segunda-feira, julho 13, 2009

OS VALORES DA APOSENTADORIA

EDITORIAL

A GAZETA (ES) - 13/7/2009

Parlamentares da base de apoio ao governo no Congresso realizam uma missão em nível de bastidores. Negociam com os colegas de oposição e com instituições sindicais para enterrar a votação de projetos que estabelecem reajuste real (acima da inflação) para os aposentados do INSS com remuneração superior a um salário mínimo. Hoje, eles têm os benefícios atualizados apenas pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

O governo não quer a votação desses projetos. A partir da agosto, após o recesso parlamentar, eles continuariam travados até o final do ano legislativo. Simplesmente, não seriam colocados em pauta. O mesmo aconteceria em 2010.

A demora tem provocado desgaste dos congressistas. Parece claro que medidas a favor de aposentados e pensionistas não constituem prioridade do Legislativo. Ainda assim, a perda política é menor, supostamente, do que o impacto que causaria a derrubada dos projetos em plenário.

Três propostas preocupam o Palácio do Planalto, por elevar as despesas públicas. Um deles, o projeto de lei 3299/08, determina que o valor da aposentadoria tome como base os últimos 36 meses de contribuição do trabalhador, extinguindo o fator previdenciário (mecanismo que reduz o beneficio de quem se aposenta por tempo de serviço e não por idade).

Outra proposta rechaçada pelo governo consta do PL 4434/08 (já aprovado na Comissão de Seguridade Social e Família do Senado) que garante ao aposentado receber em todos os benefícios o mesmo número de salários concedido desde o início da aposentadoria. Um terceiro projeto que assusta o governo vincula o reajuste anual de todos os benefícios previdenciários à política de aumento real do salário mínimo (emenda ao PL 1/07).

Nenhuma dessas propostas é descabida nem absurda. Ao contrário, todas têm fundamento em princípios de justiça. O achatamento da remuneração dos que dependem do INSS constitui desrespeito e perda de direito.

Além dessas três matérias, está para ser votado no Congresso, não se sabe quando, o veto do presidente Lula a um projeto que estendeu aos aposentados e pensionistas o mesmo reajuste de 16,67% aplicado ao salário mínimo em 2006.

No final de maio, um grupo de cerca de 600 segurados do INSS fez vigília no Congresso, reivindicando uma decisão sobre o veto presidencial. Obtiveram promessas dos presidentes da Câmara, Michel Temer, e do Senado, José Sarney, de que a votação ocorreria em junho. Mas a nova líder do governo, senadora Ideli Salvatti, apresentou um requerimento pedindo o adiamento.

O Palácio do Planalto tem plano para mudar o clima em relação às expectativas dos aposentados e pensionistas. Acena com reajuste acima da inflação, a ser pago em 2010, não por acaso um ano de eleição. A idéia inclui ainda a formação de uma mesa de negociação que trate de novas concessões, a partir de 2011, para os segurados do INSS.

Também está sendo sinalizada a manutenção da política atual de reajuste do salário mínimo, valor recebido por mais de 60% dos beneficiários do INSS. Os aumentos acima da inflação estão previstos para acabar em 2010.

Não é possível aceitar, porém, que essas propostas funcionem como moeda de troca para encerrar a tramitação no Congresso dos projetos de interesse dos aposentados. Os problemas de recursos do INSS precisam ser tratados com mudanças estruturais. Devem ser discutidas regras de passagem da situação atual para uma nova que garanta o equilíbrio financeiro da instituição e os direitos dos segurados.

CARLOS EDUARDO NOVAES

Um empate sem sabor

JORNAL DO BRASIL - 13/07/09

O Flamengo realizou uma proeza no jogo de ontem: recebeu nove cartões amarelos - talvez um recorde - e conseguiu chegar ao apito final com 11 jogadores! Em compensação, o São Paulo que levou dois amarelos, teve Renato Silva expulso e atuou por todo o segundo tempo com 10 jogadores. Pois com menos um o São Paulo jogou melhor do que com o time completo e equilibrou as ações na etapa final.

