domingo, outubro 25, 2009

JANIO DE FREITAS

Roubam, mas faz


FOLHA DE SÃO PAULO - 25/10/09


A Lula não interessa se roubam, desde que possa vociferar, exaltado e agitado, que ele é único, ele faz


O forte ataque de Lula aos órgãos fiscalizadores de obras governamentais, componentes da proteção do próprio do Estado, é muito mais do que o aparente lamento por distorções burocráticas que prejudicariam ações necessárias.

O Tribunal de Contas da União, o Ministério Público Federal e seus congêneres estaduais, o Ibama e outros foram acusados de "travar projetos", "travar obras por seis, oito meses" em prejuízo do país e, implicitamente, sempre pela irresponsabilidade já citada por Lula.

Estamos diante de uma versão atualizada do slogan pespegado por adversários em Adhemar de Barros, por muito tempo o político mais importante de São Paulo, quando baseou uma campanha na imagem de grande realizador: "rouba, mas faz".

A rejeição às ações fiscalizadoras faz parte do mesmo canal de antiética, ou de imoralidade administrativa, que releva a corrupção reiterada por empreiteiras, continuadamente contratadas apesar de comprovados seus assaltos ao dinheiro público; como releva práticas de extorsão presentes, por exemplo, nos preços abusivos da telefonia brasileira, nos preços abusados de muitas tarifas bancárias, nos juros monstruosos, e tanto mais.

A maioria das obras cuja interrupção o Tribunal de Contas da União recomenda é de casos de sobrepreço já no orçamento, alterações na execução da obra e aditivos de custo injustificáveis, artimanhas para superfaturamento no custo final e fraudes para determinar por antecipação o vencedor de concorrência. Na expressão esquecida, bandalheira pura.

Não seria mesmo o caso de interromper obras assim viciadas, para que sejam submetidas aos corretivos? Já é um benefício da imoralidade instituída que os ministros e prepostos corresponsáveis pouco sejam condenados. E, quando o sejam, jamais à prisão.São punições mais simbólicas do que de fato dolorosas.

A duração das interrupções tem uma causa comum: a lerda dificuldade dos setores governamentais e das empresas envolvidas para solucionar os questionamentos feitos pelo tribunal, pelo Ministério Pública, o Ibama ou outra atividade fiscalizatória.

O que faz uma obra ser "travada" é, portanto, a combinação de governo e empresas. E o que a "trava" menos ou mais é o tempo levado pelo enlace governo/empresas para submeter explicações e correções a novo exame.

O que revolta Lula, nesse processo, não são as indicações de procedimentos imorais por setores do seu governo e por empresas que contrata, ainda que causem desvios multimilionários.

Predomina o utilitarismo que orienta toda a conduta de Lula - a atitude, como o sindicalismo, "de resultado" - e já tão conhecido em sua aplicação à política e ao mercado de cargos, criação dos últimos 15 anos.

A obra não deve ser interrompida, seja qual for o motivo para fazê-lo, porque Lula quer inaugurá-la ou, no mínimo, dá-la como basicamente sua.

Ainda da fala de Lula em Belo Horizonte: "É muito fácil assumir a Presidência e não fazer nada porque ninguém nunca fez. Os outros presidentes são todos da mesma laia".

A ele não interessa se roubam, desde que possa vociferar, sob um banho de suor, exaltado e agitado como em um surto, que ele é único, ele faz.

ATAQUE DOS SARNEY

Sarney ajudou filho a "atacar" setor elétrico, revela grampo

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/10/09


Fernando queria encaixar amigo em estatal; "Manda passar lá no Senado", disse senador

Presidente do Senado e seu filho não quiseram falar das gravações de conversas que podem configurar tráfico de influência no setor elétrico

ANDREA MICHAEL
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS (MA)

Gravações da
Polícia Federal mostram que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), não estava alheio às investidas do filho mais velho, Fernando, sobre órgãos públicos do setor elétrico -ações que, para os policiais, configuram crime de tráfico de influência.
Numa conversa, o senador orientou Fernando a arrumar emprego para aliados no comando da Eletrobrás, estatal ligada ao Ministério de Minas e Energia. Noutro diálogo, o filho do senador avisou que, feitas essas nomeações indicadas pelo pai, ele iria "atacar" os apadrinhados, com o objetivo de liberar verbas de patrocínio a entidades privadas ligadas à família -o que de fato aconteceu.
Os grampos -obtidos com autorização judicial- fazem parte da Operação Faktor, antes chamada de Boi Barrica, que levou ao indiciamento de Fernando por quatro crimes. A apuração de tráfico de influência ainda não foi concluída pela PF. Pelo Código Penal, o fato de pedir vantagem, mesmo não consumada, já configura crime.
O presidente do Senado até aqui não foi alvo da Faktor. Para investigá-lo, a PF precisaria de autorização do Supremo Tribunal Federal. Sobre as denúncias anteriores contra o filho, Sarney disse que tratavam de casos que ele desconhecia. As escutas que a Folha revela hoje são as primeiras a envolvê-lo diretamente. Procurados, Sarney e Fernando não comentaram as nomeações nem o suposto tráfico de influência.

"Manda passar lá"
Negociações para preencher cargos na Eletrobrás começaram em fevereiro de 2008, um mês antes da definição da nova diretoria pelo ministro Edison Lobão (Minas e Energia), aliado de Sarney e alçado ao cargo em janeiro de 2008.
Em 14 de fevereiro Fernando pediu ajuda ao pai para acomodar, na Eletrobrás, seu amigo Flávio Decat -engenheiro com o qual Fernando trocou vários telefonemas interceptados.
"Quero orientação a respeito daquele meu amigo lá do Rio que está aí esperando um chamado seu, da Roseana. E eu preciso de uma orientação", disse o filho. "Manda passar lá no Senado. Às 17h30 no meu gabinete", respondeu Sarney.
Três meses após a conversa com Sarney, Decat ganhou emprego na estatal: Lobão anunciou a criação da Diretoria de Distribuição para abrigá-lo.
Outra indicação de Sarney que contentou Fernando foi a do engenheiro José Antônio Muniz para presidente da Eletrobrás. Assim que soube da nomeação, em 4 de março de 2008, Muniz ligou para Fernando e se reuniu com Sarney. "Deu certo", festejou Muniz. "Tô sabendo já. Como diria aquela frase do Galvão Bueno: eu já sabia. Estou satisfeito que tudo deu certo, que vai ser bom para o Lobão. Vai ser bom para todos", respondeu Fernando, que a seguir falou do encontro com Sarney: "Então tá bom. Amanhã vou estar aí. Se hoje [você] não falar com papai, amanhã a gente fala".
Dias após a reunião, Fernando falou com Anelise Pacheco, assessora da presidência da Eletrobrás: "Já acenei com ele [Muniz] que aquela área nós temos interesse em ter sob controle. E ele disse que sem problema. Me pediu uma semana, dez dias para sentar na cadeira e tal. Depois da Semana Santa, nós vamos atacar. Mas já pensei nisso. Tá tudo pensado", disse Fernando em 14 de março. "É porque a menina da Roseana está me ligando para ver os programas que pode fazer", disse Anelise. "Nós chamamos, conversamos longamente e um dos pontos acertados foi este", tranquilizou Fernando.
Meses depois, entre agosto e dezembro de 2008, a ONG do Maranhão da qual José Sarney é presidente de honra recebeu, sem licitação, R$ 590 mil da Eletrobrás como patrocínio para fazer festas no Estado -uma delas, realizada pela governadora Roseana Sarney (PMDB). Em julho deste ano, a Folha revelou que R$ 130 mil do total repassado pela Eletrobrás foram destinados a uma empresa da então assessora de Roseana.
A PF também captou, em junho de 2008, uma conversa em que Fernando pediu a Augusto César Araújo, também assessor da presidência da Eletrobrás, que "resolva a vida" de uma amiga liberando dinheiro para eventos que ela agencia: "Acho que é mais fácil vir por meio dessas produções culturais do que um emprego formal".

