ZERO HORA - 19/06
Ninguém tem dúvida sobre a potência da internet, e o fenômeno Clarice Falcão é uma prova mais do que evidente. É bem verdade que não se pode falar de Clarice sem falar em Gregório Duvivier, namorado e colega no hit Porta dos Fundos, o programa humorístico mais comentado da atualidade, que só veicula na web. Mas Clarice não é só a parceira do Gregório, nem só atriz, nem só roteirista, nem só filha dos talentosos Adriana e João Falcão – a garota, além de ser também compositora e cantora, é, antes de tudo, um acontecimento.
Comprovei. Estive no show Monomania, que ela apresentou no Bourbon Country no último domingo. Casa lotada. Mal entrou no palco, surto coletivo – antes de abrir a boca, ela já tinha a plateia na mão. Vestida com uma capa de vinil negro, galochas e um guarda-chuva em punho, estava ali para contar sobre como o amor fecha o tempo. E contou. E cantou. Encantou.
O espetáculo foi rápido como um raio, um flash, um clarão. Quantas músicas? Talvez 15, no máximo. Uma mais adorável que a outra, com letras espirituosas, inteligentes, de um humor para entendidos. E quem não é entendido em dores de cotovelo que nos tornam seres risíveis? Ela lembra o tempo todo: morro por você, mas não perco a piada.
Nada de bolero, tango, canções ao estilo rasga coração. O barato de Clarice é expor a natureza tragicômica de todos nós, as nossas inseguranças, infantilidades e maluquices, principalmente as maluquices, o termômetro de toda paixão não correspondida – ou mal sintonizada. Que sanidade, o quê. Amor é a casa dos loucos.
Clarice é boa de rima, boa de trama, boa de ritmo – não se estende demasiadamente, é rápida na transmissão do recado. Linda e doce, nos remete à infância, mas não à infância babaca dos príncipes encantados e finais felizes delirantes. O que ela assinala é que os ideais românticos sofrem uma influência perversa da vida real, simplesmente isso. Simplesmente mesmo. Clarice é simples como um sorvete de creme.
Pelo pouco tempo que Clarice está aí, eu esperava um espetáculo ligeiramente amador, mas ao contar com a experiência e a sensibilidade da sogra, a cantora Olivia Byington, que produz a turnê, o que se viu foi profissionalismo aliado a uma despretensão cativante. Clarice é quase tímida, quase deslocada, quase não entende como foi parar nas capas de revista, quase não sabe como tudo se deu – mas sabe, ou não teria dado a largada para uma carreira que promete ser um refresco para estes tempos de passeatas febris e necessárias – aliás, tomara que o movimento amadureça, sem nos dar motivos para perder o sono.
Então, salve Clarice, que faz canções de ninar para adultos.
quarta-feira, junho 19, 2013
Os safadinhos - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 19/06
Nove jogadores da seleção do México decidiram esfriar a cabeça depois da derrota para a Itália na Copa das Confederações, no domingo.
Foram relaxar nas Termas Centauro, em Ipanema, no Rio.
Fator inflação
Dilma esteve por estes dias com Delfim Netto. Ele se disse preocupado com inflação, pibinho e balança de pagamentos.
Ela falou que vai centrar esforços no controle da inflação. Acha que os outros dois problemas não têm consequência imediata na população.
Quem ouviu o relato do ex-ministro achou que ele ficou decepcionado com a posição da presidente.
Maior arquibancada
O Rappa, da música “Vem pra rua”, comercial da Fiat que virou hino dos jovens que protestam, colocou ontem no Facebook uma mensagem.
Diz assim...
“Ontem, começamos a escrever um capítulo na história do Brasil. E é com fé que vamos continuar nessa batalha pela construção de um lugar melhor. Chega de violência! Chega do abuso de poder! Saudamos os corajosos que representaram todo o país.”
Retrato de Cacá
Cacá Diegues, 73 anos, o cineasta, acabou de escrever suas memórias. Foram dois anos de trabalho.
O livro, que sairá pela Objetiva, é um retrato do cinema e da política do Brasil nos últimos 50 anos.
Renan tem a força
Sérgio Machado está completando uma década na presidência da Transpetro, subsidiária da Petrobras com orçamento de R$11 bi.
Machado, que assumiu por indicação de Renan Calheiros, foi senador tucano pelo Ceará.
Olho vivo
Em Fortaleza, para o jogo Brasil e México, Arnaldo Cezar Coelho andava falando no celular no calçadão da praia quando foi advertido por um samaritano:
— Cuidado com a turma que furta celular.
O comentarista agradeceu:
— Pode deixar. Eu sei me virar. Ao que o cearense emendou:
— É. Pode ser. Mas, semana passada, aí onde você está, dois lutadores de MMA foram furtados.
Carioca escolado, Arnaldo achou prudente obedecer.
Cartas para a Redação
Ontem o “Figaro” trouxe três reportagens sobre o Brasil.
O jornalão francês comentou as manifestações de rua, a corrupção no futebol e as razões para a vida ser tão cara no Brasil.
Na verdade, a vida é cara aqui porque... não sei.
Na onda dos protestos
Na segunda, a OAB do Rio vai fazer um ato público pedindo reforma política.
Junto com o ato, será lançado um comitê formado por outras categorias sociais para discutir a questão.
Compra-se teatro
O professor Carlos Alberto Serpa, da Cesgranrio, está à procura de um teatro para comprar.
Ele criou uma escola técnica de teatro, que já tem 20 alunos.
O Maraca é nosso
Houve uma reunião, ontem, entre o Flamengo e o consórcio que administra o Maracanã, liderado pela Odebrecht.
O clube não aceita fazer um contrato de 35 anos. Negocia um de dez anos, com reajuste depois de cinco anos.
Gois nas ruas
Em Niterói, ontem, um grupo que pegou a barca das 9h com destino ao Rio começou a cantar no meio do tumulto o hino de guerra: “CCR pode esperar/a sua hora vai chegar!”
Cidade unida
Repousa na mesa de Eduardo Paes o projeto do Museu do Encontro.
A ideia, que Regina Casé desenvolve com agitadores culturais, é criar um espaço para unir a periferia e a cidade.
Cena carioca
Na noite de segunda, dentro de um ônibus da linha 435 (Leblon-Grajaú), um ambulante anunciava:
— Olha o saquinho de bala. Três por R$ 2! Mais barato que ação do Eike. Há testemunhas.
Foram relaxar nas Termas Centauro, em Ipanema, no Rio.
Fator inflação
Dilma esteve por estes dias com Delfim Netto. Ele se disse preocupado com inflação, pibinho e balança de pagamentos.
Ela falou que vai centrar esforços no controle da inflação. Acha que os outros dois problemas não têm consequência imediata na população.
Quem ouviu o relato do ex-ministro achou que ele ficou decepcionado com a posição da presidente.
Maior arquibancada
O Rappa, da música “Vem pra rua”, comercial da Fiat que virou hino dos jovens que protestam, colocou ontem no Facebook uma mensagem.
Diz assim...
“Ontem, começamos a escrever um capítulo na história do Brasil. E é com fé que vamos continuar nessa batalha pela construção de um lugar melhor. Chega de violência! Chega do abuso de poder! Saudamos os corajosos que representaram todo o país.”
Retrato de Cacá
Cacá Diegues, 73 anos, o cineasta, acabou de escrever suas memórias. Foram dois anos de trabalho.
O livro, que sairá pela Objetiva, é um retrato do cinema e da política do Brasil nos últimos 50 anos.
Renan tem a força
Sérgio Machado está completando uma década na presidência da Transpetro, subsidiária da Petrobras com orçamento de R$11 bi.
Machado, que assumiu por indicação de Renan Calheiros, foi senador tucano pelo Ceará.
Olho vivo
Em Fortaleza, para o jogo Brasil e México, Arnaldo Cezar Coelho andava falando no celular no calçadão da praia quando foi advertido por um samaritano:
— Cuidado com a turma que furta celular.
O comentarista agradeceu:
— Pode deixar. Eu sei me virar. Ao que o cearense emendou:
— É. Pode ser. Mas, semana passada, aí onde você está, dois lutadores de MMA foram furtados.
Carioca escolado, Arnaldo achou prudente obedecer.
Cartas para a Redação
Ontem o “Figaro” trouxe três reportagens sobre o Brasil.
O jornalão francês comentou as manifestações de rua, a corrupção no futebol e as razões para a vida ser tão cara no Brasil.
Na verdade, a vida é cara aqui porque... não sei.
Na onda dos protestos
Na segunda, a OAB do Rio vai fazer um ato público pedindo reforma política.
Junto com o ato, será lançado um comitê formado por outras categorias sociais para discutir a questão.
Compra-se teatro
O professor Carlos Alberto Serpa, da Cesgranrio, está à procura de um teatro para comprar.
Ele criou uma escola técnica de teatro, que já tem 20 alunos.
O Maraca é nosso
Houve uma reunião, ontem, entre o Flamengo e o consórcio que administra o Maracanã, liderado pela Odebrecht.
O clube não aceita fazer um contrato de 35 anos. Negocia um de dez anos, com reajuste depois de cinco anos.
Gois nas ruas
Em Niterói, ontem, um grupo que pegou a barca das 9h com destino ao Rio começou a cantar no meio do tumulto o hino de guerra: “CCR pode esperar/a sua hora vai chegar!”
Cidade unida
Repousa na mesa de Eduardo Paes o projeto do Museu do Encontro.
A ideia, que Regina Casé desenvolve com agitadores culturais, é criar um espaço para unir a periferia e a cidade.
Cena carioca
Na noite de segunda, dentro de um ônibus da linha 435 (Leblon-Grajaú), um ambulante anunciava:
— Olha o saquinho de bala. Três por R$ 2! Mais barato que ação do Eike. Há testemunhas.
A passeata - ANTONIO PRATA
FOLHA DE SP - 19/06
Sejamos francos: ninguém tá entendendo nada. Nem a imprensa nem os políticos nem os manifestantes
Tinha punk de moicano e playboy de mocassim. Patricinha de olho azul e rasta de olho vermelho. Tinha uns barbudos do PCO exigindo que se reestatize o que foi privatizado e engomados a la Tea Party sonhando com a privatização de todo o resto. Tinha quem realmente se estrepa com esses 20 centavos e neguinho que não rela a barriga numa catraca de ônibus desde os tempos da CMTC. (Neguinho, no caso, era eu). Tinha a esperança de que este seja um momento importante na história do país e a suspeita de que talvez o gás da indignação, nas próximas semanas, vá para o vinagre.
Sejamos francos, companheiros: ninguém tá entendendo nada. Nem a imprensa nem os políticos nem os manifestantes, muito menos este que vos escreve e vem, humilde ou pretensiosamente, expor sua perplexidade e ignorância.
Anteontem, depois da passeata, assisti ao "Roda Viva" com Nina Capello e Lucas Monteiro de Oliveira, integrantes do Movimento Passe Livre. Ficou claro que, embora inteligentes e bem articulados, eles tampouco compreendem onde é que foram amarrar seus burros. "Vocês começaram com uma canoa e tão aí com uma arca de Noé", observou o coronel José Vicente. Os dois insistiram que não, o que há é um canoão, e as mais de 200 mil pessoas que saíram às ruas no Brasil, segunda-feira, lutavam por transporte público mais barato e eficiente. A posição dos ativistas de não se colocarem como os catalisadores de todas as angústias nacionais e seguirem batendo na tecla do transporte só os enobrece --mas estarão certos na percepção? Duzentas mil pessoas de esquerda, de direita, de Nike e de coturno por causa da tarifa?
"Por que você tá aqui no protesto?", perguntou a repórter do "TV Folha" a uma garota na manifestação do dia 11: "Olha, eu não consigo imaginar uma razão para não estar aqui, na verdade", foi sua resposta. Corrupção, impunidade, a PEC 37, o aumento dos homicídios, os gastos com os estádios para a Copa, nosso IDH, a qualidade das escolas e hospitais públicos são todos excelentes motivos para que se saia às ruas e se tente melhorar o país --mas já o eram duas semanas atrás: por que não havia passeatas? Será porque a chegada do PT ao poder anestesiou os movimentos sociais, dificultando a percepção de que o Brasil vem melhorando, melhorando, melhorando e... continua péssimo? Ou será porque agora o Facebook e o Twitter facilitam a comunicação?
Se as dúvidas sobre as motivações --que brotam do solo minimamente sondável do presente-- já são grandes, o que dizer sobre o futuro do movimento? Marchará ou murchará? Caso cresça: conseguirá abaixar a tarifa? E, no longo prazo, terá alguma relevância? Mais ainda: adianta ir às ruas, fazer barulho? Ou a própria passeata extingue o impulso de revolta que a criou e voltamos todos para o mundinho idêntico de todos os dias, com a sensação apaziguadora de que "fiz a minha parte"?
Não tenho a menor ideia, estou mais confuso que o Datena diante da enquete (migre.me/f4UCh), mas num país injusto como o nosso, em que a única certeza parecia ser a de que, aconteça o que acontecer, o Sarney estará sempre no poder, as dúvidas dos últimos dias são muitíssimo bem-vindas.
Sejamos francos: ninguém tá entendendo nada. Nem a imprensa nem os políticos nem os manifestantes
Tinha punk de moicano e playboy de mocassim. Patricinha de olho azul e rasta de olho vermelho. Tinha uns barbudos do PCO exigindo que se reestatize o que foi privatizado e engomados a la Tea Party sonhando com a privatização de todo o resto. Tinha quem realmente se estrepa com esses 20 centavos e neguinho que não rela a barriga numa catraca de ônibus desde os tempos da CMTC. (Neguinho, no caso, era eu). Tinha a esperança de que este seja um momento importante na história do país e a suspeita de que talvez o gás da indignação, nas próximas semanas, vá para o vinagre.
Sejamos francos, companheiros: ninguém tá entendendo nada. Nem a imprensa nem os políticos nem os manifestantes, muito menos este que vos escreve e vem, humilde ou pretensiosamente, expor sua perplexidade e ignorância.
Anteontem, depois da passeata, assisti ao "Roda Viva" com Nina Capello e Lucas Monteiro de Oliveira, integrantes do Movimento Passe Livre. Ficou claro que, embora inteligentes e bem articulados, eles tampouco compreendem onde é que foram amarrar seus burros. "Vocês começaram com uma canoa e tão aí com uma arca de Noé", observou o coronel José Vicente. Os dois insistiram que não, o que há é um canoão, e as mais de 200 mil pessoas que saíram às ruas no Brasil, segunda-feira, lutavam por transporte público mais barato e eficiente. A posição dos ativistas de não se colocarem como os catalisadores de todas as angústias nacionais e seguirem batendo na tecla do transporte só os enobrece --mas estarão certos na percepção? Duzentas mil pessoas de esquerda, de direita, de Nike e de coturno por causa da tarifa?
"Por que você tá aqui no protesto?", perguntou a repórter do "TV Folha" a uma garota na manifestação do dia 11: "Olha, eu não consigo imaginar uma razão para não estar aqui, na verdade", foi sua resposta. Corrupção, impunidade, a PEC 37, o aumento dos homicídios, os gastos com os estádios para a Copa, nosso IDH, a qualidade das escolas e hospitais públicos são todos excelentes motivos para que se saia às ruas e se tente melhorar o país --mas já o eram duas semanas atrás: por que não havia passeatas? Será porque a chegada do PT ao poder anestesiou os movimentos sociais, dificultando a percepção de que o Brasil vem melhorando, melhorando, melhorando e... continua péssimo? Ou será porque agora o Facebook e o Twitter facilitam a comunicação?
Se as dúvidas sobre as motivações --que brotam do solo minimamente sondável do presente-- já são grandes, o que dizer sobre o futuro do movimento? Marchará ou murchará? Caso cresça: conseguirá abaixar a tarifa? E, no longo prazo, terá alguma relevância? Mais ainda: adianta ir às ruas, fazer barulho? Ou a própria passeata extingue o impulso de revolta que a criou e voltamos todos para o mundinho idêntico de todos os dias, com a sensação apaziguadora de que "fiz a minha parte"?
Não tenho a menor ideia, estou mais confuso que o Datena diante da enquete (migre.me/f4UCh), mas num país injusto como o nosso, em que a única certeza parecia ser a de que, aconteça o que acontecer, o Sarney estará sempre no poder, as dúvidas dos últimos dias são muitíssimo bem-vindas.
Lembrando 68 - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 19/06
Uma das perguntas que mais ouvi nestes últimos dias foi sobre as semelhanças e diferenças entre as manifestações de agora e as de 1968. Seria a reedição 45 anos depois de um modelo-matriz ou um fenômeno de massa inteiramente novo? Ou seria um pouco de cada coisa? Talvez isso. Começando pelas mudanças: o país não vive mais numa ditadura (embora a polícia às vezes tenha agido como se vivesse); os jovens não pertencem mais a uma só geração, mas a diferentes tribos. E, sobretudo, existe hoje a onipresente internet, capaz da mobilização instantânea, viral e sem limites. Distantes os tempos em que a organização de uma passeata exigia longa preparação e intermináveis discussões em assembleias.
De semelhante entre os dois momentos, permanece a disposição estudantil que parecia anestesiada, como também naquela época (na França, um sociólogo perguntava: "Por que não acontece nada por aqui?" No dia seguinte, Paris pegou fogo). De igual ainda, o sentimento difuso de insatisfação, que é cumulativo e não depende apenas de uma única motivação ou pretexto.
Vem vindo, vem vindo até que uma gota (ou alguns centavos) no pote até aqui de mágoa provoca o transbordamento. Os sinais emitidos nem sempre são captados, porque parecem desconectados, quando na verdade estão formando uma rede com poder de contágio. Só o governo talvez não tenha percebido que o fantasma da inflação, a corrupção desenfreada, a incerteza econômica, a alta no custo de vida, a queda de oito pontos na popularidade de Dilma, a vaia no estádio Mané Garrincha, tudo isso fazia parte do mesmo e crescente caldo de rejeição. Pelo menos uma lição de 68 não foi aprendida e assim não se evitou o incidente mais lamentável das manifestações do Rio: coquetéis molotov atirados contra a Alerj e carros incendiados na marcha dos 100 mil anteontem. Em julho de 68, na lendária Passeata dos 100 Mil, Vladimir Palmeira, o líder do movimento no Rio, convidou os participantes a se sentarem no chão, o que proporcionou a Nelson Rodrigues uma fina gozação. Segundo ele, médicos, poetas, atrizes, sacerdotes, todos obedeceram.
