segunda-feira, junho 25, 2012

O Lula Malufou! - REVISTA VEJA


Por um minuto e meio no horário eleitoral, Lula se rende a Maluf, o político-símbolo de todas as mazelas que o PT um dia foi contra

Otávio Cabral

Quanto vale um minuto e meio de propaganda elei­toral gratuita na TV? Na semana passada, o ex-presidente Lula deu a sua resposta: vale uma vice-prefeita quase perfeita, um racha no comando da campanha e uma militân­cia aturdida, frustrada e envergonhada - além de uma meia dúzia de bandei­ras, entre as que o seu partido conser­vava de fato e as que só existiam na memória de alguns petistas que passa­ram os últimos dez anos em Marte. Ao posar sorridente ao lado do seu um dia antagonista, contraponto ideológico, encarnação do mal e "filhote da dita­dura", Paulo Salim Maluf, o ex-presi­dente Lula ultrapassou a linha demar­catória que separa a prática de selar alianças promíscuas - também cha­mada de pragmatismo politico - do mais puro cinismo.

Na semana passada, em busca de 1 minuto e 35 segundos de propaganda de televisão para o candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Had­dad, ele entrou" pela primeira vez na ca­sa onde, há 49 anos, mora o seu rival histórico. Ao lado de Haddad, reuniu-se com o ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, corrupto procurado pela In­terpol e classificado pelo Banco Mun­dial como um expoente do assalto aos cofres públicos. Depois de comerem uma feijoada, os três fecharam o apoio do PP de Maluf ao PT de Lula e Had­dad. No jardim do ex-governador, tro­caram abraços, apertos de mãos e posa­ram para as fotos que selaram a aliança. As consequências foram imediatas.

Minutos após a divulgação da ima­gem, a deputada e ex-prefeita Luiza Erundina, do PSB, desistiu de ser vice de Haddad. A VEJA.com declarou: "Maluf representa o atraso e a falta de ética. Tudo que eu rejeito na política e que a sociedade também não aceita". Erundina havia entrado na chapa para suprir a falta de Marta Suplicy, que abandonara a campanha insatisfeita com a atuação imperial de Lula. Até a semana passada, Marta era uma voz isolada, mas a aliança com o PP engros­sou o coro dos insatisfeitos. E, dadas as últimas encrencas em que Lula meteu o partido, al­guns deles já põem em dúvida o prover­bial tirocínio potitico do ex-presidente.

Em São Paulo, essa dúvida ajudou a produzir dois núcleos em confronto. O executivo é comandado por dirigentes municipais do PT, como os vereadores Antonio Donato, José Américo e Chico Macena e o deputado Simão Pedro. Já o núcleo político é pilotado por "foras­teiros", como o próprio Lula e Luiz Marinho, de São Bernardo, Edinho Sil­va, de Araraquara, e Emídio de Souza, de Osasco. Os paulistanos consideram que os "forasteiros" não entendem as peculiaridades do eleitorado local e tomam decisões erradas sem consultá-los. Acreditam que a aliança com Ma­luf (batizada Malddad, pela junção dos sobrenomes dos protagonistas) trará muito mais prejuízo eleitoral do que lu­cro à campanha de Haddad.

Apesar das reações, Lula segue de­fendendo sua estratégia. Ele repete co­mo um mantra, desde que escolheu o desconhecido ex-ministro da Educa­ção para disputar a prefeitura da maior cidade do país, que é preciso muito tempo de TV para tornar Haddad co­nhecido e viável eleitoralmente. "Não importa o que falem do Haddad, o que importa é que falem dele", afirmou o ex-presidente a um interlocutor na úl­tima quinta-feira. Foi seguindo essa lógica que ele aceitou a exigência de Maluf de selar o acordo na sua casa – detalhe que, longe de servir apenas para embelezar as fotos, foi esperta­mente providenciado pelo anfitrião para evidenciar a sujeição do petista à sua vontade.

Embora não seja possível medir quantos votos rende um minuto na TV, uma coisa é certa: seu valor é tão maior quanto mais desconhecido for o candi­dato em questão. Por essa equação, Haddad, desconhecido por 60% do eleitorado, precisa desesperadamente de cada segundo. (leia o artigo de Roberto Pompeu de Toledo na pág. 150). Ele não ocupa um cargo que ajude a expô-lo nem tem obras realizadas para propagandear. Na última pesquisa do Datafolha, divulgada na semana passa­da, Haddad cresceu de 3% para 8% ­ainda bem abaixo dos 30% de Serra. João Santana, marqueteiro da campanha, concorda com Lula que o crescimento foi decorrência da exposição de Haddad em programas populares de TV.

Alianças espúrias, ditadas unica­mente pelo desejo de aumentar a expo­sição de um candidato na TV ou de ga­rantir votos no Congresso, não são, evi­dentemente, uma criação petista, como diz a Carta ao Leitor (página 15). Na atual campanha, o PSDB de José Serra também queria o apoio de Maluf, que so acabou ao lado de H"addad porque recebeu o "pagamento à vista" - a Se­cretaria de Saneamento Ambienta do Ministério das Cidades -, enquanto os tucanos fizeram promessas de cargo em um futuro governo. O PP de Maluf foi governo nos oito anos de Fernando Hen­rique Cardoso (o que nunca foi aceito pelo ex-governador Mario Covas) e está ao lado do PT desde o terceiro ano do governo Lula. Mas a união de Lula e Maluf tem peso diferente.

"Juntá-los é como unir o Corin­thians e o Palmeiras em um único ti­me", compara o cientista político Ru­bens Figueiredo. ""As torcidas jamais se entenderiam". O PT nasceu como o partido de resistência ao regime mili­tar, do qual Maluf era um dos princi­pais apoiadores. O PT era o partido dos mutirões e Maluf, das grandes obras. Enquanto os petistas hasteavam a bandeira dos direitos humanos, Ma­luf pregava que "bandido bom é bandi­do morto". Os governos petistas valo­rizam políticas de inclusão de mulhe­res. Já Maluf se notabilizou pelo "estu­pra mas não mata".

É certo que o PT há muito largou no caminho a bandeira da ética, assim como é fato que Maluf, aos 80 anos de idade, incontáveis processos na Justiça e nenhum mandato executivo há dezes­seis anos, perde muito da aura de tuba­rão da corrupção. Está mais para um leão sem dentes. Mas em algum canto da memória coletiva permanecem as imagens um dia associadas a um e ou­tro. E, na foto planejada por Maluf e endossada por Lula, essas imagens produziram uma trombada monumen­tal. O tamanho do estrago que ela cau­sou começará a ser medido em outu­bro, quando se abrirem as urnas.

A Conta Chegou - MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA


A virtual estagnação do PIB no primeiro trimestre pode ter sido mais um sinal de que o Brasil iniciou um ciclo de baixo crescimento. Teríamos voltado a ser uma economia de baixa produtividade. Entre 2010 e 2012, perdemos oito posições no índice de Competitividade Mundial, do International Institute for Management Development. Passamos do 38° para o 46° lugar entre 59 países. A perda de dinamismo tem a ver com a crise mundial, mas sua maior razão está aqui.

A produtividade é a chave do crescimento. Nos Estados Unidos, ela explicou 80% da expansão do PIB nos anos anteriores à crise. A produtividade tem a ver com educação, ciência, tecnologia, direitos de propriedade, respeito a contratos, gestão do governo e das empresas, inovação e qualidade da tributação e da infraestrutura. Construir tudo isso leva tempo. Duas das condições básicas para a Revolução Industrial do século XIX nasceram pelo menos dois séculos antes: a Lei de Patentes (1624) e a Revolução Gloriosa (1688). As patentes passaram a ser concedidas apenas para invenções. Foram eliminados privilégios de monopólios garantidos a comerciantes e corporações. A Revolução Gloriosa extinguiu o absolutismo dos reis, atribuiu independência ao Judiciário e definiu direitos de propriedade, criando incentivos para investir e inovar.

Essas mudanças geraram efeitos na produtividade muito depois. No século XVIII, a Inglaterra viveu uma febre de inovações, motivada pela busca de um mecanismo para bombear a água que inundava as minas de carvão. Surgiu daí a famosa patente para a máquina a vapor de James Watt (1769). Ao transformar vapor em energia mecânica, a máquina viabilizou a instalação de fábricas fora da beira dos rios, onde funcionavam as rodas-d"água que movimentavam engrenagens.

Hoje, avanços institucionais levam menos tempo para amadurecer. No Brasil, demorou menos de vinte anos para que o ciclo de reformas iniciado em 1986 e acelerado no governo FHC ampliasse o potencial de crescimento. No período FHC, o crescimento anual do PIB foi de 2,3% ao ano. Ele subiu para 4,1 % no governo Lula. Decompondo-se o desempenho do PIB pela contribuição dos investimentos, do fator trabalho e da produtividade, esta explicou 6.7% da expansão do período FHC e 33,7% do governo Lula. A produtividade respondeu por 88% da diferença de crescimento do PIB entre esses dois períodos de governo.

Para usar uma metáfora agrícola, a produtividade seria a colheita de frutos de plantações anteriores. Sua continuidade depende, todavia, dos cuidados com as árvores existentes e do plantio de novas. Lula começou o seu governo plantando. Promoveu uma série de reformas microeconômicas coordenadas pelo seu primeiro ministro da Fazenda. O ambiente de negócios melhorou e o crédito se expandiu vigorosamente. Nasceu uma promissora fase do financiamento habitacional. A partir de 2005, o ímpeto reformista foi abandonado. O governo passou a surfar sobre as ondas formadas pelas conquistas anteriores e pelo boom das exportações de commodities. O foco se centrou basicamente na demanda. A bem-sucedida ação para estimular o consumo na crise de 2008 parecia dar razão à estratégia.

Um modelo de crescimento baseado no consumo é desejável e funciona quando a oferta cresce de forma compatível com a demanda. Sob o ângulo da oferta, havia mão de obra disponível, mas o capital físico não cresceu o necessário (apesar do foguetório sobre os investimentos do PAC). Na ausência de novos plantios, a produtividade do capital físico e da mão de obra diminuiu. A indústria de transformação passou a ter produtividade negativa. O potencial de crescimento caiu.

A não ser que haja reformas, a economia dificilmente vai crescer mais do que 3%, talvez 4% aqui e ali. A volta ao crescimento dos tempos do governo Lula pode ter ficado para trás. Não dá para “levantar"" o PIB apenas com discursos, reuniões, desonerações tributárias pontuais ou queda forçada dos juros. A conta de anos sem reformas parece ter chegado inapelavelmente. Espera-se que a situação crie incentivos à sua retomada. Mesmo se elas forem realizadas, seus frutos plenos serão colhidos em futuros governos. Como aconteceu com Lula. Seria irônico, não?

Coveiros do Leviatã - ROBERTO ROMANO


REVISTA VEJA


Nossos partidos abusam do eleitor ao mercadejar alianças. Longe de conceitos ou doutrinas, pechincham e barateiam adesões. Não existem diferenças entre eles porque, diriam os petistas juvenis, todos são "farinha do mesmo saco", Weber, Marx, Tocqueville, Bobbio e outros tentaram pensar a política. Hoje ela atinge o impensável.
O estado, desde o seu nascimento, sofre – ameaças de morte. Sempre que os dirigentes abusam do poder, os governados se rebelam. Assim ocorre nos levantes democráticos (séculos XVII na Inglaterra e XVIII nos EUA e na França), quando garantias e direitos são arrancados do maquiavelismo absolutista. No século XX, a divindade mortal sente o cheiro da morte. Num espasmo para garantir sobrevida, ela passa ao totalitarismo, se alimenta dos corpos trucidados na Alemanha, na URSS, no mundo. Com a Guerra Fria, o seu poder atinge o ápice. Nas batalhas pelo controle internacional, o Leviatã extenua as fontes econômicas, culturais, jurídicas, religiosas. Os partidos assumem ideologias para conservar diferentes formas de poder. Comunismo ou republicanismo entram na paleta dos ideários, que reúne cores mistas como o gaullismo na França e o trabalhismo inglês. Existiram formas ideológicas porque o estado ainda administrava a sua crise mortal.
Com o fim da URSS, desaparece a bipolaridade planetária, perdem força os poderes estatais. Crises financeiras, desindustrialização, choques desastrosos no comércio externo, diplomacia sem arte, sociedades à míngua de segurança. A soberania é corroída com maior ou menor efeito. O caso da Europa mostra quanto às lesões podem ser profundas e duradouras. Sem o poder soberano (em campo nacional) ou hegemônico (no internacional), as ideologias perdem sentido.
Como o estado é o terreno da politica, com seu enfraquecimento, somem a causa e a razão de qualquer doutrina. Na crise, o primeiro signo letal é a perda de substância programática nos partidos. Partidos projetam formas de estado e sociedade. Eles oferecem aos eleitores um plano de ordem social e jurídica: liberal, socialista etc. Vencendo as eleições, os dirigentes tentam aplicar o prometido. Se vence o socialismo, dele se espera a preeminência do coletivo sobre os indivíduos. Os vencidos seguem para a legítima oposição. Vitorioso o liberalismo, as políticas seguem outras vias. Na democracia, a derrota ou a vitória nunca expulsam os adversários da cena pública. A alternância do mando prolonga a vida do Leviatã. Caso uma agremiação tenha um programa, mas, para atingir e manter indefinidamente o mando, se alie a setores que pregam o contrário do que ela promete ao eleitor, ocorre o estelionato eleitoral. O programa, depois de escolhido, não pertence mais aos eleitos, mas à maioria que o sufragou. Ao quebrarem a fé pública, os partidos chegam à infâmia e a sua política se limita ao camelódromo dos votos.
Na compra de certo produto, o cliente experimenta suas virtudes ou defeitos. Não se dá o mesmo nas urnas. Como diz um sábio, "o eleitor não conhece antecipadamente o efeito de sua escolha, porque o poder do partido ou candidato ao qual deu o voto depende do maior ou menor número de votos que eles receberam de outros eleitores, sobre os quais ele não exercita isoladamente nenhuma influência". No comércio politico, o poder se conquista com votos. Para adquiri-los e livrar-se das despesas de sua compra, o demagogo "usa o poder conquistado ou adquirido para obter benefícios ( ... ). O poder custa, mas rende. Se custa, deve render. O jogo é arriscado: às vezes, custa mais do que rende, se o candidato não é eleito; mas ele rende mais do que custa" (Norberto Bobbio, "A utopia de cabeça para baixo").
E assim vive a maioria dos partidos. Max Weber diz que a diferença entre a política americana e a europeia reside no fato de que a primeira se caracteriza pela pragmática do mercado eleitoral, sob a batuta de um chefe (o boss) que negocia alianças. Os europeus seriam doutrinários. Descontada a injustiça weberiana para com os americanos, o tipo por ele referido se universaliza na crise de estado. O mercadejo eleitoral tudo vende, tudo troca, tudo compra. O Brasil piora a tendência. Após o regime de força (quando liberais e esquerdistas se uniram para lutar, por meios distintos, contra o arbítrio), a esquerda e os conservadores acentuaram seus ideários e doutrinas. Foi a hora da pureza ética, da guerra pelo monopólio da virtude. Após Sarney e o impedimento de Collor, a social-democracia subiu ao Planalto com FHC. E chegou a vez do socialista Partido dos Trabalhadores. Para garantir a "governabilidade", no entanto, surgem a feira das alianças ("É dando que se recebe"), o mensalão e outros recursos mercadológicos.
Para explicar o vezo dos oligarcas, só Nietzsche: "Eles querem o poder e, antes, muito dinheiro, a alavanca do poder. Todos eles almejam ganhar o trono. Com frequência, é a lama que está sobre o trono, e não raro o trono está plantado na lama" (Zaratustra). Tem razão Nietzsche, basta rever a foto de Lula e Maluf: nela, aparece o lado real da mentira ideológica. Antonio Donato, coordenador da campanha do petista Haddad, explica: "Quem está neste jogo tem de jogar o jogo que existe, e não o do mundo ideal, que não existe". Com defensores desse naipe, o Leviatã será enterrado no Brasil. Diagnóstico da moléstia que o levará à cova? Esclerose mental.

Todo mundo quer propina - WALCYR CARRASCO

REVISTA ÉPOCA

Falamos muito de corrupção na política. Mas o "por fora" corre como sangue nas veias da sociedade brasileira 


Tive uma amiga que foi diretora de uma fábrica de relógios populares. Durante uma pizza, me contou satisfeita:

- Conseguimos uma superencomenda de uma rede de supermercados. Elogiei sua competência. Ela riu.

- E esperteza! Revelou que já conhecia o responsável pelas compras por meio de outra empresa onde trabalhara, na área de vendas.

- Com ele tem jogo. Em um fim do ano, lhe demos um carro. Em outro, uma viagem ao exterior com toda a família. Agora foi só chegar e dizer: vamos fazer um joguinho?

Fiquei pasmado. Sempre trabalhei como jornalista e escritor. Nunca como executivo de uma fábrica. Conversando mais um pouco, descobri que é "normal"que responsaveis pelas compras recebam um "por fora". Não tenho estatísticas. Prefiro acreditar que há um grande número de profissionais honestos, que pensam somente no preço fmal para o consumidor. Mas a corrupção corrói o dia a dia.

Falamos muito de corrupção na política. Escândalos acontecem o tempo todo. Do suborno cotidiano mal se fala. E um "imposto" extra sobre o que pagamos em supermercados,lojas de rede. Direto, quando sugerido pelo funcionário. Indireto, se é estabelecido pelo responsável pelas compras ao escolher os fornecedores. Nesse último caso, seria ingenuidade achar que o valor da propina não afete o bolso do consumidor. Além de conviver com uma carga tributária altíssima, somos obrigados a suportar esse "imposto" extra.

É difícil não conviver com o banditismo entranhado no corpo da sociedade. Eu frequentava um restaurante luxuoso em São Paulo. Entregava o carro ao manobrista e ele me dava um recibo, para pagar com a conta. Nas últimas vezes, pedi:

- Cadê o papelzinho?

- O senhor não precisa - disse o valet.

Claro que, ao sair, dei gorjeta. A situação se repetiu outras vezes. Então caiu minha ficha. O rapaz não me dava o recibo para eu não pagar o estacionamento do restaurante, e ele próprio embolsar a gorjeta. Eu o ajudava a roubar o restaurante! Não voltei mais lá. Que fazer quando for? Discutir para pegar o recibo? É uma situação simples. Mas que demonstra como estamos cercados pela roubalheira.

Certa vez estava em Santos, no litoral paulista. Acompanhei um primo na visita a um amigo de férias na praia. Para minha surpresa, o primo aproveitou para finalizar a encomenda de uma carga de produtos químicos para a empresa onde o amigo era executivo. Acertaram quantidade e preço. Então, na frente da mulher, dos filhos e até de mim mesmo, que nem sequer conhecia, o amigo perguntou:

- E o meu?

Meu primo respondeu tranquilamente.

- Já está na conta: 30%.

Fiquei furioso por ser levado a testemunhar a situação. Mais tarde, reclamei com meu primo. Ele disse:

- Se eu não fizer isso, não vendo nada. Todo mundo quer propma.

A corrupção corre como sangue nas veias da sociedade brasileira. No passado, o ministério e secretarias de Educação de cidades e Estados compravam livros e enviavam a escolas. Isso continua acontecendo. Mas criou-se também um "vale livro". Os responsáveis pelas escolas recebem uma determinada quantia em vales para comprar diretamente os títulos de sua preferência em feiras e salões literários. A ideia não poderia ser melhor, pois descentraliza a escolha. Pelo menos é o que eu achava. O responsável pelos estandes de uma grande livraria me contou que é comum a exigência de um acordo. Quem vai fazer as compras exige um"por fora". Em troca, gasta tudo o que tem numa só livraria ou editora. carro. É o cúmulo, mas não podia deixar de vender, disse. Também quero frisar: a maioria das educadoras não faz isso. Tenho bastante intimidade com feiras e salões literários para garantir. Mas acontece. E a boa intenção da ideia vai para o lixo.

Há tanta corrupção que a gente nem tem mais consciência que é. Já vi cliente dar gorjeta ao açougueiro do supermercado para garantir um filé melhor. Tem quem dê gorjeta ao maître para passar na frente da fila de espera de restaurante. Colunistas sociais espalhados pelo país elogiam quem dá presentes. Alguns médicos da rede pública pedem um extra para operar um necessitado. Tem até uma senha: PE E por aí vai.

Faço um esforço diário para evitar esse mundo onde ter vantagem é tudo. Só vejo uma saída: denunciar os safados a quem de direito. Tolerância zero para a corrupção! Mesmo que o corrupto seja aquele vizinho tão simpático.

O país já cansou de Lulas e Malufs - EDITORIAL REVISTA ÉPOCA

A fotografia de Lula ao lado de Maluf despertou indignação. Ela justapôs o ex-presidente em cujo mandato vicejou o maior escândalo de corrupção da história recente do Brasil ao ex-governador de São Paulo na lista dos procurados por lavagem de dinheiro pela Interpol. Diante de uma imagem dessas, é natural que o brasileiro sinta desânimo diante da política e dos nossos homens públicos. Isso é bom. Revela que nosso país está incomodado com a corrupção.

Os corruptos estão presentes não apenas nos gabinetes de Brasília ou nas antessalas do poder. Eles aparecem em todos os modelos, tamanhos e classes sociais - de gerentes de compras a manobristas; de colunistas sociais a médicos da rede pública. "Há tanta corrupção que a gente nem tem mais consciência que é" escreve Walcyr Carrasco em sua coluna na página 96. "Já vi cliente dar gorjeta ao açougueiro do supermercado para garantir um filé melhor."

Por causa desse traço cultural, os escândalos de corrupção acabam dominando a cobertura política na imprensa brasileira. Tal cobertura é fundamental para o fortalecimento das nossas instituições, uma vez que é preciso conhecer quem são e como agem os corruptos para poder combatê-los. O maior exemplo recente disso resultou na CPI que investiga os braços da organização criminosa montada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira. Hoje, a CPI se debruça sobre as contas da empreiteira Delta, que irrigava o esquema de Cachoeira com o dinheiro que recebia de contratos públicos. A reportagem da página 36 revela novas suspeitas que comprometem ainda mais a Delta com Cachoeira.

A tolerância com as transgressões é, segundo nosso articulista Roberto DaMatta, um traço cultural do brasileiro (leia seu artigo na página 14). Praticamos, nas palavras dele, "um individualismo que se curva diante das relações, dos parentes e dos amigos". A tolerância tem um lado positivo, pois fez do Brasil um país mais aberto em questões étnicas ou religiosas. Mas ela também cobra seu preço. Na tolerância com os delitos está a raiz da impunidade. Isso precisa mudar."Não dá mais para, com os amigos e partidários, furtar o dinheiro de todos", escreve DaMatta. Espera-se que os parlamentares da CPI do Cachoeira não sucumbam ao lado nefasto da nossa tolerância e sejam rigorosos na apuração dos desvios de dinheiro. O país já cansou de Lulas e Malufs.

