Em crise, mas bom parceiro
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 29/09/11
Comércio com a Europa vai bem; Dilma fechará dois acordos que vão facilitar o aumento do turismo
A presidente Dilma Rousseff não tratará, na sua viagem a Bruxelas, a partir de segunda-feira, do que seria a cereja do bolo na parceria estratégica entre o Brasil e a União Europeia: uma colossal área de livre-comércio, a maior do mundo, englobando os 27 países europeus mais os quatro membros-plenos do Mercosul.
Um projeto formidável, mas que patina desde que começaram as negociações, já faz 16 anos. Claro que haverá menções de parte a parte à necessidade de concluir os entendimentos, mas serão pura formalidade. Os dois lados já decidiram que a troca de ofertas -a parte realmente substantiva da negociação- só poderá ser feita no ano que vem. Troca de ofertas significa cada lado dizer o que pretende abrir ao outro e quanto abrirá.
No caminho desse passo, há dois obstáculos eleitorais: o pleito presidencial argentino de outubro e a eleição francesa de, em princípio, maio de 2012. São os países que mais dificuldades apresentam para abrir o mercado agrícola (França) ou o industrial (Argentina).
O Brasil já não tem tanta ansiedade pela abertura do mercado agrícola europeu. Houve um momento em que, pela altíssima competitividade de sua produção agrícola, o país poderia aumentar rapidamente suas exportações, se os europeus liberalizassem o comércio nessa área. Mas apareceu o pantagruélico apetite chinês, a balança comercial brasileira tornou-se muito positiva, e a pressa amainou.
Ainda mais que, mesmo em crise, a Europa está aumentando suas importações do Brasil: mais de 30% nos primeiros oito meses do ano, com o que o fluxo comercial (importações + exportações) deve passar de US$ 100 bilhões este ano (foi de US$ 80 bilhões em 2010). É o segundo maior mercado, depois da Ásia.
O fato de não estar madura a negociação sobre livre-comércio não quer dizer que a viagem de Dilma será apenas a habitual comemoração das boas relações entre as duas partes. Primeiro, porque é inescapável discutir a imensa crise em que está mergulhada a Europa. Dilma e o ministro Guido Mantega cobram soluções dos europeus, antes que a crise contagie todo o resto do mundo, Brasil inclusive, cuja resistência "não é ilimitada", como a presidente afirmou na ONU.
Mas a visita servirá também para a assinatura de dois acordos de cooperação que terão efeitos diretos no cotidiano dos muitos brasileiros que passaram a ter como esporte nacional fazer turismo, aproveitando-se do câmbio favorável (se é que ele vai continuar favorável).
Um dos acordos prevê a liberalização do transporte aereo, o que significa mais voos (de passageiros e cargas) em ambas as direções. Outro é um projeto-piloto para aumentar o fluxo turístico na baixa estação, oferecendo, por exemplo, pacotes de avião e hotel a preço favorável para os que têm laços familiares de um e outro lado do Atlântico.
Outro projeto é uma parceria na área de prevenção de acidentes e de defesa civil, na qual a "expertise" europeia será muito útil para um Brasil que continua patinando nesse capítulo.
São entendimentos dessa espécie que dão conteúdo ao rótulo "parceria estratégica" que define a relação Brasil/UE.
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