. Aparece simultaneamente como ingênua e pretensiosa, uma crente com quem o Criador de Todas as Coisas — inclusive do vírus da dengue — se entretém num tête-à-tête. (Freud, que colecionava piadas e escreveu um livro sobre elas, nele usou o infame trocadilho tête-à-bête). Marina deve ter o superego do tamanho do Amazonas, capaz de recalcar qualquer energia marota que fermente num igarapé do id. Não se brinca com religião. Quem tem canal direto com o Pai sabe disso.
Já a quietude de Lula foi safa. Além de malandro, ele sai da historieta como um pai benigno. Gosta da ministra e precisa dela no governo. É um pragmático astuto que, para mantê-la no cargo, desce ao seu nível, fala a sua linguagem, apela ao outro Pai. Ela ficou no ministério e o seu narcisismo foi recompensado. E é novamente recompensado toda vez que conta o caso e os outros gargalham. Como não existe riso sem cumplicidade (cócegas em si mesmo não funcionam), Lula precisa de uma plateia para provar a si mesmo o quanto está acima dos outros. Daí o seu carisma. Conta outra, Lula!
'Dilmês' castiço - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 08/05
Bom sinal que a presidente Dilma Rousseff tenha resolvido dedicar parte de seu tempo a conversar com a imprensa. Já fez dois encontros "temáticos" (com jornalistas da área de esportes e com profissionais mulheres), consta que pretenda fazer outros no esforço de estabelecer uma convivência mais civilizada em terreno tratado, quando interessa, como inimigo.
Muito melhor o diálogo do qual se beneficiam todos, governantes e governados. No caso da presidente, o convívio com réplicas e tréplicas - não sendo só uma fase decorrente da necessidade de angariar simpatia devido ao momento um tanto desfavorável - sem a barreira da subordinação pode ajudá-la a exercitar o uso do idioma, combinando sentidos e significados.
Nos pronunciamentos, principalmente nos improvisados, não raro a desconexão entre o pensamento e a linguagem desfavorece a compreensão do que de fato quis dizer a presidente. O jantar que reuniu um grupo de jornalistas na noite de terça-feira foi um exemplo de como a chefe da Nação ora pronuncia palavras que significam o oposto de suas ações, ora diz coisas que se contradizem e não formam um sentido lógico.
Ao defender sua política econômica, considerou "ridículas" as análises que apontam cenário de crise para 2015, ano em que, segundo ela, o "Brasil vai bombar". O que seria isso? Crescer espetacularmente? Atrair investimentos? Avançar na infraestrutura? Melhorar de maneira significativa a eficácia dos serviços públicos? Ou vão estourar bombas (no sentido figurado) de todos os lados? Não se sabe, porque a presidente não explica.
Reconhece, no entanto, o óbvio, que "não está tudo bem" com os preços. Não precisava dizer. Todo mundo vê. O que não se percebe com a mesma facilidade é como se combina essa situação adversa em relação aos preços com a assertiva da presidente sobre o absoluto controle sobre a inflação. Depende do que ela considera controle e se o fato de a inflação se instalar no teto da meta e o governo dizer que anda tudo bem pode transmitir segurança a alguém.
Dilma Rousseff tampouco atribui o mau humor que toma conta do ambiente ao aumento dos preços. Monta sua própria equação: para ela, a insatisfação decorre da "comparação entre a taxa de crescimento de bens e a taxa de crescimento de serviços".
Vamos tentar traduzir. As pessoas se afligem quando se dão conta de que compraram geladeira, carro, televisão, móveis novos, mas não conseguem ter segurança, saúde e educação públicas em grau minimamente decentes, é isso? Parece que sim e aí a presidente tira o corpo fora. "Os serviços dependem de investimentos que não foram feitos no passado."
Qual passado, se o partido de Dilma Rousseff está no poder há 12 anos incentivando o consumo e inerte quanto a mudanças estruturais?
A presidente da República assegurou que não haverá aumento de impostos. É de se perguntar, então, de onde o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tirou a afirmação feita nesta semana de que o governo pode elevar tributos sobre bens de consumo para compensar o aumento de despesas e ajudar no cumprimento da meta fiscal.
Nesse passeio pela versão presidencial dos fatos, chegamos à CPI da Petrobrás. Muito convicta, Dilma garantiu que não tem "temor algum" da comissão de inquérito. Pelo seguinte motivo: "Não devo nada e o governo é de absoluta transparência".
Duas inverdades. A presidente ainda deve explicações sobre a aprovação da compra da refinaria de Pasadena com base em relatório parcial, sem a requisição da documentação completa e o governo não é transparente quando no oficial diz que não teme e no paralelo faz manobras para postergar a investigação.
Nesse particular, atendendo ao apelo "ir para cima" contra a CPI, feito pelo ex-presidente Lula, a quem Dilma tem reiteradamente renovado votos de lealdade.
Bom sinal que a presidente Dilma Rousseff tenha resolvido dedicar parte de seu tempo a conversar com a imprensa. Já fez dois encontros "temáticos" (com jornalistas da área de esportes e com profissionais mulheres), consta que pretenda fazer outros no esforço de estabelecer uma convivência mais civilizada em terreno tratado, quando interessa, como inimigo.
Muito melhor o diálogo do qual se beneficiam todos, governantes e governados. No caso da presidente, o convívio com réplicas e tréplicas - não sendo só uma fase decorrente da necessidade de angariar simpatia devido ao momento um tanto desfavorável - sem a barreira da subordinação pode ajudá-la a exercitar o uso do idioma, combinando sentidos e significados.
Nos pronunciamentos, principalmente nos improvisados, não raro a desconexão entre o pensamento e a linguagem desfavorece a compreensão do que de fato quis dizer a presidente. O jantar que reuniu um grupo de jornalistas na noite de terça-feira foi um exemplo de como a chefe da Nação ora pronuncia palavras que significam o oposto de suas ações, ora diz coisas que se contradizem e não formam um sentido lógico.
Ao defender sua política econômica, considerou "ridículas" as análises que apontam cenário de crise para 2015, ano em que, segundo ela, o "Brasil vai bombar". O que seria isso? Crescer espetacularmente? Atrair investimentos? Avançar na infraestrutura? Melhorar de maneira significativa a eficácia dos serviços públicos? Ou vão estourar bombas (no sentido figurado) de todos os lados? Não se sabe, porque a presidente não explica.
Reconhece, no entanto, o óbvio, que "não está tudo bem" com os preços. Não precisava dizer. Todo mundo vê. O que não se percebe com a mesma facilidade é como se combina essa situação adversa em relação aos preços com a assertiva da presidente sobre o absoluto controle sobre a inflação. Depende do que ela considera controle e se o fato de a inflação se instalar no teto da meta e o governo dizer que anda tudo bem pode transmitir segurança a alguém.
Dilma Rousseff tampouco atribui o mau humor que toma conta do ambiente ao aumento dos preços. Monta sua própria equação: para ela, a insatisfação decorre da "comparação entre a taxa de crescimento de bens e a taxa de crescimento de serviços".
Vamos tentar traduzir. As pessoas se afligem quando se dão conta de que compraram geladeira, carro, televisão, móveis novos, mas não conseguem ter segurança, saúde e educação públicas em grau minimamente decentes, é isso? Parece que sim e aí a presidente tira o corpo fora. "Os serviços dependem de investimentos que não foram feitos no passado."
Qual passado, se o partido de Dilma Rousseff está no poder há 12 anos incentivando o consumo e inerte quanto a mudanças estruturais?
A presidente da República assegurou que não haverá aumento de impostos. É de se perguntar, então, de onde o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tirou a afirmação feita nesta semana de que o governo pode elevar tributos sobre bens de consumo para compensar o aumento de despesas e ajudar no cumprimento da meta fiscal.
Nesse passeio pela versão presidencial dos fatos, chegamos à CPI da Petrobrás. Muito convicta, Dilma garantiu que não tem "temor algum" da comissão de inquérito. Pelo seguinte motivo: "Não devo nada e o governo é de absoluta transparência".
Duas inverdades. A presidente ainda deve explicações sobre a aprovação da compra da refinaria de Pasadena com base em relatório parcial, sem a requisição da documentação completa e o governo não é transparente quando no oficial diz que não teme e no paralelo faz manobras para postergar a investigação.
Nesse particular, atendendo ao apelo "ir para cima" contra a CPI, feito pelo ex-presidente Lula, a quem Dilma tem reiteradamente renovado votos de lealdade.
Onde nós estamos? - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 08/05
BRASÍLIA - De repente, a cabeleireira exclamou: "Olha lá, ele está batendo nela de novo!". A secretária do salão veio correndo para ver, a cliente espichou o olho. As três, meio incrédulas, meio rindo, passaram a acompanhar as cenas na quitinete do outro lado da rua. "Ih! Deu outro tapa!"; "Agora ela caiu".
Em vez de olhar a janela, eu olhava para as três, espantada. Quem vai chamar a polícia? E a cabeleireira: "Eu? Eu, não. Ele vive dando tapas nela, não vou me meter nisso, não".
Alguém de fora chamou a polícia. Dois agentes rondaram o local, depois subiram, ficaram alguns minutos, menos de dez talvez, e se foram.
Uma amiga e eu tentamos ligar para o 180. Depois da gravação avisando que era a Central de Atendimento à Mulher da Secretaria da Mulher da Presidência da República, ufa!, uma mocinha atendeu. Ela queria, além dos meus dados, o nome do agressor, o nome da agredida, o endereço detalhado... E eu sei?
Desistimos do 180 e fomos à internet buscar a delegacia da mulher aqui de Brasília. Achamos dois números e ligamos. Uma gravação informava que "esse número não existe". Nenhum dos dois.
Derrotada, pensei: quando o marido matar aquela pobre moça, a polícia vai lá recolher o corpo.
E é assim, pelo cansaço, que as pessoas vão desistindo de fazer a coisa certa. E algumas passam a fazer a coisa totalmente errada.
Daí surgem enlouquecidos que amarram um jovem ladrão num poste, espancam cruelmente outro e são capazes de cercar, jogar no chão, dar pauladas e passar com um bicicleta em cima da cabeça de uma moça indefesa, mãe de dois filhos.
Por quê? Alguém postou na internet o desenho de uma suposta "bruxa", que sequestraria crianças para rituais macabros. E outro alguém achou que era Fabiane Maria de Jesus, 33. E outros "alguéns" foram atrás. E dezenas de mais "alguéns" deixaram acontecer.
Onde nós estamos?
Escolas! - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 08/05
Produtividade é tirar mais do capital e do trabalho. Não é colocar mais máquinas e mais homens trabalhando mais tempo
O “Jornal Nacional” e o “Jornal da Globo” exibiram duas extraordinárias séries de reportagens que, por caminhos diferentes, mostram a mesma realidade: como a falta de produtividade ou a baixa eficiência, tanto no setor público quanto no privado, atrasam e tornam o Brasil mais injusto.
Na semana passada, comentamos a série do “Jornal da Globo”, que se saiu muito bem de um desafio complicado: apontar a impunidade como causa primária da criminalidade. Hoje, falamos das reportagens do “Jornal Nacional”, que encarou outro desafio difícil: mostrar como a produtividade é a chave para o desenvolvimento brasileiro.
Produtividade é tirar mais do capital e do trabalho. Não é simplesmente colocar mais máquinas e mais homens trabalhando por mais tempo. Não raro, é o contrário: novas tecnologias, com novas máquinas e instrumentos, tornam o trabalho humano mais confortável e mais curto.
Mas produtividade é também fazer melhor com as mesmas pessoas e os mesmos instrumentos. Ou com menos. Por isso, muita gente diz que esses avanços de produtividade não são socialmente positivos para países emergentes. Nestes, a prioridade seria abrir vagas, mesmo que sejam empregos de má qualidade.
Por exemplo: cortar cana. Trabalho penoso. A cana precisa ser queimada e, se for colhida ainda quente, o trabalhador produz mais. Mas cada máquina de cortar substitui o trabalho de 45 pessoas, por turno. Qual a escolha correta do ponto de vista econômico e social? Noventa pessoas trabalhando duro ou duas máquinas, um operador cada, numa cabine com ar-condicionado?
Para uma reportagem de televisão, essa talvez fosse a parte mais complicada: mostrar como a nova tecnologia é melhor, em todos os aspectos, mesmo quando substitui postos de trabalho.
A agropecuária brasileira é um exemplo. Primeiro, trata-se de um tremendo sucesso. Só na primeira década deste século, sua produtividade cresceu 4% ao ano — um número muito forte. Nos EUA, por exemplo, o mesmo setor, altamente eficiente, teve ganhos de menos de 2% ao ano.
Basta observar a colheita em uma fazenda brasileira para ver tecnologia em ação. E pouca gente operando. Em compensação, os empregos são melhores, pagam mais. E a atividade em crescimento é um fator multiplicador: é preciso fabricar os tratores e desenvolver os métodos de aplicação.
Em resumo, é mais eficiente para a sociedade, e melhor para as pessoas, treinar os cortadores de cana em outro ofício do que manter um sistema de produção custoso e penoso.
Muitas vezes, nem é preciso equipamento novo para ganhar produtividade. Basta um método. As filas de caminhões embarcando soja nos portos de Santos e Paranaguá estão menores neste ano. O custo do transporte diminuiu, dizem os exportadores. O truque foi introduzir o prévio agendamento da entrada de caminhões nos portos. Antes, era por ordem de chegada. Agora, pelo horário marcado. Nem sempre cumprido, claro, mas os caminhoneiros dizem que estão perdendo menos horas parados.
Simples, organizar uma fila. E poderiam ter feito isso muito antes, não é mesmo?
Tudo considerado, a produtividade depende mesmo é de cérebros. E como ninguém nasce sábio e esperto, a produtividade depende mesmo é de escolas boas para todos. E isso está ao nosso alcance.
Mas tem muito mais histórias na série que pode ser vista no site do “JN”. Tomara que os políticos vejam.