Na trilha dos milhões da Delta - REVISTA ÉPOCA

Época identifica no Rio de Janeiro uma rede de empresas sonegadoras de impostos. Uma delas recebeu dinheiro do esquema cachoeira-Delta, seguindo o mesmo padrão adotado pelo grupo no Distrito Federal


Hudson Corrêa, Marcelo Rocha e Murilo Ramos

Desde que descobriu que R$ 40 milhões saíram das contas da construtora Delta, sediada no Rio de Janeiro, para empresas de fachada, a CPI do Cachoeira patina na investigação da lavagem de dinheiro. A apuração pode esbarrar até em caixa dois de campanhas eleitorais, possibilidade que tira o sono de muitos políticos. A Delta tinha contratos milionários com órgãos públicos. Em troca, pode ter desviado recursos do Erário para a corrupção. Enquanto a CPI não sai do lugar, Época descobriu no Rio de Janeiro uma teia que sonegou R$ 300 milhões em Imposto de Renda e contribuições para a Previdência entre os anos de 2000 e 2004. Essa nova rede, até agora desconhecida dos parlamentares, está ligada a uma empresa fantasma já investigada pela CPI. A movimentação ilegal ocorreu dentro do período que a CPI se propôs a apurar: os últimos dez anos.

A peça-chave da rede carioca chama-se Flexafactoring Fomento Mercantil, empresa que recebeu pelo menos R$ 120 mil do esquema Cachoeira-Delta entre 2010 e 2011. Ela poderia passar despercebida no universo de 29 empresas a investigar, não fosse um dos responsáveis por essa empresa acusado de sonegar R$ 300 milhões. Esse personagem, o empresário Mario Cezar de Moraes Godinho, aparece como testemunha de criação da Flexafactoring. Uma das sócias da firma, Tatiana Correia Rodrigues, de 26 anos, mora no Encantado, bairro de classe média baixa no Rio. Está desempregada e com seis meses de aluguel, no valor de R$ 250, atrasados. No papel, consta que ela investiu R$ 60 mil na Flexafactoring.

"Nunca ouvi falar de Godinho. É muito dinheiro para mim", diz Tatiana.

No mesmo Encantado, ficam os endereços dos donos de outra das 29 empresas usadas nas transações financeiras do grupo de Cachoeira, a Zeus Administração e Assessoria, que recebeu uma quantia ainda maior do esquema: R$ 176 mil.

O empresário Mario Godinho é um mistério. Tem 76 anos e aparece como sócio de oito empreendimentos que também devem ao Fisco. A Procuradoria da Fazenda Nacional e o Ministério Público Federal moveram processos contra ele e quatro empresas suas acusadas da sonegação milionária. Nas outras quatro empresas das quais Godinho é sócio, o golpe no Fisco ainda é desconhecido. O paradeiro de Godinho é uma incógnita. A Justiça resolveu intimá-lo por edital publicado na imprensa. No encalço de Godinho, oficiais de justiça já fizeram uma peregrinação ao Encantado e a Ipanema, na zona Sul carioca, onde também havia um endereço ligado ao nome de Godinho. O único bem encontrado em seu nome foi um Fiat Uno, ano 1994, com uma multa de trânsito vencida por estacionar na calçada.

As outras quatro empresas de Godinho com dívidas milionárias foram localizadas. Em 2000, ele abriu a PL Administração e a Assessoria financeira Iups, ambas em parceria com o sobrinho Marlos André, cujo paradeiro também é desconhecido. As duas empresas, abertas para movimentar dinheiro e operar cartões de débito, sonegaram R$ 216 milhões, segundo a Procuradoria da fazenda. Pelo cadastro da receita federal, elas têm o mesmo endereço no encantado. No local, há um sobrado de três andares à venda, e ninguém diz conhecer Godinho. Em julho de 2001, ele transferiu a empresa lups para o nome de dois laranjas: Carlos Alberto Siqueira e Tânia Germano Siqueira. Tânia mora numa vila de casas de classe média baixa a poucos metros de onde deveria estar a sede da empresa. Carlos Alberto tem endereço na Penha, mas também não foi localizado. Procurada por Época, Tânia, de 54 anos, disse desconhecer sua participação em qualquer sociedade. Também para o nome dela, Godinho transferiu em abril de 2002 a MG Administração, da qual a Fazenda Nacional cobra uma fatura de R$ 60 milhões. O Ministério Público Federal move uma ação penal contra Godinho, seu sobrinho Marlos André e as laranjas Tânia e Carlos Alberto, suspeitos de crime contra a ordem tributária, com pena de dois a cinco anos de prisão.

No coração do esquema Cachoeira, o Centro-Oeste, o padrão de circulação de grandes somas de dinheiro se repete. A comerciante Roseli Pantoja da Silva, de 33 anos, é uma das sócias da Alberto e Pantoja Construções e Terraplenagem Ltda. A empresa é a principal das criadas e usadas pela turma do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, para escoar dinheiro recebido pela Delta - grande parte vinda de contratos com o governo federal. A Alberto e Pantoja foi usada para desviar cerca de R$ 30 milhões recebidos pela Delta. A Polícia Federal suspeita de que Roseli tenha sacado o equivalente a R$ 5,2 milhões desse montante em 66 operações. Na busca por informações, a PF investiga outra identidade de Roseli, Rosely Pantoja da Silva, com "y". A empresária laranja tem ainda dois CPFs diferentes. Há três meses, a Delta é questionada sobre que serviços a Alberto e Pantoja prestou para merecer tanto dinheiro. A Delta não responde. Procurado por Época, o ex-diretor para o Centro-Oeste Cláudio Abreu informou que não comentaria as ações de Roseli.

A Alberto e Pantoja foi registrada em fevereiro de 2010 na Junta Comercial do Distrito Federal com documentos fraudados. Segundo Geovane Martins, tabelião do cartório de Gama, cidade próxima a Brasília, a cópia do contrato de constituição da Alberto e Pantoja apresenta sinais evidentes de falsificação. Os carimbos usados não seguem o padrão do cartório, e a assinatura do escrevente responsável não coincide com a original. O ato de constituição da empresa apresenta as assinaturas de duas testemunhas. São dois irmãos donos de um escritório de contabilidade. Diante da reportagem de Época, um deles exibiu documentos e assinou para mostrar que sua letra era diferente da registrada nos documentos da Alberto e Pantoja. Mesmo com tantas inconsistências, a turma de Cachoeira levou a papelada até a Junta Comercial do DF e saiu de lá com o registro da Alberto e Pantoja. O grupo ainda se valeu de uma carteira de identidade falsa de Roseli. Para completar, no endereço da Alberto e Pantoja informado à Junta Comercial funciona uma oficina mecânica.

O contador Gilmar Carvalho Moraes é ex-marido de Roseli e responsável, segundo documentos em poder da CPI, pela declaração de Imposto de Renda da Alberto e Pantoja relativa a 2010. Naquele ano, a empresa recebeu R$18 milhões da Delta e distribuiu os mesmos R$ 18 milhões. Moraes afirma que seu nome e o de Roseli foram usados por falsários para abrir a empresa. Segundo ele, Roseli mora em São Paulo e tira seu sustento de vendas ocasionais. "A gente não tem nada a ver com Cachoeira", diz. Moraes afirma que Roseli e ele não tiraram proveito das movimentações financeiras. "Estamos na pior." Ao que parece, todos estão. Até mesmo Fernando Cavendish, que alegou estar perto da falência. Ninguém admite ter visto a cor dos milhões distribuídos pela Delta. Não há dúvidas de que eles existem. Falta encontrar seu destino final.

O fiasco do Lula+90 - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA 

O que se faz por 90 segundos na televisão? Chamam de propaganda gratuita, mas já saiu caro o minuto e meio que Lula ganhou na telinha, em sua luta pragmática pelo poder em São Paulo. O preço alto nada tem a ver com a aliança explícita entre o PT e o PP, mas com a figura do aliado. Haddad o Novo apareceu com sua carinha de lebre entre duas raposas, Lula e Maluf. Saiu amassado da história.

Conta assim Esopo: uma lebre encontrou com a raposa da qual só conhecia a fama. Perguntou: "Na verdade ganhas mesmo muitas coisas ou tu as tens porque teu nome é raposa?". Responde esta: "Para tirar as dúvidas vem à minha casa onde vou servir um almoço". Quando entrou na toca da raposa, verificou tarde demais que ela, lebre, era o almoço! A própria lebre conclui: "Na minha desgraça, finalmente descobri que a fama da raposa não vem do mérito, mas da astúcia".

Como na fábula, assim se deu o encontro, cuja foto não aparece no site do Instituto Lula, mas será explorada por adversários na campanha pela prefeitura em São Paulo. Maluf, "símbolo da pouca-vergonha nacional" segundo o Lula barbudo de 1984, condicionou a aliança a uma feijoada com refrigerantes e pudim em sua casa, com direito a foto nos jardins (leia mais na reportagem da página 42).

Em 1993, Maluf comparou Lula a uma "ave de rapina que não trabalha há 15 anos e não explica como vive".

Mas, "por amor a São Paulo", decidiu lular e passou a mão na cabeça de Haddad o Novo para que todos os fotógrafos registrassem o gesto do padrinho. Levantou o dedo polegar e sorriu seu sorriso de raposa procurada pela Interpol.

Quem comeu quem afinal? Quem vai rir por último? A indigestão tirou de cena a vice socialista Erundina, que achou "abominável" o encontro com o inimigo. Maluf destruiu o slogan criado por João Santana para Haddad: "Um homem novo para um tempo novo". Lembrei-me de O bebê de Rosemary, de Roman Polanski. Não parece?

A operação abafa foi intensa. O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, afirmou que houve apenas "uma troca de cargos" no acordo com o PP de Maluf. "Não houve dinheiro", disse Carvalho.Ah,bom. O esclarecimento se faz necessário diante do personagem.

O verbo malufar, associado a roubar, ultrapassou fronteiras e ganhou o mundo. "De tanto malufar, os Maluf foram presos", escreveu o jornal Le Monde em 2005, quando o ex-prefeito e seu filho foram detidos pela Polícia Federal. Segundo a PF, coagiram uma testemunha que os acusou de chefiar empresas offshores e contas bancárias em seis países.

O apoio de Maluf era disputado tanto pelo PSDB de Serra quanto pelo PT de Haddad até uma semana atrás. Ambos os candidatos queriam mais "inserções" na TV. Que se lixassem os princípios, as siglas, as histórias dos partidos, os programas de governo. Serra já tinha como aliado o PR, maior parceiro do governo Lula no escândalo do mensalão. Uma promiscuidade de fazer inveja ao Bataclan da Ilhéus de Nacib e Gabriela.

Lula prometeu a Maluf mais do que Serra. Prometeu um cargo no Ministério das Cidades. Lula malufou porque, nas palavras serenas do sociólogo petista Emir Sader, citado no jornal Folha de S.Paulo, "o fundamental é derrotar a tucanalha". É vergonhoso que, mesmo fora da Presidência e convalescendo de um câncer agressivo, Lula continue a rasgar todas as bandeiras éticas de um partido que chegou a ser visto como a esperança para renovar a política no Brasil.

