Eu digo: "Go, go, go!"
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 05/08/11
Imagine o bafafá que os frequentadores do pub de Camden não faziam ao redor da autora de "Rehab"?
TODO MUNDO já falou a sua, agora chegou a vez desta Darlene Glória do Itaim dar seu pitaco sobre a morte da Amy.
Bem, um favorzão sabemos que ela nos prestou: expôs a ignorância de críticos tapuias sobre a dependência de drogas. Todos querem ser Cameron Crowe, mas ninguém conhece o básico sobre o problema que ora mata (Syd Barrett, Keith Moon, John Bonham), ora conserva misteriosamente (Richards, Wood, Osbourne, Brian Wilson) os ídolos da juventude. Também vimos no episódio da perda de Amy que psicólogos e psiquiatras talvez não sejam os profissionais mais indicados para estar no front de batalha contra a doença.
É disto que estamos falando. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), alcoolismo e dependência química são do-en-ça, não fraqueza de caráter ou consequência de um trauma de infância.
Da mesma forma que você não julgaria um diabético por comer um doce, não há juízo moral a ser feito sobre a tragédia. Muito admira ainda estarmos nesse estágio da conversa, como se a parada que Amy enfrentou tivesse sido um clássico do futebol, em que metade da torcida se coloca a favor e a outra contra.
Não vamos nem comentar a canalhice do "Pânico". Tomara que nunca mais os deixem voltar ao Reino Unido e que recebam um carimbo no passaporte dizendo: "Visto recusado por conduta desumana".
Amy Winehouse não morreu jovem -e de causa 100% contornável- por ter sofrido maus-tratos na infância, carência afetiva, dor de corno ou por "não ter suportado o peso da fama", como li em algum lugar. Geralmente, o peso da fama é dulcíssimo, dor de corno passa logo, maus-tratos todos sofremos, a infância, com raras exceções, é um horror e Amy, acabei constatando no YouTube depois de sua morte, era uma florzinha, brincalhona, imatura, inocente, de bem com a vida, não parecia ter grandes problemas existenciais.
Morreu exclusivamente por conta de uma doença incurável, progressiva e mortal que acomete entre 5% a 12% (dependendo do estudo) dos bebedores adultos.
Tomava todas porque achava graça, não para curar dores ou preencher vazios. Bebia e se drogava porque, no início do processo, o barato é "bão" e casa beníssimo com gente gregária.
O problema é que você vai mudando a maneira de beber e de ingerir drogas, chega uma hora que quanto mais melhor, de preferência até apagar no sofá, na cama ou no banheiro da rodoviária.
Existem gradações na dependência, mas dava para perceber que a de Amy era barra pesada. Estava na cara que ela tinha começado cedo. Leva mais de cinco anos para o processo se instalar no metabolismo, menos para as mulheres.
E, hoje sabemos que, quanto mais cedo a pessoa começa a beber ou a tomar drogas, mais profunda e irreversível será sua degeneração.
Uma vez dependente, sempre dependente. Mas é importante saber que é possível mudar hábitos, pessoas e lugares e voltar a ter uma vida tão produtiva quanto encantadora.
Certa vez, Rita Lee contou-me que para ela constitui um problema ir a festas. Para agradá-la, porque ela é a Rita Lee, o pessoal vem e coloca "presentinhos" em seu bolso sem que ela peça ou mesmo se dê conta.
Me pergunto que tipo de bafafá os frequentadores dos pubs de Camden não deviam fazer em torno da presença fácil de quem escreveu o hit "Rehab".