O NOMEADO DA ESQUINA
Conta-se que, em dezembro de 1968, o então vice-presidente Pedro Aleixo tentava argumentar junto ao então presidente, general Costa e Silva, que o Ato Institucional 5 seria uma ameaça aos cidadãos. Costa e Silva respondeu algo assim: não se preocupe, saberei usar com responsabilidade os poderes conferidos pelo AI-5.
E Aleixo: não estou preocupado com o senhor, estou preocupado com o guarda da esquina.
A nomeação de diretores da Petrobras para atender a interesses de partidos é, em si, uma prática desastrosa. Os atuais problemas da estatal, que vão de suspeitas de corrupção a enorme ineficiência, resultam desse aparelhamento.
Mas e os outros? Os nomeados por seus partidos por esse Brasil? Se o partido nomeia diretores da Petrobras, por que um diretório não pode nomear um diretor de escola ou de posto de saúde em um remoto interior?
Dirá o leitor mais cético: escola e posto de saúde do interior não dão dinheiro.
Dão, sim. Na proporção, dão até mais dinheiro e mais correligionários empregados. E até mais fácil: ali na esquina do interior, quem se importa?
É o que faz do setor público uma imensa ineficiência. Vem de cima.
Produtividade é tirar mais do capital e do trabalho. Não é colocar mais máquinas e mais homens trabalhando mais tempo
O “Jornal Nacional” e o “Jornal da Globo” exibiram duas extraordinárias séries de reportagens que, por caminhos diferentes, mostram a mesma realidade: como a falta de produtividade ou a baixa eficiência, tanto no setor público quanto no privado, atrasam e tornam o Brasil mais injusto.
Na semana passada, comentamos a série do “Jornal da Globo”, que se saiu muito bem de um desafio complicado: apontar a impunidade como causa primária da criminalidade. Hoje, falamos das reportagens do “Jornal Nacional”, que encarou outro desafio difícil: mostrar como a produtividade é a chave para o desenvolvimento brasileiro.
Produtividade é tirar mais do capital e do trabalho. Não é simplesmente colocar mais máquinas e mais homens trabalhando por mais tempo. Não raro, é o contrário: novas tecnologias, com novas máquinas e instrumentos, tornam o trabalho humano mais confortável e mais curto.
Mas produtividade é também fazer melhor com as mesmas pessoas e os mesmos instrumentos. Ou com menos. Por isso, muita gente diz que esses avanços de produtividade não são socialmente positivos para países emergentes. Nestes, a prioridade seria abrir vagas, mesmo que sejam empregos de má qualidade.
Por exemplo: cortar cana. Trabalho penoso. A cana precisa ser queimada e, se for colhida ainda quente, o trabalhador produz mais. Mas cada máquina de cortar substitui o trabalho de 45 pessoas, por turno. Qual a escolha correta do ponto de vista econômico e social? Noventa pessoas trabalhando duro ou duas máquinas, um operador cada, numa cabine com ar-condicionado?
Para uma reportagem de televisão, essa talvez fosse a parte mais complicada: mostrar como a nova tecnologia é melhor, em todos os aspectos, mesmo quando substitui postos de trabalho.
A agropecuária brasileira é um exemplo. Primeiro, trata-se de um tremendo sucesso. Só na primeira década deste século, sua produtividade cresceu 4% ao ano — um número muito forte. Nos EUA, por exemplo, o mesmo setor, altamente eficiente, teve ganhos de menos de 2% ao ano.
Basta observar a colheita em uma fazenda brasileira para ver tecnologia em ação. E pouca gente operando. Em compensação, os empregos são melhores, pagam mais. E a atividade em crescimento é um fator multiplicador: é preciso fabricar os tratores e desenvolver os métodos de aplicação.
Em resumo, é mais eficiente para a sociedade, e melhor para as pessoas, treinar os cortadores de cana em outro ofício do que manter um sistema de produção custoso e penoso.
Muitas vezes, nem é preciso equipamento novo para ganhar produtividade. Basta um método. As filas de caminhões embarcando soja nos portos de Santos e Paranaguá estão menores neste ano. O custo do transporte diminuiu, dizem os exportadores. O truque foi introduzir o prévio agendamento da entrada de caminhões nos portos. Antes, era por ordem de chegada. Agora, pelo horário marcado. Nem sempre cumprido, claro, mas os caminhoneiros dizem que estão perdendo menos horas parados.
Simples, organizar uma fila. E poderiam ter feito isso muito antes, não é mesmo?
Tudo considerado, a produtividade depende mesmo é de cérebros. E como ninguém nasce sábio e esperto, a produtividade depende mesmo é de escolas boas para todos. E isso está ao nosso alcance.
Mas tem muito mais histórias na série que pode ser vista no site do “JN”. Tomara que os políticos vejam.
O NOMEADO DA ESQUINA
Conta-se que, em dezembro de 1968, o então vice-presidente Pedro Aleixo tentava argumentar junto ao então presidente, general Costa e Silva, que o Ato Institucional 5 seria uma ameaça aos cidadãos. Costa e Silva respondeu algo assim: não se preocupe, saberei usar com responsabilidade os poderes conferidos pelo AI-5.
E Aleixo: não estou preocupado com o senhor, estou preocupado com o guarda da esquina.
A nomeação de diretores da Petrobras para atender a interesses de partidos é, em si, uma prática desastrosa. Os atuais problemas da estatal, que vão de suspeitas de corrupção a enorme ineficiência, resultam desse aparelhamento.
Mas e os outros? Os nomeados por seus partidos por esse Brasil? Se o partido nomeia diretores da Petrobras, por que um diretório não pode nomear um diretor de escola ou de posto de saúde em um remoto interior?
Dirá o leitor mais cético: escola e posto de saúde do interior não dão dinheiro.
Dão, sim. Na proporção, dão até mais dinheiro e mais correligionários empregados. E até mais fácil: ali na esquina do interior, quem se importa?
É o que faz do setor público uma imensa ineficiência. Vem de cima.
Uma agenda federativa descoordenada - FELIPE SALTO
O Estado de S.Paulo - 08/05
A coluna do jornalista Ribamar Oliveira, do Valor, A disputa em torno do indexador das dívidas (3/4/2014) indica que permanece o imbróglio em torno da questão da troca do indexador das dívidas de Estados e municípios com a União, justamente num momento de deterioração das expectativas do mercado quanto à questão fiscal. A inépcia do governo federal e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em liderar de fato a agenda dos temas federativos é negativa e aumenta o risco fiscal. Renegociados com a União ao final dos anos 1990 e início dos 2000 (no caso dos municípios), tais passivos devem ser corrigidos conforme a taxa de juros da dívida federal, se assumirmos sempre um critério de "justiça econômica". Mais especificamente, o padrão tem de ser a dívida federal longa, já que se trata de um passivo assumido para um horizonte longo de tempo (30 anos).
Desde o início, esse era o critério, mas a conjuntura macroeconômica mudou muito e, com ela, toda a estrutura de juros da economia brasileira. À época da assunção das dívidas, não se imaginava que os juros reais convergiriam para um patamar mais baixo com tamanha rapidez, como aconteceu em razão das políticas de estabilização postas pelo Plano Real, de tal sorte que a regra assumida na ocasião - que, diga-se, foi aplaudida pelos devedores (composta por IGP-DI + 6%, 7,5% ou 9%) - acabou ficando datada. Até pouco tempo antes de o governo Dilma intensificar suas políticas macroeconômicas mal ajambradas, batizadas de "nova matriz", os juros pagos pelo próprio Tesouro na sua dívida mais longa eram, de fato, menores do que os juros pagos pelos Estados à União.
Mais recentemente, vale mencionar, este quadro tem se alterado, com os juros reais subindo fortemente e o mercado exigindo uma remuneração muito mais elevada para financiar o governo brasileiro. Acredita-se que tal escalada seja passageira, isto é, que possa ser revertida com políticas macroeconômicas mais responsáveis e com objetivos mais claros: foco na redução da inflação e na geração das condições necessárias para o crescimento de longo prazo.
Entretanto, isso não justifica o pleito do município de São Paulo, principalmente, por uma mudança não apenas daqui em diante, mas também retroativa, legando à União um descompasso entre ativos e passivos com custo superior a R$ 50 bilhões. Sem mencionar o impacto sobre o fluxo, num momento em que o setor público já não consegue produzir um superávit primário elevado, pelas próprias políticas equivocadas produzidas pelo governo federal. O prefeito Fernando Haddad (PT) quer nos convencer de que a revisão retroativa da dívida reconduziria a cidade de São Paulo à possibilidade de ampliar fortemente os investimentos, favorecendo o desenvolvimento e o crescimento econômico de todo o País. A que custo? - cabe perguntar.
Não se trata de um duelo entre "mocinhos e bandidos". A mudança do indexador deveria ocorrer, mas não de maneira retroativa, o que representaria uma nova renegociação, algo que a própria Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) proíbe, não por acaso. Proíbe, em verdade, porque o risco de abrir o precedente é enorme. Mudar a regra do jogo para beneficiar poucos jogadores é sempre o pior caminho. São Paulo tem mecanismos para ampliar seus resultados fiscais, como, aliás, já vem fazendo. O aumento do IPTU seria um bom caminho (imposto progressivo, que incide mais sobre os mais ricos e menos sobre os mais pobres), mas a forma como foi articulada a mudança culminou na não aprovação dos aumentos pretendidos.
Além do mais, recordar um pouco da história é útil para o caso em tela. A ex-prefeita Marta Suplicy (PT) e seu então secretário de Finanças, João Sayad, auxiliado pelo secretário-adjunto Fernando Haddad, não pagaram o que era devido à época, de acordo com a previsão de amortizações acordadas quando da renegociação da dívida do município. Há uma miríade de justificativas para entender o não pagamento da parcela exigida, é verdade, mas o fato concreto é que não foi paga. Uma escolha com consequências importantes. Agora, ao se deparar com as consequências daquela decisão, o prefeito Fernando Haddad quer simplesmente rever o passado para favorecer, na sua visão distorcida, o município de São Paulo, abrindo espaço para contrair novas dívidas bilionárias (já que a renegociação reduziria o porcentual da dívida/receita de 200% para algo inferior ao limite legal de 120%), no curto prazo, mas impondo um risco fiscal tremendo à Nação. São Paulo gera superávit orçamentário. Por que o desespero para renegociar retroativamente?
A resposta é que descumprir a LRF e rever a renegociação das dívidas seria necessário para evitar o caos, isto é, para evitar a explosão da dívida. Se esse é o argumento, rever para a frente seria mais do que justo, mas, ainda assim, não está justificada a revisão do passado. Para conter o crescimento da dívida, basta trocar o indexador daqui em diante, repito. Passamos por uma mudança importante no ambiente macroeconômico que justificaria essa mudança. Ninguém é contra isso. Mas rever para trás é um completo disparate. Quem não cumpriu tem de pagar a conta e ajustar o seu orçamento. Agora, é bom lembrar que a própria LRF limita o serviço da dívida a 13% da receita, ou seja, São Paulo não está com problema de caixa e pode muito bem gerenciar seu orçamento continuando a aplicar boas práticas de gestão e apertando os cintos.
A briga tem de ser para o período futuro. Colocar os termos do debate como está fazendo o prefeito Haddad é vender gato por lebre. O quadro de não sustentabilidade da dívida do município não precisa ser resolvido com essa solução absurda do prefeito, isto é, a de rever o passado para poder contrair mais dívidas. Rever para a frente soluciona o problema e dará fôlego para o município recuperar, paulatinamente, a capacidade de investir. Rever para trás beneficiaria única e exclusivamente a atual gestão.
A coluna do jornalista Ribamar Oliveira, do Valor, A disputa em torno do indexador das dívidas (3/4/2014) indica que permanece o imbróglio em torno da questão da troca do indexador das dívidas de Estados e municípios com a União, justamente num momento de deterioração das expectativas do mercado quanto à questão fiscal. A inépcia do governo federal e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em liderar de fato a agenda dos temas federativos é negativa e aumenta o risco fiscal. Renegociados com a União ao final dos anos 1990 e início dos 2000 (no caso dos municípios), tais passivos devem ser corrigidos conforme a taxa de juros da dívida federal, se assumirmos sempre um critério de "justiça econômica". Mais especificamente, o padrão tem de ser a dívida federal longa, já que se trata de um passivo assumido para um horizonte longo de tempo (30 anos).
Desde o início, esse era o critério, mas a conjuntura macroeconômica mudou muito e, com ela, toda a estrutura de juros da economia brasileira. À época da assunção das dívidas, não se imaginava que os juros reais convergiriam para um patamar mais baixo com tamanha rapidez, como aconteceu em razão das políticas de estabilização postas pelo Plano Real, de tal sorte que a regra assumida na ocasião - que, diga-se, foi aplaudida pelos devedores (composta por IGP-DI + 6%, 7,5% ou 9%) - acabou ficando datada. Até pouco tempo antes de o governo Dilma intensificar suas políticas macroeconômicas mal ajambradas, batizadas de "nova matriz", os juros pagos pelo próprio Tesouro na sua dívida mais longa eram, de fato, menores do que os juros pagos pelos Estados à União.
Mais recentemente, vale mencionar, este quadro tem se alterado, com os juros reais subindo fortemente e o mercado exigindo uma remuneração muito mais elevada para financiar o governo brasileiro. Acredita-se que tal escalada seja passageira, isto é, que possa ser revertida com políticas macroeconômicas mais responsáveis e com objetivos mais claros: foco na redução da inflação e na geração das condições necessárias para o crescimento de longo prazo.
Entretanto, isso não justifica o pleito do município de São Paulo, principalmente, por uma mudança não apenas daqui em diante, mas também retroativa, legando à União um descompasso entre ativos e passivos com custo superior a R$ 50 bilhões. Sem mencionar o impacto sobre o fluxo, num momento em que o setor público já não consegue produzir um superávit primário elevado, pelas próprias políticas equivocadas produzidas pelo governo federal. O prefeito Fernando Haddad (PT) quer nos convencer de que a revisão retroativa da dívida reconduziria a cidade de São Paulo à possibilidade de ampliar fortemente os investimentos, favorecendo o desenvolvimento e o crescimento econômico de todo o País. A que custo? - cabe perguntar.