Os mais calejados perguntam. Por que a surpresa? Ao lado de Sarney, Collor, Jader e Renan, ou abraçado ao iraniano Mahmoud Ahmadinejad, Lula reescreveu sua história em oito anos de governo. Confessou-se metamorfose ambulante. É viciado na falta de regras do jogo político brasileiro.

Seria interessante saber como Dilma engole os afagos entre Lula e Maluf - o homem que, quando governava São Paulo em 1979, a poucos dias da Lei da Anistia, formalizou a instalação do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações) num terreno do governo de São Paulo. "As marcas da tortura sou eu", disse Dilma. "Me deram um soco e o dente deslocou-se e apodreceu." O novo amigo de Lula é um soco no estômago de petistas históricos. Mais um.

Maluf diz que Lula não impôs restrição a que ele apareça na propaganda de TV: "O tempo é meu e sou proibido de aparecer?" Faz sentido. Haddad já chama malufistas de "companheiros". E assim o PT faz mesuras e ouve calado as lições de Maluf: "Não tem mais no mundo esquerda e direita. O que tem hoje é "efficacité" (eficácia em francês)". Argh.

Se a Rio+20 pecou por falta de ambição, o Lula+90 peca por excesso. A foto já histórica dessa aliança simboliza a política do ferro-velho. Ela polui e contamina mais o ambiente no Brasil do que muitos esgotos a céu aberto. Saneamento já.

Voz do Brasil até quando? - EUGÊNIO BUCCI

REVISTA ÉPOCA



O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), prometeu que colocará em votação na semana que vem o projeto de lei que "flexibiliza" o horário de transmissão da Voz do Brasil. Trata-se apenas de uma promessa, é verdade, mas talvez acabe virando uma boa notícia.

Você, leitor, certamente não ouve a Voz do Brasil, mas sabe do que se trata. É aquele programa que as emissoras de rádio do Brasil inteiro são obrigadas a veicular diariamente, às 19 horas. Está aí desde a era autoritária de Getúlio Vargas. Criada nos anos 1930, a Voz se mantém no ar até hoje, embora não tenha ouvintes, a não ser os acidentais. Um anacronismo, uma excrescência. A obrigatoriedade de transmissão de um programa de rádio estatal, diário, com uma hora de duração, é algo que não se vê em nenhuma outra democracia, a não ser esta nossa, aqui. Já era mais do que tempo de acabarmos com essa obrigatoriedade.

E vamos acabar com ela? Ainda não. O projeto que tramita na Câmara dos Deputados não extingue a obrigatoriedade, apenas a "flexibiliza". Vamos, pois, tomar um pouco de cuidado com o otimismo e, principalmente, com esse verbo, "flexibilizar". O linguajar dos legisladores brasileiros, como bem sabemos, vive de "flexibilizar" o léxico. No ambiente parlamentar, o referido verbo é deveras escorregadio. No Poder Executivo também. O Brasil já teve ministros de Estado que falavam em "flexibilizar os preços" quando adotavam medidas para simplesmente aumentar os preços. Portanto, convém perguntar: o que quer dizer "flexibilizar"?

Em se tratando de Voz do Brasil, quer dizer mais ou menos o seguinte: tudo continua como está, mas a faixa horária se alargará um pouco mais. Explicando: se aprovado, o projeto que Marco Maia promete pôr em votação na semana que vem apenas deixará as emissoras um pouco mais à vontade, com a moderada liberdade de iniciar a transmissão do programa entre 19 e 22 horas. Fora isso, o "noticiário" estatal continuará obrigatório, como sempre foi.

"Flexibilizar", enfim, significa inaugurar a curiosíssima figura jurídica da obrigatoriedade-flex, que vem para amolecer (um pouquinho) a dura Lex.

E olhe que, mesmo essa inofensiva e inodora obrigatoriedade-flex, tem sido difícil de conquistar. Ou impossível. Há décadas surgem propostas e mais propostas para diminuir a tirania do horário fixo do mais antigo programa de rádio do país. Todas, invariavelmente, trombam na muralha do silencioso consenso da ampla maioria do Congresso Nacional. Os parlamentares, na média, não querem mudar nada. Como a Câmara e o Senado rateiam entre os nobres parlamentares meia hora diária da Voz do Brasil, centenas de deputados e senadores acreditam que a exposição que têm no programa os promove junto aos ouvidos de seus eleitorados. A partir dessa crença, raciocinam: por que abrir mão dessa exposição? A troco do quê?

A muralha de resistência não está no governo, que domina sozinho a maior parte do tempo do "noticiário" obrigatório. Está no Poder Legislativo. Nossas casas legislativas são as responsáveis por prender a radiodifusão nacional ao passado - a um passado sombrio.

São poucos, mas há também cidadãos de boa-fé que defendem a obrigatoriedade da Voz do Brasil como um serviço público de notória utilidade. Para eles, ela seria uma janela, uma abertura para o poder público dialogar com a sociedade diretamente, sem intermediários. Argumentam de boa-fé, mas estão enganados. Dentro de uma concepção mais antiga de Estado, ainda anterior à Segunda Guerra Mundial, o argumento talvez procedesse. Naquele tempo, o horário nobre do rádio era das 7 da noite, não das 7 da manhã, como hoje. Na velha concepção, caberia ao Estado orientar a sociedade e, pelas ondas eletromagnéticas, a nação poderia se integrar, perfilada, ao som da voz de seu líder máximo. Isso traria unidade, força e coesão para a nacionalidade.

Mas esse tempo não existe mais. Atualmente, mesmo aqueles que reclamam que a Voz do Brasil deveria permanecer, como um "direito de expressão" do governo, estão enganados. O governo e, de resto, o Estado não têm "direito" de informar. Eles têm o dever de informar - e já contam com ferramentas abundantes para isso. A Voz do Brasil não cumpre esse papel. Ela só sobrevive - sem audiência - como propaganda indevida. Apenas isso.

Mesmo assim, se conseguirem "flexibilizar" o horário em que ela deve ir ao ar, teremos uma boa notícia. O velho bordão será também "flexibilizado": "Em Brasília, 19 horas. Ou 20. Ou 21. Ou 22"

A espera do João - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 25/06

Gente próxima a João Gilberto, 81 anos, diz que ele recebeu o livro a seu respeito, organizado por Walter Garcia.
Teria se impressionado com a dimensão e seriedade, mas ficou na dúvida se gostava ou não. Continuará lendo até formar opinião. As pessoas mais próximas sempre lhe repetem que o livrão de 512 páginas é sensacional.

Em tempo...

A obra era para ser lançada em 2011, quando o grande mestre completou 80 anos.
Mas a editora Cosac Naify segurou, esperando um “OK” do músico, que não chegou. Resolveu editar assim mesmo.

Dia D da CSA
O processo de transferência de controle da CSA, no Rio, deve ir até o dia 30 de setembro.
O pessoal do setor acha que, nesta altura, quem tem mais condições de assumir a parte da ThyssenKrupp na usina são grupos chineses ou coreanos.

Aço que segue...
Mas alguns empresários daqui olham o negócio. Um deles é Benjamin Steinbruch, que comprou a CSN e transferiu sua administração para São Paulo.

Filha de peixe

Rachel Crivella, filha do ministro da Pesca, Marcello Crivella, foi convidada pelo diretor Alexandre Avancini para codirigir a minissérie “José”, na Record.
Ela se formou em roteiro e direção na UCLA, em Los Angeles.

Racha argentino
Veja como, no futebol, a rivalidade clubística tem vez que supera a rivalidade entre países.
Uma pesquisa do jornalão Clarín sobre para quem os argentinos vão torcer na final da Libertadores, o Boca tem 55%, o Corinthians 41%. E aqui?

EU SEI QUE 
todo mundo já falou do assunto. Mas a coluna, queé sócia-fundadora da AAFB (Associação dos Admiradores de Fátima
Bernardes), não podia deixar passarem branco este dia histórico da televisão brasileira. Hoje estreia o "Encontro com Fátima
Bernardes", ao vivo, na TV Globo, a partir das10h40m.
Que seja feliz!

Rei dos livros

O empresário Ricardo Amaral, que já foi conhecido como Rei da Noite, mergulha fundo no mundo dos livros.
Curador da Casa da Palavra, braço da LeYa no Rio, tem trabalhado nas biografias de Ivo Pitanguy, Luiz Carlos Barreto e Chico Anysio.

Aliás...

Terça passada, ele almoçava no Gero, com o novelista Manoel Carlos, quando uma ministra de Moçambique se apresentou.
Papo vai, papo vem, a ministra pediu a um diretor da Andrade Gutierrez, que a acompanhava, que providenciasse uma visita dos dois ao país africano.

Por falar em LeYa...
A editora lança em julho uma edição comentada de “A lei do triunfo”, clássico do empreende-dorismo escrito no século XX por Napoleon Hill. É organizada pelo filósofo Jacob Pétry.

Presos marombeiros

Numa inspeção no presídio da PM, em Benfica, a promotora Isabella Pena Lucas encontrou um notebook, dois modems e... anabolizantes, além de 150 seringas para aplicar a “bomba”.

Rio+lixo
Em sete dias, foram recolhidas 12 toneladas de lixo orgânico em áreas da Rio+20. O dado é da Vide Verde, empresa de compostagem responsável pela coleta desse lixo no evento.
Tudo foi recolhido no Riocen-tro, Forte de Copacabana, Galpão da Cidadania e HSBC Arena.

Faz sentido

Quem viu foi uma coleguinha. Semana passada, na Cúpula dos Povos, uma índia e sua filha faziam o número 2 na grama do Aterro. Diante da cena no santuário de Burle Marx, a coleguinha foi lá:
— Por que a senhora não usou o banheiro químico logo ali?
E a índia:
— Tô adubando...

Censura no JobiManuel Narciso, sócio do Jo-bi, templo da boemia, é acusado de um crime hediondo.
Terça, quando, na TV do boteco, passava uma cena sensual de Gabriela, na novela da Globo, ele foi lá e... desligou. Houve quem quisesse fazer um manifesto.

No mais
O Rio mostrou mais uma vez que sabe receber eventos. Afinal, foram 500 encontros oficiais e 3.000 paralelos na Rio+20.
Rio eu gosto de você.

Redescobrimento - MARCIA PELTIER

JORNAL DO COMMÉRCIO - 25/06

A crise na Europa tem levado estrangeiros a buscar oportunidades no Brasil, especialmente os portugueses. São profissionais de alta gerência na faixa etária de 30 a 45 anos e ligados a áreas técnicas como engenharia e TI. Diretor da consultoria Hays da América Latina e Sul da Europa, Mark Bowden explica que, de cada quatro currículos que chegam à empresa, um é de Portugal. Entre engenheiros, a média tem sido de 12 contratações ao mês.

Sem revólver

O especialista em Direitos Humanos Ricardo Balestreri, ex-secretário nacional de Segurança Pública, presidirá o conselho do Observatório do Uso Legítimo da Força e Tecnologias Afins, que será criado, hoje, no Rio. Trata-se de uma organização para discutir alternativas ao uso das armas de fogo sob variados enfoques. Antes mesmo da instalação, autoridades de segurança do Canadá e dos EUA já demonstraram interesse em se reunir ao time.

Apitaço

Um novo software acoplado à balança, para impedir a venda de produtos com validade vencida, será apresentado no AutoCom 2012, a partir de amanhã, em São Paulo. É a primeira solução desenvolvida no país em respeito ao Código de Defesa do Consumidor: o programa tem um dispositivo sonoro que alerta os clientes caso o produto esteja vencido.

