sexta-feira, março 11, 2016

No domingo, com saudade do futuro - REINALDO AZEVEDO

FOLHA DE SP - 11/03

Ninguém mais duvida de que já acabou. O governo Dilma chegou ao fim. Hoje, convenham, para fingir que ainda existe, depende apenas do PMDB. Se o partido desembarcar em bloco, a causa está encerrada. E nem precisa haver rompimento formal. Basta que a legenda declare a sua independência.

E aqui cabe uma pergunta muito objetiva aos peemedebistas: se até o PT, sem saída, já caiu fora, por que serão vocês a segurar a alça do caixão? Em nome de quê?

Mesmo as metáforas se cansaram da presidente e fugiram. Esperava-se estrondo, não veio nem suspiro. As coisas foram escorrendo, assim, pelo ralo, preguiçosa e fatalmente. Dilma não nos inspira nem discursos condoreiros. Sua incompetência pastosa não serve nem para animar discurso de resistência. Ela empobrece até a retórica dos adversários.

Neste domingo, muitos milhares sairão às ruas pedindo o seu impeachment. A indignação com a máquina cleptocrata é grande, claro! Mas o sentimento mais perceptível é de enfaro. Essa senhora nunca teve nada a dizer.

E, então, me dou conta de que não é ela. Algo mais está morrendo, se dispersando, nos abandonando, nos libertando...

Na sexta-feira passada, logo depois da condução coercitiva, Lula ainda nos ameaçou a todos com a ira da jararaca ferida no rabo, desafiando a que se lhe esmaguem a cabeça. Será esmagada, não duvidem. Mas o ponto que me interessa aqui nem é esse.

Seu discurso encantou a alguns cronistas políticos, os da minha idade ou mais velhos. Eu mesmo destaquei, em meu blog, sua habilidade retórica; sua fala organizada; sua capacidade de transformar a luta de classes num jogo de truco de botequim; seu dom narrativo que faz Marisa Letícia usar um decanter como se fosse um vaso; sua notável habilidade em exibir todas as suspeitas que há contra si como trunfos, sem responder a nenhuma –até porque respostas não há.

Quase fiquei, leitor, confesso, com saudade de Lula; do tempo em que eu tinha mais cabelo; da minha barba mais preta; dos meus leitores em número muito menor; das minhas reservas ao petismo, exibidas como um traço que alguns queriam esquizoide, já que tantos à minha volta anteviam amanhãs sorridentes onde eu só percebia falência moral e espancamento da lógica. Nota: eu não resistia por heroísmo. Como o artista da fome, de Kafka, era o que eu sabia fazer.

Na sexta, tive, admito, certa nostalgia do tempo em que Lula exibia um pouco mais de vigor; dos dias em que seu arranca-rabo de classes era ao menos legitimado pela ignorância de causa; daqueles anos, ainda precoces, das minhas contraposições ao petismo, com sua incrível capacidade de vulgarizar não apenas a história e a trajetória dos adversários, mas de rebaixar os desígnios pregressos da própria esquerda.

Fiquei com vontade de combater um Lula que fosse algo mais que um decrépito contador de histórias de um passado que ele reescreveu para justificar seu presente miserável. Quase gritei, irritado, diante da TV: "Deem-me um líder que ainda consiga levar porrada! Esse não serve!".

E já não havia Lula nenhum. Olhei ao redor, pensei nos seus teóricos e justificadores, e tudo era mediocridade e irrelevância. Quase fiquei triste, quase fui tomado pela acídia, que, em Santo Agostinho, se não me engano, é definida como "entristecer-se do bem divino", dada a pequenez dos anseios humanos...

Mas depois me animei. Como o garotinho do filme "O Sexto Sentido", cansei de "ver gente morta o tempo todo".

Eu vou para a rua no domingo. Estou é com saudade do futuro.

De paz e amor a jararaca - FERNANDO GABEIRA

O Estado de S. Paulo - 11/03

A crise brasileira é tão asfixiante que às vezes preciso de uma pausa, ouvir música, ler algumas páginas de romance. Em síntese, recuperar o fôlego.

As crises assumem ritmos mais rápidos no seu final. A reação de Lula na entrevista coletiva, ao sair da PF, não me pareceu a de um candidato.

Em 2002 foi difícil vencer com o “Lulinha paz e amor”. Em 2018 será impossível vencer como jararaca. Um candidato não se identifica com uma cobra peçonhenta. Nem se considera a alma mais honesta do Brasil. Verdade que seu marqueteiro está na cadeia. Mas onde está a intuição política que sempre lhe atribuem?

Ele perdeu a cabeça e, com ela, a chance de representar a serenidade do inocente. Seu marqueteiro representou. Não evitou a cadeia, mas, pelo menos, era um scriptmais elaborado.

Lula queria ser algemado. O marqueteiro e a mulher, também. Eles colocaram as mãos para trás, incomoda menos que as algemas reais, mas não tem o mesmo efeito. No fundo, um tremendo esforço para se fazer de vítima, conquistar pela emoção a simpatia que os fatos liquidaram.

Na Justiça, a decisão vai trabalhar com os fatos. Se alguém, realmente, quer contestar sua provas, precisa argumentar também com evidências.

Nem sempre as decisões na esfera do crime são bem recebidas. Em muitos pontos do Rio, prisões resultam em protestos, queima de pneus e bloqueios. Alguns líderes religiosos, quando presos, também emocionam seu rebanho.

No campo da política, há sempre o cuidado com os conflitos sociais. Para quem viu conflitos sociais, o que aconteceu na sexta passada foi apenas uma briga de torcidas e, na verdade, mais pacíficas que as de futebol.

Leio num jornal brasileiro que iriam buscar, entre outros, um gesto de solidariedade de Nicolas Sarkozy. Leio num jornal francês que Sarkozy também está às voltas com a polícia. Sujou, bro.

Apesar de seu ritmo, os últimos dias têm trazido uma ponta de otimismo, mesmo nos mercados, que são tão voláteis. Esse otimismo está baseado na queda de Dilma, mas deve ser estendido também a Eduardo Cunha. Os dois são rejeitados pela maioria. Não se trata apenas de festejar uma queda, desfazer-se de uma pedra no caminho. É criar uma chance de, superando o impasse político, recuperar a economia.

O que move as pessoas no domingo não é só a unânime luta contra a corrupção, mas também a clareza sobre as dificuldades cotidianas. Elas podem não ter uma noção clara do que deva ser feito. Mas sabem que algo precisa ser feito. E urgente.

Sempre que foi preciso, a sociedade brasileira manifestou-se claramente. Será assim no domingo e, para dizer a verdade, não acredito em conflitos, como algumas vozes do PT sugerem e Dilma confirma, a seu modo, pedindo paz.

As coisas vão se resolver de forma tranquila e o bicho-papão não tem como amedrontar ninguém. Escaramuças pode haver, mas seriam mais um caso de polícia: mais gente presa e neutralizada.

É ingênuo supor que as pessoas, dando-se conta de que o País está à deriva, com um governo que se elegeu com grana da Petrobrás, numa enorme crise econômica, vão ficar em casa só porque uns caras de camisa vermelha fazem cara feia ou gestos obscenos com o dedo.

Quando as pessoas denunciam a corrupção estão baseadas em fatos reais, documentados, investigados com rigor. Sabem que a Petrobrás foi saqueada, sabem dos milhões de dólares que foram repatriados. Não adianta cara feia. Se isso fosse uma saída histórica, bastava saquear o País e dizer: não me prendam porque senão vamos para as ruas gritar; não apareçam para protestar porque estou bravo, viro uma jararaca.

Outro dia, o bispo auxiliar de Aparecida recomendou aos seus fiéis pisarem na cabeça da jararaca. E um juiz condenou um adversário do PT a pagar multa de R$ 1,00 por ter criticado o partido. E ironizou que é um partido que tem a pessoa mais honesta de todas.

O bispo via a luta contra a jararaca como a luta entre o bem e o mal. Quem se colocou como cobra venenosa foi o próprio Lula. E o fez num recado para a Justiça. É uma declaração subconsciente de culpa: jararaca eu sou, acontece que vocês não atingiram minhas funções vitais, sigo sendo uma cobra venenosa.

Dilma reclamou de injustiça, mas até hoje não defendeu Lula no mérito. Colaborou na forma: protestou pelo fato de a Lava Jato tê-lo levado a depor debaixo de vara.

Inconscientemente, Lula pediu para ser destruído. O bispo levou-o ao pé da letra. A Lava Jato certamente entendeu de outra forma. E optou pela pesquisa. São os fatos que já existem e os que ainda não foram divulgados que vão definir o destino do governo e de Lula.

Tanto parlamentares como juízes precisam saber claramente o que a sociedade pensa. Não trabalham com pesquisa e, de qualquer forma, não se antecipam nunca. São viciados no único estímulo: um sopro na nuca, de preferência um vento bem forte, 100 km por hora.

