terça-feira, janeiro 24, 2012

João, sempre João - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 24/01/12



O documentário “A música, segundo Tom Jobim”, do mestre Nelson Pereira dos Santos e de Dora Jobim, não tem imagens de João Gilberto. É que um advogado de João avisou que o gênio reserva suas imagens “para um filme sobre sua própria obra”.

Nelson diz que “adoraria tê-lo incluído, pois João foi importante para Tom e a bossa nova”.

Fator BBC
De Joseph Blatter, presidente da Fifa, para um amigo, ao explicar por que passou a defender a divulgação do processo da ISL, que incriminaria Ricardo Teixeira e João Havelange:
— O pessoal da BBC tem me pressionado muito.
É. Pode ser.

Será?
Há uma nova tentativa de acordo para evitar que o STF julgue aquela ação de defasagem tarifária da Varig contra o governo (em jogo, uns R$ 5 bi).
A primeira tentativa data de 2009. Antigos funcionários da finada atravessam dificuldades.

Repouso forçado
De um amigo: a falta do que fazer tem deixado Lula irritado. 

Sopa de letras
O Irã vai trocar seu embaixador no Brasil.
Dia 2, vem de Teerã assumir a embaixada de Ahmadinejad em Brasília Mohammad Ali Ghanezadeh Ezabad. Ocupará o lugar de Mohsen Shaterzadeh.

Aliás...
As relações com o Irã não andam muito boas desde que Dilma assumiu a cadeira de Lula.

Sexo e álcool
O Conar, que faz a autorregulamentação publicitária, soltou circular sobre comerciais de bebidas neste verão.
Recomenda, entre outras coisas, que “apelos a sensualidade não constituam o principal conteúdo” dos anúncios.

Cadê a Dilma?

NESTE MARACANàde ministros, a pobre presidente Dilma até some na paisagem (repare só na foto), no fundo da sala da reunião ministerial de ontem, no Palácio do Planalto. O Brasil tem 38 ministros, uma herança maldita do governo Lula, que se empenhou em acomodar os velhos e os novos parceiros políticos, como os do Maranhão de José Sarney. É claro — como tem dito o empresário Jorge Gerdau, coordenador da Câmara de Gestão, um órgão consultivo para a melhora da eficiência do governo — que é impossível administrar bem com tanta gente. Mas quem dA bola para eficiência na política miúda brasileira? Com todo o respeito 

Deus.com
Surgiu no Brasil uma igreja evangélica... virtual. Não tem templo. Só funciona na internet.
Confira só em miid.net.br.

Clube do milhão
Thalita Rebouças acaba de entrar para a disputada lista dos autores que já venderam mais de 1 milhão de livros no Brasil, com “Fala sério, filha”.

Vada a bordo, Infraero
Um caminhão de bombeiro derramou óleo na pista do aeroporto de Vitória, que ficou fechado duas horas ontem.
Aliás, do site de humor Piauí Herald: “O capitão Schettino vai para a Infraero.” Faz sentido.

‘Embaixadilmas’
Saiu a lista de promoções do Itamaraty.Os novos embaixadores são Laudemar de Aguiar Neto, Antônio Francisco da Costa e Silva Neto, Francisco Carlos Soares Luz, Luís Antônio Balduíno Carneiro e Eugênia Barthelmess.
Papa in Rio
A Dream Factory, empresa da família Medina, do Rock in Rio, vai cuidar da produção da Jornada Mundial da Juventude, que deve reunir milhões de jovens católicos de todo o planeta, em julho de 2013.
O Papa Bento XVI estará presente. Amém.

Graças do samba
Maria das Graças Foster, que vai presidir a Petrobras, é do samba. Já desfilou na União da Ilha, sua escola.

Ao Botafogo
Marcelinho Moreira, o sambista, gravou ontem “Nosso amor é preto e branco”, que fez com Cláudio Jorge em homenagem ao Botafogo, time deles. A música, que estará no próximo CD de Marcelinho, tem participação dos sambistas e ilustres botafoguenses Beth Carvalho e Zeca Pagodinho.

Pretos Novos
Sobre a nota aqui no domingo de que ossadas do Cemitério São Francisco Xavier também foram usadas no aterro do Cais do Porto, no Rio, o professor Reinaldo Tavares, da equipe que estuda o antigo Cemitério dos Pretos Novos, diz:
— Pesquisas históricas e arqueológicas mostram que as coleções osteológicas encontradas na Rua Pedro Ernesto 36 e 34, na Gamboa, são realmente do antigo cemitério de escravos.

Sobrancelha feita
Ronaldinho Gaúcho, vaidoso, tem modelado as sobrancelhas.
É moda nova entre alguns homens. O craque vai ao salão Thomson, na Barra, no Rio. Lá em Morro Agudo... deixa pra lá
No mais 
Como São Paulo não produz navios, o espertinho do Paulo Skaf, dublê de presidente da Fiesp e político, efende que a Petrobras compre embarcações da Argentina para equilibrar a balança entre os dois países.

Os trabalhos de Lula - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 24/01/12


Lula abraçando Haddad dentro do Planalto é imagem para figurar no horário eleitoral. Só isso, associado à popularidade de Dilma, é uma largada para ninguém botar defeito na missão do ex-presidente: expulsar os tucanos de São Paulo


Engana-se quem pensa que o ex-presidente Lula está em casa, apenas lendo os livros que recebeu de presente no Natal ou mesmo fazendo as contas de quantas sessões do tratamento de câncer ainda terá pela frente. Lula se sente na obrigação de servir ao PT hoje como o herói da mitologia grega, Héracles (Hércules), serviu ao rei Euristeu na Antiguidade, o que resultou nos 12 trabalhos de Hércules.

Lula até agora fez quatro trabalhos para o PT: ajudou o partido a crescer, elegeu-se presidente por duas vezes. Em ambas as oportunidades, não descuidou do eleitorado. Governou de forma a manter um público fiel. Estava sempre nos palanques. Seu quarto objetivo foi atingido em outubro passado, quando elegeu a presidente Dilma, uma novata na questão política, contra o experiente ex-governador de São Paulo José Serra, que já foi tudo o que um político pode ser no maior colégio eleitoral do Brasil, deputado, prefeito, governador e senador.

O ex-presidente está agora no quinto trabalho partidário que, aliás, faz lembrar o do herói filho de Zeus. A quinta missão de Hércules foi expulsar as aves do lago Estinfale, na Arcádia. Lula também recebeu do PT a missão de ajudar a expulsar os tucanos e seus aliados de São Paulo. Começou a executar essa missão quando escolheu um nome novo, talvez o petista com mais cara de tucano e com uma história de vida parecida com a de muitos outros paulistanos que começaram a vida adulta cedo trabalhando para ajudar a família.

Atualmente, Lula está tão focado nisso que fez questão de vir hoje a Brasília prestigiar o pré-candidato Fernando Haddad. A presença de Lula na posse hoje — se é que ele vem mesmo, porque, embora confirmada, tinha gente querendo estragar a festa — será uma deferência que nenhum outro candidato a prefeito paulistano obteve. Será a segunda vez que Lula pisa no Palácio do Planalto depois que deixou o cargo. A primeira foi no velório do seu parceiro político por oito anos, o ex-vice-presidente José Alencar. Voltar agora apenas para prestigiar Haddad é um sinal importante. Talvez até maior do que a marca da solenidade de um milhão de bolsas do Prouni, ontem no Palácio.

A imagem de Lula abraçando Haddad dentro do Palácio do Planalto é imagem para figurar no horário eleitoral para prefeito paulistano. Só isso, associado à popularidade de Dilma Rousseff, é uma largada política para ninguém botar defeito dentro da atual missão do ex-presidente: expulsar os tucanos da capital paulista.

Por falar em São Paulo...
Aloizio Mercadante, futuro ministro, também sairá da mesma solenidade hoje com um abraço de Lula sob encomenda para seus projetos futuros de governar São Paulo. Mas Lula ainda tem dúvidas se Mercadante é o melhor nome. Afinal, como já dissemos aqui, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, também está na área e com um trabalho de formiguinha pelo interior de São Paulo. Mas, até chegar lá, Lula tem outras tarefas. Uma delas é evitar que o PMDB conquiste as presidências da Câmara e do Senado. O ex-presidente, por sinal, já disse aos petistas que trabalhem de forma a não deixar que isso aconteça. Aliás, isso influenciou na época para que Michel Temer fosse escolhido candidato a vice para compor a chapa com Dilma Rousseff. Lula não quer ver Dilma tão refém do PMDB como ele foi. Por isso, colocará essa missão entre os trabalhos necessários para ajudar o PT a limpar um pouco o caminho das pressões sobre 2014.

Por falar em 2014...
O sétimo trabalho do Hércules da mitologia grega foi capturar o touro selvagem do rei dos cretenses, Minos. Transferindo a nossa história para a política brasileira, trocamos aqui apenas a vogal, em vez de Minos, Minas. Lula começa a estudar devagar e pacientemente os movimentos do senador Aécio Neves, tido como o nome da oposição para concorrer com Dilma Rousseff daqui a dois anos e meio.

Aécio, que parece imóvel ao grande público, como alguém alheio à política, tem se movimentado bastante nos bastidores. E são essas manobras, quase que imperceptíveis a olho nu, que Lula hoje tenta mapear de forma a segurar os aliados em torno do PT. Assim como Hércules capturou o touro selvagem do rei Minos, o herói petista deseja tirar o poder do astuto político que vem de Minas e, assim, cumprir mais uma tarefinha em favor do PT que já lhe deu tanto. Entre os petistas, há quem diga que Lula só vai parar quando ver a bandeirinha do partido tremulando em São Paulo e Minas Gerais. Mas, enquanto 2014 não chega, Lula se prepara para tirar as aves da maior cidade do país. Hoje, ele espera dar mais um passo rumo a esse objetivo. Se conseguir cumprir tudo o que deseja, certamente ganhará o apelido de Hércules da política brasileira. Vamos observar.

Dilma, quatro anos em quatro - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 24/01/12

Obsessão de gerenciar o curto prazo a fim de atingir meta de 4% de crescimento pode ser contraproducente


DILMA ROUSSEFF entrou pelo segundo ano de seu governo sem apresentar, de modo organizado e claro, suas metas e meios.

No tema que diz respeito a estas colunas, não sabemos o que a presidente quer fazer da economia.

Por estes dias, Dilma ajusta com seus ministros o que um deles chamou irônica e reservadamente de "business plan" (plano de negócios) para 2012. De mais importante, ao que parece, estão sendo decididos:

1) o tamanho da contenção de gastos; 2) o tamanho do investimento federal; 3) estímulos ao crédito para estimular a economia.

"Plano de negócios" é uma expressão adequada para um "governo gerencial". "Gerência" é um termo vago, mas não sugere estratégia de longo alcance ou mudanças importantes, apenas a administração mais comezinha, decerto crucial, porém em si mesma míope.

Desde o ano passado a gente ouve ministros a falar dos 4% de crescimento da economia, piso dilmiano. Nesta temporada de reuniões gerenciais, a gente ouve muito e de novo: 4%. O governo vai passar quatro anos gerenciando as ações a fim de alcançar 4% de crescimento?

A meta é só política (manter o mínimo para a vitória eleitoral)?

Ou o gerenciamento dos 4% implica uma visão de médio prazo da economia? Além do mais, é possível manter um crescimento regular de 4% sem mudança maior, sem projeto que vá além da gestão de estímulos pontuais à economia?

Gente do governo diz que 4% é um mínimo porque, nessa toada, a receita de impostos cresce num ritmo suficiente para manter um superavit fiscal mínimo, para pagar o crescimento "vegetativo" da despesa e, a depender do ano, para até fazer algum investimento maior.

Outros dizem também que, além de permitir algum investimento do governo (que tende a induzir investimento privado, em alguns setores ao menos), os 4% são um ritmo de crescimento que induz empresas daqui e de fora a investir, com ou sem governo. Seria um ritmo que mantém vivo o "espírito animal" no empresariado e atrai investimento externo para o mercado crescente.

Nesta visão, como é fácil deduzir, a eventual poupança insuficiente é um problema a ser sanado pelo crescimento; a inflação é literalmente administrável (e pode ser tolerada num nível superior à meta atual).

Enfim, o acionamento de botões e manivelas de curto prazo dá conta do crescimento duradouro a 4%.

Dá? O governo está preocupado com a indústria, que estagnou em 2011 e não será brilhante em 2012.

A indústria sofre por causa da combinação de real forte e inflação alta, que encarece o produto nacional, e ainda por causa do barateamento de produtos estrangeiros, decorrente do excesso da oferta de manufaturados num mundo que cresce pouco (afora os danos de impostos altos e infraestrutura ruim).

Esses e outros empecilhos muito enraizados não se resolvem com gerências. Assim como não se resolve com miopias o sério e difícil problema de falta de mão de obra qualificada, que eleva custos e é um obstáculo à inovação, por exemplo. A educação para o trabalho (e não só, mas fiquemos no mais urgente) deveria ser um tema central de Dilma, que, no entanto, mal fala a respeito.

A mera gerência, enfim, implica modorra institucional e, no fim das contas, econômica.

O ocaso das sacolas - HÉLIO SCHWARTMAN

FOLHA DE SP - 24/01/12

SÃO PAULO - O fim de sacolas plásticas em supermercados paulistas é um ótimo negócio para redes varejistas, uma conveniente cortina de fumaça para o poder público, um leve golpe contra o bolso do consumidor e uma medida de impacto provavelmente baixo para o planeta.

Ao contrário do que se diz, as tais sacolinhas plásticas nunca foram gratuitas. Seu custo estava embutido no das compras que fazíamos. Explicitá-lo por meio de um preço é, em princípio, algo positivo, pois isso torna mais transparentes as relações de consumo e ajuda a promover hábitos menos extravagantes.

Mas, como é altamente improvável que a mudança resulte na correspondente redução dos preços nas gôndolas, os supermercados acabam se dando bem, porque, numa canetada, eliminam um custo e ganham uma nova fonte de receita, posando ainda de campeões da ecologia.

Algo parecido vale para o poder público. Ele aparece na foto como defensor do ambiente por ter promovido o acordo e pouca gente lembra que sua lista de omissões nessa área é grande. O volume de lixo reciclado ainda é risível e há pouquíssimas usinas de compostagem, para citar apenas dois pecadilhos diretamente relacionados a resíduos sólidos.

O consumidor leva prejuízo porque as sacolas escolhidas para substituir o plástico são as de milho. Relativamente caras, custarão

R$ 0,19 cada uma. É questionável ainda a ideia de embalar comida com comida. Tirar milho de galinhas e pipoqueiros para produzir invólucros tende a inflacionar o setor de alimentos.

Em termos ambientais, as sacolas são um estorvo, mas nem de longe o maior problema. Reduzir seu uso sem criar dificuldades maiores é uma meta louvável. Cumpri-la implicará custos, que terão de ser pagos pelos consumidores. O que irrita, no Brasil, é que governantes e lobbies são rápidos para estender a conta ao cidadão, mas muito lentos, para não dizer abúlicos, em fazer a sua parte.

Muito além do estilo - DORA KRAMER

 O Estado de S.Paulo - 24/01/12



A questão da diferença de estilos entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pontuou o início do governo da sucessora e é tida como uma das principais razões dos altos índices de popularidade.

Por esse raciocínio, Dilma agradaria à parcela da população que Lula desagradava e, assim, agregaria novos admiradores sem perder os já conquistados, aumentando o capital político do mesmo projeto de poder.

A tese das diferenças entre um e outro já se prestou a várias leituras, sendo a mais equivocada delas a que enxerga sinais de ruptura em atos como o trato civilizado que Dilma dá à oposição, a ausência de tagarelice diária ou a capacidade de reconhecer o momento em que um ministro perde a condição de permanecer no cargo.

Há que distinguir, no entanto, estilo de padrão. O primeiro guarda relação com a maneira de ser de cada um e o segundo diz respeito aos fundamentos de atuação para a execução de objetivos.

No cotejo com a realidade, o que se vê não são diferenças de padrão. Dilma não trata a imprensa como inimiga da democracia, mas não orienta o seu partido a deixar de lado a proposta de controle social da mídia.

Na política externa não celebra relações com agressores dos direitos humanos, mas ignorou o pedido da cubana Yoani Sanchez para que a ajudasse a conseguir autorização para viajar ao Brasil nem incluiu na agenda de sua próxima visita a Havana - onde acaba de morrer mais um dissidente da ditadura Castro - encontro com a oposição, conforme solicitado.

Quanto às demissões de ministros, Dilma mostrou seus limites ao fazer vista grossa às consultorias de Fernando Pimentel e às estripulias de privilégios a redutos eleitorais e familiares de Fernando Bezerra.

Na campanha eleitoral já em curso a despeito dos parâmetros legais, o assunto das diferenças de maneiras entre Lula e a presidente voltará à baila. Dilma será ou não tão explícita no uso da máquina pública quanto foi o antecessor.

Os primeiros acordes da sinfonia indicam que no estilo pode ser - até por temperamento e vocação -, mas no padrão não necessariamente.

Ficou estabelecido que a eleição de Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo é prioridade para o governo federal, o passo essencial para a derrubada da cidadela tucana.

A presidente começou as despedidas do ainda ministro da Educação na semana passada, em Angra dos Reis, aproveitando inauguração de creche para incluí-lo no panteão dos "maiores ministros da Educação deste País", e hoje prepara uma cerimônia que, em termos de presença federal na eleição municipal, terá mais caráter de boas-vindas do que propriamente de adeus.

Tanto que o ato, no Palácio do Planalto, terá a presença de Lula - hoje não mais uma autoridade, mas um cabo eleitoral.

O gesto mais eloquente de que não obstante seja discreta está disposta a pôr o governo a serviço do projeto partidário, foi a transferência da realização do Enem, o exame de avaliação de desempenho que tantos problemas causou aos estudantes do ensino médio, para depois das eleições.

A justificativa: o governo não consegue fazer duas edições do exame. Poderia ser uma decisão técnica fazer apenas a prova já marcada para abril. Mas assume caráter político-eleitoral quando é estrategicamente marcada para o mês de novembro.

Uma medida preventiva que acaba se caracterizando como estelionato eleitoral antecipado por tirar da pauta um tema importante apenas para proteger o candidato de si mesmo.

Área de proteção. Depois da movimentação de entidades de magistrados que resultou em ação judicial para reduzir os poderes do Conselho Nacional de Justiça, surge da mesma fonte uma ofensiva para limitar a área de atuação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras.

Tanto o CNJ quanto o Coaf funcionavam sem contestação sobre as respectivas atividades. Isso até começarem a importunar excelências do Poder Judiciário, cuja reação parece exprimir o conceito de que legalidade nos olhos alheios é refresco.