"A única que permaneceu de pé e assim ficou foi uma grã-fina, justamente a que lera as orelhas de Marcuse".
Muito tempo depois, Vladimir explicou o que pretendeu com o gesto: demonstrar as "intenções pacíficas da manifestação para a polícia e para alguns companheiros". Assim, os "porraloucas" desistiram de invadir rádios, como queriam, e os policiais não ousaram bater em pessoas sentadas no chão, inclusive freirinhas.
De semelhante entre os dois momentos, permanece a disposição estudantil que parecia anestesiada, como também naquela época (na França, um sociólogo perguntava: "Por que não acontece nada por aqui?" No dia seguinte, Paris pegou fogo). De igual ainda, o sentimento difuso de insatisfação, que é cumulativo e não depende apenas de uma única motivação ou pretexto.
Vem vindo, vem vindo até que uma gota (ou alguns centavos) no pote até aqui de mágoa provoca o transbordamento. Os sinais emitidos nem sempre são captados, porque parecem desconectados, quando na verdade estão formando uma rede com poder de contágio. Só o governo talvez não tenha percebido que o fantasma da inflação, a corrupção desenfreada, a incerteza econômica, a alta no custo de vida, a queda de oito pontos na popularidade de Dilma, a vaia no estádio Mané Garrincha, tudo isso fazia parte do mesmo e crescente caldo de rejeição. Pelo menos uma lição de 68 não foi aprendida e assim não se evitou o incidente mais lamentável das manifestações do Rio: coquetéis molotov atirados contra a Alerj e carros incendiados na marcha dos 100 mil anteontem. Em julho de 68, na lendária Passeata dos 100 Mil, Vladimir Palmeira, o líder do movimento no Rio, convidou os participantes a se sentarem no chão, o que proporcionou a Nelson Rodrigues uma fina gozação. Segundo ele, médicos, poetas, atrizes, sacerdotes, todos obedeceram.
"A única que permaneceu de pé e assim ficou foi uma grã-fina, justamente a que lera as orelhas de Marcuse".
Muito tempo depois, Vladimir explicou o que pretendeu com o gesto: demonstrar as "intenções pacíficas da manifestação para a polícia e para alguns companheiros". Assim, os "porraloucas" desistiram de invadir rádios, como queriam, e os policiais não ousaram bater em pessoas sentadas no chão, inclusive freirinhas.
A arte do impossível - MARCELO COELHO
FOLHA DE SP - 19/06
"Se vocês não nos deixam sonhar, nós não deixamos vocês dormir", dizia um cartaz na passeata
Havia cartazes sobre quase tudo, e bandeiras das mais variadas, na manifestação de anteontem em São Paulo. Por vezes, não passavam de uma folha de papel de tamanho um pouco maior, sem sinal de representar alguma luta coletiva.
Alguém simplesmente pegava o papel e escrevia o que pensava. "Não são os 20 centavos", dizia um cartaz. Com certeza.
O aumento das tarifas de ônibus, de 6,6%, estava no programa --e, conforme o ano que se tome como base, pode ser qualificado como inferior (ou não) aos índices inflacionários.
Não se reuniriam tantos milhares de pessoas, entre estudantes e gente de cabelo branco, entre garotões de classe alta e adolescentes da periferia, se a PM não tivesse dado o seu "show" de truculência na semana anterior.
Imagino que com a passeata se quis mostrar, acima de tudo, o espírito desarmado da grande maioria --e sua capacidade de fazer, como tantas vezes aconteceu no Brasil, protestos de massa com fraternidade e alegria.
Assim, algumas pessoas acompanharam a passeata com flores brancas nas mãos. A roupa branca, cujo uso se recomendara nas convocações, não chegou a constituir um sucesso. Na parede de um prédio, projetaram-se imagens de Gandhi.
Não foi, entretanto, apenas um protesto contra a violência policial, como não foi só contra o aumento dos ônibus. O governador Alckmin e o prefeito Haddad foram xingados à vontade, é claro. Mas havia outro espírito movendo aqueles milhares de pessoas.
"Se vocês não nos deixam sonhar, nós não deixamos vocês dormir", dizia um cartaz. Ideias desse tipo, com trocadilhos interessantes ou mesmo palavras de ordem genéricas, como a de que "o país acordou", brotavam de todos os lados, um pouco ao estilo de maio de 1968 na França.
Apareceram coisas díspares: cartazes com escritos em inglês ("ônibus free", algo assim) ao lado de bordões verde-amarelos antiquíssimos ("verás que um filho teu não foge à luta"). Pouco importa.
Quiseram as circunstâncias que PT e PSDB se equalizassem no repúdio dos manifestantes. O aumento do ônibus e a violência da PM tiveram um poder que, passe o trocadilho, valeria chamar de "alquímico".
Estava latente a sensação de que os dois grandes rivais da política brasileira se equivalem, cada qual com seus mensalões, sua tecnocracia paralisada, suas promessas cínicas, sua sensatez, seu realismo.
Para que tudo ficasse mais claro, Haddad e Alckmin estavam juntos em Paris. Todo prefeito sabe que, diga-se o que se disser, chega a hora de aumentar o ônibus. Todo governador sabe que, diga-se o que se disser, chega a hora de usar as balas de borracha.
Não me sai da cabeça a foto de Haddad selando, aos sorrisos, seu pacto com Paulo Maluf, na campanha eleitoral. Todos seguem a esfuziante frase com que Fernando Henrique sagrou seu pragmatismo: "A política é a arte do possível".
Pode ser, e tem de ser, a arte do impossível também. É isso o que milhares de manifestantes estavam mostrando na segunda-feira.
De alguma forma, vai-se esgotando a legitimidade de um pragmatismo, de um aliancismo, de um cinismo, de um petismo, de um peessedebismo que nada têm a oferecer em termos de valores e de ideais.
Por isso mesmo, "não são os vinte centavos" o que está em jogo. O pragmatismo que leva a tantas alianças políticas com a direita passa a ser contestado, principalmente pelos mais jovens. São aqueles que também dizem, na internet, que o pastor Feliciano não os representa.
Havia cartazes de cunho bastante "liberal" ou "neo-Fiesp" na passeata. Mensagens contra a corrupção e em defesa de um bom uso do "dinheiro dos meus impostos" eram comuns. De todos os cartazes, entretanto, o de que mais gostei estava sendo levado por uma moça e tinha linguagem chula. Dizia apenas: "Copa é o caralho".
Talvez seja uma boa síntese do momento. É que, a começar dos políticos do PT, vive-se numa espécie de comemoração permanente --o país está ótimo, vivemos um momento extraordinário, construímos estádios e todos estão felizes.
Abaixo a Copa do Mundo, talvez quisesse dizer a moça do cartaz: pelo menos, expressou sua impaciência diante da sorridente enganação geral. É esse sorriso, feito da insensibilidade, do cinismo e do oportunismo de décadas, que a passeata pretende tirar do rosto dos governantes.
"Se vocês não nos deixam sonhar, nós não deixamos vocês dormir", dizia um cartaz na passeata
Havia cartazes sobre quase tudo, e bandeiras das mais variadas, na manifestação de anteontem em São Paulo. Por vezes, não passavam de uma folha de papel de tamanho um pouco maior, sem sinal de representar alguma luta coletiva.
Alguém simplesmente pegava o papel e escrevia o que pensava. "Não são os 20 centavos", dizia um cartaz. Com certeza.
O aumento das tarifas de ônibus, de 6,6%, estava no programa --e, conforme o ano que se tome como base, pode ser qualificado como inferior (ou não) aos índices inflacionários.
Não se reuniriam tantos milhares de pessoas, entre estudantes e gente de cabelo branco, entre garotões de classe alta e adolescentes da periferia, se a PM não tivesse dado o seu "show" de truculência na semana anterior.
Imagino que com a passeata se quis mostrar, acima de tudo, o espírito desarmado da grande maioria --e sua capacidade de fazer, como tantas vezes aconteceu no Brasil, protestos de massa com fraternidade e alegria.
Assim, algumas pessoas acompanharam a passeata com flores brancas nas mãos. A roupa branca, cujo uso se recomendara nas convocações, não chegou a constituir um sucesso. Na parede de um prédio, projetaram-se imagens de Gandhi.
Não foi, entretanto, apenas um protesto contra a violência policial, como não foi só contra o aumento dos ônibus. O governador Alckmin e o prefeito Haddad foram xingados à vontade, é claro. Mas havia outro espírito movendo aqueles milhares de pessoas.
"Se vocês não nos deixam sonhar, nós não deixamos vocês dormir", dizia um cartaz. Ideias desse tipo, com trocadilhos interessantes ou mesmo palavras de ordem genéricas, como a de que "o país acordou", brotavam de todos os lados, um pouco ao estilo de maio de 1968 na França.
Apareceram coisas díspares: cartazes com escritos em inglês ("ônibus free", algo assim) ao lado de bordões verde-amarelos antiquíssimos ("verás que um filho teu não foge à luta"). Pouco importa.
Quiseram as circunstâncias que PT e PSDB se equalizassem no repúdio dos manifestantes. O aumento do ônibus e a violência da PM tiveram um poder que, passe o trocadilho, valeria chamar de "alquímico".
Estava latente a sensação de que os dois grandes rivais da política brasileira se equivalem, cada qual com seus mensalões, sua tecnocracia paralisada, suas promessas cínicas, sua sensatez, seu realismo.
Para que tudo ficasse mais claro, Haddad e Alckmin estavam juntos em Paris. Todo prefeito sabe que, diga-se o que se disser, chega a hora de aumentar o ônibus. Todo governador sabe que, diga-se o que se disser, chega a hora de usar as balas de borracha.
Não me sai da cabeça a foto de Haddad selando, aos sorrisos, seu pacto com Paulo Maluf, na campanha eleitoral. Todos seguem a esfuziante frase com que Fernando Henrique sagrou seu pragmatismo: "A política é a arte do possível".
Pode ser, e tem de ser, a arte do impossível também. É isso o que milhares de manifestantes estavam mostrando na segunda-feira.
De alguma forma, vai-se esgotando a legitimidade de um pragmatismo, de um aliancismo, de um cinismo, de um petismo, de um peessedebismo que nada têm a oferecer em termos de valores e de ideais.
Por isso mesmo, "não são os vinte centavos" o que está em jogo. O pragmatismo que leva a tantas alianças políticas com a direita passa a ser contestado, principalmente pelos mais jovens. São aqueles que também dizem, na internet, que o pastor Feliciano não os representa.
Havia cartazes de cunho bastante "liberal" ou "neo-Fiesp" na passeata. Mensagens contra a corrupção e em defesa de um bom uso do "dinheiro dos meus impostos" eram comuns. De todos os cartazes, entretanto, o de que mais gostei estava sendo levado por uma moça e tinha linguagem chula. Dizia apenas: "Copa é o caralho".
Talvez seja uma boa síntese do momento. É que, a começar dos políticos do PT, vive-se numa espécie de comemoração permanente --o país está ótimo, vivemos um momento extraordinário, construímos estádios e todos estão felizes.
Abaixo a Copa do Mundo, talvez quisesse dizer a moça do cartaz: pelo menos, expressou sua impaciência diante da sorridente enganação geral. É esse sorriso, feito da insensibilidade, do cinismo e do oportunismo de décadas, que a passeata pretende tirar do rosto dos governantes.
Ueba! 20 centavos saiu caro! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 19/06
E a melhor cena de todas as manifestações: o povo subiu nos penicos do Congresso!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Protestos!
Os R$ 0,20 mais caros da história do Brasil. Os 20 centavos saíram caro! Rarará!
Eu tava na Paulista. Todos os partidos dançaram. TODOS!
E o Celso Atayde: "Esse é o movimento mais doido do mundo! Não é contra ninguém em particular e é a favor de todo mundo que não é Estado".
E não adianta querer explicar as manifestações! O Brasil é emocional! E a melhor cena de todas as manifestações: o povo subiu nos penicos do Congresso! Ueba!
E o cartaz mais hilário: "Não gosto de bala de borracha! Joga um Halls". E este cartaz: "Liberté! Fraternité! Vinagré". Rarará!
E o melhor cartaz: "Fifa Go Home!". O povo tá com ódio dessa Fifa. Com o seu estilo "Faça Isso, Faça Aquilo!".
E aí um palmeirense entrou no Twitter e postou: "Não é pelos 20 centavos, é pelos R$ 500 mil que o Valdivia ganha e não joga". Rarará! Sobrou pro Valdivia!
E esta: "Ministro da Dilma diz que ainda não entendeu os protestos". Quer que eu desenhe? Um gatinho no telhado? Rarará!
E esse senador Álvaro Dias dando declarações na rádio Jovem Pan, se aproveitando das manifestações? Oportunista! Fora todos os partidos!
Não entenderam ainda? A oposição agora somos nós! O povo do protesto!
E Minas? A manifestação teve mais público que Taiti X Nigéria! E os manifestantes apanharam mais que o Taiti!
E a polícia do Alckmin? Uma lady!
E eu vou mudar o nome do meu Partido da Genitália Nacional pra Protesto da Genitália Nacional. Com o slogan: "Chega de hipocrisia. Sexo de noite! E sexo de dia!". Ops, protesto de noite, protesto de dia! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico!
Olha aqui um lugar sensacional pra repor as forças pras manifestações: Churrascaria Bicho Grosso! Rarará! Na churrascaria Bicho Grosso não tem carpaccio! O bicho é grosso.
Aliás, na próxima manifestação eu vou levar este cartaz: "O BICHO É GROSSO!". Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E a melhor cena de todas as manifestações: o povo subiu nos penicos do Congresso!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Protestos!
Os R$ 0,20 mais caros da história do Brasil. Os 20 centavos saíram caro! Rarará!
Eu tava na Paulista. Todos os partidos dançaram. TODOS!
E o Celso Atayde: "Esse é o movimento mais doido do mundo! Não é contra ninguém em particular e é a favor de todo mundo que não é Estado".
E não adianta querer explicar as manifestações! O Brasil é emocional! E a melhor cena de todas as manifestações: o povo subiu nos penicos do Congresso! Ueba!
E o cartaz mais hilário: "Não gosto de bala de borracha! Joga um Halls". E este cartaz: "Liberté! Fraternité! Vinagré". Rarará!
E o melhor cartaz: "Fifa Go Home!". O povo tá com ódio dessa Fifa. Com o seu estilo "Faça Isso, Faça Aquilo!".
E aí um palmeirense entrou no Twitter e postou: "Não é pelos 20 centavos, é pelos R$ 500 mil que o Valdivia ganha e não joga". Rarará! Sobrou pro Valdivia!
E esta: "Ministro da Dilma diz que ainda não entendeu os protestos". Quer que eu desenhe? Um gatinho no telhado? Rarará!
E esse senador Álvaro Dias dando declarações na rádio Jovem Pan, se aproveitando das manifestações? Oportunista! Fora todos os partidos!
Não entenderam ainda? A oposição agora somos nós! O povo do protesto!
E Minas? A manifestação teve mais público que Taiti X Nigéria! E os manifestantes apanharam mais que o Taiti!
E a polícia do Alckmin? Uma lady!
E eu vou mudar o nome do meu Partido da Genitália Nacional pra Protesto da Genitália Nacional. Com o slogan: "Chega de hipocrisia. Sexo de noite! E sexo de dia!". Ops, protesto de noite, protesto de dia! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico!
Olha aqui um lugar sensacional pra repor as forças pras manifestações: Churrascaria Bicho Grosso! Rarará! Na churrascaria Bicho Grosso não tem carpaccio! O bicho é grosso.
Aliás, na próxima manifestação eu vou levar este cartaz: "O BICHO É GROSSO!". Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Revolta e futebol - ROBERTO DAMATTA
O Estado de S.Paulo - 19/06
Foi uma semana marcada por revoltas e conflitos. Os embates vão das disputas em aberto das terras terenas pelos fazendeiros; a uma surpreendente onda de tumultos urbanos motivada pela total inércia dos governantes diante do caos que todos vivemos nas cidades brasileiras, sem transporte urbano, com um nível de criminalidade que tangencia o da guerra civil e pela impossibilidade de usar o automóvel por falta de espaço e educação cívica.
A revolta contrasta com o futebol - esse conflito aberto, mas com tempo, espaço e regras explícitas. A revolta causa prejuízo e mal-estar. O pé na bola é uma fábrica de dinheiro e, entre nós, de toda uma afirmação do mundo. Afinal, o que é melhor: ser cinco vezes campeão do mundo ou ter inventado (usado) a bomba atômica?
Tanto o interior quanto o litoral ressuscitam conflitos reprimidos a exigir justiça, eficiência e honestidade públicas. Justiça para os usuários pagadores de impostos e dependentes de transporte público e para os chamados "índios", cujas terras foram reconhecidas e demarcadas para depois serem - eis o absurdo - "desreconhecidas". Aqui, estamos diante de uma nova figura legal que simboliza o neoindigenismo do governo Dilma. Ao lado de um pró-capitalismo que distribui empréstimos e concessões aos companheiros, surge um aviltante anti-indigenismo em contramão ao legado de Rondon, de Darcy Ribeiro, dos Villas-Boas, de Noel Nutels, e de todos quantos têm alguma preocupação com a responsabilidade para com essas humanidades que, por acaso, estão dentro do nosso território. Os antropólogos foram colocados sob suspeita. Seus laudos periciais vistos como bons demais para os indígenas. A Funai foi desmontada. Nunca antes na história desse país a questão indígena foi solucionada com tanto desembaraço. Agora, ela será administrada por um "conselho" - esse formato administrativo que desde Dom João Charuto é usado para nada resolver.
Ao lado desse conflito, testemunhamos demonstrações de violência urbana que nos tiram do prumo. Para quem viu a chamada revolta das barcas, na Niterói de 1959 - um protesto que levou a multidão a incendiar a residência dos donos da empresa, deixando um saldo de 6 mortos, 118 feridos e um belo estudo sociológico realizado por Edson Nunes, a memória não pode deixar de anotar como o estar entre a casa e a rua é um momento sensibilizador do mistério chamado de "multidão" ou de "turba", cuja conduta seria violenta e irracional.
A revolta deflagrada pelo transporte público não é nova no Brasil. Ela remonta à Revolta do Vintém, de 1880, cujo motivo foi o aumento das passagens dos bondes. A ausência de um serviço público decente na rua na hora de ir ou voltar do trabalho é uma constante. A Banda, a marchinha extraordinária de Chico Buarque de Holanda, exprime bem o processo. A banda passa e vai arregimentando quem ouve ou é contaminado pela sua melodia. Eis um ponto de partida para compreender como o protesto termina em revolta porque a densidade dos gestos corresponde à ausência de ação dos governantes que não são mais distinguíveis por partido ou por atitudes. A violência que, igualada na sua irracionalidade, é da mesma ordem de um espaço público que ficou entregue por décadas ao Deus dará da nossa passividade.
Ninguém pode determinar com precisão o motivo dessas manifestações. Mas todos temos consciência de suas intenções e de suas ultrapassagens do bom senso, graças à participação decisiva das forças policiais - esse ator imprescindível para criar a moldura final do drama. Numa sociedade democrática, protestar é rotina e fomos para a rua com essa intenção. Tudo ia muito bem até que surgiu a polícia que veio deturpar o nosso pacifismo e mudar as nossas intenções. A polícia, por seu turno, nega a intenção do confronto. Cumpria o seu dever, mas os mais exaltados impediam qualquer ato pacífico. Como, pergunta o cidadão disposto a aceitar tudo, sair desse enredo?
Dizem que há inflação e superfaturamento, inclusive nos estádios de futebol. Há boatos "o bicho vai pegar". Alguns bruxos dizem que as fórmulas milenaristas se esgotaram. Não há mais quem possa fazer por nós, exceto nós mesmos. Todos os políticos ficaram iguais no seu narcisismo e na sua surdez.
Em meio a tudo isso, ocorrem torneios futebolísticos mundiais. Vencemos o primeiro jogo da primeira Copa global, a das Confederações. Mas, vejam bem o sintoma: vaiaram os presidentes da Fifa a da República. Há esperança, diz o meu lado otimista; deixa pra lá, diz-me a voz que conversa com um velho amigo escocês.
Foi uma semana marcada por revoltas e conflitos. Os embates vão das disputas em aberto das terras terenas pelos fazendeiros; a uma surpreendente onda de tumultos urbanos motivada pela total inércia dos governantes diante do caos que todos vivemos nas cidades brasileiras, sem transporte urbano, com um nível de criminalidade que tangencia o da guerra civil e pela impossibilidade de usar o automóvel por falta de espaço e educação cívica.
A revolta contrasta com o futebol - esse conflito aberto, mas com tempo, espaço e regras explícitas. A revolta causa prejuízo e mal-estar. O pé na bola é uma fábrica de dinheiro e, entre nós, de toda uma afirmação do mundo. Afinal, o que é melhor: ser cinco vezes campeão do mundo ou ter inventado (usado) a bomba atômica?
Tanto o interior quanto o litoral ressuscitam conflitos reprimidos a exigir justiça, eficiência e honestidade públicas. Justiça para os usuários pagadores de impostos e dependentes de transporte público e para os chamados "índios", cujas terras foram reconhecidas e demarcadas para depois serem - eis o absurdo - "desreconhecidas". Aqui, estamos diante de uma nova figura legal que simboliza o neoindigenismo do governo Dilma. Ao lado de um pró-capitalismo que distribui empréstimos e concessões aos companheiros, surge um aviltante anti-indigenismo em contramão ao legado de Rondon, de Darcy Ribeiro, dos Villas-Boas, de Noel Nutels, e de todos quantos têm alguma preocupação com a responsabilidade para com essas humanidades que, por acaso, estão dentro do nosso território. Os antropólogos foram colocados sob suspeita. Seus laudos periciais vistos como bons demais para os indígenas. A Funai foi desmontada. Nunca antes na história desse país a questão indígena foi solucionada com tanto desembaraço. Agora, ela será administrada por um "conselho" - esse formato administrativo que desde Dom João Charuto é usado para nada resolver.
Ao lado desse conflito, testemunhamos demonstrações de violência urbana que nos tiram do prumo. Para quem viu a chamada revolta das barcas, na Niterói de 1959 - um protesto que levou a multidão a incendiar a residência dos donos da empresa, deixando um saldo de 6 mortos, 118 feridos e um belo estudo sociológico realizado por Edson Nunes, a memória não pode deixar de anotar como o estar entre a casa e a rua é um momento sensibilizador do mistério chamado de "multidão" ou de "turba", cuja conduta seria violenta e irracional.
A revolta deflagrada pelo transporte público não é nova no Brasil. Ela remonta à Revolta do Vintém, de 1880, cujo motivo foi o aumento das passagens dos bondes. A ausência de um serviço público decente na rua na hora de ir ou voltar do trabalho é uma constante. A Banda, a marchinha extraordinária de Chico Buarque de Holanda, exprime bem o processo. A banda passa e vai arregimentando quem ouve ou é contaminado pela sua melodia. Eis um ponto de partida para compreender como o protesto termina em revolta porque a densidade dos gestos corresponde à ausência de ação dos governantes que não são mais distinguíveis por partido ou por atitudes. A violência que, igualada na sua irracionalidade, é da mesma ordem de um espaço público que ficou entregue por décadas ao Deus dará da nossa passividade.
Ninguém pode determinar com precisão o motivo dessas manifestações. Mas todos temos consciência de suas intenções e de suas ultrapassagens do bom senso, graças à participação decisiva das forças policiais - esse ator imprescindível para criar a moldura final do drama. Numa sociedade democrática, protestar é rotina e fomos para a rua com essa intenção. Tudo ia muito bem até que surgiu a polícia que veio deturpar o nosso pacifismo e mudar as nossas intenções. A polícia, por seu turno, nega a intenção do confronto. Cumpria o seu dever, mas os mais exaltados impediam qualquer ato pacífico. Como, pergunta o cidadão disposto a aceitar tudo, sair desse enredo?
Dizem que há inflação e superfaturamento, inclusive nos estádios de futebol. Há boatos "o bicho vai pegar". Alguns bruxos dizem que as fórmulas milenaristas se esgotaram. Não há mais quem possa fazer por nós, exceto nós mesmos. Todos os políticos ficaram iguais no seu narcisismo e na sua surdez.
Em meio a tudo isso, ocorrem torneios futebolísticos mundiais. Vencemos o primeiro jogo da primeira Copa global, a das Confederações. Mas, vejam bem o sintoma: vaiaram os presidentes da Fifa a da República. Há esperança, diz o meu lado otimista; deixa pra lá, diz-me a voz que conversa com um velho amigo escocês.
Jeitos diferentes de jogar - TOSTÃO
FOLHA DE SP - 19/06
Uma jovem, participante dos protestos, disse que trocaria a vitória, no primeiro jogo, pelo sistema educacional do Japão. Eu também.
Enquanto o Japão está no 12º lugar no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o Brasil ocupa a 84ª posição. O México, rival de hoje, tido como um país muito parecido com o nosso, está na 57ª.
O México costuma jogar bem contra o time brasileiro. Nos dez últimos jogos, foram cinco vitórias do México, três derrotas e dois empates. Segundo o chavão futebolístico, o jogo do México encaixaria bem com o do Brasil.
Não enxergo motivo técnico para isso. Deve ser algo psicológico. Os jogadores são facilmente influenciáveis por atos de repetição. Hoje, o Brasil está melhor.
O México deve atuar com duas linhas de quatro, recuadas. Será importante a marcação por pressão, para tomar a bola, quando a defesa estiver desprotegida. A seleção brasileira tem feito bem isso. Tenho muito mais receio dos times que pressionam o Brasil no meio-campo.
Continuo o assunto sobre as dificuldades da passagem da bola, sem chutões, da defesa para o ataque, do time brasileiro. Critico isso há muito tempo. Sei que não dá para jogar como a Espanha.
Não temos craques no meio-campo, nem é mais, há muito tempo, nossa característica. O estilo brasileiro é de lançamentos longos e de jogadas individuais e de velocidade.
Com Dunga, também era assim. Felipão já disse que não gosta de ver o Barcelona jogar. Muitos pensam da mesma forma.
É preciso separar os lançamentos longos dos zagueiros, para tentar colocar a bola nas costas dos defensores, como David Luiz e Thiago Silva tentam fazer, o que pode dar certo, dos lançamentos ou chutões, para se livrar da bola e contar com a sorte. Às vezes, também funciona.
Luiz Gustavo e Paulinho jogam muito separados, e os dois ficam longe dos três meias. Deveriam se aproximar mais, para trocar passes. Além disso, como Oscar joga mais pelos lados, falta um meia de ligação.
Prefiro, em tese, dependendo da qualidade e das características dos jogadores, atuar com três no meio-campo (dois que marcam e avançam como meias) a ter dois volantes só para marcar e um meia só para criar.
Com três no meio-campo, melhora a saída de bola da defesa, e o time ataca e defende com mais jogadores. Espanha e Itália jogam com três no meio-campo.
Cada equipe tem de encontrar seu jeito de atuar. Mais importante que o tipo de estratégia é a execução bem feita do que foi ensaiado e planejado.
Uma jovem, participante dos protestos, disse que trocaria a vitória, no primeiro jogo, pelo sistema educacional do Japão. Eu também.
Enquanto o Japão está no 12º lugar no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o Brasil ocupa a 84ª posição. O México, rival de hoje, tido como um país muito parecido com o nosso, está na 57ª.
O México costuma jogar bem contra o time brasileiro. Nos dez últimos jogos, foram cinco vitórias do México, três derrotas e dois empates. Segundo o chavão futebolístico, o jogo do México encaixaria bem com o do Brasil.
Não enxergo motivo técnico para isso. Deve ser algo psicológico. Os jogadores são facilmente influenciáveis por atos de repetição. Hoje, o Brasil está melhor.
O México deve atuar com duas linhas de quatro, recuadas. Será importante a marcação por pressão, para tomar a bola, quando a defesa estiver desprotegida. A seleção brasileira tem feito bem isso. Tenho muito mais receio dos times que pressionam o Brasil no meio-campo.
Continuo o assunto sobre as dificuldades da passagem da bola, sem chutões, da defesa para o ataque, do time brasileiro. Critico isso há muito tempo. Sei que não dá para jogar como a Espanha.
Não temos craques no meio-campo, nem é mais, há muito tempo, nossa característica. O estilo brasileiro é de lançamentos longos e de jogadas individuais e de velocidade.
Com Dunga, também era assim. Felipão já disse que não gosta de ver o Barcelona jogar. Muitos pensam da mesma forma.
É preciso separar os lançamentos longos dos zagueiros, para tentar colocar a bola nas costas dos defensores, como David Luiz e Thiago Silva tentam fazer, o que pode dar certo, dos lançamentos ou chutões, para se livrar da bola e contar com a sorte. Às vezes, também funciona.
Luiz Gustavo e Paulinho jogam muito separados, e os dois ficam longe dos três meias. Deveriam se aproximar mais, para trocar passes. Além disso, como Oscar joga mais pelos lados, falta um meia de ligação.
Prefiro, em tese, dependendo da qualidade e das características dos jogadores, atuar com três no meio-campo (dois que marcam e avançam como meias) a ter dois volantes só para marcar e um meia só para criar.
Com três no meio-campo, melhora a saída de bola da defesa, e o time ataca e defende com mais jogadores. Espanha e Itália jogam com três no meio-campo.
Cada equipe tem de encontrar seu jeito de atuar. Mais importante que o tipo de estratégia é a execução bem feita do que foi ensaiado e planejado.
PEIXE FORA D'ÁGUA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 19/06
Enquanto a seleção brasileira se concentrava para a estreia na Copa das Confederações, no último sábado, Ronaldinho Gaúcho fazia uma campanha de moda.
O jogador do Atlético-MG posou para fotos para a marca italiana de camisetas e acessórios Fiveblu, num casarão na zona sul de São Paulo, na sexta-feira.
Estava preocupado com o trânsito --mais intenso por causa das manifestações contra o aumento da passagem de ônibus--, pois viajaria para Porto Alegre.
Frustrado pela não convocação, Gaúcho disse à coluna que não assistirá aos jogos da competição.
Você vai assistir aos jogos da Copa das Confederações?
Não, não vou ver. Não costumo assistir aos jogos. Gosto de ver os melhores momentos, os gols, mas não gosto de assistir a um jogo inteiro.
Não vai ver porque não foi convocado?
Nunca assisto mesmo. Nem do meu clube nem da seleção. Gosto de jogar. Assistir não é muito comigo.
Como recebeu a notícia de que estava fora da competição?
Esperava ser convocado. Mas aconteceu dessa forma e estou torcendo para que as coisas lá aconteçam bem. Meus amigos estão todos lá. Tive a felicidade de vencer com o Felipão, com o [Carlos Alberto] Parreira. Conquistei títulos. Vou torcer muito.
Ficou magoado?
Não, de forma nenhuma. Meu relacionamento com o Felipão é maravilhoso.
Espera ser convocado para a Copa do Mundo de 2014?
Falta muito tempo ainda. Estou indo pouco a pouco, um passo de cada vez. Ainda tem seis meses de competições importantes pelo Atlético [MG]. Até dezembro vou trabalhar, depois vejo o que vai acontecer.
É diferente o assédio dos torcedores de Minas Gerais em relação ao do Rio?
Não estou estranhando muito porque lembra Porto Alegre. Assim como Porto Alegre, Belo Horizonte é uma cidade carente de ídolos. É diferente do Rio, que tem ator, artista, e de São Paulo, que está acostumado com gente conhecida.
E o assédio feminino?
Maravilhoso [risos]! Uma cidade que tem muitas mulheres bonitas, em todo lugar que tu passa. Muita mulher bonita... Mas é um povo muito educado e carinhoso.
Você está numa fase mais ou menos baladeira?
Igual a sempre [risos]. Quando tenho meu tempo de folga, sou uma pessoa igual a qualquer outra, que gosta de ter uma vida normal. Tudo que tu faz no momento certo, não tem problema nenhum.
Tem acompanhado as manifestações contra o aumento da passagem de ônibus que estão ocorrendo pelo Brasil?
Estou jogando a cada dois dias, não dá tempo para acompanhar muita coisa. Vejo na TV, pego trânsito, entro na internet para ver o que é. É difícil. Todo mundo está manifestando, não é à toa.
Sente-se mais confortável no campo ou como modelo?
No campo! Bem mais, no campo! Aqui [no estúdio], sou um peixe fora d'água.
CHAMA O LULA
As principais centrais sindicais do país devem se reunir nas próximas horas com Lula. A reunião será no instituto que leva o nome do ex-presidente, em SP.
DISCRETO
Dirigentes das centrais e integrantes do próprio Instituto Lula preferiam que a reunião se realizasse em sigilo. Temem a interpretação de que estão querendo falar mal da presidente Dilma Rousseff ou conversar sobre os protestos que varrem o país.
EM GRUPO
São aguardados Vagner Freitas, presidente da CUT, Wagner Gomes, da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), José Calixto Ramos, da Nova Central, e também representantes da Força Sindical.
NADA A VER
Circula nas redes sociais mensagem atribuída a Jô Soares em apoio às manifestações que tomaram as principais capitais do país. Em uma delas, o apresentador sugeriria que "um bom protesto sem vandalismo seria todo o estádio no próximo jogo do Brasil cantar o hino nacional de costas", levantando cartazes com frases como "esse protesto não é contra a seleção, mas sim contra a nossa corrupção".
NADA A VER 2
Jô Soares esclarece: não tem Twitter, Facebook nem Instagram. Ou seja, a mensagem não tem nada a ver com ele. "É tudo mentira. Alguns textos me colocam a favor, outros contra as manifestações", diz.
O apresentador é "a favor dos protestos".
EM DOIS
A equipe do prefeito Fernando Haddad (PT-SP) rachou em relação à reação que ele deveria ter quando as passeatas pelo passe livre começaram. Uma parte, seguida pelos irmãos Tatto e até pelo grupo da vice-prefeita, Nádia Campeão (PCdoB-SP), apoiava o endurecimento, julgando que o movimento estava sendo "instrumentalizado pela direita". A "ala jovem" e secretários mais ligados ao próprio Haddad chiaram. Ele acabou seguindo o primeiro grupo, para depois voltar atrás.
IMAGINA NA COPA
O Ministério do Turismo encomendou uma pesquisa para a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) nos estádios, arredores e aeroportos durante a Copa das Confederações. A ideia é que 20 mil pessoas sejam entrevistadas para a pasta saber o perfil do turista que circula no evento que é teste para a Copa do Mundo de 2014, no país. Os dados sairão em setembro.
CORES NEUTRAS
A cantora Diana Ross chega ao Brasil na próxima semana para shows em São Paulo, Rio e Curitiba. Para seu camarim, a cantora pediu paredes brancas e muita luz, móveis claros sem couro e espelhos grandes com iluminação lateral no "estilo Broadway". Ela também terá um chef particular durante sua estada no país.
NEVE
A Secretaria Municipal de Segurança Urbana de SP arrecadou 6.500 peças para a Campanha do Agasalho.
NOITE DAS PODEROSAS
Empresárias e personalidades participaram da abertura do Women's Forum no Brasil, anteontem, no hotel Grand Hyatt. Vanessa Vilela, da Kapeh Cosméticos, e Beth Brooke, vice-presidente da Ernst & Young, compareceram.
BALADÃO
Os atores Thaila Ayala, Sergio Marone e Giovanna Lancellotti foram ao Skol Sensation, no sábado, no Anhembi. João Castro Neves, presidente da Ambev, também participou da festa.
CURTO-CIRCUITO
A Mônica Filgueiras Galeria abre a exposição "Registros", de Marcia Kikuchi, às 19h, na Consolação.
Damien Loras, cônsul da França, faz festa para chefs às 19h, no Jardim Europa.
José Horácio Ribeiro, presidente do Instituto dos Advogados de SP, participa de eventos na Itália e em Portugal nesta semana.
Gabriel Valim, cantor do hit "Piradinha", faz show às 22h30, na Villa Mix, na Vila Olímpia. 18 anos.
A mostra "Khalil Gibran 130 Anos", considerada a melhor já feita sobre o libanês, termina domingo, no Memorial da América Latina. Entrada grátis.
O jogador do Atlético-MG posou para fotos para a marca italiana de camisetas e acessórios Fiveblu, num casarão na zona sul de São Paulo, na sexta-feira.
Estava preocupado com o trânsito --mais intenso por causa das manifestações contra o aumento da passagem de ônibus--, pois viajaria para Porto Alegre.
Frustrado pela não convocação, Gaúcho disse à coluna que não assistirá aos jogos da competição.
Você vai assistir aos jogos da Copa das Confederações?
Não, não vou ver. Não costumo assistir aos jogos. Gosto de ver os melhores momentos, os gols, mas não gosto de assistir a um jogo inteiro.
Não vai ver porque não foi convocado?
Nunca assisto mesmo. Nem do meu clube nem da seleção. Gosto de jogar. Assistir não é muito comigo.
Como recebeu a notícia de que estava fora da competição?
Esperava ser convocado. Mas aconteceu dessa forma e estou torcendo para que as coisas lá aconteçam bem. Meus amigos estão todos lá. Tive a felicidade de vencer com o Felipão, com o [Carlos Alberto] Parreira. Conquistei títulos. Vou torcer muito.
Ficou magoado?
Não, de forma nenhuma. Meu relacionamento com o Felipão é maravilhoso.
Espera ser convocado para a Copa do Mundo de 2014?
Falta muito tempo ainda. Estou indo pouco a pouco, um passo de cada vez. Ainda tem seis meses de competições importantes pelo Atlético [MG]. Até dezembro vou trabalhar, depois vejo o que vai acontecer.
É diferente o assédio dos torcedores de Minas Gerais em relação ao do Rio?
Não estou estranhando muito porque lembra Porto Alegre. Assim como Porto Alegre, Belo Horizonte é uma cidade carente de ídolos. É diferente do Rio, que tem ator, artista, e de São Paulo, que está acostumado com gente conhecida.
E o assédio feminino?
Maravilhoso [risos]! Uma cidade que tem muitas mulheres bonitas, em todo lugar que tu passa. Muita mulher bonita... Mas é um povo muito educado e carinhoso.
Você está numa fase mais ou menos baladeira?
Igual a sempre [risos]. Quando tenho meu tempo de folga, sou uma pessoa igual a qualquer outra, que gosta de ter uma vida normal. Tudo que tu faz no momento certo, não tem problema nenhum.
Tem acompanhado as manifestações contra o aumento da passagem de ônibus que estão ocorrendo pelo Brasil?
Estou jogando a cada dois dias, não dá tempo para acompanhar muita coisa. Vejo na TV, pego trânsito, entro na internet para ver o que é. É difícil. Todo mundo está manifestando, não é à toa.
Sente-se mais confortável no campo ou como modelo?
No campo! Bem mais, no campo! Aqui [no estúdio], sou um peixe fora d'água.
CHAMA O LULA
As principais centrais sindicais do país devem se reunir nas próximas horas com Lula. A reunião será no instituto que leva o nome do ex-presidente, em SP.
DISCRETO
Dirigentes das centrais e integrantes do próprio Instituto Lula preferiam que a reunião se realizasse em sigilo. Temem a interpretação de que estão querendo falar mal da presidente Dilma Rousseff ou conversar sobre os protestos que varrem o país.
EM GRUPO
São aguardados Vagner Freitas, presidente da CUT, Wagner Gomes, da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), José Calixto Ramos, da Nova Central, e também representantes da Força Sindical.
NADA A VER
Circula nas redes sociais mensagem atribuída a Jô Soares em apoio às manifestações que tomaram as principais capitais do país. Em uma delas, o apresentador sugeriria que "um bom protesto sem vandalismo seria todo o estádio no próximo jogo do Brasil cantar o hino nacional de costas", levantando cartazes com frases como "esse protesto não é contra a seleção, mas sim contra a nossa corrupção".
NADA A VER 2
Jô Soares esclarece: não tem Twitter, Facebook nem Instagram. Ou seja, a mensagem não tem nada a ver com ele. "É tudo mentira. Alguns textos me colocam a favor, outros contra as manifestações", diz.
O apresentador é "a favor dos protestos".
EM DOIS
A equipe do prefeito Fernando Haddad (PT-SP) rachou em relação à reação que ele deveria ter quando as passeatas pelo passe livre começaram. Uma parte, seguida pelos irmãos Tatto e até pelo grupo da vice-prefeita, Nádia Campeão (PCdoB-SP), apoiava o endurecimento, julgando que o movimento estava sendo "instrumentalizado pela direita". A "ala jovem" e secretários mais ligados ao próprio Haddad chiaram. Ele acabou seguindo o primeiro grupo, para depois voltar atrás.
IMAGINA NA COPA
O Ministério do Turismo encomendou uma pesquisa para a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) nos estádios, arredores e aeroportos durante a Copa das Confederações. A ideia é que 20 mil pessoas sejam entrevistadas para a pasta saber o perfil do turista que circula no evento que é teste para a Copa do Mundo de 2014, no país. Os dados sairão em setembro.
CORES NEUTRAS
A cantora Diana Ross chega ao Brasil na próxima semana para shows em São Paulo, Rio e Curitiba. Para seu camarim, a cantora pediu paredes brancas e muita luz, móveis claros sem couro e espelhos grandes com iluminação lateral no "estilo Broadway". Ela também terá um chef particular durante sua estada no país.
NEVE
A Secretaria Municipal de Segurança Urbana de SP arrecadou 6.500 peças para a Campanha do Agasalho.
NOITE DAS PODEROSAS
Empresárias e personalidades participaram da abertura do Women's Forum no Brasil, anteontem, no hotel Grand Hyatt. Vanessa Vilela, da Kapeh Cosméticos, e Beth Brooke, vice-presidente da Ernst & Young, compareceram.
BALADÃO
Os atores Thaila Ayala, Sergio Marone e Giovanna Lancellotti foram ao Skol Sensation, no sábado, no Anhembi. João Castro Neves, presidente da Ambev, também participou da festa.
CURTO-CIRCUITO
A Mônica Filgueiras Galeria abre a exposição "Registros", de Marcia Kikuchi, às 19h, na Consolação.
Damien Loras, cônsul da França, faz festa para chefs às 19h, no Jardim Europa.
José Horácio Ribeiro, presidente do Instituto dos Advogados de SP, participa de eventos na Itália e em Portugal nesta semana.
Gabriel Valim, cantor do hit "Piradinha", faz show às 22h30, na Villa Mix, na Vila Olímpia. 18 anos.
A mostra "Khalil Gibran 130 Anos", considerada a melhor já feita sobre o libanês, termina domingo, no Memorial da América Latina. Entrada grátis.
Uma chance para mostrar a liderança - SHEPARD FORMAN
O GLOBO - 19/06
O Brasil, como líder do grupo preocupado com a construção de paz em Guiné-Bissau, tem uma oportunidade nos próximos dias de influenciar os debates no Conselho de Segurança sobre a nova missão da ONU neste momento critico na triste história daquele país. Se o Conselho não aprovar uma missão robusta que poderia ajudar a Guiné-Bissau a transformar-se em estado legitimo e responsável, há grande risco que cairá numa síndrome permanente de estado falido, cujos lideres se enriquecem no tráfico de drogas e armas em vez da atuarem na construção de um país com instituições democráticas, prestação de serviços básicos ao seu povo, e oportunidades de parcerias econômicas com países vizinhos e lusófonos..
Voltei há pouco da Guiné-Bissau. Fui lá a pedido de José Ramos Horta, Prêmio Nobel da paz, ex-presidente do Timor-Leste, e agora representante especial do secretário-geral da ONU para o país. Ramos Horta assumiu uma tarefa complicada: reorganizar a missão da ONU e mobilizar as parcerias bilaterais, inclusive com o Brasil, para impulsionar o governo de transição e os militares para a a construção do estado constitucional.
A escolha do Ramos Horta, que com os líderes de Resistência Timorense levou o Timor Leste à independência, é acertada e comovente. Com muita ajuda internacional, inclusive do Brasil, os timorenses estão hoje construindo um estado democrático, abrindo os caminhos para o povo sair da pobreza e desfrutar de direitos negados durante séculos de colonialismo português e duas décadas de ocupação indonésia. Além da inspiração que Timor-Leste oferece, Ramos-Horta trouxe aos guineenses a promessa de US$ 2 milhões do povo timorense para projetos de desenvolvimento comunitário! O que foi realizado em Timor Leste também pode ser feito em Guine- Bissau. Com um mandato sério e bem estruturado, Ramos Horta poderia guiar a missão da ONU na preparação de uma nova geração de lideres guineenses, na formação de servidores públicos, e na capacitação de instituições estatais para prestar serviços básicos e abrir oportunidades econômicas para o povo.
Guiné-Bissau, como estado legítimo, poderia ser um centro de desenvolvimento econômico importante na África Ocidental - um "hub" entre os países como Senegal, Nigéria, Angola e Brasil. Guiné-Bissau tem riquezas não exploradas em agronegócio, minerais, madeiras, petróleo, pesca e recursos humanos, setores nos quais o Brasil tem vasta experiência e capacidade de investir, como faz em Moçambique e Angola. O Brasil poderia ajudar na construção da infraestrutura e na educação, duas áreas mais carentes no país.
Após o último golpe de estado de 2012, o Brasil - em solidariedade à Comunidade Europeia e aos países lusófonos - suspendeu seus modestos programas de ajuda ao país, focada até agora na reforma de uma escola de treinamento da polícia guineense. O Brasil também retirou o seu embaixador, deixando a responsabilidade nas mãos de um dedicado encarregado de negócios, cuja atuação está limitada pela atual política abstencionista do Itamaraty. O Brasil tem a oportunidade agora de mostrar uma liderança ao nível da sua aspiração para um lugar permanente no Conselho da Segurança.
Mudanças em Cuba - JULIA SWEIG
FOLHA DE SP - 19/06
O surgimento de partidos políticos e uma mulher na Presidência já não estão na categoria do inconcebível
Em 2010, participei de uma conversa com Fidel Castro, na qual, em resposta a uma pergunta sobre se Cuba ainda estava "exportando" seu "modelo" para a América Latina, ele inadvertidamente provocou uma tempestade na mídia internacional ao responder: "O modelo cubano não funciona mais nem para nós." Era o óbvio para a maioria dos cubanos e uma afirmação de que mudanças reais estavam em curso.
Seguem algumas impressões ainda não digeridas, extraídas de conversas com dezenas de cubanos, do governo e de fora dele, sobre como eles enxergam essas mudanças.
1-) A morte de Hugo Chávez e a incerteza na Venezuela reforçam uma lógica e uma cronologia preexistentes para Cuba aprofundar laços comerciais, diplomáticos e de investimentos com vários parceiros. O Brasil é um exemplo rematado. Somam-se a essa estratégia o restante da América Latina, China, Rússia, Angola, União Europeia e, eventualmente, os próprios EUA.
2-) As remessas de dinheiro e ajuda material de cubanos no exterior exercem papel crescente na microeconomia da ilha e ajudam a lançar pequenas empresas familiares.
Mas os cubanos que buscam prosperar no setor privado ainda aguardam pela ampliação do acesso ao crédito bancário, pela abertura de mercados atacadistas e pela estabilização das taxas de juros. Isso pode soar muito moderado, mas sugere que estão em curso transformações sociais importantes.
3-) O grande passo macroeconômico, a eliminação da moeda dupla, será doloroso e necessário. O Estado não tem condições de subsidiar tudo para todos e já não o faz mais. Mas reduzir os subsídios e desvalorizar a moeda ao mesmo tempo seria mais terapia de choque que a sociedade pode suportar.
4-) A era digital está chegando, enfim. A abertura de cibercafés, neste mês, é a medida principal de uma decisão política de aumentar o acesso à infraestrutura digital. Os cubanos já são loucos pela mídia social --e não me refiro apenas à blogueira Yoani Sánchez, ídolo no Brasil. Fique de olho nesse espaço --é provável que cresça.
5-) Ainda não está claro como a imprensa oficial cubana vai se adaptar. No próximo mês, um congresso de jornalistas vai debater o futuro de seu sindicato. Esperamos que surja mais espaço para os valores de transparência e responsabilidade promovidos pelo governo de Raúl Castro em outras áreas. Mas, para ter uma ideia dos debates reais em Cuba, vá para www.espaciolaical.org ou www.temas.cult.cu.
6-) Por falar em transparência, está em curso uma iniciativa grande para penalizar a corrupção. Empresas estrangeiras estão de sobreaviso: terão que obedecer às regras. Em pouco tempo, a corrupção da qual depende o mercado negro passará a ser examinada legalmente. Os cubanos parecem compreender que o respeito às leis é essencial para uma economia de mercado.
7-) Partidos políticos? Ainda não, mas já não são inconcebíveis.
8-) Também na categoria de algo que já não é inconcebível: uma mulher na Presidência.
Tradução de CLARA ALLAIN
O surgimento de partidos políticos e uma mulher na Presidência já não estão na categoria do inconcebível
Em 2010, participei de uma conversa com Fidel Castro, na qual, em resposta a uma pergunta sobre se Cuba ainda estava "exportando" seu "modelo" para a América Latina, ele inadvertidamente provocou uma tempestade na mídia internacional ao responder: "O modelo cubano não funciona mais nem para nós." Era o óbvio para a maioria dos cubanos e uma afirmação de que mudanças reais estavam em curso.
Seguem algumas impressões ainda não digeridas, extraídas de conversas com dezenas de cubanos, do governo e de fora dele, sobre como eles enxergam essas mudanças.
1-) A morte de Hugo Chávez e a incerteza na Venezuela reforçam uma lógica e uma cronologia preexistentes para Cuba aprofundar laços comerciais, diplomáticos e de investimentos com vários parceiros. O Brasil é um exemplo rematado. Somam-se a essa estratégia o restante da América Latina, China, Rússia, Angola, União Europeia e, eventualmente, os próprios EUA.
2-) As remessas de dinheiro e ajuda material de cubanos no exterior exercem papel crescente na microeconomia da ilha e ajudam a lançar pequenas empresas familiares.
Mas os cubanos que buscam prosperar no setor privado ainda aguardam pela ampliação do acesso ao crédito bancário, pela abertura de mercados atacadistas e pela estabilização das taxas de juros. Isso pode soar muito moderado, mas sugere que estão em curso transformações sociais importantes.
3-) O grande passo macroeconômico, a eliminação da moeda dupla, será doloroso e necessário. O Estado não tem condições de subsidiar tudo para todos e já não o faz mais. Mas reduzir os subsídios e desvalorizar a moeda ao mesmo tempo seria mais terapia de choque que a sociedade pode suportar.
4-) A era digital está chegando, enfim. A abertura de cibercafés, neste mês, é a medida principal de uma decisão política de aumentar o acesso à infraestrutura digital. Os cubanos já são loucos pela mídia social --e não me refiro apenas à blogueira Yoani Sánchez, ídolo no Brasil. Fique de olho nesse espaço --é provável que cresça.
5-) Ainda não está claro como a imprensa oficial cubana vai se adaptar. No próximo mês, um congresso de jornalistas vai debater o futuro de seu sindicato. Esperamos que surja mais espaço para os valores de transparência e responsabilidade promovidos pelo governo de Raúl Castro em outras áreas. Mas, para ter uma ideia dos debates reais em Cuba, vá para www.espaciolaical.org ou www.temas.cult.cu.
6-) Por falar em transparência, está em curso uma iniciativa grande para penalizar a corrupção. Empresas estrangeiras estão de sobreaviso: terão que obedecer às regras. Em pouco tempo, a corrupção da qual depende o mercado negro passará a ser examinada legalmente. Os cubanos parecem compreender que o respeito às leis é essencial para uma economia de mercado.
7-) Partidos políticos? Ainda não, mas já não são inconcebíveis.
8-) Também na categoria de algo que já não é inconcebível: uma mulher na Presidência.
Tradução de CLARA ALLAIN
No foco, o Fed - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 19/06
Poucas reuniões do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) foram aguardadas com tanta ansiedade quanto o encontro que está agendado para hoje.
Ninguém espera por mudanças nos juros básicos (Fed funds), que deverão permanecer ao redor de zero por cento ao ano por muitos meses mais. O que se espera hoje são indicações a respeito da estratégia do desmonte da política de estímulos ao setor produtivo dos Estados Unidos. Dependendo do que for esse desmonte, a economia brasileira, no momento fortemente desequilibrada, será duramente atingida.
Agora, há poucas dúvidas de que foi a ação do Fed dirigido por Ben Bernanke que evitou uma catástrofe econômica global de enormes proporções. Essa política consistiu em gigantescas emissões de moeda para a compra de títulos que vinham zanzando nos mercados como cachorros sem dono. O balanço do Fed já acusa uma carteira de ativos de US$ 3,3 trilhões. A cada mês, essas emissões de moeda alcançam a magnitude de US$ 85 bilhões. O objetivo dessa megaexpansão monetária é facilitar a recuperação da economia dos Estados Unidos.
Há quatro semanas, em depoimento no Congresso americano, Bernanke avisou que estudava uma lenta e gradual reversão dessa política, graças aos sinais de recuperação da economia americana. Mesmo sem quaisquer pormenores, a revelação foi suficiente para que os mercados entrassem em turbulência e começassem a antecipar a valorização do dólar e a alta dos juros. Enormes massas de dólares não só deixaram de sair dos Estados Unidos, mas começam a voltar para lá. A expectativa para hoje é que Bernanke avance alguma coisa mais do que de fato pretende.
A simples perspectiva desse desmonte apanha a economia brasileira vulnerável. Durante meses, o governo Dilma queixava-se de que a política expansionista do Fed provocou tsunamis e guerra cambial, ou seja, inundava o câmbio brasileiro com moeda estrangeira. E, no entanto, a simples perspectiva da mudança de ventos já provoca mais estragos por aqui do que a política do Fed mantida até agora, sem que a presidente Dilma e o ministro Mantega possam reclamar de qualquer coisa, porque foi o que pediram. A entrada de capitais no País tende a escassear, aumenta o desequilíbrio das contas externas, as cotações do dólar já dão pinotes no câmbio interno e os produtos importados, dos quais a política gastadora e consumista do governo está cada vez mais dependente, vão encarecendo em reais, produzindo mais inflação e comprometendo ainda mais o crescimento econômico.
Não há o que angustie mais o mercado financeiro do que a penumbra. Quando não sabe o que pode acontecer, deixa-se tomar pela insegurança. É por isso que, se Bernanke se dispuser a passar algumas informações adicionais sobre a dosagem e o ritmo da reversão de política, em vez de se deixarem tomar pela aflição, os mercados podem se acalmar. A conferir.
No entanto, para consertar a fragilidade da economia brasileira, o Fed não pode fazer nada. Por enquanto, o Banco Central do Brasil é a única instituição que voltou a remar na direção certa. Mas, sem uma política fiscal responsável, a política de juros pode pouco.
Poucas reuniões do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) foram aguardadas com tanta ansiedade quanto o encontro que está agendado para hoje.
Ninguém espera por mudanças nos juros básicos (Fed funds), que deverão permanecer ao redor de zero por cento ao ano por muitos meses mais. O que se espera hoje são indicações a respeito da estratégia do desmonte da política de estímulos ao setor produtivo dos Estados Unidos. Dependendo do que for esse desmonte, a economia brasileira, no momento fortemente desequilibrada, será duramente atingida.
Agora, há poucas dúvidas de que foi a ação do Fed dirigido por Ben Bernanke que evitou uma catástrofe econômica global de enormes proporções. Essa política consistiu em gigantescas emissões de moeda para a compra de títulos que vinham zanzando nos mercados como cachorros sem dono. O balanço do Fed já acusa uma carteira de ativos de US$ 3,3 trilhões. A cada mês, essas emissões de moeda alcançam a magnitude de US$ 85 bilhões. O objetivo dessa megaexpansão monetária é facilitar a recuperação da economia dos Estados Unidos.
Há quatro semanas, em depoimento no Congresso americano, Bernanke avisou que estudava uma lenta e gradual reversão dessa política, graças aos sinais de recuperação da economia americana. Mesmo sem quaisquer pormenores, a revelação foi suficiente para que os mercados entrassem em turbulência e começassem a antecipar a valorização do dólar e a alta dos juros. Enormes massas de dólares não só deixaram de sair dos Estados Unidos, mas começam a voltar para lá. A expectativa para hoje é que Bernanke avance alguma coisa mais do que de fato pretende.
A simples perspectiva desse desmonte apanha a economia brasileira vulnerável. Durante meses, o governo Dilma queixava-se de que a política expansionista do Fed provocou tsunamis e guerra cambial, ou seja, inundava o câmbio brasileiro com moeda estrangeira. E, no entanto, a simples perspectiva da mudança de ventos já provoca mais estragos por aqui do que a política do Fed mantida até agora, sem que a presidente Dilma e o ministro Mantega possam reclamar de qualquer coisa, porque foi o que pediram. A entrada de capitais no País tende a escassear, aumenta o desequilíbrio das contas externas, as cotações do dólar já dão pinotes no câmbio interno e os produtos importados, dos quais a política gastadora e consumista do governo está cada vez mais dependente, vão encarecendo em reais, produzindo mais inflação e comprometendo ainda mais o crescimento econômico.
Não há o que angustie mais o mercado financeiro do que a penumbra. Quando não sabe o que pode acontecer, deixa-se tomar pela insegurança. É por isso que, se Bernanke se dispuser a passar algumas informações adicionais sobre a dosagem e o ritmo da reversão de política, em vez de se deixarem tomar pela aflição, os mercados podem se acalmar. A conferir.
No entanto, para consertar a fragilidade da economia brasileira, o Fed não pode fazer nada. Por enquanto, o Banco Central do Brasil é a única instituição que voltou a remar na direção certa. Mas, sem uma política fiscal responsável, a política de juros pode pouco.
O dólar também está nervoso - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 19/06
Marolão da alta do dólar pelo mundo pega o Brasil de jeito e cria problema adicional para o BC
O CÂMBIO, "o preço do dólar", está meio enrolado, ou pelo menos muito nervoso. Na semana passada, o dólar saltava entre R$ 2,12 e R$ 2,16. Ontem foi a R$ 2,18, preço da crise de 2009.
O Banco Central na prática vendeu dólares numa quantidade inédita desde 2011, mas não pareceu interessado em fixar uma cotação. Deixou o preço subir, aparentemente mais preocupado em "dar liquidez" (aumentar a quantidade de negócios, de dinheiro na roda, a fim de impedir que os preços sejam distorcidos por negociações escassas).
Nos últimos dias, e também ontem, o presidente do BC, Alexandre Tombini, parecia indicar que não vai se mover para segurar essa onda, marola gorda, de desvalorização do real e de moedas de países latino-americanos maiores e grandes exportadores de commodities (Austrália, Canadá, por exemplo).
Tombini disse que a melhor maneira de evitar que o câmbio mais desvalorizado crie distorções "é ter uma política monetária adequada". Isto é, em tese, taxas de juros mais altas a fim de conter o repasse da desvalorização para os preços ou as expectativas altistas.
As equipes de economistas dos maiores bancos não acreditam em dólar muito caro no final deste ano (algo em torno de R$ 2,10, para algo menos). Logo, acreditam que os nervosismos de junho vão passar.
MUDANÇA NOS EUA
Em suma, como se está cansado de saber, a especulação de agora se deve à possível mudança da política monetária nos Estados Unidos. Caso a economia americana enfim se recupere mesmo, o banco central deles, o Fed, vai reduzir o despejo de dinheiro na economia. Na expectativa de que tal coisa aconteça, os juros já sobem na praça americana, faz algum tempo. Hoje, o Fed pode dar mais um indício de que vai confirmar tal direção.
Em resumo muito breve, a redução do capital "sobrante" no mundo, mais e mais rentáveis opções de investimento nos EUA e o esgotamento da década de crescimento acelerado em muito país "emergente", tudo isso leva dólar para fora daqui e de outros países recipientes de montanhas de investimento estrangeiro a partir de meados de 2000.
No Brasil, em particular, a lerdeza econômica é ainda mais desalentadora, desânimo temperado pela irritação com a biruta da política econômica. Depois de um maio positivo, em termos de entrada de dinheiro (empresas pegando dinheiro a custo baixo), o ambiente azedou em junho. Empresas começam a cancelar campanhas de tomada de empréstimos ("captações").
Pelo menos é esse o sentido da especulação da finança. E daí?
Daí que já tínhamos uma inflação enjoada, com a qual o Banco Central começou a lidar faz uns três meses. Meses de desvalorização do real podem tornar o trabalho do BC mais difícil. Na vida real, o efeito é redução da renda real e/ou mais dificuldades de crédito ou no emprego.
Ou o preço dos importados (e dos produtos negociáveis no exterior, exportáveis) sobe, ou o salário real cai, ou os juros sobem mais, matando algum emprego e os aumentos de salário.
Mesmo que passe a tensão com a mudança da política nos EUA e que o preço do dólar se comporte lá pelo final do ano, a economia brasileira sofrerá alguma avaria.
Marolão da alta do dólar pelo mundo pega o Brasil de jeito e cria problema adicional para o BC
O CÂMBIO, "o preço do dólar", está meio enrolado, ou pelo menos muito nervoso. Na semana passada, o dólar saltava entre R$ 2,12 e R$ 2,16. Ontem foi a R$ 2,18, preço da crise de 2009.
O Banco Central na prática vendeu dólares numa quantidade inédita desde 2011, mas não pareceu interessado em fixar uma cotação. Deixou o preço subir, aparentemente mais preocupado em "dar liquidez" (aumentar a quantidade de negócios, de dinheiro na roda, a fim de impedir que os preços sejam distorcidos por negociações escassas).
Nos últimos dias, e também ontem, o presidente do BC, Alexandre Tombini, parecia indicar que não vai se mover para segurar essa onda, marola gorda, de desvalorização do real e de moedas de países latino-americanos maiores e grandes exportadores de commodities (Austrália, Canadá, por exemplo).
Tombini disse que a melhor maneira de evitar que o câmbio mais desvalorizado crie distorções "é ter uma política monetária adequada". Isto é, em tese, taxas de juros mais altas a fim de conter o repasse da desvalorização para os preços ou as expectativas altistas.
As equipes de economistas dos maiores bancos não acreditam em dólar muito caro no final deste ano (algo em torno de R$ 2,10, para algo menos). Logo, acreditam que os nervosismos de junho vão passar.
MUDANÇA NOS EUA
Em suma, como se está cansado de saber, a especulação de agora se deve à possível mudança da política monetária nos Estados Unidos. Caso a economia americana enfim se recupere mesmo, o banco central deles, o Fed, vai reduzir o despejo de dinheiro na economia. Na expectativa de que tal coisa aconteça, os juros já sobem na praça americana, faz algum tempo. Hoje, o Fed pode dar mais um indício de que vai confirmar tal direção.
Em resumo muito breve, a redução do capital "sobrante" no mundo, mais e mais rentáveis opções de investimento nos EUA e o esgotamento da década de crescimento acelerado em muito país "emergente", tudo isso leva dólar para fora daqui e de outros países recipientes de montanhas de investimento estrangeiro a partir de meados de 2000.
No Brasil, em particular, a lerdeza econômica é ainda mais desalentadora, desânimo temperado pela irritação com a biruta da política econômica. Depois de um maio positivo, em termos de entrada de dinheiro (empresas pegando dinheiro a custo baixo), o ambiente azedou em junho. Empresas começam a cancelar campanhas de tomada de empréstimos ("captações").
Pelo menos é esse o sentido da especulação da finança. E daí?
Daí que já tínhamos uma inflação enjoada, com a qual o Banco Central começou a lidar faz uns três meses. Meses de desvalorização do real podem tornar o trabalho do BC mais difícil. Na vida real, o efeito é redução da renda real e/ou mais dificuldades de crédito ou no emprego.
Ou o preço dos importados (e dos produtos negociáveis no exterior, exportáveis) sobe, ou o salário real cai, ou os juros sobem mais, matando algum emprego e os aumentos de salário.
Mesmo que passe a tensão com a mudança da política nos EUA e que o preço do dólar se comporte lá pelo final do ano, a economia brasileira sofrerá alguma avaria.
Esperando Brasília - CRISTIANO ROMERO
Valor Econômico - 19/06
A iminência do início da normalização da política monetária dos Estados Unidos continua fazendo estragos nos mercados mundo afora e no Brasil em particular. Desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ocorrida em 29 de maio, o real sofreu, segundo o Valor Data, desvalorização de 2,94% frente ao dólar. No ano, a perda de valor da moeda nacional já é de 6,20%.
O real está entre as moedas que mais se desvalorizaram em 2013. Em gráfico apresentado ontem à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, revelou que, das 19 principais moedas do planeta, a brasileira foi a 5ª que mais se depreciou desde janeiro.
O movimento de apreciação do dólar é global e atinge quase todas as moedas. A ocorrência de turbulência nesse processo é natural. Estão sofrendo mais os países onde a credibilidade da política econômica está em xeque, caso do Brasil. Além de se refletir no câmbio, a desconfiança aparece nos mercados de juros - as taxas dispararam nas últimas semanas, principalmente, nos papéis e contratos de prazos mais longos - e ações - a Bovespa acumula queda de 18,85% no ano.
Hoje será um dia importante para os mercados graças à reunião do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, e da entrevista de seu presidente, Ben Bernanke. Há expectativas distintas quanto à sinalização que ele dará aos mercados. Bernanke tanto pode frustrar a expectativa de um anúncio concreto de quando e em que intensidade o Fed começará a reduzir a compra mensal de ativos - promovida para injetar liquidez no mercado dos EUA - quanto pode ir na direção contrária.
O BC brasileiro chamou a atenção pela primeira vez para a iminência do início da normalização monetária nos EUA no Relatório de Inflação de março. Explicitou a crença de que isso ocorreria no horizonte relevante (12 meses) da política monetária. Ontem, Tombini dedicou ao tema um bom tempo de sua apresentação no Senado.
O presidente do BC lembrou que os atuais níveis globais de liquidez e de taxas de juros decorrem de circunstâncias "muito especiais" e que, portanto, devem desaparecer nos próximos anos - elas já duram cinco anos! No caso do Brasil, explicou, as implicações serão duas: o aumento do custo dos financiamentos externos e a apreciação do dólar.
A atual depreciação do real difere da ocorrida na crise de 2008. Naquele momento, o real sofreu um overshooting, em parte por causa da aversão dos investidores a risco e da saída de capitais estrangeiros para cobrir prejuízos nas economias centrais, mas também por causa das operações de derivativo cambial em que incorreram empresas exportadoras. Quando se restabeleceu a confiança dos investidores e ficou clara a dimensão do rombo dos derivativos, o real devolveu a desvalorização sofrida.
No processo atual, o que está ocorrendo é uma mudança de patamar do dólar. Não se trata de um movimento temporário, mas permanente. É bem provável que o país passe a conviver com uma taxa de câmbio mais depreciada. Diante disso, a tendência é que o repasse da desvalorização aos preços internos seja maior que a observada em 2008.
Isso vem no momento em que o BC está no meio de uma batalha para reduzir a inflação e melhorar as expectativas. Em tempos normais, com os instrumentos de política econômica funcionando livremente, o repasse de desvalorizações do real aos preços domésticos é estimado pelos modelos do BC em algo como 6% a 7% em 12 meses.
Ontem, Tombini deixou claro que o regime de câmbio flutuante e uma "adequada" condução da política monetária reduzem os repasses. Quando os agentes econômicos sabem que a taxa de câmbio tanto pode desvalorizar quanto apreciar, a tendência é repassar menos essas variações aos preços. O mesmo vale para a taxa de juros: se o empresário tem certeza de que o BC reagirá, com juro mais alto, a reajustes preventivos de preços, ele prefere não corrigi-los, sob pena de sofrer prejuízos.
A mensagem de Tombini é um claro recado ao restante do governo, uma vez que, nos últimos dois anos, Brasília optou pela gestão de um câmbio administrado, que facilita o repasse de desvalorizações do real aos preços internos, e de uma política monetária irrealista, leniente com a inflação.
Tombini não falou da necessidade de o governo fortalecer a política fiscal e dar a ela credibilidade, mas isso está implícito em sua comunicação recente. Em entrevista a Cláudia Safatle, do Valor, ele disse que "não há limite" para o aumento do juro. Ora, a alta será tanto maior quanto menor for a contribuição do governo para o controle da demanda agregada.
Uma boa dose do nervosismo dos mercados nas últimas semanas decorre disso. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que o setor público cumprirá superávit primário de 2,3% do PIB nas contas públicas neste ano, mas não disse como fará isso. O governo dá sinais de que tenta ganhar tempo. Assim como os mercados, deve aguardar a fala de Bernanke antes de tomar decisões.
Em Brasília, há resistência. Existem aqueles que acreditam que o mercado está tentando impor uma "agenda" ao governo. O sentimento é quase de derrota, já que, dos três instrumentos clássicos de política econômica, dois (o monetário e o cambial) foram devolvidos ao BC depois da aventura dos últimos dois anos. Falta o terceiro.
Além de tola, a ideia de que existe um cabo de guerra entre mercado e governo e de que sua motivação é ideológica gera prejuízos ao país. Desde 31 de maio, o BC já realizou nove operações de swap cambial, somando US$ 13,067 bilhões, para (mal) segurar o dólar. Um esforço descomunal justificado apenas pelo fato de o Brasil ter hoje uma política econômica manca por causa de uma política fiscal sem nenhuma credibilidade.
A iminência do início da normalização da política monetária dos Estados Unidos continua fazendo estragos nos mercados mundo afora e no Brasil em particular. Desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ocorrida em 29 de maio, o real sofreu, segundo o Valor Data, desvalorização de 2,94% frente ao dólar. No ano, a perda de valor da moeda nacional já é de 6,20%.
O real está entre as moedas que mais se desvalorizaram em 2013. Em gráfico apresentado ontem à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, revelou que, das 19 principais moedas do planeta, a brasileira foi a 5ª que mais se depreciou desde janeiro.
O movimento de apreciação do dólar é global e atinge quase todas as moedas. A ocorrência de turbulência nesse processo é natural. Estão sofrendo mais os países onde a credibilidade da política econômica está em xeque, caso do Brasil. Além de se refletir no câmbio, a desconfiança aparece nos mercados de juros - as taxas dispararam nas últimas semanas, principalmente, nos papéis e contratos de prazos mais longos - e ações - a Bovespa acumula queda de 18,85% no ano.
Hoje será um dia importante para os mercados graças à reunião do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, e da entrevista de seu presidente, Ben Bernanke. Há expectativas distintas quanto à sinalização que ele dará aos mercados. Bernanke tanto pode frustrar a expectativa de um anúncio concreto de quando e em que intensidade o Fed começará a reduzir a compra mensal de ativos - promovida para injetar liquidez no mercado dos EUA - quanto pode ir na direção contrária.
O BC brasileiro chamou a atenção pela primeira vez para a iminência do início da normalização monetária nos EUA no Relatório de Inflação de março. Explicitou a crença de que isso ocorreria no horizonte relevante (12 meses) da política monetária. Ontem, Tombini dedicou ao tema um bom tempo de sua apresentação no Senado.
O presidente do BC lembrou que os atuais níveis globais de liquidez e de taxas de juros decorrem de circunstâncias "muito especiais" e que, portanto, devem desaparecer nos próximos anos - elas já duram cinco anos! No caso do Brasil, explicou, as implicações serão duas: o aumento do custo dos financiamentos externos e a apreciação do dólar.
A atual depreciação do real difere da ocorrida na crise de 2008. Naquele momento, o real sofreu um overshooting, em parte por causa da aversão dos investidores a risco e da saída de capitais estrangeiros para cobrir prejuízos nas economias centrais, mas também por causa das operações de derivativo cambial em que incorreram empresas exportadoras. Quando se restabeleceu a confiança dos investidores e ficou clara a dimensão do rombo dos derivativos, o real devolveu a desvalorização sofrida.
No processo atual, o que está ocorrendo é uma mudança de patamar do dólar. Não se trata de um movimento temporário, mas permanente. É bem provável que o país passe a conviver com uma taxa de câmbio mais depreciada. Diante disso, a tendência é que o repasse da desvalorização aos preços internos seja maior que a observada em 2008.
