ZERO HORA - 19/06
Ninguém tem dúvida sobre a potência da internet, e o fenômeno Clarice Falcão é uma prova mais do que evidente. É bem verdade que não se pode falar de Clarice sem falar em Gregório Duvivier, namorado e colega no hit Porta dos Fundos, o programa humorístico mais comentado da atualidade, que só veicula na web. Mas Clarice não é só a parceira do Gregório, nem só atriz, nem só roteirista, nem só filha dos talentosos Adriana e João Falcão – a garota, além de ser também compositora e cantora, é, antes de tudo, um acontecimento.
Comprovei. Estive no show Monomania, que ela apresentou no Bourbon Country no último domingo. Casa lotada. Mal entrou no palco, surto coletivo – antes de abrir a boca, ela já tinha a plateia na mão. Vestida com uma capa de vinil negro, galochas e um guarda-chuva em punho, estava ali para contar sobre como o amor fecha o tempo. E contou. E cantou. Encantou.
O espetáculo foi rápido como um raio, um flash, um clarão. Quantas músicas? Talvez 15, no máximo. Uma mais adorável que a outra, com letras espirituosas, inteligentes, de um humor para entendidos. E quem não é entendido em dores de cotovelo que nos tornam seres risíveis? Ela lembra o tempo todo: morro por você, mas não perco a piada.
Nada de bolero, tango, canções ao estilo rasga coração. O barato de Clarice é expor a natureza tragicômica de todos nós, as nossas inseguranças, infantilidades e maluquices, principalmente as maluquices, o termômetro de toda paixão não correspondida – ou mal sintonizada. Que sanidade, o quê. Amor é a casa dos loucos.
Clarice é boa de rima, boa de trama, boa de ritmo – não se estende demasiadamente, é rápida na transmissão do recado. Linda e doce, nos remete à infância, mas não à infância babaca dos príncipes encantados e finais felizes delirantes. O que ela assinala é que os ideais românticos sofrem uma influência perversa da vida real, simplesmente isso. Simplesmente mesmo. Clarice é simples como um sorvete de creme.
Pelo pouco tempo que Clarice está aí, eu esperava um espetáculo ligeiramente amador, mas ao contar com a experiência e a sensibilidade da sogra, a cantora Olivia Byington, que produz a turnê, o que se viu foi profissionalismo aliado a uma despretensão cativante. Clarice é quase tímida, quase deslocada, quase não entende como foi parar nas capas de revista, quase não sabe como tudo se deu – mas sabe, ou não teria dado a largada para uma carreira que promete ser um refresco para estes tempos de passeatas febris e necessárias – aliás, tomara que o movimento amadureça, sem nos dar motivos para perder o sono.
Então, salve Clarice, que faz canções de ninar para adultos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário