quinta-feira, setembro 29, 2011

ANCELMO GOIS - DOUTOR LULA


DOUTOR LULA 
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 29/09/11

Faltavam poucos meses para Lula se despedir de Brasília e se reinventar como ex-presidente. Gilberto Carvalho, seu chefe de gabinete, mantinha uma planilha com a lista de universidades que haviam convidado o chefe para receber diploma honoris causa.
A lista já ultrapassava a casa dos 40. “Desde o primeiro convite que chegou, Lula reagiu com cautela”, conta Carvalho. “Vamos deixar para depois”, decidiu o então presidente, deixando os convites em aberto. 

SEGUE... 
À medida em que a lista foi aumentando, Lula firmou sua posição: “Vamos aceitar todos, mas remeter o compromisso para o pós-governo.”
Queria dar tempo às universidades de ratificar o convite, se quisessem.

ATO FINAL 
Segunda agora, a Gol comparece com um cheque de R$ 70 milhões, além de assumir o passivo, e finaliza a compra da Webjet.

FROTA CONECTADA 
A TAM, que já oferece internet a bordo de nove aeronaves, promete até dezembro estender a maravilha a 30 aviões.

NÃO RASGA DINHEIRO 
O exame de sanidade mental de Marcelo José Leal Martins, um dos acusados de receber propina da família do rapaz que atropelou e matou Rafael Mascarenhas, filho de Cissa Guimarães, concluiu que ele é plenamente capaz de entender o caráter de seus atos.
Na época, o ex-policial alegou ser esquizofrênico.

DIVINAS DIVAS 
A atriz Leandra Leal, que produz um documentário sobre As divinas divas, vai gravar com Jane Di Castro, na 16ª Parada do Orgulho LGBT, no Rio.
O travesti vai interpretar o Hino Nacional dia 9 de outubro, em Copacabana.

TRÊS GUERREIRAS 
Dilma e Ana de Hollanda comandam em Recife, dia 9 de novembro, na entrega da Ordem do Mérito Cultural, uma homenagem póstuma a três guerreiras: Pagu, que participou do Modernismo e foi presa como militante comunista; Leila Diniz, que quebrou tabus numa época de repressão; e Zuzu Angel, a estilista que enfrentou a ditadura.
Merecem.

PRAZER, KATARINA! 
Sai aqui em outubro, pela Lua de Papel, Amor Fora de Hora, da sueca Katarina Mazzeti. Publicado em mais de 20 países, o livro virou filme na França.

ROCK DA CARTEIRADA 
Aliás, na internet, as pessoas se entregam. Veja só:
B. V., uma mulher que em seu perfil no Twitter se diz “carioca da gema – não convencional”, postou domingo:
“Ter um amigo juiz faz toda diferença na hora de chegar na Cidade do Rock: de carro até a porta! hihihihi... desculpa aê!”
Fala sério!

NÃO É FOFO ? 
O senador Eduardo Suplicy mandou para o senado uma carta dizendo que não utiliza o carro oficial desde que assumiu o seu mandato em 1991. 
E que mesmo com a troca da frota, ele continuará usando o seu carro particular.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG - Perderam a noção



Perderam a noção
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 29/09/11


A carga tributária brasileira subiu forte em 2010 e aumenta ainda mais neste ano. E parece que não dá para nada. A conversa em Brasília trata da criação de algum novo imposto para, dizem, financiar a expansão de gastos com saúde.

Mas como podem pensar nisso diante da multiplicação dos casos de péssimo uso do dinheiro atual? Não faz muito tempo, este jornal mostrou equipamentos caros encaixotados há meses em hospitais do Rio. No domingo passado, o "Fantástico" mostrou que o Samu, o serviço de emergência do SUS, busca pacientes com ambulâncias caindo aos pedaços, enquanto deixa outras centenas delas, novinhas em folha, paradas nos pátios.

Mais impressionantes ainda são as explicações dadas por autoridades entrevistadas. Uma diz que as ambulâncias chegaram, mas não as equipes para operá-las, muito menos os telefones para atender os chamados de emergência. A questão seguinte é óbvia: como as ambulâncias foram entregues pelo Ministério da Saúde a secretarias estaduais e prefeituras se não havia como operá-las? Ora, isso acontece, mas estamos verificando - tal é o teor das respostas.

Uma secretária simplesmente disse que não sabia o que estava acontecendo. Outras autoridades alegaram problemas com contratação, licitações, atrasos burocráticos - como se não fossem elas as responsáveis pelo bom andamento dos processos.

Na cidade de São Paulo, a prefeitura tem ambulâncias paradas por falta de licenciamento dos veículos no Detran. Desde 2009! E aí? Até o fim do ano, só mais uns três meses, a coisa estará resolvida - foi a resposta.

Nada mais? Ninguém demitido por causa disso? Reparem: não é o carro do prefeito que está parado, são ambulâncias que deveriam estar servindo para salvar vidas. Só faltou dizer que era problema de despachante. Vai ver que é para isso que querem mais dinheiro. Ou que o prefeito Kassab estava muito ocupado com seu novo partido.

Por outro lado, podem reparar: o carro das autoridades está sempre um brinco, com diversos motoristas e seguranças à disposição. Por que não colocam estes para dirigir as ambulâncias ou os veículos da polícia?

Perderam a noção do serviço público. Esqueceram que toda essa máquina está aí exclusivamente para atender os cidadãos, os contribuintes. Se o serviço não é oferecido, a autoridade é sempre culpada.

Aliás, repararam nas frases? "A licitação atrasou." Como assim? Atrasou sozinha?

Já pensaram a situação numa empresa privada? Os carros de entrega estão parados porque o contrato atrasou.

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, logo ele, que vinha tão bem, e sua mãe, a deputada Ana Arraes, gastam R$300 mil de dinheiro público alugando carros de uma empresa que não tinha veículos quando ganhou a primeira licitação e cuja dona é correligionária, filiada ao mesmo partido (PSB) e filha de um antigo funcionário da família. Além disso, essa dona, Renata Ferreira, tem um emprego, nomeada, não concursada, no Ministério de Ciência e Tecnologia, dominado pelo PSB no governo Lula. Além disso, a empresa de Renata usa um aparelho de fax que havia sido dado de presente por Eduardo Campos para o pai e funcionário amigo.

Qual o problema? - foi o resumo da resposta do governador e da deputada, recém-eleita para o Tribunal de Contas da União, justamente o órgão encarregado de fiscalizar o gasto público. Houve licitação, aprovada, e pronto, disseram Campos e Ana Arraes.

O problema é que se trata de dinheiro público, dos outros. Se não tivessem perdido essa noção, o normal seria o governador dizer ao pai da Renata: olha aqui, melhor ela não entrar na licitação dos carros, pode pegar mal se ela ganhar. E o normal seria a Renata e o pai dela tomarem a decisão de não entrar para não criar eventuais embaraços ao governador, patrão, amigo e correligionário.

Em vez disso, o pessoal do poder passou a apresentar um argumento padrão: os empresários da família e do círculo de amigos não podem ser prejudicados só porque um parente/amigo tornou-se a autoridade. E isso justifica a situação dos tais empresários que saíram do zero para o sucesso só depois que o parente/amigo/correligionário chegou ao poder?

Mesmo, porém, no caso de empresas já estabelecidas, seus donos deveriam se abster de participar de negócios públicos comandados por parentes/amigos. O serviço público impõe, sim, limitações. Um juiz não pode sair por aí confraternizando com réus e seus advogados. O governador e o prefeito não podem sair contratando a sua turma. No convívio social, as amizades precisam ser limitadas e, em muitas situações, afastadas. Nenhuma autoridade pode pegar carona no jatinho dos fregueses do governo.

Pode parecer ingênuo. Mas é isso ou achar que tudo isso "não tem nada demais".

GOSTOSA


FERNANDO REINACH - Vila Nova Leopoldina observa Ariquemes



Vila Nova Leopoldina observa Ariquemes 
 FERNANDO REINACH
O ESTADÃO - 29/09/11

Quando entrei no táxi, nunca imaginei que teria uma manhã tão maravilhosa. Mas eventos improváveis ocorrem e podem salvar o dia. Desde que iniciei a publicação destas crônicas, vez
por outra recebo e-mails de professores pedindo permissão para utilizar alguma delas como material didático. Argumentam que o texto curto atiça a curiosidade dos alunos e pode ser usado no início das aulas.

Quando uma seleção das crônicas foi publicada no livro A Longa Marcha dos Grilos Canibais, surgiu a ideia de distribuir cópias do livro para os professores de ciências do ensino médio. Em 2010, viajei por diversas capitais, conversando com grupos de professores de ciências da redepública,discutindo como motivar os alunos a se interessarem por ciência. Desde então, tenho tido conversas com alunos e professores de dezenas de escolas.

A visita à escola FazArte, na Vila Nova Leopoldina,prometia ser mais uma dessas agradáveis manhãs. Não estava preparado para um susto.

A escola ocupa uma pequena casa no meio do bairro. São 100 alunos, 15 por classe, uma classe para cada ano. Quando me preparava para enfrentar os adolescentes, a diretorame pregou o primeiro susto: aqui só temos alunos do ensino básico, quem leu seu livro foram alunos de 10 a 14 anos.Elá estavam eles, sentados, esperando. Sem saber por onde começar e duvidando que houvessem lido ao menos uma crônica, perguntei sobre o que queriam conversar.A resposta veio rápida: Ariquemes. Ariquemes?