Em outras palavras, a manifestação de domingo pode ser o sopro que falta para romper o impasse político. Mas, de qualquer maneira, a vaca já foi pro brejo. Não há horizonte com o governo Dilma, exceto empobrecer mais, enquanto ela luta por se agarrar no cargo.

No domingo há, ainda, a chance de uma aproximação maior de todos os que querem mudança. É fundamental que estejam próximos durante a travessia até 2018. Esta, sim, já me preocupa mais que as bravatas de Lula. Precisa de um mapa do caminho para recomeçar em 2018 com a economia recuperada e um grau de consciência nacional que não deixe jamais o Brasil chegar ao ponto a que chegou.

Essa é minha esperança. Por ela vou às ruas. Não para me expressar, pois isso posso fazê-lo com liberdade na imprensa. Nem para flertar com a política, interesses partidários ou eleitorais. Vou para a rua porque acho que é o lugar onde devem estar todos os que queiram tirar o Brasil do buraco e encerrar este triste episódio histórico.

Vou para a rua porque é onde devem estar todos os que queiram tirar o Brasil do buraco.


Ofertas do Google - RUY CASTRO

Folha de São Paulo - 11/03

Uma das coisas que admiro nas pessoas que sabem muito é o desapego. Elas não se contentam em saber –espalham generosamente o que sabem, vivem prontas a ensinar e fazem isso de graça, pelo prazer de ajudar. O conhecimento não é para ser guardado a ferros, mas dividido –aliás, a única maneira de multiplicá-lo.

Tive a sorte de trabalhar ou conviver com alguns verdadeiros arquivos vivos, gente capaz de responder na lata sobre muitos assuntos além dos de sua área –entre outros, Otto Maria Carpeaux, R. Magalhães Jr., Franklin de Oliveira, Antonio Moniz Vianna, José Lino Grünewald. Uma pergunta a um deles era a garantia de uma aula. Talvez fossem movidos pela vaidade, mas pode haver vaidade mais benigna?

De 15 anos para cá, o Google se esforça para substituir as sumidades do conhecimento. É o maior banco de dados do mundo e ameaça tornar ociosos os dicionários, enciclopédias e compêndios –já absorvidos por ele, ao alcance de consultas rápidas e, melhor ainda, grátis.

Ou não? Posso estar errado, mas tenho visto que, de algum tempo para cá, ao procurar por qualquer assunto no Google, ele nos cumula de pechinchas comerciais sobre o dito assunto. Se você pesquisar "sorvete", "livro" ou "apartamento", ele aproveitará para apregoar um irritante varejo desses produtos. Mas, se você quer pesquisar um conceito abstrato, obscuro ou mesmo absurdo, ele não se toca, faz igual. Exemplo: "o lulopetismo estrebucha".

Digite isto no Google e ele responderá: "À procura de o lulopetismo estrebucha?"; "Tudo que você precisa saber sobre o lulopetismo estrebucha"; "Encontre as melhores ofertas sobre o lulopetismo estrebucha"; "Preços baixos para o lulopetismo estrebucha"; "Verifique nossa ampla seleção de o lulopetismo estrebucha".

É só escolher e clicar.

Nove homens e nenhum segredo - BERNARDO MELLO FRANCO

Folha de São Paulo - 11/03

Um jantar de nove homens, na quarta, selou a reaproximação das bancadas de PMDB e PSDB no Senado. O assunto à mesa não era segredo: a busca de um acordo para derrubar Dilma Rousseff.

O repasto foi servido no apartamento do senador Tasso Jereissati. Do lado tucano, compareceram os ex-presidenciáveis José Serra e Aécio Neves. Do peemedebista, a estrela foi o senador Renan Calheiros.

Os dois partidos discutiram os cenários que poderiam levar à saída da presidente antes das eleições de 2018. Ainda não há um acordo definitivo porque ninguém quer abrir mão de comandar o novo regime.

O PMDB defende o impeachment, que entregaria a Presidência ao vice Michel Temer. O PSDB sonha com eleições antecipadas. Apesar da divergência nos métodos, os dois partidos se uniram no essencial: a promessa de partilhar o poder futuro.

"Vamos trabalhar juntos para encontrar uma saída para a crise", declarou Tasso após a sobremesa. "Não viemos aqui derrubar o governo Dilma. Viemos buscar uma saída para a crise", emendou o líder do PMDB, Eunício Oliveira. Na primeira frase dele, acredita quem quiser.

O pacto PMDB-PSDB reprisa a velha tradição brasileira da transição conservadora, comandada por poucos. Como sempre, os tradicionais detentores do poder articulam a conciliação para melhor ocupá-lo.

Até aí, não há novidade. Mas o jantar assustou o governo por causa da presença de Renan, que atuava como fiador de Dilma e se recusava a discutir a deposição da presidente.

O presidente do Senado é investigado em nada menos que cinco inquéritos da Lava Jato. Agora virou a noiva cortejada pelo PSDB, que está convocando eleitores para protestar contra a corrupção no domingo.

Percalços de uma alma honesta - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S. Paulo - 11/03

Se quem não deve não teme, Luiz Inácio Lula da Silva deveria estar feliz com a oportunidade que lhe é oferecida pelo Ministério Público (MP) de São Paulo, que o denunciou à Justiça, de acabar de uma vez por todas com a perseguição de que alega ser vítima no caso do tríplex no Guarujá. Bastaria que sua equipe de advogados – privilégio reservado a uma pequena elite de brasileiros – livrasse o ex-presidente da acusação. Caberia aos advogados demolir, no mérito, as suspeitas e acusações, em vez de se dedicarem a manobras protelatórias relativas a preliminares processuais. Não lhes seria trabalhoso apresentar em juízo provas irrefutáveis de que Lula é “a alma mais honesta deste país”.

Nada disso foi feito e o resultado foi a apresentação de denúncia criminal contra Lula e, mais grave que isso, com pedido de prisão preventiva do ex-presidente. Lula temia os rigores da Lava Jato e acabou em maus lençóis por fatos mais corriqueiros, como falsidade ideológica, ficando ao lado de denunciados por estelionato – o célebre 171.

De qualquer modo, e como o seguro morreu de velho, quando a denúncia do MP foi protocolada na Justiça paulista, na quarta-feira, Lula estava em Brasília cumprindo uma intensa agenda de reuniões com políticos e altas autoridades, todos interessados em protegê-lo da “perseguição” que policiais, procuradores e juízes, “cooptados pela direita”, estão promovendo contra ele. Um cidadão prestativo e engenhoso chegou a sugerir que Lula seja nomeado ministro, o que lhe garantiria foro para escapar dos rigores da Justiça de Curitiba.

Essa ideia bizarra – há quem diga que foi de jerico – dá a medida da desorientação e do desespero dos petistas diante da crise política. Um dos maiores entusiastas dela é o ministro Ricardo Berzoini, da Articulação Política, que cederia o posto a Lula: “Quem é que não gostaria de ter um Pelé no time?”. Ninguém parece estar se importando – provavelmente com exceção da própria Dilma – com a situação constrangedora em que estaria colocada a presidente da República ao assinar a nomeação de um ministro que, no interior da máquina governamental, teria mais autoridade do que ela própria – que, aliás, já não tem nenhuma. Mas talvez seja exatamente essa a mirabolante ideia dos jericos: colocar Lula no poder, com gabinete no Palácio do Planalto, enquanto a Dilma seria permitido fingir que continua governando. A ideia foi apresentada a Lula em jantar no Alvorada, na terça-feira, como parte de uma ação mais ampla de recomposição do primeiro escalão do governo. Segundo se apurou, o ex-presidente afirmou que “vai pensar” no assunto.

Como parte do esforço de mobilização política em sua defesa, Lula esteve também na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros, peemedebista que, segundo as mais recentes especulações, tende a se distanciar do Palácio do Planalto. Participaram do encontro vários senadores do PMDB, que foram contemplados por Lula com novas frases de efeito produzidas por seu delírio persecutório. Por exemplo: “Se quisesse, eu poderia incendiar o País. Mas esse não é o meu papel. Sou um homem da paz”.

Renan Calheiros ofereceu a Lula uma cópia da Constituição Federal – que certamente o homenageado nunca leu nem lerá –, num gesto que parecia destinado a sugerir que as investigações da Lava Jato têm atropelado os preceitos constitucionais. Mas há também quem tenha sugerido uma versão mais óbvia do gesto de Renan: chamar a atenção de Lula para o fato de que existe uma Constituição no Brasil.