PRESSÃO

SARNEY INTERFERIU EM NOMEAÇÃO, DIZ GARIBALDI

Pela divisão política dos cargos no PMDB, a presidência da Eletrobrás cabia, em 2008, a Garibaldi Alves (PMDB-RN), presidente do Senado à época. A
Folha apurou que Sarney o procurou, disse que precisava da indicação e que isso foi sempre uma prerrogativa dele. "Sarney foi quem indicou. Era um nome ligado mais a ele. Eu não tinha ninguém e deixei", declarou Garibaldi.

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DANUZA LEÃO

O pior inimigo é o falso amigo

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/10/09


Volta e meia faz comentário sobre você, maldoso e irônico, mas não tão maldoso a ponto de chocar


Já que é inevitável ter inimigos, a coisa melhor do mundo é ter um de verdade: que te odeie com lealdade e sinceridade -sem nenhum fingimento.
Ele é capaz de falar mal de você em público sem ter, em momento algum, medo de que repitam o que ele disse. E também pode te dar um tiro ou uma facada, mas sem nunca te enganar -sempre numa boa.
Não é, positivamente, do tipo que diz "vou te contar uma coisa, mas não repita, fica só entre nós". Dele você pode esperar sempre o pior: que impeça que aquele negócio que estava planejando havia anos se realize, que diga àquela gata que está povoando seus sonhos que você é um cafajeste, que o dinheiro que você esbanja vem do tráfico de drogas -ou coisas ainda piores. Sabendo do que ele é capaz, você pode sempre se defender -o que é mais fácil do que lidar com a hipocrisia.
Como guerra é guerra, nada que ele faça de ruim poderá surpreender -essa é a vantagem de ter um inimigo leal. Quando se encontram num restaurante, você já sabe que deve ficar alerta e se sentar de costas para a parede, como fazem os malandros.
Ele é capaz de seduzir sua filha menor, de contratar alguém para roubar seus documentos e de jurar sobre a Bíblia sagrada que viu você subornando um político. Tudo faz parte, e quanto mais coisas ele fizer contra você, mais você aprende a se defender; como se aprende com um inimigo assim -ah, como se aprende.
Perigosos mesmo são os pseudo-amigos, aqueles que te tratam bem e que volta e meia fazem um comentário sobre você -maldoso e irônico, mas não tão maldoso a ponto de chocar-, afinal, é apenas uma brincadeira, será que você perdeu o humor? E aquele que passou anos construindo a imagem do bom caráter de carteirinha pode fazer você levar a vida inteira na dúvida, sem ter coragem de encarar a verdade: que se trata apenas de um crápula.
A tal da imagem ilude muita gente, que durante anos pensa que o personagem é defensor das boas causas, dos fracos e oprimidos, e sempre politicamente correto -faz parte do modelo, claro. Incapaz de encarar uma briga de frente, ele não consegue nem ter inimigos, pois, como ser humano, não passa de uma fraude -e de um covarde.
Está sempre atrás de alguma vantagem -alguma pequena vantagem- e frequentemente comete traições -pequenas traições que dificilmente poderão ser comprovadas. E se alguém ousar acusá-lo de alguma coisa, sempre haverá alguém para defendê-lo -afinal, de uma pessoa com um passado tão correto, só um louco ousaria dizer alguma coisa.
Suas maldades e falhas de caráter nunca são grandiosas, porque nada nele é grandioso. Suas maldades são pequenas, porque tudo o que ele faz é pequeno; pequeno como sua pessoa, como sua alma. Mas, às vezes, se tem que conviver com gente assim -como fazer?
Se for seu caso, não faça nenhum tipo de concessão. Cometa um assassinato, internamente, e esqueça de que ele existe -mas esqueça mesmo. Mas atenção: é importante que ele saiba que você sabe perfeitamente quem ele é.
Fique cego quando passar por ele, e se alguém mencionar seu nome, não ouça; esqueça das mesquinharias de que é capaz um pobre ser humano.
E valorize seus inimigos, os bons. Eles estão sempre dispostos a liquidar com você, mas sempre com a maior lealdade.


EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Lula e o desconforto das leis

O ESTADO DE SÃO PAULO - 25/10/09

A democracia brasileira é muito restritiva para o presidente Lula. Ele poderia fazer muito mais pelo País, se não fosse tolhido em suas intenções, sempre boas, pelos entraves institucionais. Esta é a tradução precisa de seus insistentes ataques ao Tribunal de Contas da União (TCU) e aos demais órgãos fiscalizadores que ocasionalmente atravessam seu caminho. "O Brasil está travado", disse o presidente ao discursar, sexta-feira, na cerimônia de posse do novo advogado-geral da União, Luiz Inácio Adams. "Não é fácil governar", queixou-se, "com a poderosa máquina de fiscalização e a pequena máquina de execução." Mas a máquina de execução não é tão pequena assim. Isto é evidente para quem acompanha o crescente inchaço dos quadros do Executivo e de sua folha de salários. Não é pequena, mas é cada vez mais ineficiente, por causa dos critérios impostos pelo grupo governante à administração federal.

A incapacidade de produzir e de conduzir projetos segundo as mais elementares normas de governança é reflexo dessa ineficiência. Não se pode culpar o TCU pelos tropeços da paquidérmica equipe de governo. Mas também quanto aos gastos com pessoal há divergência entre o presidente Lula e os fiscais por ele criticados. A folha de pagamentos tem crescido bem mais velozmente que a receita de impostos e contribuições, observou em depoimento no Congresso o secretário de Macroavaliação Governamental do TCU, Maurício Vanderlei. Esse crescimento, segundo ele, tem sido formalmente possível porque os limites fixados na Lei de Responsabilidade Fiscal são muito altos.

O secretário adjunto de Orçamento Federal do Ministério do Planejamento, Claudiano Manoel de Albuquerque, tentou justificar a ampliação dos quadros, mas acabou admitindo: "Em algum momento mais à frente, com certeza, a decisão deverá ser diferente, com a utilização do espaço fiscal para reduzir a carga tributária."

Esse momento certamente não está no horizonte temporal do presidente Lula. Na mesma sexta-feira ele defendeu os aumentos concedidos ao funcionalismo, comparando os salários do governo com os do setor privado. Ele parece não perceber uma diferença importante: as empresas pagam salários em troca de serviços e de competências e não se julgam obrigadas a contratar mais que o pessoal necessário. O padrão administrativo do setor público brasileiro, especialmente no governo petista, é muito diferente.

Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não admite nenhuma responsabilidade pelos obstáculos enfrentados na realização de projetos. A culpa é sempre dos outros e a ocorrência de problemas é facilitada por um sistema institucional disforme. De acordo com a sua descrição, neste país estranho "uma pessoa de quarto escalão resolve e tem mais poder que o presidente da República". A frase é muito importante, porque denuncia, com perfeita clareza, a forma como o presidente Lula percebe o mundo da administração e das normas. O importante, para ele, é o status do agente, não o valor da regra. Por esse critério, um guarda de trânsito não deveria ter poder para multar uma autoridade mais alta. Mas esse critério parece funcionar adequadamente em algumas circunstâncias. Afinal, o presidente da República esteve entre os primeiros contribuintes beneficiados com a restituição do Imposto de Renda pago a mais. Como acreditar em casualidade?

No mesmo discurso Lula voltou a defender suas viagens, para "acompanhar obras" - como se isso fosse função presidencial. "Quem engorda o porco é o olho do dono", argumentou, errando a citação. O animal do provérbio é o boi, mas isso não é o mais importante. Ele respondia nesse momento a quem o criticou por fazer comícios eleitorais às margens do São Francisco. "Não tem problema viajar para fiscalizar", comentou depois o presidente do STF, ministro Gilmar Mendes. "O problema", acrescentou, " é fazer campanha."

Lula propôs a criação de uma câmara de nível superior para decidir com rapidez se uma obra pode ou não ficar paralisada. Não explicou quem comporia a câmara nem como as suas decisões se ajustariam aos critérios legais. A lei, como sempre, é um detalhe. Mas o presidente, pacificador, anunciou a intenção de "deixar um legado de harmonização maior entre as instituições". Ele já parece ter encontrado o caminho: todo poder ao presidente da República e não haverá mais conflitos.

MODERNIDADE DO TEMPO ANTIGO

LANÇAMENTO EM 1920

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BRASÍLIA - DF

Pururuca com chuchu

CORREIO BRAZILIENSE - 25/10/09


O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), é só cálculo político. Enquanto se mantiver como líder das pesquisas de opinião, vai dizer que não sabe se será candidato, que a campanha foi antecipada indevidamente por Lula e agirá nos bastidores mais candidato do que nunca. Seu raciocínio é o seguinte: quem tem de correr atrás do prejuízo é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que precisa transformar Dilma Rousseff (PT) em candidata única da coalizão governista.
O problema é que a última pesquisa do Ibope, na qual Serra aparece novamente na faixa dos 40% de intenção de votos, queimou a bala de prata dos tucanos paulistas ao colocar na lista induzida o nome do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), como vice. A pergunta que fica é se a mesma fórmula vale para Aécio, com o ex-governador Geraldo Alckmin na vice.

Bolada
Desde maio, o Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) não repassa os recursos que abastecem linhas de crédito operadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A direção do FAT cobra maior remuneração sobre os empréstimos para retomar os depósitos especiais. O BNDES estima que deixará de receber, até o fim do ano,R$ 1 bilhão

Unificação
Um grupo de deputados egressos das carreiras policiais entregará ao presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), uma PEC que prevê a unificação das polícias civil e militar. Simpático à proposta, de autoria do deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), delegado federal, Temer sinalizou dar tramitação ágil ao texto como resposta à recente onda de violência no Rio de Janeiro. Essa é a primeira proposta no sentido subscrita por deputados policiais federais, civis e militares.

Futurologia
Na linha de frente pelo pré-compromisso com a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência, o PMDB do Ceará figura como um problema em potencial na aliança de 2010. No estado, o partido é aliado de primeira hora do governador Cid Gomes (PSB). Se o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) não desistir da disputa presidencial, despencam as chances de o PMDB estar no palanque da candidata do PT.

Régua
O governador Paulo Hartung (foto), do PMDB, dispensou do governo seu secretário de Educação, o tucano Ricardo Santos, num recado duro ao ex-prefeito Luiz Paulo Velozzo Lucas, candidato a governador pelo PSDB. Amigos desde os tempos de movimento estudantil, os dois estão em rota de colisão desde que Hartung escolheu como seu candidato à sucessão o vice Ricardo Ferraço (PMDB). O ex-ministro do Planejamento Guilherme Dias, também tucano, permanece na equipe do governo como homem forte das finanças capixabas.

Churrasco
A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (foto), do PSDB, domou a crise política que abalou seu governo ao derrubar o pedido de impeachment que havia na Assembleia Legislativa gaúcha. Agora, mais do que nunca, pretende concorrer à reeleição. Vai descer o sarrafo no ministro da Justiça, Tarso Genro (PT), candidato ao governo, a quem responsabiliza pela suposta manipulação política das denúncias. Quem está se dando bem com o confronto é o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB).

RUY CASTRO

Violência, diagnóstico e inação

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/10/09

SÃO PAULO - Vejo no Jornal Nacional de segunda-feira o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) dizer que o problema da violência no Rio não é uma jabuticaba local, mas fruto da facilidade com que as armas contrabandeadas circulam pelo Brasil apesar de serem transportadas por terra, o que pressupõe superar meia dúzia de controles até chegar aos delinquentes no Rio.
A fita da memória rebobina imediatamente para Praga, dezembro de 1994, hotel Savoy. Fernando Henrique Cardoso, então presidente eleito, a dias da posse, conversa com um pequeno grupo de jornalistas. O Rio está conflagrado, então como agora. FHC diz, basicamente, o que Pimenta repetiria 15 anos depois.
Duas cenas que ilustram bem o Brasil: diagnóstico nunca falta. Falta tratamento adequado para as doenças apontadas.
Note o leitor que o diagnóstico neste caso é de duas autoridades dos dois partidos que se revezaram no poder nestes 15 anos. Nem um nem o outro deram consequência ao diagnóstico, e as armas continuam circulando livremente.
Preciso acrescentar que o monopólio das armas pelo poder público é requisito essencial para uma política de segurança pública?
À inação oficial soma-se a leniência do público. Nos comentários e cartas aos jornais desta semana, a tônica é mais ou menos assim: o Rio de Janeiro tem um sério problema de violência, mas São Paulo também tem. É verdade, mas resolve o problema do Rio?
Não faltou quem lembrasse que Londres, um dia depois de escolhida sede olímpica (para 2012), passou por atentados mais graves do que os do Rio nestes últimos sete dias. Também é verdade, mas faltou contar a segunda parte da verdade: desde então não houve mais atentados em Londres.
No Rio (ou São Paulo, tanto faz), são diários, antes, durante e depois do helicóptero abatido.

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AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

O Batalhão da Bic voltou à ativa para socorrer o bandido

24 de outubro de 2009

Depois de um sumiço de quase sete anos, voltou à ativa neste fim de semana o Batalhão da Bic, formado por fuzileiros civis que se disfarçam de “intelectuais e artistas” para confundir a repressão. Até a posse do presidente Lula, o grupo de elite mantinha a caneta engatilhada todo o tempo, para não perder um único abaixo-assinado contra alguma coisa — da privatização de empresas estatais aos maus modos do guarda de trânsito, da falta de dinheiro federal para a cultura brasileira à impontualidade do entregador de pizza. De janeiro de 2003 para cá, nada conseguiu animá-los a tirar a Bic do coldre.

Para os loucos por um manifesto, pareceram pouco relevantes a institucionalização da patifaria, o escândalo do mensalão e todos os outros, a expansão espantosa do Clube dos Cafajestes a Serviço do Nação, a aliança entre vestais de araque e messalinhas juramentadas, a metamorfose obscena do presidente da República, o acasalamento do Cristo paraguaio com os Judas de verdade, fora o resto. Tudo é tolerável, berrou o silêncio do bando. Menos a instalação da CPI do MST.

Isso não passa, descobriu o abaixo-assinado agora virtual, de “um grande operativo das classes dominantes objetivando golpear o principal movimento social brasileiro, o MST”. Com a ajuda da imprensa, claro, esclarece o trecho que comenta a depredação da fazenda da Cutrale: “A mídia foi taxativa em classificar a derrubada de alguns pés de laranja de ato de vandalismo. Uma informação essencial, no entanto, foi omitida: a de que a titularidade das terras da empresa é contestada pelo Incra e pela Justiça”.

Essa gente já escreveu textos menos bisonhos, informam o estilo torturado e o uso de palavrões como “operativo”. Também já teve mais pudor: não é pouca coisa reduzir 10 mil pés de laranja a “alguns”, sem ficar ruborizado, ou fazer de conta que o Incra não é um codinome do MST. Sobretudo, poucos manifestos cometeram erros tão vulgares, como imaginar que a Justiça contesta alguma coisa. As partes contestam. A Justiça julga. Por sinal, julgou em segunda instância a contestação do Incra. Deu razão à Cutrale.