Em 19 de fevereiro de 2009, logo que a Google ofereceu uma opção no Google Earth que permite a visualizaçãode séries cronológicas de imagens de satélite, tentei encontrar uma região na Amazônia onde a série histórica ilustrasse a derrubada da floresta. Acabei selecionando a região de Ariquemes, Rondônia. A crônica (Desmatamento em Ariquemes) sugeria como o Google Earth poderia ser usado para acompanhar o processo de desmatamento (uma montagem das fotos de satélite da região pode ser vista nainternetembit.ly/rdzDYF). Para minha surpresa, dois anos depois, eu me encontrava na frente de 45 alunos que tinham feito exatamente o que eu havia sugerido.

Enquanto uma professora havia mostrado no computador o desmatamento e discutido com os alunos o que estava ocorrendo na floresta, a professora de português os ajudou a entender as ironias que eu havia incluído no texto. Na aula de matemática, os estudantes haviam tentado calcular a área desmatada usando seus conhecimentos de geometria.Eagora eles queriam saber tudo sobre o desmatamento em Ariquemes. Já haviam escrito para os alunos de uma escola em Ariquemes, perguntando como era a vida por lá. Os olhinhos brilhavam.

Por sorte, leitores haviam me escrito sobre a história de Ariquemes. Um funcionário do Banco do Brasil, que transportava de monomotor o dinheiro para abastecer a agência local, contou que, por volta de 1980, as queimadas eram tantas que muitas vezes o avião não conseguia pousar ou decolar.Outro havia contado que o início do desmatamento foi estimulado por um projeto de reforma agrária.

Essas e outras histórias ajudaram a satisfazer a curiosidade dos alunos. Mas logo a conversa mudou. Mais um susto. Diversos alunos haviam lido outras crônicas e a discussão continuou animada

Confesso que foi penoso ir embora.Quando entrei no táxi, foi difícil acreditar que não estava em Oslo, mas na Vila Nova Leopoldina,em SãoPaulo, no Brasil.

CLÓVIS ROSSI - Em crise, mas bom parceiro



Em crise, mas bom parceiro
CLÓVIS ROSSI 
FOLHA DE SP - 29/09/11

Comércio com a Europa vai bem; Dilma fechará dois acordos que vão facilitar o aumento do turismo


A presidente Dilma Rousseff não tratará, na sua viagem a Bruxelas, a partir de segunda-feira, do que seria a cereja do bolo na parceria estratégica entre o Brasil e a União Europeia: uma colossal área de livre-comércio, a maior do mundo, englobando os 27 países europeus mais os quatro membros-plenos do Mercosul.
Um projeto formidável, mas que patina desde que começaram as negociações, já faz 16 anos. Claro que haverá menções de parte a parte à necessidade de concluir os entendimentos, mas serão pura formalidade. Os dois lados já decidiram que a troca de ofertas -a parte realmente substantiva da negociação- só poderá ser feita no ano que vem. Troca de ofertas significa cada lado dizer o que pretende abrir ao outro e quanto abrirá.
No caminho desse passo, há dois obstáculos eleitorais: o pleito presidencial argentino de outubro e a eleição francesa de, em princípio, maio de 2012. São os países que mais dificuldades apresentam para abrir o mercado agrícola (França) ou o industrial (Argentina).
O Brasil já não tem tanta ansiedade pela abertura do mercado agrícola europeu. Houve um momento em que, pela altíssima competitividade de sua produção agrícola, o país poderia aumentar rapidamente suas exportações, se os europeus liberalizassem o comércio nessa área. Mas apareceu o pantagruélico apetite chinês, a balança comercial brasileira tornou-se muito positiva, e a pressa amainou.
Ainda mais que, mesmo em crise, a Europa está aumentando suas importações do Brasil: mais de 30% nos primeiros oito meses do ano, com o que o fluxo comercial (importações + exportações) deve passar de US$ 100 bilhões este ano (foi de US$ 80 bilhões em 2010). É o segundo maior mercado, depois da Ásia.
O fato de não estar madura a negociação sobre livre-comércio não quer dizer que a viagem de Dilma será apenas a habitual comemoração das boas relações entre as duas partes. Primeiro, porque é inescapável discutir a imensa crise em que está mergulhada a Europa. Dilma e o ministro Guido Mantega cobram soluções dos europeus, antes que a crise contagie todo o resto do mundo, Brasil inclusive, cuja resistência "não é ilimitada", como a presidente afirmou na ONU.
Mas a visita servirá também para a assinatura de dois acordos de cooperação que terão efeitos diretos no cotidiano dos muitos brasileiros que passaram a ter como esporte nacional fazer turismo, aproveitando-se do câmbio favorável (se é que ele vai continuar favorável).
Um dos acordos prevê a liberalização do transporte aereo, o que significa mais voos (de passageiros e cargas) em ambas as direções. Outro é um projeto-piloto para aumentar o fluxo turístico na baixa estação, oferecendo, por exemplo, pacotes de avião e hotel a preço favorável para os que têm laços familiares de um e outro lado do Atlântico.
Outro projeto é uma parceria na área de prevenção de acidentes e de defesa civil, na qual a "expertise" europeia será muito útil para um Brasil que continua patinando nesse capítulo.
São entendimentos dessa espécie que dão conteúdo ao rótulo "parceria estratégica" que define a relação Brasil/UE.

JUIZ LADRÃO!



DEMÉTRIO MAGNOLI - À sombra de Jabotinsky


À sombra de Jabotinsky
DEMÉTRIO MAGNOLI
O ESTADÃO - 29/09/11


Perante a ONU, Mahmoud Abbas disse que o reconhecimento do Estado Palestino equivaleria a fazer mais uma "Primavera Árabe". A verdade é exatamente o inverso: a iniciativa tem o propósito de evitar uma "Primavera Árabe", desviando a frustração popular nos territórios ocupados para a esfera da diplomacia internacional. Contudo, como tantas outras coisas, o plano pode ter consequências indesejadas, deflagrando precisamente a revolta que almeja impedir.

Na sua resposta, Benjamin Netanyahu lançou sobre Abbas a responsabilidade pelo fracasso das negociações de paz, invocando seu pretexto predileto: os palestinos recusam-se a reconhecer Israel como "Estado judeu". A verdade é que a OLP reconhece oficialmente Israel desde os Acordos de Oslo, de 1993, e o pedido palestino encaminhado à ONU representa tanto o reconhecimento das fronteiras anteriores a 1967 quanto uma renúncia definitiva aos territórios palestinos perdidos na guerra de 1948. Entretanto, nenhuma liderança palestina pode cumprir o requisito maximalista de Netanyahu, pois um quinto dos cidadãos israelenses não são judeus, mas palestinos.

Não se reconhece o Irã como "Estado islâmico" ou Cuba como "Estado socialista", mas apenas como Estados soberanos. Quando se firmaram os Acordos de Oslo, ninguém exigiu da OLP o que agora reclama o chefe de governo de Israel. Definir a natureza de Israel não compete aos palestinos, mas unicamente aos próprios israelenses, que sempre estiveram divididos acerca do complexo tema, com repercussões variadas sobre os direitos da minoria árabe e, também, sobre os privilégios legais dos judeus ortodoxos. Correntes radicais em Israel, com assento no Gabinete de governo, já propuseram cassar os direitos políticos da minoria não judaica. Ao demandar o reconhecimento de Israel como "Estado judeu", Netanyahu exige algo duplamente impossível: que a OLP coloque um selo de legitimidade sobre a expulsão dos palestinos de suas terras na guerra de 1948 e que admita a hipótese de supressão da cidadania da minoria árabe-israelense. O primeiro-ministro sabe disso - e exatamente por saber insiste na exigência.

O sionismo atravessou três etapas distintas tentando responder à espinhosa questão da soberania sobre a Terra Santa. No início, elegeu o caminho de negar a presença física e a existência política de árabes palestinos na Palestina. A negação expressava-se no lema da "terra sem povo para um povo sem terra" e na figuração dos habitantes daquelas terras como nômades do deserto. Na etapa seguinte, que coincide com a guerra de 1967, a presença física palestina já não era passível de negação, mas se rejeitava a existência nacional dos palestinos. A Jordânia, dizia a líder israelense Golda Meir, era o Estado Palestino. Uma etapa final, marcada pela ocupação dos territórios palestinos e pela intifada, propiciou um choque de realidade. "Há dois povos e duas bandeiras na Terra Santa", declarou Shimon Peres na hora dos Acordos de Oslo.

O impasse atual decorre da escolha do governo de Netanyahu de passar uma borracha sobre o aprendizado de seus predecessores. O primeiro-ministro é um herdeiro da tradição sionista, mas a sua maioria parlamentar se ergue sobre um componente estranho a essa tradição: o Yisrael Beitenu, do ministro do Exterior, Avigdor Lieberman. Baseado nos imigrantes recentes oriundos da antiga URSS, o partido não reflete a experiência histórica israelense, mas uma cisão do sionismo anterior à fundação do Estado judeu. Sua fonte doutrinária se encontra no pensamento de Zev Jabotinsky, que, há 90 anos, imaginou Israel como uma federação judaico-árabe dirigida pelos judeus no conjunto indivisível da Terra Santa. A visão de Jabotinsky, uma relíquia resgatada das águas do passado, norteia a política oficial do Estado de Israel.

Uma crise devastadora atravessa o sionismo. A coalizão governista, formada pela aliança do Likud com o Partido Trabalhista, subordina-se voluntariamente à orientação anacrônica de Lieberman, que torna inviável a solução da paz pela divisão da Terra Santa em dois Estados. Há pouco, o ex-primeiro-ministro Ehud Olmert pediu a reabertura urgente das negociações com Abbas e alertou sobre as consequências desastrosas da política oficial: "Os futuros líderes palestinos podem abandonar a ideia de dois Estados e buscar uma solução de Estado único, tornando impossível a reconciliação".