Não se trata de um duelo entre "mocinhos e bandidos". A mudança do indexador deveria ocorrer, mas não de maneira retroativa, o que representaria uma nova renegociação, algo que a própria Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) proíbe, não por acaso. Proíbe, em verdade, porque o risco de abrir o precedente é enorme. Mudar a regra do jogo para beneficiar poucos jogadores é sempre o pior caminho. São Paulo tem mecanismos para ampliar seus resultados fiscais, como, aliás, já vem fazendo. O aumento do IPTU seria um bom caminho (imposto progressivo, que incide mais sobre os mais ricos e menos sobre os mais pobres), mas a forma como foi articulada a mudança culminou na não aprovação dos aumentos pretendidos.
Além do mais, recordar um pouco da história é útil para o caso em tela. A ex-prefeita Marta Suplicy (PT) e seu então secretário de Finanças, João Sayad, auxiliado pelo secretário-adjunto Fernando Haddad, não pagaram o que era devido à época, de acordo com a previsão de amortizações acordadas quando da renegociação da dívida do município. Há uma miríade de justificativas para entender o não pagamento da parcela exigida, é verdade, mas o fato concreto é que não foi paga. Uma escolha com consequências importantes. Agora, ao se deparar com as consequências daquela decisão, o prefeito Fernando Haddad quer simplesmente rever o passado para favorecer, na sua visão distorcida, o município de São Paulo, abrindo espaço para contrair novas dívidas bilionárias (já que a renegociação reduziria o porcentual da dívida/receita de 200% para algo inferior ao limite legal de 120%), no curto prazo, mas impondo um risco fiscal tremendo à Nação. São Paulo gera superávit orçamentário. Por que o desespero para renegociar retroativamente?
A resposta é que descumprir a LRF e rever a renegociação das dívidas seria necessário para evitar o caos, isto é, para evitar a explosão da dívida. Se esse é o argumento, rever para a frente seria mais do que justo, mas, ainda assim, não está justificada a revisão do passado. Para conter o crescimento da dívida, basta trocar o indexador daqui em diante, repito. Passamos por uma mudança importante no ambiente macroeconômico que justificaria essa mudança. Ninguém é contra isso. Mas rever para trás é um completo disparate. Quem não cumpriu tem de pagar a conta e ajustar o seu orçamento. Agora, é bom lembrar que a própria LRF limita o serviço da dívida a 13% da receita, ou seja, São Paulo não está com problema de caixa e pode muito bem gerenciar seu orçamento continuando a aplicar boas práticas de gestão e apertando os cintos.
A briga tem de ser para o período futuro. Colocar os termos do debate como está fazendo o prefeito Haddad é vender gato por lebre. O quadro de não sustentabilidade da dívida do município não precisa ser resolvido com essa solução absurda do prefeito, isto é, a de rever o passado para poder contrair mais dívidas. Rever para a frente soluciona o problema e dará fôlego para o município recuperar, paulatinamente, a capacidade de investir. Rever para trás beneficiaria única e exclusivamente a atual gestão.
O gatilho está voltando? - HÉLIO ZYLBERSTAJN
O Estado de S. Paulo - 08/05
Apesar da sua importância na determinação dos salários, a negociação coletiva é acompanhada de forma insuficiente no País. Os acompanhamentos conhecidos utilizam amostras pouco representativas, oferecem poucos detalhes do conteúdo negociado e tornam disponíveis os resultados com uma defasagem considerável. Para reunir mais informações sobre o tema, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) começou a acompanhar de forma abrangente e sistemática o conteúdo dos acordos coletivos e das convenções coletivas. Trata-se do projeto Salários.org.br, que utiliza a tecnologia da informação para ler eletronicamente os documentos elaborados nas mesas de negociação de todo o País e depositados no Ministério do Trabalho. Inicialmente, a Fipe tem divulgado a média dos reajustes negociados em www.salarios.org.br com uma defasagem de apenas 60 dias. A partir de agosto, serão informados mais detalhes sobre os reajustes e ainda sobre pisos salariais e programas de participação nos lucros ou resultados (PLR).
O acompanhamento do conteúdo das negociações coletivas começa a revelar resultados importantes e surpreendentes. Um deles é a descoberta de que alguns acordos e convenções, além de ajustar os salários pela inflação acumulada dos 12 meses anteriores à data-base, estabelecem uma vinculação com a inflação futura. É o que chamávamos, na época da superinflação dos anos 80/90, de gatilho. Essas cláusulas têm em comum o estabelecimento de um limite de inflação futura, a partir do qual o gatilho pode ser acionado. A Fipe identificou até agora cinco tipos.
Em um deles, a empresa se obriga a fazer um adiantamento de salário se a inflação chegar ao limite estabelecido. É uma forma pouco efetiva de gatilho, que tenta defender o poder de compra por meio de antecipação do pagamento dos salários (o chamado "vale"). O segundo tipo estabelece que, atingido o limite de inflação, a empresa e o sindicato negociarão alguma medida para fazer frente à situação. É um gatilho não automático, cujo acionamento depende do resultado dessa negociação. O terceiro tipo, também pouco efetivo, estabelece um limite muito elevado de inflação futura. Em alguns casos, o limite é de 25% e em outros, 10%. Uma vez atingido o limite, os salários seriam automaticamente reajustados. Como ainda não chegamos a esses níveis de inflação, essas cláusulas na prática não têm produzido impacto algum.
O quarto tipo, potencialmente mais efetivo, aparece quando alguns acordos e convenções têm validade de dois anos. Esses instrumentos estabelecem pisos salariais para os primeiros 12 meses e os reajustam a partir do 13.º mês aplicando um aumento de 8%. Mas as partes combinam que, se a inflação superar 8%, os pisos acompanharão o índice de inflação. O porcentual de 8% funciona como um gatilho automático para os pisos do segundo ano. Esse formato de gatilho é recente, tendo surgido em alguns acordos e convenções com início de vigência em 2013 e 2014. Por enquanto, é bastante localizado - apareceu em apenas uma atividade e em apenas uma unidade da Federação. Como a inflação prevista para 2014 não deverá atingir 8%, o acionamento desse gatilho é ainda pouco provável.
O quinto e último tipo de gatilho tem maior probabilidade de ser acionado. Ao contrário dos casos anteriores, que fixam limites de inflação acumulada futura, este estabelece um limite mensal de 1% de inflação para ser disparado. No mês em que a inflação chegar a 1%, a empresa reajustará os salários de seus empregados em 1% automaticamente. Recentemente, estivemos muito próximos desse cenário, e por pouco esse gatilho não disparou.
Alguns dos gatilhos identificados têm amplitude pequena, pois se aplicam em uma só empresa. Outros, porém, são convenções coletivas e cobrem todos os trabalhadores de uma atividade, numa determinada região. Em abril, surgiu um primeiro gatilho com cobertura nacional, envolvendo uma organização que opera em várias unidades da Federação.
Os primeiros resultados mostram que o projeto Salários.org.br pode se tornar uma referência importante no acompanhamento do mercado de trabalho, pois revela aspectos quantitativos e qualitativos de forma ágil e precisa. A Fipe pretende fazer esse trabalho e oferecer a todos os interessados um acompanhamento isento, sistemático e contínuo da negociação coletiva, suprindo uma lacuna nesta área.
Felizmente, acordos e convenções com gatilho são pouco frequentes. Começaram a aparecer em 2008 e, até agora, a Fipe detectou só 71 casos. São poucos, quando cotejados com os milhares de episódios de negociação salarial que ocorrem a cada ano no País. Não deveriam ser motivo para preocupação, tirando o fato de que quase metade dos casos ocorreu nos últimos 16 meses. A evolução do formato e da frequência do gatilho indica que a expectativa sobre o nível de inflação futura está crescendo nas mesas de negociação. É preciso prestar atenção. Já assistimos a esse filme nos anos 80/90. Uma reprise não seria agradável.
Apesar da sua importância na determinação dos salários, a negociação coletiva é acompanhada de forma insuficiente no País. Os acompanhamentos conhecidos utilizam amostras pouco representativas, oferecem poucos detalhes do conteúdo negociado e tornam disponíveis os resultados com uma defasagem considerável. Para reunir mais informações sobre o tema, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) começou a acompanhar de forma abrangente e sistemática o conteúdo dos acordos coletivos e das convenções coletivas. Trata-se do projeto Salários.org.br, que utiliza a tecnologia da informação para ler eletronicamente os documentos elaborados nas mesas de negociação de todo o País e depositados no Ministério do Trabalho. Inicialmente, a Fipe tem divulgado a média dos reajustes negociados em www.salarios.org.br com uma defasagem de apenas 60 dias. A partir de agosto, serão informados mais detalhes sobre os reajustes e ainda sobre pisos salariais e programas de participação nos lucros ou resultados (PLR).
O acompanhamento do conteúdo das negociações coletivas começa a revelar resultados importantes e surpreendentes. Um deles é a descoberta de que alguns acordos e convenções, além de ajustar os salários pela inflação acumulada dos 12 meses anteriores à data-base, estabelecem uma vinculação com a inflação futura. É o que chamávamos, na época da superinflação dos anos 80/90, de gatilho. Essas cláusulas têm em comum o estabelecimento de um limite de inflação futura, a partir do qual o gatilho pode ser acionado. A Fipe identificou até agora cinco tipos.
Em um deles, a empresa se obriga a fazer um adiantamento de salário se a inflação chegar ao limite estabelecido. É uma forma pouco efetiva de gatilho, que tenta defender o poder de compra por meio de antecipação do pagamento dos salários (o chamado "vale"). O segundo tipo estabelece que, atingido o limite de inflação, a empresa e o sindicato negociarão alguma medida para fazer frente à situação. É um gatilho não automático, cujo acionamento depende do resultado dessa negociação. O terceiro tipo, também pouco efetivo, estabelece um limite muito elevado de inflação futura. Em alguns casos, o limite é de 25% e em outros, 10%. Uma vez atingido o limite, os salários seriam automaticamente reajustados. Como ainda não chegamos a esses níveis de inflação, essas cláusulas na prática não têm produzido impacto algum.
O quarto tipo, potencialmente mais efetivo, aparece quando alguns acordos e convenções têm validade de dois anos. Esses instrumentos estabelecem pisos salariais para os primeiros 12 meses e os reajustam a partir do 13.º mês aplicando um aumento de 8%. Mas as partes combinam que, se a inflação superar 8%, os pisos acompanharão o índice de inflação. O porcentual de 8% funciona como um gatilho automático para os pisos do segundo ano. Esse formato de gatilho é recente, tendo surgido em alguns acordos e convenções com início de vigência em 2013 e 2014. Por enquanto, é bastante localizado - apareceu em apenas uma atividade e em apenas uma unidade da Federação. Como a inflação prevista para 2014 não deverá atingir 8%, o acionamento desse gatilho é ainda pouco provável.
O quinto e último tipo de gatilho tem maior probabilidade de ser acionado. Ao contrário dos casos anteriores, que fixam limites de inflação acumulada futura, este estabelece um limite mensal de 1% de inflação para ser disparado. No mês em que a inflação chegar a 1%, a empresa reajustará os salários de seus empregados em 1% automaticamente. Recentemente, estivemos muito próximos desse cenário, e por pouco esse gatilho não disparou.
Alguns dos gatilhos identificados têm amplitude pequena, pois se aplicam em uma só empresa. Outros, porém, são convenções coletivas e cobrem todos os trabalhadores de uma atividade, numa determinada região. Em abril, surgiu um primeiro gatilho com cobertura nacional, envolvendo uma organização que opera em várias unidades da Federação.
Os primeiros resultados mostram que o projeto Salários.org.br pode se tornar uma referência importante no acompanhamento do mercado de trabalho, pois revela aspectos quantitativos e qualitativos de forma ágil e precisa. A Fipe pretende fazer esse trabalho e oferecer a todos os interessados um acompanhamento isento, sistemático e contínuo da negociação coletiva, suprindo uma lacuna nesta área.
Felizmente, acordos e convenções com gatilho são pouco frequentes. Começaram a aparecer em 2008 e, até agora, a Fipe detectou só 71 casos. São poucos, quando cotejados com os milhares de episódios de negociação salarial que ocorrem a cada ano no País. Não deveriam ser motivo para preocupação, tirando o fato de que quase metade dos casos ocorreu nos últimos 16 meses. A evolução do formato e da frequência do gatilho indica que a expectativa sobre o nível de inflação futura está crescendo nas mesas de negociação. É preciso prestar atenção. Já assistimos a esse filme nos anos 80/90. Uma reprise não seria agradável.
Jogando despesas e o superávit para frente - RIBAMAR OLIVEIRA
Valor Econômico - 08/05
Governo adia pagamento de R$ 5,8 bi em precatórios
Governo adia pagamento de R$ 5,8 bi em precatórios
O resultado fiscal de abril foi afetado pela decisão do Tesouro Nacional de adiar, para o fim deste ano, parte considerável do pagamento de precatórios da União - que são as dívidas do governo federal que a Justiça manda pagar. Em abril de 2013, a Previdência pagou R$ 3 bilhões em precatórios de natureza alimentícia originados de benefícios previdenciários e assistenciais, o que elevou o seu déficit. Pagamentos semelhantes ocorreram no mesmo mês em 2012 e 2011. Neste ano, o Tesouro decidiu fazer o pagamento de passivo judicial de R$ 3,1 bilhões apenas em outubro. Com o adiamento, o superávit primário do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central) do mês passado melhorou.