Como correram os rubro-negros! E olha que nem tinha a torcida a empurrá-los! Não sei se o clube botou os salários em dia, prometeu um prêmio milionário ou se foi a presença da garotada escalada no lugar dos titulares, o fato é que em várias ocasiões via-se quatro , cinco jogadores do Flamengo cercando um são-paulino. Dois momentos simbolizaram a disposição do time: o pique do Adriano ultrapassando dois zagueiros adversários, como um atleta de 100 metros, até sofrer o pênalti que converteu em gol, e a arrancada de Willians aos 42 minutos do segundo tempo desde o meio de campo, equilibrando-se sobre a linha lateral. Vocês ainda vão ver Willians com a camisa da Seleção.

O Flamengo ficou com a iniciativa do jogo do inicio ao fim. No primeiro tempo então parecia ter 20 jogadores, tocando a bola com rapidez, dominando o meio de campo, atacando e defendendo em bloco em uma movimentação semelhante à do basquete. Seu primeiro gol, no entanto, não veio de uma jogada articulada: ganhou de presente do goleiro Denis. No segundo tempo o Flamengo não soube aproveitar a vantagem numérica, embolou o jogo pelo meio – quando deveria abrir pelas pontas, suponho – e acabou sendo castigado com o empate. O zagueiro Miranda deixou a defesa, foi passando por um cipoal de pernas rubro-negras até ser derrubado dentro da área num pênalti cobrado e marcado por Jorge Wagner.

Apesar de todo deformado pelas substituições o Flamengo merecia ter vencido. Não sei se com os titulares – Airton, Juan, Emerson, Kleberson e Toró – o time teria um desempenho tão satisfatório. Eu se fosse o Cuca repetia a escalação no próximo jogo. Quanto ao São Paulo, não sei se o time ainda não entendeu o técnico Ricardo Gomes ou se o técnico ainda não descobriu o time. Deixar Jorge Wagner e Eduardo Costa no banco - entraram depois - é um luxo a que essa equipe do São Paulo não pode se permitir. O São Paulo fez um joguinho cadenciado e não mostrou nem a metade da disposição do Flamengo. Alguma coisa acontece nos bastidores do clube e certamente não será saudades do Muricy.

Enquanto assistia à partida e pensava no que escrever, achei que poderia iniciar o texto com um baita elogio ao arbitro Ricardo Marquez Ribeiro, 30 anos, que havia apitado com sucesso a final da Copa do Brasil. Já havia até rabiscado algumas coisas falando de sua autoridade, de seus gestos claros, do pouco papo aos jogadores, quando aos 48 minutos do segundo tempo ele tropeçou no apito e deixou de marcar um pênalti claro para o São Paulo (em Washington). Desisti dos elogios e logo pensei no senador e ex-presidente da Republica José Sarney que também aos 48 minutos do segundo tempo manchou toda sua biografia com vários "pênaltis".

O IDIOTA E O VERME


INFORME JB

Lula e os leões

Vasconcelo Quadros

JORNAL DO BRASIL - 13/07/09

Cotado para substituir a leoa Lina Vieira (foto), Nelson Machado, secretário executivo da Receita Federal, só deixará de ser o novo leão se quiser. É ligado a José Dirceu e à área sindical do setor. Há duas explicações para a já anunciada exoneração da secretária: a queda na arrecadação e a multa imposta à Petrobras, que teria mexido com os brios do presidente Lula e do ministro Guido Mantega. Mas nenhuma delas é boa para o governo. A arrecadação caiu por causa da crise que Lula chamou de marolinha, e uma eventual retaliação à decisão da Receita contra a Petrobras seria uma descabida intromissão numa atividade de Estado e de alto interesse público. Lina se recolheu, mas quem a conhece acha que se não houver justificativa razoável, ela cai atirando. De perfil técnico, a secretária peitou no cargo ninguém menos que o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, que foi se queixar a Mantega.

Mais candidatos Problemas à vista

Odilon Neves Júnior, secretário de Recursos Humanos, e Valdir Simão, auditor federal e ex-presidente do INSS, também estão na disputa. Dos três, apenas Machado não é da casa. É originário da Fazenda paulista. Lula deve bater o martelo nos próximos dias, mas o parto não será fácil.