Não foi o respeito aos direitos dos palestinos, mas as realidades da geopolítica e da demografia que conduziram o sionismo à "ideia de dois Estados". Hoje, no conjunto Israel-Palestina, a população árabe-palestina supera a judaica. O Estado de Israel só pode conservar a ocupação dos territórios palestinos mediante a supressão permanente dos direitos políticos da maioria da população da região - ou seja, por meio de um regime de apartheid incompatível com os princípios admitidos pela comunidade internacional. Olmert está dizendo que a solução dos dois Estados é a única capaz de preservar Israel como Estado judeu e democrático. E, ainda, que Netanyahu representa uma ameaça concreta ao ideal sionista sobre o qual Israel se constituiu.

Jabotinsky não almejava um Estado judeu, mas um Estado único dirigido pelos judeus. A OLP acalentou por algum tempo o sonho de um Estado único dirigido pelos palestinos, mas acabou aceitando a "ideia de dois Estados". Uma ideia, contudo, não perdura eternamente. Sob o impacto combinado da desmoralização do processo de paz, das revoluções populares árabes e do isolamento regional de Israel, os palestinos podem desistir da miragem de um Estado nacional nas fronteiras anteriores a 1967. Nessa hipótese, eles seguiriam o exemplo dos negros sul-africanos e passariam a exigir direitos iguais de cidadania para todos os habitantes do conjunto Israel-Palestina. Acomodado à sombra de Jabotinsky, Netanyahu empurra-os rumo à opção do Estado único.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Recrutadoras acham novos perfis vocacionais no país
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 29/09/11

Empresas de recrutamento se expandiram neste ano para atender novos perfis vocacionais no Brasil. A Michael Page, que abriu escritório em Recife em janeiro, verificou que o Norte, o Nordeste e o Centro-Oeste, cuja vocação era mais ligada à agropecuária, ganharam perfil fortemente comercial. "Essa região sempre foi mais fornecedora de insumos e mão de obra para o resto do país e agora tem demanda forte para gerências regionais de vendas", diz Sergio Sabino, diretor da empresa. Salvador, Recife e Fortaleza recebem profissionais de outros Estados da região. "Tem sido pouco necessário buscar gente de fora", afirma. Para a Hays Recruiting, que desde 2010 abriu operações em Campinas e Curitiba, a região Sul se consolida pela demanda na área de finanças corporativas por profissionais com perfil de operação internacional. "Há procura por trabalhador para empresas que têm serviços compartilhados no Mercosul", diz Gustavo Costa, diretor da Hays no Brasil. A Mariaca, que acaba de abrir em Campinas, vai agora para Curitiba e finaliza estudos para outras regiões. "Nos últimos dois anos, quando começamos a olhar mais para fora do eixo Rio-SP, percebemos muitas concentrações de demanda", diz Patrícia Epperlein, da Mariaca.

FLUXO IMIGRATÓRIO "Há mais um forte fluxo para o Brasil", diz o embaixador da Itália no Brasil, Gherardo La Francesca. De maio para agosto, 193 empresas italianas passaram a operar no país. O levantamento é resultado de um estudo feito pela embaixada com a KPMG, a Valueteam e a entidade empresarial italiana Confindustria. Pelo "Mapeamento da Presença da Itália no Brasil", o número dessas empresas e filiais, que era de 392 unidades, passou a 585 estabelecimentos. "Há um ano eram 350 empresas", lembra ele. Grande parte dessas unidades estão concentradas na região Sudeste do Brasil, particularmente em SP. Há, porém, um crescimento nas regiões Norte e Nordeste. Mais da metade das companhias é de filiais produtivas do setor de maquinários. Há, porém, um crescimento nas regiões Norte e Nordeste. O segundo setor de maior atuação italiana é o de serviços. O caso do italiano Cesare Battisti, a quem o Brasil ofereceu asilo político, o que gerou um incidente diplomático, não deverá ofuscar o "Momento Itália Brasil", série de eventos sobre os dois países que começam no próximo dia 15. "Os ministros Franco Frattini e Antonio Patriota, das Relações Exteriores dos dois países, combinaram no sábado passado, nos EUA de nomear representantes para discutirem o caso", segundo La Francesca.

55% das empresas da Itália no Brasil são do setor de maquinários

13% das companhias italianas no Brasil são do segmento de bancos e serviços

CENTRO RESIDENCIAL A incorporadora Requadra investirá R$ 50 milhões em um novo empreendimento em São Paulo. O lançamento da obra, que terá 440 apartamentos com 30m2 a 50m2 e duas torres, deve ocorrer em novembro, diz o sócio-fundador da companhia, Marcos França. O preço de venda do metro quadrado ficará entre R$ 4.500 e R$ 6.000.

CARREIRA O número de candidatos inscritos no exame da Anpec (Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia), que seleciona alunos para cursos de mestrado e doutorado na área, aumentou em 16,5% neste ano. São 1.311 candidatos que concorrem a vagas de 38 centros de ensino de todo o país. No ano passado, eram 1.125. O número de inscritos é o maior desde 2003. As instituições com maior número de candidatos são USP, FGV-SP e UFRJ. As duas públicas oferecem 25 vagas. Na FGV, são apenas 20. As provas terminam hoje.

Saúde... O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é o mais novo membro do CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial), órgão que fará o aconselhamento do Plano Brasil Maior -política de incentivo à indústria.

...na indústria É a primeira vez que um ministro do setor social integra o CNDI. Com a entrada de Padilha, a saúde passa a ser reconhecida como área estratégica para o desenvolvimento econômico. A cerimônia de nomeação será hoje.

METAL DEFICITÁRIO O setor de cobre registrou deficit de US$ 335,9 milhões nos primeiros sete meses de 2011, segundo levantamento do Sindicel. O volume é 71% maior que no mesmo período do ano passado. As exportações fecharam os sete primeiros meses com US$ 379,9 milhões, um incremento de 25,2% ante o mesmo período de 2010.

ILIMAR FRANCO - Nova batalha


Nova batalha 
ILIMAR FRANCO
 O Globo - 29/09/2011

O PSD vai iniciar nova batalha no TSE. O partido quer receber recursos do Fundo Partidário. Se conseguir, entrarão no seu caixa cerca de R$10 milhões neste ano. Mas para isso terá de vencer batalha jurídica contra o DEM e os partidos que perderam deputados para o PSD. Eles é quem perderão receita. O novo partido avalia que se ganhar embate do Fundo, o TSE também lhe dará tempo de TV nas eleições municipais de 2012.

Copa
É dominante na coordenação do governo Dilma a convicção de que a Fifa está extrapolando nas exigências legais para realizar a Copa do Mundo. Um ministro comentou: "A Fifa quer ganhar até com a carrocinha de cachorro-quente."

Déjà-Vu
Em jantar, anteontem à noite, com 41 deputados tucanos, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) previu: "O governo Dilma enfrentará muitas dificuldades", "terá anos difíceis pela frente", "será um governo pálido de realizações" e que "emergirá um movimento no PT pela candidatura Lula em 2014". O fato lembra vaticínio, atribuído ao ex-presidente Fernando Henrique, em 2002, de que o ex-presidente Lula não conseguiria governar o país sem chamar os tucanos para compor seu Ministério.

Essas marchas são do povo e para o povo. Portanto, não queremos a presença de partidos políticos, sindicatos ou qualquer movimento ligado à política" - II Marcha Contra a Corrupção, vídeo no YouTube convocando protesto nacional para 12 de outubro

Bandeiras
No seu programa na tevê, amanhã, o PSOL vai propor a redução dos juros, o fim do voto secreto no Congresso e a ampliação da participação popular nas decisões. O partido vai insistir no bordão: "PSOL, um partido necessário".

Repeteco
Fala o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ): "O PSDB errou ao apoiar o governador Eduardo Campos na eleição do TCU. Como errou ao apoiar Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência da Câmara. O PMDB não veio para cá nem o PSB virá."

Na mira
O prefeito Gilberto Kassab quer agora ampliar a bancada do PSD no Senado. Hoje são dois: Petecão (AC) e Kátia Abreu (TO). Os novos objetos de desejo: Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Blairo Maggi (PR-MT) e Jayme Campos (DEM-MT).

PMDB quer adotar método português
O PT baixou na casa do líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), ontem de manhã, para tentar salvar a reforma política. Como o PMDB não aceita o texto do relator Henrique Fontana (PT-RS), o deputado Marcelo Castro (PMDB-CE) apresentou uma nova proposta. Ela prevê financiamento público para presidente, governador, senador, prefeito de cidades com mais de 50 mil eleitores e para 50% dos deputados federais, estaduais e vereadores (eleitos em lista). Nos demais casos: financiamento privado. Sendo que 50% das vagas para o Legislativo seriam ocupadas pela Fórmula D"Hondt, adotada em Portugal.

Estratégia para votar a lei dos royalties
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), está promovendo uma verdadeira paralisação da Casa. Ontem, os deputados não votaram nem devem fazê-lo nos próximos dias. O objetivo da maioria dos deputados é evitar o envio de novas medidas provisórias para o Senado, além das quatro que lá estão. Querem evitar que a pauta do Senado fique trancada, viabilizando a votação, na próxima terça-feira, do projeto de redistribuição dos royalties do petróleo.

IRONIA dos deputados do DEM: vários governadores tucanos filiaram deputados no PSD de Kassab. E este agora quer fazer de seu partido o terceiro da Câmara, maior que o PSDB, que tem 53 deputados.