Lavando a roupa - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 24/01/12


O PMDB decidiu sangrar em praça pública no Dnocs. O senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) nomeou o novo diretor de Infraestrutura, Fernando Ciarlini, e entregou a cabeça do Administrativo, Albert Gradvohl. O ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração) colocou Vitor Leão no cargo. Foi então que o deputado Danilo Fortes (PMDB-CE) resolveu adotar Gradvohl e passou a bater no presidente do órgão, Elias Fernandes, que é ligado ao líder do partido na Câmara, Henrique Alves (RN).

Os tucanos no Pinheirinho
O prefeito de São José dos Campos (SP), Eduardo Cury (PSDB), tinha reunião marcada com o então ministro interino Rogério Sottili (Secretaria Geral da Presidência), na quinta-feira passada, para discutir a desocupação da área do Pinheirinho, mas não apareceu nem desmarcou a reunião. No dia seguinte, ele se reuniu com o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) para discutir a questão. Inconformado com a ação truculenta da Polícia Militar paulista e da Guarda Municipal, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) criticou Cury ontem. “O prefeito esteve com o Suplicy fingindo uma negociação" disse Carvalho

“Mais uma vez uma gravíssima questão social é tratada como caso de polícia” — Wadih Damous, presidente da OAB do Rio, sobre a violência em Pinheirinho

A SEGUNDA ARMADA DA MARINHA. Na reunião setorial sobre assuntos de Defesa Nacional, ontem, a presidente Dilma autorizou o ministro Celso Amorim a criar um grupo de trabalho com o objetivo de constituir a Segunda Armada da Marinha. Essa é uma reivindicação do comandante da Marinha, Júlio Soares de Moura Neto, na foto, visando a proteger as reservas de petróleo do pré-sal na plataforma continental do Brasil.

Dureza
A presidente Dilma foi dura as reuniões com os ministros esses dias. Cada vez que um eles começava a falar sobre o assado, ela avisava: “Eu não uero balanço”. Queria metas. cobrava de onde sairá o diheiro para cada ação.

Promessa
A ministra Tereza Campelo (Desenvolvimento Social) disse ontem na reunião ministerial que, no final de 2013, não haverá mais nenhuma família em situação de miséria extrema no Rio. Isso já ocorre em nove estados do país.

O líder e a ação no STF
O líder do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), ligou para dizer que não é candidato a substituir o ministro Mário Negromonte no Ministério das Cidades. Sobre o inquérito a que responde no STF, diz que não foi ouvido e que tem a convicção de que será inocentado da acusação de improbidade administrativa. Explicou que, pelos mesmos fatos, se livrou de processos semelhantes no TCU e no TRF. Ele chegou a ser condenado em primeira instância, mas absolvido após recurso.

Ninja
Paulo Maldos, assessor da residência da República que i ferido por bala de borracha a reintegração de posse em ão José dos Campos (SP), é quele que foi intimidado por zendeiros em Mato Grosso o Sul em conflito com índios.

Acerto de contas
Militantes de direitos humaos querem que a Comissão da erdade seja instalada no dia o- de abril, data que os oposiores da ditadura dizem, como rovocação, ser o aniversário o golpe. Os militares comemoram em 31 de março.

DESMONTE. A bancada de deputados do PMDB está enfurecida. O ministro Alexandre Padilha (Saúde) está substituindo os indicados do partido nas direções regionais da Funasa. O último foi o de Mato Grosso do Sul.
VIBRAÇÃO na assessoria da presidente Dilma. O presidente da Petrobras foi demitido à margem dos partidos. Dizem que até o PT foi surpreendido.
CANDIDATO à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad faz aniversário amanhã, junto com a cidade. Ele estava em dúvida se ficaria em Brasília com a família ou se aproveitaria para faturar politicamente.

As lições de Churchill - RODRIGO CONSTANTINO

O GLOBO - 24/01/12

Winston Churchill faleceu no dia 24 de janeiro de 1965. Este artigo é uma homenagem a este que foi a figura política de maior destaque no século 20. Liderança inquestionável nos turbulentos anos 40, Churchill foi o maior responsável individual pela derrota nacional-socialista na Segunda Guerra Mundial. Não é pouca coisa.
De sua longa vida, podem-se tirar diversas lições importantes. Superação é uma das primeiras palavras que vêm à mente. A quantidade de adversidades e obstáculos que surgiram em seu caminho apenas fortalece o mérito de suas conquistas. Churchill não era de desistir, e usava cada tropeço para se reerguer com mais determinação ainda. Para ele, sucesso era a habilidade de sair de um fracasso para outro sem a perda do entusiasmo.
Como todo ser humano, Churchill tinha suas falhas e contradições. Nem sempre foi correto, e errou em suas previsões em importantes situações. Mas todos estes defeitos servem para torná-lo mais humano, e não eclipsam de forma alguma seus tantos acertos, fundamentais para preservar a liberdade naqueles ameaçadores anos.
Uma de suas maiores qualidades como estadista era seu realismo. Enquanto muitos preferiam o falso consolo de esperanças ingênuas, Churchill analisava os fatos com maior frieza. Como escreve Paul Johnson em sua biografia, “Churchill era realista o bastante para perceber que as guerras aconteceriam e, por mais terríveis que fossem, ele preferia vencê-las a perdê-las”. Ele sabia ser pragmático quando necessário, mas sua essência era basicamente a de um liberal, defensor da democracia e também do livre mercado.
Sobre a democracia, aliás, Churchill tornou famosa a ideia de que se trata do pior modelo político, exceto todos os outros. Ele era realista o suficiente para não esperar escolhas democráticas fantásticas, e costumava dizer que o melhor argumento contra a democracia era uma conversa de cinco minutos com um eleitor médio. Esta postura cética é importante para limitar os estragos que podem ocorrer com o abuso de poder do governo, mesmo sob regimes democráticos.
Nas grandes batalhas do século 20, tanto ideológicas quanto físicas, Churchill esteve do lado certo. Ele abominava os monstros aparentados: o comunismo, o nazismo e o fascismo. Considerava a tirania bolchevique a pior de todas. Chegou a afirmar que “o vício intrínseco do capitalismo é a partilha desigual do sucesso”, enquanto “o vício intrínseco do socialismo é a partilha equitativa do fracasso”.
Ainda assim, soube fazer concessões práticas quando a própria sobrevivência dos valores ocidentais estava em jogo. Até mesmo com Stalin ele costurou um pacto para derrotar Hitler, após este trair o ditador soviético. Para Churchill, se Hitler invadisse o inferno até o diabo mereceria ao menos uma palavra favorável.
Churchill havia lido “Mein Kampf” e, ao contrário de tantos que consideravam Hitler apenas um aventureiro iludido, ele acreditou em suas promessas. O “pacifismo” era o credo da moda, mas Churchill soube enxergar melhor a realidade. Isso fez com que a Inglaterra estivesse preparada quando o inevitável ataque nazista ocorreu. O papel de liderança exercido por Churchill neste momento de vida ou morte foi crucial para a vitória inglesa. “Nós nunca nos renderemos”, enfatizou em seu famoso discurso.
Ele era a “personificação do entusiasmo”, como explica Johnson. Sua retórica não era, entretanto, vazia, e suas ações incansáveis colocavam em prática sua mensagem. Sua coragem na liderança da máquina de guerra inglesa comprovava sua fala. Sua confiança era contagiante, e sua determinação, inspiradora. Segundo o historiador Paul Johnson, seria legítimo dizer que Churchill realmente salvou a Inglaterra (e, portanto, o Ocidente).
Além das medalhas militares, Churchill publicou quase 10 milhões de palavras em discursos e livros, pintou mais de 500 telas, construiu pessoalmente boa parte de sua propriedade particular, foi membro da Royal Society, foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, foi exímio caçador e jogador de pólo, criou cavalos vencedores e consumiu espantosa quantidade de champanhe, em companhia de seus charutos. Era muito espirituoso, com incríveis tiradas dignas de uma mente rápida e sagaz.
Para Paul Johnson, a vida de Churchill passa ao menos cinco lições importantes: pense sempre grande; nada substitui o trabalho árduo; nunca deixe que erros e desastres o abatam; não desperdice energia com coisas pequenas e mesquinhas; e, por fim, não deixe que o ódio o domine, anulando o espaço para a alegria na vida. Belas lições!

O doleiro do TRT - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 24/01/12

Sempre que há risco de se provocar susto ou indignação no respeitável público, o pessoal lá de cima capricha no vocabulário. No mais recente escândalo, que tem como palco o Poder Judiciário, a malandragem ganhou nas altas esferas o apelido pernóstico de "operações financeiras atípicas". Quem sabe, devem ter pensado os cidadãos diretamente interessados, assim o pessoal lá fora vai ficar mais tranquilo.

Esperemos que não. Afinal de contas, o leitor de jornal, o ouvinte de rádio e o espectador de TV já sabem traduzir a linguagem peculiar que predomina na chamada vida pública nacional. O escândalo envolveu o comércio de dólares nos cartórios e tri0bunais. As vendas foram consideradas "atípicas" principalmente na última década, quando envolveram um total de quase R$320 milhões. Um doleiro não identificado foi o atípico campeão, responsável por operações financeiras num total de mais de R$280 milhões, quase tudo dinheiro de prósperos membros ou funcionários do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, sediada no Rio.

Comprar dólares ainda não é crime ou pecado. Basta que a próspera turma da 1ª Região possa explicar como enricou. Em outros cinco estados, investigações recentes do CNJ descobriram irregularidades sérias em pagamentos de auxílio-moradia, diárias para viagens de juízes, jetons e adicionais por tempo de serviço. E vêm mais revelações por aí: o CNJ está passando um pente-fino nos tribunais do país inteiro.