"Se a justificativa for técnica – o que não acredito – não se discute. Mas se for por causa do episódio da Petrobras, haverá barulho", alerta o presidente da Unafisco, Rogério Calil. A oposição e a base no Senado também vão reagir: Lina é ligada ao senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) e teve o apoio da governadora Wilma de Faria, do PSB.

Homem-bomba

O ex-diretor do Senado Agaciel Maia está no limite. Tem dito a amigos que o relento já cobrou sua dívida. Lembra que serviu indistintamente aos 81 senadores e, se ficar mais encurralado do que está, pode puxar da gaveta atos secretos de outra natureza.

Alívio temporário

Um informe preliminar da CIA e do FBI está aliviando muita gente no circuito dos poderes, em Brasília. Os dois órgãos de informação e segurança mais bem aparelhados do mundo não estão conseguindo descriptografar os discos rígidos retirados de computadores do banqueiro Daniel Dantas. Para quem não lembra, os HDs armazenam a longa história do relacionamento nada republicano entre Dantas, parlamentares e autoridades do Executivo e Judiciário.

Sobrevivente

Interlocutor indicado pelo PCdoB para acompanhar as operações no Araguaia, o ex-deputado Aldo Arantes é sobrevivente da ação militar que enterrou definitivamente os sonhos da guerrilha. Ele foi preso em dezembro de 1976, momentos antes da execução dos membros do comitê central do PCdoB, em São Paulo, na ação que ficou conhecida como Chacina da Lapa.

Salvação

O futuro de José Sarney vai ser definido pela engenharia política de 2010 e depende do presidente Lula e do PT. Se prevalecer a orientação do ex-ministro José Dirceu, em vez de governador – ainda que Jaques Wagner possa ser reeleito na Bahia – o partido vai priorizar as candidaturas ao Senado para garantir a aliança que deu os dois mandatos ao presidente Lula.

O aviso

Zé baixou o centralismo democrático: "O palanque nacional tem que determinar o estadual. Não haverá como apoiar candidaturas sem o aval do presidente e da candidata", avisou no seu blog, empenhadíssimo em salvar Sarney. Tarso Genro e o ex-governador do Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, que se cuidem.

DANUSA LEÃO

O maior dos privilégios

FOLHA DE SÃO PAULO - DOMINGO - 12/07/09

NÃO DÁ PARA negar: existe no mundo uma classe de privilegiados. Aliás, uma não, duas: os que nascem privilegiados e os que se tornam privilegiados.
Os primeiros são os que nasceram bonitos, inteligentes, talentosos. Há como negar que Sophia Loren é uma privilegiada? Que Chico Buarque também, e dr. Albert Sabin, Pelé e outros, cada um na sua especialidade? Esses deveriam todo dia rezar e agradecer por terem nascido com esse dom que os torna especiais e merecedores da admiração do mundo em geral.
Privilegiados também são os que nasceram em famílias unidas, com uma situação financeira confortável, saúde, que puderam estudar e ter acesso às boas coisas da vida, o que é sempre bom; são também privilegiados, nos dias de hoje, as celebridades, o que pode querer dizer qualquer coisa. Mas qual a vantagem de ser um privilegiado? É que esses costumam ter abertas as portas para quase qualquer coisa, o que não é bom, mas ótimo. Alguns se esforçam para chegar lá. Esse lá pode ser qualquer coisa, mas o objetivo principal é um só: pertencer à privilegiada casta dos privilegiados.
Para eles não existem filas, os médicos, mesmo não tendo hora, ficam até mais tarde no consultório para atendê-los, os restaurantes sempre têm mesa, e os aviões costumam deixar alguns lugares vagos, se um deles resolver viajar naquele dia, naquela hora -um privilégio, não?
Esses não precisam nem dizer "sabe com quem está falando?" porque todos sabem, e se não souberem, seus assessores se encarregam de dizer; como eles não se ocupam dessas ninharias, têm sempre alguém que faça tudo por eles.
Essa é a razão da luta pelo poder político. Dificilmente você vai ver um deputado -se for senador, melhor ainda- na fila de embarque de um avião, por exemplo, ou em qualquer situação que os iguale ao comum dos mortais. Nem na fila para comprar entrada para o cinema, nem na porta de um restaurante no Dia das Mães, nem com o filho no colo num posto de saúde no dia da vacinação. Como eles fazem? Não sei, mas na vida deles tudo é fácil, e quanto mais poder eles têm, mais fácil é. Você já reparou que quem provou o gostinho nunca mais abre mão do famoso poder?
Pensando bem, a rotina na Câmara dos Deputados ou no Senado deve ser um tédio, por isso o plenário das duas Casas está sempre vazio, mesmo funcionando só de terça a quinta. Mas quem é deputado ou senador quer sempre ser reeleito, mais tarde ser presidente da Casa, depois governador, depois presidente da República. Não sei quem disse isso, mas nunca esqueci: que uma das coisas a que se acostumam, quando exercem o poder, é a nunca abrir uma porta. Existe sempre um assessor nomeado exclusivamente para fazer isso. Mas será tão penoso assim abrir uma porta?
Ter um jatinho à disposição, como tem Lula, também é bom, mas se só serve para levar o poderoso para reuniões em lugares que ele não escolheu, de que adianta?
Se as pessoas pensassem mais, batalhariam não para ter o poder banal, mas sim aquele que, no plano pessoal ou profissional, é o mais importante dos poderes: poder dizer não seja lá a quem for, na hora que tiver vontade.
Poder dizer não; esse é o maior privilégio que se pode ter na vida.

