Pessoas diferentes
PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 29/09/11
Se elogiares – ou criticares – os pés de uma mulher, nunca mais ela esquecerá de ti.
Nunca ouvi um canário belga gago. E nunca ouvi um rouxinol fanhoso.
Estava eu num jantar com umas cem pessoas. Uma hora depois, chegou um amigo meu, pessoa muito brilhante. Foi então que lhe disse: “Só agora sinto necessidade de colocar o meu aparelho auditivo”.
Eu nunca pude entender as diferenças entre as pessoas. Não compreendo como a criação pôde colocar no mundo pessoas inteligentes e pessoas carentes de mínima capacidade de raciocínio.
Assim como não entendo que existam pessoas fortes e pessoas fracas.
E nem que possam existir pessoas doces e outras amargas.
Nem vou falar em ricos e pobres, corajosos e covardes, impetuosos e estáticos, ágeis e letárgicos.
Todos somos diferentes. E é natural, então, que uns sobrepujem os outros.
Dói o coração ver pessoas feias circulando entre gente bonita. E nunca passou pelo meu aparelho intelectivo um fato contristador: as pessoas aleijadas, os surdos, os mudos, principalmente os cegos, pessoas que não têm culpa alguma de sua tremenda desvantagem, mas que são jogadas no mundo em meio às pessoas saudáveis.
Eu não consigo entender as diferenças entre as pessoas.
Já, por outro lado, penso: mas e os que são cultos e os ignorantes? Os ignorantes adquiriram essa desvantagem sob os cultos no percurso da vida, foi um jogo de méritos? Mas será que os cultos não se tornaram assim por serem mais inteligentes que os ignorantes ou porque tenham tido maiores recursos econômico-financeiros para adquirir sua cultura?
Sempre as diferenças, seja na sorte, seja na conduta.
Por uma certa parte, eu desculpo a criação: seria impossível um mundo em que todos fossem iguais, todos ricos ou todos pobres, todos inteligentes ou todos burros. Será que seria mesmo?
Noto também que este parece ser um jogo que interessa à sobrevivência das espécies, eis que na selva existem os animais mais fortes e mais ferozes que outros. E, assim como na selva há presas e predadores, também na sociedade dos homens devem existir os que são explorados e seus exploradores.
Vejam o caso, só um exemplo, um exemplo apenas, de um concurso público em que os aprovados, entre os milhares de candidatos, são apenas uns poucos.
Evidentemente, os aprovados são aqueles melhor preparados, os que se muniram de recursos melhores.
Mas eu tenho a perguntar: Será que não foi a criação que já fez a sua seleção antes mesmo do concurso? Será que aos reprovados não foram negadas condições iguais de disputa, seja pela sua inteligência, seja pelas diferenças sociais, culturais etc.?
Há muito tempo que essas diferenças atormentam meu espírito e principalmente meu raciocínio.
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