No meio da procissão dos anônimos, o altar das quase celebridades exibe o professor e ensaísta Antonio Cândido e o humorista a favor Luis Fernando Verissimo. O primeiro só não reivindicou uma cátedra da USP para o amigo Lula porque ainda não fez o mestre de nascença entender o que quer dizer catedrático. O segundo matou a Velhinha de Taubaté, personagem que acreditava em tudo o que o governo dizia, porque já não é a única: Verissimo também acredita em tudo o que diz o sinuelo do rebanho.

Como os demais signatários, Antônio Cândido e Verissimo provavelmente acham que arroz dá em árvore, desconfiam de que vanga seja um ritmo cucaracha e só tratam de coisas do campo quando conversam sobre futebol. Mas falam de reforma agrária com o desembaraço de quem aprendeu a engatinhar numa roça. Devem saber a diferença entre honradez e corrupção. Sobre isso, nada têm a dizer.

SUELY CALDAS

O paradoxo que complica

O ESTADO DE SÃO PAULO - 25/10/09


Um paradoxo embaralha o governo Lula: a economia cresce, ampliam-se os empregos, aumentam a renda salarial e a circulação de dinheiro, mas esse boom de otimismo teima em não aparecer nas contas do governo. Conhecidos na terça-feira, os números de despesa e receita da União em setembro vão na contramão da retomada econômica: comparada aos piores meses da crise deste ano, a arrecadação tributária de setembro caiu, em vez de crescer, e o resultado acumulado entre janeiro e setembro desabou 11% em relação ao mesmo período de 2008. E os gastos não param de crescer.

É o 11º mês consecutivo de queda na receita com impostos, um contrassenso em relação aos números do IBGE e do Ministério do Trabalho, que revelam crescimentos contínuos da produção e do emprego. Contrassenso que não pode ser explicado simplesmente com a desculpa da desoneração fiscal de automóveis e eletrodomésticos, como tem feito o governo. Afinal, a renúncia tributária vigorou ao longo deste ano e, com exceção de fevereiro e maio, o resultado de setembro foi o pior de todos os meses.

Insatisfeito com o desempenho da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira (aquela que ouviu de Dilma Rousseff o pedido de socorro ao filho de José Sarney) na arrecadação de impostos, Guido Mantega demitiu-a, substituindo-a por Otacílio Cartaxo. Não adiantou, a arrecadação tributária só tem piorado.

Em menos de uma semana de taxação de 2% do IOF sobre o capital estrangeiro, aplicado em renda fixa e na Bovespa, ficou claro que o verdadeiro propósito do Ministério da Fazenda não foi frear a desvalorização do câmbio, mas aumentar "na marra" a receita tributária para tentar manter a ameaçada meta de 2,5% do PIB no superávit primário deste ano. O próprio ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, reconheceu a ineficácia da medida sobre o câmbio e o efeito positivo na arrecadação, que pode somar R$ 10 bilhões em um ano. Receita nada desprezível, mas insuficiente para cumprir a meta do superávit primário.

E novo aumento de alíquota de qualquer outro imposto também será insuficiente diante do descalabro de gastos do governo, que se descontrolam cada vez mais com a proximidade das eleições no próximo ano. Por enquanto está mantida a meta de superávit primário de 3,3% do PIB em 2010, mas a intenção de reduzi-la já é alvo de debate e discórdias no Ministério da Fazenda.

O governo Lula não tem por hábito planejar o longo prazo e costuma agir movido pelo impulso político de ser bem-sucedido nas eleições. Com isso segue contratando despesas sem se preocupar se haverá receita no futuro para cobri-las. Quer ver?

Para agradar e atrair alianças políticas com 5 mil prefeitos reunidos em Brasília, em fevereiro, o presidente Lula presenteou-os com o alongamento do prazo de pagamento da dívida previdenciária dos municípios por mais 20 anos, prazo já tão repactuado no passado. Não se preocupou com o impacto disso no déficit do INSS, não pensou que a receita previdenciária seria fortemente abalada com a crise econômica, não mediu as consequências de sua decisão e agora o dinheiro dos municípios faz falta na contabilidade do INSS. Os técnicos do Ministério da Previdência não concluíram os cálculos, mas reconhecem ser forte o impacto negativo sobre a receita.

Setembro foi um mês cor-de-rosa para a recuperação do crescimento e do emprego, mas negro para as receitas tributária e previdenciária. Foi também o pior mês do ano para o déficit do INSS, que cresceu 76,4% na comparação com agosto e 18% em relação a setembro de 2008. É verdade que a antecipação da metade do 13º salário aos aposentados influenciou negativamente o resultado de setembro, mas não explica o absurdo crescimento de 76,4% do saldo negativo.

O governo parece brincar com a Previdência. Previu um déficit de R$ 41,4 bilhões para 2009, e em setembro já se aproximava disso - R$ 39,12 bilhões. E ainda não reviu a estimativa, mas sabe que pode aproximar-se de R$ 50 bilhões em dezembro. E mais: como se trata de ano eleitoral, o presidente Lula certamente pretende reajustar o salário mínimo acima dos R$ 505,90 previstos na proposta do Orçamento. E o impacto sobre as despesas do INSS pode ultrapassar R$ 10 bilhões. Como resolver essa equação?

Fácil, uma brincadeirinha resolve. Como fez o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que apresentou aos senadores receitas extras tiradas do nada, mas que dão mais uma folga de R$ 22 bilhões para o governo gastar mais em 2010.

REUNIÃO MINISTERIAL

DIRETO DA FONTE

Vozeirão

SONIA RACY

O ESTADO DE SÃO PAULO - 25/10/09

Paulo Szot, o brasileiro que ganhou o Tony Awards 2008, finalmente decidiu: vai cantar na Broadway, em 2010. No musical Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos.
O barítono tinha recusado o convite, há quatro meses, porque ia coincidir com sua temporada de ópera do MET, onde solta a voz até janeiro.
O musical ficou para março.

Amor de ativista

Gabriela Leite, da Daspu, confessou a Caco Souza, que vai dirigir o filme com a história de sua vida: quer Leandra Leal ou Vanessa Giácomo para interpretá-la na tela grande.
E para quem anda pensando como será o longa, Caco deixa um aviso: "Não será um filme sobre sexo, mas sobre o papel de ativista que Gabriela exerce atualmente."

In English, please

O Festival de Cinema da Amazônia bate o recorde de convites a "gringos". Vai trazer para o júri a atriz francesa Carole Bouquet, o holandês Rutger Hauer - de Blade Runner - e o cineasta norte-americano John McTiernan.
Já o Rio trouxe Jeanne Moureau e a Mostra de São Paulo trará Fanny Ardant, essa semana.

A Vez dos incluídos

Mesmo com a exclusão digital que existe no Brasil, pesquisa da Oracle surpreende: o País tirou quarto lugar, entre 43, no ranking de usuários do ThinkQuest - programa de inclusão digital da Oracle Foundation em que alunos aprendem sobre uma plataforma educacional.
São mais de 26 mil usuários de quase 900 escolas espalhadas por todo o Brasil.

Ouro à vista?

Campinas quer ajudar os atletas brasileiros a faturar medalhas na Olimpíada. Uma equipe da Unicamp desenvolveu um pequeno sensor que, colado na perna, monitora músculos, temperatura e desgaste dos atletas sem que precisem parar o treino.
"Ajuda a melhorar os resultados em áreas como ciclismo, vôlei e outros esportes", avisa o professor Fabiano Fruett.

Responsabilidade social

Acontece amanhã o jantar beneficente do Projeto Ampliar no Esporte Clube Sírio. A renda obtida com os convites vai para o programa de profissionalização de jovens em situação de risco.

A Companhia de Teatro de Heliópolis apresenta, como parte do projeto Arte e Cidadania, o espetáculo O Dia em Que Túlio Descobriu a África. Hoje, no Teatro da USP.

A C&A doou 10 mil peças de roupa e acessórios para a AACD. A associação vai promover bazares para arrecadar recursos. A iniciativa faz parte das ações do Teleton.

O Brandsclub e a smart Jardins realizam evento, a partir de quinta, em prol de campanha do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer de Mama. Dez marcas participam do projeto, que conta com a customização dos carros na concessionária dos Jardins. Com parte da venda revertida ao instituto.

A peça A Odisséia de Arlequino reestreia para o público sábado, no Miniteatro. Com sessões gratuitas para instituições interessadas.

Clientes da Claro receberão, em novembro, SMS solidário sobre a oportunidade de doar até 6% do Imposto de Renda devido aos projetos sociais cadastrados no Fundo da Infância e Adolescência.

O Hyatt será o palco, amanhã, do Jantar das Gerações França-Brasil. O valor dos ingressos - cada um por R$ 5 mil - vai para as instituições Casa do Zezinho, Fundação Tide Setubal, Projeto Quixote e Serviço Assistencial Mãe Querida.

O Lar Escola São Francisco abriu processo seletivo, em parceria com a Mapfre Seguros, para capacitar profissionais com deficiência para o mercado de trabalho.

ELIANE CANTANHÊDE

O bruxo

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/10/09



BRASÍLIA - Para quem não sabe, ou não lembra, o general Golbery do Couto e Silva era um sujeito discreto, que raramente aparecia, mas tinha desenvoltura como ninguém e mandava como poucos durante a ditadura militar. Começou como mentor do SNI e acabou como agente da distensão duas décadas depois. Um "bruxo", dizia-se.
Regimes vão, regimes vêm, e sempre há um bruxo mexendo peças e soprando ideias. Na era Lula, o bruxo é na verdade um carola baixinho, com a humildade dos que saboreiam intimamente o seu poder.
Nada se faz e se decide sem ele, especialmente nesses tempos em que o piloto e a pilota sumiram, voando de comício em comício por aí.
O bruxo da vez se chama Gilberto Carvalho. Por ele passam nomeações, projetos, decisões, articulações no Congresso, o ritmo das reuniões e as maldades. Desde a macro-questão até a graça e a desgraça de quem gravita em torno de Lula.
José Dirceu, o espaçoso, gostava de ostentar poder, e Antonio Palocci, o sonso, sonhava com o próprio poder. Ao contrário deles, Gilberto Carvalho tem intimidade com Lula e, ao que se saiba, não é candidato a nada; seu poder não emana do povo, emana de Lula e para Lula.
Na hipótese de transição para Dilma, certamente Dirceu e Palocci terão o seu lugar, mas o homem de Dilma, como hoje é o homem de Lula, será (ou seria) Gilberto Carvalho. Até como fiel depositário da cadeira para Lula em 2015. Para o bem ou para o mal.
Não custa lembrar seu embate cara a cara com os irmãos de Celso Daniel. Um falava branco, os outros falavam preto, todos com igual veemência, igual convicção. Logo, num dos lados havia um mentiroso quase patológico. Por uma causa? Ou por uma crença?
Agora, é rezar para que Gilberto Carvalho não faça as bruxarias na ordem inversa às de Golbery. Ou seja: que não tenha começado com a distensão (nos bons tempos do bom PT) e acabe criando SNIs.

GOSTOSA


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CLÓVIS ROSSI

Violência, diagnóstico e inação

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/10/09



SÃO PAULO - Vejo no Jornal Nacional de segunda-feira o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) dizer que o problema da violência no Rio não é uma jabuticaba local, mas fruto da facilidade com que as armas contrabandeadas circulam pelo Brasil apesar de serem transportadas por terra, o que pressupõe superar meia dúzia de controles até chegar aos delinquentes no Rio.
A fita da memória rebobina imediatamente para Praga, dezembro de 1994, hotel Savoy. Fernando Henrique Cardoso, então presidente eleito, a dias da posse, conversa com um pequeno grupo de jornalistas. O Rio está conflagrado, então como agora. FHC diz, basicamente, o que Pimenta repetiria 15 anos depois.
Duas cenas que ilustram bem o Brasil: diagnóstico nunca falta. Falta tratamento adequado para as doenças apontadas.
Note o leitor que o diagnóstico neste caso é de duas autoridades dos dois partidos que se revezaram no poder nestes 15 anos. Nem um nem o outro deram consequência ao diagnóstico, e as armas continuam circulando livremente.
Preciso acrescentar que o monopólio das armas pelo poder público é requisito essencial para uma política de segurança pública?
À inação oficial soma-se a leniência do público. Nos comentários e cartas aos jornais desta semana, a tônica é mais ou menos assim: o Rio de Janeiro tem um sério problema de violência, mas São Paulo também tem. É verdade, mas resolve o problema do Rio?
Não faltou quem lembrasse que Londres, um dia depois de escolhida sede olímpica (para 2012), passou por atentados mais graves do que os do Rio nestes últimos sete dias. Também é verdade, mas faltou contar a segunda parte da verdade: desde então não houve mais atentados em Londres.
No Rio (ou São Paulo, tanto faz), são diários, antes, durante e depois do helicóptero abatido.

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Singrando os ares

O GLOBO - 25/10/09


Esta vida airada de saltimbanco das letras ainda me mata. Quando comecei a perpetrar meus livros, os escritores apenas escreviam. Hoje - é o que penso resignadamente, enquanto afivelo o cinto e observo os letreiros de "não fumar" -, há períodos em que o escritor trabalha como funcionário do departamento de vendas da editora e, nesse esforçado mister, às vezes viaja tanto que volta e meia, ao despertar num aposento estranho, leva um certo tempo para descobrir em que cidade está. E eis-me de volta a um avião.

Nada como este avião, para lembrar como sou antigo. Tenho a impressão de que, se contasse o que eram as viagens de avião dos velhos tempos, ia ser tido na conta de mentiroso. Escolha de menus na classe econômica, talheres de metal, pratos de louça, refeições quentinhas, precedidas por aperitivos e acompanhadas por vinhos. E até eu tenho de garantir a mim mesmo que não estou inventando coisas, quando recordo churrascos gaúchos em voos da Varig, com um comissário-churrasqueiro usando chapéu de cuca. Em viagens ao exterior, abriam-se garrafas de champanhe para brindar a passagem pelo equador e distribuíam-se diplomas assinados pelo deus Netuno.

Não faz tanto tempo assim, a velha ponte aérea Rio-São Paulo, dos saudosos Electras, chegava a ser um passeio muito agradável, com a parte de trás da cabine arranjada como uma espécie de sala de estar, onde se prosava, se fumava e se bebia uísque de boa qualidade. A expressão "happy hour" ainda não tinha sido inventada, mas era isso que alguns amigos e conhecidos meus faziam. Segundo o folclore da época, havia alguns que iam e vinham somente para curtir essa sala dos Electras.

Ninguém pensava em problemas de segurança, não havia a revista e a inspeção a que hoje os passageiros têm de submeter-se. Lembro com um arrepio o dia em que, por eu me encaixar à perfeição num tal perfil do terrorista que algum órgão de segurança americano criou, quiseram me levar em cana em Chicago e quase levam mesmo, tendo os orixás me salvado pelo gongo. E, desse tempo para cá, as coisas só fizeram piorar. Inevitável avaliar as pessoas que embarcaram comigo. O de bigodinho que acaba de se sentar parece um pouco nervoso. Terá inserido em si um supositório explosivo, como agora dizem que é a nova onda, em matéria de terrorismo? Quem vê cara não vê supositório. Só saberei, ou não, depois de chegarmos ao destino

Encaixei-me no que cinicamente chamam de poltrona e pressagiei o dia em que os comissários de bordo empregarão pés-de-cabra para socar nos assentos os passageiros mais graudinhos. Isso com certeza será trombeteado como mais um serviço para maior conforto do passageiro. Não há por que duvidar dessa possibilidade, pois é o mesmo tipo de argumento que vi faz pouco, num comercial de tevê ou num anúncio de revista. Uma empresa agora não dá mais nada aos passageiros, com a possível exceção de um copo de água de torneira. O resto é vendido, mas ela se gaba disso, enquanto anuncia um cardápio baratinho, para os que tiverem uma queda de curva glicêmica durante o voo e precisarem comer alguma coisa. O que antes era incluído no preço agora é cobrado à parte e isso é qualificado como vantagem para o passageiro.

Mas talvez a situação no Brasil não seja tão ruim. Já li sobre diversas novidades em matéria de viagem aérea que espero que não sejam adotadas aqui. Uma delas é a cobrança pelo uso do banheiro do avião. Fico imaginando um passageiro sem um vintém no bolso e sem cartão de crédito. Se o problema for xixi, menos mal, talvez. Pode dar para pedir aos demais que olhem para o outro lado, enquanto a questão é resolvida da melhor forma viável, a necessidade é a mãe da invenção. Em casos mais graves, quero crer que, movidos não tanto pela solidariedade quanto pelo instinto de sobrevivência, os passageiros nas proximidades da vítima da infausta premência farão uma vaquinha para pagar o banheiro dela. Nada que, com boa vontade, não possa ser resolvido e, como sempre, o mercado encontrará soluções.

Em outro exemplo, a companhia aérea cobra dobrado, se o traseiro do passageiro ultrapassa determinadas proporções. Isso provavelmente é divulgado como um serviço espontâneo em prol da saúde pública, por incentivar a manutenção de um corpo esbelto, sem enxúndias que façam mal ao organismo e ao bolso. No início, acredito que os gordinhos terão os fundilhos medidos por funcionários especializados ou por nadegômetros eletrônicos, mas logo essa tarefa, por acarretar custos quiçá onerosos, será repassada ao consumidor, que, ao comprar a passagem, terá de informar suas medidas posteriores, aceitando ter de tomá-las novamente no check-in, nos casos em que houver a suspeita de que as declaradas não correspondam à realidade.

Não existe razão para crer que as mudanças vão parar aí. Não haverá de ser tão impossível assim que, ao menos em viagens curtas como as entre o Rio e São Paulo, passem a ser aceitos passageiros em pé, como nos ônibus e trens urbanos. A preços baixos, essas viagens talvez tivessem uma freguesia apreciável. Quem sabe se, para quem more em Congonhas e se veja surpreendido em Guarulhos pela Mãe de Todos os Engarrafamentos, não seria uma opção prática para voltar para casa antes da meia-noite?

Mas chega de mau humor e caturrice, o avião já aterrissou. Ligeiro sobressalto, depois que um comissário fez um pequeno discurso sobre a limpeza da aeronave para os próximos passageiros. Seremos solicitados a realizar essa tarefa? Não, ainda não chegamos lá. Mas, dentro em breve, acho que podemos esperar que nos cobrem uma porcentagem do valor do bilhete como taxa de faxina - mais um serviço de nossa companhia aérea favorita.

COMENDO NA RUA

ANCELMO GÓIS

Era do marketing

O GLOBO - 25/10/09


Levantamento nacional do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas sobre a credibilidade de algumas fontes de informação política no país mostrou que os marqueteiros precisam de um... marqueteiro.
Veja só: 86% de 2 mil entrevistados disseram que não confiam nos profissionais que cuidam da imagem dos políticos

Segue...
Neste ranking negativo, os marqueteiros superaram até os políticos, que ficaram em segundo, com 80% de desconfiança.
Na outra ponta, a
Justiça Eleitoral é a fonte mais confiável,, com 64%, seguida dos jornalistas (tem culpa eu?), com 58%.

Superestrela da Silva
Lula é o cara. O espanhol “El País”, sob o título “Superestrela Lula da Silva”, deu o maior espaço ao filme “Lula, o filho do Brasil”, de Fábio Barreto.
Segundo o jornalão, “o lançamento do filme, em março de 2010, gera muita expectativa”. A reportagem é ilustrada por um mapa da América do Sul que indica a localização de Garanhuns, PE, terra do presidente

Morar bem
O prédio 242 da Praia de Botafogo, no Rio, ao lado do Edifício Argentina, está à venda por R$ 25 milhões.
O edifício, de 14 andares, abriga seis consulados, que terão de sair. Um deles, o da Venezuela de Chávez

Quem vem
Hillary Clinton avisou ao Palácio do Planalto que virá em dezembro visitar Lula.
Obama deve vir em janeiro.

No meio do caminho
A Vale vai construir em Itabira, MG, terra de Drummond, o Museu de Território Caminhos Drummondianos.
Serão 44 placas espalhadas pela cidade, com referências a pessoas e lugares mencionados na obra do poeta. Merece.

O DOMINGO É
da linda baiana Emanuelle Araújo, 33 anos. A cantora e atriz, que está no ar no papel de Heloísa, em “Cama de gato”, novela das 18h da TV Globo, estreou no teatro aos 10 anos de idade. Em 1999, a bela ficou à frente da Banda Eva. Seis anos depois, debutou no cinema, no longa “Fica comigo essa noite”, de João Falcão. Em 2006, fez sua primeira novela na Globo, “Pé na jaca”. Dia 31 agora, Emanuelle lança um DVD ao vivo de sua banda Moinho

Ladrão de galinha
A juíza Placidina Pires, da 1ª Vara de Caldas Novas, GO, mandou soltar Cláudio de Sousa e Agnaldo da Silva, acusados do roubo de... duas galinhas, de propriedade de Walter Rocha.
Para a juíza, aplica-se ao caso “o princípio da insignificância
Deve ser terrível

Veja como a crise fez a Europa trabalhar mais.
Até há pouco, só algumas lojas dos ChampsEacute;lysées, em Paris, abriam aos domingos. Agora, grande parte do comércio, em vários bairros, levanta as portas no dia sagrado de descanso.

O pelicano
Do deputado petista Paulo Delgado, outro dia, num jantar em Brasília, questionado sobre a disputa PT-PSDB em 2010, fugindo da polêmica com seu jeito mineiro: — Sou um pelicano, metade petista, metade tucano.
Ah, bom!

ZONA FRANCA

Mara Bergamaschi lança quinta, às 19h, o livro “Acabamento”, no Café du Midi, em Botafogo.

Rodrigo Taves lança amanhã, às 18h, o livro “Paixão pelo rádio”, sobre o nosso José Carlos Araújo, na Travessa do Shopping Leblon.

Artur Xexéo estará no “Quarta às 4h” da Biblioteca Nacional, quarta, com Muniz Sodré e Vitor Iorio.

Estão abertas as inscrições para a X Jornada de Clínica Médica do Rio e o III Congresso de Medicina de Urgência, coordenados por José Galvão-Alves.

O Hospital de Acari realiza segunda e quarta o 1oCurso de Aleitamento Materno.

O Baroa serve café da manhã.

Sérgio Costa e Silva organiza, em novembro, o I Festival Internacional de Flauta, Oboé e Fagote.

Camila na avenida
Camila Pitanga será Ceci (veja na foto à direita), o grande amor de Noel Rosa, no desfile da Vila Isabel em 2010.
O enredo da escola será uma ode ao Poeta da Vila.

Clipe da Mangueira
A Mangueira vai gravar um clipe de seu samba-enredo, produzido pela Conspiração.
Terá participação de uma constelação da MPB.

Vik quase amor
Vik Muniz, o festejado artista plástico, vai assinar a camiseta de 2010 do Simpatia É Quase Amor, o bloco de Ipanema.

Quem viver verá
Outro dia, ao receber um prêmio de personalidade do ano, no Rio, Eike Batista, o empresário, desafiou o presidente da Câmara Britânica, Ivan Simões Filho, adepto do nado, para... “uma travessia da Lagoa totalmente despoluída daqui a dois anos”.
Tomara. Eike, como se sabe, assumiu o compromisso de despoluir a Lagoa.

Choque na banha
Rodrigo Bethlem, o secretário de Eduardo Paes, decidiu dar um choque... nas banhas dos guardas municipais do Rio.
Vai montar uma academia de ginástica no QG da Guarda e pôr a turma para emagrecer.

Os 79 anos da República Dia 15 de novembro agora, a República completa 120 anos, certo? Há controvérsias.

Para o professor Francisco Carlos Teixeira, titular de história moderna e contemporânea da UFRJ, a República vai fazer só 79 anos. Não teria nascido a partir deste famoso gesto do Marechal Deodoro da Fonseca em 15 de novembro de 1889 (veja ao lado), reproduzido nos livros escolares. Teixeira diz que a verdadeira Proclamação só ocorreu em 1930.
“Até então, não havia valores nem homens republicanos”, afirma. “Havia, sim, oligarquias baseadas nas grandes plantações de café, cana, cacau e borracha, em que os coronéis substituíam o poder do Império.” Autor de “História Geral do Brasil” (Editora Campus) com a também professora Maria Yedda Linhares, o mestre sustenta que “homens realmente dispostos a pensar nos ideais da República só surgiram na política brasileira em 1930”, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder — curiosamente, à força, num movimento armado. Mas aí é outra história.

‘John Ford’ filmará ‘Roque Santeiro’

Daniel Filho, 72 anos, o grande diretor, ator e produtor de TV e cinema, ainda nem finalizou o filme “Chico Xavier”, sobre o médium mineiro, e já deu início à produção de seu próximo longa, uma adaptação da novela “Roque Santeiro”. No elenco, estarão Antônio Fagundes, Fernanda Torres e Lázaro Ramos.
As filmagens começam em maio de 2010. Daniel já até se reuniu com Aguinaldo Silva, que escreveu com Dias Gomes a trama exibida pela TV Globo em 1985, depois de uma primeira versão ter sido censurada pela ditadura militar, em 1975. Aliás, Daniel produziu e dirigiu a versão de 1975 e produziu a de 1985.
Na definição do cineasta Cacá Diegues, Daniel Filho é “o John Ford brasileiro”, pela extensão do currículo. “Só posso ser comparado a John Ford no número, porque ele é o mestre dos mestres”, diz Daniel. “Mr.
Ford dirigiu 142 filmes e, no mínimo, 15 clássicos.” É. Pode ser. Mas os números dele também são impresionantes.
Nas suas contas, só no cinema, como diretor, ator e produtor, já são mais de 70 filmes: “Na TV, a coisa esquenta. Novelas são perto de 50, como ator, diretor e produtor. Sou do tempo da TV ao vivo. Então, sem dúvida, são mais de 1.000 programas. É muita estrada

ELIO GASPARI

Nosso Guia e a teoria petista da imprensa

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/10/09


Lula sabia o que estava fazendo quando disse que ela deve informar, e não fiscalizar


A BATATADA de Lula em sua entrevista ao repórter Kennedy Alencar reflete, de forma tosca e resumida, a opinião do comissariado de informações do Planalto e da nação petista sobre os meios de comunicação. Ele disse o seguinte: "Não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. É informar. (...) Essa informação pode ser de elogios, de denúncias. (...) Para ser fiscal tem o Tribunal de Contas, a Corregedoria-Geral da República, tem um monte de coisas".
Nesse modelo não haveria lugar para as recentes denúncias de torturas de presos por agentes do governo americano. Muito menos para o caso Watergate, que acabou derrubando um presidente dos Estados Unidos. Mensalão? Nem pensar. Em todos os casos foi a ação fiscalizadora da imprensa que disparou e permitiu as investigações.
Não se tratou de uma bobagem do tipo "quando Napoleão foi à China". O comissariado realmente acredita que há uma conspiração da imprensa contra o governo e sonha com a construção de um novo modelo para os meios de comunicação brasileiros.
Noves fora a tentativa de expulsão do jornalista Larry Rother, Nosso Guia jamais moveu um dedo contra alguém por conta do que disse dele ou de seu governo. Feita essa ressalva, fica o registro de que é grande a simpatia do comissariado pelas iniciativas do coronel Hugo Chávez na Venezuela. Uma compreensão paternal: "Não concordo, mas entendo".
Todos os governos acham que são perseguidos por conspirações da imprensa, mas Nosso Guia estimula seus paranoicos. Sem fiscalização, ele continuaria falando em "Corregedoria-Geral da República". Isso não existe, o nome certo é Controladoria-Geral da União e seu titular é escolhido pelo presidente.

UMA BOA CHANCE PARA O URBANISMO DO RIO

Até 2016, o Rio de Janeiro precisa construir e equipar pelo menos 18 mil quartos de hotel. O Comitê Olímpico Internacional pede 40 mil, e a cidade tem 22 mil. Esse é um dos principais desafios para os marqueses da Olimpíada.
Não se pode pensar em construir 30 hotéis do tamanho do Sheraton, pois virariam um mico. A Prefeitura do Rio trabalha com a ideia de empreendimentos nos quais o cidadão compra uma cota de um condomínio e usufrui o rendimento do hotel. É o Condo-Hotel.
Nos Estados Unidos, os proprietários podem utilizar o apartamento durante algumas semanas do ano. Em geral, os Condo-Hotéis têm cozinha no apartamento. Se esse modelo vier para o Rio, desemboca-se num sucedâneo do velho e bom apart-hotel. (Sem cozinha, ou sem possibilidade de usufruir do imóvel, será mais difícil encontrar investidores.)
No Rio, há uma mandinga contra os apart-hotéis. Teme-se que os apart-hotéis da zona sul virem cortiços. Em São Paulo, isso não aconteceu. Pelo contrário, os apart-hotéis deram vida e até mesmo segurança aos pedaços onde se instalaram.
Vigora no Rio uma lei que proíbe a construção de apartamentos com áreas inferiores a 30 ou 40 metros quadrados. Quitinete virou uma palavra maldita. A gloriosa Lapa é um paliteiro de quitinetes. Quem viu o filme "Edifício Master", de Eduardo Coutinho, aprendeu que nesses prédios moram pessoas comuns, sem cauda nem chifres.
Há uma dose de segregacionismo no horror aos apart-hotéis e às quitinetes. (Se a palavra for traduzida para "studio", dignifica-se.) No centro de Paris, há centenas de imóveis com menos de 30 metros quadrados. Em Nova York, uma quitinete de 18 metros na rua 90 está por US$ 150 mil.
Nova York e Paris são o que são porque buscaram a convivência do andar de cima com o de baixo. Quando o pessoal de cima quer ficar longe da turma de baixo, a cidade piora.

FAXINA NA INFRAERO
A investigação do Ministério Público em cima das obras e pompas da Infraero tem fortes chances de terminar com gente na cadeia.