Até agora, conhecem-se os crimes, mas não os criminosos. O bom trabalho de limpeza que vem fazendo o CNJ não está sendo acompanhado pela identificação dos ilustres senhores que andaram sujando a barra de suas togas. Se forem punidos, não haverá dúvidas sobre seus pecados - e, obviamente, merecerão ser publicamente identificados, como acontece com quaisquer outros cidadãos que metem a mão no dinheiro da gente.

É bom não esquecer que o doleiro que prestava seus serviços ao pessoal do TRT do Rio era funcionário do tribunal. Alguém imagina que ele fazia qualquer coisa por lá, além de vender dólares? Essa é uma pergunta óbvia, mas absolutamente necessária. Para que não se corra o risco de que a demissão do doleiro seja considerada solução e fim desse triste episódio.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 24/01/12


Rede de óculos de sol entra no mercado de óticas

A Chilli Beans, rede brasileira de óculos escuros presente na maioria dos grandes shoppings do país, quer concorrer no mercado de óticas a partir deste ano.

O modelo de negócio, de franquias enxutas, que funcionam com pequenos quiosques ou lojas, foi criado pelo empresário Caito Maia, que começou vendendo óculos de sol a preço acessível em 1998.

Novos produtos, como relógios e chapéus, foram introduzidos na mesma estrutura mantida pela rede, que alcançou cerca de 400 unidades no país, além de Portugal, EUA, Colômbia e Angola.

Há cerca de um ano, a marca decidiu vender também óculos de grau. Sem a estrutura necessária, de laboratórios para as lentes, a rede só vendia armações para receituário, de uma linha de produtos que batizou de "Vista".

No primeiro trimestre, a empresa inaugura seu conceito de óticas, com equipamentos de medição e equipe especializada. O projeto começa com duas novas lojas próprias em São Paulo, que seguem o padrão de "self-service", em que o cliente pode manusear o produto.

A empresa, que tem grande produção na China, planeja elevar a parcela brasileira. "Desde o início, tento produzir no país. Mas só recentemente, com volume para negociar, consegui ter parte no Brasil", segundo Maia.

MULHERES NO ITAMARATY

A presença feminina em embaixadas brasileiras quadruplicou nos últimos dez anos.

O livro "Diplomata: Substantivo Comum de Dois Gêneros", de Viviane Rios Balbino, que será lançado na próxima semana em Brasília, mostra que o número de mulheres promovidas a embaixadoras aumentou de 5,15% do total em 2001 para 17% hoje.

"Houve uma política afirmativa dentro do Itamaraty, recebida com algumas críticas, que promoveu uma ou duas mulheres ao cargo por semestre", diz Balbino.

Apesar do crescente número de embaixadoras brasileiras, a presença das mulheres no Itamaraty ainda é pequena. Do total de aprovados no Instituto Rio Branco em 2010, 25% eram mulheres. Em 1993, eram 21%.

A expectativa é que a maior presença feminina em posições de destaque eleve o número de candidatas ao Rio Branco. "Isso deve desmitificar a imagem masculina da carreira. As dificuldades hoje são colocadas tanto para as mulheres como para os homens."

EMPREGO NA OBRA

A construção civil brasileira consolidou o ritmo de desaceleração em 2011, com ressultados menos expressivos do volume de emprego nos últimos meses do ano.

O setor abriu o ano passado com elevação de mais de 11% na comparação com os 12 meses anteriores no nível de emprego, mas fechou novembro em cerca de 7%, na mesma base de comparação, segundo o SindusCon-SP.

"Não foi só o PIB da construção que se desacelerou. A contratação, também. Mas ainda é sustentável. O crescimento de 2011 deve ficar em 9%. Para 2012, estimamos 5%", diz Sergio Watanabe, presidente do SindusCon-SP.

Mesmo a queda sazonal de final de ano foi mais intensa.

Em novembro de 2011, a queda foi de 0,62% ante outubro. Foram fechados 19,6 mil postos de trabalho.

Marítimo Depois de inaugurar loja em Recife no início deste mês, a Regatta, que vende embarcações e acessórios para o setor, estuda abrir mais cinco unidades, nas regiões Sul e Centro-Oeste e no litoral do Estado de São Paulo.

Para obras A Pavão Revestimentos acaba de inaugurar fábrica para produção de azulejos em Pedreira (SP). A área do novo galpão da companhia, que exporta parte da produção para o Chile, é de 600 metros quadrados.

Empresa alemã investe R$ 30 mi em fábrica no Rio de Janeiro

A Knauf do Brasil, empresa alemã fabricante de sistemas de construção a seco ("drywall"), investiu R$ 30 milhões para ampliar sua fábrica em Queimados (RJ).

Com a reforma, a companhia espera aumentar em 60% sua capacidade anual de produção, que chegará a 24 milhões de m2 de chapas.

"Para os próximos anos, estudamos nova expansão fabril", diz Fernanda Mattos, gerente da Knauf.

A empresa também renovou o seu setor de softwares ao importar ferramentas da Alemanha, segundo o responsável pela operação brasileira, Günter Leitner.

A previsão de crescimento da companhia no Brasil para este ano é de cerca de 20%.

Celular Após a abertura de 37 lojas próprias no Estado de São Paulo e de anunciar investimentos de cerca de R$ 400 milhões na ampliação da cobertura de sua rede móvel, a Oi ultrapassou a marca de 8,76 milhões de clientes.

Turismo O "Magic Cities Germany", comissão formada por 11 destinos alemães, fechou parceria com a brasileira TT Operadora - Lufthansa City Center. A operadora irá promover no Brasil cidades como Berlim, Munique e Frankfurt.

Desconfiança... A confiança do empresário industrial paulista caiu, segundo estudo da Fiesp. O índice registrou 48,9 pontos em dezembro passado, 1,6 ponto abaixo do mês anterior.

...empresarial... As indústrias de pequeno porte sofreram um recuo de 2,9 pontos. As de grande porte, por sua vez, apresentaram queda de 3,2 pontos.

...na indústria "Abaixo de 50 é negativo. E há hoje uma visão negativa do desempenho", diz Paulo Francini, da Fiesp. O indicador geral para o Brasil sofreu queda mais leve, de 0,5 ponto, para 54,8 pontos, em dezembro de 2011.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

Mamata no campo - XICO GRAZIANO


O Estado de S. Paulo - 24/01/12


O baque financeiro da Europa está, obviamente, afetando seus negócios produtivos. Sabe-se que haverá um empobrecimento generalizado por lá. Pode-se imaginar, porém, que a agricultura europeia, acomodada historicamente pelos subsídios, se rejuvenescerá nesse doloroso processo. Crise, sempre, abre novas oportunidades de progresso.

Criada como um dos três pilares iniciais da então Comunidade Europeia, a Política Agrícola Comum (PAC) vigora desde 1962. Sua formulação básica oferecia subsídios variados aos produtores rurais visando a assegurar o abastecimento e, ademais, garantir a renda rural. Fazia todo o sentido. A segurança alimentar representava um desejo básico da população, obrigada durante a guerra a dividir o bife do almoço. Quando ele existia.

Apoiando fortemente os seus agricultores, os europeus viram florescer o campo. As políticas de bem-estar social puderam contar com a fartura da mesa, e ainda sobrava comida. Cresceram os estoques de leite em pó e manteiga, açúcar de beterraba e cereais. Os rebanhos bovino e ovino multiplicaram-se. A horticultura deslanchou. E a Europa tornou-se uma grande exportadora agrícola.

No final da década de 1980, entretanto, o protecionismo agrícola europeu começou, por várias razões, a ser questionado. Primeiro, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), recebia contestação dos países emergentes, como o Brasil, que queriam derrubar as barreiras comerciais e abrir os mercados para vender seus produtos. Segundo, internamente, os subsídios e os estoques oneravam em demasia o orçamento público comum, representando até 70% de seus gastos. Terceiro, os consumidores europeus perceberam que produtos do exterior poderiam, sem as barreiras, chegar mais baratos ao supermercado.

A política europeia para a agricultura começou a ser revisada em 1992. Alguns mecanismos regulatórios foram afrouxados, abrindo frestas para importações - frutas, carnes, açúcar - que favoreciam os consumidores. Mas as transferências diretas de recursos, que ainda representavam metade do orçamento da União Europeia (UE), contavam com a ferrenha defesa das entidades rurais, lideradas por França e Alemanha. E na opinião pública do Primeiro Mundo, ao contrário do Brasil, quando os ruralistas se manifestam, recebem simpatia da população.

A razão é simples: ao permanecerem pastoreando e cultivando suas terras, como ancestralmente o faziam, os antigos camponeses deixam de migrar para competir com o saturado emprego urbano. Com a população estabilizada, permanecer na terra equilibra a sociedade. Assim, e recheando os valores tradicionais com a modernidade da questão ecológica, os formuladores da nova PAC europeia bolaram o conceito da "multifuncionalidade rural".

Significa o quê? Um reconhecimento de que os agricultores, além de produzirem alimentos e matérias-primas, são importantes também por preservarem os costumes do campo e manterem a paisagem rural. Dessa forma, além dos subsídios na produção, os agricultores passaram a ser remunerados pelo serviço que prestam ao ambiente, natural e modificado, do interior de sua nação. Valor das comunidades locais.

Boa parte da população da Europa vive fora dos grandes centros urbanos. Tais regiões onde o campo se urbanizou, denominadas por alguns estudiosos como rurbanas, são adoradas pelos moradores das cidades, que as defendem politicamente. O bucolismo do campo favorece o turismo e a culinária, valoriza o modo de vida típico do europeu tradicional, agrega as benesses da modernidade e da comunicação.

