Com o bolso
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 05/08/11
A estrutura política dos Estados Unidos sempre esteve firmemente assentada no diálogo e no confronto entre dois partidos. Em tese, os democratas são liberais; os republicanos, conservadores.Na prática, dependendo do que estiver em debate, e da base eleitoral dos políticos, esses rótulos podem ser generalizações artificiais. Há democratas extremamente conservadores no Sul, e republicanos visivelmente liberais em outros domicílios eleitorais. No momento, com o país mergulhado numa crise econômica sem precedentes desde a crise de 1929, e pela primeira vez na historia recente do país, existe uma terceira força na arena: é o Tea Party, uma ala extremista - e de direita - do Partido Republicano.
Sua base política está no Sul do país e ele tem uma característica original, que muita gente diria assustadora: é um movimento coletivo, sem líder ou ideólogo que se destaque. Para seus adversários, é um dado preocupante: costuma ser muito complicado decepar uma fera sem cabeça.
O momento é favorável aos ultraconservadores. A economia americana está atrelada à crise mundial, e cortes nas despesas do governo são visivelmente indispensáveis. O presidente Obama propôs uma tesourada de US$2,4 trilhões - e o Tea Party briga por pelo menos US$4 trilhões. E também não concorda com qualquer aumento de impostos.
O fato de que a extrema-direita tem sua base no Sul faz bastante sentido, por se tratar do habitat do conservadorismo americano. E até agora nenhum analista político se atreveu a prever com que força o movimento participará da disputa pela Casa Branca no ano que vem.
A popularidade do presidente Obama, que disparou recentemente com a execução do terrorista Osama bin Laden, está claramente ameaçada pela popularidade do Tea Party. Mas, até agora, nenhum analista se atreveu a prever que influência real terá o movimento na disputa eleitoral. Participam dele diversos políticos com algum prestígio fora do Sul, mas nenhum, até agora, em posição de liderança.
Parece evidente que a reeleição de Obama dependerá quase inteiramente dos resultados de sua política econômica. Principalmente porque com outros candidatos, do Tea Party ou não, com absoluta certeza, o eleitor independente - que decide as eleições - vota com o bolso.
Ainda é cedo para se apostar na situação da economia americana em novembro do ano que vem. A vaca pode estar ou não no brejo. Alguns pessimistas estão até prevendo que o brejo estará seco, sem vaca à vista.
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