GOSTOSAS


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PAINEL DA FOLHA

Notório saber

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/07/09

Embora a base governista no Senado conte com o recesso para esfriar no nascedouro a CPI da Petrobras, a ser instalada amanhã, a oposição já começou a montar seu QG para tentar criar embaraços com os contratos da estatal. O PSDB convocou o ex-senador Antero Paes de Barros (MT), conhecido incendiário na época da CPI dos Bingos, para pilotar o ‘escritório’. A ideia é usar uma sala conjugada ao gabinete do senador Alvaro Dias (PSDB-PR), onde também serão instalados técnicos _já recrutados_ do Tribunal de Contas da União. Além disso, tucanos prepararam um blog para divulgar dados e se opor ao blog oficial que a empresa criou desde que a palavra CPI veio à tona.

Divisor - Apesar de uma ou outra voz isolada continuar prometendo levar a Fundação José Sarney para o âmbito da CPI, a ordem na oposição é clara: o que diz respeito ao senador é caso para o Conselho de Ética; a CPI é para investigar a Petrobras e o PT.

A festa... - Investigadas pelo Ministério Público da Bahia até o mês passado, as duas ONGs ligadas ao PT que gerenciavam verbas de patrocínio da Petrobras para festas de São João voltaram a receber dinheiro da estatal entre o final de maio e junho. A Aanor (Associação de Apoio e Assessoria a Organizações Sociais do Nordeste) e a Fundação Galeno D’Alvelírio firmaram contratos de R$ 815 mil e R$ 986 mil, respectivamente.

...continua - Em nenhum dos casos houve licitação. Em junho, a promotoria determinou que as comarcas do interior do Estado instaurassem investigações sobre o uso da verba pelas prefeituras. O MP também ouviu o assessor da presidência da Petrobras Rosemberg Pinto, suspeito de usar critérios políticos na destinação dos recursos.

Fontes - Não foi só de patrocínios da Petrobras que a Fundação José Sarney se abasteceu nos últimos anos. A entidade também recebeu repasses diretos de diferentes autarquias em Brasília, como o Ministério da Cultura, que enviou R$ 83,4 mil em 2002 para ‘recuperação do acervo’ de áudio e vídeo.

Pop - Já se nota no Congresso uma disputa informal para ver quem reúne mais seguidores no Twitter. ‘Tem políticos cujos assessores inflam a quantidade de seguidores com métodos pouco recomendáveis’, denuncia o senador e ‘twiteiro’ Delcídio Amaral (PT-MS).

Do coração - Dilma Rousseff sabe que precisará de um vice do PMDB, mas, se pudesse escolher, o parceiro de chapa seria Ciro Gomes (PSB).

Sem amarras - Do monstrengo de regras eleitorais aprovado na Câmara, juízes e advogados destacam três pontos destinados a livrar os políticos da fiscalização: permissão de candidatura de quem teve rejeitadas as contas da campanha anterior; brecha para que candidato inelegível no momento do registro possa concorrer enquanto tenta obter liminar; e 5 de março como data-limite para resolução do TSE.