OS DEPUTADOS Edson Santos (PT-RJ), Brizola Neto (PDT-RJ) e Otavio Leite (PSDB-RJ) foram ontem negociar a lei dos royalties no Senado, irritando o restante da bancada do Rio. "A bancada do Rio está esquecendo de fazer política", rebateu Edson Santos.

AS MINERADORAS VÃO PAGAR. A assessoria do senador Aécio Neves (PSDB-MG) explica que o projeto que aumenta os royalties dos minérios não implicará em novo imposto para os contribuintes.

GOSTOSA


SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Mudança de foco 
SONIA RACY
O Estado de S.Paulo - 29/09/2011

Ricardo Mansur é o mais novo advisor do UBS. Pelo menos é o que o ex-empresário tem declarado em encontros organizados para apresentar sua nova opção profissional, como o coquetel de terça-feira da semana passada, para 40 pessoas, em uma casa no Morumbi. Mansur levou ao evento, para explicar melhor as opções de investimento, os diretores executivos do UBS Sean Lieb, de NY, e Peter Blass, de Zurique. Além de Marcus Epprecht, gerente- diretor também de NY. Não se sabe se algum dos presentes se entusiasmou.

Concentração 
Guido Mantega cancelou ida a Roma e Bonn, semana que vem, a pedido de Dilma. Vai ficar por aqui, acompanhando de perto o andar da carruagem da economia. Mesmo porque terá de ir a Paris, dia 13, para o G-20.

Prévias amplas?
Em plena era da internet, o PSDB de São Paulo exigirá, amanhã, que seus filiados se registrem pessoalmente no diretório para participar das prévias. Com isso, o número de votantes, que poderia chegar a 50 mil, deve se restringir a 500. A regulamentação das prévias deve entrar hoje na pauta do diretório estadual.

Na veia 
O Brasil pode ficar fora de pesquisa internacional de duas vacinas preventivas contra o HIV. Por falta de voluntários. Das 20 pessoas necessárias, até agora foram recrutadas apenas cinco. Para tentar arrebanhar colaboradores, a secretaria da Saúde fará plantão hoje na estação de metrô República.

Contramão 
Jaques Wagner é crítico do aumento de IPI para carros importados. Em café da manhã com empresários do Lide, ontem, em SP, classificou a medida de “abrupta”. “Nenhuma montadora chega ao Brasil com 70% de conteúdo nacional; é preciso modular o prazo”. Para fugir do trânsito, o governador usou um... helicóptero.

Apoio externo
Durante jantar na semana passada em Washington, Alexandre Tombini, do BC, conversou com Alan Greenspan, ex-Fed, sobre a crise financeira internacional. Pelas tantas, Greenspan observou: “Vocês fizeram movimento forte”, referindo-se à queda dos juros. E completou: “Às vezes, temos mesmo de ir contra a visão corrente dos políticos e dos mercados”.

SP Green
Com suas obras valendo US$ 50 milhões, Jeff Koons nada tem de afetado. Simpático, circulou anteontem pelo jantar organizado por Heitor Martins, da Bienal. “Cheguei hoje em e impressionei com a natureza”, contou Koons à coluna. Onde viu verde? “Pelo caminho”, observou o pós-modernista que permaneceu só 48 horas em Sampa. “Sempre viajo assim. Rápido. Gosto deficar em casa com meus cinco filhos mais novos”, explica o americano, de56 anos, que tem... sete filhos. Dois com sua ex, Cicciolina.

MERVAL PEREIRA - A guerra do óleo


A guerra do óleo 
MERVAL PEREIRA
 O Globo - 29/09/2011

A guerra da distribuição dos royalties do petróleo está chegando a um ponto de ruptura entre o governo federal e os estados produtores, principalmente o Rio de Janeiro, o que tem mais a perder. Ontem, o governo federal, em aliança com alguns senadores nordestinos, tentou votar o projeto, mas o PSDB atrasou entrega de relatório de uma medida provisória, e a pauta seguiu obstruída.

Mas a sensação é que da semana que vem não passa. Os estados produtores estão fazendo de tudo para mostrar aos demais que na verdade todos perderão com a proposta de divisão que está em votação, pois o novo regime de partilha fecha mais uma vez o ciclo histórico de centralização da tributação do petróleo nas mãos da União.

Os economistas José Roberto Afonso e Vivian Almeida fizeram um estudo com uma visão mais abrangente e histórica de como a tributação do petróleo e a divisão da correspondente receita entre níveis e entes federados contribuíram para moldar uma tendência marcante e secular da Federação brasileira: a oscilação no longo prazo entre maior concentração dos poderes e dos recursos e maior descentralização dos mesmos, como um pêndulo, que agora tende para a União.

Segundo o estudo, a história da tributação sobre combustíveis confunde-se com o histórico do processo de divisão federativa do país. Eles demonstram que, no debate recente, a justificativa para a partilha do pré-sal confunde-se com o processo de recentralização desencadeado após a Constituinte. Esse histórico de oscilar centralização com descentralização é característica do caso brasileiro, dizem vários autores que estudam o federalismo.

No pós-guerra criou-se um imposto sobre o petróleo, quando ele não tinha ainda peso na economia. Era imposto único, federal, mas com 60% da receita repartidos com estados e municípios. Os militares mantiveram o imposto, mas aumentaram a proporção do que ficaria na União. A descentralização, iniciada com governadores no regime militar, consolida-se na Constituinte de 1988, marco principal da inversão da lógica centralizadora dos militares.

Antes o imposto único era federal, e, pela Constituição nova, combustíveis e energia elétrica passam a ser base exclusiva de estados e municípios, sem que incida sobre eles imposto federal. O ICMS passou a incidir sobre combustíveis com a famosa regra de ser cobrado no destino, e os constituintes criam a figura dos royalties para compensar estados produtores.

Em 1993, no governo Itamar Franco, cria-se uma taxa federal sobre combustíveis com uma mudança sutil na legislação, permitindo que contribuições incidissem sobre petróleo e gasolina, e não impostos. Isso abriu a porta para que o governo federal voltasse a taxar o setor, criando a Cide sobre combustíveis, teoricamente para financiar obras em estradas federais. A Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) é cobrada da mesma forma que a Cofins e o PIS: um valor fixo por litro de combustível vendido. A destinação da receita, porém, é distinta: 1/4 da Cide é entregue aos estados e municípios (é a única contribuição que é compartilhada), enquanto 100% das contribuições sociais pertencem à União.

Na hora de reduzir tributo, a escolha é sempre em cima do compartilhado, como aconteceu com a redução da Cide de combustíveis para não aumentar o preço da gasolina. A virada total de mesa foi a mudança de regime da concessão para a partilha no pré-sal, em que o óleo passa a ser da União. O que no regime de concessão é lucro empresarial, na partilha vira receita de comercialização da União, uma receita pública.

O agravante, que completa a briga federativa, é que o óleo não gera lucro, e o governo não só não vai pagar participações especiais como também não pagará Imposto de Renda nem Contribuição Sobre o Lucro Líquido. E há dúvidas sobre se a venda desse óleo pela União vai pagar ICMS, Pis, Cofins, enfim, os impostos que incidem sobre a venda.

O novo sistema de partilha fecha o ciclo de reconcentração dos recursos nas mãos da União. O ganho não vai gerar receita para os Fundos de Participação dos Estados e Municípios, não gerando vinculação para a Educação e a Saúde, representando menos dinheiro carimbado para a seguridade social.

A União pode até decidir pôr um montante nessa área, mas não estará obrigada. A ironia é que os estados não produtores, que vivem dos Fundos dos Estados e Municípios, não prestam atenção para o fato de que, na mudança de regime, essa riqueza, pelo sistema tributário, vai deixar de ser repartida com estados e municípios, pois não gerará arrecadação de impostos.

Em vez de brigarem por isso, adotam o caminho mais fácil e rápido, que é tirar o que estados produtores já têm. Os governos ficam brigando entre si enquanto a União paira soberana. O Ministério da Fazenda fez uma opção preferencial pela Petrobras. Diante disso, estados produtores apresentaram a proposta de alterar as participações dos campos já licitados no regime de concessão, mudando o decreto que regulamenta a medida. Governo e petroleiras argumentam que isso seria quebra de contrato. A alternativa nova é criar um imposto sobre exportação, mas o governo alega que ele aumentaria o preço da gasolina, o que parece falácia, pois o imposto seria pela parte exportada, que não interfere no mercado interno. A Petrobras, é certo, teria uma despesa a mais, mas, com a alta do dólar, receberia mais em reais pela exportação.

O caminho da briga federativa é o pior possível, vai parar no Supremo. Mas o governo parece mais preocupado em preservar a Petrobras do que em não alimentar a guerra federativa.

JANIO DE FREITAS - Questão de justiça


Questão de justiça
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 29/09/11 

Seria bom se magistrados ponderassem sobre os casos de improbidade que têm emergido do Judiciário

Antes de qualquer consideração, seria indispensável uma pergunta relativa à afirmação da corregedora nacional de Justiça, de que "a magistratura está com gravíssimos problemas de infiltração de bandidos escondidos atrás da toga": a ministra Eliana Calmon fez assim uma acusação ou uma constatação?

As violentas considerações emitidas a respeito pelo ministro Cezar Peluso, presidente do Conselho Nacional de Justiça, e encampadas por mais 11 dos 15 conselheiros, indicam haverem dispensado a pergunta.

De imediato, a seu ver Eliana Calmon cometeu "acusações levianas" e lançou, "sem prova, dúvida sobre a honra de milhares de juízes". Como preliminar, os "milhares" são debitáveis à exaltação do ministro Peluso, inexistindo sugestão disso, e de outra estimativa, nas palavras da ministra Calmon ou de terceiros.