É compreensível que o chefão do PT esteja aflito para envergar uma armadura política que o preserve de dissabores com a Justiça, mas a dura realidade que o confronta é a de que foram ele próprio e a tigrada que cevou que criaram as evidências contra as quais nenhum argumento se sustenta. O caso do tríplex é emblemático dessa situação. Para começar, Lula jamais deveria ter-se permitido, e à sua família, sequer chegar perto do condomínio Solaris, símbolo da gestão safada da direção de uma cooperativa de bancários que acabou lesando milhares de associados. O empreendimento foi salvo pela intervenção – sugerida sabe-se lá por quem – de uma construtora, a OAS, implicada na Lava Jato, que generosamente gastou R$ 777 mil na reforma de um tríplex no qual dona Marisa Letícia estava comprovadamente interessada. Isso se explica?

Corruptos e corruptores - RAQUEL LANDIM

Folha de São Paulo - 11/03

Na confusão do pedido de prisão preventiva do ex-presidente Lula, que não tem prazo para ser analisado pela juíza encarregada do caso, outra notícia passou quase despercebida pela opinião pública nesta quinta-feira (10).

O STF perdoou o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, que foi beneficiado por um indulto de Dilma no Natal. Apenas dois anos após o fim julgamento do mensalão, Cunha é um homem livre. E vai apenas puxar a fila.

Devem receber o mesmo tratamento do STF os ex-deputados Waldemar Costa Neto, Bispo Rodrigues, Romeu Queiroz, Pedro Henry, Roberto Jefferson e o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Sores. O ex-ministro José Dirceu não terá direito ao perdão, porque foi preso novamente, dessa vez por corrupção na Petrobras.

Todos os políticos envolvidos no mensalão foram direto para o regime semiaberto (trabalhar fora e dormir na prisão) por terem sido condenados a menos de 8 anos.
Em cerca de um ano, mudaram para o regime aberto, cuja pena é cumprida na própria residência. Ou seja, sem desprezo pelos problemas em suas vidas particulares, nenhum deles amargou anos na cadeia como acontece com o brasileiro comum.

Na época, foi criticada a diferença entre as penas aplicadas aos políticos e aos empresários ou operadores do mensalão. Exemplos: Marcos Valério foi condenado a 37 anos de prisão e a banqueira Kátia Rabello a 14 anos. Kátia conseguiu o regime semiaberto no fim do ano passado, depois de dois anos trancada na prisão; Valério continua atrás das grades.

Essa desproporção deve ser discutida, mas certamente o rigor da punição aos corruptores do mensalão colabora para as dezenas de delações premiadas do Petrolão. Ninguém quer ser o "novo" Marcos Valério.

Muitos delatores da Lava Jato são alguns dos maiores corruptores da história do Brasil: os empreiteiros. Um dos mais importantes méritos da Lava Jato foi ter atingido esse setor, que esteve envolvido em diversos escândalos e sempre escapou ileso.

Dessa vez, foi diferente. Marcelo Odebrecht, comandante da Odebrecht, foi condenado a mais 19 anos pelo juiz Sérgio Moro e já está atrás das grades há meses. As penas de Léo Pinheiro, da OAS, e de Dalton Avancini, da Camargo Correa, chegaram a 16 anos e 15 anos, respectivamente.

Com exceção de Odebrecht, Avancini, Pinheiro e vários outros estão em prisão domiciliar, com tornozeleira ou não, porque delataram seus parceiros no crime. Não vai demorar para serem considerados totalmente livres.

A Operação Lava Jato devastou seus negócios, mas continuam sendo homens ricos que passarão o resto da vida, na pior das hipóteses, em suas belas mansões e casas de praia.

É preciso reconhecer que, sem as delações premiadas, não seria possível desvendar esse vasto esquema de corrupção e nem chegar aos políticos beneficiados, que estão sendo investigados em Brasília por terem fórum privilegiado. E é aí que mora o perigo.

Com exceção do ex-presidente Lula, que, por enquanto, não tem cargo público, e, por isso, vem sendo pressionado - corretamente ou não - pelos ministérios públicos de Curitiba e São Paulo, nada parece acontecer com a maioria dos políticos envolvidos no caso até agora.

Renan Calheiros, Romero Jucá e outros parlamentares investigados na Lava Jato seguem exercendo seus cargos sem qualquer constrangimento. O processo de Eduardo Cunha caminha, mas ele continua na presidência da Câmara. É preciso lembrar que o mensalão movimentou R$ 56 milhões em propina aos políticos, enquanto o Petrolão já chega a R$ 10 bilhões, incluindo políticos e funcionários de estatais.

Essa história ainda não chegou no fim, mas só vai realmente valer a pena "soltar" os empreiteiros corruptores se os políticos corruptos forem para a cadeia e se a investigação provocar uma limpeza na política brasileira.

Pela experiência do mensalão, as perspectivas não são animadoras.