sábado, maio 12, 2012

O segredo do sushi - WALCYR CARRASCO

REVISTA ÉPOCA


Sushi engorda. Eu me sinto traído pela culinária japonesa. Sempre achei que fosse light. Passei boa parte dos últimos anos fazendo regime para emagrecer. Moro perto de uma doceria maravilhosa. Se fui lá três vezes em quatro anos, é muito. Sou doido por coxinha. Quando como alguma, sinto-me tão culpado que tenho vontade de entrar na igreja e confessar:

– Padre, comi uma coxinha!
Apesar de todos os cuidados, nos últimos anos meus índices de glicose no sangue não andam bons. Não sou diabético, mas sempre estou no limite. Sofria com meus exames imaginando que algo deveria estar indo muito mal já que, mesmo ingerindo doses mínimas de açúcar, continuava com números máximos.

Para me consolar, ia a restaurantes japoneses. Devorava sushis algumas vezes por semana, com a consciência tranquila. Havia prato mais saudável?

Minha paixão cresceu tanto que resolvi fazer um curso de sushiman. Recentemente, matriculei-me numa escola profissional, que me concedeu até diploma. (Caso deixe de ser escritor, já posso me empregar como ajudante de sushiman. Não que eu pretenda fazer isso, mas é bom saber.) No primeiro dia, meu professor, Jefferson, oito anos de experiência em restaurantes variados e bufês, ensinou-me a fazer o arroz, que leva saquê e uma alga chamada konbu.

– À parte, bote no fogo açúcar e vinagre em partes iguais, mexa e...

– O queeeeeeeeeê? Açúcar?

Jefferson me encarou, surpreso.

– É para misturar com o arroz depois de feito.

Exatamente! Quando o arroz sai do fogo, mistura-se com calda de açúcar e vinagre.

Depois, liga-se um ventilador em cima da papa, para dar um choque térmico. Só assim o arroz ganha viscosidade para moldar os bolinhos do sushi.

– Quer dizer que passei todos estes anos comendo açúcar três vezes por semana sem saber?

– Amasse bem o bolinho, bote o filé de peixe na palma da mão e dê a forma assim – respondeu Jefferson estrategicamente.

Agarrei uma porção de arroz e amassei com fúria. O avental deslizou pela minha barriga e caiu no chão para me lembrar do efeito de todos estes anos de sushi.

Passei os últimos dias fazendo a revelação aos meus amigos. O efeito é igual ao de um apocalipse. Meu professor de ioga, Guilherme, não come doce há anos. É magérrimo, mas evita açúcar branco a todo custo, pois acredita ser ruinoso para a saúde física e mental. Tremeu ao me ouvir.

– Mas eu como comida japonesa várias vezes por semana!

– Ouça, tenho mais detalhes – disse eu.

E contei. O gari, aquele delicioso gengibre servido nas mesas nipônicas, é fervido no açúcar e no vinagre. O sunomono, um delicioso pepino cortado em tirinhas, idem, idem. O professor de ioga deu um nó nas pernas de angústia.

Cada um que me ouve, o mesmo susto!

– É supercalórico! – disse o personal trainer.

– O sushi parecia tão inocente! Eu comia para emagrecer. É por isso que continuei engordando! – falou uma amiga escritora.

E os diabéticos? Ai, ai.

Outros pratos da culinária japonesa também engordam. Salmão skin, por exemplo. Nada mais é que a pele do salmão grelhada. É tão gordurosa que basta jogar na chapa quente para em seguida boiar no óleo. O delicioso salmão skin é o bacon do mar! A omelete usada em vários pratos também é feita com açúcar! No tempura, legumes e camarões são empanados em uma pasta de farinha e atirados no óleo fervente!

O único prato realmente saudável é o sashimi: fatias de peixe cru mergulhadas no molho de soja. Mesmo assim, o molho de soja, não sei não...

Meu dentista, Sérgio, é gourmet. Discutimos a criação de um bolinho de arroz sem açúcar.

– Mas aí vai perder o sabor. O bom é justamente aquele gostinho agridoce – disse ele.

Ai de mim! Quis estudar culinária japonesa para me dedicar a pratos saudáveis e saborosos. Cozinha que conheço desde criança, pois fui criado em Marília, cidade do interior paulista com uma grande comunidade nipônica. Devia ter desconfiado. Na infância, comia doces de feijão com meus amigos japoneses. Quem inventa doce de feijão, claro que fará arroz com açúcar.

O que mais me surpreende é ninguém falar nisso. Há restaurantes japoneses por todo lado. O uso do açúcar como ingrediente fundamental não é segredo. Não se toca no assunto. E o sushi continua com a fama de comida levezinha. Ninguém questiona, talvez porque o mundo seja povoado por gordos que preferem comer sem culpa. Um gordo nunca gosta de ouvir a verdade, principalmente quando a comida é boa.

Luta Longa - RUY CASTRO


FOLHA DE SP - 12/05/12


RIO DE JANEIRO - Mês sim, mês não, o caso volta ao noticiário: o processo movido há 20 anos por João Gilberto contra a gravadora EMI por esta ter espremido seus três LPs da Odeon num LP duplo (“O Mito”) e num CD simples (“The Legendary João Gilberto”), “apressando” algumas faixas para encurtá-las, adulterando sua sonoridade e alterando a ordem original para caberem naqueles formatos. Músicos foram chamados a ouvir esses discos e deram razão a João Gilberto.

Enquanto o processo não se resolve, os três discos -”Chega de Saudade”, 1959, “O Amor, o Sorriso e a Flor”, 1960, e “João Gilberto”, 1961- ficam impedidos de sair no Brasil, em CD ou no que for. Com isso, o país da bossa nova é o único proibido de ouvir os discos que formam o seu cânone. Equivale a proibir os meninos brasileiros de ler o Machado de “Dom Casmurro”, “Brás Cubas” e “Quincas Borba”.

Já na Europa qualquer selo se sente à vontade para lançá-los em qualquer suporte. O Él/Cherry, por exemplo, soltou os três LPs em CDs individuais, com as capas originais e enriquecendo-os com gravações raras da época, por outros cantores, todas do acervo da EMI.

É uma edição boa, mas não se compara à da Doxy, que os relançou em LPs mesmo, só que em vinil de 180 gramas (ou seja, virgem). O som é melhor que o dos próprios LPs originais (que a Odeon, na época, certamente prensou em vinil reciclado). E cada LP traz uma cópia-bônus em CD.

Os três discos de João Gilberto estão proibidos no Brasil, mas isso não se aplica ao seu conteúdo. Suas faixas podem ser “baixadas”, avulsas, por quem quiser -tanto as legítimas, que mudaram a história da música brasileira, quanto as adulteradas pela gravadora. Um dia já não se saberá qual é qual, e -isso é que é triste- talvez não faça muita diferença. João Gilberto terá lutado em vão.

Morar bem - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 12/05/12

Casado com uma brasileira, o holandês Seedorf, jogador do Milan que pode vir para o Botafogo, tem um apartamento na Av. Vieira Souto, em Ipanema.

Pagou R$ 6 milhões.

Delta-Brastel
Um sábio acha que o governo pode se meter em encrenca se estimular a JBS a comprar a Delta. Teme que se repita como farsa o escândalo Coroa-Brastel.

Em 1980, Assis Paim, dono da rede de lojas de eletrodomésticos Brastel, foi induzido pelo governo militar a comprar a Corretora Laureano. Deu no que deu.

Cegonha
Maria Rita e Davi Moraes vão ter um bebê.

Questão de saúde
Em Caracas, comenta-se que Chávez desistiu de vir à Rio+20.

Júri popular
O MP do Rio pediu a pronúncia de Rafael Bussamra, que atropelou e matou Rafael Mascarenhas, filho da atriz Cissa Guimarães, em 2010, por homicídio doloso (com intenção de matar).

Deve ir a júri popular.

No mais
Dilma incluiu Collor na lista dos ex-presidentes que estarão quarta na instalação da Comissão da Verdade. Coisa civilizada.

Lula, mesmo após se aliar a “elle”, não o convidou, em 2005, para o funeral de João Paulo II. Foram só FH, Sarney e Itamar.

Verissimo no rádio
Nosso Luis Fernando Verissimo, que, como se sabe, é tímido e fala pouco, estreou quinta, acredite, um... programa de rádio na internet (minima.fm), da qual sua filha Fernanda é colaboradora.

Será sempre às quintas, às 17h.

A Rosa da verdade
A carioca Rosa Maria Cardoso da Cunha, 65 anos, advogada de Dilma na ditadura, é o nome menos conhecido da Comissão da Verdade.

Sua foto publicada ontem no GLOBO é antiga, ainda dos tempos do preto e branco.

Dilma torturada...
O que se diz é que a decisão de Dilma de nomear Rosa foi tomada depois da entrevista do general Luiz Eduardo Rocha Paiva a Míriam Leitão.

O general, num gesto de desrespeito, pôs em dúvida se Dilma foi torturada. Rosa, se preciso, estará lá para testemunhar.

Vips na floresta
A 2' Câmara Cível do Rio condenou 26 vips — entre outros, Vera do Canto e Mello, Maria Alice Tapajós e Walter Salles Jr. — a bancar a recomposição de área verde degradada pela construção de suas belas casas em local de reserva florestal, no Jardim Botânico.

Os vips terão de pagar ainda indenização por “dano causado à coletividade”.

Segue...
As casas não serão derrubadas, pois, segundo a perícia, “a natureza não suportaria demolições, máquinas, etc”.
A indenização, destinada ao Fundo Estadual de Conservação Ambiental, será equivalente ao preju que os vips teriam se fossem demolir todos os imóveis.