PT do amanhã 1 - Não bastasse o receio da eventual candidatura de Marta Suplicy à Câmara, que poderia sugar votos de atuais expoentes, um time de ‘bichos papões’ assusta os deputados do PT.

PT do amanhã 2 - Entre os pré-candidatos de peso estão os ex-prefeitos José de Filippi Júnior (Diadema) e Newton Lima Neto (São Carlos) e os deputados estaduais Vanderlei Siraque, Carlinhos Almeida e Vicente Cândido.

Árbitro - O grupo do ex-ministro Humberto Costa tem maioria e deve ganhar a eleição para o diretório do PT em Pernambuco, mas a palavra final sobre o candidato ao Senado será do governador Eduardo Campos (PSB). E ele sabe que o ex-prefeito João Paulo agrega mais à chapa.

Tiroteio

Depois dessas denúncias quero ver alguém do governo ainda ter coragem de dizer que é a oposição quem quer privatizar a Petrobras.

Do senador SÉRGIO GUERRA (PE), presidente do PSDB, sobre as suspeitas de desvio de verba da Petrobras repassada à Fundação José Sarney.

Oportunidades - A visita que o presidente de Moçambique, Armando Gebuza, fará ao Brasil inclui jantar no dia 19, no Copacabana Palace, com Roger Agnelli (Vale), David Feffer (Suzano) e Gilberto Tomazoni (Sadia).

Contraponto

Tamanho P

A Comissão de Infraestrutura do Senado debatia dias atrás a modernização dos aeroportos, em audiência com a presidente da Anac, Solange Vieira.
A certa altura, os presentes resolveram se queixar do não cumprimento da famosa promessa do ministro da Defesa, Nelson Jobim, de ampliar o espaço entre os assentos dos aviões. Flexa Ribeiro (PSDB-PA) tratou de ilustrar o problema:
_Continua tão apertado que o Heráclito resolveu fazer cirurgia de redução de estômago para poder viajar!

ELIO GASPARI

A Bolsa IPI custará 11 anos de Senado


Folha de S. Paulo - 12/07/2009 - DOMINGO


Num só dia, os senadores fizeram um buraco de pelo menos R$ 34 bilhões na bolsa da Viúva

ÁGUA MOLE em bolso alheio tanto bate até que fura. Em março passado, os interessados na criação da Bolsa IPI tentaram contrabandear numa medida provisória que perdoava pequenas dívidas com a Receita a concessão de um crédito tributário de 15% sobre o valor de todas as exportações de mercadorias feitas até dezembro de 2002. Não houve acordo com o G8 da Câmara e morreu na praia uma emenda que estava no Senado. O G8 é um buquê de caciques de todos os partidos. Às vezes tem oito barões, mas pode ter tantos quantos forem necessários.
Na terça-feira, com o beneplácito do Ministério da Fazenda, os senadores ligaram o "gato" da Bolsa IPI na corrente da MP do programa Minha Casa, Minha Vida, destinado a famílias com renda de 3 a 5 salários mínimos. Desta vez o drible deu certo. Ele foi armado em sucessivas reuniões de empresários, sábios da ekipekonômica, pelo menos um ministro do STF e parlamentares, tanto da base do governo como da oposição. A emenda usada para encaixar o contrabando era da senadora tucana Lúcia Vânia. Como se fossem passageiros do Oriente Expresso, todos esfaquearam a Viúva.
Técnicos da Receita estimam que o contrabando aprovado pelos senadores custe R$ 220 bilhões, dinheiro suficiente para construir 1,5 milhão de imóveis de R$ 150 mil para o Minha Casa, Minha Vida. Noutra conta, seriam apenas R$ 31,4 bilhões, ou 210 mil casas. O "gato" vai para a Câmara.
Trata-se de um litígio que espera julgamento no STF. A boa educação sugeriria que se esperasse a decisão da corte. Se há pressa, ou interesse em fazer um acerto de contas fora do tribunal, o professor Guido Mantega poderia redigir uma nova MP, tratando só do crédito de IPI, sem contrabando. No mérito, os empresários podem ter o direito dos anjos mas, no método, tiveram a dissimulação dos demônios.
Em tempo: o Senado custa à Viúva R$ 2,7 bilhões anuais. Com o dinheiro da Bolsa IPI, no barato, seria possível dar mandatos de 11 anos aos 81 senadores, mantendo todos os empregos das parentelas e dos agaciéis. Se os R$ 220 bilhões calculados na Receita fazem sentido, o benefício valeria por 81 anos. Assim, o Senado se tornaria vitalício e hereditário.

MURO TOTAL
O PSDB corre o risco de desaparecer. Parece piada, mas as cartas de seu suicídio estão na mesa.
Até hoje José Serra não disse que é candidato a presidente da República. Admita-se que ele prefira tentar uma reeleição certa para o governo de São Paulo, esquivando-se pela segunda vez de um confronto que pode levá-lo ao sol e ao sereno da derrota. Nesse caso, a vaga seria de Aécio Neves. E se ele preferir uma eleição certa para o Senado?
Nas comemorações dos 15 anos do Plano Real, os grão-tucanos organizaram eventos e desfilaram seu notáveis com tamanha nostalgia que pareciam barões do Império festejando, em 1903, os 15 anos da Abolição.

MADAME NATASHA
Madame Natasha adora os artigos do professor Celso Lafer. Enquanto os lê, pratica o passatempo de contar as citações que o ex-chanceler faz de Norberto Bobbio, de Hanna Arendt e de si próprio.
A senhora concedeu uma de suas bolsas de estudo a Lafer, membro da Academia Brasileira de Letras, para curá-lo de uma propensão ao anarcoglotismo.
Numa só entrevista, ele falou em português, inglês e italiano.
Coisas assim:
"É preciso equacionar a complexidade da agenda internacional identificando alguns clusters de temas". Poderia ter dito "conjunto de temas".
"High politics" is o mesmo that "alta política".
Natasha teve dificuldade para entender o professor quando ele disse que na Itália a Igreja Católica cobra "a recapitalização do prestígio do governo".
Madame acha que ele quis dizer "recuperação do prestígio do governo".

A BANCA TEM UM FRACO PELO STF EM FÉRIAS

Em dezembro passado, às vésperas do recesso do Supremo Tribunal Federal, a banca tinha pronto um pedido de liminar contra uma jurisprudência do STJ, que mandava devolver às vitimas do Plano Verão o dinheiro tungado nas suas contas de poupança, por ordem do governo. Quem tinha mil cruzados novos numa caderneta em 1989 poderá vir a receber, na média, uma compensação de R$ 610. Os bancos dizem que a decisão do STJ custaria R$ 100 bilhões aos seus cofres. Noutra conta, seriam R$ 29 bilhões.
Com o recesso de fim de ano, o pedido iria para a mesa do ministro Gilmar Mendes. Caso ele concedesse a liminar, o tribunal pleno só julgaria o caso em fevereiro. O presidente do Supremo não julgou o pedido e, em março, ele foi negado pelo ministro Ricardo Lewandowski.
A banca tivera nove anos para entrar com o pedido, mas resolveu fazê-lo, sem sucesso, no lusco-fusco do recesso. Pois não é que tentaram de novo? Na quarta-feira, com o STF em férias, repetiu-se o lance, com outro tipo de recurso.
Não se sabe por que, mas os banqueiros têm um fraco pelo Supremo em férias. Perderam tempo, pois Gilmar Mendes decidiu que ele só venha a ser apreciado depois das férias, pelo ministro Lewandowski e pelo tribunal pleno.
Falhou a lei de Gentil Cardoso. Quem se deslocou não recebeu e quem pediu não teve preferência.

VOLTAS DA VIDA
Em 2002, durante o golpe fracassado contra Hugo Chávez, o diplomata americano Hugo Llorens, estava no olho do furacão, trabalhando na assessoria de segurança nacional da Casa Branca. Ele era o responsável pela região andina.
Agora Llorens é o embaixador americano em Tegucigalpa, deu guarida à família do presidente Zelaya e foi para a linha de frente da reação ao golpe.
Em setembro, quando o embaixador chegou a Honduras, Zelaya fez demagogia à sua custa, recusando-se a recebê-lo para a entrega de credenciais, em solidariedade ao presidente Evo Morales, que expulsara o embaixador americano da Bolívia.

