FOLHA DE SP - 19/06
Marolão da alta do dólar pelo mundo pega o Brasil de jeito e cria problema adicional para o BC
O CÂMBIO, "o preço do dólar", está meio enrolado, ou pelo menos muito nervoso. Na semana passada, o dólar saltava entre R$ 2,12 e R$ 2,16. Ontem foi a R$ 2,18, preço da crise de 2009.
O Banco Central na prática vendeu dólares numa quantidade inédita desde 2011, mas não pareceu interessado em fixar uma cotação. Deixou o preço subir, aparentemente mais preocupado em "dar liquidez" (aumentar a quantidade de negócios, de dinheiro na roda, a fim de impedir que os preços sejam distorcidos por negociações escassas).
Nos últimos dias, e também ontem, o presidente do BC, Alexandre Tombini, parecia indicar que não vai se mover para segurar essa onda, marola gorda, de desvalorização do real e de moedas de países latino-americanos maiores e grandes exportadores de commodities (Austrália, Canadá, por exemplo).
Tombini disse que a melhor maneira de evitar que o câmbio mais desvalorizado crie distorções "é ter uma política monetária adequada". Isto é, em tese, taxas de juros mais altas a fim de conter o repasse da desvalorização para os preços ou as expectativas altistas.
As equipes de economistas dos maiores bancos não acreditam em dólar muito caro no final deste ano (algo em torno de R$ 2,10, para algo menos). Logo, acreditam que os nervosismos de junho vão passar.
MUDANÇA NOS EUA
Em suma, como se está cansado de saber, a especulação de agora se deve à possível mudança da política monetária nos Estados Unidos. Caso a economia americana enfim se recupere mesmo, o banco central deles, o Fed, vai reduzir o despejo de dinheiro na economia. Na expectativa de que tal coisa aconteça, os juros já sobem na praça americana, faz algum tempo. Hoje, o Fed pode dar mais um indício de que vai confirmar tal direção.
Em resumo muito breve, a redução do capital "sobrante" no mundo, mais e mais rentáveis opções de investimento nos EUA e o esgotamento da década de crescimento acelerado em muito país "emergente", tudo isso leva dólar para fora daqui e de outros países recipientes de montanhas de investimento estrangeiro a partir de meados de 2000.
No Brasil, em particular, a lerdeza econômica é ainda mais desalentadora, desânimo temperado pela irritação com a biruta da política econômica. Depois de um maio positivo, em termos de entrada de dinheiro (empresas pegando dinheiro a custo baixo), o ambiente azedou em junho. Empresas começam a cancelar campanhas de tomada de empréstimos ("captações").
Pelo menos é esse o sentido da especulação da finança. E daí?
Daí que já tínhamos uma inflação enjoada, com a qual o Banco Central começou a lidar faz uns três meses. Meses de desvalorização do real podem tornar o trabalho do BC mais difícil. Na vida real, o efeito é redução da renda real e/ou mais dificuldades de crédito ou no emprego.
Ou o preço dos importados (e dos produtos negociáveis no exterior, exportáveis) sobe, ou o salário real cai, ou os juros sobem mais, matando algum emprego e os aumentos de salário.
Mesmo que passe a tensão com a mudança da política nos EUA e que o preço do dólar se comporte lá pelo final do ano, a economia brasileira sofrerá alguma avaria.
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