As modificações na política agrícola protecionista mostraram-se relativamente positivas. Rebaixaram o custo dos subsídios para o nível médio de 42% do orçamento comum da UE. Excluíram a garantia de preços mínimos, substituída por pagamentos diretos aos produtores. Os estoques caíram, pois, afinal, os agricultores passaram a receber uma ajuda de custo - justificada pela multifuncionalidade - sem correspondência com o nível da produção. E se acostumaram com isso.

Esse acabou se tornando um grande problema da agricultura europeia. Seus excelentes produtores rurais envelheceram e se tornaram, em certo sentido, preguiçosos. Se a vaca dá pouco ou muito leite, pouco importa, ele recebe ajuda de custo por animal, do mesmo jeito. Há um agravante: os subsídios distribuem-se desigualmente entre os pequenos agricultores e os mais ricos, integrados nas grandes corporações do setor de alimentos.

Resultado: com o passar do tempo a UE tornou-se uma grande importadora de alimentos. Agora, com a crise financeira cortando as regalias da economia, tornar-se-á mais difícil manter os subsídios agrícolas, que, embora protejam o sistema agroambiental, sustentam um sistema produtivo ineficiente, incapaz de concorrer no mundo globalizado.

Um choque de gestão começa a varrer a agricultura europeia. Algo parecido acomete a agricultura russa, animada após uma década de fracasso desencadeada com o fim da União Soviética. Em Cuba também se procuram formas de estimular a produção rural, aniquilada pelo decadente socialismo castrista. Na China a modernização do campo vai a fórceps.

No Brasil, enquanto os europeus se acomodavam, os agricultores viravam-se por conta própria para vencer as agruras da lide rural. Alguns permaneceram reclamando contra o governo, e quebraram. A maioria investiu em tecnologia e se tornou empreendedora, na marra. Venceu na dificuldade.

Em Vozes da Seca cantava o saudoso Luiz Gonzaga: "Seu dotô, uma esmola a um homem qui é são/ ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão". Não apenas no campo, mas alhures, a mamata pública destrói a inovação. Compromete o futuro.

Existe amor em SP - NIZAN GUANAES


FOLHA DE SP - 24/01/12


O Brasil tem que parar de ser modesto consigo mesmo, que a natureza não foi. Ela nos deu atributos maravilhosos, e nós fomos criando, em fogo brando, um País à altura.

A maior criação do Brasil chama-se São Paulo, e calma porque isso quem diz não sou eu, é o IBGE.

Da escala humana à escala financeira, São Paulo nos lidera. Mais de 10% das riquezas produzidas no Brasil são produzidas nesta cidade. Que família do País não tem um parente trabalhando aqui?

São Paulo é a grande metrópole do hemisfério Sul no século do hemisfério Sul.

Se São Paulo não tem mar, São Paulo tem um mar de ideias. O planejamento do Brasil passa tanto pelas torres da Faria Lima e da Berrini quanto pelos prédios da Esplanada dos Ministérios.

A cidade faz aniversário, amanhã, no melhor momento de sua história, duplamente presenteada pela globalização e pela interiorização da nossa economia.

O novo ciclo de desenvolvimento do Brasil tem tudo a ver com a cidade. Seu supermundo financeiro de bancos, corretoras, seguradoras e bolsas de valores comanda o vigoroso processo de financeirização da economia nacional e de sua integração crescente e lucrativa com os mercados globais.

Essa conexão duplamente intensa, com o País que pulsa em suas veias e o mundo que pulsa em nossa volta, faz a cidade evoluir sempre de pilha nova, com carga máxima, conectada pelas antenas de seus 12 milhões de habitantes/seguidores.

Uma energia que muitas vezes espanta, no bom sentido, os estrangeiros que vêm descobrir a "maior cidade desconhecida do mundo".

Por isso é preciso equipar São Paulo para que a Copa de 2014 seja uma justa, mesmo que tardia, exposição da metrópole ao mundo.

São Paulo precisa se posicionar com mais firmeza no cenário global como centro financeiro e de serviços superiores não só do Brasil, mas da América do Sul, da África ocidental... O mundo é plano para grandes ideias e grandes cidades.

São pouquíssimas as metrópoles do mundo que contam com área tão extensa de massa cinzenta, com mistura tão completa de profissionais competentes, cada vez mais especializados.

É um ciclo virtuoso: os serviços de alta qualidade atraem trabalhadores de alta qualificação e remuneração, que buscam mais serviços de ponta, como cultura, saúde, educação, luxo e alta gastronomia, que por sua vez atrairão consumidores de outras cidades e países.

São Paulo hoje tem capital humano e capital financeiro para encubar qualquer empreendimento.

Os galpões industriais que ficaram vazios com a transferência das indústrias da cidade para outras regiões do estado e do País são rapidamente reocupados por atividades criativas e comerciais.

A relativa menor atividade industrial (porque a cidade segue potência fabril) foi compensada pela maior atividade cultural, de feiras e de eventos. A cena de restaurantes de São Paulo é mais animada que a de Nova Iorque nestes dias. O mercado imobiliário e o mercado publicitário, para ficar só em dois setores, atraem investimentos do mundo todo.

Não saí de Salvador para vir para São Paulo. Saí para ir ao Rio trabalhar com Roberto Medina, o criador do Rock in Rio. Mas acabei chegando à metrópole paulista pelas mãos de outro gênio, Washington Olivetto, e aqui me desenvolvi em plenitude, prosperei como tantos outros migrantes e imigrantes.

Amo trabalhar, e em São Paulo o trabalho sempre foi muito valorizado. Isso tem muito valor. Porque um dos grandes problemas dessa sociedade tão demandada é o desrespeito ao trabalho.

Assim, quando as pessoas querem te ofender, elas dizem: "Esse cara só pensa em trabalho". Quando querem ofender São Paulo, dizem a mesma bobagem: que a cidade só é boa para trabalhar.

Mas o que mais uma cidade precisa ser? Se ela é boa para trabalhar, o resto será consequência.

Existe uma enorme onda de liberação do afeto reprimido por São Paulo. A firmeza com que a população aderiu à Lei Cidade Limpa mostrou isso.

O amor (por São Paulo) está no ar. Se bem cultivado, vai nos transformar.

O incômodo silêncio da oposição - MARCO ANTONIO VILLA


O GLOBO - 24/01/12



O silêncio da oposição incomoda. Desde 1945 - incluindo o período do regime militar - nunca tivemos uma oposição tão minúscula e inoperante. Vivemos numa grande Coreia do Norte com louvações cotidianas à dirigente máxima do país e em clima de unanimidade ditatorial. A oposição desapareceu do mapa. E o seu principal partido, o PSDB, resolveu inventar uma nova forma de fazer política: a oposição invisível.
A fragilidade da ação oposicionista não pode ser atribuída à excelência da gestão governamental. Muito pelo contrário. O país encerrou o ano com a inflação em alta, a queda do crescimento econômico, o aprofundamento do perfil neocolonial das nossas exportações e com todas as obras do PAC atrasadas. E pior: o governo ficou marcado por graves acusações de corrupção que envolveram mais de meia dúzia de ministros. Falando em ministros, estes formaram uma das piores equipes da história do Brasil. A quase totalidade se destacou, infelizmente, pela incompetência e desconhecimento das suas atribuições ministeriais.
Mesmo assim, a oposição se manteve omissa. No Congresso Nacional, excetuando meia dúzia de vozes, o que se viu foi o absoluto silêncio. Deu até a impressão que as denúncias de corrupção incomodaram os próceres da oposição, que estavam mais preocupados em defender seus interesses paroquiais. Um bom (e triste) exemplo é o do presidente (sim, presidente) do PSDB, o deputado Sérgio Guerra. O principal representante do maior partido da oposição foi ao Palácio do Planalto. Numa democracia de verdade, lá seria recebido e ouvido como líder oposicionista. Mas no Brasil tudo é muito diferente. Demonstrando a pobreza ideológica que vivemos, Guerra lá compareceu como um simples parlamentar, de chapéu na mão, querendo a liberação de emendas que favoreciam suas bases eleitorais.
Em 2011 ficou a impressão que os 44 milhões de votos recebidos pelo candidato oposicionista incomodam (e muito) a direção do PSDB. Afinal, estes eleitores manifestaram seu desacordo com o projeto petista de poder, apesar de todo o rolo compressor oficial. Mas foram logrados. O partido é um caso de exotismo: tem receio do debate político. Agora proclama aos quatro ventos que a oposição que realiza é silenciosa, nos bastidores, no estilo mineiro. Nada mais falso. Basta recordar o período 1945-1964 e a ação dos mineiros Adauto Lúcio Cardoso ou Afonso Arinos, exemplos de combativos parlamentares oposicionistas.
E pior: o partido está isolado, fruto da paralisia e da recusa de realizar uma ação oposicionista. Desta forma foi se afastando dos seus aliados tradicionais. É uma estratégia suicida e que acaba fortalecendo ainda mais a base governamental, que domina amplamente o Congresso Nacional e que deve vencer, neste ano, folgadamente as eleições nas principais cidades do país.
O mais grave é que o abandono do debate leva à despolitização da política. Hoje vivemos - e a oposição é a principal responsável - o pior momento da história republicana. O governo faz o que quer. Administra - e muito mal - o país sem ter qualquer projeto a não ser a perpetuação no poder. Com as reformas realizadas na última década do século XX foram criadas as condições para o crescimento dos últimos dez anos. Mas este processo está se esgotando e os sinais são visíveis. Não temos política industrial, agrícola, científica. Nada.
Este panorama é agravado pelo sufrágio universal sem política. Temos eleições regulares a cada dois anos. Foi uma conquista. Porém, a despolitização do processo eleitoral acentuado a cada pleito é inegável. Para a maior parte dos eleitores, a eleição está virando um compromisso enfadonho. Enfadonho porque vai perdendo sentido. Para que eleição, se todos são iguais? O eleitor tem toda razão. Pois quem tem de se diferenciar são os opositores.
Ser oposição tem um custo. O parlamentar oposicionista tem de convencer o seu eleitor, por exemplo, que os recursos orçamentários não são do governo, independente de qual seja. Orçamento votado é para ser cumprido, e não servir de instrumento do Executivo para coagir o Legislativo. Quando o presidente do principal partido de oposição vai ao Palácio do Planalto pedir humildemente a liberação de um recurso orçamentário, está legitimando este processo perverso e antidemocrático - inexistente nas grandes democracias. Deveria fazer justamente o inverso: exigir, denunciar e, se necessário, mobilizar a população da sua região que seria beneficiada por este recurso. Mas aí é que mora o problema: teria de fazer política, no sentido clássico.
Já do lado do governo, qualquer ação administrativa está estreitamente vinculada à manutenção no poder. Não há qualquer preocupação com a eficiência de um projeto. A conta é sempre eleitoral, se vai dar algum dividendo político. A transposição das águas do Rio São Francisco é um exemplo. Apesar de desaconselhado pelos estudiosos, o governo fez de tudo para iniciar a obra justamente em um ano eleitoral (2010). Gastou mais de um bilhão. Um ano depois, a obra está abandonada. Ruim? Não para o petismo. A candidata oficial ganhou em todos os nove estados da região e na área por onde a obra estava sendo realizada chegou a receber, no segundo turno, 95% dos votos, coisa que nem Benito Mussolini conseguiu nos seus plebiscitos na Itália fascista.
Se continuar com esta estratégia, a oposição caminha para a extinção. O mais curioso é que tem milhões de eleitores que discordam do projeto petista. Mais uma vez o Brasil desafia a teoria política.