GRANDE OITICICA
Numa época em que Lula diz que não interferiu na Vale, o secretário da Segurança do Rio reclama do governo federal e o capitão Denis Bizarro garante que não viu Evandro João da Silva estendido na rua, Cesar Oiticica, irmão de Hélio, merece uma homenagem. Ele era o guardião do acervo do artista, e a sala onde o material estava guardado pegou fogo. Houve quem reclamasse do Ministério da Cultura, do governo do Estado e até da prefeitura. Cesar escreveu um artigo onde disse o seguinte: "A responsabilidade é só nossa e não seria justo tentar dividi-la com alguém".

ARQUIVO
Na polícia do Rio tem gente convencida de que o capitão da PM Denis Bizarro sabe mais do que se presume. É grande a torcida para que ele conte.

VOLTA POR CIMA
O novo ministro de Assuntos Estratégicos, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, passou sete anos debaixo de chumbo na Secretaria-Geral do Itamaraty. Para que não se coma lebre por gato, é bom lembrar que ele foi o único diplomata com coragem suficiente para denunciar a arapuca da Alca. Ela criaria uma zona de livre comércio do Alasca à Patagônia, e o tucanato gostava da ideia. A ousadia custou-lhe uma repreensão e o cargo de diretor do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais do Itamaraty, mas a Alca morreu. Com a ida do embaixador para um ministério fabricado para receber o professor Roberto Mangabeira, talvez ele vire coisa séria.

CPI DO MST
No Palácio do Planalto percebe-se uma ponta de simpatia pela CPI do MST. Apenas simpatia.

SALLY HEMINGS
O ministro Joaquim Barbosa encantou-se com um livro. É "The Hemingses of Monticello -An American Family" (Os Hemings de Monticello - Uma Família Americana). Nele a professora Annnette Gordon-Redd conta a história de uma família de escravos, os Hemings, na fazenda Monticello, de Thomas Jefferson. O pai da pátria teve um filho (ou sete) com sua escrava Sally Hemmings, 30 anos mais jovem que ele. O livro (Prêmio Pulitzer deste ano) passa polidamente pelos lençóis do presidente e é um poderoso retrato das relações da casa grande com a senzala da fazenda de um aristocrata da Virgínia. Os Hemings parecem uma invenção da lascívia de Gilberto Freyre. A mulata Sally e a mulher de Jefferson, dona Martha, tiveram o mesmo pai, que fez só uma filha com a mulher branca e seis com a escrava Elisabeth.

FORA DA LEI
Quando a PM do Rio sobe um morro e mata um cidadão, informa que se tratava de um "suspeito". Só na quarta-feira foram sete. "Suspeito" de quê? Quando dois PMs (um deles oficial) são filmados coletando os tênis e a jaqueta de uma pessoa que acaba de ser assassinada, eles continuam na corporação. É a lei. Ninguém quer que se imponha um rito sumário oportunista à dupla filmada. Pede-se apenas que não se matem "suspeitos". É a lei.

LULA, O GRANDE
Alguém precisa avisar ao Nosso Guia que os iranianos são persas, e não árabes.

GOSTOSAS


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PAINEL DA FOLHA

O fator Aécio

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/10/09

Fechado o contrato de gaveta com o PMDB e concluída a aproximação preliminar com quase todos os outros partidos da base aliada, a preocupação maior do Planalto, no que diz respeito a 2010, passa a ser com a oposição. "Agora é garantir que o Aécio vá para o Senado", afirma um cardeal petista em palavras que resumem o pensamento do entorno de Lula e de sua candidata, Dilma Rousseff (PT).
Mas e se Aécio aceitar ser vice de Serra? "Não vai aceitar", diz o petista. Mas e se aceitar? "Atrapalha", ele reconhece. E se for Aécio o candidato do PSDB a presidente? "Aí desarruma o jogo inteiro."


Todo cuidado... Sem prejuízo da vantagem expressiva de Serra nas pesquisas de intenção de voto, Lula e auxiliares acreditam que a eventual candidatura de Aécio colocaria mais imediatamente em risco o precioso pré-compromisso do PMDB com Dilma.

...é pouco. Mesmo no grupo peemedebista mais envolvido na negociação da aliança com o PT, há gente cujos olhos brilham diante da possibilidade de Aécio disputar a Presidência. É o caso, por exemplo, do líder na Câmara, Henrique Alves (RN).

Não vi... FHC diz não ter visto o Ibope que testou a chamada chapa pura em duas versões: Serra com Aécio de vice e o contrário. Aécio, que não sabia da pesquisa, encomendada pelo empresário Ronaldo César Coelho, ficou irritado com sua divulgação.

...mas gostei. De FHC, sobre a hipótese da chapa pura: "Se esquecermos por um minuto o que os dois legitimamente querem ser, a pesquisa mostra que juntos eles têm uma força grande e podem fazer muito pelo país".

Conta outra. Apesar das ameaças de José Dirceu, ninguém em Pernambuco acredita que o PT venha a lançar candidato contra a reeleição de Eduardo Campos (PSB), ainda que Ciro Gomes insista em disputar a Presidência. As diferentes alas do partido no Estado estão para lá de acertadas com o governador.

Plus. A candidatura do PMDB no Rio Grande do Sul pende hoje mais para o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, do que para o ex-governador Germano Rigotto. Entre outras vantagens, Fogaça atrai naturalmente o PDT, forte no Estado. Com sua saída, a sigla herdaria a capital.

Assopra... Enquanto em público Lula mantém a artilharia verbal anti-TCU, nos bastidores o Planalto trabalha para abrir canais com o tribunal. Na posse de José Múcio, os demais ministros foram avisados de que em breve serão convidados para um jantar no Palácio da Alvorada.

... e morde. Questionado sobre se de fato o Planalto prepara uma lista de paralisações "absurdas" de obras determinadas pelo TCU, um assessor de Lula responde: "É só juntar três ou quatro ministros da área mais operacional que a lista sai na hora".

Marcação. E o governo comparecerá em peso a um seminário promovido pelo TCU sobre desenvolvimento e meio ambiente, em 10 de novembro. Cinco ministros, entre eles Dilma Rousseff, confirmaram presença na parte da manhã. À tarde fala a senadora Marina Silva (PV).

Paralelo 1. Enquanto trabalha para colocar em funcionamento a CPI do MST, o DEM tenta anular, por meio de requerimento no Senado, edital que libera R$ 13 milhões do Incra para bolsas do CNPq, vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, destinadas a assentados rurais. O partido também enviou questionamento ao TCU.

Paralelo 2. Os "demos" apontam desvio de finalidade. O CNPq fomenta pesquisa científica, mas o edital fala em capacitação profissional para quem vive em assentamentos.

Recolocação. Ex-responsável pela liberação de emendas parlamentares, o petista Marcos Lima será convidado em breve a assumir uma secretaria do governo da Bahia.

Tiroteio

"É natural que Dilma fale o tempo todo de Lula e FHC, em vez de tratar de seu adversário real, José Serra. Afinal, não há nada que ela mesma tenha feito para ser mostrado na campanha."
Do deputado PAULO BORNHAUSEN (DEM-SC), sobre a insistência da pré-candidata do PT em usar seus discursos em eventos públicos para comparar o governo atual e o anterior.

Contraponto

Também quero


Em 1986, Gaudino Leite fazia campanha no interior da Bahia para se eleger deputado constituinte pelo PMDB. Certo dia, em cima do palanque, reclamou das "campanhas milionárias" feitas por seus adversários. Chegou a afirmar que havia político "pagando verdadeiras fortunas" em troca de votos!
Ao descer para a praça onde estava o público, ouviu de um eleitor:
-Eu também acho tudo isso um absurdo, mas será que o senhor me daria o telefone desse deputado?