EREMILDO, O IDIOTA
Além de cretino, Eremildo é doutor em anedotas e champanhota. Ele se assombrou com Enrique Cortez, o então chanceler do governo golpista de Honduras que chamou o companheiro Obama de "negrinho que não sabe nada".
O doutor desculpou-se dizendo que "a expressão não teve, de nenhuma forma, uma intenção ofensiva".
Eremildo é um idiota, mas acha que Cortez agravou o insulto, pois só não haveria intenção de ofender Obama se ele pudesse sustentar que os negrinhos (todos eles) não sabem de nada.

ALEGRIA NO CIRCO
A Câmara aprovou um mecanismo que permite aos cidadãos em trânsito no território nacional votar na eleição do presidente da República.
Os doutores haviam esquecido que os brasileiros residentes no exterior podiam votar.
Essa inovação legislativa deve ser creditada a um cidadão do Rio de Janeiro, o palhaço profissional Biriba que, apresentando-se pelo Brasil afora, chegou aos 60 anos sem jamais ter votado para presidente.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


RUY CASTRO

Acorrentados

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/07/2009


A garota passou lentamente por mim no Leblon, mas eu já a vinha observando de longe. Parecia muito insegura, o andar instável, como se lutasse contra o vento para não adernar. Mas não havia vento. E não era embriaguez. Os olhos grandes e pretos estavam fixos em algo à sua frente, não como uma meta a atingir – apenas fixos. Bonita, classe média, 20 anos, se tanto.

O casaquinho de lã preta, a roupa fechada e a saia comprida contrastavam com a glória solar do calçadão, às 9h de sexta-feira passada. E a cor de cera, as olheiras de rolha queimada e o piercing no nariz indicavam tudo, menos uma pessoa matinal. Era mais como se sua noite estivesse terminando. Ou não fosse terminar nunca, enquanto ela tivesse crack para queimar.

O futuro da moça é previsível. Em Cruz Alta (RS), na semana passada, um jovem de 17 anos implorou à mãe que o acorrentasse à cama, para impedi-lo de sair para comprar crack. Não foi o primeiro caso – em Araraquara (SP), em 2008, houve outro igual, com um garoto de 15 anos. Ao serem libertados pelo Conselho Tutelar, ambos passavam por uma síndrome de abstinência que poderia levá-los à morte (por parada cardíaca ou respiratória) ou a matar alguém.

Quase sempre, são as mães, desesperadas, que acorrentam os filhos à cama, à força – conseguem fazer isso porque eles já estão muito fracos para reagir. Nos últimos dois anos, os jornais registraram histórias como essas, envolvendo dependentes de crack em Maceió, Aracaju e Porto Alegre. Na mesma Porto Alegre, em abril último, a pior delas: uma mãe matou acidentalmente com um tiro o filho de 24 anos, que a agredia, lutando para sair.

No Brasil, o crack, que começou por São Paulo há 15 anos, custou, mas ganhou ocupação nacional. Já é uma epidemia, e o pior ainda está por vir.

DORA KRAMER

Dias de conquista

O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/07/09

Vestido na saia justíssima que o presidente Luiz Inácio da Silva encomendou para a bancada do Senado, o PT tem sido obrigado a se equilibrar entre as conveniências imediatas do governo e os planos eleitorais de um partido que daqui a 14 meses joga o seu destino em votos.
É um serviço complicado e, sobretudo, mal compreendido. E pior, com tarefas até mais difíceis que sustentar a insustentável majestade do presidente do Senado, José Sarney, a serem cumpridas daqui até a eleição de 2010. O líder no Senado, Aloizio Mercadante, reconheceu numa frase dita lá pelo meio de um dos vários discursos para justificar o vaivém do partido no caso de Sarney, que “o PT não tem como sair bem dessa história”.
É uma impressão generalizada dentro do partido. Assim como é consenso entre os petistas que o resultado da prova foi desastroso, mas que não havia outro jeito a não ser atender aos ditames do presidente da República, a única voz de comando e fonte de poder em torno da qual se reúne o PT.
O dilema posto era o seguinte: se rifasse Sarney, o PT teria o aplauso imediato do eleitorado, mas se arriscaria a criar um pretexto para o PMDB aumentar a força da faca que mantém permanentemente apontada para o peito do governo.
Ao aceitar o servir de muro de arrimo - até porque não teria como romper com o presidente, pois dele emana seu poder -, assume um desgaste de pronto, mas aposta na estabilização da aliança política com efeitos benéficos mais adiante. Na sustentação à candidatura de Dilma Rousseff, por suposto.
Mas a questão é até que ponto vale o sacrifício de uma aposta que, em se tratando de PMDB, é sempre um salto no escuro. Qual o maior prejuízo, o político ou o eleitoral? E as perdas decorrentes deste, não podem anular os eventuais ganhos daquele?
Na avaliação de petistas mais pensantes que diletantes esse tipo de balanço não caberia fazer no caso. Na visão deles, sem saída. Embora considerem que o “zigue-zague” foi mal conduzido. Já sobre outros equilibrismos a que o PT será submetido, há divergências em relação ao que o presidente Lula considera a melhor solução.
Lula, por exemplo, está convencido de que vale a pena o PT abrir mão de disputar governos de Estados importantes em favor dos candidatos do PMDB. Sob o seguinte argumento: é mais importante o PT apostar na eleição de uma grande bancada parlamentar, principalmente de senadores, do que conquistar governos de Estados, já que a tendência dos governadores é sempre a de se compor com o Planalto por razões administrativas.
Embora o raciocínio faça sentido em tese, na prática as coisas não são tão esquemáticas. Primeiro, porque se, em princípio, a cessão de direitos ao PMDB seja um fator de harmonia, torna o PT ainda mais refém do parceiro.
Em segundo lugar, nada assegura a submissão automática dos governadores. Em terceiro, a disputa eleitoral e a conquista de espaços de poder é a razão de ser de um partido que se pretende influente. Em quarto lugar, há as vontades partidárias regionais às quais nem sempre a direção nacional tem condições de se impor O trauma da intervenção nacional no PT do Rio de Janeiro, que dizimou o partido no Estado, está vivo em todas as mentes.
E finalmente, e mais importante, a receita acima só dará bom prato se o PT ganhar a Presidência da República. Se perder, terá posto seu patrimônio nas mãos do PMDB para vê-lo, ato contínuo, aderir ao adversário vencedor.

ESCOLA
Os senadores Arthur Virgílio e Heráclito Fortes criticam quando o presidente Lula confunde crítica com agressão, relatos jornalísticos com conspiração, mas navegaram as mesmas águas ao reagir na sexta-feira contra reportagem da revista inglesa The Economist sobre a “casa de horrores” em que se transformou o Senado brasileiro.
Fortes chamou a revista de “elitista e preconceituosa” e pediu aos jornalistas respeito “à autonomia dos países”. Virgílio se juntou a ele lembrando acontecimentos recentes no parlamento britânico que revelaram “práticas típicas de países que não chegaram ao desenvolvimento democrático pleno”. Se o soneto do Senado reproduzido pela revista já é ruim, muito pior ficou a tentativa de emenda dos nobres senadores.
Abre de novo espaço à comparação entre a maneira inglesa e o modo brasileiro de os parlamentares lidarem com suas mazelas. Sem falar na natureza jeca da patriotada. Lá, o presidente da Câmara dos Comuns afastou-se aos primeiros acordes do escândalo de gastos irregulares, verbas extras e auxílios indevidos pagos a seus pares. Sem ter sido envolvido em denúncia alguma, mas por ter se oposto à liberação de informações sobre os gastos.
Ficou com a pecha de defensor dos abusos e, por isso, renunciou. Aqui, nem certidão de culpa passada em cartório do céu consegue demover uma só excelência de continuar agarrada às benesses paradisíacas do cargo.

O IDIOTA

SEGUNDA NOS JORNAIS

- Globo: Saúde: Fundação estatal poderá modernizar 2 mil hospitais


- Folha: Procuradoria multa doadores eleitorias em 390 milhões


- Estadão: Multinacionais retomam investimentos no Brasil


- JB: A violência desce o morro


- Correio: Senado gasta R$ 1 milhão ao ano com time reserva


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