Hard Rock Café
O finado Bingo Arpoador, fechado há anos no Posto 6, em Copacabana, deve ser o novo endereço do Hard Rock Café, que saiu do Cittá América, na Barra.

Contra helicópteros
Com base na legislação estadual sobre poluição sonora, a Secretaria do Ambiente vai editar normas para o uso de helicópteros no Rio.

O Imperador
Adriano, o jogador, em recuperação de uma cirurgia no tendão, submeteu-se ontem a um procedimento chamado PRP, técnica que usa células do sangue do próprio paciente para acelerar a regeneração de área lesionada.

O estranho ao lado - IVAN MARTINS

REVISTA ÉPOCA

O mistério das pessoas que amamos precisa ser respeitado



Na noite passada, como em todas as noites, tive sonhos estranhos e tumultuados, que nada têm a ver com as pessoas que vivem ou convivem comigo. Minha impressão, diante dessa experiência repetida, é que esses sonhos são construídos, meticulosamente, para excluir a realidade. São feitos com um material que segrega o mundo prático e reflete, quase exclusivamente, a nossa subjetividade. Eles são uma reafirmação feroz da nossa individualidade, uma rejeição visceral, biológica, das tentativas humanas de vincular, unir e dissolver. Sugerem que, lá dentro, estamos sozinhos, ainda que amemos e sejamos amados aqui fora.

Mesmo que seja um bocadinho melancólica, essa constatação ajuda e entender algo fundamental na vida dos casais: a impossibilidade de juntar tudo e dividir tudo, a insanidade absoluta de tentar viver como se dois fossem um.

Assim como na Física há uma lei segundo a qual dois corpos não ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo, deve haver outra lei, no universo subjetivo, que impede duas individualidades de viverem a mesmíssima vida. Tenho a impressão que a insistência em contrariar esse princípio está por trás de muitos e graves desencontros por aí.

Desde a adolescência, e provavelmente ainda antes, somos alimentados com a ilusão de que um dia encontraremos alguém com quem iremos nos fundir. A tal pessoa, aquele, a mulher da nossa vida, o príncipe encantado – todos esses são agentes do destino que teriam a função, na nossa história pessoal, de rasgar a couraça da individualidade, penetrar nosso casulo e nos salvar, de forma permanente, da horrível solidão de ser um indivíduo. A partir desse momento redentor, a nossa dor fundamental seria superada e seríamos, então, felizes para sempre. No outro.

Algumas vezes, mesmo na vida real, chegamos perto desse estado idílico de aniquilação. É quando estamos apaixonados. Nesse momento mágico – e, segundo o Freud, patológico - nossos sentimentos em relação ao outro são tão violentos que parecem romper o isolamento essencial. Em tal estado de comoção de ser parte do outro. Se ele se afasta, sentimos dor. Se ele está perto, sentimos prazer. Parece ser impossível viver sem ele, porque se tornou parte de nós.

No filme “O morro dos ventos uivantes”, com Laurence Olivier, a jovem apaixonada diz ao rapaz “Eu te amo”, e ele responde “Eu sou você”. Não existe na literatura ou no cinema uma declaração de amor mais radical do que essa.

Há outro momento em que também nos sentimos perto desse sentimento. É no sexo. Em meio ao prazer, aquilo que nós somos desaparece temporariamente em direção ao outro. Mergulhamos numa torrente tão intensa que, por alguns minutos, não somos mais que o conjunto daquelas sensações. Há uma pequena morte aí, um breve suicídio prazeroso no qual mergulhamos felizes, levado pelo corpo e pela personalidade do outro.

Mas esses momentos são terrivelmente efêmeros, não? Mesmo a mais intensa paixão é passageira. Cedo ou tarde, ainda que contra a nossa vontade, somos arrastados de volta à normalidade de sermos apenas um. Logo chega o momento em que é preciso negociar com a personalidade do outro, com a percepção do outro, com o desejo do outro. Com isso se desfaz a ilusão de pertencer. Deparamos, de novo, com a nossa assustadora e iniludível solidão interior. Sabemos disso, vivemos isso desde crianças, mas uma parte de nós continua sonhando com uma paixão tão arrebatadora, tão dominante, que nos livre para sempre de nós mesmos. Crescer, eu acho, é deixar também essa fantasia para trás.

Alguns recusam isso terminantemente. Insistem em esperar pelo sonho ou – muito pior - tentam transformar a vida real a dois num exercício de destruição das personalidades. Fazemos tudo juntos, pensamos o mesmo, gostamos das mesmas coisas, compartilhamos as mesmas experiências, dizem. Na boa ou na marra, vão arrastando o outro a uma vivência que é uma réplica da sua. Até o ponto em que, de tão parecidos, não tenham mais nada a contar um ao outro. Então se separam.

Estou exagerando? Claro que sim. Mas, mesmo entre pessoas que não vivem na caricatura, o impulso comum de controlar o outro faz parte do movimento de negação da individualidade. Ele se recusa a reconhecer o outro com as suas necessidades próprias, sua existência fora de nós. O desejo de aprisionar é o impulso de se proteger do outro, que, insistindo em ter vontade própria, pode fazer algo que nos machuque.

Enfim, acho que é disso que os sonhos falam. Da nossa vontade de ser forte como indivíduos e do nosso medo oceânico de nos desligarmos dos outros. Da contradição entre a vontade de crescer e o impulso de permanecer um bebê chorão, ligado ao outro por um cordão umbilical. Os sonhos contam que o amor, lindo que é, essencial como possa ser, não nos salva de sermos nós mesmos. Mesmo quem respira suavemente ao nosso lado, adormecida, tem sonhos separados dos nossos. É uma pessoa estranha que amamos, mas sobre a qual nunca saberemos o suficiente. É preciso respeitar esse mistério.

Efeitos na bolsa - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 12/05/12

O ano passado foi de queda na maioria dos setores cotados em bolsa. Este ano, está volátil. Já esteve mais forte e cedeu muito. Esta semana foi ruim por motivos externos. Os setores que mais sobem este ano são os beneficiados pela restrição às importações, os ligados ao consumo, ou os que têm reajustes de preços indexados à inflação. Na outra ponta, despencaram nos últimos dois meses as ações dos bancos, da Petrobras, e das construtoras.

O setor de veículos e peças lidera com folga a valorização desde janeiro. Cresce 35% e se beneficia da política de proteção à produção nacional de carros e componentes. O curioso é que os primeiros meses do ano foram ruins para a indústria automobilística, que esta semana divulgou que o número de carros em estoques só não é pior do que o do estouro da crise no fim de 2008.

Logo atrás, vêm setores ligados ao consumo, como telecom, com alta de 18,2%, e varejo, com 15,4%. O setor de telecomunicações consegue repassar a alta da inflação para os seus preços com mais facilidade, e o setor de varejo é impulsionado pelo estímulo ao consumo, puxado por um mercado de trabalho forte e pela ampliação do crédito. Energia elétrica, que sobe 8% no ano, também tem reajustes anuais com base na inflação.

Na outra ponta, três setores chamaram atenção pelas quedas expressivas das ações: construção civil, financeiro, e petróleo e gás. As construtores sentem o peso do crescimento acelerado, a principal empresa de petróleo do país tem prejuízo com o congelamento da gasolina, e os bancos estão sendo afetados pelo aumento da inadimplência, de um lado, e a pressão do governo por juros menores, de outro.

O tempo virou para eles. Até março, as construtoras estavam subindo 27%. O setor de petróleo e gás disparou 20% entre janeiro e fevereiro, e o financeiro tinha alta de 15% até 13 de março. De março a abril, enquanto o Ibovespa acumulou queda de 6,1%, as ações das construtoras caíram 23,4%. Perderam quase um quarto do valor de mercado em 60 dias. A PDG Realty tombou 38,7%. A Gafisa, que acumula queda de mais de 70% desde novembro de 2010, viu suas ações perderem 25,9%. O setor de petróleo e gás caiu 14,1% no bimestre, com queda de 12% da Petrobras e 22,2% da OGX. O setor financeiro recuou 10,7%. O Itaú perdeu um quarto do valor desde 16 de março.

De acordo com a analista-chefe da Ativa Corretora, Daniella Maia, os setores financeiro e de petróleo e gás sentem as interferências do governo na economia. Os bancos, no mesmo período em que são obrigados a aumentar a provisão de crédito inadimplente, estão sofrendo pressão para reduzirem juros. No setor de petróleo, a Petrobras é impedida de aumentar o preço da gasolina, mesmo tendo que importar o produto para vender aqui dentro. Embora o Brasil não seja visto como um país que rasgue contratos, a onda de expropriações de empresas estrangeiras que aconteceu na América do Sul nos últimos anos deixa os investidores estrangeiros mais reticentes.

- Quando se olha para finanças e petróleo, percebe-se que os investidores estão incomodados com as intervenções. Na parte dos bancos, em querer mexer no spread e na taxa de juros, no setor de petróleo, em definir o preço da gasolina. A intervenção está mais forte este ano, e principalmente o investidor estrangeiro não gosta disso - disse Daniella.

A queda dos spreads vai melhorar a eficiência econômica porque com queda nos juros bancários há menor risco de inadimplência. Mas o investidor, mais imediatista, conclui que a rentabilidade será menor e por isso todos os bancos, inclusive os estatais, estão com cotações em queda.