Outra despesa que pode ter sido adiada é referente à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Em abril, o Tesouro transferiu menos de R$ 300 milhões para a CDE, de acordo com dados preliminares do Siafi - o sistema eletrônico de registros de despesas e receitas da União. Foi o menor valor mensal do primeiro quadrimestre. De janeiro a março, os recursos do Tesouro para a CDE atingiram R$ 2,77 bilhões. O governo anunciou que fará uma transferência de R$ 13 bilhões para a CDE neste ano.
A repórter Geralda Doca, do jornal "O Globo", foi quem primeiro chamou a atenção para esse movimento do Tesouro de adiar o pagamento dos precatórios da Previdência, com o objetivo de melhorar as contas do mês passado. Mas a decisão do Tesouro de adiar pagamentos foi mais ampla, pois atingiu também os precatórios de natureza alimentícia da administração direta e indireta, referentes a salários e benefícios de servidores públicos federais, no montante de R$ 2,67 bilhões. No ano passado, esses precatórios foram pagos em maio. Neste ano ficarão para outubro. No total, portanto, o Tesouro adiou o pagamento de R$ 5,8 bilhões em precatórios.
Os precatórios de natureza não alimentícia, que em anos anteriores eram pagos em junho e julho, no ano passado foram jogados para outubro e, neste ano, para novembro. O Tesouro continuará pagando, mensalmente, as sentenças judiciais de pequeno valor, tanto relativas a benefícios previdenciários, como de servidores federais.
O Valor procurou saber o motivo para o adiamento do pagamento de precatórios. Por meio da assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda, a Secretaria do Tesouro Nacional explicou que a Constituição estabelece que os precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, serão pagos até o final do exercício seguinte, com os seus valores sendo atualizados monetariamente. "Assim, o Tesouro Nacional, ao longo do tempo tem adotado procedimento de antecipar tais pagamentos posto que, como visto, o prazo constitucionalmente estabelecido é de até 31 de dezembro de cada ano", diz a nota. "Todos os anos o Tesouro Nacional informa ao Conselho Federal de Justiça (CFJ) o cronograma de pagamentos dos precatórios e o cumpre estritamente. Assim, no tocante ao pagamento das despesas de precatórios, a União é um dos raros entes da federação que cumpre rigorosamente com o estabelecido na legislação em vigor", acrescenta.
A programação orçamentária e financeira do Tesouro para este ano, definida no decreto 8.216, é curiosa, pois prevê que 51,7% do superávit primário do governo central serão feitos no último quadrimestre do ano. Algo parecido já tinha ocorrido no ano passado, quando 57,6% do superávit primário do governo central foram obtidos em novembro e dezembro. Mas, em 2013, houve o ingresso de uma receita extraordinária de mais de R$ 35 bilhões. A questão que está colocada é saber qual é a receita extraordinária que o governo federal espera obter no terceiro quadrimestre deste ano para garantir 51,7% de sua meta fiscal.
Há a previsão de uma arrecadação de R$ 13,5 bilhões com concessões neste ano, sendo que R$ 9,9 bilhões deverão ingressar nos cofres públicos no quinto bimestre. O grosso dessa receita de concessões será obtida com o leilão da quarta geração da telefonia celular (4 G). A Receita Federal espera também o ingresso de R$ 18,7 bilhões em receitas extraordinárias, decorrentes do pagamento de débitos tributários pelos contribuintes. Neste total, a Receita incluiu R$ 4 bilhões, que ingressarão a partir de julho, por conta de "aumentos programados de tributos que serão implementados ao longo de 2014". Na noite de terça-feira, a presidente Dilma Rousseff disse a um grupo de jornalistas mulheres que não pretende aumentar impostos neste ano e que não há no governo estudos nesse sentido.
O decreto de programação prevê que as receitas e as despesas serão maiores justamente no último quadrimestre deste ano (veja a tabela). As receitas do Tesouro irão somar R$ 345 bilhões no terceiro quadrimestre, o que significará R$ 25 bilhões acima do arrecadado no primeiro quadrimestre, quando ocorre a maior receita tributária da União por causa do ajuste anual do Imposto de Renda.
As despesas do Tesouro também crescerão mais no último quadrimestre, de acordo com o decreto. Serão R$ 219,1 bilhões, contra R$ 207,7 bilhões no primeiro e R$ 198,1 bilhões no segundo. A estratégia adotada pelo decreto (de concentrar despesas e o superávit no fim do ano) talvez resulte da percepção de que a receita vai melhorar ao longo do ano por causa de um maior crescimento econômico e que, depois da eleição, ficará mais fácil segurar os gastos.
Outra despesa que pode ter sido adiada é referente à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Em abril, o Tesouro transferiu menos de R$ 300 milhões para a CDE, de acordo com dados preliminares do Siafi - o sistema eletrônico de registros de despesas e receitas da União. Foi o menor valor mensal do primeiro quadrimestre. De janeiro a março, os recursos do Tesouro para a CDE atingiram R$ 2,77 bilhões. O governo anunciou que fará uma transferência de R$ 13 bilhões para a CDE neste ano.
A repórter Geralda Doca, do jornal "O Globo", foi quem primeiro chamou a atenção para esse movimento do Tesouro de adiar o pagamento dos precatórios da Previdência, com o objetivo de melhorar as contas do mês passado. Mas a decisão do Tesouro de adiar pagamentos foi mais ampla, pois atingiu também os precatórios de natureza alimentícia da administração direta e indireta, referentes a salários e benefícios de servidores públicos federais, no montante de R$ 2,67 bilhões. No ano passado, esses precatórios foram pagos em maio. Neste ano ficarão para outubro. No total, portanto, o Tesouro adiou o pagamento de R$ 5,8 bilhões em precatórios.
Os precatórios de natureza não alimentícia, que em anos anteriores eram pagos em junho e julho, no ano passado foram jogados para outubro e, neste ano, para novembro. O Tesouro continuará pagando, mensalmente, as sentenças judiciais de pequeno valor, tanto relativas a benefícios previdenciários, como de servidores federais.
O Valor procurou saber o motivo para o adiamento do pagamento de precatórios. Por meio da assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda, a Secretaria do Tesouro Nacional explicou que a Constituição estabelece que os precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, serão pagos até o final do exercício seguinte, com os seus valores sendo atualizados monetariamente. "Assim, o Tesouro Nacional, ao longo do tempo tem adotado procedimento de antecipar tais pagamentos posto que, como visto, o prazo constitucionalmente estabelecido é de até 31 de dezembro de cada ano", diz a nota. "Todos os anos o Tesouro Nacional informa ao Conselho Federal de Justiça (CFJ) o cronograma de pagamentos dos precatórios e o cumpre estritamente. Assim, no tocante ao pagamento das despesas de precatórios, a União é um dos raros entes da federação que cumpre rigorosamente com o estabelecido na legislação em vigor", acrescenta.
A programação orçamentária e financeira do Tesouro para este ano, definida no decreto 8.216, é curiosa, pois prevê que 51,7% do superávit primário do governo central serão feitos no último quadrimestre do ano. Algo parecido já tinha ocorrido no ano passado, quando 57,6% do superávit primário do governo central foram obtidos em novembro e dezembro. Mas, em 2013, houve o ingresso de uma receita extraordinária de mais de R$ 35 bilhões. A questão que está colocada é saber qual é a receita extraordinária que o governo federal espera obter no terceiro quadrimestre deste ano para garantir 51,7% de sua meta fiscal.
Há a previsão de uma arrecadação de R$ 13,5 bilhões com concessões neste ano, sendo que R$ 9,9 bilhões deverão ingressar nos cofres públicos no quinto bimestre. O grosso dessa receita de concessões será obtida com o leilão da quarta geração da telefonia celular (4 G). A Receita Federal espera também o ingresso de R$ 18,7 bilhões em receitas extraordinárias, decorrentes do pagamento de débitos tributários pelos contribuintes. Neste total, a Receita incluiu R$ 4 bilhões, que ingressarão a partir de julho, por conta de "aumentos programados de tributos que serão implementados ao longo de 2014". Na noite de terça-feira, a presidente Dilma Rousseff disse a um grupo de jornalistas mulheres que não pretende aumentar impostos neste ano e que não há no governo estudos nesse sentido.
O decreto de programação prevê que as receitas e as despesas serão maiores justamente no último quadrimestre deste ano (veja a tabela). As receitas do Tesouro irão somar R$ 345 bilhões no terceiro quadrimestre, o que significará R$ 25 bilhões acima do arrecadado no primeiro quadrimestre, quando ocorre a maior receita tributária da União por causa do ajuste anual do Imposto de Renda.
As despesas do Tesouro também crescerão mais no último quadrimestre, de acordo com o decreto. Serão R$ 219,1 bilhões, contra R$ 207,7 bilhões no primeiro e R$ 198,1 bilhões no segundo. A estratégia adotada pelo decreto (de concentrar despesas e o superávit no fim do ano) talvez resulte da percepção de que a receita vai melhorar ao longo do ano por causa de um maior crescimento econômico e que, depois da eleição, ficará mais fácil segurar os gastos.
Uma caderneta de reclamações - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 08/05
Dinheiro para a caderneta de poupança escasseia; poupador percebe que as coisas não vão bem
NESTE INÍCIO de ano, o dinheiro que entrou na poupança equivale a um terço do que foi aplicado no começo de 2013. Em abril, houve mais saques do que depósitos. Não é possível saber, preto no branco, o que está acontecendo. Mas as pessoas que ainda tinham ou têm algum dinheiro poupado sabem o que se passa; o que sabem não diz algo de muito bom sobre a economia.
O baque na poupança pode ser devido à inflação. O rendimento da poupança foi nenhum em 2013. Tem sido nenhum em 2014. A inflação come o rendimento dos juros. Pode ser que os poupadores estejam migrando para outras aplicações em busca de rendimento. Não é possível saber com certeza.
Para aqueles poupadores que costumam deixar dinheiro nas cadernetas, a alternativa de aplicação costuma ser um fundo de investimento. Nos últimos 12 meses, mais saiu do que entrou dinheiro nos fundos em geral, descontados os rendimentos.
Mas a conta é difícil. O patrimônio dos fundos é muito maior, o quádruplo dos depósitos nas cadernetas. Podem ocorrer movimentos subterrâneos que talvez escondam uma migração da poupança para fundos (ou não). Por exemplo, pode ser que investidores maiores tenham fugido de fundos, dando lugar ao dinheiro de poupadores cansados do ganho nulo da caderneta.
O baque na poupança pode ser devido à alta de juros. Com juros maiores, mais e mais fundos passam a ter rendimento maior que o da poupança. Taxa de juros alta não é boa notícia para quase ninguém.
O baque na poupança pode ser devido ao pagamento de dívidas. No início do ano, os mais remediados enfrentam carga pesada de despesas extras, como se sabe: IPVA, IPTU, escola, rescaldo dos excessos de festas de final de ano e férias e, por vezes, até Imposto de Renda.
O baque na poupança pode ser devido ao crescimento mais lerdo da renda. Seja qual for o nível de endividamento ou padrão de gastos, o rendimento médio está crescendo mais devagar, assim como a massa salarial (a soma de todos os rendimentos do trabalho), pois há menos gente trabalhando, ao menos nas grandes metrópoles. Há menos renda disponível para poupar.
Em si mesmo, fique bem claro, que menos dinheiro entre na poupança tem bem pouca importância econômica. No entanto, que menos dinheiro vá para a caderneta significa obviamente uma mudança de comportamento que reflete em parte desmelhoras evidentes na economia.
Não, o Brasil "não vai explodir em 2015", como disse Dilma Rousseff. Quase ninguém com alguma coisa entre as orelhas além de vento diz tal coisa. A presidente outra vez discute com um espantalho fantástico, criado por ela mesma, a fim de ignorar críticas a seu governo, as quais chama de "guerra psicológica adversa", a explicação presidencial para o pessimismo da população.
No ritmo em que vai a política econômica, reafirmado na última semana pela presidente, o Brasil vai apenas se arrastar mediocremente. Mesmo pessoas que não dão à mínima para debates econômicos, quase todo mundo, percebem problemas pelo menos desde meados de 2012, mostram as pesquisas.
Não é uma explosão, mas um suspiro que varia do enfado à irritação, causado também pela desmelhora econômica, por preços altos e juros altos. Mas não apenas.
Dinheiro para a caderneta de poupança escasseia; poupador percebe que as coisas não vão bem
NESTE INÍCIO de ano, o dinheiro que entrou na poupança equivale a um terço do que foi aplicado no começo de 2013. Em abril, houve mais saques do que depósitos. Não é possível saber, preto no branco, o que está acontecendo. Mas as pessoas que ainda tinham ou têm algum dinheiro poupado sabem o que se passa; o que sabem não diz algo de muito bom sobre a economia.
O baque na poupança pode ser devido à inflação. O rendimento da poupança foi nenhum em 2013. Tem sido nenhum em 2014. A inflação come o rendimento dos juros. Pode ser que os poupadores estejam migrando para outras aplicações em busca de rendimento. Não é possível saber com certeza.
Para aqueles poupadores que costumam deixar dinheiro nas cadernetas, a alternativa de aplicação costuma ser um fundo de investimento. Nos últimos 12 meses, mais saiu do que entrou dinheiro nos fundos em geral, descontados os rendimentos.
Mas a conta é difícil. O patrimônio dos fundos é muito maior, o quádruplo dos depósitos nas cadernetas. Podem ocorrer movimentos subterrâneos que talvez escondam uma migração da poupança para fundos (ou não). Por exemplo, pode ser que investidores maiores tenham fugido de fundos, dando lugar ao dinheiro de poupadores cansados do ganho nulo da caderneta.
O baque na poupança pode ser devido à alta de juros. Com juros maiores, mais e mais fundos passam a ter rendimento maior que o da poupança. Taxa de juros alta não é boa notícia para quase ninguém.
O baque na poupança pode ser devido ao pagamento de dívidas. No início do ano, os mais remediados enfrentam carga pesada de despesas extras, como se sabe: IPVA, IPTU, escola, rescaldo dos excessos de festas de final de ano e férias e, por vezes, até Imposto de Renda.