GOSTOSA


Reação da sociedade - RUBENS BARBOSA


O Estado de S. Paulo - 24/01/12


Em 2004, numa das mudanças que mais causaram polêmica na sociedade brasileira, o Congresso Nacional aprovou a reforma do Judiciário e a criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O CNJ visa a coordenar, planejar e supervisionar a administração da Justiça. Entre suas competências se incluem a definição e limitação dos vencimentos dos magistrados e servidores do Judiciário, o fim da prática do nepotismo, observando a qualificação e a impessoalidade no recrutamento de funcionários, a instituição do voto aberto e fundamentado nas promoções e remoções de juízes, passando a prevalecer a qualidade e a produtividade na movimentação da carreira. E ainda a implantação do programa Justiça em Números, que acompanha e divulga a produtividade de todos os magistrados brasileiros e a estipulação de metas de produtividade visando a reduzir o acervo processual existente, assim como a apuração de possíveis desvios éticos e morais na conduta de alguns magistrados e servidores.

O conselho também vem realizando mutirões carcerários em todo o País, a fim de melhorar e humanizar o sistema penitenciário, o que tem permitido a identificação das causas do congestionamento na tramitação dos processos em cada Estado. Segundo dados do CNJ, desde 2008 o programa Mutirão Carcerário libertou mais de 36 mil pessoas mantidas presas ilegalmente em todo o País. Nesses casos, ou os detentos já haviam cumprido as penas e ainda permaneciam nos presídios ou não deveriam estar presos.

O CNJ tem sido alvo de críticas de magistrados, sobretudo de Tribunais de Justiça dos Estados, que o veem como instrumento de interferência indevida, por se tratar, a seu ver, de controle externo ao Judiciário. Nesse sentido, sua atuação foi contestada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que pediu liminar para suspender itens da resolução do conselho que disciplina os processos contra juízes. O caso entrou na pauta do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) 13 vezes, mas não foi julgado. O ministro Marco Aurélio Mello optou por decidir sozinho. Em meados de dezembro, em liminar (provisória) concedida por Mello, os poderes do CNJ para investigar e punir juízes suspeitos de irregularidades foram limitados pelo entendimento de que o conselho não pode atuar antes das corregedorias dos tribunais e deve apenas complementar o trabalho destas. A decisão final sobre o caso, entretanto, só deverá ser conhecida em fevereiro, ao término do recesso do Judiciário, quando analisada pelo plenário da Corte. A Advocacia-Geral da União informou, na data da liminar, que iria recorrer.

Agora, em reação às posições contrárias ao CNJ, conselheiros estão apresentando propostas para tornar o órgão mais transparente e democrático. As alterações que serão debatidas nesta semana, entre outros aspectos, modificam os poderes da presidência do órgão.

A corrupção, que no País está adquirindo caráter sistêmico e pode ser considerada um dos fatores do elevado custo Brasil, aparentemente teria atingido também o Judiciário. A pedido do CNJ, o órgão do Ministério da Fazenda incumbido de apurar casos de lavagem de dinheiro, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), apresentou relatório indicando movimentações bancárias atípicas de magistrados e servidores, que teriam chegado a mais de US$ 850 milhões entre 2000 e 2010.

A revista Interesse Nacional (http://interessenacional.com), em sua edição especial de janeiro, dedica-se integralmente à discussão do Poder Judiciário e reúne artigos de respeitados nomes da área jurídica que, ao mesmo tempo, são protagonistas e foram artífices das transformações empreendidas nos últimos oito anos. Os textos são assinados por expoentes do Judiciário, como três ex-presidentes da Suprema Corte, Gilmar Mendes, Ellen Gracie Northfleet e Nelson Jobim, a corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante Junior, o ex-presidente da AMB Mozart Valadares Pires e três professores da Escola de Direito do Rio de Janeiro da FGV - Joaquim Falcão, que foi membro do CNJ, Diego Werneck Arguelhes e Pablo de Camargo Cerdeira. Os autores foram convidados pelo Conselho Editorial da Interesse Nacional justamente por defendem um papel de relevo para o CNJ, posição encampada pela revista.

O presidente do STF, Cezar Peluso, trata da reforma do Judiciário e da PEC dos Recursos e Desenvolvimento.

O CNJ, na verdade, tem contribuído para o fortalecimento da democracia, da ética e dos direitos individuais e ajuda o País a acelerar a prestação jurisdicional, uma vez que impôs planejamento estratégico fracionado em metas. Isso tem levado o Poder Judiciário a superar a prática de funcionar sem projeto e de personalizar a administração e suas realizações, como afirma Eliana Calmon, autora da polêmica expressão "bandidos de toga". Como se lê num dos artigos, o CNJ está "forçando o Judiciário a reconhecer sua condição de maculabilidade". Em outras palavras, está indicando que o magistrado não é diferente de uma autoridade pública quando apanhada em flagrante: se errou, tem de pagar.

Pela primeira vez o Poder Judiciário, até aqui considerado hermético, passou a ser fiscalizado também por representantes da sociedade civil, entre eles, membros do Congresso Nacional, do Ministério Público e da OAB. Todas essas ações aproximam o Judiciário da sociedade e promovem uma melhor prestação jurisdicional.

A discussão em profundidade e objetiva dessa questão é útil para a compreensão dos passos que o Brasil vem dando para consolidar e aperfeiçoar suas instituições democráticas, notadamente na área da Justiça.