Na construção civil, o crescimento forte nos últimos anos está em cheque. Os gargalos começaram a aparecer, com encarecimento da mão de obra, falta de terrenos e dificuldade de financiamentos. O processo de consolidação nacional do setor não começou bem. A incorporação da Tenda pela Gafisa, e da Agre, pela PDG, trouxe enormes prejuízos às duas empresas. As construtoras não estão conseguindo entregar as encomendas no prazo e no preço prometido. O resultado foram resultados trimestrais que decepcionaram.

- As grandes construtoras foram para outros estados e fizeram parceria com construtoras locais. A ideia era: "você toca a obra, mas usa a minha marca." Isso não deu certo, houve estouro de orçamento e atraso, mostrando que esse modelo de expansão não será tão simples quanto parece. As empresas agora estão fazendo o caminho de volta - disse o analista Flávio Conde, que acompanha o setor de construção civil pela Banif Securities.

Bolsa em alta não é atestado de saúde, e em grande parte a Bovespa oscila ao sabor das ondas internacionais. De qualquer maneira, fica o aviso aos marinheiros com estômagos mais fracos. No ano passado foi um verdadeiro mar vermelho a evolução das ações de vários setores. Este ano, os setores começaram surfando a recuperação e alguns já mergulharam. Para o investidor de bolsa, é preciso um redobrado cuidado. Para quem analisa a economia, o sobe e desce é sinal de que a era da incerteza continua.

Além do campo visual - SILVIANO SANTIAGO


O ESTADÃO - 12/05/12


Em coluna anterior falei de leitura pela imersão do espectador em ambiente de imagem criado por computação gráfica em 3D. A experiência subjetiva se dá pelo uso de capacete de realidade virtual. Vali-me, então, do livro de Oliver Grau, Arte Virtual: Da Ilusão à Imersão. Destaque foi dado à pesquisa de artistas em alta tecnologia, exemplificada pelo trabalho Osmose, de Charlotte Davies, a ser visto na internet. A erudição de Grau recomenda um passo atrás na história da arte. Compreende-se melhor a ansiedade do espectador em usufruir ambientes de imersão, caso sejam eles examinados à época em que existiam de maneira independente dos benefícios oferecidos pela computação gráfica.

Em fins do século 18, o público urbano europeu ganha uma casa de espetáculos localizada no centro da metrópole. Nela é exposta representação pictural em 360º de algumas capitais do mundo ou de batalhas históricas. Apelidada inicialmente de La Nature à Coup d’Oeil (A Natureza Vista de Relance), a invenção da representação pictural em 360º se deve ao irlandês Robert Barker, que registra a patente em 1787. Quatro anos depois, já em Londres, Barker cria o neologismo Panorama. O vocábulo descreve tanto o edifício encimado por cúpula, quanto o conjunto circular da pintura realista, exibido ao público pagante. O preço da entrada é alto nos dias em que se inaugura o panorama e reduzido ao fim da temporada. Típico espetáculo de massa.

Por escada, o visitante tem acesso à plataforma circular de visualização, que é protegida por balaustrada. Ao centro da sala, observa a pintura ilusionista que o rodeia. Por exemplo, Londres, tal como vista em 360º do telhado dos Moinhos a vapor Mills. Ou a Batalha de Copenhague, vencida por lorde Nelson. Posicionada acima da cabeça dos espectadores, a iluminação leva-os a acreditar que a pintura é a fonte da luz, efeito que mais tarde será aperfeiçoado pelo cinema, que estaria ocupando as salas abandonadas de panorama.

O público leigo não imagina que são duas novidades civilizacionais concorrentes que possibilitam o panorama. Graças a elas é que a observação começa a substituir o entusiasmo como motor da pesquisa. Uma das novidades é estética. Traduz o gosto pelas técnicas de visualização inspiradas pela perspectiva e desenvolvidas a partir dos anos 1470 na comuna de Urbino, na Itália. A outra, pragmática. Decorre do fato de que os dados apenas cartográficos não são suficientes para o bom planejamento de futuras operações pelas tropas coloniais. O pincel do artesão que pinta o panorama é orientado pelas pinturas artísticas que têm o horizonte como limite da experiência visual, pelos meticulosos desenhos militares de terreno e pela representação realista do espetáculo grandioso da paisagem.

O vocábulo panorama continua a ser usado à época da fotografia, como atestam o Panorama da Baía de Guanabara (ca 1885) e o Panorama do Centro da Cidade (ca 1890), ambos do franco-brasileiro Marc Ferrez, hoje no Acervo do IMS. Ou a recente série fotográfica da artista Mariko Mori, intitulada Beginning of The End: Past, Present and Future (1995-2000). A japonesa clicou belíssimas vistas em 360º de 11 cidades representativas do passado, do presente e do futuro da humanidade. Desde 2009, o Departamento de Polícia de Nova York usa a câmara Panoscan para captar imagens em 360º de cenas de crime. Servem elas para imergir o perito policial no acontecimento (New York Times, 22/7/2009).

Relançada por Oliver Grau, a pesquisa sobre panoramas nos séculos 18 e 19 foi complementada em 2011 pelo livro The First Panoramas: Visions of British Imperialism, trabalho impecável de Denise Blake Oleksijczuk, publicado pela Editora da Universidade de Minnesota.

Ao deliciar-se com os panoramas pintados, o espectador recebe um aprendizado cosmopolita. Desde o século 18, sua experiência de mundo passa a ser dupla: a do dia a dia (aqui e agora) e a do saber proporcionado pela imersão na cena representada (lá e então). Dessa forma, cauciona-se a formação moderna de novas "identidades", que serão reativadas pela futura voga do cinema e da televisão. A duplicidade espacial e temporal leva Denise a se interessar por quem vê o panorama e pelo modo como é visto. A pintura estimula o espectador a produzir novos significados, com que se identifica. Ele ignora que já estão previstos pelo discurso da arte renascentista e da guerra colonial.

Por o panorama representar terras e povos além das fronteiras europeias, o público incorpora ao léxico mental noções concretas sobre etnia (então compreendida pelo conceito de "raça"), sobre gênero (construção de um Ocidente masculino e de um Oriente feminino) e sobre hierarquias sociais. Por representar o uso de força militar pelo império britânico durante as Guerras Napoleônicas, o panorama de Barker mostra a nação como candidata ao poder mundial. A ambição colonizadora do Reino Unido se trai pelas vitórias contra as tropas de Napoleão. Ao visitar o panorama que reproduz a batalha de que sai vitorioso, lorde Nelson diz a Barker que está em dívida para com ele. O panorama "mantém a fama de sua vitória na Batalha do Nilo por um ano a mais do que ela teria durado na estima do público".

Por o corpo do espectador responder de modo sensual e visceral ao estímulo do panorama, sua imaginação confunde ver, ler e saber. É ainda atual o depoimento de um deles, que descreve a desorientação por que passa: "Eu oscilava entre realidade e irrealidade, entre natureza e não natureza, entre verdade e aparência. Pensamentos e espírito eram guiados em obediência ao balanceio de um lado para o outro, como se estivesse caminhando em círculos ou bamboleando num barco. Assim é que explico a tonteira e o mal-estar que o espectador despreparado sente face ao panorama".

Dedos e anéis - SONIA RACY


O ESTADÃO - 12/05/12

Para evitar extravio de processos que, segundo a Corregedoria Geral da Justiça, vem aumentando nos últimos meses , o TJ-SP decidiu: só as partes envolvidas poderão consultar e tirar cópias de autos no Tribunal.

A partir de agora, qualquer outro interessado terá uma única opção: fotografar processos no balcão dos cartórios.

Outro lado
Para Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, o fato de o delegado Raul Alexandre Marques de Souza ter dito, em seu depoimento à CPI, que Demóstenes Torres era o braço político da organização de Carlos Cachoeira, prova sua tese. A de que o senador goiano estava sendo investigado sem autorização.

Estranha no ninho
Pode passar de seis para cinco os candidatos à presidência da OAB. É que no coquetel de apoio a Alberto Toron, anteontem, sua concorrente Sonia Mascaro apareceu.E foi cortejada, ao microfone, pelo criminalista: “Espero que possamos caminhar unidos nesta disputa”.

Estranho 2
Também causou frisson a presença de João Kléber. Um escudeiro de Toron chegou a levantar suspeita de “arapongagem”. Só porque o humorista é pré-candidato a vereador pelo PTB, partido de... Luiz Flávio D’Urso, atual presidente da Ordem e adversário de Toron.

Não sai da cabeça
Nem em Cartagena, semana passada, José Eduardo Cardozo conseguiu se livrar do assunto Cachoeira. Fonte da coluna o viu gastando saliva sobre o imbróglio em um restaurante, na companhia de três pessoas.

Sangue no mar
Esta exportação o governo não quer. Semana passada, o Ibama apreendeu, em Belém do Pará, 7,7 toneladas de barbatanas de tubarão.Destino? China. A exportadora que deve R$1 milhão em multas para a entidade desde 2007–teráde engordaro cheque em mais R$ 2,7 milhões.

Quem vem
Tara Kunkel, consultora especializada em drogas, vem dos EUAparticipar de seminário, quinta-feira, na Escola Superior do Ministério Público.Oito de cada dez dependentes que participam de programas de reabilitação americanos conseguem se livrar das drogas.

Menino da Vila
Um Museu Pelé emSantos.O antigo sonho do rei sairá do papel pelas mãos da AmaBrasil, com apoio da prefeitura da cidade. Dividido em três áreas, terá espaço dedicado exclusivamente ao acervo do exjogador. Um dos itens? A caixa de engraxate com que o futuro Atleta do Século trabalhava em Bauru, ainda menino. Outra seção, interativa, será dedicada aos jovens. E a terceira abrigará exposições temporárias que envolvam a imagem de Pelé.

Da Vila 2
O exjogador acompanha passo a passo a obra, que deve ficar pronta até o começo de 2013.

Haja coração
Roberto Kalil e Mauricio Wajngarten pediram, e Luis Alvaro, do Santos, atendeu. Abola do jogo de amanhã, no Morumbi, mais a camisa de Neymar, devidamente autografada, serão leiloadas pró-Incor. Wajngarten salvou o santista de quatro paradas cardíacas. Não é pouca coisa!

Meio a meio?
Amigos de Mano Menezes garantem que o técnico não ficou tão melindrado assim com a intromissão de José Maria Marin na convocação da seleção para os próximos amistosos. Pelo que se apurou, Mano se sentiu, até certo ponto, mais aliviado. Caso o pior aconteça nas Olimpíadas, agora tem com quem dividir a culpa.

Quem, eu?
O mais surpreso com a lista de Mano? Alexandre Pato. O atacante do Milan ainda se recupera de nova contusão na coxa.


Na frente
•Fernando Haddad será centro de jantar na casa de Lili e Ernesto Tzirulnik. Segunda, em Higienópolis.
•Wanderléa comanda festa no Anhangabaú, parte do projeto As Belas Tardes. Hoje.
•Mariana Teixeira de Carvalho, ex-Luisa Strina, passa a integrar o time da galeria Hauser & Wirth de Londres.
•A Chandon promove a Avant Gabriel, hoje. A rua Gabriel Monteiro da Silva estará em festa, e Bia Dória receberá para ouvir jazz e degustar champanhe em sua loja.
•Começam a ser vendidos hoje ingressos para os shows
de Marisa Monte em Sampa. Dia 21 de junho, no HSBC.
•Antony Gormley dá palestra na abertura de sua mostra. Hoje, no CCBB.
•É hoje, no Sesc Ipiranga, a estreia da peça A Doença da Morte, de Marguerite Duras. Realização de Lulu Librandi.
•Marirosa Ballo abre mostra fotográfica hoje, na Faap.
•Tem brunch para comemorar a SP-Arte e mostra de Janaina Tschäpe. Hoje, no Galpão Fortes Vilaça.
•Luis Alvaro, do Santos, notou que engordou alguns quilos anteontem. “É que percebi relação direta entre comer pipoca e o time fazer gol”, justifica.

De proteus e de metamorfoses - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 12/05


O ser humano continua o mesmo de sempre na essência de seus defeitos e de suas qualidades



COMEÇO CONTANDO que o título estranho se liga a homens e mulheres idosos que insistem em dizer, em face das muitas notícias atuais de crimes e de desrespeito pelas leis, que no tempo deles não era assim.

Voltando os olhos para o presente, ouvi de uma senhora tão idosa quanto culta, referindo-se a um senador muito em voga na atualidade, que este é o tempo dos proteus e das metamorfoses, diferentemente do de sua mocidade distante.

Por pura sorte, eu sabia que os proteus são homens (ou mulheres) que mudam facilmente de condutas e de opiniões, assumindo posição de figuras contraditórias quando isso lhes convém. Passam por rápidas metamorfoses de caráter, ora agressivos com os pecadores, ora malandros em seus próprios negócios. Delicadamente, ousei discordar dela, dizendo que o ser humano, na essência de suas qualidades e de seus defeitos, é sempre o mesmo e que hoje a grande mudança está na possibilidade interminável da notícia instantânea sobre tudo o que acontece ou se imagina que tenha acontecido. Logo mudei de assunto. Ela se mostrou intransigente.

A lei dá o parâmetro de conduta mínima nas relações entre as pessoas. As variáveis de comportamento legal são amplas. Desdobram-se em novas espécies confusas, o que explica a piora no comportamento de muitas pessoas. A diferença está na intensidade e na rapidez da divulgação dos defeitos, às vezes levando a graves injustiças, mas também ajudando a desmascarar os proteus e as proteias da hora.

Dou um exemplo: com a internet (que já se pode escrever com minúsculas), as fotos de uma senhora despida, tiradas, segundo se diz, por seu marido, foram espalhadas na rede eletrônica. É mais um caso mostrando que, hoje, o ser humano tem dificuldade em preservar seu direito de ser deixado só, de resguardar sua intimidade, longe dos meios de comunicação. Isso, porém, não é novidade. Catão, nascido uns 200 anos antes de Cristo, fez, no Senado romano, vigorosa campanha pela preservação dos valores morais e pela destruição de Cartago. Foi diferente do senador brasileiro, pois de Catão não há notícia de golpe por trás do pano.

Nem tudo são flores entre os antigos. Catarina, a Grande, da Rússia, não escapou da fama de impudica há pouco mais de dois séculos, apesar da extraordinária capacidade político-administrativa.

Também o presidente Thomas Jefferson, dos Estados Unidos, não se livrou das referências a filhos seus com mais de uma escrava, há menos de 200 anos.

Recordo Galileo Galilei, que há uns 600 anos acabou negando sua convicção científica de que a Terra girava ao redor do Sol. Assim se livrou de eventual condenação criminal nos tribunais da Inquisição.

Nisso tudo, como fica o Direito? Em primeiro lugar, cumpre voltar a Galileo: na essência do ser humano, nada há de novo sob o sol. A facilidade do acesso à informação, nesta fase intermediária em que nos encontramos, não consolidou a definição plena das novas realidades.

O Direito, apesar das mudanças, ainda observa e impõe verdades universais, como a de que a luta pela vida é infinita. O ser humano, porém, continua o mesmo de sempre na essência de seus defeitos e de suas qualidades.

PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV


7h - Gamba Osaka x Vegalta Sendai, Campeonato Japonês, ESPN HD

8h - Torneio de Madri, tênis, Bandsports

9h - Treino de classificação do GP da Espanha, F-1, Globo

10h15 - Sporting x Corinthians, Mundialito de futebol de praia, Globo

10h30 - Masters 1.000 de Madri, tênis, Sportv 2

10h40 - Harlequins x Northampton Saints, rúgbi, ESPN Brasil e ESPN HD

11h30 - Pré-Olímpico masc. de vôlei, semifinal, ESPN

11h45 - Flamengo x Barcelona, Mundialito de futebol de praia, Sportv

14h - Masters 1.000 de Madri, tênis, Sportv 2

15h - B. Dortmund x B. de Munique, Copa da Alemanha (final), Esporte Interativo

16h - Pré-Olímpico fem. de vôlei, semifinal, Sportv

16h15 - PGA Tour, golfe, ESPN e ESPN HD

17h - Betis x Barcelona, Campeonato Espanhol, ESPN Brasil

17h15 - Sporting x Braga, Campeonato Português, Bandsports

18h30 - Mogi Mirim x Bragantino, Troféu do Interior (final), Sportv

18h30 - Pré-Olímpico das Américas de boxe, Sportv 2

20h30 - Grand Prix de Charlote de natação, Bandsports

21h - Hóquei, playoffs, ESPN

22h - Circuito mundial de vôlei de praia, semifinal masc., Esporte Interativo

4h - Circuito mundial de vôlei de praia, final masc., Esporte Interativo e Sportv

Os efeitos negativos de medidas apressadas - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 12/05/12


Medidas tomadas pelo governo para recuperar a economia com uma pressa excessiva têm um resultado contrário ao esperado. Seja na taxa de crescimento, seja na desvalorização da moeda nacional e na expansão do crédito.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, queixa-se do insuficiente crescimento do volume do crédito. E, agora, como já é costume, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, volta a exprimir a mesma queixa - embora num passado recente os documentos do BC clamassem por política de redução do ritmo de expansão de crédito, especialmente para as pessoas físicas.

Ainda que, em março, a expansão do crédito para as famílias, nos 12 últimos meses, registrasse 20,3% (mais que o limite que o BC considerava razoável), no primeiro trimestre foi de apenas 3,2%, embora represente 15,8% do PIB.

O que o ministro da Fazenda e o presidente do BC parecem esquecer é de que o baixo ritmo de crescimento do crédito resulta de boa parte das medidas que adotaram. Ao forçar uma redução das taxas de juros, por meio do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal - num momento em que a insolvência atinge valor preocupante -, as autoridades tinham de saber que, para enfrentar uma concorrência dessas, as instituições financeiras privadas se mostrariam muito mais exigentes quanto à qualidade dos créditos outorgados. Com efeito, a elevação da inadimplência as obriga a manter reservas maiores, o que está reduzindo as disponibilidades para fazer novos empréstimos.

Mas o governo, ao pedir maior expansão do crédito às famílias para aumentar a demanda doméstica, parece não ter levado em conta os efeitos sociais dessa política, com a expansão da classe C. É que o aumento da renda dos trabalhadores, depois de uma elevação do salário mínimo e com o efeito da revisão de todos os outros níveis salariais, gera um novo patamar de poder aquisitivo. Este se reflete num forte aumento do endividamento, não apenas para a aquisição da casa própria (que vai exigir a compra de numerosos bens para equipá-la), mas também de outros bens de consumo duráveis que são pagos com uma prestação aparentemente reduzida.

Os bancos enfrentam mutuários altamente endividados, aos quais não podem oferecer créditos quando outras prestações estão atrasadas. Paralelamente, a provisória desvalorização do real reduz fortemente o efeito deflacionista dos produtos importados. Faltou ao governo consultar os sociólogos...