O baque na poupança pode ser devido ao crescimento mais lerdo da renda. Seja qual for o nível de endividamento ou padrão de gastos, o rendimento médio está crescendo mais devagar, assim como a massa salarial (a soma de todos os rendimentos do trabalho), pois há menos gente trabalhando, ao menos nas grandes metrópoles. Há menos renda disponível para poupar.
Em si mesmo, fique bem claro, que menos dinheiro entre na poupança tem bem pouca importância econômica. No entanto, que menos dinheiro vá para a caderneta significa obviamente uma mudança de comportamento que reflete em parte desmelhoras evidentes na economia.
Não, o Brasil "não vai explodir em 2015", como disse Dilma Rousseff. Quase ninguém com alguma coisa entre as orelhas além de vento diz tal coisa. A presidente outra vez discute com um espantalho fantástico, criado por ela mesma, a fim de ignorar críticas a seu governo, as quais chama de "guerra psicológica adversa", a explicação presidencial para o pessimismo da população.
No ritmo em que vai a política econômica, reafirmado na última semana pela presidente, o Brasil vai apenas se arrastar mediocremente. Mesmo pessoas que não dão à mínima para debates econômicos, quase todo mundo, percebem problemas pelo menos desde meados de 2012, mostram as pesquisas.
Não é uma explosão, mas um suspiro que varia do enfado à irritação, causado também pela desmelhora econômica, por preços altos e juros altos. Mas não apenas.
Indústria oscila - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 08/05
Depois de começar o ano com uma forte alta em janeiro, a indústria ficou estagnada em fevereiro e recuou em março. Nada de novo. A produção industrial tem tido comportamento errático, alternando crescimento e retração. A pesquisa foi ampliada e isso alterou alguns números da série, mas não mudou os problemas estruturais do setor. O ano de 2014 deve ser de atividade baixa.
A grande novidade do dado de ontem foi a divulgação dos primeiros números da nova Pesquisa Industrial Mensal, que ficou mais abrangente e com mais informações. A amostra de produtos pesquisados subiu de 830 para 944 e o número de unidades industriais visitadas subiu de 3.700 para 7.800. Além disso, o estado do Mato Grosso passou a fazer parte do índice.
Houve mudança nas taxas de ponderação de cada setor e revisão da série histórica retroativa a 2002. Segundo análise da corretora Concórdia, as revisões entre 2002 e 2012 foram pequenas, de no máximo 0,3 ponto percentual. Mas o resultado do ano passado mudou muito e para melhor: de 1,2% para 2,3%. Isso deve levar a revisões do PIB do ano passado. Pelos cálculos da Concórdia, a taxa de crescimento pode ser revista de 2,3% para 2,5%. No mundo dos indicadores econômicos, a revisão do passado é comum.
Mesmo com as alterações na série, as análises divulgadas pelos economistas mostram que os novos números não revogam o clima frio do setor. “A indústria deve continuar patinando este ano”, disse a consultoria Rosenberg Associados. “Em particular, a série revisada não muda o diagnóstico de baixo crescimento e produtividade da indústria”, escreveu o Itaú Unibanco. “Os primeiros resultados da nova metodologia da PMI não alteram o quadro da indústria brasileira: a produção continua com desempenho fraco e oscilante ”, avaliou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que representa grandes empresas do país.
De fato, o gráfico abaixo mostra isso. A gangorra industrial continua balançando forte. Reparem que no último ano houve crescimento em cinco meses, queda em outros cinco, e estagnação em dois. A revisão da série não alterou esse quadro.
Este ano, a indústria tem crescimento de apenas 0,4%, de janeiro a março, contra igual período do ano passado. A retração do setor de veículos puxa o indicador para baixo, com uma queda de 8,8%. É para evitar que o quadro seja mais um ponto de desânimo do eleitor que o governo ensaia fazer mais um pacote para o setor automobilístico e pressiona os bancos para liberarem mais crédito para os financiamentos. As exportações de veículos caíram 34%. O preocupante é a queda de 1% de janeiro a março nos bens de capital. As muitas incertezas em relação à economia brasileira estão afetando os investimentos.
Depois de começar o ano com uma forte alta em janeiro, a indústria ficou estagnada em fevereiro e recuou em março. Nada de novo. A produção industrial tem tido comportamento errático, alternando crescimento e retração. A pesquisa foi ampliada e isso alterou alguns números da série, mas não mudou os problemas estruturais do setor. O ano de 2014 deve ser de atividade baixa.
A grande novidade do dado de ontem foi a divulgação dos primeiros números da nova Pesquisa Industrial Mensal, que ficou mais abrangente e com mais informações. A amostra de produtos pesquisados subiu de 830 para 944 e o número de unidades industriais visitadas subiu de 3.700 para 7.800. Além disso, o estado do Mato Grosso passou a fazer parte do índice.
Houve mudança nas taxas de ponderação de cada setor e revisão da série histórica retroativa a 2002. Segundo análise da corretora Concórdia, as revisões entre 2002 e 2012 foram pequenas, de no máximo 0,3 ponto percentual. Mas o resultado do ano passado mudou muito e para melhor: de 1,2% para 2,3%. Isso deve levar a revisões do PIB do ano passado. Pelos cálculos da Concórdia, a taxa de crescimento pode ser revista de 2,3% para 2,5%. No mundo dos indicadores econômicos, a revisão do passado é comum.
Mesmo com as alterações na série, as análises divulgadas pelos economistas mostram que os novos números não revogam o clima frio do setor. “A indústria deve continuar patinando este ano”, disse a consultoria Rosenberg Associados. “Em particular, a série revisada não muda o diagnóstico de baixo crescimento e produtividade da indústria”, escreveu o Itaú Unibanco. “Os primeiros resultados da nova metodologia da PMI não alteram o quadro da indústria brasileira: a produção continua com desempenho fraco e oscilante ”, avaliou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que representa grandes empresas do país.
De fato, o gráfico abaixo mostra isso. A gangorra industrial continua balançando forte. Reparem que no último ano houve crescimento em cinco meses, queda em outros cinco, e estagnação em dois. A revisão da série não alterou esse quadro.
Este ano, a indústria tem crescimento de apenas 0,4%, de janeiro a março, contra igual período do ano passado. A retração do setor de veículos puxa o indicador para baixo, com uma queda de 8,8%. É para evitar que o quadro seja mais um ponto de desânimo do eleitor que o governo ensaia fazer mais um pacote para o setor automobilístico e pressiona os bancos para liberarem mais crédito para os financiamentos. As exportações de veículos caíram 34%. O preocupante é a queda de 1% de janeiro a março nos bens de capital. As muitas incertezas em relação à economia brasileira estão afetando os investimentos.
Quem manda e quem obedece - MILTON TERRA
ZERO HORA - 08/05
O governo anuncia novo aumento de tributos, agora sobre as bebidas frias, tais como as cervejas, refrigerantes e a água - esta última estaria livre, por enquanto - e sobre os cosméticos. Ainda que se possa acreditar que a mordida ficará nisto, o ato irá gerar, inexoravelmente, inflação e desconforto.
Ora, não se pode elevar a já imensa carga tributária sem uma explicação detalhada ao contribuinte sobre a necessidade desse ou daquele aumento, afora os sucessivos recordes de arrecadação. A par de sua inerente autonomia, os representantes precisam dividir, justificar essas decisões aos donos do poder - os contribuintes - mostrando que não há outra maneira de resolver o problema de caixa, com redução de custos ou reorganização da máquina estatal.
Exemplo: nos EUA, com uma população de 300 milhões de habitantes, há 7 mil cargos em comissão; na Inglaterra, que tem uma população de 50 milhões de habitantes, há 500 cargos em comissão; na França e na Alemanha, que têm 65 milhões e 81 milhões de habitantes respectivamente, há apenas 300 cargos em comissão. No Brasil, que conta hoje 200 milhões de habitantes, há 600 mil cargos em comissão.
É de duvidar que não se possa racionalizar esse número, com melhora das contas públicas e absorção dessa massa de trabalho no mercado. De outro lado, o governo resiste em acreditar na chamada Curva de Laffer, pela qual a redução dos tributos, quando a carga é muito alta, pode significar aumento de arrecadação, como provou o município de Canoas, por duas vezes.
É necessária uma mudança geral de mentalidade, pois o mandato conferido ao governante não é uma carta-branca, nem o contribuinte é mero coadjuvante na tributação ou na organização estatal. Ele é o dono do poder, que paga a conta e para quem deve reverter o produto da arrecadação. Merece, por isso, atenção proporcional à sua importância, e lhe são devidas explicações e bom tratamento.
O governo anuncia novo aumento de tributos, agora sobre as bebidas frias, tais como as cervejas, refrigerantes e a água - esta última estaria livre, por enquanto - e sobre os cosméticos. Ainda que se possa acreditar que a mordida ficará nisto, o ato irá gerar, inexoravelmente, inflação e desconforto.
Ora, não se pode elevar a já imensa carga tributária sem uma explicação detalhada ao contribuinte sobre a necessidade desse ou daquele aumento, afora os sucessivos recordes de arrecadação. A par de sua inerente autonomia, os representantes precisam dividir, justificar essas decisões aos donos do poder - os contribuintes - mostrando que não há outra maneira de resolver o problema de caixa, com redução de custos ou reorganização da máquina estatal.
Exemplo: nos EUA, com uma população de 300 milhões de habitantes, há 7 mil cargos em comissão; na Inglaterra, que tem uma população de 50 milhões de habitantes, há 500 cargos em comissão; na França e na Alemanha, que têm 65 milhões e 81 milhões de habitantes respectivamente, há apenas 300 cargos em comissão. No Brasil, que conta hoje 200 milhões de habitantes, há 600 mil cargos em comissão.
É de duvidar que não se possa racionalizar esse número, com melhora das contas públicas e absorção dessa massa de trabalho no mercado. De outro lado, o governo resiste em acreditar na chamada Curva de Laffer, pela qual a redução dos tributos, quando a carga é muito alta, pode significar aumento de arrecadação, como provou o município de Canoas, por duas vezes.
É necessária uma mudança geral de mentalidade, pois o mandato conferido ao governante não é uma carta-branca, nem o contribuinte é mero coadjuvante na tributação ou na organização estatal. Ele é o dono do poder, que paga a conta e para quem deve reverter o produto da arrecadação. Merece, por isso, atenção proporcional à sua importância, e lhe são devidas explicações e bom tratamento.
Confissão de incompetência - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 08/05
A presidente Dilma Rousseff reuniu dez mulheres jornalistas para afirmar sua satisfação diante do pífio desempenho econômico do Brasil e sua incapacidade de imaginar um país com inflação menor e prosperidade maior. Não há problemas sérios e em 2015 "o Brasil vai é bombar", garantiu a presidente, como se os desajustes apontados por analistas da imprensa, de consultorias privadas, do setor financeiro e de entidades multilaterais fossem imaginários ou insignificantes.
Não se esperem, portanto, correções na política econômica, em caso de reeleição. Para começar, a tolerância à inflação será mantida, em nome de uma falsa defesa dos trabalhadores e dos brasileiros mais pobres.
"Faz uma meta de inflação de 3% e sabe o que isso significa? Significa desemprego lá pelos 8,2%. Eu quero ver como se mantêm o investimento social e o investimento público em logística com essa meta", desafiou a presidente. Ela poderia evitar essa imprudência se fosse um pouco mais informada e menos dependente de assessores incapazes.
Chile, Colômbia, Equador e Peru, para citar só uns poucos exemplos da vizinhança, têm crescido muito mais que o Brasil com inflação muito menor. No ano passado as taxas de expansão econômica desse grupo ficaram entre 4,2% e 5%. Neste ano devem ser pouco maiores. A menor inflação, de 1,9%, ocorreu na Colômbia. A maior, de 3%, no Chile. O desemprego na Colômbia, de 10,6%, foi o único muito acima da média latino-americana (6,3%). Ficou em 4,6% no Equador, 5,9% no Chile e 6% no Peru.
No Brasil, o dado oficial, repetido pelos organismos internacionais, apontou 5,5% de desocupação, pouco abaixo do nível registrado em países latino-americanos mais dinâmicos e com inflação bem menor. Mas será correto esse número, apurado em seis regiões metropolitanas? Outra pesquisa do IBGE, a Pnad Contínua, realizada em 3.500 municípios, apontou uma desocupação na faixa de 7%, superior à média da América Latina. Por uma extraordinária coincidência, aliados do governo tentaram interromper a divulgação de novos dados dessa pesquisa.
Mas a recusa da meta de 3% está muito longe de corresponder à defesa de uma inflação de 4,5%, a meta em vigor. A inflação acumulada em 12 meses tem ficado em torno de 6% e a presidente, assim como seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem-se mostrado satisfeita com qualquer número até 6,5%, limite da margem de tolerância, impropriamente chamado de "teto da meta". Mas a meta é de 4,5% e nada, nos últimos anos, justificou resultados piores.
Na noite do jantar presidencial, o ministro Guido Mantega também rejeitou, em entrevista à TV Brasil, a redução da meta de inflação. Usou as desculpas de sempre, mencionando choques de preços, como se ocorressem apenas no Brasil. Pelo menos quanto a isso a presidente concordou com seu ministro. Mas ela o desmentiu, ao descartar a ideia de aumento de impostos para reforçar a política fiscal.
"Não sei em que circunstâncias ele falou", explicou a presidente. "Às vezes a gente escorrega em casca de banana." A fala seria mais convincente se ela contasse como seu governo alcançará a meta fiscal prometida para este ano e como se compensarão as perdas acumuladas por empresas do setor elétrico, prejudicadas pela contenção de tarifas imposta pelo governo.
