quinta-feira, outubro 22, 2009

JORGE ANTUNES

Época de caça

O Globo - 22/10/2009


O Brasil é assim mesmo.

Um dia é dos cassadores, outro dos cassados. Já me acostumei. Os anos 1970 foram dos cassadores. Os anos 1990 foram dos cassados. A coisa é cíclica.

O Tesouro Nacional vive, sempre, sendo saqueado, sejam quais forem os donos do poder. Parece que de tempos em tempos a brincadeira de caça ao Tesouro vira os lados dos contendores. Em 2005 o povo disse não ao desarmamento: era a vez dos caçadores. O ano corrente é a vez dos caças. O Brasil quer comprar 36 deles. Eu não quero comprar nada. O leitor certamente também não quer. Nem nossos netos e bisnetos. Dizem que eles — pobrezinhos que acabaram de nascer ou que ainda vão nascer — serão os pagadores.

Com os 36 caças, quem vamos caçar? Acho que ninguém. Talvez numa guerra daqui a 20 anos eles nos serão úteis. Mas, pensando bem, creio que não. Pois daqui a 20 anos os 36 caças estarão obsoletos.

A transferência de tecnologia que o povo deseja não é a da indústria bélica. O Brasil, dizem, precisa dessa tecnologia, porque queremos ser grandes vendedores de armas e de material bélico. Eu não quero que o Brasil seja assim. O leitor quer? Que Brasil é esse de que falam, quando falam essas coisas? Alguns dirão que, sem guerras, o Brasil poderá usar seus caças para voos ruidosos sobre nossas cabeças maravilhadas nos desfiles militares e demais festas cívicas. Com isso, o povo extasiado, olhando para o alto, diria: “Ohhhhhhh!” Pois eu digo que é muito caro. Mais bonito e barato, nessas ocasiões, seria o povo soltar pipas, coloridas, alegres. Eu, de minha parte, já me proponho a fazer uma bela pipa e também a empiná-la.

O vice-presidente José de Alencar disse, recentemente, que armas nucleares seriam importante “ f a t o r d e d i s s u a s ã o ” e d a r i a m “mais respeitabilidade” ao país.

Não se fazem mais josés de alencares como antigamente. O outro José de Alencar, autor de “Iracema”, foi mais sábio. Foi um nacionalista que empreendeu esforços patrióticos para povoar o Brasil com conhecimento e cultura.

Mais sábio ainda foi Voltaire. O filósofo do iluminismo francês disse que “a música seria o mais caro dos ruídos se não existisse o do canhão”.

O Papa Paulo VI, bem mais à frente, não deixou por menos. Lamentava que os países em desenvolvimento se preocupassem em comprar armas, em vez de se esforçarem para elevar seu nível de vida.

Renunciando à compra de um único caça-bombardeiro, um país qualquer poderia, por exemplo, montar cerca de 700 concertos com uma orquestra sinfônica. Com um só tiro de canhão de 150mm, poder-se-ia pagar a um professor durante um mês inteiro.

O dinheiro pago por dois ou três revólveres seria suficiente para promover um excelente concerto de música de câmara.

Não é a simples descoberta de riquezas no pré-sal que vai fazer deste país uma grande potência mundial.

Costuma-se dizer que os países árabes são ricos, por possuírem a quase totalidade dos petrodólares. Mas é notório que seu desenvolvimento não aumenta apreciavelmente. A razão dessa contradição está no fato de que eles, em vez de importar professores e dar maior vivência à sua cultura, costumam importar caças-bombardeiros, técnicos de futebol e armas ultramodernas.

A história nos dá lições que precisam ser recuperadas. Os romanos, com sua força prodigiosa e seu enorme potencial militar, subjugaram a Europa mas só serviram de veículo para a cultura grega. “A Grécia vencida venceu o seu feroz vencedor.” Foi assim que Horácio, em suas “Epistulae”, se referiu ao fenômeno causado pela pujança da cultura grega.

Precisamos de um país com arte para todos. Precisamos de um país com cultura de todos para todos. Somos um dos povos mais criativos do mundo. Somos um povo que já sabe lutar para que seus direitos históricos não sejam cassados. Precisamos de um país sem caças. Não admitimos mais a caça às bruxas e tampouco a lei do cão. Quem não tem lei do cão caça com arte

JORGE ANTUNES é maestro, compositor e professor titular da Universidade de Brasília.

FABIANO SANTOS

O pior dos pecados


Jornal do Brasil - 22/10/2009

A próxima semana é decisiva para o país. A Comissão de Relações Exteriores do Senado votará parecer do senador tucano Tasso Jereissati sobre o ingresso da Venezuela como membro permanente no Mercosul. O parecer, como era de se esperar, é negativo. Cabe agora refletir sobre o efeito que a eventual aprovação do relatório pode acarretar não somente ao país mas sobretudo à região no seu conjunto. Algumas ponderações, em apoio à posição do PSDB, relativizam os ganhos provenientes do fluxo de comércio entre Brasil e Venezuela e, adicionalmente, superestima a premissa de que a adesão deste país inviabilizaria a negociação de acordos comerciais com terceiros países ou blocos. Ademais, e este talvez seja o erro mais preocupante, as vozes contrárias recomendam a rejeição do Protocolo de Adesão da Venezuela ao Mercosul supondo que não afetará o status quo da região não somente de uma perspectiva meramente contábil e comercial mas também de um ponto de vista, obrigatório para um país como o Brasil no contexto contemporâneo, geopolítico.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema econômico, tomemos como referência o período posterior à assinatura do acordo de complementação econômica entre o Mercosul e a Comunidade Andina, o ACE nº 59, em dezembro de 2003. De 2004 a 2008 as exportações brasileiras para a Venezuela aumentaram 250%, enquanto as importações deste país para o Brasil cresceram 170%. No mesmo período, o superávit comercial brasileiro com a Venezuela saltou de US$ 1,2 bilhão para US$ 4,6 bilhões, permanecendo positivo mesmo após a eclosão da crise mundial. Ao contrário do que ocorreu no caso da balança comercial com os EUA, que permaneceu deficitária nos últimos meses.

Todavia, o problema maior não é econômico – é geopolítico e estratégico. Com a saída da Venezuela da Comunidade Andina, ocorrida exatamente para que ingressasse no Mercosul, e supondo a aprovação do parecer tucano, este país adentraria estranho terreno de virtual limbo econômico-institucional, não sendo improvável a hipótese da busca, por parte de Hugo Chávez, de parcerias econômicas e aliados políticos extrarregionais “relevantes”, entre eles a China, com impacto, aí sim, imprevisível sobre a estabilidade política da região.

Muito utilizado também é o argumento segundo o qual a inclusão de Chávez no bloco dificultaria a negociação de acordos comerciais futuros, principalmente com a União Europeia e com a Alca. Em primeiro lugar, é importante frisar que a nenhum país é dado o direito de vetar decisões no âmbito do Mercosul. É óbvio, contudo, que a inclusão de um novo sócio tornará mais complexo o processo decisório e a produção de consenso. Neste sentido, é também natural que ocorra um novo processo de adequação e fortalecimento das instâncias decisórias do Mercosul, incluindo-se o Parlasul, no sentido de coordenar os interesses do países membros na direção do requerido consenso. Em segundo lugar, é importante lembrar que as negociações com a UE não têm avançado, não por conta de dificuldades de parceiros na América do Sul mas sim devido à intransigência na liberalização dos mercados agrícolas, devido ademais, no caso da Alca, à postura agressiva e pouco conciliatória adotada pelos negociadores norte-americanos durante o governo FHC. Não foi por outro motivo que, no final de seu mandato, FHC reorientou a estratégia de expansão do capitalismo brasileiro para o projeto de integração sul-americana, estratégia esta que vem sendo aprofundada no governo Lula.

É muito difícil entender a lógica geopolítica dos senadores e lideranças que se opõem ao Protocolo diante de evidências tão contundentes, de que a decisão de rejeitar a matéria é de gravíssima consequência para a trajetória brasileira de ascensão a líder regional – trajetória que, como todos sabemos, não nasceu com o atual governo mas sim e sobretudo com o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Não aceitar o desafio de ampliar o Mercosul e administrá-lo com toda a complexidade que este assumirá diante da presença de novos interlocutores externos e internos (sim, pois o ingresso de países andinos significa compartilhar os benefícios de um mercado comum com nossas populações do Norte e Nordeste) é o mesmo que abdicar da responsabilidade de liderar – e, em política, abdicar do papel que a história impõe de liderar é certamente o pior dos pecados.

Fabiano Santos é cientista político do Iuperj.

GOSTOSA


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CELSO MING

O câmbio, sob novo arranjo

O ESTADO DE SÃO PAULO - 22/10/09



Se já não estava claro, agora vai ficar. O tal controle de capitais está mostrando sua fragilidade. O mercado inventa gambiarras para trazer os dólares de modo que não passem pelo pedágio de 2% do IOF. Depois da paulada inicial, o câmbio retoma a trajetória anterior.

O principal efeito será a não desejada exportação de negócios da Bolsa para Nova York, e não a queda do dólar no câmbio interno. O ministro Guido Mantega vai repetir que a moeda americana teria caído ainda mais se não tivesse feito o que fez. Vá saber...

Sejamos realistas, se for para segurar o dólar, como quer Mantega, é preciso abandonar o sistema de câmbio flutuante.

Essa questão é relevante não só porque há anos os exportadores e a indústria pressionam pela mudança da política cambial. É, também, porque, na condição de forte candidato à Presidência, o governador José Serra entende que é preciso mudar tudo no câmbio e, se chegar lá, tentará dar esse passo. O que seria, então, a arrumação da economia numa paisagem de volta ao câmbio fixo?

Grande número de críticos prega mudanças irresponsáveis. Afirma que bastaria derrubar os juros ou impor controles ainda mais rígidos à entrada de capitais para obter um câmbio favorável às exportações e ao setor produtivo sem gerar consequências negativas. E avisa que um pouquinho a mais de inflação não teria importância, especialmente se fosse garantido mais crescimento do PIB. O problema é que o tantinho de inflação vira tantão a partir do momento em que as pressões por reajustes de preços, salários e aposentadorias não puderem ser contidas.

A volta ao câmbio fixo ou a volta ao câmbio de bandas seria como transferir a cozinha para onde está a sala de estar: muda todo o formato da política econômica.

Para garantir cotações relativamente fixas no câmbio, seria preciso abandonar o sistema de metas de inflação. O Banco Central teria de comprar moeda estrangeira quando a cotação ameaçasse cair abaixo do nível comprometido. E teria de vender quando ocorresse o contrário.

Não poderia, como agora, esterilizar (retirar do mercado) o volume de reais despejado na economia por meio da compra de dólares, pois esse enxugamento de reais restabeleceria a relação entre oferta e procura de moeda e manteria a tendência de baixa do dólar. Ou seja, a política monetária (política de juros) não poderia ser manobrada para ancorar a inflação. Estaria a serviço da sustentação da cotação do dólar.

A questão seguinte consiste em saber como controlar a inflação numa situação em que a autoridade monetária não tivesse mais o controle do volume de moeda na economia.

A única forma de se obter sucesso seria pôr em marcha uma implacável política fiscal. Não bastaria o governo garantir algum superávit primário, como hoje. Teria de assegurar pelo menos um déficit nominal (incluídos os juros da dívida) igual a zero. Isso exigiria sobra de arrecadação de cerca de 6,0% do PIB (hoje o superávit admitido é de 2,5%).

Como o Orçamento da União é rígido e não admite folgas desse tipo, seria preciso saber que despesas essenciais seriam cortadas ou que novas fontes de arrecadação seria preciso mobilizar. Afora isso, uma política fiscal draconiana enfrentaria fortes resistências políticas. Mas, teoricamente, poderia funcionar.

Confira

Sem surpresas - O Copom manteve os juros básicos nos 8,75% ao ano. Como se esperava, o comunicado se limitou a dizer que a inflação não ameaça e que é preciso esperar para que o afrouxamento monetário do início deste ano (até julho) mostre seus efeitos.

EUGÊNIO BUCCI

Notícias sobre a inexistência de Deus


O Estado de S. Paulo - 22/10/2009
Uma notícia bombástica, que circulou há poucos dias, passou sem maior estardalhaço: Deus não existe. Ou, para sermos um pouco mais precisos, Deus existe apenas dentro da cabeça dos humanos. O autor da descoberta, o português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura, foi categórico na entrevista que concedeu por e-mail a Ubiratan Brasil, publicada no Caderno2 de sábado passado: "Deus não existe fora da cabeça das pessoas que nele creem. Pessoalmente, não tenho nenhuma conta a ajustar com uma entidade que durante a eternidade anterior ao aparecimento do universo nada tinha feito (pelo menos não consta) e que depois decidiu sumir-se não se sabe para onde. O cérebro humano é um grande criador de absurdos. E Deus é o maior deles."

De passagem pela Itália, na semana passada, Saramago aproveitou para provocar um pouco mais: "Que Ratzinger tenha a coragem de invocar Deus para reforçar seu neomedievalismo universal, um Deus que jamais viu, com o qual nunca se sentou a tomar um café, demonstra apenas o absoluto cinismo intelectual da personagem."

Ora, pois. Como bem observou o jornalista Luís Antônio Giron, na revista Época desta semana, "nada mais lucrativo que irritar sacerdotes. É um hábito arraigado de Saramago, intelectual português de 86 anos que professa a fé marxista desde quase bebê". No mais, os jornais e as revistas não dedicaram espaços exagerados à polêmica, no que têm suas razões. Afinal, essa informação sobre a inexistência de Deus tem um quê de coisa velha, artificialmente requentada. Tem sempre esse sabor de revelação bombástica, mas não é a primeira vez que aparece. Nem a segunda. No dia 8 de abril de 1966, a revista Time circulou com uma capa histórica. Sobre fundo negro, vinha estampada a pergunta perturbadora: Deus está morto?

Não consta que o semanário americano tenha oferecido a seus leitores uma resposta conclusiva. A questão ficou em aberto - mas, já naquela época, era antiga. O filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900) já se tinha ocupado do assunto bem antes da Time: "Deus morreu! Deus continua morto! E nós o matamos!" E muito antes dele, na Grécia antiga, outro filósofo, Epicuro (século 3º antes de Cristo, Cristo este que não teve a existência contestada pelo escritor), ensinara que os átomos de que os deuses são feitos não se confundem nem se misturam com os átomos que nos constituem a nós, humanos. Certamente, os átomos de que falavam os gregos não eram exatamente esses com que lidamos hoje nos laboratórios, mas a ideia continua válida: os deuses (ou "o" Deus, como querem os monoteístas) não pertencem ao nosso domínio, não temos como alcançá-los, nem deveríamos perder tempo com essas veleidades. Epicuro pregava que os deuses não se incomodam conosco, nem um pouco. Se existem, habitam outra dimensão, bem longe do nosso mundo.

Sendo assim, a imprensa, que vive de descortinar novidades, tem suas fundamentações para esnobar Saramago: ele não anuncia novidade alguma. A notícia que ele proclama é de anteontem. Mesmo as religiões, que falam em nome de Deus, sem, no entanto, provar cientificamente sua existência, já não desfrutam o prestígio que um dia experimentaram. Há dois anos saiu no Brasil um livro de Richard Dawkins, Deus, um Delírio (Companhia das Letras, 2007), que repassa argumentos, não de todo novos, sobre os males causados pelas religiões, como os massacres cometidos sob justificativas supostamente divinas. Diante de tantas atrocidades, não é difícil concluir que o fanatismo é o próprio Satã encarnado sobre a Terra. A propósito, acaba sendo injusto, sumamente injusto, ou melhor, demoniacamente injusto, atribuir a Deus a culpa por torturas e genocídios praticados por gente de carne e osso. Se ele, como postulam Saramago e Dawkins, não existe, como poderia ser culpado?

No fim das contas, a afirmação do autor português só tem um problema. Ao dizer que Deus só existe na cabeça daqueles que nele creem, ele acaba caindo em contradição. Pense bem o leitor: o que é que existe de fato fora da cabeça das pessoas? A literatura, por acaso? Ora, a literatura só existe dentro da cultura e da linguagem - e a cabeça das pessoas não é feita de outra matéria que não os signos da linguagem (os pretensos materialistas que se insurgem contra isso não se deram conta, ainda, de que os signos são matéria). Isso quer dizer que a literatura também só existe na cabeça das pessoas - não há de ser nas estantes das bibliotecas que ela existe.

No mais, tudo aquilo que a ciência descreve e explica, igualmente, só vai adquirir sentido na cabeça das pessoas. Onde mais? Nessa perspectiva, as coisas todas, boas ou más, concretas ou abstratas, só ganham existência no nosso repertório quando a elas damos nomes. O resto está fora da linguagem e, quanto ao que está fora da linguagem, o que sabemos de fato existir ou inexistir? Nem mesmo o verbo existir, nem ele, existe fora da linguagem. E nem Saramago. Isso mesmo: nem Saramago. Também ele existe na cabeça das pessoas, e só aí sobreviverá por algum tempo, depois que seu corpo desaparecer. Se dele, Saramago, apenas o corpo existir, pobre Saramago. A cabeça das pessoas, enfim, é um bom lugar para se existir. Às vezes, é o único.

Estamos, portanto, de volta ao ponto de partida. Deus existe? Para tomar café com o papa, é bem provável que não. Mesmo assim, uma autoridade eclesiástica, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, padre Manuel Morujão, achou por bem passar um pito em seu conterrâneo: "Um escritor da craveira de José Saramago deveria ir por um caminho mais sério." Talvez a ele, Morujão, pudéssemos dizer: um sacerdote deveria ir por um caminho mais tolerante. O que pouco importa. Essa pendenga toda não vale uma Igreja. Não vale sequer um Nobel. Mas bem que valeu um artigo.

UNIFORME DOS ATLETAS RIO2016

ARI CUNHA

Ônibus melhores

CORREIO BRAZILIENSE - 22/10/09


Está entravando o progresso brasileiro a falta de ônibus novos. Temos pistas nas cidades e em alguns estados, rodagens que merecem mais atenção. Ônibus, automóveis e caminhões vencidos estão em atividade no país. O prejuízo é de bilhões de reais por ano. Refazer estradas, cuidar do acostamento, reduzir aclives é defender dinheiro público. Carros que se chocam ou se projetam nos despenhadeiros das rodovias, no mais das vezes são resultado de má conservação, desleixo das empresas ou dos proprietários. Queda de barreiras é outro imprevisto que começará a aparecer nesta temporada de águas. Dinheiro que governo aplica sem que dê projeção. É dele que o povo precisa para se mover. A esperança é contar com a as autoridades para maior conforto da família brasileira.


A frase que não foi pronunciada

“Política é uma obsessão positiva. Obsessão é uma política negativa.”

» Reguffe, deputado distrital, pensando enquanto se prepara para as próximas eleições.



Lula violento

» Presidente Lula da Silva, no alto de sua popularidade, deseja o Brasil de joelhos aos seus pés. Bem que a popularidade lhe dá vantagens, mas está querendo mais da natureza humana. Chamou a Justiça de “irresponsável”, criticou o governador de S. Paulo, José Serra, e o bispo contrário à obra de transposição do Rio São Francisco. Com uma cajadada atingiu três instituições formadas por gente de sua amizade.

Nova

» Vem novidade por aí. Brasil e Estados Unidos fazem acordo para aumentar o prazo de validade do visto. A Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados já aprovou o assunto. Depois do trâmite, o visto pode passar a valer por 10 anos.

Patinar

» Com a estratégia de apenas reagir às iniciativas do governo, a oposição mostra a falta de jogo de cintura para enfrentar as eleições. Ação na Justiça contra a viagem do presidente vai ocupar um tempo precioso que poderia ser a apresentação de propostas inovadoras na política ou diretamente à sociedade.

Festa no céu

» Depois de pregar a inclusão digital, o governo amarga a notícia de que telecentros comunitários estão fechados por absoluta desinformação dos prefeitos. Faltou orientação ao conselho gestor escolhido pelas comunidades. O passo foi mais largo que as pernas.

Carnaval

» Tende a crescer a violência nos morros cariocas. Mas o caso tem solução. É fundamental criar acessos para a passagem da polícia na área. Por enquanto quem fica na torre de comando são os traficantes, o que é insano. Resta saber se há vontade social, política e econômica para agir também contra os policiais corruptos.

Mulheres

» Passou sem muito alarde a troca do verbo reservar para preencher na reforma eleitoral. A partir das próximas eleições os partidos devem preencher um terço das vagas com mulheres candidatas.

Por cento

» No documento encaminhado aos parlamentares por Regis Arsanian, embaixador do Brasil junto ao Mercosul, há um dado curioso: 56% das emissões globais de CO² decorrem da queimada de combustíveis fósseis. O desmatamento representa 17% dessas emissões.

Planejamento

» Com o trabalho terceirizado, o Ministério do Planejamento deixou o atendimento ao público com qualidade sofrível. Funcionários destacados para informar parecem ser preparados para impor barreiras. O melhor é conversar com quem é da casa. Nos corredores e elevadores, as dicas são precisas e desburocratizadas.

Patente

» Sem substância química, um sorvete em alta temperatura pode virar pudim. A rede americana Cold Stone Cremery, que inventou a receita, deve chegar ao Brasil no próximo ano.


História de Brasília

Com o tráfego aéreo sobrecarregado, muitos foliões imprecavidos vão rufar suas cuiquinhas por aqui mesmo. (Publicado em 11/2/1961)

VINÍCIUS TORRES FREIRE

Até governo se queixa do novo IOF


Folha de S. Paulo - 22/10/2009



Integrantes de ministérios "ligados à produção" criticam a medida, ecoando empresas e até grandes exportadores

ERAM MAIS do que esperadas as queixas de instituições financeiras a respeito da taxação dos investimentos externos em ações e renda fixa (o "IOF do dólar").
A BM&FBovespa está em revolta com a taxação dos investimentos em ações. Cedo ou tarde também vazariam críticas do Banco Central à medida, à surdina, como é de costume e razoável acontecer, embora o tom dos vazamentos do BC tenha sido desta vez estridente em particular, um sinal de fim de festa e de paciência de integrantes da diretoria. Mas têm chegado à cúpula do governo relatos de críticas e insatisfações de outros ministérios também, como a Agricultura e o Desenvolvimento (e Comércio Exterior!), os quais, em tese, "representam" setores e interesses de empresas. Por quê?
Porque, em primeiro lugar, vários interesses empresariais são obviamente conflitantes no que diz respeito ao comércio exterior. Para citar um caso anedótico, basta considerar a recente disputa entre fabricantes de calçados brasileiros e os importadores de tênis chineses. Para citar caso ainda mais restrito, houve empresário que reclamou do novo IOF porque o imposto "vai prejudicar a importação de etanol, para contrabalançar a alta dos preços na bomba". Pois é, com o real forte e regulação ruim, o Brasil se preparava até para importar álcool.
Mas o caso mais comum da onda de queixas que grandes empresas levaram a esses ministérios a respeito do imposto é sobre a "dificuldade" que o novo IOF vai impor a operações de emissão de ações e de debêntures, algumas já em andamento.
Representante de uma grande empresa, também grande exportadora e muito ativa no mercado de capitais, chegou a dizer, em entrevista reservada, que "essa história de IOF é resultado das maluquices da Fiesp, com aplauso político da CNI".
Certos exportadores reclamam que foram "pegos de calças curtas" pela medida do IOF. Os exportadores (e provavelmente importadores e não apenas eles) tinham contratos no mercado futuro, alguns para fazer hedge cambial, operações que podem ficar mais caras com o imposto. Hedge é uma operação para se proteger de variações indesejáveis do preço de ativos. Quando o preço desses ativos varia, pode ser que o titular da operação tenha de fazer depósitos adicionais para, digamos, "aumentar as garantias" que deixa na instituição que cuida da operação, a BM&F, no caso brasileiro (garantias para cobrir parte de eventuais perdas). É o que a finança chama de "aumento de margem".
No caso de exportadores que deixam muito dinheiro no exterior, à espera de melhor cotação do dólar para trazê-lo ao país, pode ser que uma eventual necessidade de cobertura de margem implique internalização de dólares, que pagariam o imposto. O problema não parece lá nada grande, mas a queixa chegou a um dos ministérios citados.
Em segundo lugar, integrantes do governo (afora BC) também consideram a medida inócua, "sinal de atraso" ou, então, ainda "muito limitada, se a intenção é segurar o câmbio". Nos ministérios ligados "à produção", reclama-se ainda que o governo deixou de lado a "agenda de redução de impostos", assim como se esqueceu do problema dos créditos tributários dos exportadores.

GOSTOSAS

BRASÍLIA - DF

O modelo da Petro-Sal


Correio Braziliense - 22/10/2009



Diante da profusão de emendas com sugestões para a estrutura administrativa da Petro-Sal, o governo testa na Câmara dos Deputados a intenção de replicar os moldes adotados na Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Tida como órgão eminentemente técnico, a EPE seria o trunfo para aplacar temores da oposição quanto à politização da estatal e tirá-la das barganhas por cargos sonhados por partidos aliados. Novo ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha tem sido o porta-voz do modelo entre os deputados.

Parte da bancada familiarizada com o setor, no entanto, duvida de que o modelo seja 100% à prova de indicações políticas. Um nome citado para ilustrar o caso é o do diretor de Gestão Corporativa da EPE, Ibanês César Cássel, técnico ligado à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Quem tem mais olho grande na empresa é o PMDB.

Precocidade

Apesar do incipiente debate acerca do marco regulatório do pré-sal, já pipocam especulações no mercado sobre possíveis presidentes da futura Petro-Sal. Mais citado na bolsa de apostas está o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, técnico que convenceu Lula a mudar a legislação do petróleo.

Desavisados

Deputados do PMDB, em especial os contrários ao pré-compromisso eleitoral com a candidatura de Dilma Rousseff capitaneado pelo presidente da Câmara, Michel Temer (SP), queixavam-se de, mesmo depois de celebrado o acordo com o PT, não terem recebido detalhes do acordo que foi levado à mesa de Lula e Dilma.

Desacordo

A sucessão da ministra Dilma Rousseff na Casa Civil é ponto de divergência entre ela e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula prefere a gerente executiva do PAC, Miriam Belchior, para o cargo quando Dilma deixá-lo a fim de entrar em campanha. Mas a ministra defende a secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. Miriam é ligadíssima a Lula

Mágica

Relator de receitas no Orçamento de 2010, o senador Romero Jucá quer incluir o Minha Casa, Minha Vida no PAC. Apesar de não influir na execução do programa habitacional, a manobra poderá deduzir mais R$ 7 bilhões para gastos do governo ao reduzir o superávit primário. Com o aporte, o PAC chegará, no ano que vem, a R$ 28 bilhões

Soprem.../ O PSB prepara uma grande celebração para o aniversário de 52 anos do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), pré-candidato à Presidência da República. O rega-bofe será em 5 de novembro, uma quinta-feira. Um detalhe ainda falta ser definido: se a festa será em São Paulo, novo domicílio eleitoral de Ciro, ou em Brasília.

...as velinhas Petistas paulistas tentam inovar na homenagem ao presidente Lula, que comemora aniversário neste sábado. Circula pelo Congresso um convite para que os “amigos do Lula” compareçam ao Palácio da Alvorada, às 9h, para dar os parabéns e uma salva de palmas ao companheiro. Lula nunca teve tantos amigos.

Despedida/ Demissionário da Subsecretaria de Assuntos Parlamentares, Marcos Lima enviou ontem carta aos parlamentares, formalizando sua saída do posto que ocupou por quatro anos. Provável substituto, Neuri Mantovani circulou ontem pela Câmara para se apresentar aos deputados. Lima disputou o cargo de ministro de Relações Institucionais e perdeu.

Refugou




Ao sair ontem da Câmara dos Deputados, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo (foto), se viu diante de Sabrina, do Pânico na TV!, que montava guarda em frente ao seu carro oficial. A humorista havia lhe trazido a sunga vermelha usada pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Um dia antes, Bernardo brincou no Conselho de Defesa Nacional que vestiria a peça se Sabrina lhe pedisse. Cobrado, o ministro disse não.

E aí, vai?




O governador de São Paulo, José Serra (foto), teve uma demorada conversa com o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), durante sua passagem por Brasília, anteontem. O tucano foi novamente cobrado por uma definição sobre a sucessão presidencial. Agripino ponderou que a indecisão tem prejudicado a formação de palanques regionais. Serra mantém o discurso de que tratará de eleição somente em março do ano que vem.

PARA....HIHIHIHI

Um conto de fodas

Era tarde da noite, o caminhoneiro guiava pensando em mulher. Ao avistar uma plantação de abóboras, ele pensou:

- Uma abóbora... hmmm... é.... macia, úmida por dentro... Hummm... (caminhoneiro pensando)

Ninguém por perto, ele pára o caminhão, escolhe a abóbora mais redondinha,mais 'gostosinha'... dá-lhe um talho no tamanho apropriado e, morto de tesão, inicia a transa. Na empolgação, nem percebe a chegada de uma viatura da polícia.

— Desculpe-me, senhor ! - interrompe, perplexo, o patrulheiro - mas acaso o senhor está... transando com uma abóbora ?

O caminhoneiro, assustado:
— Abóbora? Puta que pariu! Já é meia-noite?

Cinderela... CINDERELAAAAAAA!? CADÊ VOCÊ, MINHA NEGA??

COLABORAÇÃO ENVIADA POR APOLO

GOSTOSA


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PLÍNIO FRAGA

O Hamlet de Pindamonhangaba


Folha de S. Paulo - 22/10/2009

Ciro Gomes (PSB) vive momento hamletiano: ser ou não ser candidato a presidente? A resposta é mais difícil do que parece à nossa vã politicologia. Como alardeia fidelidade ao presidente Lula, Ciro submeterá seu projeto pessoal -a disputa da Presidência- ao que melhor convier a Lula -por exemplo, disputar o governo de São Paulo, como bom cidadão pindamonhangabense que é.
Qual o fator fundamental para decidir se a base governista terá um ou dois candidatos? A maior ou menor possibilidade de Serra vencer já no primeiro turno. Na pesquisa Ibope mais recente, o tucano tem 35% dos votos, contra 40% da soma de Ciro, Dilma (PT) e Marina Silva (PV), com margem de erro de dois pontos percentuais. Ou seja, não é uma ideia improvável.
Para tal, a seguir os conselhos de marqueteiro próximo ao núcleo PSDB-DEM, Serra terá de fazer um discurso não raivoso contra Lula, naquela linha que Aécio Neves mais repete: nem a favor, nem contra, mas pós-Lula. Serra, que passou a campanha de 2002 dizendo que não era o momento de olhar para o retrovisor, na tentativa de escapar da herança de FHC, teria de continuar a propor que se olhe para a estrada, sem satanizar a era Lula, para não se indispor com 67% dos eleitores que o aprovam.
A saída de Ciro dessa disputa ajudaria mais a Serra (que poderia liquidar a fatura no primeiro turno) ou mais a Dilma (que poderia ganhar corpo com votos governistas hoje dados ao pré-candidato do PSB)? Ninguém tem essa resposta, apesar de pesquisas poderem indicar possibilidades, mas nunca permitir certezas absolutas.
Daí por que Lula deve adiar ao máximo o bater do martelo sobre se é melhor ter um ou dois candidatos contra Serra. Como diria o aliado lulista Fernando Collor, o tempo será outra vez o senhor da razão.

TODA MÍDIA

"Good choice"

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/10/09


Em editorial, o "Financial Times" faz longa defesa da taxação em 2% da entrada de capital no Brasil. Começa dizendo que, "diferentemente da garota de Ipanema, o rebolado do real tem sido tudo menos gentil", resultado de uma "paixão cega dos investidores estrangeiros -até que o governo disse basta".
"Apesar dos investidores ofendidos", escreve o "FT", "foi uma boa escolha".

Afirma que ela se justifica, não para conter a valorização do real, e sim diante da "causa profunda" que é a entrada de capital em crescente intensidade. Falando em "atração fatal", diz que "este amor pelo samba pode ser coisa boa demais: tem os ingredientes de uma bolha emergente clássica".
Avalia que "o governo é sábio em se preocupar antes que seja tarde". Que "implantou sua política com sensibilidade, a taxa é modesta e trata os investidores com honestidade, cobrando na entrada e não quando eles quiserem o dinheiro de volta".

Em suma, "o Brasil bem-sucedido terá de viver com um real forte", o que a taxação não muda, "mas ajuda a manter a tarefa administrável".

JUROS ALTOS ATRAEM
No Brasil Econômico, 18h40, "Copom mantém juros inalterados em 8,75%". Pouco antes, na Bloomberg, "Real sobe com aposta de que juros altos vão atrair investidores", apesar da taxação de 2%.
Na TV Bloomberg original, "os investidores olham a alta taxa de juros e você realmente pode ver a diferença, 8,75%, Europa 1%, EUA 0%. É outra razão por que os investidores são atraídos ao real".

FRUSTRANTE, MAS
A CNBC debateu a taxação e se "outros países vão seguir o Brasil". De Tim Seymour, da Seygem Asset Management: "Para "hedge funds" como o nosso, foi frustrante". Mas com Jogos, Copa "e sobretudo sua economia" o país é "fantástico". Sugeriu comprar, "mas não pule na Petrobras amanhã", espere "alguns dias".

A BOLHA
O "Wall Street Journal" destacou as "palavras de medo de uma nova bolha" ouvidas num evento do Fed de San Francisco, sobre os emergentes. "Graças aos baixos juros nas economias desenvolvidas", basta "emprestar dólares, usá-los para comprar, digamos, no Brasil, e você faz dinheiro (bem, você podia, até o Brasil pôr controles limitando a entrada de capitais)".
Em outro texto, noticiou a "reação global ao declínio do dólar", com o alerta de que "o Brasil não está sozinho". Canadá e França ameaçam intervenção.

JARDIM PAULISTA
No "WSJ", "o Citigroup cancelou reforma em sua sede brasileira que incluía um terraço chamado pelos funcionários de jardim suspenso", ressaltando "sua situação delicada desde que obteve US$ 45 bi do governo americano"

RIO LÁ E CÁ
E o "JN", de novo, destacou que o "NYT" noticiou que a violência no Rio "agita o Brasil".
Já o tabloide inglês "Daily Mirror" deu longa coluna de Oliver Holt, que veio ao Brasil, com o título "A violência que eu vi não mudou minha visão de que os Jogos no Rio são uma das maiores ideias do COI".

O PAU QUE FODE O BRASILEIRO

MÍRIAM LEITÃO

Batalha do Rio

O GLOBO - 22/10/09



Rio é diferente do país porque aqui há arma pesada, há grupos rivais. Mas seria injusto dizer que o Rio está sob o controle do tráfico”, me disse o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.

“Temos feito progressos e até o final do ano serão dez áreas com a polícia pacificadora.” Ele faz críticas à burocracia para a compra de equipamentos e ao regime de progressão de pena

Conversei ontem de manhã com o secretário sobre a crise de segurança do Rio e ele deu várias explicações que mostram a complexidade do assunto.

— Se o Rio quiser comprar um colete balístico leve para a proteção dos policiais, não pode, porque o Ministério da Defesa estabelece limites para produtos que têm similar nacional. Se quiser comprar fuzis para as tropas especiais, tem que ser o da Imbel, e após o Exército dar autorização.

O produzido no Brasil é pesado, e os traficantes estão comprando por telefone produtos leves de outros países. Se precisarmos de um carro blindado para deslocamento das tropas, o Exército entende que não pode, porque a partir de um nível de blindagem é só para situações de guerra. Estamos aguardando dois helicópteros desde o começo do ano.

Estamos em desigualdade de condições — disse ele.

Beltrame sabe que a luta no Rio exige o cuidado de proteger a população inocente: — Não é simples, nós temos que saber como trabalhar.

Não podemos simplesmente entrar, do contrário morre muita gente inocente.

Temos que agir com responsabilidade, inteligência e estratégia.

Mas os policiais precisam estar protegidos.

Ele elogia alguns programas federais, como o Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania) que está qualificando policiais no Brasil todo, inclusive no Rio, mas acha que falta entender no que o Rio é diferente de outros estados: — Aqui, há três grupos de bandidos rivais lutando por partes do território e a milícia; as armas são mais pesadas.

A maior parte da cidade está normal, a maioria das comunidades não está sob o controle do tráfico, mas há áreas onde as forças de segurança podem até ir, mas não podem ficar. Isso tem que mudar.

Conversei também com um general do Exército. Ele admite que a burocracia da compra de armas pela polícia pode ser simplificada, mas alerta que é preciso haver restrições para evitar que armas exclusivas das Forças Armadas sejam roubadas como aconteceu em São Paulo no centro de treinamento da Polícia Civil.

Acha que o problema do Rio não é de armas: — Nós doamos vários fuzis 762, belgas, para várias policias do país. Produzimos no Brasil equipamentos bons e temos que fortalecer a indústria nacional. A ideia de combater de helicóptero uma área superpovoada com gente inocente é loucura. Helicóptero só pode ser blindado na parte inferior, do contrário fica pesado demais.

Mas concordo que a burocracia precisa diminuir, que a atribuição de combater o tráfico de drogas é da Polícia Federal, basta ler a Constituição. Eu, sinceramente, não invejo o secretário de segurança do Rio.

Ele não deve dormir.

Beltrame trabalha muito, de fato, e tem conseguido avanços. Mas os erros na segurança do Rio são velhos, em vários pontos há controvérsias insanáveis. O ponto central do pensamento de Beltrame é indiscutível: o que não pode haver é o controle de nenhum pedaço do território por bandidos: — Nestas áreas, 99% das pessoas são boas, bons cidadãos.

Nós temos que tirar o controle da mão dos bandidos e começar nosso trabalho novo, como está sendo feito nas UPPs. Até o final do ano, teremos mais cinco áreas ocupadas. Não posso dizer quais. O total que pretendemos é de 43. Foram escolhidas por uma série de critérios, depois de estudos e análise estratégica. Pacificar é parte do trabalho, mas não é o único. Temos que reprimir, lutar contra os criminosos. O ciclo da criminalidade tem que ser quebrado no Rio.

Os policiais que têm ido trabalhar nas UPPs são novos, sem os vícios que se encontram numa parte da polícia, e que saem da academia preparados para a nova realidade da convivência cooperativa com os moradores.

Até o fim do ano serão mais 300, e até o mês de abril do ano que vem, mais 1.300.

Beltrame disse que de cada dez pessoas que prendem, oito são reincidentes. Isso seria, segundo ele, mais uma prova de que é preciso rediscutir a questão da progressão da pena em casos de tráfico de drogas e armas.

O general, com quem conversei, fez a mesma reclamação que Beltrame em relação à desigualdade de condições na luta contra o crime na fronteira: — Em termos de dissuasão e controle territorial, não temos problema. Mas para reprimir o ilícito transfronteiriço, nossa mobilidade é pequena.

Nossas voadeiras são de 60 HP, as dos traficantes têm 250 HP. Não alcançamos.

A luta é desigual. Nossos pelotões são clareiras na selva distantes às vezes mil quilômetros um do outro. Nossa fronteira terrestre tem 15 mil quilômetros. Os Estados Unidos e o México têm 3.100 quilômetros de fronteira e não controlam tudo.

Uma lição que o Exército aprendeu no Haiti, segundo o general, foi que não adianta entrar numa favela dominada pelos bandidos e sair. Isso demonstra força dos bandidos.

É preciso ir e ficar como nas UPPs do Rio.

DIRETO DA FONTE

Evo e seu pagodeiro

SONIA RACY

O ESTADO DE SÃO PAULO - 22/10/09


Evo Morales escolheu: Netinho de Paula será seu garoto-propaganda em São Paulo. É que os bolivianos que vivem fora do país poderão, pela primeira vez, votar em uma eleição presidencial - e Evo concorre a novo mandato no dia 6 de dezembro.
O presidente e o vereador encontram-se hoje em Cobija, na fronteira do Acre com a Bolívia, para selar a aliança. O trabalho do pagodeiro, na verdade, será um reforço mais psicológico do que numérico. "Dos 150 mil bolivianos que vivem no Brasil, 25 mil estão aptos a votar", esclareceu Andres Guzman, senador aliado de Evo, que veio a SP assinar acordos com PT e PC do B.

Fornada quente

A Objetiva prepara lançamento do seu livro Lula, o Filho do Brasil. Os originais de Denise Paraná foram para a gráfica e contêm episódios que não aparecem no filme, baseado no livro-tese de doutorado de Denise.
Entre eles, o do velório da primeira mulher e do filho de Lula, quando o chão da casa dele cedeu com o peso dos caixões e das pessoas presentes.

Berço esplêndido

Kassab tem dito a assessores que não vai perder o sono por causa dos vereadores aliados ameaçados com perda de mandato. Baseia-se no fato de o TSE já ter analisado casos semelhantes de doações e não ter encontrado irregularidades.

Primeiro, a mãe

Representantes do Timor Leste estão no Brasil para conhecer mais detalhes do Bolsa-Família.
Querem melhorar a versão timorense do programa, que lá se chama... Bolsa-Mãe.

Jeito enviesado

Um paulistano recebeu, dias atrás, estranho telefonema de alguém que se dizia do INSS. Procurava por seu pai, aposentado, dizendo que ele tinha direito a um "adiantamento salarial".
O cidadão esticou a conversa e contaram que o que se oferecia era um empréstimo. Por fim, pressionada, a atendente esclareceu: trabalhava para a BB Financeira...

Nome da vez

Pelo que se apurou, tem motivo simples o fato de o nome de Sérgio Rosa, da Previ, estar sendo "usado" para incomodar Roger Agnelli, da Vale.
É que seu mandato acaba em maio e ele não pode ser reconduzido à presidência. A não ser que mudem os estatutos do fundo de pensão.

Saber Oiticica

Enquanto a família de Helio Oiticica faz uma triagem do prejuízo do incêndio em sua obra, o poeta Ferreira Gullar - que foi grande amigo do artista plástico - se propôs a dar uma aula sobre sua obra e sua trajetória.
Que acontece sábado, na Casa do Saber dos Jardins.

Bresser e o direito de crescer

Para crescer, é preciso ser nacionalista. E, além disso, ter uma estratégia nacional de desenvolvimento. Foi esse o recado central de Luiz Carlos Bresser-Pereira à platéia de economistas, professores e alunos que foram ouvi-lo anteontem na Livraria da Vila - onde lançou, pela Campus, o livro Globalização e Competição.

"Mas eu falo de um nacionalismo como o inglês, o sueco... não tanto o dos americanos", advertiu. "Significa uma sociedade inteira pensar na mesma direção, que é se desenvolver. Coisa que já fizeram tantos outros países, que faz a China."

"Eu me considero um economista estruturalista keynesiano", definiu-se. Não poderiam faltar, na sua fala, as farpas ao neoliberalismo, tão caro a certos ninhos tucanos. Rodeado de amigos como Yoshiaki Nakano e Fernão Bracher, o ex-ministro afirmou que "para os neoliberais, um país só cresce quando garante a respeitabilidade dos contratos". Ora, rebate ele, "o Brasil respeita os contratos muito mais que a China, mas esta é que cresce bem mais. Por quê? Porque ela tem uma estratégia nacional de desenvolvimento". Não mencionou que isso é mais simples de conseguir em regime ditatoriais.

O livro - que para honrar o título sai também em inglês e francês - fala do desafio entre Estado e globalização, de crescimento com poupança externa e até da... doença holandesa. Que aparece em países como Venezuela ou Iraque, donos de uma grande riqueza, como o petróleo, e que não se desenvolvem.

Por fim, atacou o populismo cambial. Aquele pelo qual "a inflação cai, os salários se valorizam e você é reeleito". GABRIEL MANZANO FILHO


NA FRENTE
A equipe da Villa Daslu organiza exposição com 40 joalheiros. De 4 a 7 de novembro. Com direito a leilão beneficente.

Marcilio Moraes ganhou reforço para escrever a novela Ribeirão do Tempo, para a Record. O da dramaturga Consuelo de Castro.

O Prêmio Portugal Telecom de Literatura acontece dia 10, na Casa Fasano.

A Pacha São Paulo celebra 3 anos hoje, com participação do DJ René Vailtl.

Abre hoje a mostra Tesouros da Coleção Roberto Marinho. Na BMF&Bovespa.

A revista Rolling Stone brasileira comemora 3 anos. Hoje, no Bourbon Street.

Esbaforido, Sarney foi o último a chegar ao jantar oferecido ao PMDB, na terça. Não era nenhum "jantar secreto". Mas não o avisaram de que ele mudou do Torto para o Alvorada..

GOSTOSA


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KENNETH MAXWELL

Obama: fraco ou astuto?

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/10/09


OS SABICHÕES estão confusos. Seu temor parece ser o de que o presidente Barack Obama seja "mais conversa que ação". Richard Cohen, em artigo para o jornal "Washington Post" nesta semana, avaliou que Obama era bom demais para ser verdade: "A busca pela perfeição pode nos impedir de ser bons o bastante".
E há alguma verdade nessa crítica. O governo Obama, por exemplo, vem demorando muito a indicar novos juízes federais. Obama prometeu durante a campanha eleitoral do ano passado que avançaria de forma agressiva na frente judicial. Mas até esta semana, nove meses depois de sua posse, Obama só enviou ao Senado, encarregado de confirmá-los, os nomes de 23 juízes. E destes Obama só conseguiu confirmação para três -um para a Corte Suprema, um para a instância de recursos e um para a primeira instância.
No mesmo período, o presidente George W. Bush apontou 95 juízes, e já havia conseguido a confirmação de oito. Bill Clinton conseguiu confirmar oito juízes federais de primeira e segunda instâncias e um juiz para a Corte Suprema.
É verdade que as audiências de confirmação da juíza Sonia Sotomayor requereram muito tempo no Senado. A indicação de Obama foi confirmada, e a juíza Sotomayor agora integra a Corte Suprema.
Mas a inação quanto aos postos nos tribunais de recursos e de primeira instância significa que existem 90 postos judiciais vagos, ou 10% do total nacional.
Os liberais estão irritados porque acreditam que essa demora só sirva para encorajar os republicanos do Senado a bloquear indicações, especialmente no ano que vem, quando as eleições legislativas estarão próximas.
Mas nem todo mundo é tão pessimista. No "London Sunday Times" do último final de semana, Andrew Sullivan defendeu Obama.
Sullivan foi editor da revista "New Republic", tem um doutorado por Harvard e é um comentarista político e colunista respeitado. Ele em geral representa a direita do espectro político.
A mensagem de Sullivan é que é cedo demais para descartar Obama. O pragmatismo do presidente, ele escreve, "pode parecer hesitação, fraqueza, indecisão. Mas, embora haja momentos em que ele parece fraco, uma das palavras que o descrevem melhor é bastante diferente: implacável. Sob os ternos elegantes e o sorriso fácil existe um cerne de aço estratégico".
Acima de tudo, Obama sabe esperar. No momento exato, ele toma a iniciativa. A mais recente pesquisa de opinião pública da rede de TV ABC parece confirmar a percepção de Sullivan: a aprovação a Obama é de 57%, enquanto apenas 27% dos entrevistados aprovam os republicanos, a porcentagem mais baixa para o partido em 26 anos.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

CLÓVIS ROSSI

Da metamorfose à rendição

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/10/09



SÃO PAULO - Que Luiz Inácio Lula da Silva foi, a partir de sua vitória de 2002, uma "metamorfose ambulante", nem precisava que ele próprio o dissesse. Os fatos falavam alto e claro.
O triste, como revela a entrevista que ele concedeu a Kennedy Alencar desta Folha, é que Lula passou da metamorfose à rendição a uma realidade política horrorosa.
Disse Lula: "Qualquer um que ganhar as eleições, pode ser o maior xiita deste país ou o maior direitista, ele não conseguirá montar o governo fora da realidade política.
Entre o que se quer e o que se pode fazer tem uma diferença do tamanho do oceano Atlântico. Quem ganhar a Presidência amanhã, terá de fazer quase a mesma composição, porque este é o espectro político brasileiro".
O presidente ainda acrescentou: "Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão".
Se Frei Betto, o confessor ou ex-confessor de Lula, tivesse ensinado seu amigo direitinho, o presidente aprenderia que Cristo foi crucificado justamente porque não fez coalizão com os judas da vida.
Que Lula tivesse obsessão com a governabilidade até dá para entender. Que desista de ao menos tentar reformar a "realidade política" é um irremediável desastre.
Só para qualificar o que é essa realidade: a Fundação Konrad Adenauer, ligada à democracia-cristã alemã, divulgou há dez dias o índice de desenvolvimento político da América Latina. O Brasil consegue a proeza de ficar só no 8º lugar entre os 18 países listados. E estamos falando de América Latina, que é essa mixórdia arquiconhecida.
Tudo somado, dá para entender por que o presidente prefere que a imprensa não fiscalize o poder, apenas informe. Lula e seu partido trocaram a fiscalização do tempo de oposição pelo gozo do poder uma vez nele instalados.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

PAINEL DA FOLHA

Superdosagem

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/10/09


Executada a coreografia PT-PMDB, o próximo passo da campanha de Dilma Rousseff será usar essa parceria como trunfo numa nova rodada de conversas. Em breve, os presidentes Ricardo Berzoini e Michel Temer entrarão em campo na tentativa de amarrar partidos menores à candidatura da ministra.

Entre as siglas que já foram procuradas, o PDT não esconde certo desconforto com o que considera ‘postura dúbia’ de Lula em relação ao projeto presidencial de Ciro Gomes (PSB). ‘Para estarmos juntos de fato, precisamos entender o jogo todo, e não apenas uma parte dele’, reclama o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), da Força Sindical.

Linha dura - No jantar de anteontem, Lula sugeriu aos peemedebistas que recorram até à intervenção nos Estados em que o partido insistir em marchar com a oposição.

Uau! - Os aliancistas mais entusiasmados saíram do Alvorada com dois números na cabeça. Percentual do PMDB hoje com Dilma: 70%. Chance de Temer ser o vice: 80%.

Veja bem - Já uma raposa peemedebista envolvida na negociação diz que tudo vai depender da evolução da candidatura: ‘A gente vai até a porta do cemitério. Só não nos peçam para entrar na cova’.

Amuleto - Cristão novo no PMDB, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi ao jantar com a mesma gravata verde e amarela usada pela comitiva brasileira no anúncio do Rio como sede da Olimpíada de 2016. ‘Ele deve achar que dá sorte’, comentou um ministro presente.

Bananas... - A pesquisa Ibope em que José Serra obtém 41% de intenção de voto não pode ser comparada com a anterior do instituto, na qual o tucano havia registrado 35%. Encomendado pelo PSDB, o levantamento mais recente não apresentou ao entrevistado o nome do candidato sozinho, mas sim acompanhado de um vice.

...e laranjas - Serra atingiu 41% tendo o correligionário Aécio Neves como vice. No caso de Dilma (17%), o companheiro de chapa foi Temer.

A cobrar - O presidente do TSE, Carlos Ayres Britto, recebeu telefonema enquanto conversava numa roda após a posse da ministra Ellen Gracie anteontem no tribunal. Numa conversa tensa, comentou as críticas de Gilmar Mendes à viagem de Lula ao São Francisco. Britto chamava o interlocutor de ‘presidente’. Mas nega que fosse Lula do outro lado da linha.

República - Lula foi surpreendido em Ouro Preto por estudantes que pediam sua intervenção para liberar vagas em moradias universitárias. Prometeu 300 unidades.

Pode - Com um pé no STF, o advogado-geral da União, José Antonio Toffoli, assinou ontem parecer que dá à Fundação Padre Anchieta, administradora da TV Cultura de SP, a mesma liberdade que tem a TV Brasil para captar recursos de empresas privadas, a título de apoio cultural e publicidade institucional.

Cabide - Enquanto procuram reverter a cassação na Justiça Eleitoral, os 13 vereadores paulistanos que receberam doações da AIB tentam driblar a exoneração dos 18 funcionários que cada um indicou nos gabinetes.

Vida nova - Enterrado o pedido de impeachment, Yeda Crusius (PSDB-RS) tentará virar a página votando a reformulação no plano de carreira dos servidores.

Tiroteio

Ao afirmar que transformaram um evento de governo em comício, imagino que o presidente do Supremo se referia às viagens do Serra.

Do deputado FERNANDO FERRO (PT-PE), sobre as críticas de Gilmar Mendes aos três dias de visita de Lula, com Dilma a tiracolo, às obras de transposição do São Francisco.

Contraponto

Primeiro e único

Embora os peemedebistas tenham chegado ao Palácio da Alvorada, anteontem à noite, já bastante acertados quanto ao que reivindicar em troca do apoio a Dilma Rousseff, houve no jantar com Lula alguma discussão sobre os termos da nota que seria divulgada à imprensa sobre o ‘pré-compromisso’ para a eleição de 2010.

Depois de ouvir o termo ser repetido várias vezes pelos comensais, o presidente resolveu corrigir:

- Não tem nada de ‘pré’. É ‘compromisso’ mesmo. O único ‘pré’ que nós queremos é o ‘pré-sal’!

Por algum motivo, entretanto, acabou saindo ‘pré-compromisso’ no texto tornado público na manhã de ontem.