Celebridades e fofocas - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 12/05/12


SÃO PAULO - Mais do que CPI, eleições francesas e crise europeia, o assunto que dominou a semana foram as fotos de Carolina Dieckmann nua que circularam na internet. É verdade que a moça é bonita, mas como explicar que milhares de pessoas se dediquem a fofocar sobre a vida privada de alguém que nem conhecem? Em suma, por que nos interessamos por celebridades?
Satoshi Kanazawa, da London School of Economics, tem uma hipótese interessante. Para ele, da mesma forma que a pornografia usurpa um comportamento evolutivamente útil para o homem (excitar-se diante de mulheres peladas) sem conferir-lhe nenhuma vantagem reprodutiva, celebridades sequestram nossa disposição natural de fazer mexericos sobre nossos conhecidos.
A diferença é que, enquanto coscuvilhar acerca de familiares e amigos pode nos levar a obter informações úteis, escarafunchar a vida de alguém com quem jamais interagiremos é perda de tempo. Nossa obsessão com celebridades seria, assim, ao lado da obesidade e do vício em drogas, resultado de um descompasso entre os nossos cérebros da Idade da Pedra e o mundo moderno.
Vale observar que o valor adaptativo da fofoca sobre conhecidos não se limita a obter dados potencialmente valiosos. A bisbilhotice ajuda a reforçar os vínculos sociais. Robin Dunbar, do University College, de Londres, mostra que humanos dedicam 60% do tempo de suas conversações a futricas. Segundo o antropólogo, com o advento da linguagem, mexericos substituíram a catação de piolhos que, entre primatas, constituíam a principal atividade social. Passamos a usar o fuxico para nos relacionar com os semelhantes e definir quem era ou não confiável, e, a partir daí, forjar alianças e coalizões.
Por muito tempo desprezada pela ciência, a fofoca está ganhando um novo status. Já é considerada uma formidável arma política, capaz até de derrubar tiranos.

Antropofagia e um pouco de Pina - SÉRGIO TELLES


O Estado de S.Paulo - 12/05/12


Acompanhei a recente troca de farpas entre Caetano Veloso e Roberto Schwarz em torno do livro Vereda Tropical, de autoria do primeiro. Por isso me interessei pela brochura Antropofagia, publicada recentemente pela Penguin/Companhia das Letras, na qual estão enfeixados alguns trechos daquela obra de Caetano, que, quando publicada em 1997, apesar da curiosidade que me despertou, não me animei a ler por ter-me parecido excessivamente copiosa. Agora, de uma sentada só devorei as 70 páginas divididas em quatro capítulos - o encontro com os poetas concretos, com Chico, a vanguarda e antropofagia -, temas não focalizados diretamente na polêmica entre o crítico e o cantor-compositor, mas que me suscitaram lembranças e algumas ideias.

Na leitura logo ficam patentes a acuidade da mirada de Caetano, seu alto grau de informação e o absoluto domínio da língua. Mas surpreendeu-me o estilo no qual vazou o texto, em tudo diferente do que eu poderia esperar. Ao contrário de sua produção na música e nas inspiradas letras de suas canções, em que opta por uma linguagem mais solta, inventiva e inovadora, Caetano parece mostrar uma reverência compenetrada ao se embrenhar no campo da prosa, adotando uma dicção clássica, escorreita, convencional.

O texto sobre Chico Buarque me levou de volta aos tempos de faculdade e às turbulências políticas do movimento universitário, quando Chico e Caetano eram nossos ídolos. A disputa entre eles, decorrente de projetos artísticos divergentes, logo nos dividiu em dois grupos. Chico era o wunderkind da música popular brasileira. Era sua continuidade moderna, elegante, bem nascida e cultivada, banhada e perfumada, que ainda por cima era de esquerda, produzindo letras ambíguas nas quais ficávamos pescando alusões e insinuações que teriam passado despercebidas pela censura dos militares. Chico era o prosseguimento atualizado, engajado e informado do samba. Caetano era a deliberada ruptura com tudo isso. Sua posição na esquerda não se apoiava na conservação de formas estabelecidas, estava aberto para as novidades e a assimilação de modelos musicais internacionais. Caetano era o suprassumo do prafrentex, palavra de grande circulação na época, muito apropriada para dar conta das mudanças de comportamento que começavam a aparecer e ainda não tinham nome, e caía como uma luva naquela coisa maravilhosamente nova chamada Alegria, Alegria. Por tudo isso, ele era tido como "alienado" pelos mais extremados, que não entendiam a radicalidade de sua proposta.

Eu, que era um caetanista de carteirinha, muito me diverti com a alfinetada de Caetano ao cantar de forma debochada e depreciativa a Carolina do Chico. Mas o que importa é que respeitávamos e amávamos os dois na diferença que expressavam. De alguma forma, eram nossos modelos e sentimos profundamente quando a Ditadura os obrigou a sair do País, deixando-nos aqui entregues à nossa própria sorte.

Em seu livro, compreensivelmente Caetano põe panos quentes, procurando não exacerbar as antigas querelas. Meio a contragosto, admite ter cantado Carolina de forma "estranhável"...

O capítulo sobre antropofagia, que dá título ao livro, narcisicamente me remeteu ao artigo sobre canibalismo que escrevi na última crônica, fazendo-me lembrar dos aspectos que não pude nele incluir por falta de espaço e que abordo agora. A antropofagia (ou canibalismo) - que tem abundantes registros na mitologia, na história, na religião - viu sua importância potencializada na época dos descobrimentos, quando passou a ser considerada como o indicador mais expressivo de selvageria e de barbárie dos povos do Novo Mundo. Em 1566, o papa Inocente IV considerou-a um pecado maior e, como tal, passível de ser punido pelas armas. A rainha Isabel de Espanha baixou decreto autorizando a escravização de nativos, desde que fossem eles praticantes de canibalismo. É claro que a partir daí ficou muito conveniente declarar que determinado povo era canibal (ou antropófago), pois isso garantia a autorização da Igreja e do Estado espanhol para atacá-lo e escravizá-lo.

A grande ironia histórica é que, com a desculpa de eliminar o canibalismo e impor valores civilizatórios cristãos, os colonizadores terminaram por "canibalizar" os colonizados, apropriando-se de suas riquezas e recursos, deixando-os à míngua, quando não os exterminando pura e simplesmente. Os colonizadores projetaram nos povos "primitivos" uma violência e uma selvageria (simbolizadas pela antropofagia) que eles mesmos exerceram com uma destrutividade muito mais potente, em função de sua superioridade tecnológica.

No mundo globalizado em que vivemos, as relações antropofágicas colonizador/colonizado tomaram feições mais nuançadas. Os padrões culturais e o poder dos países que detêm a primazia tecnocientífica se impõem com força talvez ainda maior, na medida em que é mais profundo o abismo que os separa dos países pobres.

A persistência da questão colonizador-colonizado se evidencia na Semana de 22 com Oswald de Andrade e sua atualidade aparece no investimento que Caetano fez do conceito por ele proposto. Numa provocação, Oswald de Andrade inverteu o paradigma e fez da antropofagia uma virtude e modelo de assimilação cultural, proposta da qual Caetano se apropriou, usando-a como um dos fundamentos para o tropicalismo.

A relação colonizador-colonizado e a antropofagia estão diretamente ligadas ao problema da identidade dos povos colonizados. Lembremos que o colonizador encontra um sistema social estabelecido e organizado com suas próprias leis e costumes, que ele ignora e destrói para impor os seus próprios valores. Aos olhos dos povos nativos, o colonizador não é o que sustenta a lei, é aquele que destrói a lei até então vigente.

Em sendo assim, pode o colonizador em algum momento ocupar o lugar de pai e portador da lei para o colonizado ou ele será sempre o estuprador invasor que ignora a lei? Pode o colonizado se identificar com o colonizador e acatar seus valores, ou esta será sempre uma "identificação com o agressor", com toda a distorção implícita nisso?

Frente ao impasse estabelecido, sobra outra opção ao colonizado senão canibalizar o colonizador que o canibaliza?

***

A forma como Pina Bausch concebe a coreografia - se é que podemos chamar assim - para a música Leãozinho, de Caetano Veloso, sintetiza bem a originalidade e largueza com que ela encarava a dança. A partir de uma gestualidade espontânea ou fixada em estereotipias mecânicas, Pina cria efeitos estéticos e uma ingênua comicidade que evoca as brincadeiras e a despreocupação da infância. O filme de Wim Wenders é uma justa homenagem a uma grande criadora.

Estresse na PF - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 12/05/12

A presidente Dilma ficou enfurecida com o delegado da PF Matheus Mella Rodrigues por tê-la citado na lista de autoridades captadas pelo sistema Guardião. O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) ouviu poucas e boas. O puxão de orelhas foi retransmitido para o diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, que advertiu o delegado. Ele havia sido avisado que não deveria colocar no ventilador a lista de autoridades citadas pela trupe de Cachoeira e que são presumivelmente inocentes. 

O escorregão da CPI
Durante uma hora, na tarde de quinta-feira, na sessão secreta da CPI do Cachoeira, seus integrantes debateram se o delegado Matheus Mella Rodrigues daria conhecimento de uma lista de autoridades citadas nos grampos telefônicos feitos pela Polícia Federal. Alguns queriam uma cópia da lista. O presidente da Comissão, Vital do Rêgo (PMDB-PB), após manifestação favorável da ampla maioria, pediu que o delegado fizesse a leitura. Antes, porém, Vital fez um pacto de que os nomes não seriam tornados públicos, pois a nominata não era de integrantes da organização criminosa, mas de personalidades citadas ao léu. 