Davos social - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 24/01/12
Houve época em que a reunião do Fórum Econômico Mundial aqui em Davos era um encontro que praticamente definia os caminhos do capitalismo mundial. A crise econômica que domina o mundo desde 2008, no entanto, retirou de Davos essa prerrogativa, resumindo as reuniões seguintes a debates estéreis sobre como sair da crise, sem que surgissem ideias criativas ou soluções viáveis.
Para um encontro que supostamente reúne as melhores cabeças e os líderes do sistema capitalista, não ter captado a crise que se avizinhava foi uma lição de humildade, a começar pelo reconhecimento tardio de que o mercado por si só não é capaz de corrigir seus excessos.
Registrei aqui na coluna que não se via tanto mea-culpa desde que, em outubro passado o ex-presidente do Banco Central americano Alan Greenspan, confrontado por um congressista americano, admitiu, "chocado", que o modo de vida capitalista não deu certo, e se disse "surpreso" de constatar que o mercado não conseguiu se autorregular, e que as pessoas não conseguiram trabalhar em seu próprio benefício, refreando os excessos do sistema financeiro.
O ano seguinte à quebra do Lehman Brothers foi marcado pelo paradoxo de defender o livre mercado e o sistema capitalista e, ao mesmo tempo, admitir que somente uma vasta intervenção dos governos nacionais poderia tirar o mundo da crise sistêmica em que se encontrava.
O que se viu aqui em Davos nesses anos foi uma imensa catarse, com temas como regulação do mercado financeiro e a necessidade de maior transparência, que já foram considerados tabus, sendo prioritários.
Este ano, o Fórum Econômico está tentando dar um passo à frente de maneira ousada, defendendo a necessidade de repensar o capitalismo que, na definição de Klaus Schwab, o presidente do encontro, está morto da maneira que o conhecemos até hoje.
Nesse sentido, o tema central do encontro, "A grande transformação, criando novos modelos" é mais que simples retórica, é uma tentativa de descobrir novos caminhos em meio à crise que não dá sinais de terminar.
Os organizadores admitem que não existe um modelo conceitual a partir do qual se desenvolva um entendimento sistêmico das grandes transformações que estão ocorrendo no momento, e as que ainda ocorrerão.
Eles chamam a atenção para o desafio de liderança, que, de maneira quase dramática, descrevem como requerendo novos modelos, ideias ousadas e coragem pessoal para garantir que este século melhorará a condição humana, em vez de limitar seu potencial.
A ambição do Fórum Econômico Mundial é que os líderes que ele reúne retomem seu propósito central, que seria o de definir o que o futuro deveria ser, alinhando os acionistas e as empresas que dirigem para a realização desse objetivo.
Os diversos painéis dos cinco dias do encontro tratarão, claro, de temas concretos sobre como reequilibrar e desalavancar a economia, e reorganizar o mundo capitalista de maneira a que os países desenvolvidos saiam da crise sem quebrar, e os emergentes possam ajudar a recuperação mundial e ganhar novos espaços nos centros decisórios.
Mas o que importa mesmo para os organizadores do Fórum é o resultado final, que esperam seja transformador nas mudanças sociais.
Para sublinhar a preocupação, líderes internacionais que fazem parte do Grupo de Questões Globais do Fórum, como Roberto Zoelick, presidente do Banco Mundial, Christine Lagarde, do FMI, e Pascal Lamy, da OMC, soltaram um documento apelando para uma ação conjunta em face dos "significantes e urgentes" desafios que o mundo enfrenta, com ameaças ao seu crescimento e à coesão da sociedade.
Os signatários do documento declaram-se "preocupados" com a desaceleração do crescimento global e aumento da incerteza.
O alto desemprego, especialmente entre a juventude, é uma preocupação central, pelas consequências econômicas e sociais negativas.
A economia, diz o documento, poderia readquirir força apoiando as mudanças que estão em curso nos países emergentes ajudando nas necessidades de infraestrutura em diversas partes do mundo e começando a tornar realidade a promessa de uma "economia verde".
Para tanto, defendem uma série de medidas, como um sistema aberto e livre de comércio, financiamentos governamentais, com projetos de reformas estruturais, e o combate à desigualdade em todos os países.
Algumas reformas prometidas e nunca realizadas, como a do setor financeiro, e uma renovada cooperação internacional seriam medidas necessárias para a criação de um ambiente propício à recuperação econômica.
O documento cita o Plano de Ação para o crescimento e empregos aprovado em novembro pelo G-20 como uma "sólida fundação" sobre a qual se deve trabalhar.
No curto prazo, para resolver o débito soberano e a crise bancária, seria preciso restaurar a confiança nas instituições financeiras, o que só seria conseguido através de medidas como uma reforma regulatória aceita internacionalmente; recapitalização de bancos onde for necessário; promoção de acesso a capital para pequenos e médios negócios.
Além dos aspectos técnicos para superar a dívida dos países através de ações conjuntas do Banco Central Europeu e outras agências financeiras internacionais, o documento aborda questões políticas essenciais, que interessam especialmente ao Brasil: os países devem se comprometer a não usar métodos protecionistas, assumindo políticas amplas de comércio e financiamento, e também dar exemplos concretos de que as restrições ao comércio introduzidas como resposta à crise serão revertidas.
Com relação ao meio ambiente, o documento defende que a reunião Rio+20 deve ter como objetivo central uma estratégia ampla para o crescimento verde que encoraje inovação e difusão de novas tecnologias, que têm potencial de criar novos empregos.

MARCHA, GORDINHO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 24/01/12
A cada ano os jovens brasileiros chegam ao Exército mais gordos. É o que mostra a pesquisa "Obesidade Zero", que mediu o grau de obesidade nos recrutas brasileiros quando eles completaram 18 anos. Houve aumento de mais de 200% no número de garotos com sobrepeso e mais de 300% no de obesos em 2008, em comparação com os da mesma idade em 1978.

MARCHA, GORDINHO 2
Segundo o cardiologista Daniel Magnoni, coordenador da pesquisa, foram avaliados dados de 2 milhões de homens nascidos entre 1957 e 1991. Em 1978, os recrutas com sobrepeso eram 6,6%; os obesos, 0,9%. Trinta anos depois, os números pularam para 15,5% e 2,8%, respectivamente. "Na idade em que deveriam ser magros, nossos jovens já estão gordos", afirma Magnoni.

DIVERSIDADE
Além de mais dois debates regionais, nas zonas leste e oeste da capital, o PSDB pretende fazer um encontro de seus pré-candidatos à Prefeitura de SP com os segmentos de mulheres, negros (chamado de Tucanafro), movimentos populares e LGBT do partido. O evento deve ocorrer depois do Carnaval.

ESQUADRO
O Sebrae firmará convênio com o IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) para traçar uma radiografia da profissão no país. Existem mais de 100 mil arquitetos, 30 mil escritórios e 7.000 universitários que se formam na carreira anualmente. O estudo deve distinguir em que áreas atuam e em que tipos de empresas prestam serviços. O Sebrae pretende qualificá-los com cursos de gestão.

É TUDO MEU
A atriz e cantora Jennifer Lopez levou os dois filhos e as próprias equipes de maquiagem e figurino para a gravação dos comerciais de Carnaval da Brahma que ela vai estrelar.

Os filmes foram dirigidos por Heitor Dhalia e rodados no último dia 15, em uma mansão avaliada em US$ 7 milhões, em Hollywood.

BELEZA PURA
Bia Antony, mulher do ex-jogador Ronaldo, a modelo Cassia Avila, o estilista Alexandre Herchcovitch e Fabio Souza foram ao desfile de Reinaldo Lourenço, na SPFW, na Faap. O músico Otto conferiu a coleção da Cavalera, na Estação da Luz. Os modelos Alicia Kuczman e Marlon Teixeira desfilaram na semana de moda.

SIBÉRIA DO CRACK
No desfile da Cavalera na SPFW, anteontem, na Estação da Luz -em plena cracolândia-, o cantor Otto afirmou: "O crack é a droga do diabo". Segundo ele, esse é um "problema de saúde pública e de urbanismo", não de polícia. "Daqui a pouco [os governantes] constroem uma masmorra ou mandam todos os dependentes pra uma Sibéria do crack e deixam eles lá até morrer."

COELHINHAS
Bia Antony, mulher de Ronaldo, e a top Alicia Kuczman circularam na SPFW com um acessório que chamou a atenção: capinha de iPhone com orelhas de coelho.

OUTRA GISELE
Pouco antes do desfile da Colcci, no domingo, a apresentadora Paola de Orleans e Bragança, da SPFW TV, foi avisada de "que a Gisele está aqui". "É mesmo?! Cadê a câmera?!" A informação provocou correria até a porta, mas a top não estava lá. Era a atriz Giselle Itié.

LISTA DE ESPERA
O empresário Henrique Pinto, da Água de Cheiro, só avisou "aos 48 do segundo tempo" que veria o desfile de Juliana Jabour. "Me virei de ponta cabeça e acabei pegando o [convite]da Preta [Gil], que não pôde vir", contou a estilista.

CURTO-CIRCUITO

O Monobloco se apresenta na madrugada de domingo, à 1h30, no Citibank Hall, em Moema. 18 anos.

A festa Discotexxx acontece hoje no Lions. 18 anos.

Valdemar Iódice, presidente da Abest, participará do Fórum Econômico Mundial, em Davos.

A mostra "Um Olhar para o Sul", com desenhos de Paulo von Poser, será aberta amanhã, no shopping SP Market.

A peça "Correnteza" estreia no dia 2, às 21h, no Sesc Consolação. 14 anos.

Luis Fernando Verissimo e Sérgio Rodrigues debatem o livro "Incidente em Antares" na quinta, no Instituto Moreira Salles do Rio, às 19h30.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

Ueba! Dilma no Ano do Dragão! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 24/01/12

E um amigo está há tanto tempo sem transar que está tendo uma série de sonhos eróticos. Com a esposa!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Mais uma periquita pro Periquitério da Dilma. Periquita predestinada! Deputada mais cotada para assumir como ministra da Secretaria Especial da Mulher: Inês PANDELÓ! As muié vão ser tratadas a pandeló! Eu quero ver o pandeló dela. Rarará!
E a manchete do Sensacionalista: "Dilma comemora popularidade recorde e disse que esse é o ano do dragão". Começou o ano do dragão! Agora ninguém segura!
E sabe o nome da juíza que autorizou a desocupação de Pinheirinho? Marcia MATHEY! E sabe o que os moradores gritavam sob os cassetetes da PM? "Luíza, me leva pro Canadá!" Os cassetetes baixando: Pá, pum! E o povo gritando: "Socorro, Luíza, me leva pro Canadá!"
E duas piadas prontas. "Homem com dois corações sobrevive a duplo ataque cardíaco." Cúmulo do azar: o homem tem dois corações e ambos infartam ao mesmo tempo?!
E esta: "Bebê nasce com dois pênis no Peru". O quê? Menino peruano nasce com dois perus. Honrou a pátria duas vezes! Rarará! E os médicos querem cortar um. Nãaaao, deixa os dois. Enquanto um trabalha, o outro descansa! Rarará!
E tão chamando o "BBB" de reality putaria! E por que os BBBs gritam: "Obrigado, Deus! Obrigado, Deus"? Deus e "Big Brother" não combinam!
E esta: "Seis em cada dez brasileiros pertencem à classe média". Quais das classes médias? A antiga e chata ou a nova que compra tudo? Rarará!
E São Paulo? ÁGUA! Aquassab! A Dilma vai mandar pra Sampa o Balsa Família: toda família que tiver um filho indo a nado pra escola ganha uma PRANCHA DE ISOPOR! É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: "É mole, mas trisca pra ver o que acontece!".
O Brasil é Lúdico! E no Piauí tem o bar e restaurante Peito de Moça. E em Alfenas, Minas, tem um inferninho chamado O Bordel da Maria Macaca. Rarará!
E um amigo meu está há tanto tempo sem transar que está tendo uma série de sonhos eróticos. Com a esposa! Rarará!
E eu fui pro SP Fashion Week, ops, SP Faxion Bixa, e estavam todas de saião até o chão. Tendência antiperigueti. Saião esconde a perigueti. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Brasil, a estrela (omissa) em Davos - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 24/01/12


País só perde para China e EUA como atração para os executivos, mas presidente Dilma não aproveita


Se tivesse confirmado presença no tradicional Fórum de Davos, convite que chegou a aceitar em princípio, o Brasil de Dilma Rousseff ocuparia uma posição até melhor do que o ilusório sexto posto no ranking econômico mundial: estaria no pódio, como o terceiro país considerado mais importante para o crescimento das companhias globais, conforme pesquisa a ser divulgada hoje nessa cidadezinha suíça de 13 mil habitantes que, faz 41 janeiros, abriga a elite mundial dos negócios, do governo e da academia.
Com 15% das indicações de executivos de grosso calibre, o Brasil só fica atrás dos suspeitos usuais: a China (30%) e os Estados Unidos (22%). Ganha até da Alemanha.
Detalhe relevante: os executivos consultados (1.258, de 60 países) não podiam apontar o seu próprio país como o queridinho para o crescimento das companhias.
Os brasileiros, portanto, não lustraram a estrela do país, justamente eles que, no ano passado, já apareciam entre os mais animados com as perspectivas para o 2011 que se iniciava.
É evidente que a ausência de Dilma não tira a atratividade do Brasil para os homens de negócio que formam a audiência principal dos encontros de Davos. Mas a sua presença -que chegou a ser confirmada à Folha pelo porta-voz Rodrigo Baena Soares, meses atrás- adicionaria lustro à estrela. Seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, esteve duas vezes em Davos, em seus oito anos de governo, e foi um tremendo sucesso de público e de crítica, em grande parte por ter tocado a música que o empresariado mais gosta de ouvir, que é a adoção de políticas pró-mercado.
E Lula compareceu ainda no início de seu primeiro período, quando não tinha mais do que palavras a oferecer. Dilma, ao contrário, tem números, os sedutores dados do crescimento nos anos em que ela esteve no coração do governo Lula e que, como é óbvio, alavancam o entusiasmo que os executivos demonstram pelo Brasil.
Não é apenas Dilma que estará ausente. O governo brasileiro preferiu esconder-se: das três sessões em que o país será o tema central, duas foram programadas à margem do encontro propriamente dito e fora do local da ferveção, que é o Centro de Congressos de Davos. Haverá uma sessão para investidores interessados no petróleo e no gás do Brasil, na sexta-feira, e uma sessão chamada "Brasil em Davos", no sábado, ambas no Hotel Belvédère, o mais elegante de Davos, o que certamente oferecerá mais conforto aos ministros e autoridades brasileiras, mas menos visibilidade.
Só o "Panorama do Brasil" se realizará no Centro de Congressos, assim mesmo em dia e hora (sábado, 17h locais, 14h em Brasília) em que o encontro anual já está semiesvaziado (os grandes momentos vão de quarta a sexta).
Além disso, é muito escassa a presença de empresários brasileiros e mais escassa ainda a de acadêmicos. O fato é que a voz do Brasil sobre assuntos globais não soa adequadamente em um palco que é, anualmente, a maior concentração de personalidades que o mundo consegue colocar em um mesmo complexo.

A música segundo Tom Jobim - ARNALDO JABOR


O Estado de S.Paulo - 24/01/12


Fui ver o ótimo filme do Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim e me lembrei da frase do Nelson Rodrigues: "Nada mais antigo que o passado recente". Perfeito; dá para ver a espantosa mudança da vida social e cultural dos últimos 20 anos. As canções, as plateias, os olhos e ouvidos ligados nos shows, o desejo de transmitir a beleza de uma reflexão sobre nossas emoções, um ritmo de vida celebrando a inocência e a delicadeza, o tema do amor sempre presente, a qualidade das letras e sonoridade (Águas de Março é um grande poema sobre o devir), em suma, tudo que não é manipulação, barulheira fácil e boçal, nessa proliferação de irrelevâncias que pululam nas redes. Tudo bem, pode ser que estejamos no caos inicial, na infância de um novo e rico tempo cultural, como preveem os garimpeiros de ouro na bosta, mas, por enquanto, acho tudo um lixo.

O filme é a emocionante montagem de grandes momentos de nossa música como um discurso sem palavras. Saí do cinema como de um spa mental, no meio da poluição sonora e visual de São Paulo. Um filme terapêutico.

O documentário de Nelson e Dora me tocou muito. Sempre preferi ver fotos amareladas, filmes precários, antigos, que nos dão a sensação de nebulosas vidas mortas. As personagens do preto e branco, do trêmulo filme mudo, nos consolam com sua vetustez. Suas mortes são mais suportáveis porque pensamos: "Ah... naquele tempo se morria; hoje não". No filme moderno, o passado recente, em cores, nos mobiliza porque vira um presente implacável, embora impalpável. Vemos a alegria de festas sem som, sorrisos mudos, a juventude perdida dos rostos, as gargalhadas que não ecoam em lugar nenhum, as mulheres tão moças e lindas (e não nos dávamos conta disso) e nós mesmos, nossa saúde, nossos humores, tudo visível. Também vemos os indícios de erros que nos levarão ao fim - o corpo maltratado, a melancolia evitável, o riso amarelo, eu, você, nós todos no passado perdendo tempo, desvalorizando o que tínhamos. Mais emocionante que a tristeza de um passado é sua alegria perdida.

Lembrei-me que num dia feliz, sentado ao piano, Tom tocou para mim uma música nova - era Chansong, a obra-prima com a letra anglo-francesa: "I've never been in Paris for the summer, I never drank a scotch with this bouquet". Fui das primeiras pessoas a ouvir a música - tenho esse orgulho. Sempre que a ouço, vejo-me com ele, curvado, cantando com voz arfante, como se contasse um segredo.

Henri Bergson, o filósofo, declarou, quando viu os filmes de Lumière: "O cinema é importante para vermos como se moviam os antigos". Isso.

Sempre me emociono com esse milagre do cinema, em que as pessoas ressuscitam na tela e ficam ali, falando, como se nada tivesse acontecido. Isso me dói porque um dia serei também protagonista de um flashback de mim mesmo. Assusto-me se estou num bar e, de repente, minha saudosa comadre Nara Leão começa a cantar baixinho ali ao meu lado, como aliás canta no filme, nos lembrando de sua imensa importância.

Já sentira isso na obra-prima do Miguel Faria Jr., Vinicius, quando escrevi: "O tempo era outro, e me refiro a tempo como ritmo, timing. Movíamo-nos de outro modo, em paisagens claras, com perspectiva, distâncias nítidas, andávamos pela praia até o Leblon".

O mundo estava em foco e não era esse sumidouro de hoje. Esses filmes mostram um passado que poderia ser nosso presente. Ipanema era uma ilha de felicidade num país injusto, foi um momento raro em que o desejo e o projeto se encontraram, na praia, no bar, nas ruas com amendoeiras, nos amores mais livres, na música e literatura, antes da massificação.

O tempo se acelerou brutalmente nos últimos dez anos. Os filósofos vivem berrando: "Não temos mais tempo, porque as coisas fetichizaram o tempo!"

A cada dia, os blackberries, os iPads, os iPhones aumentam de potência, e o tempo vai se comprimindo. Até onde? Esta correria seria ótima se fôssemos chegar a alguma coisa, a uma estação Finlândia, a um terminal qualquer; mas, aonde chegaremos? No início do século 20, louvamos a velocidade crescente, revolucionária na arte moderna, a beleza do futuro, mas agora está chegando a hora de buscarmos a lentidão, a paz, o silêncio, como fazem as comunidades de "slow movement". Aliás, o filme nos lembra que ainda havia silêncio. Outro dia, me falou uma "pianista" de twitters e facebook: "Hoje não há mais tédio - temos telinhas o tempo todo diante dos olhos". Talvez, mas, sem vazio não há pensamento.

Agora, não temos condição de criticar e controlar mais nada, nem pela poesia, paródia, nem por nada. As coisas estão in charge, no comando da vida. Que diria Tom sobre isso? Bem, em conversas, nas suas falas sobre a natureza e em seus gestos já dava para ver a melancolia disfarçada de ceticismo sábio, víamos que ele já sabia que a barra ia pesar ali em Ipanema e em toda parte.

Talvez ele dissesse: "Você sabe, não é Jabor, você que é um árabe, um beduíno sem deserto, você sabe que a música existe no tempo. Se acelerar muito, a música vai junto, mas, depois de certo ponto, a arte perde o fôlego... Nós estamos querendo acabar com o Tempo".

Isso me remete a um filme antigo, cult, o Planeta Proibido, de Fred Wilcox, com George Sanders e Anne Francis, um planeta vazio onde todas as informações de um mundo morto estavam guardadas num imenso subterrâneo, uma gigantesca máquina, um super-Google. Toda a vida do planeta, tudo que se descobriu e construiu estava ali, arquivado para a eternidade. Só não havia mais vida em volta - a raça tecnológica dos Krells tinha sido extinta.

Mas Tom não ia prestar atenção neste papo cabeça. Ele gostava de ver o que era vivo ainda. Ele diria: "Deixa pra lá... Olha... lá no alto, os urubus caçadores estão dormindo na perna do vento..."