A presidente insistiu em atribuir os problemas brasileiros à crise internacional e em bravatear, comparando o desempenho brasileiro com o de outros países. "Estamos nos saindo muito bem diante da conjuntura mundial." Esse discurso é velho e repetidamente superado pelos fatos. Foi desmentido, nos últimos anos, na comparação do pífio crescimento e da elevada inflação do Brasil com os números de outros países emergentes. Agora é desmentido também quando se compara o déficit nominal das contas públicas brasileiras com os dados dos países mais avançados. O déficit brasileiro tem aumentado e é hoje muito parecido com a média da zona do euro.
A presidente parece acreditar nas próprias palavras. Isso apenas reforça as previsões de tempos ainda muito ruins para a economia brasileira.
A presidente Dilma Rousseff reuniu dez mulheres jornalistas para afirmar sua satisfação diante do pífio desempenho econômico do Brasil e sua incapacidade de imaginar um país com inflação menor e prosperidade maior. Não há problemas sérios e em 2015 "o Brasil vai é bombar", garantiu a presidente, como se os desajustes apontados por analistas da imprensa, de consultorias privadas, do setor financeiro e de entidades multilaterais fossem imaginários ou insignificantes.
Não se esperem, portanto, correções na política econômica, em caso de reeleição. Para começar, a tolerância à inflação será mantida, em nome de uma falsa defesa dos trabalhadores e dos brasileiros mais pobres.
"Faz uma meta de inflação de 3% e sabe o que isso significa? Significa desemprego lá pelos 8,2%. Eu quero ver como se mantêm o investimento social e o investimento público em logística com essa meta", desafiou a presidente. Ela poderia evitar essa imprudência se fosse um pouco mais informada e menos dependente de assessores incapazes.
Chile, Colômbia, Equador e Peru, para citar só uns poucos exemplos da vizinhança, têm crescido muito mais que o Brasil com inflação muito menor. No ano passado as taxas de expansão econômica desse grupo ficaram entre 4,2% e 5%. Neste ano devem ser pouco maiores. A menor inflação, de 1,9%, ocorreu na Colômbia. A maior, de 3%, no Chile. O desemprego na Colômbia, de 10,6%, foi o único muito acima da média latino-americana (6,3%). Ficou em 4,6% no Equador, 5,9% no Chile e 6% no Peru.
No Brasil, o dado oficial, repetido pelos organismos internacionais, apontou 5,5% de desocupação, pouco abaixo do nível registrado em países latino-americanos mais dinâmicos e com inflação bem menor. Mas será correto esse número, apurado em seis regiões metropolitanas? Outra pesquisa do IBGE, a Pnad Contínua, realizada em 3.500 municípios, apontou uma desocupação na faixa de 7%, superior à média da América Latina. Por uma extraordinária coincidência, aliados do governo tentaram interromper a divulgação de novos dados dessa pesquisa.
Mas a recusa da meta de 3% está muito longe de corresponder à defesa de uma inflação de 4,5%, a meta em vigor. A inflação acumulada em 12 meses tem ficado em torno de 6% e a presidente, assim como seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem-se mostrado satisfeita com qualquer número até 6,5%, limite da margem de tolerância, impropriamente chamado de "teto da meta". Mas a meta é de 4,5% e nada, nos últimos anos, justificou resultados piores.
Na noite do jantar presidencial, o ministro Guido Mantega também rejeitou, em entrevista à TV Brasil, a redução da meta de inflação. Usou as desculpas de sempre, mencionando choques de preços, como se ocorressem apenas no Brasil. Pelo menos quanto a isso a presidente concordou com seu ministro. Mas ela o desmentiu, ao descartar a ideia de aumento de impostos para reforçar a política fiscal.
"Não sei em que circunstâncias ele falou", explicou a presidente. "Às vezes a gente escorrega em casca de banana." A fala seria mais convincente se ela contasse como seu governo alcançará a meta fiscal prometida para este ano e como se compensarão as perdas acumuladas por empresas do setor elétrico, prejudicadas pela contenção de tarifas imposta pelo governo.
A presidente insistiu em atribuir os problemas brasileiros à crise internacional e em bravatear, comparando o desempenho brasileiro com o de outros países. "Estamos nos saindo muito bem diante da conjuntura mundial." Esse discurso é velho e repetidamente superado pelos fatos. Foi desmentido, nos últimos anos, na comparação do pífio crescimento e da elevada inflação do Brasil com os números de outros países emergentes. Agora é desmentido também quando se compara o déficit nominal das contas públicas brasileiras com os dados dos países mais avançados. O déficit brasileiro tem aumentado e é hoje muito parecido com a média da zona do euro.
A presidente parece acreditar nas próprias palavras. Isso apenas reforça as previsões de tempos ainda muito ruins para a economia brasileira.
Flexibilização útil em qualquer conjuntura - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 08/05
É imprescindível que a modernização de leis trabalhistas seja abrangente, e não para atender a uma necessidade temporária da indústria automobilística
O número de empregos formais, com carteira assinada, tem aumentado no Brasil, a despeito do ritmo morno de expansão da economia. Mesmo a indústria de transformação, com todos os problemas que enfrenta, tem gerado empregos formais, ainda que o número de novos postos de trabalho esteja minguando.
A principal razão para essa geração de empregos é que a economia como um todo também vem se formalizando. Poucas empresas e profissionais conseguem entrar no mercado sem que esteja devidamente regularizado junto ao Fisco e à previdência social.
Mas a continuidade desse processo e mesmo a manutenção dos empregos formais gerados certamente não ficarão alheios ao ritmo da atividade econômica em algum momento. Agora mesmo, alguns setores já dão sinais que podem dispensar pessoal em decorrência da retração de mercado, e o exemplo mais recente é o da indústria automobilística, obrigada a suspender turnos de trabalho ou antecipar férias coletivas. O recuo pode ser temporário e, para muitas empresas, é melhor manter o quadro de pessoal do que dispensá-lo e depois ter de recontratar novos empregados que precisem ser treinados ou necessitem de tempo para se familiarizar com as funções para as quais foram recrutados.
Todavia, um quadro de pessoal temporariamente ocioso tem elevado custo. Além dos salários, há pesados encargos trabalhistas incidentes sobre a folha de pagamentos. Existe já uma vasta experiência internacional de flexibilização da jornada de trabalho, sem rompimento do vínculo empregatício, que possibilita ajustes em conjunturas mais difíceis, por meio de livre negociação entre empregadores e empregadores, com interveniência de sindicatos.
O tema voltou à mesa de debates no Brasil exatamente por conta de necessidade de ajustes na indústria automobilística. Outros segmentos não estão livres de enfrentar dificuldades semelhantes. Mas se a economia continua a gerar empregos formais, discutir essa questão não é pôr o carro à frente dos bois, ainda mais em ano eleitoral, com possibilidade de exploração política de temas considerados delicados?
No entanto, os riscos serão maiores se uma conjuntura de perda de empregos coincidir com a campanha eleitoral. Ao que parece, o Ministério do Trabalho tem essa percepção e vem estudando regras de flexibilização que passariam a vigorar por medida provisória antes que a campanha acelere.
É realmente o que precisa ser feito, desde que não seja uma iniciativa pontual para atender apenas à indústria automobilística. Para se conciliar diferentes objetivos no mercado de trabalho (geração e manutenção de empregos formais, aumentos reais para o salário mínimo etc.), independentemente da conjuntura, a flexibilização abrangente das regras trabalhistas é imprescindível .
É imprescindível que a modernização de leis trabalhistas seja abrangente, e não para atender a uma necessidade temporária da indústria automobilística
O número de empregos formais, com carteira assinada, tem aumentado no Brasil, a despeito do ritmo morno de expansão da economia. Mesmo a indústria de transformação, com todos os problemas que enfrenta, tem gerado empregos formais, ainda que o número de novos postos de trabalho esteja minguando.
A principal razão para essa geração de empregos é que a economia como um todo também vem se formalizando. Poucas empresas e profissionais conseguem entrar no mercado sem que esteja devidamente regularizado junto ao Fisco e à previdência social.
Mas a continuidade desse processo e mesmo a manutenção dos empregos formais gerados certamente não ficarão alheios ao ritmo da atividade econômica em algum momento. Agora mesmo, alguns setores já dão sinais que podem dispensar pessoal em decorrência da retração de mercado, e o exemplo mais recente é o da indústria automobilística, obrigada a suspender turnos de trabalho ou antecipar férias coletivas. O recuo pode ser temporário e, para muitas empresas, é melhor manter o quadro de pessoal do que dispensá-lo e depois ter de recontratar novos empregados que precisem ser treinados ou necessitem de tempo para se familiarizar com as funções para as quais foram recrutados.
Todavia, um quadro de pessoal temporariamente ocioso tem elevado custo. Além dos salários, há pesados encargos trabalhistas incidentes sobre a folha de pagamentos. Existe já uma vasta experiência internacional de flexibilização da jornada de trabalho, sem rompimento do vínculo empregatício, que possibilita ajustes em conjunturas mais difíceis, por meio de livre negociação entre empregadores e empregadores, com interveniência de sindicatos.
O tema voltou à mesa de debates no Brasil exatamente por conta de necessidade de ajustes na indústria automobilística. Outros segmentos não estão livres de enfrentar dificuldades semelhantes. Mas se a economia continua a gerar empregos formais, discutir essa questão não é pôr o carro à frente dos bois, ainda mais em ano eleitoral, com possibilidade de exploração política de temas considerados delicados?
No entanto, os riscos serão maiores se uma conjuntura de perda de empregos coincidir com a campanha eleitoral. Ao que parece, o Ministério do Trabalho tem essa percepção e vem estudando regras de flexibilização que passariam a vigorar por medida provisória antes que a campanha acelere.
É realmente o que precisa ser feito, desde que não seja uma iniciativa pontual para atender apenas à indústria automobilística. Para se conciliar diferentes objetivos no mercado de trabalho (geração e manutenção de empregos formais, aumentos reais para o salário mínimo etc.), independentemente da conjuntura, a flexibilização abrangente das regras trabalhistas é imprescindível .
E agora, Joseph? - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 08/05
Enquanto o Brasil discute se a Seleção convocada ontem pelo técnico Luiz Felipe Scolari reúne ou não os melhores craques do futebol brasileiro, o sofrível trato nacional conferido ao padrão Fifa segue com o gosto amargo de um insosso 0 x 0. Nem os palcos da festa o país foi capaz de entregar conforme o combinado. Embora as 12 arenas devessem estar prontas até 31 de dezembro do ano passado, há estádio sendo inaugurado hoje, outro amanhã, de modo que o monumental descumprimento dos prazos põe em segundo plano a exigência de qualidade e a conferência de detalhes. A esta altura, importa mais que o espetáculo nos gramados supere a vergonha fora deles.
Se os brasileiros que foram às ruas em junho por "padrão Fifa" nos transportes, na saúde, no ensino e na segurança pública soubessem o que significaria tal nível de qualidade no Mundial, certamente cobrariam outra coisa. Pois ainda que a Copa deixe legados - e seria impensável desatino passar totalmente em branco -, eles estarão muito aquém de promessas e projetos. Desse ponto de vista, a frustração também é certa. Mas as consequências não têm o tamanho continental do Brasil. Têm o tamanho do planeta Terra. É a competência nossa de cada dia que está em jogo, com os olhos do mundo conferindo a entrega dos estádios, da mobilidade urbana, dos aeroportos, da segurança, da energia, da telefonia e por aí afora.
Podia-se perguntar ao presidente da entidade máxima do futebol: e agora, Joseph Blatter, você, que foi da ira à tolerância com a desorganização, está pronto para lavar as mãos neste momento solene? É mais producente, contudo, perguntar ao contribuinte brasileiro o que fazer da experiência. Até porque as Olimpíadas estão aí. Com a vantagem de que parte da infraestrutura vai estar pronta, ou quase. Talvez seja a oportunidade de exigir que a mobilidade urbana se torne realidade nacional, para além da meia dúzia de projetos de fato executados; que os locais dos jogos tenham plena garantia de transmissão de dados por celular; que aeroportos como os de Belo Horizonte e Salvador, cujas obras para a Copa ficarão incompletas, sejam concluídos; que o risco de apagão energético esteja anulado até 2016; e assim sucessivamente.
Não vale a mobilidade urbana funcionar relativamente bem apenas devido à decretação de feriado ou ponto facultativo em dias de jogos. Tampouco serve ao país uma segurança pública exemplar limitada aos dias da competição, com o apoio de forças que logo serão desmobilizadas. Também será frustrante ver os serviços fluírem nos aeroportos só por conta de reforço excepcional no quadro de trabalhadores. O brasileiro gostaria de ganhar a Copa nos gramados e fora deles. Restou a primeira chance. E, apesar das controvérsias de sempre quanto a um nome ou outro da lista de Scolari, dá para torcer por nossos craques. Só não dá para torcer pelo time de responsáveis ou irresponsáveis que perdeu de goleada no planejamento do segundo Mundial sediado pelo Brasil em 64 anos, fazendo-nos lembrar, de modo diverso, do maracanaço de 1950.
Se os brasileiros que foram às ruas em junho por "padrão Fifa" nos transportes, na saúde, no ensino e na segurança pública soubessem o que significaria tal nível de qualidade no Mundial, certamente cobrariam outra coisa. Pois ainda que a Copa deixe legados - e seria impensável desatino passar totalmente em branco -, eles estarão muito aquém de promessas e projetos. Desse ponto de vista, a frustração também é certa. Mas as consequências não têm o tamanho continental do Brasil. Têm o tamanho do planeta Terra. É a competência nossa de cada dia que está em jogo, com os olhos do mundo conferindo a entrega dos estádios, da mobilidade urbana, dos aeroportos, da segurança, da energia, da telefonia e por aí afora.
Podia-se perguntar ao presidente da entidade máxima do futebol: e agora, Joseph Blatter, você, que foi da ira à tolerância com a desorganização, está pronto para lavar as mãos neste momento solene? É mais producente, contudo, perguntar ao contribuinte brasileiro o que fazer da experiência. Até porque as Olimpíadas estão aí. Com a vantagem de que parte da infraestrutura vai estar pronta, ou quase. Talvez seja a oportunidade de exigir que a mobilidade urbana se torne realidade nacional, para além da meia dúzia de projetos de fato executados; que os locais dos jogos tenham plena garantia de transmissão de dados por celular; que aeroportos como os de Belo Horizonte e Salvador, cujas obras para a Copa ficarão incompletas, sejam concluídos; que o risco de apagão energético esteja anulado até 2016; e assim sucessivamente.
Não vale a mobilidade urbana funcionar relativamente bem apenas devido à decretação de feriado ou ponto facultativo em dias de jogos. Tampouco serve ao país uma segurança pública exemplar limitada aos dias da competição, com o apoio de forças que logo serão desmobilizadas. Também será frustrante ver os serviços fluírem nos aeroportos só por conta de reforço excepcional no quadro de trabalhadores. O brasileiro gostaria de ganhar a Copa nos gramados e fora deles. Restou a primeira chance. E, apesar das controvérsias de sempre quanto a um nome ou outro da lista de Scolari, dá para torcer por nossos craques. Só não dá para torcer pelo time de responsáveis ou irresponsáveis que perdeu de goleada no planejamento do segundo Mundial sediado pelo Brasil em 64 anos, fazendo-nos lembrar, de modo diverso, do maracanaço de 1950.
Indústria estagnada - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 08/05
Sob nova metodologia, dados da produção frustram expectativas de revisões positivas e indicam projeções negativas para este ano
A divulgação pelo IBGE da produção industrial de março era aguardada com especial interesse. Seus resultados incorporariam pela primeira vez uma nova metodologia, com mais produtos e locais de coleta de dados.
A expectativa, frustrada ontem, era a de que a bem-vinda reformulação técnica, bem como sua aplicação retroativa a 2002, pudesse modificar para melhor o desempenho ruim dos últimos anos.
Tal crença decorria da inclusão, no cálculo da produção, de itens como tablets e smartphones, que não vinham sendo considerados. Pesava no mesmo sentido a incorporação, na base de dados, de plantas fabris abertas no período mais recente, especialmente no setor de automóveis.
Tudo isso se fez, mas os impactos foram pequenos. A alteração mais relevante ocorreu em relação ao ano passado: a estimativa da variação da produção passou de 1,2% para 2,3%, o suficiente para compensar a queda observada em 2012. Entre 2002 e 2012, contudo, as revisões foram mínimas.
Permanece, assim, a constatação de que a indústria está estagnada, com o mesmo nível de produção observado em 2008.
Quanto aos números deste ano, o quadro tampouco é animador. Houve alta de apenas 0,4% na atividade no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse resultado ainda deve piorar nos próximos meses, a julgar pelo comportamento de uma série de indicadores.
Entre eles estão a deterioração da confiança empresarial e do consumidor (que retorna aos níveis da crise de 2008), os juros em alta, o crédito mais escasso e, sobretudo, o recorde de estoques nos segmentos mais dinâmicos da indústria --bens duráveis e de capital. O ambiente internacional de retomada nos países desenvolvidos, por sua vez, ainda não conta a favor.
De fato, as perspectivas são preocupantes. No caso dos bens duráveis, o setor automotivo tem o maior nível de estoques desde 2008, e as vendas decrescem. Parece inevitável que as fábricas pisem no freio no restante do ano.
O ambiente de incerteza, inclusive eleitoral, afeta os bens de capital. Muitas decisões de investimento tendem a ser adiadas para o ano que vem. A recuperação observada em 2013 - quando a produção subiu 11,3%, puxada por caminhões e máquinas agrícolas - já se reverte.
O mais provável, infelizmente, é que continuem a cair as projeções de crescimento da indústria e do PIB para este ano.
A divulgação pelo IBGE da produção industrial de março era aguardada com especial interesse. Seus resultados incorporariam pela primeira vez uma nova metodologia, com mais produtos e locais de coleta de dados.
A expectativa, frustrada ontem, era a de que a bem-vinda reformulação técnica, bem como sua aplicação retroativa a 2002, pudesse modificar para melhor o desempenho ruim dos últimos anos.
Tal crença decorria da inclusão, no cálculo da produção, de itens como tablets e smartphones, que não vinham sendo considerados. Pesava no mesmo sentido a incorporação, na base de dados, de plantas fabris abertas no período mais recente, especialmente no setor de automóveis.
Tudo isso se fez, mas os impactos foram pequenos. A alteração mais relevante ocorreu em relação ao ano passado: a estimativa da variação da produção passou de 1,2% para 2,3%, o suficiente para compensar a queda observada em 2012. Entre 2002 e 2012, contudo, as revisões foram mínimas.
Permanece, assim, a constatação de que a indústria está estagnada, com o mesmo nível de produção observado em 2008.
Quanto aos números deste ano, o quadro tampouco é animador. Houve alta de apenas 0,4% na atividade no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse resultado ainda deve piorar nos próximos meses, a julgar pelo comportamento de uma série de indicadores.
Entre eles estão a deterioração da confiança empresarial e do consumidor (que retorna aos níveis da crise de 2008), os juros em alta, o crédito mais escasso e, sobretudo, o recorde de estoques nos segmentos mais dinâmicos da indústria --bens duráveis e de capital. O ambiente internacional de retomada nos países desenvolvidos, por sua vez, ainda não conta a favor.
De fato, as perspectivas são preocupantes. No caso dos bens duráveis, o setor automotivo tem o maior nível de estoques desde 2008, e as vendas decrescem. Parece inevitável que as fábricas pisem no freio no restante do ano.
O ambiente de incerteza, inclusive eleitoral, afeta os bens de capital. Muitas decisões de investimento tendem a ser adiadas para o ano que vem. A recuperação observada em 2013 - quando a produção subiu 11,3%, puxada por caminhões e máquinas agrícolas - já se reverte.
O mais provável, infelizmente, é que continuem a cair as projeções de crescimento da indústria e do PIB para este ano.
O agronegócio como vocação - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 08/05
O campo, ao menos por enquanto, é o grande motor do Brasil. Não apenas como alternativa, mas como condição para o desenvolvimento
“Brasil, o celeiro do mundo.” Quem já não ouviu falar sobre isso? A expressão, que na teoria tenta traduzir o potencial brasileiro na produção agrícola e pecuária, na prática nunca esteve tão próxima de ser verdade. A participação do agronegócio brasileiro no mercado internacional, oportunidade que impulsiona o crescimento da área plantada, o investimento em tecnologia e o consequente aumento em volume de produção, posiciona o país como o grande e talvez único player capaz de atender à crescente demanda mundial por alimentos e energia. Fatores como clima, solo, água e tecnologia conferem ao Brasil uma posição privilegiada como fornecedor global e região estratégica à segurança alimentar.
É certo que a competitividade, característica dessa vocação natural, é prejudicada pelo chamado custo Brasil, sobre o qual pesam questões relacionadas à infraestrutura, cargas tributárias e temas regulatórios que aumentam sobremaneira o custo de produção. Mas se ainda assim conseguimos ser competitivos e nos tornarmos os maiores exportadores de soja e o primeiro do ranking no comércio mundial de carne bovina, por exemplo, é porque o agronegócio por aqui é coisa séria, negócio de “gente grande” e fomentador da economia, seja ela urbana ou rural.
Não estamos mais falando apenas de produção agrícola e pecuária, agropecuária ou agronegócio, mas de economia. O setor já responde por 22% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Uma participação que vai a mais de 30% quando olhamos para a realidade do Paraná, o segundo maior produtor e o estado mais agroindustrializado da Federação. Plantar soja, milho, feijão, arroz ou trigo, criar gado, frango ou suíno, enfim, ser produtor rural, deixa de ser uma atividade de colono, quase que de subsistência, para sustentar o crescimento econômico de toda uma nação. Bem como a relação dessa nação nas divisas políticas e comerciais com o mundo.
Aos críticos de plantão, para quem o Brasil está muito dependente do agronegócio, e o país deveria desenvolver e exportar mais tecnologia e conhecimento, cabe o ônus de apontar alternativas. Eles não estão errados. Quanto mais diversificada for essa pauta de produção e exportação, melhor. O que não pode ser permitido é a pura e simples contestação da ampla participação do agronegócio na geração de renda e divisas. Até porque estamos falando de uma vocação natural, que não pode ser desprezada. Ao contrário, precisa ser cada vez mais estimulada. Se nos últimos 13 anos foi esse o segmento que sustentou o superávit da balança comercial, vamos render graças ao agronegócio. Ainda bem que temos grãos e carnes suficientes para atender o mercado interno e abastecer boa parte da demanda mundial por proteínas e energia.
O problema, então, não está no agronegócio. O agro, pelo menos por enquanto, será o grande motor dessa potência que é o Brasil. Não apenas como alternativa, mas como condição ao desenvolvimento, protagonista de um futuro que passa, sim, pela promoção e fortalecimento de outros segmentos. Da indústria automobilística, dos manufaturados e tantos outros setores da economia. Mas com a certeza de um futuro que tem no agronegócio não o único, mas um dos grandes ativos da economia brasileira.
Se a última década foi de crescimento, posicionamento e consolidação do Brasil como o grande celeiro do mundo, para fazer jus ao título e à nobre referência, a próxima década terá de ser, obrigatoriamente, de investimentos, principalmente em infraestrutura. Para que o Brasil seja e assuma, de fato, o papel de grande produtor e fornecedor, terá de melhorar e muito sua capacidade de entrega.
O campo, ao menos por enquanto, é o grande motor do Brasil. Não apenas como alternativa, mas como condição para o desenvolvimento
“Brasil, o celeiro do mundo.” Quem já não ouviu falar sobre isso? A expressão, que na teoria tenta traduzir o potencial brasileiro na produção agrícola e pecuária, na prática nunca esteve tão próxima de ser verdade. A participação do agronegócio brasileiro no mercado internacional, oportunidade que impulsiona o crescimento da área plantada, o investimento em tecnologia e o consequente aumento em volume de produção, posiciona o país como o grande e talvez único player capaz de atender à crescente demanda mundial por alimentos e energia. Fatores como clima, solo, água e tecnologia conferem ao Brasil uma posição privilegiada como fornecedor global e região estratégica à segurança alimentar.
É certo que a competitividade, característica dessa vocação natural, é prejudicada pelo chamado custo Brasil, sobre o qual pesam questões relacionadas à infraestrutura, cargas tributárias e temas regulatórios que aumentam sobremaneira o custo de produção. Mas se ainda assim conseguimos ser competitivos e nos tornarmos os maiores exportadores de soja e o primeiro do ranking no comércio mundial de carne bovina, por exemplo, é porque o agronegócio por aqui é coisa séria, negócio de “gente grande” e fomentador da economia, seja ela urbana ou rural.
Não estamos mais falando apenas de produção agrícola e pecuária, agropecuária ou agronegócio, mas de economia. O setor já responde por 22% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Uma participação que vai a mais de 30% quando olhamos para a realidade do Paraná, o segundo maior produtor e o estado mais agroindustrializado da Federação. Plantar soja, milho, feijão, arroz ou trigo, criar gado, frango ou suíno, enfim, ser produtor rural, deixa de ser uma atividade de colono, quase que de subsistência, para sustentar o crescimento econômico de toda uma nação. Bem como a relação dessa nação nas divisas políticas e comerciais com o mundo.
Aos críticos de plantão, para quem o Brasil está muito dependente do agronegócio, e o país deveria desenvolver e exportar mais tecnologia e conhecimento, cabe o ônus de apontar alternativas. Eles não estão errados. Quanto mais diversificada for essa pauta de produção e exportação, melhor. O que não pode ser permitido é a pura e simples contestação da ampla participação do agronegócio na geração de renda e divisas. Até porque estamos falando de uma vocação natural, que não pode ser desprezada. Ao contrário, precisa ser cada vez mais estimulada. Se nos últimos 13 anos foi esse o segmento que sustentou o superávit da balança comercial, vamos render graças ao agronegócio. Ainda bem que temos grãos e carnes suficientes para atender o mercado interno e abastecer boa parte da demanda mundial por proteínas e energia.
O problema, então, não está no agronegócio. O agro, pelo menos por enquanto, será o grande motor dessa potência que é o Brasil. Não apenas como alternativa, mas como condição ao desenvolvimento, protagonista de um futuro que passa, sim, pela promoção e fortalecimento de outros segmentos. Da indústria automobilística, dos manufaturados e tantos outros setores da economia. Mas com a certeza de um futuro que tem no agronegócio não o único, mas um dos grandes ativos da economia brasileira.
Se a última década foi de crescimento, posicionamento e consolidação do Brasil como o grande celeiro do mundo, para fazer jus ao título e à nobre referência, a próxima década terá de ser, obrigatoriamente, de investimentos, principalmente em infraestrutura. Para que o Brasil seja e assuma, de fato, o papel de grande produtor e fornecedor, terá de melhorar e muito sua capacidade de entrega.
Ninguém vota em vice? - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 08/05
O ativismo dos sem-voto
O STF está prestes a fazer uma releitura da Constituição para colocar na ilegalidade o financiamento eleitoral pelas empresas. Ela interessa ao partido do governo, o PT, que advoga o financiamento exclusivamente público. Em 2002, o mesmo STF decidiu pela verticalização das coligações, pela qual elas só poderiam ser feitas entre partidos que se uniram na disputa presidencial. Aquela releitura interessava ao então partido do governo, o PSDB, que queria reduzir os apoios à candidatura do ex-presidente Lula. A verticalização, imposta pelo Supremo, foi derrubada pelo Congresso em 2006. A questão do financiamento deve ter o mesmo destino.
“Eu me sentiria fraudado; eu sentiria que esta Corte foi manipulada, foi utilizada para fins escusos. Isso é inaceitável”
Gilmar Mendes
Ministro do STF, sobre a constitucionalidade de projeto de lei que impedia que novos partidos (Rede e Solidariedade) tivessem direito ao tempo de TV e ao Fundo Partidário dos recém-filiados
Há males que vêm para o bem?