Frase
“O problema deste país não é cocaína nem crack! O problema deste país é bebida alcoólica!” — Magno Malta, senador (PRES), na aprovação da Lei Geral da Copa 

COISA NOSSA. 
A desenvoltura da Delta na cidade do Rio, segundo o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), precisa ser investigada uma vez que hoje são conhecidos seus métodos e sua aliança com o crime organizado. A Delta entrou na cidade em 2001, quando Cesar Maia (DEM) assumiu a prefeitura. Mas Chico Alencar chama a atenção: “Na gestão de Eduardo Paes, a porcentagem de dispensa de licitação dobrou.” 

Limite regimental
Os integrantes da CPI estão sendo alertados que os governadores não podem ser convocados para depor. O artigo146 do regimento do Senado diz que não são admitidas CPIs para investigar as atribuições do Poder Judiciário e dos estados. 

O controle
A investigação da PF descobriu que Cachoeira recebia 30%, tendo como piso R$ 25 mil, de todas as casas de caça-níqueis no Centro- Oeste que pertenciam a terceiros. Quem não pagasse tinha seu negócio fechado pela ação da polícia. 

O PSDB mirou no próprio pé
Desde a CPI do PC Farias, em 1992, e da CPI dos Anões do Orçamento, em 1993, que não se via nada parecido. Em 92, um aliado do ex-presidente Fernando Collor, o então senador Espiridião Amin, deu a vaga do partido na CPI para um oposicionista, o então senador José Paulo Bisol. Em 93, o PMDB abriu mão da presidência da CPI que cassou seus principais quadros na Câmara. Agora, o PSDB deu assento na comissão parlamentar de inquérito que investiga malfeitos de tucanos para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). 

Nova estatal
A Fiocruz, que faz congresso a fim de debater a criação de uma subsidiária para fabricar vacinas e medicamentos, foi surpreendida com a formação pelo governo Dilma de um Grupo de Trabalho Interministerial para tratar do assunto.

Diretas já
A OAB do Rio lança, na segunda- feira dia 14, uma campanha para acabar com a eleição indireta para a OAB nacional. Wadih Damous, presidente da ordem no Rio, quer o fim da “marginalização de mais de 700 mil advogados”.

O SECRETÁRIO de Meio Ambiente do PCdoB, Aldo Arantes, também critica o texto do novo Código Florestal aprovado na Câmara, cujo fiador foi o ministro Aldo Rebelo (Esporte). 

DEZENAS DE ONGS lançam na próxima terça-feira a ersão 2012 da campanha Fim aos Paraísos Fiscais. As assinaturas de apoio serão entregues aos líderes do G20 na reunião do mês que vem no México.

O MINISTRO José Eduardo Cardozo (Justiça) determinou à Polícia Federal a abertura de investigação sobre denúncia de grampo nos telefones da senadora Ana Amélia (PP-RS) e da deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS).

BRAZIU: O PUTEIRO


O seu dinheiro no bolso deles - LEONARDO CAVALCANTI


CORREIO BRAZILIENSE - 12/05/12

Há poucas coisas tão maçantes como uma sessão no plenário do Senado. Mesmo com o recinto lotado, como na última quarta-feira. Ali, além do nobre Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), tinha mais. Discursos dramáticos como o do tucano Mário Couto (PA) — xingando os petistas — e até emotivos, como o do petista Eduardo Suplicy (SP), preocupado com a voz da ex-mulher, Marta, que comandava os trabalhos e àquela altura estava afônica. Aquela noite, entretanto, foi especial. Um projeto histórico foi aprovado.

A sessão de 9 de maio acabou com os 14º e 15º salários dos parlamentares. Antes das comemorações, um pouco da história da picaretagem. Os extras foram institucionalizados em 1995 para bancar os gastos com a mudança de políticos recém-eleitos para Brasília, como se os camaradas fossem de fato morar aqui, e não nos estados de origem. A partir da lógica torta dos beneficiados, o 14º pagaria a chegada ao Congresso. O 15º, por sua vez, serviria para cobrir o custo da volta, no fim do mandato, quando o parlamentar fosse defenestrado pelo eleitor ou assumisse cargo no estado natal.

Mesmo assim, a justificativa de araque só seria razoável se os ilustres deputados e senadores desejassem de fato passar o período do mandato em Brasília, e não apenas as terças, as quartas e as quintas. O absurdo, entretanto, é ainda maior. Os nossos políticos decidiram incorporar o benefício ao contracheque. Todos os anos, como se fizessem uma mudança a cada 12 meses para o estado de origem. Do Congresso, a prática estúpida com o dinheiro do contribuinte se espalhou por assembléias estaduais e câmaras municipais, incluindo a casa onde habitam os nossos nobres deputados distritais.

Dificuldades
Pois bem, na noite da última quarta-feira algo começou a mudar no Congresso. Os senadores derrubaram, por unanimidade, os salários extras, depois da votação da Lei Geral da Copa, do discurso irado de Mário Couto e da intervenção cuidadosa de Suplicy. Foi o primeiro e decisivo passo para aprovar um projeto apresentado ainda no ano passado pela hoje ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que acaba com a estupidez. Um ponto: ainda falta a tramitação na Câmara dos Deputados.

Apesar do otimismo da vice-presidente da Casa, Rose de Freitas (PMDB-ES) — “é um projeto com forte apelo popular, dificilmente enfrentará resistência” —, os líderes do PMDB e do PT ouvidos pela reportagem do Correio deixaram claro o desconforto em tratar do assunto na Câmara. O peemedebista Henrique Eduardo Alves e o petista Jilmar Tatto, depois de desconversarem, disseram que não discutiram o tema com as bancadas. E, assim, jogaram um balde de água fria na expectativa de o projeto ser aprovado com rapidez. “Estávamos tratando de outros temas”, disse Tatto.

É preciso que seja dito que os benefícios extras dos senadores e deputados — e por tabela dos distritais, estaduais e vereadores — são esdrúxulos para qualquer cidadão brasileiro, que, no máximo recebe 13 salários por ano. Por mais que amparado nas regras do Congresso, é um acinte, afinal, na prática que os paga é o trabalhador que não os recebe. É o seu dinheiro, meu caro leitor, que enche o bolso dos camaradas duas vezes por ano. Se há bons combates para a sociedade, o fim dos rendimentos extras dos congressistas é um dos principais. Abaixo os 14º e 15º salários de uma vez por todas.

Outra coisa
A aprovação do fim do 14º e do 15º salários no Senado foi celebrada pelos repórteres deste Correio, que desde a derrubada do benefício na Câmara Legislativa, ainda em fevereiro, pautou o tema numa série de reportagens. Uma das mais significativas: a revelação de que os senadores não pagavam o Imposto de Renda dos rendimentos extras recebidos. No fim da sessão da última quarta-feira, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) — ao cumprimentar a Presidência do Senado por ter colocado o projeto na pauta —, destacou: “Parabenizo o Correio, um jornal da nossa cidade, por ter levantado e discutido essa bandeira”. O trabalho de reportagem continuará durante a tramitação do projeto na Câmara dos Deputados.

O CIRCO TEM PALHAÇO - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 12/05/12

Sucesso dos anos 80 e separados desde 2000, a dupla de palhaços Atchim (à dir.) & Espirro voltou a se juntar e pretende retomar as apresentações em teatros e na TV. A reestreia será em um comercial de remédio antigripal. Eles gravaram música nova, um rap de Rincón Sapiência produzido por Tejo Damasceno.

"Eu dizia que tínhamos que esperar as crianças que nos viam crescerem para a gente voltar à TV", diz Eduardo dos Reis, 44, o Atchim. "O que aparecer a gente vai fazer. As crianças de hoje estão carentes", diz Carlos Alberto de Oliveira, o Espirro, que não revela quantos anos tem. "Palhaço não tem idade. Só digo que sou um pouco mais velho que o Atchim."

tudo igual

Os sete integrantes da Comissão da Verdade devem se revezar na coordenação dos trabalhos. A ideia é que ninguém seja escolhido como "presidente", evitando assim uma guerra de vaidades entre os integrantes. O ministro Gilson Dipp, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), pode ser o primeiro a estrear na função.

A VOZ
O advogado José Carlos Dias, um dos membros da comissão, deve fazer o discurso de posse do grupo, na próxima quarta, em Brasília.

VIP
E Dilma Rousseff já telefonou para Fernando Henrique Cardoso para convidá-lo para a posse da Comissão da Verdade. Ela anunciou anteontem que chamará todos os ex-presidentes (Lula, Fernando Collor e José Sarney) para a cerimônia.

LEGENDA
O nome de Marcelo Nobre, ex-conselheiro do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), foi o mais cotado para vice de Gabriel Chalita (PMDB-SP) numa reunião entre o vice-presidente Michel Temer, do PMDB, e líderes do PR. Os dois partidos discutem a possibilidade de aliança para a sucessão paulistana.

SOLTO
Dirigente do PR diz que Nobre é "o nome" para vice mesmo que a aliança com o PMDB não vingue e o partido se alie ao PT ou ao PSDB, hipóteses também consideradas. O problema: Nobre não é sequer filiado à legenda.

TAPETE VERDE
O grupo Doria, que hoje realiza evento fechando parte da alameda Gabriel Monteiro da Silva, conseguiu autorização da prefeitura para bloquear em breve a rua Amauri. O projeto é interditar a via com flores e plantas para dar dicas de jardinagem e conscientização ambiental.

PASSARELA
A ponte estaiada Octavio Frias de Oliveira será a passarela hoje de um desfile de estilistas no Elle Summer Preview, prévia da temporada primavera-verão 2012/2013. Vão exibir suas coleções as grifes Adriana Degreas, Água de Coco, Blue Man, Cia. Marítima, Lenny, Movimento, Salinas e Triya. Entre as modelos convidadas para o evento estão Izabel Goulart, Isabeli Fontana, Lea T, Carol Ribeiro, Ana Claudia Michels, Shirley Malmann, Carol Ribeiro e Mariana Weickert.

CASAMENTO
A agência Talk Shop, de Felipe Barahona, fechou a compra da BlushBranding, de Marcelo Sebá, especializada em marcas de moda.

BRAÇOS ABERTOS
O Cristo Redentor ficará amarelo e vermelho no dia 19. São as cores que representam a hepatite C. A associação dos portadores da doença fará evento de conscientização sobre testes de prevenção iluminando o monumento do Rio de Janeiro e premiando personalidades que atuam em seu combate.

SALA DA LUZ VERMELHA

A pré-estreia de "Luz nas Trevas - A Volta do Bandido da Luz Vermelha", anteontem, no Espaço Itaú do shopping Frei Caneca, contou com a presença de André Guerreiro Lopes, Djin Sganzerla, Sérgio Mamberti e Arrigo Barnabé, que fazem parte do elenco. Os atores Eduardo Silva e Mel Lisboa assistiram ao filme, idealizado por Helena Ignez.

CURTO-CIRCUITO

A cantora Paula Fernandes se apresenta nos dias 25, 26 e 27 no Credicard Hall. Classificação etária: 14 anos.

Janaina Tschäpe inaugura a exposição "Flatland", hoje, às 10h30, no Galpão Fortes Vilaça.

A exposição "Zoom. Design Italiano e a Fotografia de Aldo e Marirosa Ballo" será inaugurada no dia 20, na Faap, em Higienópolis.

O show "Baile do Simonal" acontece na próxima quinta, no Bourbon Street. Classificação: 18 anos.

O prêmio Rio Moda Hype acontece no dia 24, às 11h30, no Jockey Club do Rio de Janeiro.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

Estado-babá e paternalismo de aspirinas - RODRIGO CONSTANTINO


FOLHA DE SP - 12/05/12


O Senado aprovou recentemente uma medida provisória que autoriza a venda de produtos de saúde em supermercados. Vale ressaltar que são apenas medicamentos e acessórios que dispensam prescrição médica. Ainda assim, a presidente Dilma deverá vetar a medida, segundo a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti.

O líder do PT no Senado, senador Humberto Costa, afirmou: "Mesmo sendo remédio sem restrição médica, tem de ser restrito a drogarias". Resta perguntar: por quê?

Não há sólidos argumentos para sustentar esta reserva de mercado das drogarias. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, arriscou uma linha de raciocínio que não parece fazer muito sentido: "Seremos contrários a qualquer tipo de atitude que reforce a automedicação".

Não ficou claro porque isso reforçaria a automedicação, já que nas farmácias esses produtos independem de receita médica.

Mas mesmo que o consumo de tais remédios aumentasse, porque ficou mais fácil obtê-los (ignorando-se a enorme quantidade de drogarias pelas cidades), ainda seria o caso de questionar qual o mal nisso.

Afinal, será que o governo sabe melhor que os indivíduos como cuidar de si próprios? Será que há algum problema em comprar junto com os alimentos aquele analgésico para aliviar a dor de cabeça? Será que a humanidade corre perigo se o sujeito adquirir no mesmo local a carne para seu churrasco e o remédio contra azia e má digestão?

Nos Estados Unidos, é perfeitamente normal encontrar remédios nos supermercados, assim como alguns alimentos em farmácias.

Na verdade, ocorre muitas vezes a fusão de ambos os serviços, o que é natural. É difícil dizer se a Target é um supermercado ou uma farmácia, e o mesmo vale para a Walgreens. Quando há livre concorrência, o foco é aumentar a conveniência do consumidor, e o resultado costuma ser favorável ao cliente.

No Brasil, o governo representa um entrave a esse benefício, punindo justamente o consumidor que supostamente quer proteger.

Ao impedir que farmácias atuem também como lojas de conveniência e que supermercados vendam remédios que dispensam receitas, o governo consegue só encarecer produtos e atrapalhar a vida das pessoas.

A desculpa usada, de evitar automedicação, não cola. Primeiro, porque não consegue evitar coisa alguma. Segundo, porque não cabe ao governo tratar cidadãos como crianças indefesas.

Para David Harsanyi, autor de "O Estado Babá" (editora Litteris), tem-se um governo paternalista quando ele "assume um hiperinteresse em microadministrar o bem-estar dos cidadãos". Quem pode negar que é essa a situação quando o governo resolve dificultar até a venda de uma simples aspirina?

Como o brasileiro pode se sentir um adulto responsável quando o governo o encara como um mentecapto incapaz de escolher um simples medicamento para problemas do cotidiano? Quem outorgou tal direito aos burocratas de Brasília?

A tutela estatal é o caminho da servidão. O governo existe para nos proteger de terceiros, não de nós mesmos. Só há liberdade quando podemos assumir riscos.

O pior é que, no caso, nem mesmo esse manto altruísta de proteção resiste, uma vez que tais medicamentos já podem ser encontrados nas farmácias sem receita. O único objetivo, portanto, é garantir uma reserva de mercado para determinado grupo de empresários, punindo os consumidores.

A verdadeira doença que assola o Brasil é o paternalismo estatal usado como desculpa para criar privilégios e avançar sobre nossas liberdades. Contra essa doença grave, quem tem a cura?

Comissão da Verdade - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 12/05/12


Mostram-se legítimas as indicações da presidente Dilma Rousseff para o colegiado que investigará violações a direitos humanos



A presidente Dilma Rousseff anunciou os sete integrantes da Comissão Nacional da Verdade, criada para investigar violações aos direitos humanos entre 1946 e 1988.

O colegiado foi instituído por legislação sancionada em novembro de 2011, juntamente com a Lei de Acesso à Informação (que passa a vigorar na próxima quarta-feira). Em conjunto, os dois diplomas representam um aprimoramento institucional valioso, que assegura e amplia o acesso da sociedade a dados sob a guarda do poder público.

Era previsível que a Comissão da Verdade despertasse reações de setores das Forças Armadas apreensivos com a perspectiva de mais revelações sobre a prática de tortura e assassinatos políticos durante a ditadura militar (1964-1985), período que deverá ser privilegiado nas investigações.

Alertas contra o "revanchismo" e temores quanto à revisão da Lei da Anistia têm marcado as manifestações contrárias ao reexame dos fatos. A lei é clara, entretanto, ao prever que as atividades da comissão "não terão caráter jurisdicional ou persecutório". Tampouco dá margem ao questionamento da Lei da Anistia, um dos pilares que asseguraram a transição da ditadura para o mais bem-sucedido regime democrático conhecido pelo país.

Antes de uma regra imposta, a anistia ampla teve a dimensão de um pacto que permitiu à sociedade, em nome de um futuro mais harmonioso, superar a dolorosa cisão que a marcara por duas décadas.

Esse ânimo conciliador, que alguns insistem em ver como sinal de fraqueza, evitou que o Brasil, ao contrário de outras nações, prolongasse conflitos e aprofundasse feridas, com prejuízo à consolidação de uma nova fase da vida nacional.

Isso não significa que se deva colocar uma pedra sobre a história. Os brasileiros têm direito ao esclarecimento dos abusos e das violações ocorridos no passado, cometidos pelos dois lados em conflito.

Dentro dos limites impostos pela lei, que sabiamente estabeleceu restrições e teve a precaução de estipular o caráter pluralista do colegiado, a presidente Dilma Rousseff optou por uma solução equilibrada, com nomes de um modo geral mais comprometidos com a perspectiva de Estado do que com visões de governos ou partidos.

Do ponto de vista ideológico, os indicados distribuem-se equanimemente pelo espectro das forças protagonistas da democratização, com maior ênfase, como seria de esperar, para tucanos e petistas, sem excluir completamente a presença de uma visão mais conservadora.

Se cabe algum reparo, é ao título da comissão -que sugere a pretensão de revelar uma verdade unívoca, quando toda narrativa histórica está sujeita a controvérsia.

Lei do silêncio - ROMULO BINI PEREIRA


O Estado de S.Paulo - 12/05/12


Em 1979, após muitos debates em amplos segmentos de nossa sociedade, a Lei da Anistia foi aprovada e promulgada no País. Ela veio pôr um ponto final no ciclo de beligerância que se instalou na vida brasileira e criou um pacto de reciprocidade para a reconstrução democrática no Brasil.

Nestes anos de sua vigência, as Forças Armadas cumpriram um papel impecável. Voltaram-se para suas missões constitucionais, sem a mínima interferência no processo político que aqui se desenvolvia. Mantiveram-se em silêncio, acompanhando os fatos políticos, alguns bastante perturbadores, sem nenhuma atitude que pudesse ser analisada como intervenção no processo democrático.

Adotaram uma verdadeira lei do silêncio. Um ajuste entre seus chefes, em busca da concórdia e do entendimento.

No corrente ano, entretanto, dois fatos vieram de encontro à atitude das Forças Armadas. O primeiro foi a criação da Comissão da Verdade. De modo unânime, militares da ativa e da reserva consideraram tal comissão um passo efetivo para atos de revanchismo. Os seus defensores - alguns deles membros da alta esfera governamental e do Poder Judiciário - já falam em rever a Lei da Anistia, mesmo após o Supremo Tribunal Federal ter confirmado a sua validade.

No escopo de se obter a verdade, essa comissão, para ser imparcial, deveria estudar e analisar não só o ideário político-ideológico, mas também os métodos de atuação de quem optou pela luta armada em todo o mundo. Que pesquise os manuais das organizações internacionais para constatar a semelhança dos objetivos e métodos das inúmeras e variadas organizações nacionais, inclusive o Manual do Guerrilheiro Urbano, de Carlos Marighella, a cartilha do terrorismo brasileiro. Os diversos delitos cometidos - assassinatos, atentados, roubos e sequestros - também tiveram, tal como as citadas internacionais, um objetivo único, ou seja, a "derrubada do governo central e a instauração de uma ditadura do proletariado", e não uma democracia, como apregoam seus defensores. Com tal comissão só existirá uma verdade unilateral.

O segundo fato se refere aos incidentes ocorridos na sede do Clube Militar, no Rio de Janeiro, tão chocantes e tão esclarecedores para todos os militares. Chocantes porque velhos soldados, ilustres chefes, instrutores, professores e outros de carreira e vida exemplares foram insultados e agredidos por uma turba de radicais com atitudes e impropérios usados pelos grupos extremistas das décadas de 60 e 70. E esclarecedores porquanto demonstraram que o ódio ideológico e o fanatismo estão novamente presentes em nosso país. Tanto que disse um dos seus líderes: "Somos marxistas radicais". Seu ideário, seus métodos de atuação e seus ídolos são os mesmos das organizações extremistas do passado. Fazem uso até mesmo de ações de intimidação radicais, como o "escracho", de modo idêntico aos trotskistas e aos nazistas nas décadas de 20 e 30. Segundo seus integrantes, suas ações visam a defender a "honra" do nosso país perante a comunidade internacional. Definitivamente, não são aptos para tal defesa. A continuar dessa forma, a citada turba poderá vir a ser um celeiro para novos Araguaias.

Esses dois fatos atingiram frontalmente os objetivos da Lei da Anistia. A concórdia e o entendimento foram atitudes adotadas somente pelas Forças Armadas. Em oposição, um segmento sectário e minoritário demonstrou intransigência e intolerância totalitária para com os militares.

Eles não assumiram seus atos e erros. Talvez para criar uma nova História, na qual seus integrantes sejam os grandes heróis. Talvez para justificar as ações de seus líderes no emprego de jovens em aventuras quixotescas de tomada do poder pela via armada, ou, então, a legitimação das 20 mil indenizações pagas por seus ideais revolucionários.

Não será possível mais aceitar que os "anos de chumbo", expressão de origem italiana tão decantada por esses segmentos minoritários, sejam debitados somente aos atos das nossas Forças Armadas. Na Itália não houve anistia e terroristas estiveram presos por muitos anos. O caso Cesare Battisti, de rumorosa repercussão mundial, exemplifica o desiderato do governo italiano em punir os que optaram pela luta armada. As organizações extremistas brasileiras estavam sossegadas na selva do Araguaia ou nos aparelhos urbanos, algumas nos conventos dominicanos. E assistiram a tudo pacificamente, com uma única exceção: as vítimas de sua autoria, algumas assassinadas barbaramente e outras justiçadas covardemente. Que regime teria sido imposto ao nosso país caso vingasse o ideário radical dessa minoria?

Neste contexto, a palavra dos chefes militares está se fazendo necessária e será um contraponto a possíveis atitudes e ações deletérias, como as agressões no Clube Militar. O que nós, militares, defendemos não é indisciplina ou qualquer conluio, nem quebra dos princípios democráticos. Uma palavra que não signifique um "mea culpa" ou um pedido de perdão. Estivemos, no período da guerra fria, em combate bipolarizado, no qual os extremistas foram banidos em todo o mundo em razão de seu objetivo totalitário e único: a ditadura do proletariado. Correremos riscos, mas eles são inerentes ao processo democrático e à nossa profissão.

Não se admite mais este silêncio reinante. Nas redes virtuais, pela simples leitura de manifestos e artigos oriundos da reserva de nossas Forças Singulares se percebe que estamos num ponto crítico. A nossa autoestima está em visível declínio, agravada por outros fatores, entre eles os baixos salários de nossos subordinados. Dissensões poderão surgir, pois a reserva expressa em muito o pensamento dos soldados da ativa. Possíveis perturbações ou rupturas em nossas Forças trarão repercussões indesejáveis para o nosso país. Não é possível mais calar. A lei do silêncio deve ser quebrada!

Sem revanchismos - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 12/05/12

O advogado e escritor pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho tem bons motivos para estar feliz: foi indicado para compor a Comissão da Verdade, e seu livro, uma formidável biografia do poeta português Fernando Pessoa, tida como uma (quase) autobiografia no título por utilizar os próprios poemas para contar a vida de Pessoa, está em primeiro lugar na lista dos mais vendidos em Portugal.

A felicidade pelo livro é completa, já a pela indicação para a comissão é cautelosa. Ele tem a consciência de que estará ajudando a fazer a História do Brasil, mas receia as incompreensões.

Está feliz por participar de um grupo de pessoas “que torna impossível não aceitar o convite” e espera que na próxima quarta-feira, quando se reúnem pela primeira vez para definir o funcionamento da comissão, chegue-se a um consenso sobre seu alcance e a abrangência de suas investigações.

Pelas entrevistas de outros membros, e pela conversa que tive ontem com José Paulo, há uma preocupação com o período abrangido pela lei que criou a Comissão da Verdade.

Formada “com a finalidade de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas no período fixado no artigo 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional”, estabelece que serão investigados casos em que a Constituição de 1988 concedeu anistia: “(...) no período de 18 de setembro de 1946 até a data da promulgação da Constituição”, aos que “foram atingidos, em decorrência de motivação exclusivamente política, por atos de exceção, institucionais ou complementares”.

Aí há a primeira polêmica que o grupo terá que dirimir. O período de investigação, de 1946 a 1988, parece amplo demais, e tudo
indica que a tendência será concentrar o foco da atuação no período do regime militar.

Na proposta de José Paulo Cavalcanti, o período ideal para investigação da Comissão seria de 31 de março de 1964 até a eleição de Tancredo Neves, em 1985.

Outra questão delicada a ser discutida na Comissão é se devem ser investigados também os crimes cometidos pelos que atuaram na guerrilha urbana contra o regime militar, como querem setores ligados ao regime militar.

No inciso III do Artigo 3º, consta que um dos objetivos da comissão é “identificar e tornar públicos as estruturas, os locais, as instituições e as circunstâncias relacionados à prática de violações de direitos humanos mencionadas no caput do artigo 1º e suas eventuais ramificações nos diversos aparelhos estatais e na sociedade”.

A referência às ramificações “na sociedade” dá margem a que se afirme que a legislação quis abranger a atuação de setores civis, não necessariamente apenas os representantes do Estado.

Essa interpretação não deve prevalecer na comissão, pois as “eventuais ramificações nos diversos aparelhos estatais e na sociedade” se refeririam à ação de setores civis na repressão, seja com financiamentos ou outro tipo de ajuda aos órgãos do Estado, como a atuação conjunta de outros setores governamentais não militares, embora seja possível que atentados terroristas
que tenham causado danos ou mortes sejam investigados.

Deve ser predominante a ideia de que os que atuaram na luta armada contra os governos militares já foram acusados e condenados.

Uma coisa parece estar definida: a Lei da Anistia é intocável, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal, e vale para todos. A própria lei que criou a Comissão Nacional da Verdade, em seu artigo 6 , afirma que ela “poderá atuar de forma articulada e integrada com os demaisórgãos públicos” desde que “observadas as disposições da Lei no 6.683, de 28 de agosto de 1979”, que é justamente a Lei da Anistia.

José Paulo Cavalcanti está convencido, pelo que conversou com seus colegas e com a presidente Dilma, de que a composição
da Comissão indica a intenção clara de “não haver revanchismos” e que a ideia é escrever a História do período de regime militar.

Mas, sobretudo, ajudar a que muitas famílias encerrem seu sofrimento na busca de pessoas tidas até hoje como “desaparecidas”.

O próprio José Paulo tem uma experiência pessoal. O casal Eduardo e Rizoleta Meira Collier, que está entre os grandes amigos de sua família, perdeu seu filho Eduardo Collier, desaparecido desde 1974, quando tinha 26 anos.

Estudante da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, foi cassado pelo Decreto-Lei 477 e indiciado em inquérito policial pelo Dops, em 1968, por ter participado do XXX Congresso da UNE, em Ibiúna.

Preso no Rio de Janeiro, em 23 de fevereiro de 1974, juntamente com Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira, por agentes do DOI-Codi/RJ, atuava na Ação Popular Marxista- Leninista (APML).

Desde então, está desaparecido. No Arquivo do Dops/PR, pesquisado em 1991 pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos (CFMDP), o nome de Eduardo Collier aparece em uma gaveta identificada como “falecidos”, mas o corpo nunca foi entregue à sua família.

Há algum tempo, Dona Rizoleta resolveu fazer uma missa pela alma do filho, e José Paulo perguntou por que fazia aquilo tanto tempo depois do desaparecimento. Ela respondeu que, quando se enterra um filho, 100% dele vão para a cova.

Mas, no caso de um desaparecido, sempre há esperança, embora a certeza da morte seja de 99,9%. Com a missa, ela queria “enterrar aquele 0,1%”.

É o que José Paulo acha que a Comissão da Verdade terá de fazer: encerrar de vez esse 0,1% da história de muitas famílias e promover a reconciliação nacional com a sua História, sem radicalismos.