Sem referências quantitativas, sobram, porém, comprovações recentes, ou pós-criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de que o Judiciário não é, nem haveria como ser, imune à fraqueza humana nesta sociedade envenenada pelas ânsias de dinheiro e de posses. Ficaria muito bem a magistrados que ponderassem sobre o significado dos casos de improbidade e outras delinquências que têm emergido do Judiciário, até mesmo de altos tribunais.

Desde a venda de sentenças e liminares como procedimento constante, a associações com o lobismo do pior gênero e a irregularidades processuais deturpadoras.

São provas provadas da infiltração deplorável, por menos que sua quantidade induza a ideia de degradação vasta.

Os casos conhecidos não são numerosos, mas são indicativos. E o provável é que não sejam apenas os já conhecidos, seja pelo que os precedentes poderiam sugerir, como pelo alargamento apenas recente das averiguações, trazido pelo CNJ. Mas ainda ampliáveis, por exemplo, com o exame de evidências de incompatibilidade entre posses e vencimentos (este exame, por sinal, é o mais detestado nos Poderes e o mais escasso entre os tão necessários, diante de tamanhas evidências no serviço público e nos quadros políticos).

Não há dúvida de que o CNJ tem prestado serviços importantes na redução de falhas comuns e longevas no Judiciário, a par das medidas relativas a condutas pessoais.

A outra face dessa atividade positiva é que atesta, embora sem o querer, outra constatação exposta por Eliana Calmon: "A imagem do Judiciário é a pior possível junto ao jurisdicionado".

A rigor, o mau conceito não está só entre os que têm a lástima de precisar recorrer ao Judiciário. E por não estar só aí, mas soar em clamor generalizado no país, é que a alta magistratura afinal admitiu um acordo, com o Congresso, para a criação de uma entidade destinada a lançar olhos indagadores sobre o Judiciário. É o conselho cuja existência, no entanto, está sob contestação de parte dos magistrados, desejosos de vê-lo sem os seus principais e mais necessários poderes.

Não é um modo de levar o Judiciário a proporcionar melhores constatações.

INVESTIGAÇÃO NO BRAZIU 4



PAULO SANT’ANA - Pessoas diferentes


Pessoas diferentes
 PAULO SANT’ANA 
ZERO HORA - 29/09/11

Se elogiares – ou criticares – os pés de uma mulher, nunca mais ela esquecerá de ti.

Nunca ouvi um canário belga gago. E nunca ouvi um rouxinol fanhoso.

Estava eu num jantar com umas cem pessoas. Uma hora depois, chegou um amigo meu, pessoa muito brilhante. Foi então que lhe disse: “Só agora sinto necessidade de colocar o meu aparelho auditivo”.

Eu nunca pude entender as diferenças entre as pessoas. Não compreendo como a criação pôde colocar no mundo pessoas inteligentes e pessoas carentes de mínima capacidade de raciocínio.

Assim como não entendo que existam pessoas fortes e pessoas fracas.

E nem que possam existir pessoas doces e outras amargas.

Nem vou falar em ricos e pobres, corajosos e covardes, impetuosos e estáticos, ágeis e letárgicos.

Todos somos diferentes. E é natural, então, que uns sobrepujem os outros.

Dói o coração ver pessoas feias circulando entre gente bonita. E nunca passou pelo meu aparelho intelectivo um fato contristador: as pessoas aleijadas, os surdos, os mudos, principalmente os cegos, pessoas que não têm culpa alguma de sua tremenda desvantagem, mas que são jogadas no mundo em meio às pessoas saudáveis.

Eu não consigo entender as diferenças entre as pessoas.

Já, por outro lado, penso: mas e os que são cultos e os ignorantes? Os ignorantes adquiriram essa desvantagem sob os cultos no percurso da vida, foi um jogo de méritos? Mas será que os cultos não se tornaram assim por serem mais inteligentes que os ignorantes ou porque tenham tido maiores recursos econômico-financeiros para adquirir sua cultura?

Sempre as diferenças, seja na sorte, seja na conduta.

Por uma certa parte, eu desculpo a criação: seria impossível um mundo em que todos fossem iguais, todos ricos ou todos pobres, todos inteligentes ou todos burros. Será que seria mesmo?

Noto também que este parece ser um jogo que interessa à sobrevivência das espécies, eis que na selva existem os animais mais fortes e mais ferozes que outros. E, assim como na selva há presas e predadores, também na sociedade dos homens devem existir os que são explorados e seus exploradores.

Vejam o caso, só um exemplo, um exemplo apenas, de um concurso público em que os aprovados, entre os milhares de candidatos, são apenas uns poucos.

Evidentemente, os aprovados são aqueles melhor preparados, os que se muniram de recursos melhores.

Mas eu tenho a perguntar: Será que não foi a criação que já fez a sua seleção antes mesmo do concurso? Será que aos reprovados não foram negadas condições iguais de disputa, seja pela sua inteligência, seja pelas diferenças sociais, culturais etc.?

Há muito tempo que essas diferenças atormentam meu espírito e principalmente meu raciocínio.

CONTARDO CALLIGARIS - Aproveitar a vida e suas dores


Aproveitar a vida e suas dores
CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SP - 29/09/11

"Com frequência, em conversas e entrevistas, alguém me pergunta o que penso da felicidade -obviamente, na esperança de que eu espinafre esse "ideal dominante" de nossos tempos.
Na verdade, não sei se a felicidade é mesmo um ideal dominante.
Claro, o casal e a família felizes são estereótipos triviais: "Com esta margarina ou com este carro sua vida se abrirá num sorriso de 'folder' ou de comercial". Mas ninguém leva isso a sério, nem os que declaram que tudo o que querem é ser felizes.
Se alguém levasse a busca da felicidade a sério, ele se drogaria, e não com remédios ou substâncias de efeito incerto e insuficiente: só crack ou heroína -tiros certeiros.
O que resta é a felicidade como tentação, como uma vontade de cair fora, compreensível quando a vida nos castiga muito. Fora isso, minha aspiração dominante não é a de ser feliz: quero viver o que der e vier, comédias, tangos e também tragédias -quanto mais plenamente possível, sem covardia.
Meu ideal de vida é a variedade e a intensidade das experiências, sejam elas alegres ou penosas.
Há indivíduos que pedem para ser medicados preventivamente, de maneira a evitar a dor de um luto iminente. É o contrário do que eu valorizo; penso como Roland Barthes: "Luto. Impossibilidade -indignidade- de confiar a uma droga -sob pretexto de depressão- o sofrimento, como se ele fosse uma doença, uma 'possessão' -uma alienação (algo que nos torna estrangeiros)- enquanto ele é um bem essencial, íntimo...".
O trecho está na pág. 159 de "Diário de Luto", que acaba de ser publicado em português (WMF Martins Fontes, excelente tradução de Leyla Perrone-Moisés).
São as fichas nas quais Barthes registrou sua dor entre outubro de 1977 (a morte da mãe) e setembro de 1979 (poucos meses antes de ele mesmo sofrer um atropelamento cujas consequências seriam fatais).
Logo nestes dias, um amigo meu, Paulo V., está perdendo seu pai. Ele me escreve, consternado, que "nada sobrará" do pai: uma cadeira vazia, gavetas de roupas e papéis e que mais? A lembrança se perderá com a vida do filho, que não lhe deu netos e de quem também nada sobrará. A resposta que encontro, para meu amigo, é uma questão: por que uma vida não se bastaria, mesmo que não sobre nada e, a médio prazo, ninguém se lembre?
Barthes se pergunta se ele estaria escrevendo "para combater a dilaceração do esquecimento na medida que ele se anuncia como absoluto. O -em breve- 'nenhum rastro', em parte alguma, em ninguém" (pág. 110). Mas suas anotações não são um monumento fúnebre para a mãe.
Para Barthes, escrever é o jeito de abraçar a experiência, de vivê-la plenamente. Ele se revolta contra as distrações e as explicações consolatórias dos amigos; recusa as teorias que lhe prometeriam um bom decurso de seu luto ("Não dizer luto. É psicanalítico demais. Não estou de luto. Estou triste") e foge, embora a contragosto, das crenças que apaziguariam a dor ("que barbárie não acreditar nas almas -na imortalidade das almas! Que verdade imbecil é o materialismo!").
Enfim, Barthes chega quase a recear que o luto acabe, como se, além da mãe adorada, ele temesse perder também, aos poucos, sua experiência dessa perda.
Meses depois da morte dos meus pais, havia momentos em que eu lamentava que meus afetos e pensamentos voltassem "ao normal", como se minha vida fosse mais pobre sem aquela dor. E havia outros em que, de repente, um detalhe me fisgava, até às lágrimas. Esses momentos eu acolhia com alegria.
Como Barthes anota, a dor do luto pode deixar de ser o afeto dominante, mas ela sempre volta, com a mesma força: "O luto não se desgasta porque não é contínuo" (pág. 92).
Falando em "detalhes" que fisgam, as anotações de Barthes reabriram a ferida de quando ele morreu, mais de 30 anos atrás.
De que sinto mais falta? Do timbre de sua voz e de duas coisas que, de uma certa forma, faziam parte do timbre de sua voz.
Sinto falta de seu gosto pela inconsistência das ideias e dos saberes ("proporcionalmente à consistência desse sistema, sinto-me excluído dele", pág. 73).
E sinto falta de sua coragem para falar a partir da singularidade de sua experiência, sem a menor pretensão de erigi-la numa generalidade que valha para os outros.
Em suma, sinto falta dele, mas não é só que eu sinto falta dele, é que ele, ainda hoje, faz falta."