Em 2007, o STF decretou a perda do mandato dos parlamentares que trocarem de partido. Mas a vida real sempre encontra um jeito, e, para driblar a regra, vieram os partidos novos. O primeiro foi o PSD (2011), e depois Rede, Solidariedade e PROS.
A escolha é dela
Presidente da Câmara de 2011 a 2013, o deputado Marco Maia (RS) é um nome forte no PT para a liderança do governo na Câmara. Ele integra o grupo do novo vice da Casa, Arlindo Chinaglia (SP), e do ministro Ricardo Berzoini (Relações Institucionais). Enquanto a presidente não indicar, fica o vice-líder Henrique Fontana (RS).
Empurrando com a barriga
Desde a primeira denúncia sobre a refinaria de Pasadena, em 17 de março, não se trata de outro tema no Congresso. O governo diz que não teme investigar a Petrobras, mas, na próxima semana, se completam dois meses sem CPI.
A guerra pelas beiradas
Candidato do PSB ao Planalto, Eduardo Campos conquistou dois palanques esta semana. A ampla base aliada ao governo Dilma rachou no Mato Grosso do Sul e em Alagoas. Os candidatos a governador Nelson Trad Filho (PMDB-MS) e Benedito de Lira (PP-AL) fecharam com Campos.
O caminho das pedras
Os estrategistas eleitorais avaliam que candidatos à Presidência e a governador que tiverem boas propostas, ou um acervo de realizações, na Saúde e na Segurança largam com vantagem. Os dois temas superam em muito o da corrupção.
No clima eleitoral
O presidente da CNI, Robson Andrade, esteve com o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil). Reivindicou que a presidente Dilma sancione a MP 627 com o artigo que trata do Refis para as empresas. Consta que a Receita defende o veto.
EXCLUÍDO DA CHAPA pelo governador Cid Gomes (PROS-CE) e pelo PT, o senador Inácio Arruda (PCdoB) não deve disputar as próximas eleições.
Trem descarrilhado - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 08/05
O governo Geraldo Alckmin (PSDB) não cumpriu 27 das 59 ações previstas em 2013 por seu plano plurianual na área dos Transportes Metropolitanos, de acordo com balanço enviado pelo próprio Executivo à Assembleia. Entre as metas que não foram atingidas estão a modernização de trens --dos sete programados em um lote, apenas um foi entregue-- e a expansão dos transportes sobre trilhos: a extensão da linha 5-lilás avançou 60% do programado e a da linha 2-verde, apenas 47%.
Veja bem O governo diz que houve atrasos nas etapas de contratações, desapropriações e licenças ambientais das novas linhas e que a empresa responsável pelos trens enfrentou problemas na fábrica, como greves.
Aval A Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo deu parecer favorável à cobrança da multa para quem exceder a média mensal de consumo de água realizada em 2013. O órgão recomenda que o consumidor tenha prazo para explicar o aumento antes de pagar a tarifa extra.
O sertão vai... Dilma Rousseff inaugura na próxima terça-feira o primeiro trecho da transposição do rio São Francisco, obra-símbolo do PAC cujo atraso é um dos passivos que a presidente enfrentará na campanha.
... virar mar Dilma irá no mesmo dia a três cidades beneficiadas pela obra: Cabrobó (PE), São José de Piranhas (PB) e Jati (CE). Será acompanhada por um séquito de aliados do Nordeste, para exibir poderio bélico nos domínios de Eduardo Campos (PSB).
Blindagem O Planalto se reaproxima do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), para tentar conter o desgaste diante da instalação da CPI mista da Petrobras.
No time Em café da manhã, Cunha disse a Aloizio Mercadante (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) e ao vice-presidente Michel Temer que se comportará como um "aliado" e se comprometeu a participar de reuniões semanais.
Dedaço A aclamação de Arlindo Chinaglia (SP) como vice-presidente da Câmara foi vista como uma ação da cúpula do partido, com aval de Lula e Dilma, para enfraquecer a ala rebelde do PT.
Fila Gilberto Kassab (PSD) convidou Michel Temer para jantar em seu apartamento no dia 18 com um grupo de políticos de diversos partidos. Por lá já passaram Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB). O vice-presidente aceitou.
Unidos Em conversa há uma semana, Aécio avisou a Campos que vai direcionar o PSDB do Espírito Santo para uma aliança com o PSB do governador Renato Casagrande. Campos havia pedido apoio dos tucanos para tentar reduzir o poder da candidatura de Paulo Hartung (PMDB), turbinada pelo PT.
Fumaça Associações empresariais do setor de gás natural entregam a Campos na próxima semana documento com demandas do setor, entre elas a equiparação da desoneração tributária recebida pelas termelétricas. O grupo pretende endereçar o texto também a Aécio e Dilma.
Descontentes O PMDB paulista organizará encontros com representantes de classes que têm se mostrado avessas à gestão Alckmin. Receberá servidores como agentes penitenciários e procuradores. A ideia é incorporá-los à campanha de Paulo Skaf e afastá-los da órbita de Alexandre Padilha (PT).
Sem alarde O diplomata César Cidade, que foi investigado pelo Itamaraty por denúncias de assédio moral e sexual, aposentou-se com proventos integrais, pouco menos de um mês após cumprir a suspensão de 30 dias que recebeu pelo caso.
Visita à Folha Jose Gasset Loring, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Espanha, visitou ontem a Folha. Estava com Cássio Romano, vice-presidente, e Antonio Del Corro Garcia-Lomas, diretor-executivo.
TIROTEIO
"É constrangedor escalar Bruno Covas para investigar a proliferação dos pedágios que se originou nas privatizações tocadas pelo avô."
DO DEPUTADO ESTADUAL JOÃO PAULO RILLO (PT), líder da sigla na Assembleia paulista, sobre a escolha do tucano para a presidência da CPI dos Pedágios.
CONTRAPONTO
Batalha das mamadeiras
" No seminário em que estiveram Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) na última sexta-feira, o anfitrião João Doria Jr. destacou, sensibilizado, que o pessebista chegara ao hotel que sediou o evento carregando o bebê-conforto em que dormia o filho Miguel, de 3 meses.
Na plateia, um tucano, brincando, abriu uma disputa:
--Não tem problema. Até o fim do ano, o Aécio vai andar por aí com dois! --disse, em referência aos gêmeos que a mulher do senador, Leticia Weber, espera.
O governo Geraldo Alckmin (PSDB) não cumpriu 27 das 59 ações previstas em 2013 por seu plano plurianual na área dos Transportes Metropolitanos, de acordo com balanço enviado pelo próprio Executivo à Assembleia. Entre as metas que não foram atingidas estão a modernização de trens --dos sete programados em um lote, apenas um foi entregue-- e a expansão dos transportes sobre trilhos: a extensão da linha 5-lilás avançou 60% do programado e a da linha 2-verde, apenas 47%.
Veja bem O governo diz que houve atrasos nas etapas de contratações, desapropriações e licenças ambientais das novas linhas e que a empresa responsável pelos trens enfrentou problemas na fábrica, como greves.
Aval A Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo deu parecer favorável à cobrança da multa para quem exceder a média mensal de consumo de água realizada em 2013. O órgão recomenda que o consumidor tenha prazo para explicar o aumento antes de pagar a tarifa extra.
O sertão vai... Dilma Rousseff inaugura na próxima terça-feira o primeiro trecho da transposição do rio São Francisco, obra-símbolo do PAC cujo atraso é um dos passivos que a presidente enfrentará na campanha.
... virar mar Dilma irá no mesmo dia a três cidades beneficiadas pela obra: Cabrobó (PE), São José de Piranhas (PB) e Jati (CE). Será acompanhada por um séquito de aliados do Nordeste, para exibir poderio bélico nos domínios de Eduardo Campos (PSB).
Blindagem O Planalto se reaproxima do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), para tentar conter o desgaste diante da instalação da CPI mista da Petrobras.
No time Em café da manhã, Cunha disse a Aloizio Mercadante (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) e ao vice-presidente Michel Temer que se comportará como um "aliado" e se comprometeu a participar de reuniões semanais.
Dedaço A aclamação de Arlindo Chinaglia (SP) como vice-presidente da Câmara foi vista como uma ação da cúpula do partido, com aval de Lula e Dilma, para enfraquecer a ala rebelde do PT.
Fila Gilberto Kassab (PSD) convidou Michel Temer para jantar em seu apartamento no dia 18 com um grupo de políticos de diversos partidos. Por lá já passaram Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB). O vice-presidente aceitou.
Unidos Em conversa há uma semana, Aécio avisou a Campos que vai direcionar o PSDB do Espírito Santo para uma aliança com o PSB do governador Renato Casagrande. Campos havia pedido apoio dos tucanos para tentar reduzir o poder da candidatura de Paulo Hartung (PMDB), turbinada pelo PT.
Fumaça Associações empresariais do setor de gás natural entregam a Campos na próxima semana documento com demandas do setor, entre elas a equiparação da desoneração tributária recebida pelas termelétricas. O grupo pretende endereçar o texto também a Aécio e Dilma.
Descontentes O PMDB paulista organizará encontros com representantes de classes que têm se mostrado avessas à gestão Alckmin. Receberá servidores como agentes penitenciários e procuradores. A ideia é incorporá-los à campanha de Paulo Skaf e afastá-los da órbita de Alexandre Padilha (PT).
Sem alarde O diplomata César Cidade, que foi investigado pelo Itamaraty por denúncias de assédio moral e sexual, aposentou-se com proventos integrais, pouco menos de um mês após cumprir a suspensão de 30 dias que recebeu pelo caso.
Visita à Folha Jose Gasset Loring, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Espanha, visitou ontem a Folha. Estava com Cássio Romano, vice-presidente, e Antonio Del Corro Garcia-Lomas, diretor-executivo.
TIROTEIO
"É constrangedor escalar Bruno Covas para investigar a proliferação dos pedágios que se originou nas privatizações tocadas pelo avô."
DO DEPUTADO ESTADUAL JOÃO PAULO RILLO (PT), líder da sigla na Assembleia paulista, sobre a escolha do tucano para a presidência da CPI dos Pedágios.
CONTRAPONTO
Batalha das mamadeiras
" No seminário em que estiveram Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) na última sexta-feira, o anfitrião João Doria Jr. destacou, sensibilizado, que o pessebista chegara ao hotel que sediou o evento carregando o bebê-conforto em que dormia o filho Miguel, de 3 meses.
Na plateia, um tucano, brincando, abriu uma disputa:
--Não tem problema. Até o fim do ano, o Aécio vai andar por aí com dois! --disse, em referência aos gêmeos que a mulher do senador, Leticia Weber, espera.
O efeito Kassab - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 08/05
Todas as imagens de entrega de obras e serviços, creches, Minha Casa, Minha Vida e Bolsa Família estão catalogadas para que ela apresente tudo na campanha e tente, assim, recuperar os pontos perdidos. Se com Kassab deu certo em São Paulo contra Geraldo Alckmin e Marta Suplicy, pode dar certo no Brasil para a presidente da República.
Se tivesse feito antes...
No governo, há quem aposte que, se a CPI da Petrobras fosse feita antes, agora já estaria tudo quase no fim. Já foram dois meses de enrolação com a presidente caindo nas pesquisas. A oposição tripudia: “O governo agora tem duas saídas: a trágica, que é descobrirmos algo mais no meio desses negócios, ou a péssima, que é não apurar nada”, comenta o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato a presidente da República.
A última a oficializar
A chanceler alemã, Angela Merkel, vem ao Brasil para assistir ao jogo da seleção de seu país em Salvador. Chega em 16 de junho. O líder chinês Xi Jinping também vem antes. Com tantos compromissos para recepcionar autoridades, a convenção que homologará o nome de Dilma como candidata à reeleição ficou mesmo para 20 de junho, no meio da Copa. Conforme já anunciado aqui há tempos, Eduardo Campos marcou a do PSB para 10 de junho, e Aécio Neves fará a do PSDB em 14 de junho.
Dilma na ONU em plena campanha
Apesar da campanha, a presidente Dilma Rousseff não planeja deixar de lado alguns eventos importantes no cenário internacional. Na terça-feira, no jantar com jornalistas, ela confirmou que irá à abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. A cerimônia, que tem como primeiro discurso o do Brasil, será em 23 de setembro, ou seja, faltando poucos dias para o primeiro turno da eleição presidencial.
Enquanto isso, no PT...
Cândido Vaccarezza, do PT-SP, comentava com repórteres do Correio Braziliense ontem a hipótese de Arlindo Chinaglia concorrer à presidência da Câmara no ano que vem e quem quiser disputar com ele virar ministro. “Epa, pera aí, mas, para isso, é preciso contar com a reeleição de Dilma”, comenta um interlocutor. O deputado não se faz de rogado: “Eu tenho certeza de que o Lula será eleito”. Então, tá, excelência!
CURTIDAS
Gastronomia presidencial I/ No jantar de terça-feira, no Alvorada, lá pelas tantas, a presidente Dilma anuncia: “Arranjei um fogão!”. A presidente tanto fez que agora tem um fogão na área reservada do Palácio do Planalto. Mas ainda não dá para cozinhar, apenas para aquecer, porque o exaustor não é lá essas maravilhas.
Gastronomia presidencial II/ A presidente, entretanto, se diz especialista em algumas iguarias. “Gosto de fazer bacalhau, uma sopa mais sofisticada, de beterraba (a borsch, típica da Polônia, da Ucrânia e da Rússia), alcatra recheada e pescada amarela”. O bacalhau é motivo de orgulho: “Ninguém até hoje largou o prato sem repetir”.
Carência presidencial/ O que faz falta na vida da presidente? “Andar pela rua como uma pessoa qualquer.”
E o pedido de Dia das Mães?/ “Gostaria que aquele menino pequeno viesse aqui”, disse, referindo-se ao neto Gabriel. Dilma, aliás, tem uma definição de neto: “É filho com assistência técnica. Deu problema, você chama a assistência técnica”.
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