Quatro em um

Em visita ao Rio por causa da Rio+20, a ministra Assunção Cristas traz no cartão de visitas a preocupação de Portugal em reduzir o seu número de ministros. Ela acumula as pastas da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território. Uma de suas grandes preocupações é aumentar o número de residências em seu país que disponham de saneamento básico, atualmente na faixa dos 75%.

Feito bebê

Luciana Pittigliani será a atração de um dos episódios da série O Infiltrado, que o History Channel apresentará para toda a América Latina, a partir de setembro. No capítulo em questão, o programa mostrará a tentativa de encontrar um lar para a pequena vira-lata Baleia, achada na cracolândia de Manguinhos passando fome e traumatizada. Luciana ilustrará o modo como alguns cariocas tratam seu cãozinho de estimação, feito gente. Ela costuma passear com as cadelas maltesas Ibiza, de sete anos, e Clara, de três, dentro de um carrinho comprado em Nova York. A menor, inclusive, chupa chupeta.

Destino incerto

Apesar da insistência da produção e da meiguice da vira-lata, Luciana não topou ficar com Baleia. “Minhas cachorrinhas são muito ciumentas; Clara, tenho certeza, cairia em depressão”, conta. A equipe do History revelou que ela foi, até agora, entre políticos, artistas e socialites procurados para dar entrevista, a pessoa mais receptiva. Se ninguém quiser ficar com a cachorrinha, Baleia será enviada para a Suípa.

Curadoria britânica

O crítico de arte inglês Guy Brett está no Brasil para organizar uma exposição de art books com artistas nacionais. Ex-colunista do Times e do The Guardian, ele foi responsável por lançar nomes como Hélio Oiticica e Lygia Clark no circuito internacional. Brett passou o final de semana no Rio onde visitou a exposição da amiga Regina Vater, no Oi Futuro Flamengo. As obras dela estarão na mostra que cobrirá o período de 1960 e 1980 e abrirá, em outubro, na Pinacoteca, em São Paulo.

Nunca dantes

Griselda, que marca, hoje, a estreia da temporada lírica da OSB no Teatro Municipal, é, inexplicavelmente, a primeira ópera de Vivaldi – que escreveu 46 ou 49 óperas, os estudiosos ainda não chegaram a um acordo – encenada no Brasil. Para marcar o fato, o regente escolhido foi o italiano Marco Pace, especialista em Vivaldi, que surpreendeu os músicos da OSB nos ensaios, ao não olhar uma vez sequer para as partituras.

Coloratura brejeira

No papel principal está a mezzo-soprano Luisa Francesconi, uma bonita morena brasiliense de vasto currículo internacional que encantou o regente com seu talento. Segundo Pace, essa ópera é dificílima e raramente é montada na Itália.

Livre Acesso

O artista plástico Amador Perez, participa da exposição na Somerset House, em Londres, com curadoria de Rafael Cardoso, From the Margin to the Edge: Brazilian Art and Design in the 21st Century, um dos eventos que divulgam a produção cultural brasileira contemporânea nas Olimpíadas de 2012.

Os recém-casados Carmelo Furci, presidente do Conselho de Administração da Generali Brasil Seguros, e a empresária do ramo imobiliário Simone Stockler acabam de retornar da lua de mel em Veneza, na Itália. O casal oficializou recentemente a união em cerimônia apenas para amigos íntimos e familiares, no Rio.

A presidente da ABF-Rio, Fátima Rocha recebe, amanhã, o Prêmio Exemplo de Empreendedorismo 2012, na categoria franchising, concedido pela Facerj.

Para comemorar os 30 anos do centro oftalmológico, o Hospital São Vicente de Paulo promove a palestra Saúde dos seus olhos, ministrada pelo oftalmologista Flávio Rezende amanhã, das 9h às 12h, e destinada à população acima de 60 anos.

Jorge de Sá, da Galeria Riso, expande a arte de Romero Britto para as comunidades cariocas. Na sexta-feira ele irá ao Ciep Augusto Pinheiro de Carvalho, em Marechal Hermes, para apresentar toda a obra e a trajetória de Romero, através de vídeos e gravuras. Os alunos estão aprendendo sobre a arte do Nordeste.

O estilista Gustavo Vasques, que tem loja no Flamengo, aderiu ao grupo de empresários do Polo Rio Carioca, iniciativa com o objetivo de fortalecer e promover a gastronomia, a cultura e o comércio na cidade. Entre os bairros contemplados pelo projeto estão o Flamengo, Glória, Catete e Laranjeiras.

O restaurante Gabbiano, na Barra da Tijuca, realiza um jantar harmonizado amanhã, às 20h, com menu português preparado pelo chef Romano Fontanive.

Controle de gastos públicos e corrupção - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 25/06


Em 1995, importante jornal norte-americano mencionou que a corrupção no Brasil tinha perfil endêmico. Dicionários estampam que essa palavra pode ser traduzida como %u201Cpróprio de uma região ou população específica%u201D. Mas o que a publicação quis expressar foi que, na política brasileira, a corrupção seria algo inerente à sua natureza. Na época, a opinião provocou mal-estar entre os governantes brasileiros, com ecos no âmbito diplomático. Mas, passados 17 anos, o que se vê no país é o pipocar de escândalos em todas as esferas de poder.

Não precisamos ir longe. O Brasil assiste ao desenrolar da CPI do Cachoeira, que apura um sem-número de maracutaias engendradas pelo contraventor goiano Carlinhos Cachoeira. O Supremo Tribunal Federal(STF) marcou para 1º de agosto o início do julgamento dos envolvidos no esquema do mensalão, descoberto há sete anos. Em Minas Gerais, a PF acaba de desmantelar uma rede de corrupção em 37 municípios do norte do estado, prendendo 16 pessoas.
O mais lamentável, no entanto, é que, no dia a dia do país, a sistemática de acompanhamento e controle dos gastos públicos, sobretudo os relativos a obras, carece de mais rigor. Ou seja, os fatos são apurados, mas os envolvidos apenados pela Justiça nunca devolvem o dinheiro desviado. Não se sabe se por incompetência da polícia judiciária ou se de fato a inteligência dos corruptos é tamanha que os valores surrupiados vão parar em paraísos fiscais. No escândalo da construção do TRT-SP, quando sumiram R$ 200 milhões, foram recuperados se tanto R$ 55 milhões.

Embora enraizada na cultura política brasileira, a corrupção pode, sim, ser debelada, porém isso somente será conseguido se os órgãos de fiscalização e de controle %u2014 Tribunal de Contas da União (TCU) e afins %u2014 deixarem de ter postura meramente repressiva dos atos de corrupção e passarem a ter enfoque preventivo, para deixar anêmicos os esquemas venais no nascedouro, antes de causar danos ao patrimônio público.

Platão (427/348 a.C.) julgava a corrupção natural à democracia porque esta seria o regime do abuso, da desordem, do individualismo, do desinteresse dos cidadãos pelo bem comum. Vale discordar do filósofo grego. O ideal democrático é o da igualdade, da fraternidade, da solidariedade, da tolerância, da liberdade, mas da liberdade com regras, do governo das leis que visam à realização individual na comunhão do bem comum. Por isso, diz-se que a corrupção é o cancro da democracia.

Desprezando as leis e as instituições, violando a ética e a justiça, corrompe o ideal democrático da subordinação do egoísmo individual ao bem comum. Como fato individual, a corrupção é crime, reprime-se com a lei penal; como fato cultural, a corrupção previne-se e cura-se pela educação cívica, algo que os integrantes de uma comissão especial da Câmara dos Deputados desprezaram ao aprovar medida que garante supersalários para funcionários públicos nas três esferas.

A batalha do meio - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 25/06

O PMDB é como aquele vulcão ainda ativo que, volta e meia, entra em erupção. Desta vez, a fumaça mais forte vem do Senado


Passada a ressaca da Rio+20, tudo volta ao normal. Lá vem a CPI, a votação da cassação de Demóstenes Torres, a guerra armada entre aliados governistas na formatação dos palanques e um governo correndo para fechar o semestre e esfriar o Parlamento a fim de se dedicar ao assunto que realmente interessa à presidente Dilma Rousseff, a economia.

O problema que tem nuances maiores do que se possa imaginar é o retorno da guerra interna do PMDB, um partido visto como aquele sujeito bipolar que ninguém sabe direito para onde aponta a sua bússola. Mas algumas premissas básicas dessa disputa subterrânea o governo já conseguiu detectar.

A primeira delas está diretamente relacionada ao líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM). Os aliados dele dentro do Planalto acham que as brigas com a presidente Dilma Rousseff não chegam a ser o tsunami que muitos tentam vender. Há quem diga que por trás das versões de insatisfação generalizada por parte do Planalto a respeito do líder está a crescente queda de braço dentro do PMDB.

Os peemedebistas estão novamente na guerra de bastidores pela troca de comando. Apenas para situar quem não se recorda, no início desta Legislatura, em 2011, houve a tentativa de se formar um bloco de senadores dentro do PMDB, alguns novos, caso de Eduardo Braga, e outros de retorno ao Legislativo, por exemplo, ex-governador Luiz Henrique, de Santa Catarina.

O G8 (Luiz Henrique, Braga, Waldemir Moka, Ricardo Ferraço, Vital do Rêgo, Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos e Roberto Requião) tentou demonstrar algum poder de fogo, mas terminou diluído diante dos movimentos de José Sarney, de Renan Calheiros e de Romero Jucá. Agora, entretanto, esse grupo volta à cena com a subida de Braga para a liderança do governo.

Por falar em liderança...

A amigos, Eduardo Braga não tem escondido seu desconforto com o grupo antigo de peemedebistas que hoje não tem mais tanto poder de fogo perante a presidente da República. Há quem diga que o grupo de Sarney, embora com menos musculatura política do que nos tempos de Lula, ainda quer sustentar todos os halteres pesados dentro do Congresso, como o caso das lideranças de governo e de partido e postos-chaves nas comissões técnicas.

Em meio às disputas normais em plenário e dentro da CPI, é essa chamada “batalha do meio” que viveremos nos próximos dias. Eduardo Braga, em não sendo candidato a prefeito de Manaus, tende a permanecer no cargo e a se fortalecer perante aqueles que tentaram apeá-lo do poder. E ainda que saia da liderança, uma hipótese remota hoje, se o substituto no papel for Waldemir Moka, do PMDB sul-matogrossense, também estará caracterizada a permanência do G8 numa vaga que já pertenceu ao grupo de Renan Calheiros, quando o líder era Jucá. Ou seja, muda o personagem, mas o enredo é o mesmo: dois grupos dentro do PMDB em plena disputa de poder.

Por falar em poder...

A diferença agora é que há uma CPI em funcionamento cada vez mais inclinada a investigar as obras do governo. E, nesse contexto, querendo ou não, o grupo de Renan e Sarney tem sua importância. Não dá para deixar de mencionar que eles quebraram um pouco o G8 quando fizeram de Vital do Rêgo presidente da CPI e deram visibilidade a Ricardo Ferraço entregando-lhe relatorias importantes.

Mas é fato que o G8 começa a renovar o fôlego. Basta ver a posição de Ferraço, autor de uma ação no Senado para ter o direito de declarar o voto na cassação e Demóstenes — algo que, embora Sarney tenha colocado em pauta, não faz parte dos projetos prioritários de seu partido. Se essa guerra será para valer ou apenas mais uma das rusgas peemedebistas, o tempo dirá.

Por falar em guerra...

Quem estava no Rio de Janeiro ontem era o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. A amigos, ele disse estar em contagem regressiva para o julgamento do mensalão. “Agora, falta pouco para acabar isso. Estou preparado para a guerra.”

Novas concessões de aeroportos - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 25/06


Coincidindo com a assinatura pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), dia 14/6, dos contratos de concessão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília, a agência de classificação de risco Fitch Ratings apresentou um relatório nada animador sobre as perspectivas de crédito ao setor aéreo brasileiro. A Fitch não só afirma que companhias aéreas nacionais - sem mencionar nomes - "continuam incapazes de melhorar a rentabilidade e manter as margens de retorno em vista do aumento de custos", como considera que a concessão dos três terminais à iniciativa privada permite apenas "margem limitada de erro" - ou seja, pouca probabilidade - para poder atender à demanda durante a realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Em vista disso, a agência disse esperar que a qualidade do crédito global para o setor aéreo brasileiro se deteriore em 2012, em razão do desequilíbrio entre a geração de receitas e altos custos.

A Standard & Poor's também já havia focalizado o tema. Em março deste ano, ela estimou que as companhias aéreas que operam no Brasil transportaram 180 milhões de passageiros em 2011, número que deverá dobrar até 2030. A agência também enfatizou a urgência de o Brasil eliminar "seu déficit de infraestrutura" para atender grandes eventos esportivos.

Pode parecer uma visão pessimista, mas não mais do que a da Iata, que considerou, em fevereiro, que o valor pago pelas concessões dos três aeroportos (R$ 24,5 bilhões), somado aos investimentos previstos (R$ 16,2 bilhões), dificilmente proporcionaria um retorno adequado em tempo razoável. Isso só seria possível, de acordo com a Iata, com o aumento do preço das passagens e dos impostos.

Essas análises podem servir como subsídio para a elaboração pelo governo de um novo modelo de concessão de aeroportos. Como chegou a ser noticiado, o governo aproveitaria a oportunidade de assinatura dos contratos de concessão aos vencedores dos leilões realizados em fevereiro para anunciar a realização de novas licitações, ainda em 2012, para a concessão dos aeroportos do Galeão e de Confins. Isso não ocorreu, o que faz supor que os editais vêm sendo preparados com mais cuidado e que podem conter inovações importantes.

Pelo que se informa, o governo não tem a intenção de fazer concessões sem a participação da estatal Infraero na proporção de 49% do capital das novas concessionárias. Significativamente, tanto a Standard & Poor's como a Fitch classificam de parcerias público-privadas as concessões dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília. A Fitch observa, a propósito, que a qualidade do crédito para infraestrutura aeroportuária vai depender da capacidade de cada terminal de atender uma maior quantidade de passageiros, da diversidade das companhias em operação e da transparência da estrutura regulatória. Este último ponto se refere à necessidade de estabelecer uma distinção clara entre as atividades da Infraero e as atribuições da Anac, que em muitos casos entram em conflito ou se superpõem.

O essencial é separar o processo licitatório da questão operacional. Uma das mudanças em estudo, segundo O Globo (13/6), é a de retirar do edital a exigência de que o operador aeroportuário privado faça parte dos consórcios que disputarão os próximos leilões. Já está estabelecido que os participantes da primeira fase não poderão tomar parte na próxima. Passará a ser também obrigatório que os vencedores de futuras licitações contratem, antes mesmo da assinatura dos contratos, um gestor aeroportuário privado, com experiência em terminais com trânsito de, pelo menos, 10 milhões de passageiros por ano, o que não representa nenhum exagero - a capacidade atual estimada do Aeroporto de Guarulhos, segundo a Infraero, é de 24,9 milhões de passageiros/ano. Acredita-se, porém, que esse pré-requisito seja suficiente para evitar que empresas ou consórcios, sem o know-how indispensável para gerir grandes aeroportos, se tornem responsáveis pela parte operacional.

Papeis do divórcio - MELCHIADES FILHO

FOLHA DE SP - 25/06

BRASÍLIA - Se Lula não tivesse saído em socorro de José Sarney e ajudado a esterilizar o escândalo dos atos secretos, a presidência do Senado teria caído nas mãos do PSDB em 2010, em plena campanha eleitoral. Imagine como a oposição teria explorado a denúncia de que o comitê dilmista produziu dossiê criminoso sobre o candidato tucano. 
Não houvesse fechado acordo para reabilitar Fernando Collor, Lula enfrentaria, 20 anos depois do impeachment, dificuldades para achar outro nome disposto a se infiltrar na CPI do Cachoeira com o único propósito de atacar a imprensa. 
Se o Planalto não tivesse disparado a ordem para abafar os múltiplos processos de corrupção e salvar o mandato de Renan Calheiros, provavelmente hoje o PMDB não estaria inteirinho na coalizão federal. 
Todos esses movimentos tiveram propósito e sucesso. Na estratégia hegemonista de Lula, o custo de acolher ex-adversários é irrisório. 
Até porque os abraços de Lula não raro sufocam. Vale lembrar que os sarneyzistas estão sendo aos poucos desalojados de seus redutos no setor elétrico federal, que o bunker collorido na Petrobras acaba de ser desmontado e que Renan está prestes a perder o comando da estatal de transporte de combustíveis. 
Nada mais natural, portanto, que o ex-presidente não se incomode em afagar em público o ex-"sem vergonha" e ex-"trombadinha" Paulo Maluf, a fim de garantir 95 segundos a mais na propaganda diária de TV dos petistas em São Paulo. Nada mais natural, também, que ele não mostre nenhum pingo de arrependimento após a péssima repercussão -e até faça piada disso. 
O episódio deixou claro, mais uma vez, que existe um divórcio entre a "realpolitik" e o eleitor, hoje entregue à apatia ou à aversão. Cabe esclarecer, porém, que esse divórcio interessou muito a Lula. Foi um trunfo para o PT, mais organizado e ligado ao Estado, crescer sozinho. 

Farejando Watergate - RUY CASTRO


FOLHA DE SP - 25/06

RIO DE JANEIRO - Certa vez, trabalhei com um homem que sabia tudo: R. (Raimundo) Magalhães Jr.. Foi na "Manchete", de 1970 a 1973. Além de jornalista, Raimundo era autor de livros sobre a vida e obra de Machado, Alencar, Bilac, Augusto dos Anjos, João do Rio -mais obra do que vida- e de "Rui, o Homem e o Mito", que demolia Rui Barbosa. E era também da Academia Brasileira de Letras. Normal, naquele tempo, a Redação da "Manchete" contar com um sólido acadêmico.

Quando entrei lá, tinha 22 anos e Raimundo, 63, mas me acolheu como um igual. Sem perceber, eu e Carlos Heitor Cony, que nos sentávamos às suas costas, o fumigávamos de 9 às 6 com nossos cigarros, para suplício de Raimundo, que acabara de encerrar sua carreira de 50 anos como fumante. Ele gostava de contar como, trabalhando em NY na Segunda Guerra, visitara Marlene Dietrich, que se orgulhava mais de seu macarrão do que de ter filmado "O Anjo Azul". Raimundo provou o macarrão de Marlene e concordou.

Numa Redação de grandes nomes, era a ele que eu recorria quando não sabia quem era alguém ou o significado de algo em inglês, como "the real McCoy". Raimundo ensinava e dizia que a expressão nascera de uma peça americana do século 19, em que havia um verdadeiro e um falso McCoy. E ainda dava a ficha da peça.

Até chegar o dia, nessa exata época do ano, em 1972, em que uma pergunta minha o embatucou. Eu traduzia as crônicas de Art Buchwald na "Manchete" e, numa dessas, Art fez uma vaga referência a Watergate. Deu-me um branco. Fui a Raimundo. E ele também não sabia.

Na verdade, quase ninguém sabia. O próprio Buchwald apenas ouvira falar de um arrombamento na sede do Partido Democrata, no edifício Watergate, em Washington, no dia 17 de junho, e farejara um rato. Logo todo.

Cúpula constrangida, sem Lugo e com China - SÉRGIO LEO

VALOR ECONÔMICO - 25/06




 A crise no Paraguai deu nova dimensão à reunião de cúpula do combalido Mercosul, no próximo fim de semana. Há poucos dias, era a China que prometia ser a grande novidade no encontro, por ter apresentado uma proposta - convenientemente mantida sob sigilo, até agora - de acordo de livre comércio com o bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Curiosamente, a Argentina insistiu para levar a proposta da China à cúpula, talvez pela falta de agenda que justifique o encontro de presidentes. 
Com a crise no Paraguai, é a reação dos governos do Cone Sul à situação do país vizinho, a ser tomada nesta semana, que dominará o encontro. Embora o governo brasileiro insista que o que está em jogo não é a blindagem do mandato do presidente paraguaio, mas a defesa de processos democráticos na sucessão de poder entre os países do continente, a confirmação da saída de Fernando Lugo, decidida pelo Senado, priva o Brasil de uma peça importante no jogo geopolítico regional. 
Lugo, um bispo afastado da Igreja Católica com incontrolável compulsão aos pecados da carne (são pelo menos dois os filhos reconhecidos na Justiça), é, porém, até prova em contrário, honesto em matéria de dinheiro, coisa rara pelas redondezas. Realizou também uma gestão responsável no governo e, mais importante, o Brasil contava com Lugo como aliado nas disputas dentro da Unasul - em matéria de finanças e decisões nos órgãos multilaterais. 

Confusão paraguaia salva a reunião do bloco da quase irrelevância
Pertencente ao grupo mais à esquerda (com Venezuela, Equador, Bolívia, Argentina e, agora, Peru), o paraguaio deposto muitas vezes fortalecia posições mais moderadas em matéria econômica, do Brasil e dos governos conservadores do Chile e da Colômbia. 
A ascensão ao poder do vice-presidente liberal Frederico Franco cria enorme mal-estar, já que seria ele, teoricamente, a representar o Paraguai na cúpula dos chefes de Estado, em Mendoza. 
De forma bizarra, a confusão paraguaia salva a reunião do Mercosul da quase irrelevância. Nos últimos meses, os argentinos tentavam apontar alguma medida de destaque para marcar a reunião do Mercosul sob a presidência do país. A Argentina mudou toda a representação do país no Mercosul para ajustá-la ao mergulho protecionista pilotado pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, e abandonou qualquer ação de fortalecimento do bloco nos últimos meses. Não tinha muito o que levar a Mendoza nesta semana. 
Contra a resistência do governo brasileiro, os argentinos insistiram em incluir na agenda da cúpula o acordo proposto pelos chineses, que sugere medidas capazes de conduzir a um acordo de livre comércio com o bloco. O Brasil, que, durante a Rio+20, anunciou um importante acordo com os chineses para fortalecer mutuamente as respectivas reservas em moeda estrangeira, trabalhou nos bastidores para esvaziar a proposta para o Mercosul, na correta avaliação de que nem a Argentina tem interesse em facilitar agora a entrada de mercadorias chinesas na região, nem aceitaria as condições que a China costuma incluir em projetos de investimento como os previstos no documento entregue ao bloco. 
"Inconveniente" foi como uma autoridade brasileira classificou, em conversa reservada, o acordo proposto pela China. Há interesse pela aproximação com os chineses, forte até, mas em tratativas bilaterais, ou em outras esferas, como no acordo dos Brics (Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul) para reforço mútuo de reservas internacionais, alardeado durante a reunião do G-20, no México, e complementado pelo anúncio, na Rio+20, de acordo entre brasileiros e chineses para permitir uso compartilhado das respectivas reservas em moeda estrangeira, contra emergências. 
Paraguai e Uruguai animaram-se com a perspectiva de abrir-se aos chineses, fazendo lembrar os tempos em que os dois sócios menores do Mercosul excitavam-se com a perspectiva de um acordo de livre comércio com os Estados Unidos, na Área de Livre Comércio das Américas. 
A discussão sobre China no Mercosul serve para mostrar que, mesmo desacreditado, o bloco entra no cálculo estratégico de atores importantes, ainda que nem sempre da maneira como desejaria o governo brasileiro. 
Será, por todos os motivos, inédita essa próxima reunião do Mercosul, que também receberá uma Dilma Rousseff aparentemente mais empolgada com o papel de estadista internacional. Dilma vem de uma semana em que patrocinou uma instantânea reunião da Unasul contra a crise no Paraguai; forçou, com palavras duras, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki Moon, a retratar-se de críticas que havia feito ao documento final da Rio+20; fechou acordo financeiro com China; e até quis enquadrar uma ministra da Dinamarca, com quem se desentendeu na conferência do Rio. Parece estar tomando mais gosto pela política externa. 