GOSTOSA


JOSÉ BOTAFOGO GONÇALVES - No ritmo do tango


No ritmo do tango
JOSÉ BOTAFOGO GONÇALVES
O Globo - 29/09/2011

O recente pacote de medidas adotado pelo Governo brasileiro para conter as importações crescentes de veículos asiáticos parece ter sido inspirado, na sua filosofia, mais em Buenos Aires do que em Brasília, por motivos que a seguir são expostos.

As autoridades econômicas brasileiras justificaram o pacote alegando a necessidade de proteger a criação de empregos no Brasil, pressupondo que cada carro importado gere empregos no exterior, e cada carro exportado gere empregos no Brasil.

Com tal objetivo, as autoridades econômicas adotaram dois instrumentos, a saber, o aumento do custo de importação e o aumento do índice de nacionalização do veículo. Segundo tal raciocínio, o real valorizado nada tem a ver com as condições macroeconômicas brasileiras, mas sim é o resultado de manipulações cambiais provocadas por forças ocultas (talvez os países desenvolvidos; talvez a China) com o objetivo de desindustrializar o país através da prática de concorrência desleal.

O castigo fiscal não se aplicará se a empresa importadora garantir um índice de nacionalização de 65% associado a mais investimento em inovação tecnológica.

A Argentina vem, a décadas, praticando esse tipo de política, só que no caso portenho o alvo eram as exportações industriais brasileiras.

As desvalorizações cambiais brasileiras, especialmente a de 1999, eram de caráter competitivo e visavam a desindustrializar a Argentina para puro benefício das empresas paulistas. As restrições às importações brasileiras se justificavam como corretivas da competição desleal, seja via taxa de cambio, seja via financiamentos "subsidiados" do BNDES.

Hoje, num curioso passe de mágica, o Governo brasileiro optou por adotar, como antídoto à crescente importação de veículos asiáticos, o mesmo princípio ativo do velho protecionismo comercial que "los hermanos" sistematicamente nos aplicam nos últimos anos.

A inspiração portenha não para aí. Dizem os jornais que as autoridades fazendárias querem propor, em escala mundial, via OMC, um sistema de "gatilho cambial", que seria disparado cada vez que as cotações de uma moeda nacional ultrapassassem limites razoáveis de uma banda de flutuações.

O "gatilho cambial" esteve presente na pauta das discussões bilaterais argentino-brasileiras desde os tempos do ministro Domingo Cavallo, nos anos 90, o genial formulador da paridade cambial argentina, de triste e melancólica memória.

Mesmo após a eclosão da crise argentina em 2002 e o fim da paridade cambial, a ideia da adoção de um mecanismo de compensação tarifária pelas continuadas desvalorizações brasileiras continuava presente nas conversas bilaterais. O Plano Real, o controle da inflação e a valorização do real em nada arrefeceram o fervor protecionista argentino.

A lição a tirar-se deste "surto" protecionista brasileiro é clara: no mundo globalizado de hoje, o que se almeja são o aumento da produtividade e o consequente incremento da competitividade no nível mundial.

O aumento de impostos de importação, ou o aumento de impostos internos, ou o aumento dos índices de nacionalização de elos da cadeia produtiva, têm aritmeticamente o efeito oposto ao desejado, que é o de aumentar a competitividade da indústria nacional. Os ganhos de curto prazo, via proteção fiscal, são largamente neutralizados pelo aumento da ineficácia competitiva do produto industrial.

Vamos defender o emprego dos brasileiros? Sim, para tanto, vamos reduzir o Custo Brasil para podermos exportar mais produtos industriais, em vez de brigar com os importadores e consumidores brasileiros de veículos asiáticos.

MÔNICA BERGAMO - VIROU MAIONESE


VIROU MAIONESE
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 29/09/11

Uma pesquisa feita com 600 pacientes do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia mostra que mesmo pessoas que têm pressão alta, sobrepeso, colesterol alto e diabetes e deveriam se informar bem sobre os alimentos não leem os rótulos dos produtos industrializados: só 30% têm esse hábito. Revela também que mesmo os que buscam dados não sabem identificar corretamente as substâncias.

SOPA...
A maionese, por exemplo, aparece em terceiro lugar no ranking de produtos apontados pelos consumidores como nocivos à saúde -atrás de bolachas e manteiga: 80% acham que ela tem elevada quantidade de colesterol e de gordura saturada. Segundo o médico Daniel Magnoni, coordenador do trabalho, a versão industrializada não tem colesterol e possui substâncias saudáveis como Ômega 3 e gordura poli-insaturada.

... DE LETRINHAS
Magnoni afirma que os entrevistados confundem o tipo de gordura que podem consumir -acreditam, por exemplo, que a gordura saturada faz bem. Para o médico, a solução é adotar linguagem mais fácil nos rótulos.

RECEITA DE BOLO
O site do deputado Paulinho da Força (PDT-SP) publica hoje texto de José Dirceu (PT-SP) defendendo o projeto de reforma política do petista Henrique Fontana. Defende o financiamento público de campanha e voto proporcional misto (no candidato e em uma lista do partido).

BARBEADOR Os apresentadores Bento Ribeiro e Marcelo Adnet brincam de se depilar em campanha do VMB, prêmio da MTV que será no dia 20 de outubro; Adnet comandará o evento no palco, e Bento, na internet

EM NOME DELES
Os artistas americanos Tom Sachs e Jeff Koons foram à abertura da mostra "Em Nome dos Artistas", anteontem, na Bienal.

PALAVRAS DE VALOR
Os atores Du Moscovis e Letícia Colin estrearam a peça infantil
"O Menino que Vendia Palavras", no Teatro Frei Caneca, em São Paulo.

VERDE-AMARELO
Torcedores do Palmeiras vão distribuir 20 mil dentaduras de papelão com sorrisos amarelos no próximo jogo do time, no sábado. É um protesto contra os incentivos governamentais que serão dados à construção do Itaquerão, enquanto a arena do Palmeiras será feita só com recursos privados. "O torcedor é cidadão e eleitor. Exija igualdade de incentivos para construir o seu estádio", diz o texto da ação.

TE QUERO VERDE
Uma rede de hotéis e duas empresas de estacionamento procuraram a WTorre, que está construindo o estádio do Palmeiras, para prospectar terrenos nas proximidades da arena. Queriam ter empreendimentos vizinhos do campo. Os altos preços dos lotes na região -os donos de pequenas residências estariam até pedindo R$ 1 milhão por elas- desestimularam as conversas.

FESTA NO BARCO
Um dos destaques da feira São Paulo Boat Show, que acontece em outubro na cidade, é uma lancha brasileira de R$ 900 mil.

A embarcação tem três camarotes para até seis pessoas cada um.

ESPECIALISTAS
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vai participar, sem cachê, de um seminário da Fundação Estudar, no dia 3, no Insper.

Também foram convidados para o debate personalidades conhecidas da Universidade Yale, dos EUA, como o segundo reitor Peter Salovey, criador do conceito de inteligência emocional.

CURTO-CIRCUITO

Frei Betto lança hoje, às 19h, o livro "Minas do Ouro", no Sesc Vila Mariana.

Amir Slama desfila coleção para convidadas da São Paulo Accueil, hoje, na loja da Oscar Freire.

O filme "Meu País" terá pré-estreia para convidados hoje, às 21h, no Cinemark do Iguatemi. 12 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

RIBAMAR OLIVEIRA - A receita extra para 2012 já está elevada


A receita extra para 2012 já está elevada
RIBAMAR OLIVEIRA
VALOR ECONÔMICO - 29/09/11


Com o desaquecimento em curso da economia mundial, é muito pouco provável que o preço médio do petróleo Brent fique em USS$ 111,64 por barril no próximo ano, como está projetado na proposta orçamentária para 2012 encaminhada pelo governo ao Congresso. Os contratos do Brent para dezembro foram negociados ontem em US$ 102,56 o barril, em queda. É improvável também que a economia brasileira cresça 5%, que a taxa Selic fique, em média, em 12,45% e que a oscilação da taxa de câmbio seja de apenas 1,97%.

A grade de parâmetros utilizada para a elaboração da proposta orçamentária - definida no dia 21 de julho pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda - ainda não refletiu o agravamento da crise internacional, que o Comitê de Política Monetária (Copom) utilizou como o principal argumento para reduzir a taxa de juro, em sua última reunião.

O cenário externo apresentado pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, terça-feira, mostra a possibilidade de recessão na Europa no quarto trimestre deste ano e nos Estados Unidos, no primeiro trimestre do ano que vem.

O mundo enfrentará problemas econômicos sérios nos próximos meses e, acertadamente, o governo está chamando a atenção para eles. Nesse cenário, não é razoável falar em crescimento de 5% da economia brasileira em 2012, quando, este ano, o próprio governo já admite que a expansão não chegará a 4%.

No dia 21 de novembro, o governo deverá encaminhar ao Congresso a sua nova grade de parâmetros econômicos. Com base nos novos elementos, os parlamentares definirão as projeções das receitas orçamentárias para 2012. Alguns podem achar que isso é pouco relevante, pois os senadores e deputados costumam inflar as receitas para acomodar as suas emendas ao Orçamento. É bom lembrar que em outubro de 2008, no auge da crise financeira internacional, os parlamentares aceitaram rever as previsões que já tinham feito para as receitas em 2009, deixando-as abaixo da proposta inicial encaminhada pelo governo.