Isso vem no momento em que o BC está no meio de uma batalha para reduzir a inflação e melhorar as expectativas. Em tempos normais, com os instrumentos de política econômica funcionando livremente, o repasse de desvalorizações do real aos preços domésticos é estimado pelos modelos do BC em algo como 6% a 7% em 12 meses.
Ontem, Tombini deixou claro que o regime de câmbio flutuante e uma "adequada" condução da política monetária reduzem os repasses. Quando os agentes econômicos sabem que a taxa de câmbio tanto pode desvalorizar quanto apreciar, a tendência é repassar menos essas variações aos preços. O mesmo vale para a taxa de juros: se o empresário tem certeza de que o BC reagirá, com juro mais alto, a reajustes preventivos de preços, ele prefere não corrigi-los, sob pena de sofrer prejuízos.
A mensagem de Tombini é um claro recado ao restante do governo, uma vez que, nos últimos dois anos, Brasília optou pela gestão de um câmbio administrado, que facilita o repasse de desvalorizações do real aos preços internos, e de uma política monetária irrealista, leniente com a inflação.
Tombini não falou da necessidade de o governo fortalecer a política fiscal e dar a ela credibilidade, mas isso está implícito em sua comunicação recente. Em entrevista a Cláudia Safatle, do Valor, ele disse que "não há limite" para o aumento do juro. Ora, a alta será tanto maior quanto menor for a contribuição do governo para o controle da demanda agregada.
Uma boa dose do nervosismo dos mercados nas últimas semanas decorre disso. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que o setor público cumprirá superávit primário de 2,3% do PIB nas contas públicas neste ano, mas não disse como fará isso. O governo dá sinais de que tenta ganhar tempo. Assim como os mercados, deve aguardar a fala de Bernanke antes de tomar decisões.
Em Brasília, há resistência. Existem aqueles que acreditam que o mercado está tentando impor uma "agenda" ao governo. O sentimento é quase de derrota, já que, dos três instrumentos clássicos de política econômica, dois (o monetário e o cambial) foram devolvidos ao BC depois da aventura dos últimos dois anos. Falta o terceiro.
Além de tola, a ideia de que existe um cabo de guerra entre mercado e governo e de que sua motivação é ideológica gera prejuízos ao país. Desde 31 de maio, o BC já realizou nove operações de swap cambial, somando US$ 13,067 bilhões, para (mal) segurar o dólar. Um esforço descomunal justificado apenas pelo fato de o Brasil ter hoje uma política econômica manca por causa de uma política fiscal sem nenhuma credibilidade.
À caça do próprio rabo - ALEXANDRE SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 19/06
O BC deixou a inflação alta. Agora, cada queda do real em 10% deve trazer meio ponto a mais na inflação
Desde meados de maio houve um encarecimento visível do dólar, que saiu de valores próximos a R$ 2,00 para algo em torno de R$ 2,18, provocando várias reações das autoridades, do retorno às intervenções do BC até a eliminação de impostos que haviam sido criados para inibir a venda da moeda norte-americana.
O governo não disfarça seu desconforto com a depreciação do real, o que não deixa de ser curioso, consideradas todas as medidas que haviam sido tomadas precisamente para esse fim.
É verdade que o dólar mais caro não é uma exclusividade nacional. Nas últimas semanas ele se fortaleceu contra quase todas as demais moedas e não há razão para que o real se comporte de forma diferente. Pelo contrário, em trabalho com Tatiana Pinheiro, estimamos que a valorização de 10% do dólar relativamente a uma cesta de seis moedas de países maduros se traduza num encarecimento de 6% do dólar ante o real.
No caso, a perspectiva de crescimento mais positiva para a economia norte-americana sugere a possibilidade de uma normalização mais rápida da política monetária naquele país.
É bom que se diga que a normalização propriamente dita ainda se encontra muito distante, mas a mera expectativa de que possa acontecer foi suficiente para elevar as taxas de juros de dez anos em quase 0,5 ponto percentual (para perto de 2,2% ao ano), uma mudança nada trivial, ainda que inferior à ocorrida no Brasil, onde o rendimento do título equivalente aumentou pouco mais de um ponto percentual.
A desvalorização do real não resulta, portanto, de nenhum problema intrínseco do país. Já no que se refere às consequências da depreciação cambial, a preocupação é maior e é aqui que o Brasil se diferencia de várias outras economias.
Embora não nos enquadremos nos casos mais patológicos dos países até há pouco apontados por nossos "keynesianos de quermesse" como modelos de política econômica, a verdade é que não fizemos todos os preparativos para a eventualidade de uma mudança das condições internacionais de liquidez.
De fato, exceção feita à acumulação de reservas, as políticas dos últimos anos deixaram o país mais vulnerável a reversões dos fluxos de capitais em algumas dimensões importantes. Assim, por exemplo, a redução da poupança doméstica, seja pelo avanço do consumo do governo, seja pelo estímulo contínuo ao consumo privado, tem como contrapartida a elevação do deficit externo, o que torna o país mais dependente do financiamento internacional.
Já a permissividade monetária do BC se traduziu numa taxa de inflação que já estava próxima ao limite superior da meta mesmo antes do enfraquecimento da moeda. Como o dólar mais alto encarece aqui dentro tanto os produtos importados como os exportados, seus impactos no sentido de acelerar a inflação são claros.
Grosso modo, estima-se que a desvalorização de 10% da moeda eleve a inflação em torno de meio ponto percentual em 12 meses, nada extraordinário, mas mais que suficiente para elevar significativamente a probabilidade de ruptura do teto da meta.
Por outro lado, ao mesmo tempo em que o governo mais uma vez acena com o controle de gastos, toma medidas da direção oposta, não deixando dúvidas acerca de sua falta de compromisso nesta área.
Sob essas circunstâncias, pois, o peso de qualquer ajuste recai sobre as taxas de juros, que, como notado acima, subiram vigorosamente nas últimas semanas.
Fica explicado, assim, o quase desespero do governo para conter a depreciação da moeda depois de anos reclamando do dólar barato.
No entanto, dado que esse processo reflete um fenômeno de alcance mundial, as chances de as medidas conterem a taxa de câmbio são evidentemente reduzidas.
Descobrimos assim que, a despeito da choradeira persistente sobre o tsunami monetário, o governo jamais se preparou para sua reversão. E que o improviso continua sendo a marca registrada da nossa "política econômica".
O BC deixou a inflação alta. Agora, cada queda do real em 10% deve trazer meio ponto a mais na inflação
Desde meados de maio houve um encarecimento visível do dólar, que saiu de valores próximos a R$ 2,00 para algo em torno de R$ 2,18, provocando várias reações das autoridades, do retorno às intervenções do BC até a eliminação de impostos que haviam sido criados para inibir a venda da moeda norte-americana.
O governo não disfarça seu desconforto com a depreciação do real, o que não deixa de ser curioso, consideradas todas as medidas que haviam sido tomadas precisamente para esse fim.
É verdade que o dólar mais caro não é uma exclusividade nacional. Nas últimas semanas ele se fortaleceu contra quase todas as demais moedas e não há razão para que o real se comporte de forma diferente. Pelo contrário, em trabalho com Tatiana Pinheiro, estimamos que a valorização de 10% do dólar relativamente a uma cesta de seis moedas de países maduros se traduza num encarecimento de 6% do dólar ante o real.
No caso, a perspectiva de crescimento mais positiva para a economia norte-americana sugere a possibilidade de uma normalização mais rápida da política monetária naquele país.
É bom que se diga que a normalização propriamente dita ainda se encontra muito distante, mas a mera expectativa de que possa acontecer foi suficiente para elevar as taxas de juros de dez anos em quase 0,5 ponto percentual (para perto de 2,2% ao ano), uma mudança nada trivial, ainda que inferior à ocorrida no Brasil, onde o rendimento do título equivalente aumentou pouco mais de um ponto percentual.
A desvalorização do real não resulta, portanto, de nenhum problema intrínseco do país. Já no que se refere às consequências da depreciação cambial, a preocupação é maior e é aqui que o Brasil se diferencia de várias outras economias.
Embora não nos enquadremos nos casos mais patológicos dos países até há pouco apontados por nossos "keynesianos de quermesse" como modelos de política econômica, a verdade é que não fizemos todos os preparativos para a eventualidade de uma mudança das condições internacionais de liquidez.
De fato, exceção feita à acumulação de reservas, as políticas dos últimos anos deixaram o país mais vulnerável a reversões dos fluxos de capitais em algumas dimensões importantes. Assim, por exemplo, a redução da poupança doméstica, seja pelo avanço do consumo do governo, seja pelo estímulo contínuo ao consumo privado, tem como contrapartida a elevação do deficit externo, o que torna o país mais dependente do financiamento internacional.
Já a permissividade monetária do BC se traduziu numa taxa de inflação que já estava próxima ao limite superior da meta mesmo antes do enfraquecimento da moeda. Como o dólar mais alto encarece aqui dentro tanto os produtos importados como os exportados, seus impactos no sentido de acelerar a inflação são claros.
Grosso modo, estima-se que a desvalorização de 10% da moeda eleve a inflação em torno de meio ponto percentual em 12 meses, nada extraordinário, mas mais que suficiente para elevar significativamente a probabilidade de ruptura do teto da meta.
Por outro lado, ao mesmo tempo em que o governo mais uma vez acena com o controle de gastos, toma medidas da direção oposta, não deixando dúvidas acerca de sua falta de compromisso nesta área.
Sob essas circunstâncias, pois, o peso de qualquer ajuste recai sobre as taxas de juros, que, como notado acima, subiram vigorosamente nas últimas semanas.
Fica explicado, assim, o quase desespero do governo para conter a depreciação da moeda depois de anos reclamando do dólar barato.
No entanto, dado que esse processo reflete um fenômeno de alcance mundial, as chances de as medidas conterem a taxa de câmbio são evidentemente reduzidas.
Descobrimos assim que, a despeito da choradeira persistente sobre o tsunami monetário, o governo jamais se preparou para sua reversão. E que o improviso continua sendo a marca registrada da nossa "política econômica".
Os falsos profetas do crescimento - ERNESTO LOZARDO
O ESTADO DE S. PAULO - 19/06
Surgem no debate econômico nacional temas de efeito midiático, mas sem consistência teórica. Um deles é a alegação de que a economia brasileira não cresce por falta de poupança. Essa consiste na oferta de recursos para atender à demanda de investimento e, assim, promover o crescimento. Alguns economistas entendem que, sem poupança interna que atenda à demanda de investimento, a economia passa a depender da poupança externa, ou seja, do capital internacional como forma de financiar o crescimento. Para que esse capital continue fluindo para a economia, as políticas monetária e cambial, interligadas, devem assegurar o fluxo desses recursos. Nesse caso, a política monetária perde o grau de liberdade do seu mandato: assegurar a estabilidade de preços e da renda real das famílias. Mas será que, pelo fato de apresentar baixo nível de poupança em porcentagem do PIB, a economia brasileira estaria condenada a não crescer e depender do capital externo?
Os países em desenvolvimento e com baixa poupança, mas com razoável distribuição da renda por habitante, polítíca fiscal expansionista com vista à estruturação do desenvolvimento (infraestrutura, ciência e tecnologia) e medidas distributivistas da renda tendem a estimular o crescimento rápido e aumentar o nível de poupança no médio prazo. Já os países com elevada desigualdade da renda social e política fiscal expansionista não desenvolvimentista estimulam a concentração da renda, e o crescimento se toma insuficiente, socialmente conflituoso e sem o ambiente favorável ao investimento e à poupança. No primeiro caso (crescimento rápido e formação de poupança), trata-se das economias asiáticas; no segundo, de países como Argentina, Venezuela, Equador e Bolívia.Ao se propor que a economia brasileira não cresce por conta da falta de poupança interna e, portanto, depende do capital internacional, está se empregando a velha teoria da dependência que arrastou os países latino-americanos à armadilha da baixa renda por habitante. São falsos postulados sobre a incapacidade de crescimento dos países pobres em capital, mas ricos em recursos naturais. O erro está na estratégia do crescimento, e não na natureza dos recursos naturais existentes.
Os países asiáticos, pobres em recursos naturais e em capital, entenderam que o processo evolutivo de seu desenvolvimento seria por meio da inserção global da cadeia produtiva industrial, apropriando-se de conhecimentos científicos e tecnológicos e, ao mesmo tempo, promover o crescimento com distribuição de renda. Os resultados econômicos e sociais desses países retratam melhor a assertividade política de desenvolvimento distributivista.
No Brasil, uma visão de futuro, a política de crescimento e de desenvolvimento econômico deve pautar-se por: estabilidade dos preços e dos juros reais de longo prazo; formação do estoque de capital; qualidade da mão de obra; eliminação da pobreza; promoção do setor de manufaturas como parte da cadeia global de produção; aceleração dos investimentos na modernização da infraestrutura e da logística; e carga tributária compatível com a dos países emergentes. A atual agenda de investimentos em logística e em infraestrutura representa o grande salto em direção do desenvolvimento do interior, interligando a produção nacional aos principais portos e aeroportos do País.
Esses são os reais desafios da economia brasileira e, no processo de obtenção desses resultados, formar-se-á a poupança nacional pública e privada A formação da poupança é resultante e não iniciadora do processo de crescimento econômico. Assim ocorreu na China e nos Estados Unidos, A principal contribuição do governo federal é evitar o excesso de ativismo fiscal, perseguir meta de déficit nominal zero e política monetária que assegure o poder de compra da renda, pois nesses ingredientes macroeconômicos residem as principais fontes de inflação, de incertezas do empresário e do crescimento.
Surgem no debate econômico nacional temas de efeito midiático, mas sem consistência teórica. Um deles é a alegação de que a economia brasileira não cresce por falta de poupança. Essa consiste na oferta de recursos para atender à demanda de investimento e, assim, promover o crescimento. Alguns economistas entendem que, sem poupança interna que atenda à demanda de investimento, a economia passa a depender da poupança externa, ou seja, do capital internacional como forma de financiar o crescimento. Para que esse capital continue fluindo para a economia, as políticas monetária e cambial, interligadas, devem assegurar o fluxo desses recursos. Nesse caso, a política monetária perde o grau de liberdade do seu mandato: assegurar a estabilidade de preços e da renda real das famílias. Mas será que, pelo fato de apresentar baixo nível de poupança em porcentagem do PIB, a economia brasileira estaria condenada a não crescer e depender do capital externo?
Os países em desenvolvimento e com baixa poupança, mas com razoável distribuição da renda por habitante, polítíca fiscal expansionista com vista à estruturação do desenvolvimento (infraestrutura, ciência e tecnologia) e medidas distributivistas da renda tendem a estimular o crescimento rápido e aumentar o nível de poupança no médio prazo. Já os países com elevada desigualdade da renda social e política fiscal expansionista não desenvolvimentista estimulam a concentração da renda, e o crescimento se toma insuficiente, socialmente conflituoso e sem o ambiente favorável ao investimento e à poupança. No primeiro caso (crescimento rápido e formação de poupança), trata-se das economias asiáticas; no segundo, de países como Argentina, Venezuela, Equador e Bolívia.Ao se propor que a economia brasileira não cresce por conta da falta de poupança interna e, portanto, depende do capital internacional, está se empregando a velha teoria da dependência que arrastou os países latino-americanos à armadilha da baixa renda por habitante. São falsos postulados sobre a incapacidade de crescimento dos países pobres em capital, mas ricos em recursos naturais. O erro está na estratégia do crescimento, e não na natureza dos recursos naturais existentes.
Os países asiáticos, pobres em recursos naturais e em capital, entenderam que o processo evolutivo de seu desenvolvimento seria por meio da inserção global da cadeia produtiva industrial, apropriando-se de conhecimentos científicos e tecnológicos e, ao mesmo tempo, promover o crescimento com distribuição de renda. Os resultados econômicos e sociais desses países retratam melhor a assertividade política de desenvolvimento distributivista.
No Brasil, uma visão de futuro, a política de crescimento e de desenvolvimento econômico deve pautar-se por: estabilidade dos preços e dos juros reais de longo prazo; formação do estoque de capital; qualidade da mão de obra; eliminação da pobreza; promoção do setor de manufaturas como parte da cadeia global de produção; aceleração dos investimentos na modernização da infraestrutura e da logística; e carga tributária compatível com a dos países emergentes. A atual agenda de investimentos em logística e em infraestrutura representa o grande salto em direção do desenvolvimento do interior, interligando a produção nacional aos principais portos e aeroportos do País.
Esses são os reais desafios da economia brasileira e, no processo de obtenção desses resultados, formar-se-á a poupança nacional pública e privada A formação da poupança é resultante e não iniciadora do processo de crescimento econômico. Assim ocorreu na China e nos Estados Unidos, A principal contribuição do governo federal é evitar o excesso de ativismo fiscal, perseguir meta de déficit nominal zero e política monetária que assegure o poder de compra da renda, pois nesses ingredientes macroeconômicos residem as principais fontes de inflação, de incertezas do empresário e do crescimento.
Enigma para todos, sociólogos e políticos - ROSÂNGELA BITTAR
Valor Econômico - 19/06
Diante da eclosão dos atuais movimentos de protesto, com temas difusos e participação de grupos desintegrados - as três tribos densas e extensas da passeata de segunda, em São Paulo, são exemplos de tal configuração-, sabe-se que é menos caso de procurar as ainda inexistentes explicações sociológicas e sim de observar bem os fatos e dar à sociedade as respostas adequadas. Os sociólogos, os psicólogos, os doutores, os filósofos, os partidos políticos, as organizações sindicais, os governos federal, estaduais e municipais estão no mesmo plano: ainda nada entenderam dos acontecimentos pelos quais foram totalmente surpreendidos embora não possam deixar de ser responsabilizados. Os investidores, então, se estrangeiros pior, compreenderam menos ainda. A quantidade de telefonemas trocados para todos os lados é uma tradução dessa perplexidade.
O melhor, no momento, é abandonar as teorias e, da parte dos governos, constatar o que esses movimentos não são para, por aí, lhes dar um retorno aceitável. Não são baderneiros, partidários, ideológicos, venais. São estudantes, seus pais, punks, quilombolas, sem teto, sem terra, adolescentes, funcionários públicos. Não há líderes formais orientando slogans e percursos. Embora possa haver, e há, uma representação de todos esses tipos no meio da massa insatisfeita com as tarifas e qualidade do transporte coletivo, com os gastos públicos excessivos em estádios de futebol, com a cara de pau dos políticos e governantes, com a precária situação dos hospitais e das escolas, com a repressão aos corintianos presos na Bolívia, torcidas organizadas e revoltados com a impunidade, saturados em geral com a corrupção.