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 25/06

Construção planeja rever crescimento estimado

As previsões de crescimento no setor da construção para este ano devem ser revistas em breve.

No mercado de material para obras, que abrange itens como vidros, pisos e telhas, já foi feita uma revisão da expectativa de 5% para 3,4%, segundo a Abramat, associação que reúne a indústria.

Novos cálculos para baixo podem ser realizados se as vendas não reagirem.

"Pensávamos que íamos crescer 5%. Mas nos primeiros meses do ano foi 2,7%. Mesmo para atingir 3,4%, vamos ter de crescer a taxas altas agora", diz Walter Cover, presidente da entidade.

Uma sondagem realizada entre as empresas indica que, em maio, 56% consideraram as vendas regulares ou ruins. As pretensões de investimento no médio prazo neste mês caíram para 61% ante a média de 75% em 2011.

"Mas a capacidade instalada mostra alguma recuperação em junho", diz Cover.

O segmento mais sensível foi o de vendas no varejo, segundo a entidade.

"O varejo sofreu. O consumidor está com a impressão de que deve postergar as compras. O setor imobiliário continua aquecido", afirma.

A construção civil ainda não tem preocupação para 2012, segundo Sergio Watanabe, presidente do SindusCon-SP. Mas há receio para 2013.

"O desempenho do PIB nacional se refletirá no setor. Há uma desaceleração. Ainda não é queda", diz Watanabe, que também já considera a possibilidade de rever a expectativa de crescimento.

"No começo do ano, calculamos que haveria aumento de 5% em 2012. Se for revisto, ficará entre 4% e 5%."

Construção no aguardo

A construtora e incorporadora Kallas investirá ao menos R$ 300 milhões em novos empreendimentos até o final deste ano.

O valor exato dos aportes depende da aprovação da Prefeitura de São Paulo a alguns projetos da empresa.

"Os órgãos governamentais não estão devidamente aparelhados para a função. Com as investigações do Ministério Público, o processo fica ainda mais lento. Investiremos até R$ 600 milhões neste ano", diz o presidente da companhia, Emílio Kallas.

Em Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, a empresa construirá em 12 meses um shopping com 23 mil m2 de área para locação e 1.500 vagas de estacionamento.

"Nos unimos a um grupo de investidores de São Paulo, que era proprietário do terreno. A maior parte do aporte de R$ 100 milhões será nossa", diz Kallas.

O empreendimento terá mais de cem lojas e um hipermercado com 8.000 m2.

Os principais concorrentes da companhia são Racional e Hochtief.

Números

R$ 114 milhões foi o Ebitda da companhia no ano passado
6.000 funcionários entre diretos e indiretos
R$ 286 milhões foi a receita líquida da empresa em 2011
20 é o número de obras que a companhia está tocando

Política fiscal pode virar 'falha geológica', diz economista

Os altos gastos do governo federal e a política de concessão de crédito via BNDES podem causar "falhas geológicas" na economia brasileira, segundo o indiano Raghuram Rajan, ex-economista-chefe do FMI e professor da Universidade de Chicago.

O termo "falhas geológicas" é uma referência ao seu livro "Fault Lines" (que no Brasil foi traduzido para "Linhas de Falha"). Na obra, Rajan descreve as tensões que geraram a crise de 2008.

Segundo o professor, problemas econômicos brasileiros poderão virar rachaduras se a política fiscal continuar expansionista para manter o crescimento do país.

"Não seria melhor desenvolver mais o setor financeiro para que os bancos pudessem realizar empréstimos com 'spreads' [diferença entre a taxa de captação paga pelos bancos para obter recursos e a cobrado dos consumidores] menores?", questiona.

Rajan estará em São Paulo na quinta para participar do Congresso Brasileiro do Aço.

Casa financiada

A proporção de imóveis residenciais usados comprados com financiamentos triplicou nos últimos sete anos na capital paulista.

Levantamento da Lello mostra que 45% das unidades vendidas entre janeiro e maio deste ano foram financiadas por bancos. Em 2005, os empréstimos para aquisição de imóveis usados representavam 15% do total.

As vendas desse modelo de imóvel cresceram 14% nos cinco primeiros meses deste ano, ante igual período de 2011, segundo a administradora.

Números
15% dos imóveis residenciais usados eram comprados com financiamentos em 2005
30% do total das aquisições hoje são realizadas com empréstimos bancários

Integração

O grupo BB e Mapfre investirá R$ 40 milhões para implantar um novo sistema de gestão que integrará e unificará as operações de todas as áreas da companhia, criada há cerca de um ano.

O processo, que tem o objetivo de aumentar a eficiência operacional do grupo, deve acabar até o final de 2013.

"Antes eram sete seguradoras com três estruturas separadas. O investimento será recuperado rapidamente, em dois ou três anos", diz Carlos Landim, diretor de Planejamento do grupo.

Retorno... Desde a proibição das sacolinhas nos supermercados, a moda no setor de brindes foram as bolsas retornáveis de tecido ou outros materiais. Bonés e "pen-drives" já foram moda anteriormente.

...da sacola De acordo com Luiz Salvador, diretor da feira do setor Promo Bríndice, mais de 60 milhões de bolsas retornáveis devem ser fabricadas no Brasil até o final deste ano.

(Des)confiança - AÉCIO NEVES


FOLHA DE SP - 25/06

Na profusão de dados sobre a economia, muitas vezes não se dá a necessária atenção a informações importantes, como as recentes pesquisas da Fundação Getúlio Vargas e da CNI, que pontuam a estagnação do Brasil e a descrença dos empresários da indústria.

A Sondagem de Investimentos da Indústria, da FVG, realizada em abril e maio, revela que a desconfiança atingiu o seu maior patamar desde 2009, quando a crise econômica e financeira mundial vivia o seu período mais agudo.

O Índice de Confiança do Empresário da Indústria, medido pela CNI, atingiu o seu menor nível desde dezembro -e caiu em 21 dos 28 setores pesquisados, principalmente nos segmentos de média e alta intensidade tecnológica e de maior valor agregado.

Ainda mais grave é descobrir o que está por trás desses índices. Com ênfase, eles apontam o que o governo finge não ver -que os efeitos da crise mundial chegaram ao país e se intensificam a cada dia. Sinalizam, igualmente, que o pirotécnico conjunto de medidas anunciadas fracassa em seu objetivo de conter a crise e estimular a economia, mesmo no curto prazo.

Explicitam, ainda, que no cenário atual não há espaço para bravatas e nem condescendência com diagnósticos equivocados, como os que tentam atribuir as dificuldades do país a questões conjunturais passageiras, ignorando olimpicamente a sua conformação estrutural.

Irrefutáveis, os números indicam que caminhamos para uma taxa de crescimento do PIB inferior aos pífios 2,7% de 2011. Por que?

Além da crise internacional, falta competência à política econômica em curso, pautada em ações pontuais e paliativas, para garantir competitividade à indústria frente aos seus concorrentes globais.
Também aqui os números são contundentes: dados da CNI, referentes a 2011 e que só se agravaram neste primeiro semestre, mostram que de cada cinco produtos vendidos no Brasil, 20% foram produzidos no exterior, o maior percentual desde 1996; e que 21,7% dos insumos utilizados pela indústria também vieram de fora.

É o resultado da inércia governamental diante de um cenário absolutamente hostil à competitividade da indústria nacional, submetida a uma carga tributária recorde no mundo, a encargos previdenciários superiores à média de países como os EUA, México, Alemanha, França e Reino Unido, entre outros gargalos que penalizam a produção.

Já passou a hora de percebermos que o presente e o futuro são faces indissociáveis da mesma moeda.
O país que seremos é o que estamos construindo. Vencer a crise que se agrava -e não perder outras oportunidades de desenvolvimento- requer reconhecer os problemas e enfrentá-los com realismo e coragem. Aqui e agora.

Rio, sem mais - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO


O Estado de S.Paulo - 25/06


Durante a Rio+50, os participantes desfrutam uma temperatura entre 21ºC e 27ºC, em pleno inverno de 2042. Isolados em ambientes refrigerados, os poucos que assistiram à Rio+20, três décadas antes, não se dão conta dos dois graus a mais de temperatura. A grande maioria não tem nem como comparar. Acompanha a conferência através de seus avatares virtuais, a milhares de quilômetros de distância.

Para os que estão lá pessoalmente, pegar uma praia não é opção. A chuva é tão insistente que beira os 100 milímetros por mês - uma média que, relatam os mais velhos, era comum apenas nos meses de verão. Os paulistas, quando pegam a ponte-aérea (o trem-bala é ainda um projeto), dizem estar indo para a terra da garoa.

Trinta anos atrás, o noticiário a respeito da cúpula internacional sobre desenvolvimento sustentável pouco espaço ganhara na mídia estrangeira. Agora, chega às manchetes (um anacronismo ainda em uso) dos jornais que restaram. O aquecimento global não é mais uma hipótese em busca de confirmação, nem preocupação exclusiva dos que eram chamados de abraçadores de árvores. A pecha caiu em desuso, pela falta do que abraçar.

A rápida mudança do clima transforma o mapa econômico e epidemiológico. Áreas antes próprias à agricultura viraram pista de "sandboard". Doenças ditas tropicais infestam as zonas temperadas da Europa e Estados Unidos. Os mosquitos transmissores se adaptam às temperaturas cada vez mais altas. Com demanda dos ricos, a indústria farmacêutica, enfim, decide investir numa vacina contra a malária.

No Brasil, a Rio+50 disputa espaço com o noticiário catástrofe. As manchetes são para a seca inclemente no Nordeste. As chuvas estão 35% mais raras do que eram na época da Rio+20. A estiagem emenda o verão ao inverno, ano após ano. Na média, a temperatura no interior da Bahia, de Pernambuco e do Ceará subiu quase três graus em 30 anos. A vegetação da caatinga cede espaço a um grande areal - "uma oportunidade para o turismo de aventura", diz a propaganda oficial.

A quatro meses da vazante máxima, o Amazonas está no nível mínimo da história; as cidades, isoladas por fios d'água que não suportam a navegação. Os veículos anfíbios vendidos ao governo como solução do problema atolam no lodaçal em que se transformaram rios e igarapés. Desde que a chuva diminuiu em 1/3 no espaço de uma geração, chovem ideias progressistas para a região. Um candidato promete o PALF: Programa de Asfaltamento dos Leitos Fluviais.

(...) É 2092. A Rio+100 é cancelada. Chuvas torrenciais fazem desabar encostas e morros sobre o asfalto. As praias foram engolidas pelo oceano. Na maré alta, a avenida Atlântica é reivindicada pelo próprio. A Riotur tentar compensar o prejuízo vendendo a cidade como a Veneza do século 22, já que a original submergiu há décadas.

Em São Paulo, o calor abafado e úmido é definido, saudosamente, como "amazônico". O Tietê há muito saiu de sua calha e recuperou as várzeas do entorno. Em comum com a época da Rio+20, só a poluição do rio, que mais um governador promete limpar até o fim do mandato. De passagem pela São Paulo alagada, um carioca das antigas respira fundo e comenta: "Pelo cheiro, esta sim é a Veneza do século 22".

Na caatinga brasiliense, dois deputados paraguaios - um colorado e um liberal, os dois partidos que se alternam no poder desde o impeachment relâmpago de um presidente-bispo que era considerado um pai por muitos conterrâneos - prosseguem na sua missão de reconhecimento, cortando o território de sul a norte. Após atravessar o que antigamente era chamado de Chaco/Pantanal, chegam a Brasília. Visitam as ruínas do Estádio Nacional - exemplar da arquitetura copalina, que dominou as obras públicas pré-2014. Reza a lenda que só uma partida foi jogada no seu gramado.

Antes de seguirem para a savana amazônica - uma enorme reserva de caça que vai de Sarneyrama ao novo Estado de Tapajós - os paraguaios consultam arquivos digitais para entender a radical mudança da paisagem brasileira. O colorado lê o documento oficial da Rio+20, "O futuro que nós queremos", e conclui: "Eles não eram muito ambiciosos".

O liberal descobre outro texto divulgado à época da conferência. O relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas previa chuvas decrescentes no Norte-Nordeste, e muito mais precipitação no Sul-Sudeste. "Tá tudo aqui." Ao que o colorado replica: "Ninguém leu. Se leu, não acreditou".

As sequelas criadas pela lentidão da Justiça - MARCOS DA COSTA

FOLHA DE SP - 25/06


Há desembargador pedindo até desculpas nos autos. Faltam qualificação de funcionários e varas. E há a litigiosidade do poder público, em 51% da ações

O fato de um desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo ter pedido, nos autos, desculpas a uma mãe que esperou por dez anos para ser indenizada pela morte do filho, causada por agentes do Estado, deu-nos esperança de que a magistratura reúne quadros para assumir e enfrentar os problemas da morosidade doJudiciário.

Nos autos, o desembargador Magalhães Coelho disse: "Embora sem responsabilidade pessoal no fato, vejo-me obrigado a me penitenciar perante os autores, em nome da minha instituição, por esse verdadeiro descalabro, que se procurará a partir de agora pôr fim".

O episódio que deu origem ao processo ocorreu há 13 anos em Campinas. A mãe aguardou o julgamento do recurso por uma década, para ter direito a uma indenização de R$ 200 mil. A vítima, um rapaz de 16 anos, foi atropelado por policiais militares, que informaram o endereço errado para o resgate, e o garoto acabou morrendo.

Tão pública e notória quanto a imprescindibilidade da Justiça à vida de todos os cidadãos dentro do Estado Democrático de Direito, a morosidade do Judiciário vem se tornando um problema de difícil solução, que deixa sequelas na cidadania. Problema a cada dia mais grave, devido à crescente demanda pela resolução de conflitos decorrente do desenvolvimento social e econômico do país.

De acordo com o relatório Justiça em Números, do Conselho Nacional de Justiça, há mais de 83 milhões de processos em tramitação no país. Em São Paulo, esse total chega a mais de 21 milhões -ou seja, um quarto de todos os autos do país, o que mereceria esforços de igual magnitude.

A secção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil há anos vem defendendo o aumento no número de varas judiciais no Estado.

Temos 350 varas criadas e não instaladas. Recentemente, tivemos a criação de novos cargos no Judiciário, mas ainda existe um maciço deficit de servidores e de qualificação de funcionários, além de número insuficiente de juízes e desembargadores, atrasando o julgamento de milhares de ações e recursos.

Um caminho que defendemos para contornar a falta de recursos é a autonomia financeira do PoderJudiciário. Apesar de o artigo 99 da Constituição Federal assegurar "autonomia administrativa e financeira" aos tribunais estaduais, todo ano, ao revés da lei, o Tribunal de Justiça têm de submeter propostas orçamentárias ao Legislativo e ao Executivo em São Paulo. No ano passado, o corte no orçamento foi histórico: 54% da proposta inicial.

Outra medida urgente é finalizar a informatização do Judiciário paulista. Certamente, o processo judicial eletrônico poderá acelerar a tramitação processual, assim como a realização de um choque de gestão, com a implementação do sistema de gestão de qualidade ISO 9001, no sentido proporcionar uma administração mais profissional e ágil à Justiça bandeirante.

Também seria fundamental buscar reduzir a litigiosidade do próprio poder público. Segundo pesquisa do CNJ, os setores públicos federal, estaduais e municipais constituem partes em 51% das ações em tramitação naJustiça brasileira, 38% de responsabilidade da União.

Diante desse quadro, reafirmamos que o crescente nível de demanda no Judiciário precisa ser acompanhado de mais investimentos e medidas pontuais. A morosidade muitas vezes resulta na absolvição de acusados devido à prescrição do delito, o que gera uma sensação de impunidade da sociedade e promove injustiça a um número incalculável de jurisdicionados, que tem seus direitos fundamentais adiados em decorrência da espera por uma decisão judicial.

Maconheiro de carteirinha - CARLOS ALBERTO SARDENBERG


O Estado de S. Paulo - 25/06


Uruguai quer substituir o tráfico pela maconha estatal

Legalizar a maconha não é uma boa ideia. Mas pode levar a uma situação menos ruim que a atual. Os usuários continuariam aí – e, necessitando de cuidados - mas os traficantes perderiam o mercado e, pois, o dinheiro com o qual ganham a guerra, assassinando desde adversários até usuários inadimplentes, intimidando e corrompendo policiais, juízes, governantes em geral, políticos, jornalistas. O Estado economizaria bilhões hoje torrados em batalhas perdidas, recursos que poderiam ter uso muito melhor na saúde, por exemplo.
E por que legalizar só a maconha? Porque é a menos prejudicial das drogas e porque forma a maior parte do mercado.
Essa tese, elaborada há algum tempo, foi atualizada na América Latina por um grupo formado por ex-presidentes, incluindo Fernando Henrique Cardoso. E o governo do Uruguai, do presidente esquerdista Jose Pepe Mujica, acaba de anunciar sua adesão. É curioso, pois se trata de uma proposta mais para o lado liberal.
Talvez por isso, e por ser uma decisão polêmica, o governo uruguaio tenta dar à ideia uma aparência de política pública de esquerda. Quer sair das sombras do tráfico para o controle total do Estado. Acreditem: Mujica pretende instalar fazendas de maconha, fábricas para produzir o cigarro e uma rede comercial, tudo estatal.
Os consumidores também seriam estatizados. Para comprar os cigarros, a pessoa, maior de 18 anos, precisaria se cadastrar em um órgão governamental. Receberia assim uma carteirinha de maconheiro, com a qual poderia comprar até 40 cigarros por mês. Se comprasse mais que isso – como? – seria obrigada a se registrar em um centro, estatal, claro, de tratamento.
Vamos reparar, pessoal: trata-se de uma das melhores ideias de jerico já produzidas pela esquerda latino-americana. Olhe que essa turma já produziu desastres dos grandes, como inflação e calotes da dívida, mas estatizar o barato é uma proeza.
Admitamos que a maconha estatizada é melhor que um mercado dominado pelo tráfico. Só que a estatizada vai cair nas mãos dos traficantes e gerar os mesmos problemas de corrupção e violência.
Começa pelo usuário que precisa se registrar. Digamos que uma minoria de militantes da droga tope isso, para marcar posição. Mas o maconheiro, digamos, normal, não vai querer manchar seu nome.
Não é por que terá sido legalizada que a maconha ganhará aprovação social e absolvição médica. Todos sabem que a droga é nociva, vicia e prejudica o desempenho das pessoas. Assim, empresas e escolas vão exigir certidão negativa de maconheiro. Faz sentido. Companhias aéreas, empresas de ônibus, fábricas com instrumentos de precisão teriam um bom argumento para recusar os maconheiros oficiais.
Mas isso certamente criaria uma questão jurídica. Se a maconha é legal, como a empresa pode discriminar o usuário? O sujeito poderia garantir na justiça o direito de não apresentar a certidão. Não adiantaria. Poderia até ganhar, mas ficaria marcado.
Por outro lado, admitindo que tudo esteja montado, forma-se um baita mercado. Cada maconheiro oficial tem direito a 40 cigarros/mês. Algum duvida da consequência? Os traficantes vão mobilizar exércitos de jovens que ganharão um bom dinheiro sem trabalhar – apenas se registrando como maconheiros.
Além disso, o governo uruguaio diz que os cigarros estatais terão o preço tabelado, para não explorar o povo. O que abre enorme margem de lucro para o tráfico.
Lógico, os cigarros "públicos" terão valor de mercado muito maior do que os "privados" que eventualmente continuem chegando do Paraguai ou da Bolívia. Terão controle de qualidade do Ministério da Saúde, produção em laboratórios limpos e equipados, não em cozinhas de fundo de quintal.
Assim, a produção estatal vai dispensar o tráfico de boa parte do plantio, produção e distribuição. Além do mais, alguém duvida que os traficantes se infiltrarão nas fábricas estatais para desviar cigarros? Se os caras hoje compram até juízes, não conseguirão seduzir um chefe de depósito? E os caminhões com a preciosa carga?
Finalmente, todo o complexo estatal da maconha será um grande negócio. Ou seja, muitos cargos para serem disputados pelos políticos. Já pensaram no Brasil? O PT não abre mão da presidência da Maconhabrás...O PMDB quer a diretoria financeira. O diretor de distribuição seria cargo excelente para arranjar votos com a distribuição dos cigarros da quota da diretoria.
Tudo isso sem falar dos direitos do consumidor. Este pode processar o governo se entender que o cigarro oficial não gera o barato, digamos, suficiente.
Lideranças que defendem a legalização da maconha reconhecem que a maior dificuldade é justamente o processo, o modo de fazer isso. O objetivo é tirar o mercado do tráfico e, assim, asfixiar o traficante, mas sem estimular o usuário. A estatização à Uruguai é a pior proposta.
Aqui, como em muitas outras coisas, é preciso deixar as coisas por conta do indivíduo, livre para escolher, e do mercado, também livre. O Estado regula e presta serviços.
Asa delta, perigo!
A Força Aérea decidiu fechar o espaço aéreo do Rio nos dias da Rio+20. Não podia voar nem asa delta.
Devem achar que um terrorista, armado com metralhadoras e bombas, poderia decolar da Pedra da Gávea, voar até o Riocentro, aterrisar lá e executar algumas autoridades.
É uma confissão de incompetência. Estão nos dizendo que não conseguiriam interceptar um maluco que tentasse aquela proeza. Logo, fica tudo proibido.
Todo mês de setembro tem a assembleia geral da ONU em Nova York, para onde se dirigem mais de 100 chefes de estado. Sabem o que acontece com o tráfego aéreo? Nada.