O fato é que as projeções das receitas para 2012, que constam da proposta orçamentária, não parecem adequadas, pois foram elaboradas com base em um cenário econômico improvável. Em novembro, o quadro internacional estará, certamente, mais definido e será possível avaliar com um pouco mais de precisão o comportamento das principais variáveis econômicas para o próximo ano. De qualquer maneira, é provável que a receita da União em 2012 cresça menos do que o projetado inicialmente pelo governo.

A proposta orçamentária para 2012 prevê um superávit primário do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central) de apenas R$ 71,4 bilhões, pois a presidente Dilma Rousseff aceitou descontar R$ 25,6 bilhões da meta fiscal original de R$ 97 bilhões. O desconto foi por conta dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Portanto, se quiser obter a "meta cheia" de R$ 97 bilhões de superávit, o governo terá que contingenciar a sua própria proposta em R$ 25,6 bilhões. Ou, então, descobrir uma maneira de elevar a arrecadação.

O problema será obter mais esta receita extra, pois a projeção de R$ 707,8 bilhões para a receita administrada pela Secretaria da Receita Federal (RFB) em 2012, além de ter sido elaborada com os parâmetros de uma economia em forte expansão, incorporou uma estimativa de "receitas extraordinárias" de R$ 18 bilhões, de acordo com as informações complementares à proposta orçamentária, que foram encaminhadas pelo governo ao Congresso há alguns dias. Os R$ 18 bilhões são as chamadas receitas imprevistas, que resultam de decisões judiciais, de antecipações de pagamentos de tributos etc.

A proposta orçamentária para 2011 foi elaborada com a previsão de R$ 31 bilhões em receitas extras. Essa estimativa foi, no decreto de contingenciamento de março, reduzida para R$ 12,5 bilhões. Somente em junho e julho deste ano, no entanto, a arrecadação atípica da RFB foi de R$ 14,8 bilhões, que decorreu de antecipações de pagamentos feitos por empresas por conta do chamado Refis da Crise e do pagamento da Vale, no montante de R$ 5,8 bilhões, referentes a débitos da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Houve nova arrecadação atípica em agosto de R$ 2,8 bilhões.

É provável, portanto, que a previsão de receita extra para 2012 esteja próxima daquela que ocorrerá este ano. Isto indicaria que não há uma margem de expansão dessa arrecadação atípica, que resolva os problemas orçamentários de 2012. A menos, claro, que o governo decida fazer aquilo que adiou este ano: uma nova rodada de licitação de áreas do pré-sal.

No fim do ano passado, os parlamentares tentaram incluir, no Orçamento de 2011, uma receita de R$ 20 bilhões proveniente da licitação do pré-sal. Chegaram a discutir essa questão com o presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima. Mas o governo terminou convencendo os parlamentares de que não iria fazer essa licitação este ano. Nada impede que isso seja feito em 2012, principalmente se for aprovada a lei que define a partilha do royalties entre a União, os Estados e os municípios. Com esses R$ 20 bilhões do pré-sal, os técnicos acreditam que o governo cumprirá a "meta cheia" de superávit.

INVESTIGAÇÃO NO BRAZIU 3



RENATA LO PRETE - Livre concorrência


Livre concorrência
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 29/09/11

O potencial de atração do recém-criado PSD ressuscitou, nos bastidores da Câmara, uma articulação para aprovar uma janela de troca partidária. O objetivo é quebrar a reserva de mercado da infidelidade estabelecida pela sigla de Gilberto Kassab.
Quem quiser ser candidato em 2012 precisa se filiar até 7 de outubro. Mas detentores de mandato que não concorrerão têm 30 dias para aderir ao novo partido sem risco de cassação. "Quanto mais deputados migrarem para o PSD, mais chances temos de votar a janela", resume um padrinho da iniciativa. O tema foi discutido em reunião com PT e PMDB sobre reforma política.
Ninguém... Estão no radar do PSD os deputados Danrlei (PTB-RS), Átila Lins (PMDB-AM), Wladimir Costa (PMDB-PA), Mandetta (DEM-MS), Alexandre Leite (DEM-SP) e Heuler Cruvinel (DEM-GO). No Senado, há tratativas com Jayme Campos (DEM-MT), Blairo Maggi (PR-MT) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA).

...é de ninguém O DEM tenta manter ao menos 27 deputados. A cúpula do PSD, porém, não vê a menor chance de a sigla de origem de Kassab conservar mais de 20.

Validade Ainda que ACM Neto (BA) negue peremptoriamente, quem conhece bem o líder afirma que ele não fica no DEM depois de 2012.

Tenho dito A sigla de Kassab votará a favor do projeto que prorroga a DRU, prioridade maior de Dilma no Congresso. "Não faria sentido eu, que apoiei a medida em outros governos, ser contra agora", diz o prefeito.

Fui Inviabilizado com a cúpula de seu atual partido, o deputado Sandro Mabel (PR-GO) desembarcará no PMDB.

Bicadas 1 Em clima belicoso, o PSDB-SP começa hoje a regulamentar as prévias que definirão seu candidato à prefeitura paulistana. Os postulantes divergem quanto ao colégio eleitoral. Diante do impasse, a direção estadual deve aprovar apenas diretrizes gerais do processo.

Bicadas 2 Andrea Matarazzo, Bruno Covas e Ricardo Tripoli defendem que votem todos os filiados da capital, cerca de 20 mil. Influente na Executiva, José Aníbal quer limitar a participação a delegados e dirigentes.

Em chamas 1 O impasse em torno dos royalties do petróleo só cresce no Senado. Os Estados produtores, Rio à frente, prometem liderar obstrução na próxima terça para que não seja votado texto sobre a matéria que conta com a boa vontade do Planalto.

Em chamas 2 Os senadores estão incomodados com a distância da encrenca mantida pela presidente. Recentemente, um aliado ligou para Dilma pedindo que ela recebesse os Estados produtores. "Este assunto está com o Mantega e o Lobão", esquivou-se a petista.

Memória Edinho Araújo (PMDB-SP), relator da Comissão da Verdade, iniciou sua trajetória política na Arena, partido de sustentação da ditadura militar. Elegeu-se prefeito de Santa Fé do Sul (SP) pela sigla em 1976.

Hits Durante sessão na qual o Conselho de Ética da Câmara arquivou a denúncia de quebra de decoro contra Valdemar da Costa Neto (PR-SP), Guilherme Mussi (PV-SP) fez pouco de Ivan Valente (PSOL-SP), que pretendia questionar o vereador paulistano Agnaldo Timóteo sobre o a propina na Feira da Madrugada: "Se você quer tanto ouvi-lo, empresto o CD".

Novela Em negociação liderada por Campos Machado, o PTB paulistano tenta a filiação da atriz Luíza Thomé.
com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

Tiroteio
"Geraldo Alckmin age como um fariseu. Para o público, prega transparência. Na prática, nunca permitiu mecanismos de controle das emendas parlamentares."
DO DEPUTADO SIMÃO PEDRO (PT), sobre a promessa do governador paulista de divulgar os autores das indicações ao Orçamento, feita depois da denúncia de suposta venda de emendas na Assembleia Legislativa.

Contraponto

É você!


Durante votação do projeto que cria a Comissão da Verdade, na semana passada, Chico Alencar (PSOL-RJ) comemorava ao microfone do plenário da Câmara a unanimidade simbólica -nenhum partido foi, como um todo, contrário à proposta:
-Sem nenhum voto contrário declarado, presidente!
Jair Bolsonaro (PP-RJ) reagiu no estilo habitual:
-Nada disso, palhaço! Sei da sua intenção, palhaço!
Antes de Tiririca (PR-SP) achar que era o alvo dos gritos, Marco Maia (PT-RS) mandou desligar os microfones.

CLÁUDIO DELL’ORTO - Questão de competência


Questão de competência
CLÁUDIO DELL’ORTO
O GLOBO - 29/09/11 

A grande conquista da modernidade, a partir de lutas que remontam ao “Bill of Rights” que foi imposto contra a tirania de João Sem Terra, na Inglaterra do século XIII, foi a despersonalização do exercício do poder. O estado social-democrático de direito, adotado pelo povo brasileiro através da Assembleia Constituinte que encerrou seus trabalhos em 1988, fundamenta-se em princípio fundamental que reconhece ser o povo a fonte material de todo poder. Tal poder se acomoda em normas que se extraem da própria Constituição e das leis. A organização estatal, portanto, exige respeito às normas jurídicas filtradas a partir do texto da Constituição da República.

Nenhum órgão ou autoridade republicana possui autorização para descumprir os comandos inseridos na própria Constituição, sob pena de perder sua legitimidade. A Associação dos Magistrados Brasileiros, ao afirmar perante o Supremo Tribunal Federal a inconstitucionalidade da resolução 135 do CNJ, que estabeleceu regras para o processo disciplinar em face de magistrados, está defendendo o interesse republicano. A sociedade teria maior sensação de insegurança caso um magistrado fosse punido pelo Conselho Nacional de Justiça e individualmente questionasse judicialmente a nulidade da sanção que lhe fosse aplicada e obtivesse, no caso individualizado, a vitória.

Restaria a impressão de que havia um magistrado culpado por desvio comportamental que teria obtido uma benesse judicial, ou seja, seria lançada sobre o próprio Judiciário a pecha de corporativista ao fazer cumprir, no caso concreto, a Constituição. Necessário, portanto, o exame prévio da constitucionalidade da própria resolução e dos limites da atuação do CNJ para que não sejam aplicadas sanções nulas.

Quando a AMB afirma perante o Supremo que o CNJ não pode definir regras para o sancionamento de magistrados, porque tal competência é exclusiva do Congresso Nacional através de lei complementar, está defendendo toda a sociedade contra eventual usurpação de competências, mesmo que realizada com a melhor das intenções. Maior tranquilidade terá o povo brasileiro quando os comandos constitucionais forem observados por todas as esferas de poder estatal, principalmente pelo CNJ, que é um órgão com competências definidas na Constituição Federal.