O desconhecimento, a falta de informação segura e antecipada - os arapongas e estrategistas do governo andam atrás de potenciais adversários eleitorais, não de perscrutar insatisfações sociais- sobre o caldeirão cuja fervura se avizinhava, levou os governos a reagir de forma reconhecidamente equivocada a essa aglutinação de sentimentos negativos.
Somente a partir da noite de segunda, diante das manifestações amazônicas em doze Estados e oito cidades do interior de São Paulo, os governos começaram a mudar seu discurso. Mas não saíram dele para a ação, ainda.
Quem tem experiência em manifestações do tipo, quem liderou e participou dos movimentos pela anistia e pelas diretas já, os dois maiores da história recente, sabe que a mobilização cresce com a repressão. Mas ninguém percebeu o que acontecia, de fato, e recorreu-se às velhas fórmulas: violência, acusações de exploração eleitoral, manipulação.
O tema do reajuste de passagens alcançou o governador de São Paulo e o prefeito da capital em Paris. Se quem estava aqui não tinha ideia do que se tratava, imagine-se quem estava na França disputando o privilégio de sediar a Expo-2020, uma abstração em si. Governado naquele momento pelo ministro petista e vice-governador tucano Afif Domingos, o Estado se escondeu. Sob o comando de Nádia Campeão, a Prefeitura emudeceu. E o festival de besteiras assolou os titulares em declarações à distância.
Numa das manifestações de uma terça, um grupo mais radical destacou-se da massa pacífica, gerando a revanche da polícia, contra tudo e contra todos, na quinta seguinte. Os policiais bateram muito, numa reação desproporcional, maior, segundo testemunhos de pais que acompanhavam seus filhos, que os embates de 68. Naquela época eram raros os equipamentos como os de hoje: escudo, gás de pimenta, bala de borracha, milhares de homens na repressão dura e violenta. Resultado: cresceu a adesão e aumentaram as inadequações dos governantes.
Gilberto Carvalho e José Eduardo Cardozo, no governo federal, Geraldo Alckmin e Fernando Haddad, em São Paulo, Sérgio Cabral e sua tática avestruzeira, não houve um que acertasse o passo. As manifestações colheram em dois dos principais governos envolvidos, o federal com Dilma Rousseff e o municipal com Fernando Haddad, duas pessoas sem a manha da urgência, do diálogo imediato, da experiência em mediar. Foram candidatos saídos de gabinete e, vencedores, ainda não conquistaram a liderança necessária para aplacar dissabores em massa. Alckmin, que tinha alguma, comeu a bola jogada pelo ministro da Justiça, potencial candidato a seu cargo, acreditou que era uma manifestação ao modelo de politicagem infiltrada e partiu para elogiar a polícia.
Em algumas horas, na noite de segunda-feira, foram todos obrigados a dar voltas nas próprias palavras. Uma das situações mais constrangedoras foi a de Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria Geral da Presidência, encarregado de fazer a ponte entre Dilma e os movimentos sociais, doutor na relação com sindicalistas: a polícia identificou três funcionários seus, e mais um de sala contígua, na condução das manifestações de Brasília.
As considerações sobre os acontecimentos foram refluindo, aos policiais ordenou-se discrição, o prefeito tornou-se melífluo, o governador, tangido pelos fatos, dispôs-se ao diálogo, a presidente aproveitou o discurso do lançamento do dia, ontem, para traduzir o que os manifestantes querem: mais cidadania e repúdio à corrupção.
Isso significa que compreenderam, finalmente, o que se passa? Claro que não. Mas tentam dar uma resposta mais adequada a esse mundo desconhecido, sem assumir muito as posições definitivas. Alguns mais experientes em movimentos de massa orientam agora o PT a controlar seus governantes, levá-los a oferecer duas respostas à sociedade: uma é diálogo; outra, explicações. Se não podem reduzir o preço da passagem, expliquem à exaustão. Façam autocrítica, peçam desculpas.
O PT está interessado em encontrar saídas também por uma razão que prescinde de pesquisas de opinião mais amplas para ser identificada. Esse tipo de insatisfação terá reflexos nas eleições. Por isso houve reunião, ontem, do grupo da reeleição, coordenado pelo ex-presidente Lula, com a presença de Dilma, do ministro Aluizio Mercadante, do publicitário João Santana, do presidente do partido, Rui Falcão. Sabem que é numa situação como esta que surge alguém com muita força, correndo por fora, e leva. Embora não tenham, hoje, ainda, essas manifestações, com certeza, terão expressão político-eleitoral.
Diante da eclosão dos atuais movimentos de protesto, com temas difusos e participação de grupos desintegrados - as três tribos densas e extensas da passeata de segunda, em São Paulo, são exemplos de tal configuração-, sabe-se que é menos caso de procurar as ainda inexistentes explicações sociológicas e sim de observar bem os fatos e dar à sociedade as respostas adequadas. Os sociólogos, os psicólogos, os doutores, os filósofos, os partidos políticos, as organizações sindicais, os governos federal, estaduais e municipais estão no mesmo plano: ainda nada entenderam dos acontecimentos pelos quais foram totalmente surpreendidos embora não possam deixar de ser responsabilizados. Os investidores, então, se estrangeiros pior, compreenderam menos ainda. A quantidade de telefonemas trocados para todos os lados é uma tradução dessa perplexidade.
O melhor, no momento, é abandonar as teorias e, da parte dos governos, constatar o que esses movimentos não são para, por aí, lhes dar um retorno aceitável. Não são baderneiros, partidários, ideológicos, venais. São estudantes, seus pais, punks, quilombolas, sem teto, sem terra, adolescentes, funcionários públicos. Não há líderes formais orientando slogans e percursos. Embora possa haver, e há, uma representação de todos esses tipos no meio da massa insatisfeita com as tarifas e qualidade do transporte coletivo, com os gastos públicos excessivos em estádios de futebol, com a cara de pau dos políticos e governantes, com a precária situação dos hospitais e das escolas, com a repressão aos corintianos presos na Bolívia, torcidas organizadas e revoltados com a impunidade, saturados em geral com a corrupção.
O desconhecimento, a falta de informação segura e antecipada - os arapongas e estrategistas do governo andam atrás de potenciais adversários eleitorais, não de perscrutar insatisfações sociais- sobre o caldeirão cuja fervura se avizinhava, levou os governos a reagir de forma reconhecidamente equivocada a essa aglutinação de sentimentos negativos.
Somente a partir da noite de segunda, diante das manifestações amazônicas em doze Estados e oito cidades do interior de São Paulo, os governos começaram a mudar seu discurso. Mas não saíram dele para a ação, ainda.
Quem tem experiência em manifestações do tipo, quem liderou e participou dos movimentos pela anistia e pelas diretas já, os dois maiores da história recente, sabe que a mobilização cresce com a repressão. Mas ninguém percebeu o que acontecia, de fato, e recorreu-se às velhas fórmulas: violência, acusações de exploração eleitoral, manipulação.
O tema do reajuste de passagens alcançou o governador de São Paulo e o prefeito da capital em Paris. Se quem estava aqui não tinha ideia do que se tratava, imagine-se quem estava na França disputando o privilégio de sediar a Expo-2020, uma abstração em si. Governado naquele momento pelo ministro petista e vice-governador tucano Afif Domingos, o Estado se escondeu. Sob o comando de Nádia Campeão, a Prefeitura emudeceu. E o festival de besteiras assolou os titulares em declarações à distância.
Numa das manifestações de uma terça, um grupo mais radical destacou-se da massa pacífica, gerando a revanche da polícia, contra tudo e contra todos, na quinta seguinte. Os policiais bateram muito, numa reação desproporcional, maior, segundo testemunhos de pais que acompanhavam seus filhos, que os embates de 68. Naquela época eram raros os equipamentos como os de hoje: escudo, gás de pimenta, bala de borracha, milhares de homens na repressão dura e violenta. Resultado: cresceu a adesão e aumentaram as inadequações dos governantes.
Gilberto Carvalho e José Eduardo Cardozo, no governo federal, Geraldo Alckmin e Fernando Haddad, em São Paulo, Sérgio Cabral e sua tática avestruzeira, não houve um que acertasse o passo. As manifestações colheram em dois dos principais governos envolvidos, o federal com Dilma Rousseff e o municipal com Fernando Haddad, duas pessoas sem a manha da urgência, do diálogo imediato, da experiência em mediar. Foram candidatos saídos de gabinete e, vencedores, ainda não conquistaram a liderança necessária para aplacar dissabores em massa. Alckmin, que tinha alguma, comeu a bola jogada pelo ministro da Justiça, potencial candidato a seu cargo, acreditou que era uma manifestação ao modelo de politicagem infiltrada e partiu para elogiar a polícia.
Em algumas horas, na noite de segunda-feira, foram todos obrigados a dar voltas nas próprias palavras. Uma das situações mais constrangedoras foi a de Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria Geral da Presidência, encarregado de fazer a ponte entre Dilma e os movimentos sociais, doutor na relação com sindicalistas: a polícia identificou três funcionários seus, e mais um de sala contígua, na condução das manifestações de Brasília.
As considerações sobre os acontecimentos foram refluindo, aos policiais ordenou-se discrição, o prefeito tornou-se melífluo, o governador, tangido pelos fatos, dispôs-se ao diálogo, a presidente aproveitou o discurso do lançamento do dia, ontem, para traduzir o que os manifestantes querem: mais cidadania e repúdio à corrupção.
Isso significa que compreenderam, finalmente, o que se passa? Claro que não. Mas tentam dar uma resposta mais adequada a esse mundo desconhecido, sem assumir muito as posições definitivas. Alguns mais experientes em movimentos de massa orientam agora o PT a controlar seus governantes, levá-los a oferecer duas respostas à sociedade: uma é diálogo; outra, explicações. Se não podem reduzir o preço da passagem, expliquem à exaustão. Façam autocrítica, peçam desculpas.
O PT está interessado em encontrar saídas também por uma razão que prescinde de pesquisas de opinião mais amplas para ser identificada. Esse tipo de insatisfação terá reflexos nas eleições. Por isso houve reunião, ontem, do grupo da reeleição, coordenado pelo ex-presidente Lula, com a presença de Dilma, do ministro Aluizio Mercadante, do publicitário João Santana, do presidente do partido, Rui Falcão. Sabem que é numa situação como esta que surge alguém com muita força, correndo por fora, e leva. Embora não tenham, hoje, ainda, essas manifestações, com certeza, terão expressão político-eleitoral.
Indexação - ANTONIO DELFIM NETTO
FOLHA DE SP - 19/06
No dia 16/6, a excelente jornalista Raquel Landim, especializada em assuntos econômicos, escreveu nesta Folha um artigo importante, "Obsessão nacional".
Nele, revela uma das jabuticabas da realidade brasileira: a existência de nada menos que 29 índices construídos por quatro instituições (IBGE, FGV, Fipe e Dieese) para medir no tempo, em setores e no espaço a nossa taxa de inflação. São divulgados nas mais diversas frequências. Até índices diários, exclusivos, pagos à FGV pelos interessados por necessidade de ofício.
Por incrível que pareça, a lista já está desatualizada: a Ordem dos Economistas do Brasil relançou, no último dia 7, o seu Índice de Custo de Vida da Classe Média (ICVM), que inclui 468 bens e serviços.
Se a confusão fizesse sentido, poderíamos dizer que o brasileiro é o cidadão mais bem informado e atualizado do mundo sobre a taxa de inflação. Há aqui, entretanto, um problema trágico. Como a taxa de inflação é uma espécie de radiador que dissipa o calor dos atritos produzidos pelo mau uso dos fatores de produção, o desperdício de tempo e recursos para construir essa multiplicidade de medidas é, ele mesmo, uma causa infinitesimal da inflação!
O artigo chama a atenção para o fato de que, "na Austrália, a inflação é divulgada uma vez a cada três meses". Talvez esta seja uma pequena causa para ajudar a explicar por que lá a taxa de inflação anda às voltas de 2,4% e, no Brasil, ela teima em rodar no limite superior da meta, 6,5%.
Uma das poucas afirmações seguras sobre a taxa de inflação é a de que a inflação de 2013 será igual à "expectativa" de inflação formada pela sociedade, corrigida, positiva ou negativamente, pela política econômica de 2013.
No Brasil, há um fator que mexe com as "expectativas" e, fisicamente, liga a inflação de 2013 à de 2012 de forma inexorável: é o mecanismo de indexação informal e formal do qual não fomos capazes de nos livrar, mesmo com o bem-sucedido Plano Real.
O ilustre e competente professor de econometria da FEA-USP, José Tiacci Kirsten, fez uma análise (ainda não publicada) do novo índice, onde mostra que os bens e serviços indexados representam 36,1% do peso no índice geral. No exercício feito com o mês de maio, 451 dos 468 preços apurados têm alguma forma de indexação (pelo salário mínimo, por sindicatos, pelas administrações públicas, por índices de preços anteriores e "tutti quanti"), o que mostra o pequeno papel do mercado.
O prof. Kirsten conclui que, no "núcleo duro da inflação, cerca de 90% é representado pelos preços dos bens e serviços indexados, o que gera uma inflação inercial cuja barreira será difícil de transpor".
No dia 16/6, a excelente jornalista Raquel Landim, especializada em assuntos econômicos, escreveu nesta Folha um artigo importante, "Obsessão nacional".
Nele, revela uma das jabuticabas da realidade brasileira: a existência de nada menos que 29 índices construídos por quatro instituições (IBGE, FGV, Fipe e Dieese) para medir no tempo, em setores e no espaço a nossa taxa de inflação. São divulgados nas mais diversas frequências. Até índices diários, exclusivos, pagos à FGV pelos interessados por necessidade de ofício.
Por incrível que pareça, a lista já está desatualizada: a Ordem dos Economistas do Brasil relançou, no último dia 7, o seu Índice de Custo de Vida da Classe Média (ICVM), que inclui 468 bens e serviços.
Se a confusão fizesse sentido, poderíamos dizer que o brasileiro é o cidadão mais bem informado e atualizado do mundo sobre a taxa de inflação. Há aqui, entretanto, um problema trágico. Como a taxa de inflação é uma espécie de radiador que dissipa o calor dos atritos produzidos pelo mau uso dos fatores de produção, o desperdício de tempo e recursos para construir essa multiplicidade de medidas é, ele mesmo, uma causa infinitesimal da inflação!
O artigo chama a atenção para o fato de que, "na Austrália, a inflação é divulgada uma vez a cada três meses". Talvez esta seja uma pequena causa para ajudar a explicar por que lá a taxa de inflação anda às voltas de 2,4% e, no Brasil, ela teima em rodar no limite superior da meta, 6,5%.
Uma das poucas afirmações seguras sobre a taxa de inflação é a de que a inflação de 2013 será igual à "expectativa" de inflação formada pela sociedade, corrigida, positiva ou negativamente, pela política econômica de 2013.
No Brasil, há um fator que mexe com as "expectativas" e, fisicamente, liga a inflação de 2013 à de 2012 de forma inexorável: é o mecanismo de indexação informal e formal do qual não fomos capazes de nos livrar, mesmo com o bem-sucedido Plano Real.
O ilustre e competente professor de econometria da FEA-USP, José Tiacci Kirsten, fez uma análise (ainda não publicada) do novo índice, onde mostra que os bens e serviços indexados representam 36,1% do peso no índice geral. No exercício feito com o mês de maio, 451 dos 468 preços apurados têm alguma forma de indexação (pelo salário mínimo, por sindicatos, pelas administrações públicas, por índices de preços anteriores e "tutti quanti"), o que mostra o pequeno papel do mercado.
O prof. Kirsten conclui que, no "núcleo duro da inflação, cerca de 90% é representado pelos preços dos bens e serviços indexados, o que gera uma inflação inercial cuja barreira será difícil de transpor".
FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA
O GLOBO - 19/06
ÔNIBUS SUBIRAM MAIS QUE A INFLAÇÃO EM DEZ ANOS
Tarifas subiram até 118,36% (intermunicipais) no país, segundo IBGE, enquanto IPCA avançou 81,7% desde 2003
Para um IPCA que subiu 81,7% desde o início de 2003, as passagens dos ônibus urbanos ficaram 113,21% mais caras e dos intermunicipais, 118,36%. O grupo Transportes, que engloba modais públicos, veículos próprios e combustíveis, é o segundo de maior peso na inflação. Representa 19,29% do IPCA. Só perde para alimentos e bebidas, com 24,71%. Num cenário de alta da inflação, faz sentido o reajuste dos ônibus ser o detonador da maré de insatisfação que levou os brasileiros às ruas. O preço é alto, o serviço é ruim e faltam alternativas. Dá para trocar um ou outro item da cesta básica. Não dá para chegar ao trabalho sem ônibus. Neste 2013, o país içou os transportes ao topo da agenda de serviços públicos. Nas ruas, jovens exigem nova equação qualidade/preço. Num punhado de capitais (Porto Alegre, Cuiabá, João Pessoa e Recife), as passagens foram ou serão reduzidas com desonerações. As prefeituras de São Paulo e do Rio patinam. É importante que, do encontro da Frente Nacional de Prefeitos, hoje, em Brasília, saia um recado político forte, na direção do que desejam os manifestantes. Será o caminho para o restante da agenda, ainda difusa, de protestos se organizar.
R$ 300 MILHÕES
É quanto a Prefeitura do Rio gastaria com subsídio a empresas de ônibus, se a passagem cair para R$ 2,75. Eduardo Paes diz que o corte do PIS/Cofins está aplicado: tarifa foi para R$ 2,95, não R$ 3,05.
Cruzeiros
A Abremar, que representa empresas de cruzeiros marítimos, fechou projeções da próxima temporada.
Uma dúzia de navios farão 242 roteiros de viagens.
A previsão é que 668 mil passageiros cruzem a costa nacional, de novembro deste ano a abril de 2014. É queda de 12,33% sobre o período 2012/2013, quando o Brasil somou 762 mil leitos.
Refinaria
A Liderroll despacha 26 megarroletes, semana que vem, para Pernambuco. Com 1,7 metro de largura por 2,3 metros de comprimento, cada um pesa 1,8 tonelada. Serão usados na tubulação de água da casa de força da Refinaria Abreu e Lima, da Petrobras. É contrato de R$ 4 milhões com a Alusa Engenharia.
Quem exporta
A Keko, de acessórios automotivos, fechou contrato de US$ 1,5 milhão com a Ford Índia. Até agosto, vai exportar dez mil peças, para equipar o novo EcoSport no país. A empresa pretende repetir o contrato a cada trimestre.
BH
A Alphaville vai construir complexo no Vetor Norte, em Belo Horizonte (MG). O espaço de 2,5 milhões de metros quadrados, dentro do empreendimento Terras Fidalgo, vai abrigar residências, comércio, empresas e escolas. É aporte da R$ 200 milhões. As obras devem começar em 2015.
Dona da marca 1
A Fifa notificou uma centena de empresas por uso indevido das marcas registradas para a Copa das Confederações e o Mundial 2014. Até agora, nenhuma ação judicial foi aberta. Cinco profissionais trabalham exclusivamente na área de proteção às marcas. A entidade trabalha com escritórios de advocacia de todo o país.
Dona da marca 2
O rigor da Fifa pode estar por trás da pouca visibilidade da Copa das Confederações nas ruas do país. André Oliveira, do Daniel Advogados, diz que é certo proteger o direito dos patrocinadores. “Mas a festa acaba ficando exclusiva, muito fechada”, opina.
Certificação
A Embratel recebe hoje certificado Green IT, do programa de Gestão Ambiental da Furukawa. A operadora enviou para reciclagem 1.500 quilos de cabos metálicos e de rede das obras de construção da sede do Comitê Organizador dos Jogos 2016.
Crédito
A Age Rio assinou convênio com o Sinduscon-RJ, ontem. A ideia é ampliar o acesso das empresas da construção civil às linhas de crédito da agência estadual de fomento.
Em tempo
A Age Rio emprestou R$ 700 mil à filial Icaraí (Niterói) da Domino’s Pizza. É dinheiro para reformar a loja e comprar novos equipamentos.
FORMIGAS
Zico Rosado, personagem de José Mayer em “Saramandaia”, estrela um dos cinco anúncios da campanha
da nova novela das 23h, da TV Globo. Se fica nervoso, ele bota formigas pelo nariz. As peças circulam a partir de hoje, em mídia impressa. Foram criadas pela área de comunicação da emissora. A novela estreia na semana que vem.
NA MODA
A Chevrolet acelera no mundo da moda. Lança, pelo 2º ano, coleção de camisetas com a Ausländer. São 1.500 peças, de três modelos.
A grife espera alta de 30% nas vendas. A ação foi criada pela Binder Visão Estratégica. A campanha começa hoje em mobiliário urbano.
Depois, virão mídia impressa e internet.
RESIDENCIAL
Rossi e Conx lançam, sábado, o condomínio Espaço Vip Residencial. O empreendimento, em Jacarepaguá, ocupará área de cinco mil metros quadrados e terá 140 apartamentos em duas torres. Deve bater R$ 61 milhões em vendas. Terá concièrge e lavanderia.
Nordeste
A Montreal, carioca de TI, abriu unidade no Nordeste, em Salvador. Investiu R$ 2 milhões. Espera elevar em 50% o número de contratos na região. No total, a empresa prevê encerrar 2013 com crescimento de 20% sobre o ano passado.
Sustentável
A Nonus, de leitores de código de barras, fechou contrato com o Santander. Vai fornecer 3.500 equipamentos em versão sustentável. Possibilita economia de energia de 80%. É negócio de R$ 1,2 milhão.
Segurança
A Symantec, de soluções de segurança, ouviu pequenas e médias empresas brasileiras na pesquisa global de confiança de PMEs em TI. De 50 entrevistadas, 92% relataram algum prejuízo com ciberataques, uma perda média de US$ 50 mil por ano; e 72% adotam uso estratégico de TI.
ÔNIBUS SUBIRAM MAIS QUE A INFLAÇÃO EM DEZ ANOS
Tarifas subiram até 118,36% (intermunicipais) no país, segundo IBGE, enquanto IPCA avançou 81,7% desde 2003
Para um IPCA que subiu 81,7% desde o início de 2003, as passagens dos ônibus urbanos ficaram 113,21% mais caras e dos intermunicipais, 118,36%. O grupo Transportes, que engloba modais públicos, veículos próprios e combustíveis, é o segundo de maior peso na inflação. Representa 19,29% do IPCA. Só perde para alimentos e bebidas, com 24,71%. Num cenário de alta da inflação, faz sentido o reajuste dos ônibus ser o detonador da maré de insatisfação que levou os brasileiros às ruas. O preço é alto, o serviço é ruim e faltam alternativas. Dá para trocar um ou outro item da cesta básica. Não dá para chegar ao trabalho sem ônibus. Neste 2013, o país içou os transportes ao topo da agenda de serviços públicos. Nas ruas, jovens exigem nova equação qualidade/preço. Num punhado de capitais (Porto Alegre, Cuiabá, João Pessoa e Recife), as passagens foram ou serão reduzidas com desonerações. As prefeituras de São Paulo e do Rio patinam. É importante que, do encontro da Frente Nacional de Prefeitos, hoje, em Brasília, saia um recado político forte, na direção do que desejam os manifestantes. Será o caminho para o restante da agenda, ainda difusa, de protestos se organizar.
R$ 300 MILHÕES
É quanto a Prefeitura do Rio gastaria com subsídio a empresas de ônibus, se a passagem cair para R$ 2,75. Eduardo Paes diz que o corte do PIS/Cofins está aplicado: tarifa foi para R$ 2,95, não R$ 3,05.
Cruzeiros
A Abremar, que representa empresas de cruzeiros marítimos, fechou projeções da próxima temporada.
Uma dúzia de navios farão 242 roteiros de viagens.
A previsão é que 668 mil passageiros cruzem a costa nacional, de novembro deste ano a abril de 2014. É queda de 12,33% sobre o período 2012/2013, quando o Brasil somou 762 mil leitos.
Refinaria
A Liderroll despacha 26 megarroletes, semana que vem, para Pernambuco. Com 1,7 metro de largura por 2,3 metros de comprimento, cada um pesa 1,8 tonelada. Serão usados na tubulação de água da casa de força da Refinaria Abreu e Lima, da Petrobras. É contrato de R$ 4 milhões com a Alusa Engenharia.
Quem exporta
A Keko, de acessórios automotivos, fechou contrato de US$ 1,5 milhão com a Ford Índia. Até agosto, vai exportar dez mil peças, para equipar o novo EcoSport no país. A empresa pretende repetir o contrato a cada trimestre.
BH
A Alphaville vai construir complexo no Vetor Norte, em Belo Horizonte (MG). O espaço de 2,5 milhões de metros quadrados, dentro do empreendimento Terras Fidalgo, vai abrigar residências, comércio, empresas e escolas. É aporte da R$ 200 milhões. As obras devem começar em 2015.
Dona da marca 1
A Fifa notificou uma centena de empresas por uso indevido das marcas registradas para a Copa das Confederações e o Mundial 2014. Até agora, nenhuma ação judicial foi aberta. Cinco profissionais trabalham exclusivamente na área de proteção às marcas. A entidade trabalha com escritórios de advocacia de todo o país.
Dona da marca 2
O rigor da Fifa pode estar por trás da pouca visibilidade da Copa das Confederações nas ruas do país. André Oliveira, do Daniel Advogados, diz que é certo proteger o direito dos patrocinadores. “Mas a festa acaba ficando exclusiva, muito fechada”, opina.
Certificação
A Embratel recebe hoje certificado Green IT, do programa de Gestão Ambiental da Furukawa. A operadora enviou para reciclagem 1.500 quilos de cabos metálicos e de rede das obras de construção da sede do Comitê Organizador dos Jogos 2016.
Crédito
A Age Rio assinou convênio com o Sinduscon-RJ, ontem. A ideia é ampliar o acesso das empresas da construção civil às linhas de crédito da agência estadual de fomento.
Em tempo
A Age Rio emprestou R$ 700 mil à filial Icaraí (Niterói) da Domino’s Pizza. É dinheiro para reformar a loja e comprar novos equipamentos.
FORMIGAS
Zico Rosado, personagem de José Mayer em “Saramandaia”, estrela um dos cinco anúncios da campanha
da nova novela das 23h, da TV Globo. Se fica nervoso, ele bota formigas pelo nariz. As peças circulam a partir de hoje, em mídia impressa. Foram criadas pela área de comunicação da emissora. A novela estreia na semana que vem.
NA MODA
A Chevrolet acelera no mundo da moda. Lança, pelo 2º ano, coleção de camisetas com a Ausländer. São 1.500 peças, de três modelos.
A grife espera alta de 30% nas vendas. A ação foi criada pela Binder Visão Estratégica. A campanha começa hoje em mobiliário urbano.
Depois, virão mídia impressa e internet.
RESIDENCIAL
Rossi e Conx lançam, sábado, o condomínio Espaço Vip Residencial. O empreendimento, em Jacarepaguá, ocupará área de cinco mil metros quadrados e terá 140 apartamentos em duas torres. Deve bater R$ 61 milhões em vendas. Terá concièrge e lavanderia.
Nordeste
A Montreal, carioca de TI, abriu unidade no Nordeste, em Salvador. Investiu R$ 2 milhões. Espera elevar em 50% o número de contratos na região. No total, a empresa prevê encerrar 2013 com crescimento de 20% sobre o ano passado.
Sustentável
A Nonus, de leitores de código de barras, fechou contrato com o Santander. Vai fornecer 3.500 equipamentos em versão sustentável. Possibilita economia de energia de 80%. É negócio de R$ 1,2 milhão.
Segurança
A Symantec, de soluções de segurança, ouviu pequenas e médias empresas brasileiras na pesquisa global de confiança de PMEs em TI. De 50 entrevistadas, 92% relataram algum prejuízo com ciberataques, uma perda média de US$ 50 mil por ano; e 72% adotam uso estratégico de TI.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 19/06
Expansão do porto do Pecém (CE) recebe primeiro sinal verde do Ibama
O porto do Pecém, no Ceará, ganhou o primeiro aval do Ibama para uma ampliação que atenderá a siderúrgica em construção no município de São Gonçalo do Amarante (a 60 km de Fortaleza).
O órgão concedeu nesta semana a licença prévia para a expansão do terminal de múltiplo uso. O processo de licenciamento tem três etapas até o início da operação.
As obras, orçadas em R$ 560 milhões, serão bancadas pelo governo cearense, com financiamento do BNDES.
O Ibama ainda não autorizou o início efetivo da ampliação, mas considerou o projeto viável e deu condições para que seja implantado.
A intenção é ampliar vagas para a chegada de navios, com dois novos berços destinados ao transporte de placas de aço, e construir uma ponte com 32 metros de largura para acesso ao porto, localizado em alto-mar.
"Hoje, como existe uma ponte única, há sempre o risco de que o acesso ao porto offshore seja bloqueado se algum problema ocorrer. Como queremos trabalhar com maior quantidade de carga, a obra é necessária", diz Erasmo da Silva Pitombeira, presidente da Cearáportos.
A companhia, que administra o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, estima que a expansão seja concluída em 2015, perto do início da operação da siderúrgica.
A usina é resultado da parceria entre a Vale e as coreanas Dongkuk e Posco. O complexo sediará ainda a refinaria Premium II, da Petrobras.
Poder dos logotipos
Uma pesquisa da Kantar Worldpanel aponta os segmentos de marcas com maior força de penetração de mercado em diversos países.
A empresa elaborou um ranking das 50 marcas de consumo mais escolhidas do mundo dos setores de bebidas, higiene e beleza, alimentos e limpeza do lar.
Considerando apenas as marcas que constam no ranking, no Brasil, 52% dos logotipos presentes nas casas dos entrevistados são do setor alimentício.
Na média global, as marcas de higiene e beleza aparecem em primeiro lugar em força de mercado, com 42%.
"O estrangeiro se alimenta tanto quando o brasileiro, mas a presença de marcas de outros setores é maior fora do país", diz Andrea Prandi, gerente da empresa.
O levantamento foi feito em 32 países, em 823 milhões de residências.
A ver navios
O Brasil perdeu duas posições no ranking mundial de passageiros em cruzeiros marítimos entre 2010 e 2011, segundo levantamento mais recente da Clia (associação internacional de cruzeiros).
Os cruzeiros brasileiros transportaram 805 mil pessoas em 2010, 5º maior número no ranking mundial. No ano seguinte, porém, o número de passageiros diminuiu para 694 mil, fazendo o país ficar em 7º lugar.
Os Estados Unidos continuam liderando o setor, com 10,4 milhões de pessoas.
Os altos custos da atividade no país causaram a queda, segundo Ricardo Amaral, presidente da entidade.
"O setor cresceu por muitos anos, mas os custos portuários aumentaram e o impacto ficou grande. O país fica menos competitivo."
Outros destinos de viagem com mais estrutura, como China e Emirados Árabes, ganharam força nos últimos anos, acrescenta.
MUDANÇA DE HÁBITO
O seguro-fiança cresceu de 15% para 20,5% entre maio de 2007 e o mês passado nas garantias de contratos de aluguel, apontam dados do Secovi-SP (sindicato da habitação).
A modalidade tirou espaço do fiador e do depósito de caução nesse período.
"O principal problema dos inquilinos é arrumar um fiador. Outra dificuldade é que a pessoa seja aprovada", diz Jaques Bushatsky, do conselho jurídico da entidade.
"E, como a maioria dos locadores depende da renda, o seguro é mais interessante."
A constatação integra estatísticas e informações do "Manual de Locação Residencial" do Secovi-SP, que será lançado hoje e poderá ser acessado no site do sindicato.
Estudo... A Fundação Nacional da Qualidade e a ESPM vão começar amanhã as reuniões de um núcleo de estudos sobre marketing, com encontros mensais.
...aplicado O grupo reunirá profissionais de 13 empresas, como Correios, CPFL e Embraer. O objetivo é debater e estimular estratégias mais eficazes nas companhias.
Expansão do porto do Pecém (CE) recebe primeiro sinal verde do Ibama
O porto do Pecém, no Ceará, ganhou o primeiro aval do Ibama para uma ampliação que atenderá a siderúrgica em construção no município de São Gonçalo do Amarante (a 60 km de Fortaleza).
O órgão concedeu nesta semana a licença prévia para a expansão do terminal de múltiplo uso. O processo de licenciamento tem três etapas até o início da operação.
As obras, orçadas em R$ 560 milhões, serão bancadas pelo governo cearense, com financiamento do BNDES.
O Ibama ainda não autorizou o início efetivo da ampliação, mas considerou o projeto viável e deu condições para que seja implantado.
A intenção é ampliar vagas para a chegada de navios, com dois novos berços destinados ao transporte de placas de aço, e construir uma ponte com 32 metros de largura para acesso ao porto, localizado em alto-mar.
"Hoje, como existe uma ponte única, há sempre o risco de que o acesso ao porto offshore seja bloqueado se algum problema ocorrer. Como queremos trabalhar com maior quantidade de carga, a obra é necessária", diz Erasmo da Silva Pitombeira, presidente da Cearáportos.
A companhia, que administra o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, estima que a expansão seja concluída em 2015, perto do início da operação da siderúrgica.
A usina é resultado da parceria entre a Vale e as coreanas Dongkuk e Posco. O complexo sediará ainda a refinaria Premium II, da Petrobras.
Poder dos logotipos
Uma pesquisa da Kantar Worldpanel aponta os segmentos de marcas com maior força de penetração de mercado em diversos países.
A empresa elaborou um ranking das 50 marcas de consumo mais escolhidas do mundo dos setores de bebidas, higiene e beleza, alimentos e limpeza do lar.
Considerando apenas as marcas que constam no ranking, no Brasil, 52% dos logotipos presentes nas casas dos entrevistados são do setor alimentício.
Na média global, as marcas de higiene e beleza aparecem em primeiro lugar em força de mercado, com 42%.
"O estrangeiro se alimenta tanto quando o brasileiro, mas a presença de marcas de outros setores é maior fora do país", diz Andrea Prandi, gerente da empresa.
O levantamento foi feito em 32 países, em 823 milhões de residências.
A ver navios
O Brasil perdeu duas posições no ranking mundial de passageiros em cruzeiros marítimos entre 2010 e 2011, segundo levantamento mais recente da Clia (associação internacional de cruzeiros).
Os cruzeiros brasileiros transportaram 805 mil pessoas em 2010, 5º maior número no ranking mundial. No ano seguinte, porém, o número de passageiros diminuiu para 694 mil, fazendo o país ficar em 7º lugar.
Os Estados Unidos continuam liderando o setor, com 10,4 milhões de pessoas.
Os altos custos da atividade no país causaram a queda, segundo Ricardo Amaral, presidente da entidade.
"O setor cresceu por muitos anos, mas os custos portuários aumentaram e o impacto ficou grande. O país fica menos competitivo."
Outros destinos de viagem com mais estrutura, como China e Emirados Árabes, ganharam força nos últimos anos, acrescenta.
MUDANÇA DE HÁBITO
O seguro-fiança cresceu de 15% para 20,5% entre maio de 2007 e o mês passado nas garantias de contratos de aluguel, apontam dados do Secovi-SP (sindicato da habitação).
A modalidade tirou espaço do fiador e do depósito de caução nesse período.
"O principal problema dos inquilinos é arrumar um fiador. Outra dificuldade é que a pessoa seja aprovada", diz Jaques Bushatsky, do conselho jurídico da entidade.
"E, como a maioria dos locadores depende da renda, o seguro é mais interessante."
A constatação integra estatísticas e informações do "Manual de Locação Residencial" do Secovi-SP, que será lançado hoje e poderá ser acessado no site do sindicato.
Estudo... A Fundação Nacional da Qualidade e a ESPM vão começar amanhã as reuniões de um núcleo de estudos sobre marketing, com encontros mensais.
...aplicado O grupo reunirá profissionais de 13 empresas, como Correios, CPFL e Embraer. O objetivo é debater e estimular estratégias mais eficazes nas companhias.
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