A Constituição adota como cláusula pétrea o pacto federativo para os três poderes estatais. Os poderes judiciários dos estados membros da federação brasilleira não perderam o dever de controlar administrativamente a atuação dos seus membros, cabendo, nos termos da Constituição Federal, a atuação subsidiária do CNJ.

Pensar ao contrário poderia inviabilizar a atuação do próprio Conselho Nacional de Justiça que passaria a centralizar todas as eventuais reclamações em face dos mais de quinze mil magistrados de todo o Brasil. As associações de magistrados estão interessadas na melhor qualificação de seus membros para que possam solucionar os conflitos de interesses e pacificar as relações sociais da maneira mais rápida e eficiente.

CLÁUDIO DELL’ORTO é desembargador do Tribunal de Justiça do Rio e secretário de Direitos e Prerrogativas da Associação dos Magistrados Brasileiros.

JOSÉ SIMÃO - PSD! Partido Social dos Defuntos!


PSD! Partido Social dos Defuntos! 
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 29/09/11

Kassab diz que o partido é de centro. Só se for de centro espírita. Até morto eles filiaram nesse PSD!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E adorei a manchete do jornal "Expresso de Natal": "Secretaria de Agricultura de Cerro Corá recebe Reto Escavadeira". Reto Escavadeira? Vão escavar o fiofó de quem lá em Natal? Rarará!
E o Brasil acorda com um partido novo, ops, novelho! "Justiça aprova o PSD, novo partido do Kassab".
Kassab, vulgo Seu Barriga. Ele não parece o Seu Barriga do Chaves? Kassab diz que o partido é de centro.
Só se for de centro espírita. Até morto eles filiaram nesse PSD! PSD é o Partido Social dos Defuntos.
Rarará! Eu nunca vi tanto defunto em pé! PSD quer dizer Partido Sem Direção! E como todo partido é criado para repartir, devia se chamar repartido. O Repartido do Kassab!
E esse Center Norte vazando gás metano? Vai ter uma explosão de vendas. Center Norte vaza gás e promove explosão de vendas! Rarará!
E a rodada de manchetes dos sites de humor. Manchete do Sensacionalista: "Fila pra comprar sanduíche para o Rock in Rio 2013 já começou". Piauí Herald: "Roberto Medina pede na ONU que se reconheça a Cidade do Rock como Estado independente". E o Eramos6: "Palmeiras pede à ONU que reconheça seu estado de calamidade". Rarará! ONU reconhece o Estado de Calamidade do Palmeiras! É mole? É mole, mas sobe!E a Grécia?! Acabou o churrasco grego. Por isso que o povo tá tão revoltado. Acabou a carne pro churrasco grego.
E pra tentar sair da crise, eles vão criar uma coisa inédita: lançar um novo imposto imobiliário. Imposto imobiliário? Já sei, IPTU na Acrópole! A Acrópole vai ter que pagar IPTU! Devia ser o IPG, Imposto Presente de Grego!
E o nome do primeiro-ministro da Grécia? Papandreou. Eu acho que ele papandreou a grana toda! O dinheiro acabou, nós papandreamos a Grécia. Rarará!
E eu já disse que eles não se entendem porque só falam grego. Imagine o primeiro-ministro pro povo: "Nós vamos criar mais um imposto, entenderam ou eu estou falando grego?". Rarará! Velhas ideias para velhos problemas. Num país em ruínas e famoso pelas ruínas, eles aumentam o IPTU! Vão pagar por coluna! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

GOSTOSA


LOURDES SOLA - O BC e a subversão dos fatos-a mais longa marcha


O BC e a subversão dos fatos-a mais longa marcha
LOURDES SOLA
O ESTADÃO - 29/09/11

Volta à cena um velho espectro que mercados e analistas julgavam exorcizado desde 1999

Os Fatos são Subversivos é o título de um livro de Garton Ash, um dos mais lúcidos "historiadores do presente". É um chamado à responsabilidade histórica dos formuladores de políticas públicas que se valem de conjunturas de grande incerteza para fazer valer suas prioridades. "Os fatos são subversivos (...) porque subvertem os argumentos dos líderes democráticos eleitos tanto quanto dos ditadores (...), porque subvertem as mentiras, as meias-verdades e os mitos de todos aqueles de fala fácil".

O argumento reporta- se a um contexto de incerteza ainda mais extremo do que o atual cenário econômico.

Mira as mentiras e meias-verdades oficiais que levaram o povo e o Congresso americanos a legitimar a invasão do Iraque e à guerra no Afeganistão em resposta ao 11 de Setembro.

Sem esses recursos, retóricos, mas nada inofensivos, a História mundial teria sido outra.

O que dá um sentido trágico a essa constatação é a impossibilidade de reverter o que foi consumado com apoio em meias-verdades e mitos.

Restam dois recursos corretivos: as lições de História que os fatos propiciam e a oportunidade para uma correção de rumos. Mesmo assim, há uma boa dose de otimismo na constatação de Garton Ash, porque ancorada num suposto forte: a vigência de instituições democráticas e de uma mídia investigativa, graças às quais cedo ou tarde os fatos virão à luz. No essencial, tem razão, pois toda tentativa de impedir que os fatos venham à tona traz à luz também um déficit democrático. Que as decisões da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, ilustram.

Ao subtrair da agenda pública a disparidade entre a taxa oficial e a taxa efetiva da inflação, com medidas legais restritivas à autonomia de consultores e jornalistas, lança luz sobre a subordinação do Judiciário ao Executivo - e sobre indícios anteriores de regressão autoritária.

No novo contexto de incerteza global voltam a entrarem pauta entre emergentes temas correlatos, como inflação, disciplina fiscal e monetária, papel do mercado interno e crescimento. No Brasil volta à cena um velho espectro - a questão da autonomia do Banco Central (BC) - que os mercados e os analistas julgavam exorcizado desde 1999, graças ao mandato (informal) para exercer sua autoridade no marco de um conjunto de regras e normas, caracterizado como regime de metas de inflação. O debate que se seguiu à redução abrupta da taxa de juros inter bancária dá o que pensar. Há convergência entre analistas quanto aos rumos da política econômica: substituição do regime de metas de inflação por metas ad hoc para a taxa de juros,adoção de uma banda oculta para as variações na taxa de câmbio. Dá o que pensar, também, sobre o modo de fazer política do governo.Por um lado, há elementos que reforçam o contraste entre a nossa trajetória e a da Argentina.

O presidente do BC, o ministro da Fazenda e assessores informais do governo vieram a público legitimar tecnicamente as medidas mencionadas - sob o escrutínio dos seus pares.Com isso atestam a vigência (tênue) de um requisito democrático: a prestação de contas pelos de cisore se a chance de responsabilização futura por suas apostas. Isso compõe o quadro de credibilidade econômica acumulada ao longo dos últimos anos, graças à qual foi afastada a possibilidade de reproduzirmos o padrão errático da Argentina - o "efeito vodca".

Há duas questões intrigantes a respeito.Em que momento de finidor se consolidou a divergência de rumos entre os dois países? Além disso,o argumento sobre a função subversivados fatos pressupõe que, uma vez revelados, a capacidade para elaborá los está dada e bem distribuída.

Seria assim sempre?A resposta à primeira questão é simples: os momentos definidores foram as decisões políticas tomadas em duas encruzilhadas,em resposta aos choques externos de 1999 e 2002-2003. Respectivamente, a adoção do tripé regime de metas de inflação-flutuação cambial superávit primário e a opção pela continuidade em 2002-2003 e nos anos seguintes. Esse rumo é posto em causa pelo governo, de forma concertada e pouco transparente.

Baseia-se na aposta numa crise sistêmica internacional de flacionária,que estaria a exigir políticas fiscal e monetária expansivas aqui e agora. É uma questão em aberto, mas não se esgota nisso. Vale a pena refletir também nos termos de Garton Ash. Na hipótese de que o horizonte de crescimento dos emergentes seja menos negro do que o suposto, quais as chances de que uma nova onda inflacionária em 2012-2013 tenha um efeito subversivo sobre os mitos, as ideologias e meias-verdades de curso oficial? Há razões para ceticismo, estruturais e históricas. As democracias de massa, num mundo globalizado,caracterizam-se pela existência de um hiato entre a democratização das informações, por um lado, e a capacidade de elaborá- las adequadamente, por outro. A experiência da inflação e das flutuações no poder de compra internacional da moeda é imediata, brindada por indicadores diários nos jornais televisivos. Dependemos da intermediação de vários atores sociais para elaborar o que significam - incluídos os que detêm o saber especializado, os ideólogos, os legisladores.

A experiência histórica também justifica o ceticismo. Uma das características da trajetória econômica brasileira é a opção pelo que caracterizo como "fuga para a frente". Diante da falsa disjuntiva estabilidade ou crescimento, reapresentada em encruzilhadas históricas como 1956-1957, ou quando dos choques do petróleo no governo Geisel, ou no Plano Cruzado, recriase um impulso inexorável: por políticas expansionistas, ponto.

Hoje enfrentamos um teste de estresse.

Mas se explica a resistência à institucionalização da autonomia do Banco Central.

É histórica, mas contou com a cumplicidade dos mercados para os quais essa é uma questão residual - até evidência em contrário.

PH.D. EM CIÊNCIA POLÍTICA PELA UNIVERSIDADE DE OXFORD, PROFESSORA APOSENTADA DA USP, É MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS